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«Quando o despertador tocou, a casa inteira parecia ainda adormecida.
Lavínia sentou-se na cama e, de repente, lembrou-se que o Natal estava à porta.
“Meu Deus”, exclamou, “tanta coisa para fazer e eu aqui deitada!”
Não tardaria a ver a Mãe chegar a pedir-lhe o pequeno-almoço, ou o Pai a resmungar
porque queria ter ficado mais tempo na cama. “Adultos...”, pensou, “é preciso ter muita
paciência com eles...”
A Mãe andava agora com aquela mania de que o Pai Natal não existia! Lavínia sorrira,
e cheia de boa vontade lá lhe explicara que isso era mentira, que ela não devia acreditar em
tudo o que lhe diziam no emprego. [...]
[...] nestes últimos tempos, com o Natal à porta, andavam muito excitados.
— O Pai Natal não existe. Eu sei — dizia a Mãe.
— O Pai Natal é mentira. Toda a gente sabe — dizia o Pai.
Então Lavínia, cheia de paciência, contava-lhes a história verdadeira do Pai Natal, e
todo o trabalho que ele tinha na noite de 24 de Dezembro, para escorregar pelas chaminés
abaixo e deixar, na cozinha de cada criança, aquilo que cada criança tinha pedido.
— E como é que ele cabe na chaminé? — perguntava a Mãe.
— Não se está mesmo a ver que é mentira? — dizia o Pai.
Lavínia sorria, sorria sempre. Eram tão engraçados, os adultos! O pior é que o tempo
passava muito depressa. Não tardariam a ficar crianças, e então perdiam a graça toda. Era
aproveitar agora. [...]»

“Duas Histórias de Natal”, Alice Vieira


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Natal de um Pastorinho

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Pela serra acima Porém uma delas Feliz a ovelha
Vai o pastorinho. Não aguentou mais, Feliz o pastor.
Leva o seu bornal Deitou-se pr´o lado Que quadro tão belo
Bem recheadinho! Ao pé duns giestais! Para um bom pintor!

Batendo os tamancos, E logo o pequeno E pr’a festejar


Lá vai p´la manhã. De tão perspicaz, Aquele Natal,
Vestido de croça Deu p’la falta dela Havia o farnel…
E gorro de lã. E voltou atrás. Puxou do bornal.

As ovelhas mansas Andou meia légua, Depois lá seguiram


Seguem a seu lado. Achou-a deitada. De novo a caminho
Pr´a lidar com elas Ia dar à luz Ao colo do moço
Não usa cajado. Não tardava nada! Ia o cordeirinho.

Fala-lhes mansinho: E o pastorinho E ao chegar a casa,


“Meninas, correr!” Lá fez de parteiro. Lá pela tardinha
E elas tratam logo Tomando nas mãos Com mais um no rol…
De lhe obedecer! Um lindo cordeiro! O bom pastorinho
Aumentou o encanto
Daquele pôr-do-sol!

Histórias de Natal Contadas em Verso, Alexandre Parafita


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Os três presentes,
Álvaro Magalhães
(Sinopse)

Os três presentes narra a história de uma amizade entre


três jovens e um homem idoso, dobrado pela tristeza e
pela doença. Pedro, Teresa e João escolheram os melhores
presentes para o amigo doente: amor, silêncio e alegria. O
problema era: como guardar alegria dentro de um frasco de
vidro? E amor? Será que um pouquinho de amor também
lá cabe? E um bom naco de silêncio? Eles experimentaram
e o resultado foi o renascimento do Sr. Martins no dia mais
diferente dos dias diferentes: o dia de Natal.
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Um poema de Natal AL
Não sei porque ares

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Épocas ou ais que tais
Me sinto falho sobre o Natal escrever…

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Fogem-me as palavras

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A alma esconde-se
Cai-me um sofrimento alegre em cima…

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Raios…
Talvez porque o pai natal
Quando pequeno eu era
Só me trazia um par de meias
Todos os anos mais ou menos repetidas…
… e uns rebuçados de meio tostão quase…
Eu já lhe perdoei a forretice
Que não existia…
Apenas os autores da proeza
Que meus pais eram
Tinham uma prole
Um bando
Uma multidão de filharada…
apenas nove!
Então
Como não hei-de escrever sobre o Natal?...
Mas devo ser justo e dizer isto:
… ainda gosto de meias e de rebuçados de meio tostão quase...

António Gedeão
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Ninguém Dá Prendas ao Pai Natal,
Ana Saldanha
(Sinopse)

É Dezembro. Na Lapónia, andam todos muito atarefados.


O carteiro entrega as cartas, a secretária do Pai Natal, a rena
Rodolfa, lê-as e procura as prendas pedidas nas prateleiras,
as outras renas preparam-se para a grande corrida de Dezem-
bro. Só o Pai Natal parece não ter pressas. Mas, quando estão
já de partida, descobre-se que o provérbio de que o Pai Natal
tanto gosta — «Devagar, que tenho pressa» — está mesmo
certo. Do que é que a rena Rodolfa se foi esquecer?!
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Entrevista com o Pai Natal

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“Querido Pai Natal:

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Queria pedir-lhe uma boneca daquelas grandes, que eu vi,

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no outro dia, numa montra, quando fui sair com a minha
mãe. Queria o enxoval completo da boneca, uma banheira
para lhe dar banho, um pente, uma escova e um secador

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para cabelos de bonecas. Queria também um serviço de chá
para bonecas, um triciclo, um jogo e uma lapiseira azul.
Para a minha irmã não mande nada, porque ela só sabe
estragar-me os brinquedos.
Beijinhos da sua amiga
Luísa”
- Leu tudo? Que tal aquele bocadinho em que ela diz para
eu não dar nada à irmã? Veja se não é de um pessoa perder
a cabeça!
- Mas não a perca, Pai Natal - dissemos.
- A sua cabeça, onde cabem milhões de nomes, moradas
e pedidos, é preciosa.
- Nem me fale disso! Já não tenho memória para tanta
coisa. Os pedidos são muitos, as listas aumentam de ano
para ano...

A História do Dia, 23 de Dezembro 2007


António Torrado
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- O Pai Natal não bate às portas. É como o vento. Bota-se a
caminho e, pronto, está logo chegado. Se quisesse, entrava pelo
buraco da fechadura. Connosco pouco adiantava. A nossa por-
ta nem chave tem. Basta o cravelho, não há nada que roubar.
Mas, como te digo, o Pai Natal do que mais gosta é de descer
pela chaminé. É para que saibam que vem do céu, à ordem do
Menino-Deus...
- Ó mãe, mande pôr uma chaminé na nossa casa, mande!
Queria tanto que o pai Natal cá viesse...!
- Estás na lua. Uma chaminé é para quem é. Custa dinhei-
ro. Onde o tínhamos nós?
(...)
Aquilino Ribeiro In “Sonho de Uma Noite de Natal”,
Edição do Centro de Estudos Aquilino Ribeiro (CEAR), Viseu 2004
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M as houve um bom Natal na minha vida. Um bom Natal
inesquecível. Um Bom Natal em que este metro e oitenta e
quatro de português, que redige um português inútil, inútil português
de metro e oitenta e quatro presumiu ser útil escrevendo num portu-
guês inçado de erros, coxo, desmantelado - mas feliz. Foi assim: pelas
onze e meia da noite de um 24 de Dezembro eu estava na redacção do
jornal onde trabalhava. Veio um telegrama de Londres que dizia mais
ou menos isto: “Um menino que está a morrer pediu à mãe morangos.
Não há morangos em Inglaterra, por esta época do ano. A mãe foi à BBC
e a BBC fez um apelo. Um avião em voo escutou-o. Transmitiram o ape-
lo a todos os aviões do mundo. E alguns aviões do mundo atrasaram as
suas partidas, transferiram de bojo para bojo um cesto de morangos que
fora adquirido na Cidade do México. Os morangos chegaram a Londres.”
Não havia mais no telegrama; mas era uma grande história de Natal e
de amor, numa suave noite de Natal, em que seria radioso relembrar às
pessoas que, por vezes, as pessoas conseguem coisas formidáveis.

“Cidade Diária”, Baptista-Bastos


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Natal, e não Dezembro

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Entremos, apressados, friorentos,

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numa gruta, no bojo de um navio,
num presépio, num prédio, num presídio
no prédio que amanhã for demolido...
Entremos, inseguros, mas entremos.
Entremos e depressa, em qualquer sítio,
porque esta noite chama-se Dezembro,
porque sofremos, porque temos frio.

Entremos, dois a dois: somos duzentos,


duzentos mil, doze milhões de nada.
Procuremos o rastro de uma casa,
a cave, a gruta, o sulco de uma nave...
Entremos, despojados, mas entremos.
De mãos dadas talvez o fogo nasça,
talvez seja Natal e não Dezembro,
talvez universal a consoada.

Obra Poética,
David Mourão Ferreira
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“…Num casebre desgarrado, sumido na prega de um cerro, vivia a esse tempo


uma viúva, mais desgraçada mulher que todas as mulheres de Israel. O seu filhinho
único, todo aleijado, passara do magro peito a que ela o criara para os farrapos da
enxerga apodrecida, onde jazera, sete anos passados, mirrando e gemendo. Também a
ela a doença a engelhara dentro dos trapos nunca mudados…e, sobre ambos, espes-
samente a miséria cresceu como o bolor sobre cacos perdidos num ermo. (…)
Um dia um mendigo entrou no casebre, repartiu o seu farnel com a mãe amar-
gurada e (…)contou dessa grande esperança dos tristes, esse rabi que aparecera na
Galileia, e que de um pão no mesmo cesto fazia sete e amava todas as criancinhas, e
enxugava todos os prantos… Então o filhinho, num murmúrio mais débil que o roçar
de uma asa, pediu à mãeque lhe trouxesse esse rabi que amava as criancinhas, sarava
os males…
A mãe apertou a cabeça engelhada.
- Oh filho, e como queres que te deixe e me meta aos caminhos à procura do rabi
da Galileia? (…)
- Oh, mãe! Jesus ama todos os pequeninos. E eu ainda tão pequeno e com um mal
tão pesado, e que tanto queria sarar!
- Oh meu filho, como te posso deixar! Longas são as estradas da Galileia, e curta
é a piedade dos homens(…)
- Mãe, eu queria ver Jesus…
E logo abrindo devagar a porta e sorrindo, Jesus disse à criança.
- Aqui estou!

O Suave Milagre, Eça de Queirós


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Natal

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Natal…Na província neva.
Nos lares aconchegados,
Um sentimento conserva
os sentimentos passados.
Coração oposto ao mundo,
Como a família é verdade!
Meu pensamento é profundo,
Estou só e sonho saudade.
E como é branca de graça
A paisagem que não sei,
Vista de trás da vidraça
Do lar que nunca terei!
Obra Poética,
Fernando Pessoa
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Dezembro.
Em Dezembro deslizavam os trenós monte abaixo e andávamos pelas
florestas colhendo os caramelos dos pinheiros cobertos de neve. Em De-
zembro assavam-se maçãs nas estufas cuja chama rubra se projectava sobre
a parede. Fora também em Dezembro que eu caminhara, pela primeira vez,
ao lado de Paul que levava o seu casaco de gola de astracã e o boné ver-
melho sobre o cabelo louro.
Dezembro em Berlim. Cidade vestida de branco. Cidade imensa, agitada.
Música nos cafés e nos bares; avenidas e montras iluminadas; luzes, recla-
mes que acendiam e pagavam. Berlim, a capital onde os poderosos dispu-
nham do destino do país e do nosso, enquanto a vida parecia continuar no
ritmo usual. Aproximava-se o Natal. Na praça cintilavam as velas eléctricas
em pinheiros gigantes. Os transeuntes carregavam embrulhos e os meninos
divertiam-se diante das montras onde o Pai Natal dizia sempre que sim
com a cabeça, sem saber porquê.
(…)só conseguia pensar em Paul que me prometera uma visita nas férias
de Natal e não viera. (...)

O Mundo em que Vivi,


Ilse losa
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Um Estranho Natal,
João Aguiar
(Sinopse)

O Natal aproxima-se. O Carlos, o Álvaro, a Catarina


e o Frederico nem sonham o que vão encontrar no
sapatinho…Nada menos que uma aventura incrível,
que os leva a lutar contra gente poderosa que quer
fazer de Vila Rica um depósito de lixo nuclear! Como
não podia deixar de ser , o tio João mete-se ao baru-
lho. Mas quem entra verdadeiramente em acção é o
Bando dos Quatro.
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“ Ninguém sabe os contratempos que um Pai Natal sofre para levar
a tempo e horas todas as prendas que as crianças irão receber, mal
abrirem um olhito na manhã de cada dia 25 de Dezembro!
Eu que fui Pai natal durante vários anos, posso garantir-vos que,
quando chega Dezembro, todos os pais natais andam de um lado para
o outro com o coração nas mãos…Eu era apenas um poeta guloso,
comilão e bem-disposto. Mas um dia, o Pai Natal - o verdadeiro, o
que vive na Lapónia, - pediu-me que o substituísse naquele ano. E
na verdade eu tinha tudo para ser um óptimo Pai Natal: uma barriga
redondinha, bochechas vermelhas e barba branca, e, sobretudo, uma
enorme vontade de fazer as crianças felizes…
Esta é a história de algumas peripécias que vivi nos tempos em que
o verdadeiro Pai Natal me pediu para o substituir e em que tudo teria
corrido na perfeição, não fora não calçarmos o mesmo tamanho de
sapatos…”

Os sapatos do Pai Natal,


José Fanha
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“ Será que os presentes que eu entreguei ao longo da minha vida fizeram bem
aos meninos e às meninas que os receberam? Será que não ficaram mais mesquinhos
e gananciosos por terem presentes a mais? (…)Ainda há pouco abri uma carta vinda
de não sei onde e, lendo o segundo parágrafo, vi que uma menina me pedia um tele-
móvel para poder falar a qualquer hora do dia com os primos que estão emigrados no
Canadá. Vou ver se não me esqueço de satisfazer o seu pedido, porque é para isso que
o Pai Natal existe, mas, sinceramente, preferia que ela me tivesse pedido um livro de
lendas…se calhar são manias que eu tenho…”

“- Pai Natal, este ano tens que me trazer uma televisão gigante para eu ver o que
se passa no mundo. Quando o écran é grande, até as guerras são um espectáculo!
_ Em vez da televisão, este ano vou oferecer-te um livro muito bonito. Não leves a
mal, mas presentes desse tamanho já não cabem no meu trenó!”

“Um Pai Natal é muito mais interessante quando pergunta do que quando res-
ponde. E eu gosto muito de ser perguntador. Gosto de perguntar qual é o melhor cami-
nho para chegar mais perto daqueles de quem gosto”

Bom Natal, Pai Natal,


José Jorge Letria
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(...) A iluminação da sala estava um espanto, a mesa um espectáculo,
a lareira soltava línguas de fogo e música ambiente eram as vozes de anjos
de um cd que a minha mãe comprara de propósito para aquela noite.
Por cima da lareira, o meu pai pôs o presépio e, ao canto, construiu
uma árvore de Natal, apenas com ramos de pinheiro, porque, pensava ele,
que as árvores não se deviam abater.
Disse-me uma vez:
- Se um dia tiveres de cortar uma árvore, deves pedir-lhe desculpa,
ouviste? Uma árvore é um ser vivo!
O meu avô dirigiu-se ao presépio, mirou-o e remirou-o e, por fim,
disse:
- Que engraçado! Nunca vi um presépio assim: o Menino Jesus está
ao colo da mãe e a manjedoura vazia .( ...) Dou-te os meus parabéns, o
presépio está ,muito bonito!
Os olhos do meu pai brilharam com o elogio.


Hoje é Natal!,
José Vaz
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Amigo Rodrigo,

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Tinhas razão ao achar que as minhas renas não conseguiam carregar todos os presentes
que podias. Não pude trazê-los no camião gigante porque não tenho carta de condução.
Como o teu sonho era um hipermercado só para ti, vais hoje passar a noite de Natal
no maior de todos. Ao amanhecer poderás levar para casa o que quiseres. Desta noite
maravilhosa nunca te irás esquecer.
Dentro de cinco minutos estarei aí para te ir buscar.

Pai Natal

(...)
Rodrigo enfiou o anoraque, um gorro, calçou as luvas porque a aragem devia estar fria e
a avó refilava com a saída por causa das constipações.
Trim, trim, trim! Tocou a campainha.
Correram todos para a porta. Lá estava o senhor Natal, vermelho, gordinho, bonachei-
rão, com longas barbas brancas.
- Já só falta o teu presente - disse ele. – Não consegui estacionar o meu trenó nesta rua
porque estava atravancada de carros. Queres voar comigo pelos ares até ao terraço onde
as deixei?
Rodrigo sentiu um arrepio. Tinha medo das alturas...
- Não podemos ir a pé, pelo chão? Afinal há um hipermercado mesmo ali na esquina.
O Pai Natal acedeu, deu-lhe a mão e, apesar do seu passo pesado, cansado, em breve
chegaram às grandes portas envidraçadas.
Como era estranho o hipermercado sem vivalma...

Há Sempre uma Estrela no Natal,


Luísa Ducla Soares
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Um Conto de Natal

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…Mais tarde, muito mais tarde , eu estava no exílio. Na noite da Natal os revolucionários

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ficavam tristes e nostálgicos. Talvez recordassem outras avós, outros presépios, outros lugares.
Reuniam-se em casa deste ou daquele, improvisava-se uma árvore de Natal, trocavam-se presen-
tes. Mas ninguém, nem mesmo os mais duros, os que faziam gala em dizer que o Natal para eles
não significava nada, , nem mesmo esses conseguiam disfarçar uma sombra no olhar. Saudade,
dir-se-á. Mas talvez fosse mais do que saudade e solidão e o pior de todos os exílios que é o de se
sentir estrangeiro no mundo. Talvez fosse a consciência de que, para lá de todas as crenças, havia
um irremediável sentimento de perda. Muitas vezes me perguntei o que seria . Mas não consegui
responder. Sentia o mesmo aperto, o mesmo buraco por dentro, o mesmo sentimento de algo per-
dido. Uma noite de Natal, em Paris, eu estava sozinho. Comprei uma garrafa de vinho do Porto,
mas não fiu capaz de bebê-la assim, completamente só , num quarto de criada de um sexto andar
numa velha rua do Quartier Lartin. Peguei na garrafa e fui até aos Halles. Procurei um bistrot …
(…) Havia mais três solitários no bistrot, um velho de grandes barbas, um tipo com cara de eslavo,
um africano. Convidei-os a partilharem comigo a garrafa de Porto, …
- Conta uma história do teu país, pediu o velho.
- só se for a do presépio da minha avó.
- Então conta.
Eu contei. Era já muito tarde e o patrão disse-nos que queria fechar.
Chegados à rua, o africano apontou o céu e disse-me: Olha.
E eu vi. Uma estrela que brilhava mais do que as outras estrelas. Era uma estrela de prata. A es-
trela da avó. Brilhava no céu, brilhava outra vez, dentro de mim, quase posso jurara que brilhava
dentro dos outros três. Então eu perguntei ao africano como se chamava. E ele respondeu:
- Baltazar.
Perguntei ao velho e ele disse:
- Melchior.
E sem sequer que eu lhe perguntasse, o eslavo disse.
- O meu nome é Gaspar.
Era noite de Natal e talvez por magia da avó eu estav ana rua, em les Halles, com os três reis do
Oriente, Magos, diria o meu pai.
- E agora? – perguntei a Baltazar.
- Agora , respondeu o africano apontando a estrela, agora vamos apara Belém.

Manuel Alegre
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(...) Um bolo estava na montra da pastelaria, todo coberto de açúcar. O Menino
Jesus ia a passar pela mão de S. José e aquele bolo pensou:
- Queria que este menino me comesse. Ele é Deus, queria que ele me comesse com
a boca dele. Ia para dentro dele, e depois ia para o estômago dele; e depois ele fazia a
digestão, e eu ia para o sangue dele, ficava para sempre dentro do sangue dele. Transfor-
mava-me no sangue do Menino Jesus e andava dum lado para o outro dentro do corpo
do Menino Jesus. (...)
Aquele bolo pensou estas coisas, como era bom o Menino Jesus comê-lo, e ficou tris-
te. Depois é que pensou que os bolos não ficam tristes e deixou de estar triste. E depois
também pensou que os bolos - mesmo os cobertos de açúcar - não pensam, e não pensou
mais no assunto.
Entretanto, o Menino Jesus disse para S. José:
- Pai, dá-me aquele bolo todo coberto de açúcar para eu comer. Mas S. José disse:
- Não, porque tu és Deus e a gula é um pecado muito feio.
O Menino Jesus ficou muito assustado e esqueceu-se logo do bolo. Foi para casa todo
o caminho a pensar nos sete pecados mortais e, à noite, não era capaz de dormir cheio
de medo. (...)

O Bolo e o Menino Jesus,


Manuel António Pina
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O Livro do Natal,
Maria Alberta Menéres
(sinopse)

Neste Livro de Natal cruzam-se tempos já bem


remotos (...) tempos que devagarinho vamos
guardando reinventados para quem os quiser ler
e descobrir (...). Tempos aconchegados à lareira
da memória, soltos na clareira das nossas mãos
abertas, sempre as primeiras palavras de uma
história.
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Presente

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A girafa deu
ao seu
marido
no dia
de Natal
um lenço
colorido
de seda natural.
Que alegria!
– disse o marido –
ponha a pata
nesta pata,
com um pescoço
tão comprido
você não podia
ter-me comprado
uma gravata.

Presente,
Matilde Rosa Araújo
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Paz

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Paz de lareira acesa.

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A vida sem horário
E os dias aquecidos.
Dias acontecidos
Num outro calendário.

Hibernação da alma
No corpo aconchegado.
Nenhum grito
A bater ao ferrolho
Nenhum grito dorido
A bater ao ferrolho adormecido
Do sossego acordado.

Tréguas em toda a frente


De batalha.
O coração contente
Porque ninguém ralha
De pulsar calmamente.

“Diário X”,
Miguel Torga
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Até que chegaram ao lugar onde a estrela tinha parado e Joana viu um
casebre sem porta. Mas não viu escuridão nem sombra, nem tristeza. Pois
o casebre estava cheio de claridade, porque o brilho dos anjos o iluminava.
E Joana viu o seu amigo Manuel. Estava deitado nas palhas entre a
vaca e o burro e dormia sorrindo. Em sua roda, ajoelhados no ar, estavam
os anjos. O seu corpo não tinha nenhum peso e era feito de luz sem nenhu-
ma sombra. E com as mãos postas os anjos rezavam ajoelhados no ar. Era
assim, à luz dos anjos, o Natal do Manuel.
- Ah - disse Joana - aqui é como no presépio.
E então Joana ajoelhou-se e poisou no chão os seus presentes.

Noite da Natal,
Sophia de Mello Breyner Andresen
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Uma Aventura nas Férias de Natal,

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Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada
(sinopse)

A quinta onde o grupo passa férias de Natal fica no alto


da Serra, num sítio muito isolado mas cheio de encantos
e famoso devido às lendas relacionadas com tesouros
escondidos.
Logo no primeiro dia, quando saltam animadamente em
cima de colchões velhos que alguém guardou no celeiro,
encontram um papel com sinais esquisitos. Pensando
tratar-se de um mapa de tesouro resolveram seguir as
pistas. Isso obriga-os a decifrar outros enigmas, a fazer
perigosas escaladas e a vasculhar nas ruínas de uma
aldeia abandonada. E a enfrentar chuva, vento, caminhos
de lama, trovoadas súbitas, uma misteriosa cobra em
pedra. Mas pior que tudo é a quadrilha que os persegue,
disposta a cometer qualquer crime para lhes roubar o
mapa do tesouro.

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