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Finança Ética
Sinergias para o
Desenvolvimento
Comércio Justo e Finança Ética
Sinergias para o Desenvolvimento
Comércio Justo
Finança Ética
Definição e objectivos
História
Investimento socialmente responsável em Portugal
Microfinanças em Portugal
Microfinanças nos países em desenvolvimento
As Lojas do Mundo
· Casos de estudo (Itália)
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I
COMÉRCIO JUSTO
Comércio para o Desenvolvimento
3
Definição e Objectivos
O Comércio Justo (CJ) é portanto uma forma de comércio social e ambientalmente sustentável,
no contexto das relações entre países desenvolvidos e países em desenvolvimento. Enquanto o
comércio convencional tem em conta apenas critérios económicos, o CJ rege-se também por
valores éticos que incluem aspectos socioculturais e ecológicos.
O Comércio Justo é uma parceira comercial, baseada no diálogo, transparência e respeito, que
procura maior equidade no comércio internacional. Contribui para o desenvolvimento sustentável
oferecendo melhores condições comerciais e protegendo os direitos de produtores e trabalhadores
marginalizados no Sul. As organizações de Comércio Justo – com o apoio dos consumidores – estão
empenhadas activamente no apoio aos produtores, na sensibilização e nas campanhas em prol de
mudanças nas regras e práticas do comércio internacional convencional.
- Definição internacional (FINE, Dezembro 2001)
4
Definição e Objectivos
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Critérios
• os produtores devem aplicar uma parte dos seus lucros na satisfação das necessidades básicas
das suas comunidades: educação, saúde, formação profissional, etc.;
• são estabelecidas relações comerciais de longo prazo, pagando-se parte dos produtos
antecipadamente;
Para os produtores
• protecção dos direitos humanos, dando especial ênfase às crianças, mulheres e povos
indígenas;
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Critérios
• proporcionar apoio aos produtores sob a forma de formação, assessoria técnica, investigação
do mercado e/ou desenvolvimento de novos produtos;
• trabalhar com os produtores para melhorar, quanto ao seu impacto ambiental, os métodos de
produção, produtos e embalagens;
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Critérios
Para as lojas
• informar o público sobre os seus objectivos, a origem dos produtos, a situação dos produtores
e o comércio em geral;
• participar em campanhas para melhorar a situação dos produtores e para influenciar as políticas
nacionais e internacionais;
• serem servidas por pessoal, seja empregado ou voluntário, comprometido com os objectivos
do comércio justo;
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História e Organização
“Comércio e não ajuda” – foi para responder ao apelo dos países do Sul na Conferência das
Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (CNUCED) em 1964 que se começou a
organizar o comércio justo (CJ) na Europa.
Durante a década de 60, várias organizações de solidariedade com os países do sul começaram a
importar artesanato e a vendê-lo na Europa. Quando, em 1969, abre na Holanda a primeira loja
de CJ, já o comércio solidário tinha evoluído no sentido de um comércio para o
desenvolvimento.
Além de importar os produtos, entidades como a Oxfam, a Brod fur die Welt ou a Cáritas
promoviam a formação de organizações locais de comércio alternativo. Objectivos: organização
dos promotores, desenvolvimento de serviços sociais (educação, saúde) e exportação para o
Norte. Em 1973 importa-se pela primeira vez café no circuito de CJ, proveniente de cooperativas
na Guatemala.
Em meados dos anos 80, a venda de produtos de CJ deixa de estar restrita às lojas deste
movimento e chega aos circuitos comerciais convencionais, nomeadamente aos
supermercados. É então que surge a EFTA (1987: European Fair Trade Association) e a IFAT (1989:
International Fair Trade Association). Em 1994 nasce a rede de lojas NEWS! (Network of European
World Shops) e três anos depois a FLO (Federation of Labelling Organisations), que agrega as
organizações de certificação de produtos CJ. Estas quatro estruturas procuram concertar esforços
desde 1997 na plataforma FINE (FLO, IFAT, NEWS! e EFTA).
Portugal está no mapa do comércio justo desde 1999, com a abertura da primeira loja em
Amarante. 2002 assiste ao lançamento oficial do movimento, com a formação da Coordenação
Portuguesa de Comércio Justo (CPCJ). Em 2004 surge a Equação – Associação de Comércio
Justo, para distribuição nacional de produtos do circuito europeu de CJ.
9
História e Organização
Fi nal Ano s 40 As ONG Ten Thousand Villages e SERRV (EUA) começam iniciativas de CJ
Final Anos 50 O presidente da Oxfam (Reino Unido) visita Hong-Kong e decide comercializar
artesanato de refugiados chineses
1967 Primeiro importador/distribuidor de CJ: Wereldhandel, depois Fair Trade
Organisatie (Holanda). Os primeiros produtos importados são esculturas de
madeira do Haiti.
1969 Primeira Loja do Mundo em Breukelen (Holanda)
1973 Primeira importação de café segundo princípios de CJ
1984 The first European World Shop’s Conference is held. ONDE? V.news
1987 EFTA (The European Fair Trade Association) is set up
1997 FLO
1999 Primeira Loja do Mundo em Portugal (Amarante)
2002 Coordenação Portuguesa de Comércio Justo
2006 Parlamento Europeu aprova resolução de apoio ao CJ
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História e Organização
FINE
É uma plataforma de reflexão para as quatro entidades anteriores. Gere o Gabinete de Advocacia
do Comércio Justo em Bruxelas, que procura influenciar a agenda política da União Europeia
nesta matéria.
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Mercado
Os produtos do sector de Comércio Justo (CJ) na Europa chegam ao consumidor final através de
dois grandes canais: 2.800 Lojas de CJ e 56.700 supermercados – estes graças à certificação de
produtos alimentares. As lojas de CJ vendem, anualmente, mercadoria no valor de €120 milhões.
As lojas de CJ, os supermercados e outros pontos de venda ao público facturam produtos
certificados no valor de €657 milhões (€60 milhões nas lojas). Produtos certificados e não
certificados têm um valor total de mercado superior a €660 milhões, o que representa um
crescimento de 154% entre 2000 e 2005 1.
A FLO atribui um selo de garantia que acompanha os produtos que satisfazem os critérios de
comércio justo (definidos regularmente por um Comité de Padrões). As organizações de
produtores que solicitam a certificação são avaliadas através de um questionário. Caso haja
parecer positivo, recebem uma visita de inspectores. Estes emitem um relatório que é submetido
ao Comité de Certificação. Cabe a este órgão atribuir ou não o selo.
O selo garante que a produção e comercialização do produto que o ostenta cumpriu exigências
sociais, ambientais e de qualidade junto do produtor. Este tem garantido um preço mínimo
acima do preço de mercado e ainda um prémio para investir em aspectos sociais da sua
organização.
Os custos do serviço de certificação são pagos anualmente: custo de inspecção e custo de
certificação – este último multiplica-se pelo número de produtos certificados em cada
organização. Os custos variam ainda consoante o tipo de organização – isolada ou agrupamento
–, o número de trabalhadores e as unidades de transformação do produto. Pretende-se deste
modo que os custos considerem as despesas de funcionamento de cada cliente, bem como o
valor acrescentado do seu produto – e não sejam proporcionais ao volume produzido (critério
que possibilita injustiças).
A IFAT atribui um selo de qualidade às organizações suas associadas. Para usar o selo FTO – Fair
Trade Organization é necessário que se cumpram nove critérios ou padrões: benefícios para os
mais pobres; transparência e responsabilização; criação de capacidade; promoção do Comércio
Justo; melhoria da situação das mulheres; recusa da exploração do trabalho infantil; condições
de trabalho dignas; responsabilidade ambiental e pagamento de um preço justo.
Compete ao Subcomité de Registo avaliar as organizações candidatas, que têm de apresentar os
seus estatutos, um mínimo de dois anos de actividade e serem referenciadas por pelo menos um
membro da IFAT. Uma vez credenciada, cada FTO aceita um sistema de verificação com três
componentes:
1 - Auto-avaliação
Seguindo metodologias de auditoria social fornecidas pela IFAT, cada FTO analisa o seu
funcionamento à luz dos critérios de comércio justo, estabelece metas para melhorar – e
comunica o seu diagnóstico à IFAT.
2 - Análise partilhada
Cada FTO partilha o auto-diagnóstico com os seus parceiros comerciais.
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Certificação e Parcerias
3 - Verificação externa
Uma percentagem de FTOs, seleccionada ao acaso, sujeita a sua auto-avaliação à análise de um
inspector externo independente.
A auto-avaliação e a análise partilhada ocorrem a cada dois anos, enquanto que a verificação
externa é um processo anual.
Parceiros Comerciais
Graças à existência de produtos certificados com os selos FLO, muitas empresas integraram-nos
na sua oferta, nomeadamente nos alimentares. Existem cerca de 500 actores comerciais
certificados pela FLO Cert, entre exportadores, importadores e distribuidores. Empresas como a
Agrofair ou a CaféDirect especializaram-se na colocação de produtos CJ nos supermercados.
Grandes distribuidores como a Auchan, Leclerc ou Spar são parceiros comerciais do comércio
justo, criando nalguns casos as suas próprias linhas de produtos.
Por outro lado, existem organizações especializadas de certificação que seguem os princípios de
CJ. Dois exemplos são a STEP e a Rugmark – nos tapetes – e ainda o Flower Label Program na
floricultura.
Parceiros Financeiros
O comércio justo tem beneficiado do apoio de várias instituições financeiras éticas. A Oikocredit
é uma rede mundial de investidores sediada na Holanda, que financia cooperativas, pequenas e
médias empresas e instituições financeiras, com enfoque particular nos países do Sul e no
microcrédito. Cerca de 10% dos seus empréstimos destinam-se a produtores e importadores de
CJ.
A Shared Interest é uma cooperativa financeira, sediada em Inglaterra, que se especializou no
financiamento de actores de CJ. É membro da IFAT e só concede empréstimos a organizações
certificadas de comércio justo.
O Triodos Bank está presente na Holanda, Bélgica, Reino Unido e Espanha. Financia organizações
certificadas de produtores de comércio justo e/ou de agricultura biológica. Os empréstimos são
indexados aos contratos de exportação.
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Um caso: o CIDAC na Guiné-Bissau
Em parceria com aquela ONG local, realizou em 2001 uma missão com um especialista em
agronomia e Carola Reitjes (IDEAS, Espanha). Objectivos: formação e informação de produtores;
caracterização do tecido produtivo (oportunidades e riscos). Do relatório final emergiram várias
conclusões:
Entre 2004 e 2007 decorre um projecto de dinamização do mercado local, com base nas culturas
endémicas: castanha de cajú, mel, óleo de palma. A preocupação estruturante é a utilização
sustentável dos recursos naturais, de modo a garantir a segurança alimentar e a soberania do
conhecimento tradicional sobre sementes endémicas (preservação da biodiversidade). Este
trabalho foi levado a cabo em parceria com a ONG guineense Tuiniguena.
Entre 2006 e 2008 decorre, co-financiado pela C.E., o projecto “Capacitação dos tecelões de
Quinhamel, de beneficiários a actores do Desenvolvimento Sustentável”. Pretende integrar um
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grupo de tecelões reunidos na associação Artiss@l 2no circuito de CJ, introduzindo os seus
produtos na cadeia comercial e promovendo a participação daquela organização na IFAT –
International Federation for Alternative Trade. Esta iniciativa articula-se a volta de dois níveis de
intervenção: um de reforço da instituição e dos seus membros e um outro de melhoria e
adaptação das produções.
Este projecto parte da ideia de que as exigências dos mercados do Norte não podem ser
adoptadas verticalmente e por meras razões de ganho económico, mas sim decorrentes de uma
interiorização desses critérios pela própria organização, de modo participativo (p.e. incorporando
modelos da cultura tradicional na organização). Estrutura-se em quatro grandes momentos:
1. Capacitação da Artiss@l
Formações em: Alfabetização; Gestão de pequeno negócio; Gestão de stock; Comércio
internacional e Comércio Justo; Preparação para a mudança (visitas e intercâmbios de
produtores da sub-região, ligados a iniciativas de Comércio justo - cooperação Sul-Sul);
Cooperativismo; Qualidade e Marketing.
2. Assessoria técnica no terreno em cada ano do projecto, com a organização Deseño para el
Desarollo ( conciliar design com cultura local)
2.1. Missão prévia de 3 semanas: familiarização com cultura e recursos locais
2.2. Desenho da colecção (Espanha)
2.3. Missão de 2 meses: formação técnica e controlo de qualidade
3. Exportação
A IDEAS será importador e distribuidor europeu. A colecção estará disponível em 2007. Este
trabalho de disseminação comercial será feito a expensas dos parceiros implementadores, não
intervindo aqui o financiamento comunitário.
4. Disseminação da experiência
- Documentário; - Plataformas de ONG nos PALOP
2 Esta associação de tecelões da etnia Pepel trabalha em proximidade com a Raízes, associação cultural e de
comercialização de produtos tradicionais guineenses, com ênfase no têxtil. Tem no “pano de pente” – pano tradicional
– um dos seus produtos-bandeira. Que comercializa através da sua loja em Bissau e de outros canais locais e regionais.
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II
A FINANÇA ÉTICA
Finança para o Desenvolvimento
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Definição e objectivos
A finança ética emerge como um novo modelo de desenvolvimento baseado na ideia de que o
dinheiro pode ser investido de forma socialmente consciente e responsável, i.e., promovendo o
desenvolvimento sustentável da economia local, regional, nacional e global.
A finança ética aparece pois como uma alternativa à ideia tradicional de finança que tem como
ponto de referência a pessoa humana e não o capital, a ideia e não o património, a remuneração
justa do investimento e não a especulação.
Produtos financeiros éticos – fundos de garantia, empréstimos, poupanças e investimentos –
destacam-se dos tradicionais porque oferecem aos investidores uma oportunidade real de
contribuírem activamente para o bem-estar humano.
Ao criar instrumentos financeiros alternativos – vocacionados para o financiamento de projectos
com impacto social, cultural e respeitadores do ambiente, economicamente eficientes e
redutores de desigualdades sociais – a finança ética pode ter um impacto positivo na vida das
pessoas, sobretudo daquelas que muitas vezes são excluídas do acesso ao crédito na banca
tradicional.
A finança ética é, em particular, um instrumento crucial para a promoção do desenvolvimento
sustentável nos países do Sul. Neste contexto, onde o acesso ao crédito é normalmente difícil,
não só pela escassez mas também pela impossibilidade de apresentação de garantias bancárias
exigidas pelas instituições financeiras tradicionais, as actividades económicas locais acabam por
ser afectadas negativamente. Em consequência, muitos daqueles que poderiam ser potenciais
empreendedores nos países do Sul ao serem excluídos do sistema produtivo, acabam por se
revelarem impotentes para quebrar o ciclo de pobreza em que vivem. A finança ética pode
afirmar-se pois como um mecanismo de fortalecimento das comunidades mais desfavorecidas.
A Finança ética associa-se a produtos financeiros específicos, que se regem por princípios
particulares que distinguem, este sistema financeiro, do sistema financeiro formal, bem como
proporcionam soluções alternativas e respondem às necessidades “éticas” dos seus clientes. São
três os aspectos a destacar: os ganhos sociais, a transparência e a confiança.
Os ganhos sociais remetem aos efeitos que a concessão de crédito a determinado projecto
causará sobre a sociedade, e sobre o ambiente, para além das consequências positivas que o
mesmo trará a nível nacional. Digamos que enquanto que a finança tradicional concerne a
maximização dos lucros, a Finança Ética concerne a maximização dos benefícios da sociedade.
A transparência é um dos princípios fundamentais da Finança Ética. Ainda que no sector
bancário seja um conceito comummente observado como obstáculo, para a Finança Ética a
transparência deve velar todas as áreas, as poupanças, os investimentos, e sobretudo as posições
de chefia da empresa.
A transparência visa os investimentos com particular cuidado, pois se forem conhecidos todos os
financiamentos será possível constituir uma bolsa de poupanças responsável. Assim, um cliente
poderá optar por depositar o seu dinheiro numa instituição cujos valores éticos são mais
coerentes com os seus. Ao conhecer exactamente a aplicação das poupanças do banco, o
cliente pode evitar bancos que participam em processos que condena, como a comercialização
de armas, ou a fuga aos impostos, por exemplo. A transparência permite também que os seus
clientes apliquem as suas poupanças, para um sector que lhes interesse, que considerem útil e
responsável, evitando assim investimentos com os quais discorda. Os membros de uma
cooperativa financeira, por seu turno, ao participarem nas decisões estratégicas da corporação,
podem também influenciar a direcção, bem como o destino do seu dinheiro.
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A apresentação de garantias, por parte do cliente, é quase sempre um imperativo para que os
bancos tradicionais concedam empréstimos. Por norma, aqueles clientes que não reúnem estas
condições são automaticamente excluídos do sector de crédito, independentemente da
validade do seu projecto. A Finança Ética desafia esta barreira ao “atribuir confiança”, ao
emprestar dinheiro àqueles que não têm nada a que se “conceda crédito”. O empréstimo é assim
concedido com base, no conhecimento que se tem do candidato, e na análise extensiva do
projecto proposto para financiamento.
Mais de três mil milhões de pessoas pobres, que vivem com menos de dois $2 USD/dia, buscam
o acesso a serviços financeiros básicos, que podem representar um elemento crítico no sentido
de minorar o seu estado de pobreza. A maioria das pessoas nos países em desenvolvimento –
que constituem a maioria da população mundial – não goza de acesso a serviços financeiros
formais. Poucos são aqueles que beneficiam de uma conta poupança, de um empréstimo, ou de
formas adequadas para transferirem o seu dinheiro. Aqueles que alcançam o objectivo de abrir
uma conta, são normalmente descriminados.
A falta de acesso a estes serviços financeiros priva os pobres, ou mesmo as pessoas de baixo
rendimento, de tomar as decisões que a maioria das pessoas tomam como garantidas.
Para que um sistema financeiro seja verdadeiramente inclusivo, deverá atender às necessidades
de todos aqueles que possam utilizar os serviços financeiros de forma próspera, isto deveria
implicar os pobres. As pessoas pobres nos países em desenvolvimento, como quaisquer outras
pessoas, precisam de disponibilizar de um vasto leque de serviços financeiros, que sejam
convenientes, flexíveis, e a um preço razoável. Esta observação, ainda que tão simples, tem vindo
a transformar, na última década, a teoria e a prática da microfinança. Um melhor entendimento
das carências do cliente (e do potencial cliente) tem reconduzido o rumo do microcrédito no
sentido da microfinança, e mais recentemente, no sentido de sistemas financeiros inclusivos.
No passado, duas facções caracterizavam a microfinança:
A primeira, focada no crédito a pequenas empresas (ou seja, eram concedidos pequenos
empréstimos que estabelecessem o capital necessário a pequenos empreendedores).
A segunda, remetia a uma abordagem na distribuição de crédito baseada e orientada na
procura.
Neste contexto, um leque limitado de serviços de crédito atraía proporcionalmente um leque
limitado de clientes. Hoje, existe a noção que nem todas as pessoas pobres são
empreendedoras, mas que todas as pessoas pobres precisam de recorrer a uma variedade de
serviços financeiros. O desafio reside em compreender e conhecer esta exigência, no seio de
populações pobres, remotas, em expansão.
Identificar a diversidade de indivíduos excluídos do sistema financeiro formal é um passo
fundamental na construção de um sistema financeiro alternativo, mas sobretudo que inclua
todas as categorias sociais. Pois o excluído não é apenas o pequeno empreendedor, mas o
agricultor que pode precisar de crédito para investir na agricultura, ou que pode necessitar de
um local seguro onde depositar os proventos de uma boa colheita; também o reformado
necessita de um sistema fiável que faça o pagamento correcto da sua pensão; ou os funcionários
fabris que reconhecem o valor de uma boa gestão dos seus salários. Em resumo, estes clientes
são tão diferentes que requerem uma panóplia diversa de serviços financeiros, que atende, a
emergências, a empréstimos de hipotecas, a serviços de depósito de todos os tipos, a métodos
de transferência de fundos, ou a seguros.
O microcrédito hoje, surge como um mecanismo de resposta, um recurso ao alcance de quem
pretende desenvolver um projecto individual ou colectivo na senda da criação de uma
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actividade rentável; para quem enfrenta obstáculos, que em muitos casos acabam por ser
dissuasores, oferece não só a esperança e independência económica, como também o poder
sobre a sua vida e, em muitos dos casos, a participação activa em prol da sua comunidade.
“Simplificadamente o microcrédito consiste na realização de micro empréstimos financeiros
feitos aos pobres com a finalidade de torná-los auto-empregados.”3
4 “A situação da Finança Ética na Europa”, Setem, 2005. – Relatório elaborado pela área de Responsabilidade Social das
Empresas e Investimentos Éticos de Economistas sin Fronteras
5 Como as alemãs – Oekom, Suedwind, Imug ou Scoris – ou as suíças – como a Centre Info.
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É importante destacar o papel fundamental de algumas instituições neste cenário, como foi o
caso, das instituições religiosas na Alemanha, que actuaram enquanto principais interlocutores
institucionais do ISR; da organização Ethos, que se empenhou desde 1997, na promoção de
critérios de ISR para os fundos pensão; de diversos serviços de informação e notícias sobre a
finança ética, que quer na Alemanha, quer na Áustria, se desenvolveram de forma precoce,
contudo bem sucedida, e muito contribuíram para a divulgação desta prática7.
No caso Holandês, os primeiros passos nos trilhos da finança ética remontam à década de
sessenta, com a fundação de dois bancos – o ASN Bank, em 1960, e o Triodos Bank, em 1980 –
ambos orientados para produtos de economia socialmente responsável. Contudo, este mercado
apenas prosperou a partir de 1991.
Na Holanda, o Estado executou um papel muito activo, no âmbito da promoção dos
investimentos ambientalmente sustentáveis, ao atribuir incentivos fiscais à Green Savings and
Investment Plan. A conjuntura holandesa apresenta algumas semelhanças à britânica, na medida
em que, também na Holanda, se registou um forte e inovador “activismo accionista” quando em
1995, os investidores institucionais privados se organizaram na VBDO (Associação de Investidores
para o Desenvolvimento Sustentável), o que estimulou a criação do Fórum Nacional do ISR, em
1998.
Em França, foi o Comité Catholique contre la Faim et pour le Développement (CCFD) – já nascido
com a apoio do Crédit Coopératif nos princípios dos anos oitenta – que inaugurou o ISR, ao
pretender financiar (com parte dos seus fundos mutualistas) projectos empresariais em Países
em Desenvolvimento. Contemporaneamente, nasceu o primeiro fundo de investimento ético,
baseado no respeito pelos direitos humanos. Desde então, o ISR em França evolui associado a
critérios como, a promoção do emprego, a luta contra a exclusão social, com os sindicatos
permanentemente no cerne das actividades, com especial importância quando introduziram,
em 1998, a responsabilidade social, nos fundos de pensão.
As organizações a favor da finança ética e da responsabilidade social de empresa, também em
França progrediram de forma considerável através de: observatórios do comportamento
empresarial8; de serviços de certificação social e ambiental como9; assim como a primeira
certificação dos produtos financeiros solidários criada pela ONG FINANSOL.
Em Espanha, como em Itália, as pequenas instituições de crédito10 desempenhavam a função
análoga à de um banco ético, ao concederem financiamento: a comunidades locais, em zonas
rurais e/ou em desenvolvimento; a micro-empresas; a famílias carenciadas; ou a grupos
tradicionalmente excluídos pelo sistema financeiro convencional. Todavia, a Itália destacava-se
6 Na Alemanha, o NaturAktien Index (NAI), na Suiça, o SAM Sustainability Group, que derivou na formação do índice
financeiro Dow Jones Sustainability Índex, em 1998).
7 Como o www.ecoreporter.de por exemplo, activo em 1999, ou como a feira do investimento sustentável “Dinheiro
Verde”, celebrada pela primeira vez no mesmo ano.
8 Como o Centre Français d'Information sur les Entreprises (CFIE), criado em 1996; como o CSR Europe, constituído em
1997; como o Observatoire sur la Responsabilité Sociale des Entreprises (ORSE), estabelecido em 1999; mas sobretudo
como o Forum pour l'Investissement Responsable (FIR), concretizado em 1999.
10 Estas instituições derivavam, na sua maioria, de cooperativas como as caixas de poupança, por exemplo, e
pertenciam normalmente a entidades locais e/ou públicas.
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no seio dos países do Sul da Europa, na medida em que nos anos oitenta emergiram numerosas
sociedades, mutualistas e autogeridas (as MAG), estreitamente relacionadas com o movimento
associativo, que se evidenciava no Norte do País. Foi este movimento que influenciou e
estabeleceu os alicerces da Banca Ética italiana – o primeiro banco orientado para os grupos
“economicamente marginalizados”.
Em 1997, em ambos os países, verificou-se uma grande evolução dos fundos de ISR, levada a
cabo por bancos convencionais. Porém, o volume patrimonial alcançado pelos fundos de ISR
italianos (entre os maiores da Europa) desvaloriza os modestos resultados alcançados na
Espanha. Em contrapartida, o número de fundos solidários provenientes de ISR são muito
superiores em Espanha, comparados ao número verificado em Itália.
Em Portugal, como na Grécia, foi aferido, por pesquisas produzidas pelo SiRi Group, em 2003, que
o ISR era então inexistente. Ainda que, se registe que após 1998 – ano em que foi desenvolvido
um projecto europeu para a promoção da micro-finança a nível de desenvolvimento local – um
progresso neste sector, sobretudo através de associações e entidades financeiras, como a ANDC
(Associação Nacional para o Direito ao Crédito), ou como a oikos, que desenvolveu projectos de
microcrédito em alguns países em desenvolvimento.
São consideráveis as discrepâncias na evolução da finança ética em Itália, na Espanha e em
Portugal. No entanto, estas diferenças justificam-se porque, na Itália já existe, desde 1997, uma
agência de certificação social, a Avanzi, bem como uma rede de ISR, a SiRi. Enquanto que
actualmente, nem em Espanha, nem em Portugal, existem ainda agências concretas de
certificação, à excepção do caso de algumas organizações como a ECODES ou os Economistas sin
Fronteras que pontualmente realizam serviços de investigação no âmbito da responsabilidade
social das empresas.
Conquanto, em nenhum dos três países em análise, se considerou o contexto legislativo
favorável à expansão da finança ética. Ainda que em Espanha, ou em Itália se verifique uma
participação pública e política crescente neste campo de acção.
A microfinança e o microcrédito
Desde da década de cinquenta que a microfinança tem vindo a expandir-se, pois se antes este
conceito se limitava a um campo relativamente reduzido baseado no crédito concedido a
pequenas empresas, hoje este conceito evoluiu, no sentido de um enorme desafio que almeja a
construção de um novo sistema financeiro, que visa a inclusão social e abarca um vasto leque de
serviços dirigidos aos mais pobres – créditos, poupanças, transferências de dinheiro, e seguros.
As matrizes das microfinanças não são recentes. Operaram durante séculos, um pouco por todo
o mundo, pequenos grupos informais que se dedicavam à gestão de poupanças e à concessão
de pequenos créditos. Na Europa, no século XV, a Igreja Católica fundou, com sucesso, casas de
penhores que constituíssem alternativas aos credores usurários que predominavam na época.
Também o crédito formal, e as instituições de crédito que os concedem aos pobres, existem há
muitas gerações, oferecendo serviços financeiros àqueles que são tradicionalmente
negligenciados pelos bancos comerciais.
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O sistema de Fundos de Investimentos Irlandês, existe desde o século XVIII, e constitui um
exemplo inovador e de longa duração. Enquanto que o conceito de cooperativa financeira foi
desenvolvido na Alemanha, com o intuito de incentivar a população rural a quebrar com a
dependência dos credores e a apoiá-la a melhorar o seu bem-estar. O movimento emergiu em
França, em 1865, e no Quebeque, em 1900. Muitas das cooperativas em África, na América
Latina, e na Ásia, encontram as suas raízes neste movimento Europeu. Um outro exemplo
revolucionário leva-nos ao “Indonesian People’s Credit Banks”11 (BPRs), que abriu em 1895 e
transformou-se no maior sistema de micro finança na Indonésia, com cerca de 9 000 sucursais.
No início do século XX, começaram a surgir na América Latina, diferentes formas de poupança e
de crédito, que visavam, modernizar o sector agrícola, mobilizar poupanças que não estivessem
aplicadas, aumentar o investimento através do crédito, combater a opressão feudal gerada pela
dívida. Na maioria dos casos, estes novos bancos para os pobres não eram propriedade dos
próprios pobres, como o foram na Europa, mas sim pelas agências estatais ou por bancos
privados. Ao longo dos anos, estas instituições revelaram-se ineficientes, muitas vezes, corruptas.
Entre 1950 e 1970, os governos, e os doadores, focaram-se na concessão de crédito agrícola a
agricultores pequenos e marginalizados, na esperança de aumentarem a produtividade e
produzirem rendimentos. Contudo, estes esforços veiculados através de instituições estatais de
financiamento, ou em alguns casos via cooperativas agrícolas, basearam-se em empréstimos
concedidos a uma taxa de juro abaixo àquela praticada nos mercados. Estes esquemas
subsidiados eram raramente bem sucedidos. Pois os bancos de desenvolvimento rural eram
incapazes de cobrir os seus custos, face a estas taxas de juro subsidiadas. Os clientes não eram
disciplinados nos pagamentos, pois observavam estes empréstimos como ofertas do governo.
Consequentemente, estas instituições de capital decaíram, e em muitos casos, desapareceram. O
mais grave é que muitos destes fundos nem sempre chegavam aos pobres, uma vez que
usualmente, acabavam nas mãos dos mais influentes.
Entretanto, em 1970 assistia-se ao nascimento do microcrédito. Os programas no Bangladesh, e
no Brasil, começavam a emprestar pequenas quantias de dinheiros a mulheres pobres, mas
empreendedoras. Exemplos de pioneiros neste âmbito foram: o Grameen Bank no Bangladesh,
que começou por ser uma experiência do Professor Muhammad Yunus; a ACCION International,
que começou na América Latina e expandiu-se para os Estados Unidos e para a África; a
Associação de Mulheres Empreendedoras na Índia, que constitui um Banco dirigido por um
Sindicato de Mulheres. Estas instituições persistem com o seu trabalho hoje, e inspiraram
inúmeras outras, que reproduziram o seu sucesso.
Na década de oitenta, os programas de microcrédito melhoraram as suas metodologias, e
desafiaram os conhecimentos convencionais que existiam sobre o financiamento aos pobres.
Em primeiro lugar, muitos programas, quando bem geridos, provaram que as pessoas mais
pobres, especialmente mulheres, pagaram os seus empréstimos de uma forma mais disciplinada,
que a maioria das pessoas que gozam de créditos nos bancos comerciais. Em segundo lugar,
estes programas demonstraram, que os pobres estão dispostos a pagar taxas de juros, que
permitam às instituições de microcrédito serem sustentáveis. Assim as mesmas instituições são
potenciais negócios, que gozam de capacidade para atrair depósitos, empréstimos comerciais e
capitais de investimento. Estas instituições podem alcançar números consideráveis de clientes,
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ainda que pobres, sem que estejam limitados a escassas e incertas ofertas de fundos subsidiados
por governos ou agências doadoras. O Banco Rakayat da Indonésia é o exemplo mais
emblemático do que pode acontecer às Agências que se concentram em tributar empréstimos,
e a gerir poupanças. Hoje, este banco apresenta um complexo sistema de sucursais, espalhadas
por inúmeras vilas do país, reunindo hoje mais de 30 milhões de clientes,
Em 1990, a generalidade das agências para o desenvolvimento entendeu que as micro finanças
poderiam ser um estratégia defensável para o combate à pobreza. Assim, as Micro Finanças
disseminaram-se em muitos países, onde múltiplas agências de micro crédito assistem as
necessidades de pequenos empresários, e de famílias mais desfavorecidas. Estas conquistas,
contudo, tendem a concentrar-se em áreas urbanas densamente povoadas.
Ao longo da década de 1990, o termo micro crédito passou a ser substituído por micro finança,
na medida em que este último conceito abarca um leque mais vasto de serviços financeiros
destinados aos pobres – incluindo o crédito, mas também, as poupanças, os seguros, e as
transferências bancárias. Para alcançar um maior número de clientes, as instituições de micro
crédito, bem como as suas redes, começaram a perseguir uma estratégia de comercialização,
que implicava a sua transformação em colectividades com fins lucrativos, para poderem atrair
não só mais capital, mas para se estabelecerem enquanto partes permanentes do sistema
financeiro.
Em Portugal, o mercado da finança ética continua ainda por emergir. Entre os três instrumentos
de finança ética acima mencionados – ISR, microfinanças e banca ética – é o segundo
instrumento aquele que tem vindo a crescer nos últimos anos.
Em Janeiro de 1988 introduziu-se o conceito de microcrédito em Portugal, pela mão do
programa europeu MECFIN , através de programas de identificação de mecanismos alternativos
de financiamentos de algumas actividades económicas do Terceiro Sector. Este programa tinha
como objectivo permitir que pessoas sem o acesso ao crédito tradicional pudessem obter um
empréstimo no sentido de investirem em pequenas actividades económicas. Esta iniciativa
partiu da Associação Nacional do Direito ao Crédito (ANDC), organizações não governamentais
(ONG) e outros parceiros como a instituição financeira Millennium BCP e associações de
desenvolvimento local (ADL).
25
ISR em Portugal
O primeiro debate público em Portugal sobre Investimento Socialmente Responsável (ISR) teve
lugar em Novembro de 2003 em Lisboa, parte da Conferência Internacional sobre
Responsabilidade Social e Globalização organizada pelo Fórum DC, um projecto de duas ONG
portuguesas, oikos – cooperação e desenvolvimento e Instituto Marquês de Valle Flôr. Foi a
oportunidade para a Fórum DC apresentar um estudo sobre a forma como as instituições
financeiras com actividade no país encaravam o ISR. Das 15 instituições contactadas, 8
responderam ao questionário: ActivoBank 7, Banco Bilbao y Vizcaya Argentina (BBVA), Banco
Espírito Santo (BES), Banco Português de Investimento (BPI), Banco Comercial de Portugal (BCP),
Banco Português de Negócios (BPN), Barclays Bank, Grupo Santander/Totta.
Entre os bancos que responderam, três indicaram que comercializavam já produtos ISR, outros
dois disseram que o fariam caso houvesse mercado, e outros três afirmaram ser uma boa ideia,
mas não havia ainda um mercado em Portugal. Para 63% dos bancos contactados, o melhor
mecanismo para seleccionar um fundo ISR seria avaliação por uma agência de certificação social,
enquanto para outros 25% tudo dependeria das administrações dos bancos. Em relação ao
melhor argumento para começar a vender um fundo ISR, 38 por cento mencionaram a
existência de algum estudo que revelasse o interesse do mercado neste produto financeiro, 38
por cento indicaram estudos de caso e boas práticas evidenciando bons retornos financeiros, e
25 por cento a consciência de que existia uma responsabilidade ética nos investimentos.12
Entre os fundos ISR comercializados em Portugal, encontra-se o Fundo do Consumidor
Responsável Europeu (ERCF) lançado em 2003 pelo Banco Espírito Santo (BES), numa
colaboração entre a Espírito Santo Activos Financeiros (ESAF) e a CONSEUR, a maior associação
de consumidores europeia. Segundo a ESAF, é um fundo com um portfolio misto constituído em
partes iguais por acções e obrigações. Em termos de critérios de exclusão, o ERCF evita
investimentos nas indústrias de tabaco. Em termos de critérios positivos, o ERCF investe em
companhias que respeitam os direitos dos consumidores ou o ambiente.
Embora o panorama do ISR em Portugal seja pobre, existem já algumas organizações que têm
promovido a RSE junto das empresas portuguesas:
RSE Portugal: uma organização sem fins lucrativos que integra uma rede europeia sobre RSE, a
Corporate Social Responsability (CSR) Europe. A missão da RSE Portugal é tornar-se a referência
nacional na área da RSE, promover e publicitar projectos RSE dentro e entre empresas,
desenvolver instrumentos analíticos para a área da RSE e dar maior visibilidade pública às
empresas socialmente responsáveis. Entre os seus associados contam-se o Millenium BCP,
Novartis, Intertek, ou o Grupo Portucel.
12 Ver João José Fernandes, Investimento Socialmente Responsável e Fundos Éticos: Uma Aproximação à Realidade
Portuguesa (Apresentado na Conferência Internacional sobre Responsabilidade Social e Globalização, Dezembro 2003)
26
BCSD Portugal: é a representação nacional do World Business Council for Sustainable
Development (WBCSD), criada em 2001 pelo Grupo Sonae, Grupo Portucel e Cimpor. Entre os
seus maiores objectivos encontram-se promoção de uma plataforma que junte empresas,
sociedade civil e governo em apoio ao desenvolvimento sustentável e o desenvolvimento de
estratégias para melhor comunicar a temática do desenvolvimento sustentável. Entre os seus
membros actuais contam-se a EDP, Águas de Portugal, ABB e GALP.
GRACE: é uma associação sem fins lucrativos criada em 2000 e destinada a promover o
conceito de Cidadania Corporativa e apoiar várias actividades sociais desenvolvidas por
organizações não-governamentais. Entre as suas associadas contam-se a McDonalds, BP, IBM e
Deloitte Consulting.
27
Microfinanças em Portugal
15 Conjunto de iniciativas que têm como objectivo principal o apoio às comunidades de imigrantes em processo de
integração na sociedade portuguesa, os novos residentes.
29
o empreendedorismo social. A linha de financiamento de 750 mil euros e o prazo de reembolso
é de quatro anos.O BES assinou um protocolo de colaboração com 20 câmaras municipais e com
a Casa da Rússia, em que se comprometeu a realizar um conjunto de acções e projectos, com
vista a apoiar e desenvolver a capacidade empreendedora das comunidades de língua russa em
processo de integração na sociedade portuguesa. O BES tem realizado um esforço no sentido de
criar uma rede de apoio local as iniciativas empresariais, através de instrumentos de
financiamentos à criação de pequenos negócios. Este novo serviço constitui uma nova
ferramenta no combate a exclusão social, uma vez que os novos residentes legalizados em
Portugal enfrentam grandes dificuldades no acesso ao crédito tradicional, e o facto de ser
obrigatório trabalharem por conta de outrém ate a obtenção da autorização de residência.
Segundo o BES, 127.000 imigrantes poderão candidatar-se e estarão em condições de obter uma
autorização de residência podendo assim abrir o seu próprio negócio em Portugal. O objectivo
do BES a curto prazo é captar uma linha de 100 mil clientes, dos quais 16 mil serão cidadãos
residentes.
Para além das iniciativas nacionais, o Millennium/BCP e o Montepio Geral têm estado envolvidos
em actividades de microcrédito em países em desenvolvimento, nomeadamente Moçambique e
Cabo Verde.
30
Microfinanças nos países em desenvolvimento
31
concedidos por períodos intercalares ( 3 em 3 meses) . A implementação do programa de microcrédito
é efectuada através de uma parceria com o Banco Sol. Após longas discussões, em Novembro de 2004
foi assinado um acordo de parceria entre a oikos e o Banco Sol, que visa facilitar a cedência por esta
instituição de recursos financeiros para o desenvolvimento de pequenas acções de geração de
rendimento pelas comunidades. Resultante do acordo, o BANCO SOL compromete-se a disponibilizar
um fundo global anual estimado em USD 60 mil dólares/ano.
32
Entre 1998 e 1999 a oikos, em parceria com a COPROFAM (ONG local), implementa um pequeno
projecto de desenvolvimento comunitário, com as seguintes componentes: criação de pequenos
ruminantes, cultivo de ervas aromáticas (orégão) construção de um centro de promoção da educação
infantil (PRONOEI), e constituição dum pequeno banco comunitário (“Banquito Comunal de Huayao”).
O objectivo da constituição deste banco comunitário foi permitir que mulheres e homens de Huayao
passem a dispor de um capital mínimo de investimento, necessário para melhorar a rentabilidade das
suas principais actividades. Além disso, pretendeu-se criar uma cultura de poupança e investimento e
uma capacidade de gestão de fundos.
Em Julho de 1999, o projecto outorgou um empréstimo de 3.5 mil novos soles (cerca de mil euros, ao
câmbio da época). Com este fundo o banco comunitário inicia as suas acções, outorgando nove
créditos, dos quais sete foram para mulheres. No ano seguinte, após uma primeira avaliação, o
projecto aumentou o fundo de crédito para 7 mil novos soles (cerca de 2 mil euros). A intervenção
directa da oikos e do parceiro local (COPROFAM) foi concluída em finais de 1999, início de 2000.
Em meados de 2003, a oikos encomendou uma auditoria externa ao “Banquito Comunal de Huayao”
(BCH), a fim de averiguar a evolução do mesmo e os resultados obtidos. Os resultados são
extraordinariamente positivos, evidenciando que os camponeses pobres podem ser bons gestores. Até
ao dia 15 de Julho de 2003, o BCH tinha gerado uma margem de lucro bruta de 22.284,80 soles
(15.228,80 como capital actual e 7.056,00 de despesas durante os 4 anos), esta quantidade foi gerada
a partir de um capital inicial de 9.560 novos soles (7 mil novos soles do empréstimo do projecto, 1.6 mil
novos soles dos sócios e 900 soles de poupanças da comunidade). Os indicadores de avaliação são os
seguintes:
Taxa de morosidade 6,4%
Rotação da carteira 2,80 x
Capitalização 104,0%
Custos administrativos 8% (em 4 anos)
33
III
Comércio Justo e Finança Ética
Sinergias para o Desenvolvimento
34
As Lojas do Mundo
35
estes títulos de capital não proporcionam quaisquer taxas de juro aos subscritores. E como este
capital não se encontra indexado a nenhum prazo para retorno, permite que as cooperativas o
utilizem para investimentos de médio e longo prazo.
Tornar-se membro de uma organização gestora duma LM significa tomar parte nas suas
actividades sociais e decisões estratégicas, através de encontros entre os membros e outros
momentos de participação. Partilhar os riscos da organização aumenta a consciência e o
envolvimento dos membros no sentido de uma gestão mais eficiente.
36
Casos de Estudo - Itália
Cooperativa Mandacarù
Fundada em 1989, no ano seguinte abria em Trento a sua primeira Loja do Mundo. Em 1992 celebra
uma parceria com a cooperativa CTM – MAG, que lhe permite angariar poupanças. As poupanças
recolhidas pela CTM – MAG são utilizadas para desenvolver a CTM e o Comércio Justo em Itália.
Actualmente, a Mandacarù tem 10 Lojas do Mundo, mais de 300 voluntários e um volume de
negócios de €1.45 milhão. É ainda a maior organização italiana a trabalhar com finança ética em
prol do CJ, com 1750 membros, mais de 800 clientes e €4.3 milhões recolhidos entre capital social e
poupanças. As taxas de juro para os membros variam entre 0.25% e 1.9%, consoante o número de
títulos de capital social detidos pelos membros: quanto maior a titularização, maior é a remuneração
pelos depósitos.
Os títulos de capital social e as poupanças recolhidos pela Mandacarù são utilizados para desenvolver
e fortalecer o comércio justo. Tal sucede através de três formas de investimento:
Made in Dignity: pré-financiando produtores, fundo de préfinanciamento dos produtores, para
compra de materiais básicos (matérias primas, sementes)
Courageous Capital: capital e poupanças para fortalecer a riqueza e sos investimentos
Banquito: empréstimos aos produtores (p.e. para aquisição de maquinaria)
37
Coopera tiva Ac tiv idade s / Pr odu to s To tal (e uro ) *
Investments made in the cooperative
Mandacarù (property and equipment) and 1,217,171
warehouse stock
Made in dignity, banquito,
Ctm Altromercato 1,783,894
courageous capital
Cresud Banquito 194,114
Courageous capital, liquidity
CGM Finance Foundation 1,145,234
management
Enghera Cooperative Courageous capital 8,220
Dritte Weltladen Twigga Cooperative Courageous capital 15,494
* Dados de 2003
Cooperativa Dritte
Weltladen Twigga
0.36%
Cooperativa 26.24%
Enghera
0.19%
Cresud
4.45%
Ctm Altromercato
40.88%
CTM Altromercato
38
Os membros da CTM-Altromercato captaram em 2003 mais de €12 milhões, dos quais cerca de
€6 milhões foram transferidos para a Fundação CTM Altromercato. As cooperativas Mandacarù e
Chico Mendes foram as que mais fundos recolheram. Perante estes dados, a Fundação CTM
Altromercato é o segundo maior operador italiano de Finança Ética, logo atrás da Banca
Popolare Etica (que captou em 2003 fundos no valor de €300 milhões).
A remuneração dos depósitos é calculada com base no rácio entre os títulos de capital e as
poupanças subscritos, traduzido numa taxa de juro entre 2,5% and 5,7% (dados de 2004). Um
bónus de 0,5% é atribuído a associações e cooperativas que realizem: capital social equivalente a
pelo menos 20% do volume de negócios; poupanças equivalentes a pelo menos o dobro do
capital social; investimentos na Fundação – em títulos de capital ou poupanças – equivalentes a
pelo menos 20% do seu capital social.
39
Dados de 2003:
CGM finance
Aplicações de capital ( € ) 0.07%
Coop. CAES P a r t e c i p a z i o n i
40
Finanças para o Sul
16 For further information, please see “Rural credit guarantee funds: best practices, international experiences and the
case of the nena region”, Laura Viganò, Giuffrè 2002.
41
42
Empréstimos éticos: Shared Interest
A Oikocredit é uma rede mundial de investidores sediada na Holanda, que financia cooperativas,
pequenas e médias empresas e instituições financeiras, com enfoque particular nos países do Sul
e no microcrédito. Cerca de 10% dos seus empréstimos destinam-se a produtores e
importadores de CJ.
O Triodos Bank está presente na Holanda, Bélgica, Reino Unido e Espanha. Financia organizações
certificadas de produtores de comércio justo e/ou de agricultura biológica. Os empréstimos são
indexados aos contratos de exportação.
43
COMÉRCIO JUSTO
Bibliografia
Malhotra, Kamal Making global trade work for people Sterling, Earthscan, 2003
Redfern, Andy e Snedker, Paul Creating market opportunities for small entreprises: experiences
of the fair trade movement Genebra, ILO, 2002
Watkins, Kevin Rigged Rules And Double Standards Londres, Oxfam, 2002
Watkins, Kevin Trade, Globalisation and Poverty Reduction Washington, Oxfam, 2002
44
Links
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Fair Trade Federation www.faitradefederation.org
Fair Trade Resource Network www.fairtraderesource.org
FLO www.fairtrade.net
IFAT www.ifat.org
NEWS! www.worldshops.org
Transfair USA www.transfairusa.org
Portugal
45
FINANÇA ÉTICA
Bibliografia
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AVANZI SRI RESEARCH, SIRI GROUP: “Green, social and ethical funds in Europe 2004”.
DEL RÍO, N. (2003): “Rescata tu dinero. Finanzas solidarias y transformación social”, Madrid.
Dossier Ethical Finance in England, 2004. (memorando)
Dossier Ethical Finance in Holland, 2004.(memorando)
Dossier Ethical Finance in Italy, 2004.
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FORO NANTIK LUM DE MICROFINANZAS (2005): “El Microcrédito en España, hoy: principales
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GUTIÉRREZ NIETO, B: “El microcrédito. Análisis del caso español”, UNED, 2003.
MERCER INVESTMENT CONSULTING y EUROSIF RESEARCH: “European Pension Fund Managers
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MICROFINANCE CENTRE FOR CENTRAL AND EASTERN EUROPE AND THE NEW INDEPENDENT
STATES, MFC: “MFC-Overview of the Microfinance Industry in the ECA Region in 2003”, Dezembro
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MICROFINANZA SRL: “FINANCING FOR DEVELOPMENT - ANALYSIS OF EUROPEAN BEST
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SETEM, 2005: “Finanzas éticas: la otra cara de la moneda”.
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Europa Occidental”, Agosto de 2004.
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www.ethicalinvestment.org.uk www.jak.se
www.eiris.org www.ekobanken.se
www.eurosif.org www.bas-info.ch
www.sricompass.org www.gemeinschaftsbank.ch
www.dti.gov.uk www.finansol.org
www.vbdo.nl www.mercator.be
www.avanzi-sri.org www.fig-igf.org
www.cnmv.es www.tise.com.pl
www.europapress www.microfinance.lu
www.deputati.it www.adie.org
www.uksif.org www.alterfin.be
www.sozialbank.de www.microcredito.com.pt
www.triodos.es cigales.asso.fr
www.merkurbank.dk www.cordaid.nl
www.eko-osuusraha.fi www.credal.be
www.alsace.banquepopulaire.fr www.creditosud.it
www.credit-cooperatif.fr www.blueorchard.ch
www.lanef.com www.etika.lu
www.inaise.org www.etimos.it
www.triodos.es obrasocial.caixacatalunya.es
www.triodos.co.uk www.swwb.org
www.asnbank.nl www.novib.org
www.co-operativebank.co.uk www.oikocredit.org
www.unity.uk.com www.planetfinance.org
www.bancaetica.com www.sidi.fr
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