Sei sulla pagina 1di 2

Os palestinianos são vítimas do mundo árabe que sempre os

instrumentalizou e dos seus próprios dirigentesCom frequência, e


nomeadamente em tempo de guerra, surgem as acusações ao Exército e
Governo israelita de utilizar os mesmos métodos dos nazis face aos judeus
durante a II Guerra. Não me refiro ao mundo árabe e muçulmano, onde a
negação do Holocausto faz parte da ideologia dominante de deslegitimação
do Estado de Israel. Refiro-me, sim, à Europa, onde este tipo de acusações
tem cada vez mais sucesso e onde estão em passe de assumir um carácter
de respeitabilidade. Quem esteve atento às recentes manifestações ditas "a
favor da paz" por toda a Europa constatou-o mais uma vez: a estrela de
David em paralelo com a cruz suástica, espantalhos de Hitler com as figuras
de dirigentes israelitas, palavras de ordem tiradas do léxico nazi, como
"Judeus raus [fora] da Palestina", comparações de Gaza com campos de
concentração ou dos "combatentes" do Hamas com os do gueto de
Varsóvia. O objectivo é fazer crer que os palestinianos de hoje são os judeus
de ontem. É identificar os judeus de hoje com a referência máxima do mal.
É despojá-los do seu bem mais precioso - a sua própria memória e
identidade.
Os palestinianos, os novos judeus? Será necessário lembrar o que foi o
Holocausto? Será necessário evocar a política deliberadamente genocida da
Alemanha nazi? Será necessário lembrar a diferença entre um campo de
concentração onde se morria de exaustão ou nas câmaras de gás e os
campos de refugiados palestinianos onde a actividade mais rentável é
escavar túneis de contrabando de armas para atacar deliberadamente civis
israelitas? Será necessário lembrar que o extermínio de dois terços dos
judeus da Europa em apenas 12 anos foi feito no maior silêncio e
indiferença das nações, ao contrário do que se passa hoje em Gaza, onde o
sofrimento palestiniano ecoa por todo o planeta sob o impacto dos holofotes
mediáticos e é objecto de toda a comiseração e apoio dos mais variados
organismos humanitários internacionais? Será necessário lembrar que a
Cruz Vermelha de hoje, tão lesta a denunciar "o desastre humanitário" em
Gaza, se calou bem caladinha durante o Holocausto? Não, os palestinianos
não são os novos judeus. São simplesmente vítimas do mundo árabe que
sempre os instrumentalizou, e dos seus próprios dirigentes, a começar pelo
Hamas, para quem não passam de carne para canhão contra Israel.
Mas a verdade é que este tipo de acusações diz mais sobre quem as profere
do que sobre os seus destinatários. Israel encarna a revolta contra o
Holocausto e representa um obstáculo permanente aos que preferem
esquecer a história. No mundo ocidental, a terrível questão "como foi
possível?" continua a atormentar as consciências. E a melhor forma de se
libertar da culpa não será convencer-se - através dessa falsa e hedionda
analogia - de que afinal as vitimas de ontem são os carrascos de hoje?
Mais subtil é o argumento de que o povo judeu pelo seu sofrimento passado
devia ter maior sensibilidade ao sofrimento alheio, maior aspiração à paz.
Mas para os judeus e, em particular para Israel, a principal lição do
Holocausto não é a paz a todo o custo, mas a obrigação de defender a sua
existência, com unhas e dentes e pelos seus próprios meios, sem esperar
nada de ninguém e muito menos compaixão. Coisa que a Europa não
entende porque já esqueceu há muito...
Revelador de má consciência é o argumento também recorrentemente
defendido que criticar Israel não é ser anti-semita. Miguel Esteves Cardoso
tem razão quando afirma que "os judeus em geral hesitam em chamar anti-
semita a quem critica o Governo de Israel". Não só porque, como ele refere,
conhecem ou se lembram dos verdadeiros anti-semitas, mas porque esse é
um debate interno a quem faz essas críticas e tem receio de ser
considerado anti-semita. De facto, a crítica a Israel é natural e salutar tal
como a crítica a qualquer governo. Que ela se possa exercer faz parte
intrínseca da liberdade individual ou colectiva e pode até contribuir para a
correcção de erros políticos. Mas este facto, por ser verdadeiro, não apaga o
carácter realmente anti-semita de muitas manifestações e críticas contra
Israel, e por vezes a fronteira entre uma e outra é muito ténue. Por exemplo,
dizer que Israel tem contado "com a cumplicidade de grande parte do
mundo, rendido ao poder do dinheiro" e que "a Palestina é que paga, em
vidas, que é no mundo actual um valor bem mais desprezível que o dinheiro
de Israel" (João Paulo Guerra), para além de absurda é, de facto, uma
afirmação na melhor tradição do antijudaísmo medieval. Da mesma forma,
acusar o Governo israelita de se comportar em Gaza "à semelhança do que
faziam os nazis com os judeus fechados no gueto de Varsóvia", e de ser
"hoje, de facto, o governo mais anti-semita à superfície da terra" (Fernando
Nobre), para além de uma evidente falsidade histórica, não se pode dizer
que seja propriamente filo-semita. E como nomear os inúmeros e-mails
assassinos dirigidos às comunidades judaicas ou os atentados, em particular
em França e na Bélgica, contra sinagogas, cemitérios e outros alvos
judaicos? Ou a sistemática falsificação histórica, as referências ao "pecado
original de Israel", ou seja, o pecado da sua criação? A fronteira é de facto
muito ténue...
Isto leva-me à questão do chamado "campo da paz", ou seja, o campo de
todos aqueles que, a coberto da palavra mais prezada hoje na Europa,
acabam por favorecer a violência e a guerra. Hoje, é em nome da paz que
se absolvem os verdadeiros causadores desta guerra - neste caso, o Hamas.
É em nome da paz e dos direitos humanos que se concentram todos os
ataques a Israel, esquecendo as ditaduras sanguinárias do Darfur ao
Zimbabwe, os milhões de mortos vítimas do terrorismo islâmico da Argélia à
Somália; é em nome da paz que se têm organizado as mais violentas
manifestações, como a de Londres, em que um cartaz exigia a "Morte a
todos os judeus". Concentrados na sua ira contra o "sionismo agressor" o
dito campo da paz não vê que no próprio mundo árabe começa a emergir
algum consenso sobre a necessidade de uma frente unida, incluindo Israel,
contra um inimigo infinitamente mais perigoso: o Irão e as suas antenas
terroristas, o Hezbollah e o Hamas. Não vêem que, para lá do sofrimento
intolerável dos palestinianos, a grande lição desta guerra e a melhor forma
de acabar com ela é derrotar o Hamas.
(esther.mucznik@netcabo.pt)

Potrebbero piacerti anche