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Os empregados vestiam-se com trajes especiais e havia entre eles muito respeito
pelos patrões. A comida fina e requintada era posta na grande mesa na sala do banquete,
onde sempre havia convidados, e a família se reunia para conversar e se alegrar.
Os dez filhos do casal eram amigos e se visitavam com freqüência. Formavam uma
família próspera e muito feliz. Isto até mesmo despertava a inveja nos corações de alguns,
que talvez não lhes conhecessem a simplicidade interior. Pois, apesar de toda essa riqueza e
luxo, Jó e sua família tinham um coração simples e modesto, reconhecendo a bondade de
Deus em todas as coisas que vieram a possuir.
Num dia fatídico, entretanto, a tragédia veio bater à porta daquela família feliz. No
mesmo dia, chegaram, seguidamente, as notícias para o casal: todo o gado tinha sido levado
pelos ladrões (os sabeus) e os empregados de Jó estavam mortos (1.14-15). Enquanto esta
notícia era dada, outro servo chegou dizendo que havia caído fogo do céu e queimado todas
as suas ovelhas e os seus pastores, no campo (v.16). Outro servo falou que os camelos
tinham sido levados pelos caldeus e os servos foram todos mortos ao fio da espada (v. 17).
E, finalmente a notícia mais doída para o coração do casal: seus filhos estavam mortos sob
os escombros da casa que desabara sobre eles, provocada por um vendaval do deserto (v.
18-19).
Com toda a dor das perdas, Jó continuou confiando em Deus e adorando-o. Sua
esposa assistia a tudo isto e sentia-se esmagada pela dor. Geralmente as mulheres são mais
sensíveis do que os homens e, na verdade, ela estava sofrendo demais.
Sabemos que as provações não moldam o caráter, mas apenas o revelam... O caráter
íntegro e confiante de Jó permaneceu inalterado. Ele reconheceu que tanto receber o bem
(as bênçãos) quanto sofrer o mal, ou seja, as experiências negativas, isto fazia parte da
vivência humana, e que Deus estava no controle de todas as coisas. Entretanto, para sua
esposa as coisas eram diferentes. Ela não conseguia enxergar de maneira clara o que estava
acontecendo, e desesperou-se.
Com as perdas dos empregados, do gado, dos camelos e, principalmente dos filhos,
o luxo da casa começou a perder o brilho. A falta da presença dos dez filhos trouxe à esposa
de Jó uma sensação de vazio e de grande tristeza. Ela procurava manter a calma, mas seu
coração amargurado estava cheio de revolta contra Deus. Como ela poderia aceitar tantas
perdas? Como poderia se sentir a mesma sem os bens que sempre tivera? Como poderia
viver num padrão de vida mais baixo, sob os olhares de compaixão das amigas e o olhar
satisfeito dos invejosos?
A provação vem para todos e, parece que a esposa de Jó não estava preparada para o
sofrimento. O seu coração ia se enchendo de sentimentos negativos de auto-comiseração e
revolta. E as coisas pioraram ainda mais.
A última prova alcançou o corpo de Jó. Uma enfermidade repugnante tornava sua
companhia indesejável. Jó ficou cheio de tumores malignos do alto da cabeça à planta dos
pés, sua pele estava cheia de feridas e seu hálito era insuportável (19.17). Era uma situação
terrível para sua esposa. Ela não podia mais contemplar o sofrimento do esposo. Ele
apresentava insônia, inapetência, magreza e incômodo por coceiras em todo o corpo. A
pressão externa das circunstâncias era sobremodo grande para ela.
Enquanto Jó mantinha a sua integridade e sua fé, ela não estava agüentando mais, e,
literalmente “chutou o balde”. Reagiu, então, com um ataque à fé de seu esposo, dizendo-
lhe: “Ainda reténs a tua sinceridade? Amaldiçoa a Deus, e morre”. Era o seu limite. Ela
apenas enxugara externamente as lágrimas no sepultamento dos filhos, mas seu coração
continuava chorando. Olhava para a casa sem os empregados de outrora e suspirava,
sentindo o coração apertado e cheio de pena de si mesma...
É certo que nas provações da vida, não podemos olhar para nós mesmos, mas
precisamos olhar para Deus. Se cairmos nessa tentação de olhar para o nosso estado na
provação, então o inimigo terá alcançado êxito e nos fará desistir de Deus, da fé e da
vitória. A fé nos faz ver o invisível, crer no incrível e sonhar com o milagre impossível aos
olhos materiais...
Jó ficou muito bravo com a esposa, quando ela lhe falou para desistir de lutar, de
viver, de sonhar. Ele a chamou de “doida”. Realmente é loucura desistir de lutar, de viver,
de sonhar... A chama que aquece o nosso coração é a fé. É a certeza das coisas que se
esperam. É a prova das coisas que não se vêem. Sem fé é impossível agradar a Deus (Hb
11.6). Sem fé é impossível viver feliz e ter esperança... Na escuridão das provas é preciso
olhar para Deus, para o alto, e confiar, e descansar, e esperar somente nele, pois dele vem a
nossa salvação.
É bem possível que a esposa de Jó tenha atentado para a exortação de seu marido. É
bem possível que ela tenha parado um pouco e refletido na insensatez de suas palavras
dirigidas ao seu amado esposo... É bem possível que ela tivesse se arrependido do que
falara e tenha se recolhido à meditação e reflexão sobre os acontecimentos, aguardando o
desfecho...
Quando não se tem nada a fazer, devemos ficar quietos e esperar no Senhor. Confiar
totalmente em sua bondade e na misericórdia de seu coração paternal. Devemos guardar a
“porta dos nossos lábios” para não falarmos tolices, das quais venhamos a nos envergonhar
mais tarde. Ao contrário, devemos liberar palavras de fé, de esperança, de confiança e de
descanso em Deus.
No final da provação de Jó, vemos a restauração de seus bens, de sua saúde, de sua
família. Deus lhe deu outros filhos, e a alegria de antes voltou. Agora, nesta nova fase, o
amor do casal tornou-se mais maduro. As experiências vividas fortaleceram a fé da família.
A humildade de seus corações diante de Deus aumentou, e a perseverança veio a se tornar
amiga da esposa de Jó...
Para refletir
Você já “chutou o balde” (entrou em desespero) alguma vez na vida? Como agir
para que isto não ocorra nos momentos de grande pressão externa?
Em sua opinião, qual a maior bênção que a esposa de Jó recebeu depois que tudo
passou?
Leia o que Tiago fala das provações (Tg 1.2-4) e compartilhe com alguém, que
esteja passando por lutas, sobre esse texto.