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JOÃO ARTUR ANDION MELO

ACESSO À JUSTIÇA NOS JUIZADOS ESPECIAIS: ANÁLISE DO


PARÁGRAFO 1º DO ART 7º DA LEI 6816/2007

RESUMO

A presente pesquisa trata a respeito do “Acesso à Justiça nos Juizados


Especiais: análise do parágrafo 1º do art. 7º da Lei 6816/2007”, baseado na
abordagem acerca do que prevê o art. 5º, § 1º, XXXV da Constituição Federal
vigente que foi regulamentado com edição da Lei 9099/95 dispondo sobre os
Juizados Especiais Cíveis e Criminais diante do que prevê o parágrafo 1º do
art. 7º da Lei Estadual 6.816/2007. Justifica-se pelo direito ao acesso à justiça
estar consagrado no art. 5º, § 1º, XXXV da Constituição Federal vigente,
proporcionando de forma ampla e irrestrita que qualquer cidadão possa ter o
direito de recorrer à Justiça quando tiver seus direitos coibidos ou usurpados.
E, ainda, em virtude das prescrições previstas na Lei 9099/95 que dispões
sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais, visando além de desafogar o
Poder Judiciário e dar plenitude ao acesso à Justiça, proporcionar, então, o
acesso de todos, prevendo no caput do art. 54 da citada lei a isenção de
custas, taxas ou despesas para todos aqueles que buscam o acesso ao Juizado
Especial, em primeiro grau de jurisdição. Objetiva analisar a
constitucionalidade ou não do parágrafo 1º do art. 7º da Lei 6816/2007 diante
do direito ao acesso à justiça nos Juizados Especiais, investigando acerca dos
princípios norteadores e fundamentais do acesso à Justiça, as atribuições e
competências dos Juizados Especiais, análise do caput do art. 54 da Lei
9099/95 diante da edição da Lei 6816/2007 e análise do parágrafo 1º do art. 7º
da Lei 6816/2007.

Palavras-chaves: Acesso à Justiça. Juizados Especiais. Lei Estadual.


2

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 6

CAPÍTULO I – ACESSO À JUSTIÇA


1.1. O acesso à justiça: fundamentação conceitual 8
1.2. A legislação e barreiras de acesso à Justiça 11

CAPÍTULO II – JUIZADOS ESPECIAIS


2.1. Abordagem conceitual e histórica 16
2.2. Base legal 17
2.3. Princípios norteadores 21

CAPÍTULO III – PREVISÕES DA LEI ESTADUAL 6816/2007


3.1. A lei 6816/2007 26
3.2. Debate e discussões 27

CONCLUSÃO 32

REFERENCIAS 34
3

INTRODUÇÃO

O presente trabalho de pesquisa se inscreve sobre a temática “ Acesso


à Justiça nos Juizados Especiais: análise do parágrafo 1º do art. 7º da Lei
6816/2007”. Tal estudo se baseia na consagração do acesso à justiça previsto
no inciso XXXV, § 1º, do art. 5º da Constituição Federal vigente que foi
regulamentado com edição da Lei 9099/95 dispondo sobre os Juizados
Especiais Cíveis e Criminais, visando desafogar o Poder Judiciário e dar
plenitude ao acesso à Justiça. Na referida lei, notadamente no caput do art. 54
da Lei nº 9.099/95, é encontrado que é isenta de custas, taxas ou despesas
todos aqueles que buscam o acesso ao Juizado Especial, em primeiro grau de
jurisdição. No entanto, ocorreu a edição da Lei 6.816/2007, prevendo em seu
parágrafo 1º do art 7º que:
(...) O valor do depósito recursal será de 100% (cem por
cento) do valor da condenação, observado o limite de 40
(quarenta) vezes o valor do salário mínimo, e deverá ser
efetuado e no prazo dispostos no parágrafo 1º, do art. 42, da
Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995.

Tal parágrafo do citado diploma legal suscita discussão sendo assim,


portanto, carente de uma análise acerca os propósitos constitucionais
regedores do acesso à justiça e as determinações principiológicas e regedoras
dos Juizados Especiais, no sentido de se observar pela sua constitucionalidade
ou não, bem como observar sua inserção nos óbices que inibem o acesso à
4

justiça. E, neste sentido, o presente estudo pretende abordar de que forma o


parágrafo da citada lei acima se contrapõe à legislação federal, coibindo o
acesso à Justiça e ferindo os ditames propostos para a atuação dos Juizados
Especiais.
Há de se analisar ainda a exigência contida no parágrafo 1º do art 7º,
da Lei 6.816/2007, no que pertine às exigências de deposito recursal.
Assim sendo, objetiva analisar a constitucionalidade ou não do
parágrafo 1º do art. 7º da Lei 6816/2007 diante do direito ao acesso à justiça
nos Juizados Especiais, investigando acerca dos princípios norteadores e
fundamentais do acesso à Justiça, as atribuições e competências dos Juizados
Especiais.
Metodologicamente o presente estudo será desenvolvido por meio de
uma pesquisa descritiva bibliográfica a partir de material já elaborado,
constituído principalmente de livros, doutrina, jurisprudência, livros,
publicações, sites da Internet e artigos científicos disponíveis. Tal condução
proporcionará uma revisão literária na abordagem e análise da temática
proposta. Com isso, o presente estudo procura analisar a edição da Lei
6.816/2007, notadamente o parágrafo 1º do art. 7º mediante o direito ao
acesso à Justiça e às determinações cabíveis e previstas para os Juizados
Especiais.
Para tanto, no primeiro capítulo está abordada a questão da
fundamentação conceitual acerca do acesso à justiça e as barreiras a ela
impostas.
No segundo capítulo é tratado acerca dos Juizados Especiais
efetuando uma abordagem conceitual e histórica, sua base legal e princípios
norteadores.
Por fim, no terceiro capítulo é abordada analiticamente a questão
atinente ao parágrafo 1º do art. 7º da Lei Estadual 6816/2007 com
apresentação dos debates e discussões.
5

CAPÍTULO I

ACESSO À JUSTIÇA

1.1. O acesso à justiça: fundamentação conceitual

O acesso à justiça, tendo por base as expressões utilizadas por Hugo


Nigro Mazzili 1 , João Batista Damasceno 2 , Mario Capelletti 3 , Maria Helena
Carvalho 4 e Horácio Rodrigues 5 , está previsto no inciso XXXV, § 1º, do art.
5º, que trata dos direitos e garantias individuais e coletivos, estabelecendo
que "(...) a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou
ameaça a direito".
No entanto, conforme Mario Capelletti 6 , a expressão "acesso à justiça"
é indubitavelmente reconhecida como de difícil definição, mas que, por outro
lado tem a serventia de determinar as finalidades mais expressivas e básicas

1
MAZZILLI, Hugo Nigro. O acesso à justiça e o Ministério Público. São Paulo: Saraiva, 1998.
2
DAMASCENO, João Batista. Acesso á justiça, gratuidade e essencialidade da prestação jurisdicional. Rio de
Janeiro: UCM/UERJ, 2004.
3
CAPPELLETTI, M. Acesso à justiça. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 1988.
4
CARVALHO, Maria Helena Campos de. Acesso à justiça. In:.Sociologia Geral e do Direito. Campinas: Alínea,
2004. Cap. 9, p. 167-178.
5
RODRIGUES, Horácio Wanderley. Acesso à justiça no direito processual brasileiro. São Paulo: Primeira
Edição, 1994.
6
Op, Cit., p. 31.
6

de todo sistema jurídico, identificadas nas promessas do Estado em permitir a


reivindicação das pessoas de seus direitos e estes sejam resolvidos por ele.
Assim, fica, inicialmente, entendido que o sistema explicitado
anteriormente deve expressar toda a plenitude de acessibilidade a todos e que;
segundo o que está prescrito constitucionalmente, deve efetivamente produzir
resultados que contemplem a todos os brasileiros de forma individual e
socialmente justos.
O que, segundo Cândido Dinamarco 7 e Galeno Lacerda 8 , provavelmente,
o primeiro reconhecimento explícito do dever de o Estado assegurar igual
acesso à Justiça veio com o Código Austríaco de 1895 que conferiu ao Juiz
um papel ativo para equiparar as partes.
Há que se considerar que, conforme observado por Paulo Henrique
Lucon 9 , desde épocas anteriores e até mesmo recentemente, ressalvadas as
exceções, a realidade jurídica brasileira se manteve indiferente, ou seja, a
falta de disponibilidade para arcar com os custos da Justiça já apresentavam
problemas, muito embora não eram então tão percebidos.
Neste sentido reforçava Mario Cappelletti 1 0 que: "Os estudiosos de
direito, como o próprio sistema judiciário, encontravam-se afastados das
preocupações reais da maioria da população". E no Brasil, conforme anotado
por Agapito Machado 11 e Calmon Passos 1 2 , com a evolução para o Estado
Democrático de Direito, foi garantido na Constituição Federal os princípios
como: a liberdade, a justiça, a participação e a garantia de uma sociedade
pluralista. O fato é que estabelecer tais direitos apenas de maneira formal não
caracteriza uma sociedade justa, igual e com total liberdade.
Em virtude disso, é exatamente na Carta Magna vigente que surge a
garantia da gratuidade do acesso á justiça que tornou a ser percebida como

7
D IN AM AR C O, C ândi do R angel . P ri ncí pi os e cri t éri os no pro ces s o das pequenas c aus as .
S ão P aul o: R evi s t a dos Tri bunai s , 1985.
8
LACERDA, Galeno. Dos juizados de pequenas causas. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, Porto Alegre,
1983.
9
LU C ON, P aul o Henri que dos S ant os . J uiz ados Es peci ai s Cí vei s , as pe ct os pol êm i cos .
R evi st a de P roces s o. S ão P aul o. V. 23, nº90. Abr./ j un. 1998
10
Op. Cit., p. 132.
11
MACHADO, Agapito. A nova reforma do Poder Judiciário: EC nº 45/04. Jus Navigandi, Teresina, a. 9, n. 600,
28 fev. 2005. Disponível em http://jus2.uol.com.br . Acesso em: 24 out. 2007.
12
PASS OS , J . J . C alm on. A cri s e do P oder J udi ci ári o e as refo rm as i ns t rum ent ai s : avan ços
e ret roc es s os . in R evi st a Di ál o go J urí di co, S al vado r, C AJ - C ent ro de At ual iz a ção J urí di ca,
nº. 04, j ul ho, 2001
7

uma garantia constitucional, quando dispõe no artigo 5º inciso LXXIV que " o
Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem
insuficiência de recursos". Dispõe ainda de forma complementar, em seu
artigo 134 que "a Defensoria Pública é instituição essencial à função
jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a orientação jurídica e a defesa, em
todos os graus, dos necessitados, na forma do art.5º, LXXIV”.
Tal previsão assume assim, conforme menciona José de Albuquerque
Rocha 1 3 e Nildomar Soares 1 4 , a gratuidade a forma de garantia constitucional
estando prevista entre os direitos individuais do cidadão.
Na evolução conceitual no que se relaciona ao aspecto de acesso à
justiça, Boaventura Santos 1 5 observa que o acesso à justiça é " aquele que
mais diretamente equaciona as relações entre o processo civil e a justiça
social, entre igualdade jurídico-formal e desigualdade sócio-econômica".
Para Boaventura de Souza Santos 1 6 , existem alguns obstáculos que
influenciam na obtenção de resultados das investigações processuais,
obstáculos esses de natureza econômica, social e cultural. Isto quer dizer que
nos estudos do autor, este assinalou que a justiça civil possui altos preços que
pesam nas possibilidades financeiras dos cidadãos em geral, revelando que ela
é proporcionalmente mais pesada no bolso dos cidadãos economicamente mais
desfavorecidos. Enfatiza o autor que estes cidadãos desfavorecidos são
fundamentalmente os protagonistas e os interessados nas ações de menor valor
e são nessas ações que a justiça é proporcionalmente mais cara, o que
configura um fenômeno da dupla vitimização das classes populares face à
administração da justiça.
Continua suas observações Boaventura Souza Santos 1 7 , que a
vitimização do cidadão menos favorecido economicamente é tripla na medida
em que um dos outros obstáculos investigados, a exemplo da lentidão dos
processos, pode ser facilmente convertido num custo econômico adicional e
este é proporcionalmente mais gravoso para os cidadãos de menores recursos.

13
ROCHA, José de Albuquerque. Estudos sobre o Poder Judiciário. São Paulo: Malheiros, 1995., p. 87.
14
SOARES, Nildomar da Silveira. Juizados Especiais: a Justiça da Era Moderna agoniza. Teresina, Jus
Navigandi a. 4, n. 39, fev. 2000. Disponível em: http://www1.jus.com.br/ Acesso em: 01 abril. 2008.
15
S ANTOS , B oavent u ra de Souz a. P el a m ão de Ali c e: O s oci al e o polí t i co no paí s . S ão
P aul o: C art ez , 1996, p. 167.
16
Op. Cit., p. 167.
17
Op. Cit. p. 168.
8

Conforme seu entendimento, devido essas dificuldades de natureza


econômicas, social e cultural, cria-se uma falta de credibilidade,
principalmente por parte dos menos afortunados no que tange a idoneidade
dos magistrados.
Já segundo Maria Helena Campos de Carvalho 1 8 , o conceito de acesso à
Justiça sofreu uma mudança equivalente no estudo e ensino do processo civil.
Para a autora mencionada, a teoria era de que, embora o acesso à justiça
pudesse ser um "direito natural", os direitos naturais não necessitavam de uma
ação do Estado para sua proteção, isto porque esses direitos eram
considerados anteriores ao Estado e sua preservação exigia apenas que o
Estado não permitisse que eles fossem infringidos por outros.
Neste sentido, a autora em questão menciona que o Estado, portanto,
permanecia visualmente passivo com relação a problemas tais como o
detectado pela aptidão de uma pessoa para reconhecer seus direitos e defendê-
los adequadamente, na prática. Com isso, a autora observa que o direito ao
acesso efetivo mencionado, tem sido lenta e progressivamente reconhecido
dentro de um contexto que se revela de importância capital e inserido entre os
novos direitos individuais e sociais, uma vez que fora constatado sua inserção
na titularidade de direitos destituída de sentido, na ausência de mecanismos
para sua efetiva reivindicação.
Ainda observa Maria Helena Campos de Carvalho 1 9 , que o acesso à
justiça pode, portanto, ser entendido como um requisito fundamental, ou
melhor dizendo, dentre os direitos humanos ele é o mais básico por ser
incluído num sistema jurídico que se entenda como moderno e igualitário na
pretensão de garantir, e não apenas proclamar os direitos de todos.
Mediante tal exposição, passa-se a efetuar um aprofundamento analítico
acerca dos óbices do acesso à justiça.

1.2. A legislação e as barreiras de acesso à justiça

18
Op. Cit., p. 171.
19
Op. Cit., p. 173.
9

A efetividade do acesso á Justiça não é tarefa fácil e, conforme


mencionam Maria Helena Campos de Carvalho 2 0 , Horácio Rodrigues 2 1 e João
Batista Damasceno 2 2 , as diferenças entre as partes e os problemas do sistema
Judiciário não podem jamais ser completamente erradicadas.
Diante disto, nada mais certo do que iniciar a identificação dos
obstáculos que dificultam a tão esperada efetividade do acesso ao Judiciário.
É o que faz Ana Lucia Sabadell 2 3 ao elencar outras entre as principais
barreiras de acesso ao judiciário, identificando-as como barreiras econômicas,
sociais, pessoais, jurídicas, dentre outras. Para ela, as barreiras econômicas
estão evidenciadas pelos altos custos do processo que intimidam as partes e
que muitas vezes desistem de solicitar a proteção judiciária porque não podem
pagar as despesas ou porque não é satisfatória a relação entre o custo do
processo e o beneficio esperado.
No que concerne às barreiras sociais, a autora esclarece que estas se
expressam por desconfiarem do sistema de justiça, os eventuais litigantes
desistem do processo. A falta de confiança é devida a experiências anteriores
dos interessadas ou a relatos de outras pessoas. Uma outra barreira social
consiste no medo de romper relações sociais e sofrer represálias, quando se
inicia um processo contra amigos, vizinhos, empregadores ou pessoas
poderosas.
No que concerne às barreiras pessoais, estão assinalados pela autora, a
falta de informações sobre direito de proteção judicial e, principalmente,
sobre possibilidades de assistência gratuita. Isso impedem pessoas oriundas
de classes desfavorecidas de exercerem seus direitos. Além disso, a
inferioridade cultural dificulta a comunicação com os advogados e os juízes,
criando ulteriores desvantagens.
Por fim, inscrevendo as barreiras jurídicas, a autora observa que trata-
se de obstáculos relacionadas com as regras de organização do processo e de
funcionamento dos tribunais: excessiva duração do processo e incerteza em
relação ao resultado; distância geográfica dos tribunais; número limitado de
juízes, promotores, e procuradores; incompetência profissional e psicológica

20
Op. Cit., p. 173.
21
Op. Cit., p. 111.
22
Op. Cit., p. 91.
23
SABADELL, Ana Lucia. Manual de Sociologia Jurídica.São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p. 202.
10

de advogados. Uma ulterior barreira jurídica constitui a falta de meios


processuais adequados para determinados tipos de conflitos. Exemplo: a
mulher que é vitima de violência doméstica não deseja, na maioria dos casos,
a punição do companheiro, mas sim solucionar o problema das agressões.
Vê-se, pois, que há o desejo e o anseio dos profissionais do Direito, dos
requerentes e de toda população brasileira de que se encontre na instituição da
Justiça uma infra-estrutura adequada para que esta possa atender aos anseios e
requerimentos do cidadão. Deseja-se que seja renovada em sua infra-estrutura,
que esteja totalmente informatizada com equipamentos de ultima geração e em
quantidade suficiente para atender a demanda.
Pelo que se pôde apreender, é constatada de forma indubitável que a
questão financeira é um dos principais óbices por causa das desigualdades
sociais uma maioria esmagadora de pessoas no Brasil que não tem recursos
suficientes para um pleito judicial.
Inclusive é ressaltado por Hugo Nigro Mazzili 2 4 a burocracia também é
uma das responsáveis pela morosidade processual. E na ótica de João Batista
Damasceno 2 5 também é inegável que a pobreza é um dos maiores obstáculos
do acesso ao Direito e atinge cerca de um terço da população brasileira. E,
por outro lado, neste sentido, Horácio Rodrigues 2 6 chama atenção para a
responsabilidade civil do Estado, resultante da demora na prestação
jurisdicional.
Sob este aspecto apresentado fica o entendimento de que o serviço
oferecido pelo Poder Judiciário consiste no oferecimento de um serviço
público ao cidadão e realizado pelo Estado, quando este deve zelar pela
qualidade dos serviços e grau de perfeição no contexto de sua organização e
funcionamento, respondendo todos os envolvidos pela execução destes
serviços e pelos danos que venham ocorrer.
Já no que tange às despesas processuais, conforme João Batista
Damasceno 2 7 , pode-se observar que são bastante dispendiosas na maior parte
das sociedades modernas. A própria sucumbência ou o valor dos honorários
advocatícios pode por vezes onerar o custo das partes.

24
Op. Cit., p. 132..
25
Op. Cit., p. 91.
26
Op. Cit., p. 55.
27
Op. Cit., p. 91.
11

Por isso, conforme Hugo Nigro Mazzili 2 8 , ao se observar que


anteriormente a promulgação das leis que versam sobre causas de menor valor
monetário e complexidade, havia barreiras no caminho de quem solicitava a
Justiça para a solução de tais tipos de lides.
No ver de Gláucio Gonçalves 2 9 , as causas que envolviam somas
relativamente de menor valor eram as mais prejudicadas pela barreira dos
custos, o que para o autor mencionado, dentro dos moldes judiciais formais,
tais custos poderiam exceder o montante da controvérsia de uma tal maneira
que o próprio objeto da demanda poderia transformar-se em uma futilidade.
Outra questão abordada por Maria Helena Carvalho 3 0 é a demora na
solução de um litígio que é também empecilho. Para Hugo Nigro Mazzili 3 1 o
alongamento temporal, além de prejudicial o próprio sistema, pode produzir
efeitos bastante devastadores para as partes, tendo em vista a inflação. E
mesmo que haja a efetividade no sentido de igualdade processual das partes, o
tempo tende a onerar o elo mais fraco do litígio, que em virtude da
hipossuficiência pode vir a não suportar com a demora e abandonar suas
pretensões ou até mesmo aceitar acordos injustos e prejudiciais mais que
encurtem o prazo processual.
A partir do que observa Maria Helena Carvalho 3 2 , os obstáculos no
acesso á Justiça, no âmbito pessoal, vislumbram também dificuldades em
reconhecer a existência de um direito juridicamente exigível. Para ela em
questões que envolvem interesses de membros da população podem ocorrer
determinadas situações, diante das quais, um direito pode vir a ser infringido,
porém pode passar desapercebido, visto que, por vezes, falta o conhecimento
jurídico básico. Este próprio desconhecimento, ou melhor, esta limitação,
conforme João Batista Damasceno 3 3 , enseja na sujeição a um cotidiano que
pode não se apresentar como justo. E há que se observar que não é só a
"ignorância" que afasta os cidadãos da Justiça, a própria estrutura desta é que
impõe barreiras ao acesso; procedimentos complicados, formalismo,

28
Op. Cit., p. 101.
29
GONÇALVES, Gláucio Ferreira Maciel. Direito à tutela jurisdicional. Revista de informação legislativa,
volume 33, n.°129, 1996.
30
Op. Cit, p. 169.
31
Op. Cit., p. 101.
32
Op. Cit, p. 169.
33
Op. Cit., p. 91.
12

ambientes que intimidam, como o dos tribunais; juizes e advogados, fazem


com que o litigante sinta-se inerte , um prisioneiro em um mundo estranho.
Uma outra barreira, conforme anotado por Gláucio Gonçalves 3 4 está
relacionada diretamente à reunião de interesses, quando as várias partes
interessadas sem desejo de negociações, mesmo quando possível à
organização e a demanda, podem estar dispersas por invocarem seus interesses
sem acordo prévio nem futuro, carecendo da necessária informação ou
simplesmente tornando-se incapazes em estabelecer uma estratégia comum de
solução para o caso.
Verifica-se com o exposto que o acesso à justiça é um direito de todo e
qualquer cidadão brasileiro e que este deve ser pleno, mesmo reconhecendo
uma série de óbices que obstaculizam a sua efetividade.

34
Op. Cit., p. 130.
13

CAPÍTULO II

JUIZADOS ESPECIAIS

2.1. Abordagem conceitual e histórica

Roberto Bacellar 3 5 , Marcos Jorge Catalan 3 6 , Luiz Andréa Gaspar 3 7 ,


Galeno Lacerda 3 8 , Antonio Pessoa Cardoso 3 9 , Ronaldo Frigni 4 0 , Felipe Barros
Rocha 4 1 , Paulo Henrique Lucon 4 2 e Nildomar Soares 4 3 entendem que a origem
dos Juizados Especiais remonta a idéia de uma justiça especializada, para
lidar com causas de pequeno valor financeiro, que teve seu surgimento na
Inglaterra no longínquo século XI.
No entanto, conforme Antonio Pessoa Cardoso 4 4 , o seu aparecimento
se dá na verdade em 1873, quando a lei austríaca acolhe o sistema. Em

35
BACELLAR, Roberto Portugal. Juizados Especiais: A nova mediação paraprocessual. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2003.
36
CATALAN, Marcos Jorge. O procedimento do juizado especial cível. São Paulo: Mundo Jurídico, 2003.
37
GASPAR, Luiza Andréa. Juizados Especiais Cíveis. São Paulo: Iglu, 1998.
38
LACERDA, Galeno. Dos juizados de pequenas causas. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, Porto
Alegre, 1983.
39
CARDOSO, Antônio Pessoa. A justiça alternativa: juizados especiais. Belo Horizonte: Ciência Jurídica, 1996.
40
FRIGINI, Ronaldo. Comentários a lei de pequenas causas. São Paulo: Editora de Direto, 1995.
41
ROCHA, Felippe Borring. Juizados Especiais Cíveis: Aspectos Polêmicos da Lei nº 9.099, de 26.9.1995. Rio
de Janeiro: Lumen Juris, 2003.
42
LU C ON, P aul o Henri que dos S ant os . J ui z ados Es peci ai s C í vei s , as pe ct os pol êm i cos .
R evi st a de P roces s o. S ão P aul o. V. 23, nº90. Abr./ j un. 1998
43
SOARES, Nildomar da Silveira. Juizados Especiais: a Justiça da Era Moderna agoniza. Teresina, Jus
Navigandi a. 4, n. 39, fev. 2000. Disponível em: http://www1.jus.com.br/ Acesso em: 01 abril. 2007.
44
Op. Cit., p. 31.
14

seguida, segundo esse autor, em 1912, nos Estados Unidos, é criado a Poor
Man’s Court, sendo criado vinte e dois anos depois, em 1934, a Small Claims
Courts, em Nova Iorque, destinada a julgar causas com valores financeiros
ínfimos.
Foi exatamente a partir da inspiração dessas experiências
internacionais, com base nas informações recolhidas dos autores
mencionados, que os Juizados Especiais brasileiros surgiram inicialmente com
a nomenclatura de Juizados Especiais de Pequenas Causas e, posteriormente,
passaram a ser denominados Juizados Especiais Cíveis e Criminais.
A sua base conceitual está assentada num tipo de juízo com
procedimentos simples e objetivos que possibilitem acordos negociados de
valores que sejam mensurados como pequenos, com uma estrutura sem
complexidade e que tenha a informalidade no desenvolvimento de suas
atividades.
Tais procedimentos simples num juizado dotado de informalidade
possibilitam a execução de atendimentos rápidos com audiências eficazes,
desnecessária apresentação de advogado, dentre outras medidas eficientes
para gerar celeridade, tudo possibilitando custos menores para a realização da
Justiça.

2.2. Base legal

No Brasil, conforme Roberto Bacellar 4 5 , a idéia de Juizados Eséciais


nasce com os Conselhos de Conciliação e Arbitramento, no Rio Grande do
Sul, criado pela Associação de Juízes do Rio Grande do Sul – AJURIS,
conselhos esses que procuravam resolver problemas de pequena importância
visando um acordo entre as partes. Mas, segundo o autor, com a edição da Lei
n° 7.244/84, denominada Lei de Pequenas Causas, é que se dá o início
propriamente dito de um procedimento especial, mais célere e informal, para
as causas de valor até vinte salários mínimos, tendo sempre a conciliação
como meta principal.

45
Op. Cit., p. 56.
15

Os Juizados Especiais de Pequenas Causas, conforme Ronaldo


Frigni 4 6 , foram criados por força da aprovação da Lei n° 7.244/84, que
objetivava buscar a celeridade processual, bem como facilitar o acesso à
justiça eliminando os entraves que faziam com que a população julgasse
errônea e equivocadamente o Poder Judiciário.
No entendimento de Galeno Lacerda 4 7 , os Juizados de Pequenas
Causas seriam uma espécie de Justiça do futuro, acessível a todos, sem as
formalidades e complicações que embaraçam a justiça comum e o mais
importante de tudo, seria célere, gratuita e isenta de ônus econômicos, porque
a Justiça é um serviço público essencial, tal como a educação, a segurança e a
saúde, não podendo ser negada aos que dela necessitam, principalmente as
pessoas de baixa renda.
Na ótica de José Afonso Silva 4 8 :
A implantação destes juizados veio como imperativo de
sobrevivência do Poder Judiciário, visto o crescente descrédito
na Justiça, fato que era gerado pelo excessivo número de
feitos que avolumavam as Varas Judiciais, muitos das quais
envolvendo valores considerados pela sociedade como de
pouca expressão.

Desta forma, conforme o autor mencionado, os fins que inspiraram à


instituição dos Juizados Especiais de Pequenas Causas foram: permitir o fácil
acesso à Justiça dos interessados em causas de pequeno valor; a absorção de
uma área de conflitos sociais até então não alcançada pela jurisdição comum;
permitir para tais causas, o acesso de interesses humildes. Resumindo, seria à
justiça dos litigantes carentes.
Com a promulgação da Constituição Federal vigente, em 1988, ficou
estabelecido por força artigos 24, X e 98, I, impondo à União, aos Estados e
ao Distrito Federal a criação de juizados de pequenas causas:
Art. 24 – Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal
legislar concorrentemente sobre: (...) X – criação,
funcionamento e processo do juizado de pequenas causas.
(...)
Art. 98 – A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os
Estados criarão: I – juizados especiais, providos por juízes
togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliação,
46
Op. Cit., p. 74.
47
Op. Cit, p. 31.
48
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. São Paulo: Malheiros, 2004, p. 411.
16

o julgamento e a execução de causas cíveis de menor


complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo,
mediante os procedimentos oral e sumariíssimo, permitidos,
nas hipóteses previstas em lei, a transação e o julgamento de
recursos por turmas de juízes de primeiro grau.

A partir desta determinação, Rui Alvim 4 9 entende que os arts. 24, X,


e 98, I, ambos da Constituição Federal de 1988, indicam duas realidades
distintas, considerando que através do art. 24, X, citado, verifica-se que o
legislador constitucional assumiu a existência dos Juizados de Pequenas
Causas. Já tendo em vista o disposto no art. 98, I, citado constata-se que,
nesta hipótese, refere-se o texto a causas cíveis de menor complexidade.
Assim, a partir dessa nova ordem constitucional, é publicada a Lei
n° 9.099, de 27/09/1995, instituindo os Juizados Especiais Cíveis e Criminais.
A partir de então estava regulamentada toda determinação constitucional
estatuída no artigo 98, inciso I da CF/88, instituindo, portanto, nova
sistemática aplicação da justiça, criando, assim, órgãos próprios e
independentes da Justiça Comum, tendo à disposição um procedimento
próprio e específico para estabelecer um rol de princípios informativos
norteadores do processo perante o Juizado. Tal diploma legal visa, dentre
outros objetivos, busca esforços no sentido de minimizar ao máximo a
morosidade do Poder Judiciário, buscando a celeridade desejada. Por esta
razão, foram criados na Justiça Estadual, em 1995, os Juizados Especiais
Cíveis e Criminais, os quais são regidos pela Lei n° 9.099/95, visando o
desafogamento e celeridade no Judiciário. Por força desta lei, os Juizados
Especiais são competentes para decidir causas que atinjam determinado valor
ou em razão da matéria, aquelas tidas como de menor complexidade ou poder
ofensivo no âmbito criminal.
Mediante isso, observa-se que o objetivo no Juizado Especial Cível é
a conciliação ou transação, buscando-se sempre um acordo ou o
consentimento das partes. Sempre foi seu ideal, também, conseguir abreviar o
lapso temporal entre o fato e a prestação jurisdicional sancionatória, que
afasta a desconfortável sensação de impunidade.
49
ALVIM, Rui Carlos Machado. As despesas das diligências dos oficiais de justiça nas execuções fiscais da
Fazenda Pública do Estado de São Paulo: A súmula n. 190, do Superior Tribunal de Justiça, e a atual posição do
Tribunal de Justiça de São Paulo. In: Revista da Procuradoria Geral do Estado de São Paulo. N. 55/56. São
Paulo: PGESP, jan./dez. 2001. p. 355-402.
17

É a lei 9099/95 que veio regulamentar dispondo sobre os Juizados


Especiais Cíveis e Criminais, explicitando nas disposições gerais, logo em seu
art. 1º:
Art. 1º. Os Juizados Especiais Cíveis e Criminais, órgãos da
Justiça Ordinária, serão criados pela União, no Distrito Federal
e nos Territórios, e pelos Estados, para conciliação, processo,
julgamento e execução, nas causas de sua competência.

Conforme visto no artigo acima, tais juizados são regidos por


princípios orientadores que se encontram estabelecidos no art. 2º da Lei nº
9.099/95.
Já o artigo 2º da lei supracitada, estabelece que: “ Art. 2º. O processo
orientar-se-á pelos critérios da oralidade, simplicidade, informalidade,
economia processual e celeridade, buscando, sempre que possível, a
conciliação ou a transação”.
A competência dos juizados especiais se expressa no art. 3º da Lei
9099/95, que estabeleceu, no caso dos juizados especiais cíveis:
Art. 3º. O Juizado Especial Cível tem competência para
conciliação, processo e julgamento das causas cíveis de
menor complexidade, assim consideradas: I - as causas cujo
valor não exceda a quarenta vezes o salário mínimo; II - as
enumeradas no art. 275, inciso II, do Código de Processo
Civl; III - a ação de despejo para uso próprio; IV - as ações
possessórias sobre bens imóveis de valor não excedente ao
fixado no inciso I deste artigo. § 1º. Compete ao Juizado
Especial promover a execução: I - dos seus julgados; II -
dos títulos executivos extrajudiciais, no valor de até
quarenta vezes o salário mínimo, observado o disposto no §
1º do art. 8º desta Lei. § 2º. Ficam excluídas da
competência do Juizado Especial as causas de natureza
alimentar, falimentar, fiscal e de interesse da Fazenda
Pública, e também as relativas a acidentes de trabalho, a
resíduos e ao estado e capacidade das pessoas, ainda que de
cunho patrimonial. § 3º. A opção pelo procedimento
previsto nesta Lei importará em renúncia ao crédito
excedente ao limite estabelecido neste artigo, excetuada a
hipótese de conciliação. Art. 4º. É competente, para as
causas previstas nesta Lei, o Juizado do foro: I - do
domicílio do réu ou, a critério do autor, do local onde
aquele exerça atividades profissionais ou econômicas ou
mantenha estabelecimento, filial, agência, sucursal ou
escritório; II - do lugar onde a obrigação deve ser
satisfeita; III - do domicílio do autor ou do local do ato ou
fato, nas ações para reparação de dano de qualquer
18

natureza. Parágrafo único. Em qualquer hipótese, poderá a


ação ser proposta no foro previsto no inciso I deste artigo.

No caput do art. 54 da Lei nº9.099/95, isenta de custas, taxas ou


despesas, aqueles que buscam o acesso ao Juizado Especial, em primeiro grau
de jurisdição: "Art. 54 – O acesso ao Juizado Especial independerá, em
primeiro grau de jurisdição, do pagamento de custas, taxas ou despesas " E
além de isentar de custas, o procedimento sumaríssimo desonera a parte
vencida, no que tange ao pagamento de honorários de sucumbência, em
primeiro grau de jurisdição, conforme artigo 55, da Lei n° 9.099/95:
Art. 55 - A sentença de primeiro grau não condenará o vencido
em custas e honorários de advogado, ressalvados os casos de
litigância de má-fé. Em segundo grau, o recorrente, vencido,
pagará as custas e honorários de advogado, que serão fixados
entre dez por cento e vinte por cento do valor de condenação
ou, não havendo condenação, do valor corrigido da causa.

Tal determinação evidencia que a lei em referência procura


estabelecer os critérios para a admissibilidade simples e acessível a toda
população. Por conta disso, passa-se para os princípios norteadores dos
Juizados Especiais.

2.3. Principio norteadores

Neste tocante, conforme Roberto Bacellar 5 0 , dentre os vários


princípios que regem a Lei 9.099/95, assim como aqueles que regem o Código
de Processo Civil, o devido processo legal é aquele basilar, que oferece
sustento aos demais.
Para José Afonso Silva 5 1 , tal princípio está assentado na
Constituição Federal vigente, quando, no seu art. 5, LIV, assinala que
“ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo
legal”. E, segundo ele, combinado com o direito de acesso á Justiça, previsto
no art. 5, XXXV, e o contraditório e a plenitude de defesa, previstas no art. 5,
LV, fecha-se o ciclo das garantias processuais, envolvendo, pois, a garantia do

50
BACELLAR, Roberto Portugal. Juizados Especiais: A nova mediação paraprocessual. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2003, p. 132..
51
Op. Cit., p. 430.
19

contraditório, a plenitude do direito de defesa, isonomia processual e a


bilateralidade dos atos procedimentais.
Vê-se fundamentado o princípio do devido processo legal devido sua
previsão legal no artigo 5º, LIV, da Constituição Federal de 1988, que
assegura:
Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade,
nos termos seguintes: (...) LIV - ninguém será privado da
liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal.

Assim sendo, tal princípio basicamente corresponde uma proteção à


liberdade e à propriedade, eis que para haver a restrição em algum destes
direitos, haverá necessariamente de haver o devido processo legal. Assim,
mediante o princípio basilar do processo legal, traz-se à lume os cinco
princípios fundamentais que regem o sistema dos Juizados Especiais Cíveis..
O primeiro princípio pode ser observado como sendo o princípio da
oralidade, princípio este tradicional, mas que, segundo Francisco Wildo
Dantas 5 2 , através dele foi dado um poder as partes de se manifestarem,
podendo, mesmo que de maneira informal expor motivos os quais ensejaram
na lide. É claro que há quem entenda que este princípio possa prejudicar
direitos inerentes às partes pela falta de conhecimento técnico, justificando-se
na falta de capacidade postulatória e cerceamento de defesa, pois, julga-se
que restou ferido o princípio da ampla defesa. Porém, não convém
pormenorizar a divergência, restando-nos a dissecar o referido princípio. E em
conformidade com o autor mencionado, de acordo com o princípio da
oralidade, não existe a obrigatoriedade dos atos serem praticados por escrito
perante o juiz, podendo ser feitos oralmente.
Quanto ao princípio da isonomia, José Afonso Silva 5 3 prescreve que
este princípio não se limita apenas ao enunciado da igualdade perante lei,
mas, mencionando também a igualdade entre homens e mulheres,
acrescentando vedações a distinção de qualquer natureza e qualquer forma de
discriminação.

52
DANTAS, Francisco Wildo. Jurisdição, ação (defesa) e processo. São Paulo: Dialética, 1997, p. 162.
53
Op. Cit., p. 213.
20

O caput, do artigo 5º, da Constituição Federal de 1988, traz a


previsão legal do princípio da isonomia, dizendo:
Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade
(...).

Por esta razão, conforme o mesmo autor, caracteriza-se pela


igualdade das partes. Tal princípio encontra aplicação legal no Código de
Processo Civil, em seu artigo 125, I, onde o juiz deverá assegurar às partes
igualdade de tratamento. Esta igualdade era entendida como uma igualdade
formal, absoluta, porém, não se pode deixar de levar em consideração a
desigualdade econômica das partes, motivo pelo qual, atualmente, prevalece a
igualdade substancial das partes, ou seja, tratamento igual aos iguais e
desigual aos desiguais.
O princípio do Juiz Natural, na observação de Francisco Wildo
Dantas 5 4 , é a de que tal princípio apresenta duplo aspecto, considerando que,
o primeiro, se identifica no princípio da investidura, por considerar-se que
somente é juiz aquele que for regulamente investido de jurisdição e, pelo
segundo, por vedar-se juízo ou tribunal de exceção, como assegurado no art.
5º, XXXVII, da Constituição Federal vigente. Assim sendo, conforme o autor
mencionado, o princípio do juiz natural busca impedir uma possível
arbitrariedade estatal, criando a necessidade da pré-existência de um juiz para
o julgamento de uma causa, assim como proíbe o juízo ou tribunal ad hoc, ou
seja, no ordenamento jurídico brasileiro não existe a figura do tribunal de
exceção, conforme estabelece o artigo 5º, XXVII, da Constituição Federal de
1988. Insere-se ainda no princípio do juiz natural a imparcialidade deste.
Já o princípio da inafastabilidade do controle judiciário, conforme
José Afonso Silva 5 5 , está previsto no art. 5, XXXV, da Constituição Federal,
que declara: “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou
ameaça a direito”, possibilitando, pois, o ingresso em juízo nas leis
processuais, cabendo ao Poder Judiciário o monopólio da jurisdição,
garantindo o direito de invocar a atividade jurisdicional sempre que se tenha
54
Op. Cit., p. 43.
55
Op. Cuit.,p. 430.
21

como lesado ou simplesmente ameaçado um direito, individual ou não, uma


vez que o art. 5, XXXV, consagra o direito de invocar a atividade
jurisdicional, como direito público subjetivo, invocando a jurisdição para a
tutela do direito daquele contra quem se age, contra quem se propõe a ação.
Vê-se, portanto, conforme o autor mencionado, que a
inafastabilidade do controle judiciário é outro importante princípio que se
dirige inicialmente ao legislador, impedindo este de criar normas que visem
restringir ou afastar a apreciação judiciária. Concomitantemente, garante a
todos o acesso à justiça.
Outros princípios que são regedores dos Juizados Especiais são,
segundo Ada Grinover 5 6 , o princípio do contraditório, que indica também a
atuação de uma garantia fundamental de justiça, na qual está absolutamente
inseparável da distribuição da justiça organizada; o princípio da audiência
bilateral, onde o juiz, por força de seu dever de imparcialidade, coloca-se
entre as partes; o princípio da publicidade dos atos processuais, que consagra
o dever administrativo de manter plena transparência em seus
comportamentos, previsto no art. 37, caput, da Lei Magna; o princípio da
motivação das decisões judiciais, para o controle popular sobre o exercício da
função jurisdicional, em vista da garantia das partes à possibilidade de
impugnação para efeito de reforma, com a finalidade de aferir-se em concreto
a imparcialidade do juiz e a legalidade e justiça das decisões; o princípio do
duplo grau de jurisdição, indicando a possibilidade de revisão, por via de
recurso, das causas já julgadas pelo juiz de primeiro grau, que corresponde à
denominada jurisdição inferior, garantindo, assim, um novo julgamento por
parte dos órgãos da jurisdição superior; o princípio da identidade física do
órgão julgador, preconiza-se que o mesmo juiz que instruiu o processo prolate
decisão final; o princípio de imediatidade, indispensável à oralidade que nem
mesmo seria possível conceber um processo oral sem o contato direto e
pessoal do Juiz com as partes; o princípio da concentração dos atos
processuais, para a celeridade do processo, porquanto não deve haver um
lapso temporal muito grande entre a prática de um ato processual e um outro;
o princípio da simplicidade, que ocorre a limitação de causas de teor mais

56
GRINOVER, Ada Pellegrine et all. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor. Rio de Janeiro : Forense
Universitária, 1995, p. 98.
22

complexo; o princípio da informalidade, este assim como os demais, traz


consigo a idéia de derrubar o formalismo dos atos processuais, tornando o
magistrado mais ativo, servindo como apoio à solução de litígios,
aproximando-se de um resultado justo; o princípio da economia processual,
que visa o rendimento máximo a ser obtido da lei com o mínimo de atos
processuais; o princípio da celeridade presente em todos os momentos
possíveis na Lei nº 9.099/95, dentre outros.
Desta forma, evidencia-se que os princípios supramencionados
traçam diretrizes a serem seguidas pelos Estados ao instituírem os Juizados
Especiais, a fim de dar cumprimento ao art. 98, inciso I, da Constituição
Federal.
A partir da abordagem analítica realizada, o presente estudo passa
para o debate acerca da adoção da Lei 6.816/2007 que incide sobre os
Juizados Especiais e, por conseqüência, o acesso à Justiça.
23

CAPÍTULO III

PREVISÕES DA LEI ESTADUAL 6816/2007

3.1. Lei 6816/2007

Em conformidade com o anteriormente exposto no presente trabalho,


encontrou-se a consagração do acesso à justiça previsto no inciso XXXV, § 1º
do art. 5º, da Constituição Federal vigente.
Tendo em vista os diversos problemas do Poder Judiciário brasileiro
há décadas, para atender a previsão constitucional do acesso à justiça foi
efetuada a edição da Lei 9099/95, que dispõe sobre os Juizados Especiais
Cíveis e Criminais, visando desafogar o Poder Judiciário e dar plenitude ao
acesso à Justiça.
No caput do art. 54 da Lei nº 9.099/95, é encontrado que estão
isentas de custas, taxas ou despesas todos aqueles que buscam o acesso ao
Juizado Especial, em primeiro grau de jurisdição, quando tal previsão atende
às exigências democráticas, as previsões constitucionais do princípio de
isonomia, visando facilitar o acesso à Justiça..
No entanto, no Estado de Alagoas, ocorreu no dia 12/07/2007 a
edição da Lei 6.816/2007, prevendo: “A estrutura das turmas recursais, o
processamento de recurso inominado nos Juizados Especiais do Estado de
Alagoas e dá outras providências”.
Na citada Lei 8.216/2007 é encontrado em seu parágrafo 1º do art 7º
que:
Art. 7º - A interposição de recursos inominados cíveis nos
Juizados Especiais do Estado de Alagoas, dependerá do
recolhimento das custas judiciais e do depósito recursal.
Parágrafo 1º - O valor do depósito recursal será de 100% (cem
por cento) do valor da condenação, observado o limite de 40
24

(quarenta) vezes o valor do salário mínimo, e deverá ser


efetuado e no prazo dispostos no parágrafo 1º, do art. 42, da
Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995.

Tal parágrafo do citado diploma legal suscitou discussão acerca de


conflitos de competência constitucional, a exemplo de contrariar princípios
constitucionais regedores do acesso à justiça e das determinações
principiológicas e regedoras dos Juizados Especiais, levando-se a um debate
acerca da sua constitucionalidade ou não.
Observou-se, portanto, que a edição da Lei 6.816/2007, notadamente
na previsão contida no seu parágrafo 1º do art 7º, onde ficou determinado que
o valor do depósito recursal será de 100% do valor da condenação, observado
o limite de 40 (quarenta) vezes o valor do salário mínimo, e deverá ser
efetuado nos prazos dispostos no parágrafo 1º, do art. 42, da Lei nº 9.099, de
26 de setembro de 1995.

3.2. Debates e discussões

Em primeiro lugar, os debates levantaram a questão da sobreposição


da Lei Estadual 6.816/2007 sobre a Lei Federal 9099/95, esta última a Lei dos
Juizados Especiais. O posicionamento a respeito da sobreposição da Lei
Estadual sobre Lei Federal é adotado com o argumento de que a primeira
altera mecanismo referenciado ao recurso já disposto na citada lei federal,
ocasionando a obrigatoriedade de se recolher além das custas processuais
devidas, também o valor correspondente ao valor integral da sentença pela
parte condenada, possibilitando, segundo esta corrente, um conflito com o que
já foi explicitado na Lei Federal e contrariando aos mecanismos executórios
previstos e vigentes na legislação brasileira.
Entre as entidades contrárias a tal condução alagoana, está a Ordem
dos Advogados do Brasil – OAB, seccional do Mato Grosso que tem
protestado contra a iniciativa tomada pelo Conselho de Supervisão dos
Juizados Especiais do Estado do Mato Grosso, que em 2006 editou Resolução
que fixava a cobrança de R$ 20 para diligências de oficiais de justiça no
âmbito dos Juizados Especiais, sempre que a parte não fosse beneficiária da
justiça gratuita. Desta forma a OAB do Estado exigiu judicialmente a não
25

cobrança de taxas em Juizados Especiais, alegando que tal cobrança contraria


o princípio da lei federal criadora dos Juizados que previu a inexistência de
cobrança de custas para as partes.
Esta corrente entende que a Lei Federal, ou seja, Lei 9099/95, no
parágrafo 1º do seu art. 42 estabelece que haja pagamento de preparo para que
o recurso seja admitido e é pacífico o entendimento de que o preparo nada
mais é que o pagamento das despesas processuais, e não faz vinculação deste
ao valor da condenação.
Um outro posicionamento vai mais além da sobreposição da Lei
Estadual sobre a Lei Federal. Desta feita, baseado no art. 22 da CF/88 que
prevê "Art. 22 - Compete privativamente à União legislar sobre: I. direito
civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico,
espacial e do trabalho (...)", há o entendimento de ocorrência de indevida
invasão do legislativo alagoano na competência da União, propondo, com
isso, Ação Direta de Inconstitucionalidade baseada no ar. 102, I, a, da CF/88 e
Lei 9868/99.
A respeito da cobrança de taxas e custas, entende. Mantovanni
Colares Cavalcante 5 7 que não haverá custas para embargos e recursos nos
Juizados Especiais, alegando que: “(...) a parte que interpõe o recurso cível
esta isenta de custas, por ser beneficiária da gratuidade da justiça ou
usuária da assistência judiciária aos necessitados”. No entanto, ele ressalva
que: “(...) Como as custas são matéria de organização judiciária, cabe a cada
Estado elaborar sua tabela, sendo razoável concluir que o valor deve ser
ínfimo, exatamente para não barrar o acesso da população menos favorecida
aos Juizados Especiais a nível de segunda instância (Turmas Recursais)”.
Além disso, o autor ainda ressalta que: “(...) a utilização do Regimento de
Custas nos Juizados Especiais está restrito à hipótese de recurso, já que na
primeira instância não pode haver cobrança de custas, taxas ou despesas”.
Sobre tais entendimentos, Ana Maria Pereira de Oliveira 5 8 esclarece
que os recursos cabíveis e sua disciplina legal, tendo em vista que “(...) a
forma como os recursos contra as decisões dos Juizados Especiais se opera,
teve, assim, suas linhas gerais traçadas na citada norma constitucional, que
57
CAVALCANTE, Mantovani Colares. O preparo do recurso nos Juizados Especiais. Fortaleza: UF, 2005.
58
OLIVEIRA, Ana Maria Pereira. Recursos nos Juizados Especiais Cíveis. Informativo ABAMI, Rio de Janeiro,
julho de 1998.
26

dispôs que seu julgamento caberia a turmas de juizes de 1° grau ”,


entendendo a autora que além desse recurso, que não foi nominado,
provavelmente para evitar comparações com a apelação do Código de
Processo Civil, existe a previsão legal de embargos de declaração prevista no
art.48 da Lei 9099/ 95, que não são tidas, à unanimidade, como recurso,
sendo, para alguns, um incidente de complementação do julgado, o recurso
inominado ficou, portanto, previsto no art. 41 da Lei 9099/95 e que é cabível
contra as sentenças, excetuadas as homologatórias de acordo ou de laudo
arbitral, que são irrecorríveis. Neste caso, atenta a autora mencionada que
além da assistência por advogado, exige-se que o recurso seja regularmente
preparado nas 48 (quarenta e oito) horas seguintes à sua interposição, não
havendo necessidade de internação do Recorrente para que proceda ao
pagamento, incluindo-se as despesas processuais, ressalvada a hipótese de ser
o Recorrente beneficiário da gratuidade de justiça. Entende ela, com isso, que
tais exigências legais de assistência de advogado e pagamento de custas
deixam claro a intenção do legislador em desestimular a interposição de
recursos, e que a isenção de despesas processuais fica restringida ao primeiro
grau de jurisdição. Isto quer dizer, portanto, que, segundo ela, em grau de
recurso o recorrente vencido arcará com as custas e honorários advocatícios,
que serão fixados pela Turma Recursal, de 10% a 20% do valor da condenação
ou do valor corrigido da causa, conforme previsto pelo art. 55 da Lei 9099/95.
As discussões vão se ampliando no debate, tendo, inclusive,
aprofundando o tema, posicionamentos nas discussões acerca da
constitucionalidade da cobrança das custas e taxas judiciais.
Quando Gustavo Sampaio Valverde 5 9 aborda que a
inconstitucionalidade da maioria das custas dos serviços forenses, amparado
ao que preceitua a Constituição Federal, em seu art. 24, inciso IV, ao dispor
que a União, os Estados e Distrito Federal devem legislar concorrentemente
sobre custas dos serviços forenses, inserindo-se, pois, no conceito das normas
de estrutura, na medida em que outorga competência legislativa tributária aos
entes políticos especificados. Salienta ele nos casos das taxas judiciais estas
devem estar submetidas plenamente aos princípios e normas do Sistema

59
VALVERDE, Gustavo Sampaio.A inconstitucionalidade da base de cálculo das custas judiciais. Revista
Dialética de Direito Tributário, n. 47, agosto, 1999, p.33.
27

Tributário Brasileiro, o qual, em razão do seu específico regime jurídico,


estarão sempre sujeitas. Com isso, entende ele, que as custas, taxas e
emolumentos cobrados para ingresso de pleitos judiciais são entendidas na
correspondência à taxa devida pela prestação de certos serviços que emanam
da prática de atos processuais, sendo, porém, que a esta cobrança, traz o
debate acerca de inibição desta de acesso à Justiça.
O argumento de João Batista Damasceno 6 0 é o de que as questões
problemáticas na prestação do serviço judiciário, que ao cobrar por este
serviço, se confronta com o seu art. 5º.LXXIV, da Constituição Federal, que
assegura aos hipossuficientes econômicos a prestação de assistência integral e
gratuita, desde que comprovem insuficiência de recursos. E sobre esta
discussão há que observar as colocações de Nelson Nery Junior 6 1 , que se
posiciona da forma ao se expressar que a garantia constitucional de acesso à
justiça não significa que o processo deva ser gratuito. No entanto, se a taxa
judiciária de modo criar obstáculo ao acesso à justiça, tem-se entendido ser
ela inconstitucional por ofender o princípio aqui estudado. Isto quer dizer,
portanto, da necessidade de um limite de razoabilidade na cobrança da taxa
judiciária.
Também é observado por Miguel Slhessarenko Júnior 6 2 que em vista
“(...) um Judiciário brasileiro: extremamente moroso, com elevadas taxas e
custas processuais e um formalismo exacerbado”, razão esta que contribui
substancialmente para a criação de Juizados Especiais capazes de contemplar
a proteção dos direitos dos cidadãos e que estes Juizados se desligavam da
burocracia judicial e do formalismo processual, garantindo, assim, o acesso à
Justiça. Salienta ele que com o advento da Lei 9099/95, com promulgação da
EC 22/99 e da Lei Federal 10.259/01, tais diplomas legais forneceram eficácia
ao dispositivo constitucional sedimentados nos “(....) princípios basilares do
avanço processual na abertura do amplo, pleno e efetivo acesso à Justiça ”,
notadamente no que ficou disposto no art. 2º da Lei nº 9.099/95, em que: " o
processo orientar-se-á pelos critérios da oralidade, simplicidade,
informalidade, economia processual e celeridade, buscando, sempre que
60
DAMASCENO, João Batista. Acesso á justiça, gratuidade e essencialidade da prestação jurisdicional. Rio de
Janeiro: UCM,UERJ, 2004.
61
NERY JUNIOR, Nelson. Código de Processo Civil comentado e legislação processual civil extravagante em
vigor. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002.
62
SLHESSARENKO JUNIOR, Miguel. A justiça Milionária. Cuiabá: TRF, 2007.
28

possível, a conciliação ou a transação". Por esta razão, entende o autor


mencionado, que:
A Justiça brasileira é extremamente cara e o devido processo
legal, associado ao amplo direito de defesa, com o necessário
formalismo, faz com que muitas demandas circulem por anos e
anos na Justiça singular ou nas Instâncias Superiores, o que
gera um grande acúmulo e sobrecarga de processos, com
gastos constantes e intermináveis na busca da solução do
litígio 6 3 .

Por esta razão, entende o autor acima apresentado que os Juizados


Especiais representam, portanto, os anseios dos cidadãos brasileiros, que
encontravam intermináveis óbices burocráticos para a solução de seus
conflitos, solucionando, para o autor, o problema concreta e efetivamente de
acesso à Justiça, permitindo ao cidadão comum o acesso direto, informal,
rápido, gratuito e participativo.
Há que se considerar que em decisão tomada pelo Conselho Nacional
de Justiça no Procedimento de Controle Administrativo, atendendo pleito da
Ordem dos Advogados do Brasil, seccional de Mato Grosso, ficou
estabelecido que não deve mais ser cobrada custas das partes, suspendendo a
cobrança nos Juizados do Mato Grosso.
Neste sentido, encontra-se que, de acordo com o relator do CNJ,
Oscar Argollo 6 4 :
(...) a iniciativa contraria frontalmente a lei que estabelece o
funcionamento dos Juizados Especiais, que diz expressamente
que as partes não pagarão custas. Enquanto perdurar o efeito
da aludida resolução, haverá obstáculo para ajuizamento das
ações perante os juizados especiais, com a criação e incidência
de custas, situação que a lei procurou contornar, justamente
para garantir acesso a todas as pessoas.

Com este argumento o Plenário do Conselho Nacional de Justiça


decidiu, por unanimidade, em sessão suspender cobrança de taxa em juizados
especiais do Estado do Mato Grosso. A suspensão foi determinada em caráter
liminar até o julgamento definitivo do caso.

63
Op. Cit.
64
ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL. Obstáculo à Justiça: Cobrança de taxa em Juizados Especiais
contraria lei. Revista Consultor Jurídico, 7 de junho de 2007.
29

Neste sentido, é de se compreender que pelo fato do direito ao


acesso à justiça estar consagrado no art. 5º, § 1º, XXXV da Constituição
Federal vigente, proporcionando de forma ampla e irrestrita que qualquer
cidadão possa ter o direito de recorrer à Justiça quando tiver seus direitos
coibidos ou usurpados. Isto leva também a entender que as prescrições
previstas na Lei 9099/95 dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e
Criminais, visando além de desafogar o Poder Judiciário e dar plenitude ao
acesso à Justiça, proporcionar, então, o acesso de todos, prevendo no caput do
art. 54 da citada lei a isenção de custas, taxas ou despesas para todos aqueles
que buscam o acesso ao Juizado Especial, em primeiro grau de jurisdição. É,
portanto, razoavelmente entendido que a cobrança de taxas para interposição
de recursos nos Juizados Especiais sai por completo da sua razão de
existência em conformidade com o previsto na lei de criação dos próprios
Juizados Especiais.
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CONCLUSÃO

O presente estudo foi desenvolvido no sentido de abordar de forma


analítica a temática “O acesso à Justiça nos Juizados Especiais: análise do
parágrafo 1º do art. 7º da Lei 6816/2007”.
Para tanto foi desenvolvida inicialmente uma abordagem acerca da
fundamentação conceitual e das barreiras de acesso à Justiça, tratando a partir
de uma revisão da literatura a condição de abrangência do Estado
Democrático de Direito na inserção e inclusão do cidadão de forma ampla e
irrestrita no seu acesso à Justiça.
Desta parte dos estudos ficou evidenciado que o acesso à justiça a
todos os cidadãos brasileiros é garantido constitucionalmente, muito embora
ocorram inumeráveis óbices que obstaculizam seu acesso.
Como conseqüência dessa disposição constitucional, em seguida o
presente estudo passou a tratar acerca de uma abordagem conceitual,
histórica, legal e principiológica dos Juizados Especiais e o seu papel como
um instrumento para servir ao cidadão e a sua razão inovadora que foi
introduzida na Constituição Federal atendendo às exigências do Estado
Democrático de Direito mencionado anteriormente.
Com isso, entende-se conclusivamente que a implantação dos
Juizados Especiais foi sem dúvida uma importante alavanca para o acesso à
Justiça, inserindo e incluindo o cidadão brasileiro ao atendimento dos seus
anseios.
Após abordagem do acesso á Justiça proporcionado pela criação dos
Juizados Especiais, o presente trabalho focou seus objetivos à análise do
parágrafo 1º do art. 7º da Lei Estadual 6816/2007, que determinou a cobrança
de depósito recursal no valor de 100% do valor da condenação.
Com base, portanto, na revisão da literatura efetuada durante a
realização do presente estudo, ficou observada a existência de correntes que
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se posicionaram contrárias à cobrança de taxas pelos Juizados Especiais, uma


vez que tal cobrança fere frontalmente a Lei Federal criadora dos referidos
Juizados.
Na literatura são encontrados diversos argumentos baseados, em
primeiro lugar, que a cobrança de taxas nos Juizados Especiais integram os
óbices e barreiras de acesso à Justiça, que contraria o principio norteador de
criação dos próprios Juizados Especiais.
Em segundo lugar, os posicionamentos contrários à cobrança de
taxas pelos Juizados Especiais, além de inibir o acesso à Justiça promovem,
também, exclusão do cidadão comum e de empresas de pequeno porte de
buscar na Justiça a solução para o desequilíbrio das relações ou direitos
passíveis de apreciação judicial.
De forma mais contundente, as correntes contrárias entendem que,
no caso específico da lei alagoana, houve uma invasão na competência do
legislador estadual, quando o assunto está na esfera de competência da União
por se tratar de uma Lei Federal.
As discussões e debates, evidentemente, prosseguirão, embora o
entendimento de que a cobrança de taxas de qualquer natureza nos Juizados
Especiais inibe verdadeiramente o acesso à Justiça criando mais uma barreira
dentre as mencionadas no decorrer do trabalho.
Em virtude disso entende-se que o posicionamento contrário se
enquadra dentro da realidade desejada pelo cidadão e por pequenas empresas
que encontram na cobrança de tais taxas recursais evidentes obstáculos para
promoção da justiça. Evidentemente que apesar da tendência mais
pronunciada da doutrina pelo posicionamento contrário, carece, portanto, de
mais aprofundada apreciação para que se encontre eficiente e eficazmente o
caminho de se manter o acesso à justiça plenamente para todo cidadão
brasileiro.
Por esta razão, o presente estudo, longe de exaurir todas as
possibilidades e implicações do tema em questão, pretendeu modesta e
tranqüilamente contribuir para ampliação e aprofundamento dos debates de
tão importante temática e por exigência de sua própria natureza conflitante.
32

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