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Prefacio & 2" edican As marcas profundas do golpe militar m 1951 Oscar Nierneyer teve seu contrato recusado pelo Con- Wi sctho Universitério da USP. Esse veto Aquele que poucos anos MS, epois idealizou Brasilia, patriménio arquiteténico da humani- dade, desencadeou uma greve na Faculdade de Arquitetura e Urbanis- mo (FAU}. O reitor Ernesto Leme solicitou entao, sem constrangimento, que o Servico Secreto do Departamento de Ordem Politica e Social (DOPS) auxiliasse a comissao de sindicancia instaurada internamente para apurar a atuacao politica de professores daquela escola. Nao foi esse um fato atipico e localizado na trajetéria desta Universidade. Um ane antes o mesmo reitor solicitara ao Servigo Secreto do DOPS “informagées a respeito dos principais dirigentes do movimento comunista em nosso Estado, que tenham ligagdes com a Universidade de Sao Paulo, como alunos ou professores”. E ja em 1948 Linneu Prestes, ex-reitor que da nome a uma das principais avenidas do campus da USP na Capital, enviou oficio reservado ao entao secretario de seguranca ptiblica, dizendo “ter a honra de enviar a relacdo nominal dos lentes catedraticos, livre docentes ¢ assistentes” da universidade, Em anexo nada menos do que dezessete laudas telacionando cada “lente” a sua escola de origem para que a policia politica os classificasse. . Como se vé, nao foi apenas nos anos de chumbo da ditadura militar instaurada em 1964 que injungées ideolégicas conservadoras cercearam a liberdade de trabalho e trouxeram graves danos a USP. Mas o periodo 1964-1978 deixou marcas profundas na vida mere ae ae Scan Adusp O Controle Ideolégico na USP (1964-1978) 5 desta Universidade. Por isso, decorrides quarenta anos do golpe militar, a Adusp considera extremamente relevante a reedigao d'O livro negro da USP = 0 controle ideoldégico na universidade, agora intitulado O controle ideoidgico na USP (1964-1978), Mudamos 0 titulo original, nesta nova edicao, para nao incorrer na conotagéo. certamente involuntaria de discriminagao racial, atentos aos alertas do movimento negro quanto a recorrente associagao do adjetivo “negro” a algo negativo. Foram incluidos como anexos a nova edicao dois dos artigos da jornalista e pesquisadora Beatriz Elias publicados na Revista Adusp n° 13 de abril de 1998, que receberam mencao honrosa do Prémio Vladimir Herzog de Jornalismo. Neles hd uma andlise do entao recém. aberto arquivo do DOPS, onde cerca de 90 documentos do periodo. pré-1964 trazem revelagdes impressionantes como as que destacamos no inicio deste texto. Ao mesmo tempo comprovou-se documental- mente o acolhimento dos érgaos de sequranca, no préprio Gabinete do Reitor, como “Assessoria de Informagées - AESI”, criada em 23 de maio de 1973, durante a gestao do reitor Miguel Reale. Confirmaram-se assim as intimeras dentincias relacionadas nes- te livro e o depoimento cuidadoso mas incisive do professor Anténio: Candido & Comissao Especial de Inquérite da Assembleia Legislativa de Sado Paulo em 1977, mais tarde contestado peremptoriamente pelo reitor Orlando Marques de Paiva. O controle ideolégico na USP (1964-1978) revela a particular telagao do poder universitdrio com o governo golpista (por vezes erro- neamente chamado de revolucionario, como bem destacou Florestan Fernandes em seu livro O que é revolucdo}. As persequicdes macar- tistas que se perpetravam tinham por objetivo tanto colaborar com a aniquilagao dos opositores da ditadura, quanto desmontar um movi- mento interno de democratizagac ¢ reestruturacaéo progressista da uni- versidade. Reprimia-se assim o desenvolvimento de uma universidade que buscava gerar e difundir autonomamente o saber, base essencial do projeto de desenvolvimento nacional que o pais até entao abraca- va como forma de se constituir soberanamente no cendrio mundial. 6 OQ Controle Ideolagico na USP (1964-1978) Adusp. Dentre tantas informagées histéricas que o livro resgata, essa é uma questao essencial que nos afeta até os dias de hoje, O rico proceso de reforma universitaria foi barrado em 1964, mas renasceu nos anos seguintes como uma das bandeiras da luta do movimento estudantil contra a ditadura militar. O vice-reitor Hélio Lourengo de Oliveira estava encaminhando no Conselho Universitario a proposta de reforma Universitaria que incorporava um projeto de estatuto para a USP construido ao longo de 1968 pelas Comissées Paritarias, parti- cularmente da antiga Faculdade de Filosofia, Ciéncias e Letras. Hélio Lourengo foi cassado em 1969 por decreto assinado por Gama e Silva, que fazia questo de permanecer como reitor da USP enquanto servia como ministro da justiga ditatorial. Assim, novamente era bar- - rada a reforma universitaria que, entre outras inovacGes, propunha a democratizagao da USP A estrutura de nobiliarquia e castas que existe hoje no poder que controla a universidade procura apoiar-se na qualificacao académica. Mas 0 que este livro mostra com clareza ¢ que ela se alicerga e tem raizes profundas nas bases oligarquicas que gestaram a universidade, afinaram-se com a ditadura militar e a ela sobrevivem no exercicio do autoritarismo. A reforma estatutaria de 1988 incorporou o ideario conservador do estatuto de janeiro de 1970 elaborado no periodo de Emilio Garrastazu Médici, sob a batuta de Gama e Silva e Alfredo Buzaid, ministros da justica ditatorial, catedraticos da Faculdade de Direito e ex-reitores da USP ciosos em privilegiar os colaboradores do regime na maior universidade do pais. Superado 0 controle ditatorial sobre a universidade, é indispen- sével varrermos a heranga autoritaria que permanece regulando a vida da Universidade de Sao Paulo, onde os avangos democraticos firmados na Constituigao Brasileira e na Lei de Diretrizes e Bases da Educacao Nacional ainda nao conseguiram chegar. Sao Paulo, 1° de abril de 2004 Diretoria da Adusp a Adusp © Controle Ideolégico na USP {1964-1978} 7

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