Os modos de vida urbana e rural são dois tipos de sociedade estreitamente
interdependentes. Esta relação é determinada pelo duplo objetivo da existência de um excedente agrícola e a possibilidade de trocar esse excedente. A realização desta permuta é determinada por um conjunto de fatores em duplo sentido, nomeadamente através do uso dos transportes e do comércio. Uma parte do produto do trabalho dos camponeses converte- se em mercadorias a escoar para o mercado, dando começo à prática de uma produção mercantil monetária. O campo proporciona a alimentação e os homens da cidade fornecem as ferramentas, os artigos manufaturados e a tecnologia. Se a agricultura tornou possível o nascimento da cidade e condicionou a sua evolução, por sua vez, a cidade tornou-se essencial para facilitar as trocas ou a aplicação e manutenção de inovações técnicas. As relações entre á cidade e o campo ligam o desenvolvimento do fenômeno urbano ao excedente agrícola. É evidente a impossibilidade da existência de cidades sem agricultura. A terra é ainda o mais importante meio de produção em países subdesenvolvidos, onde coexistem o modo de vida urbano e o rural. O campo se especializou na produção de alimentos e de matérias- primas, que em grande parte eram enviados para a cidade. Já a cidade se especializou na atividade comercial, na atividade político administrativa e na fabricação de bens econômicos, inicialmente através do artesanato, depois através da manufatura e, por fim, através da fábrica ou indústria moderna. É importante frisar que cada processo citado passa por vários contextos no quadro cultural, político, econômico e social. Nas suas diversas épocas o trabalho humano carrega como herança o resultado de muitas influências políticas, econômicas e relações sociais. É a partir daí que origina a divisão econômica do trabalho: primeiro setor, segundo setor e terceiro setor. A caça, a pesca e a coleta de frutos nas matas são as atividades econômicas mais antigas. Mostram uma intima relação do homem com a natureza. O homem pré-histórico já transformava a pedra em facas, machados, pontas de flechas. A transformação da natureza em bens econômicos conheceu diferentes momentos ao longo da história realizada atualmente pela indústria. Há cerca de 1000 anos, o homem aprendeu a domesticar animais e a cultivar plantas. A partir de então, ele pôde se fixar num determinado lugar e, tornando-se sedentário. Durante muitos séculos, a prática da pecuária e da agricultura, apenas garantia a sobrevivência, sem permitir a acumulação dos recursos. Com o passar do tempo, os grupos humanos começaram a obter um excedente de alimentos e outros produtos, como peças artesanais, roupas, etc. Ou seja, depois que os bens obtidos com a produção eram distribuídos entre todos os membros da comunidade, sobrava uma parte. Até conseguir o excedente econômico, praticamente todos os membros de um mesmo grupo social trabalhavam na terra, cultivando-a e cuidando dos gados, além de praticarem a caça, a pesca ou extrativismo vegetal. Depois isso tornou-se desnecessário a dedicação de todos ás atividades manuais. À medida que o conhecimento humano e a tecnologia foram se aprimorando as atividades econômicas diversificaram-se. Surgiram as agriculturas, a pecuária, o comércio, a indústria e os serviços. A transformação da natureza foi cada vez mais intensa. Embora a maioria das pessoas continuasse no campo, a cidade, proporcionava um novo espaço geográfico que lentamente passou a reunir pessoas, em habitações e outras edificações, como igrejas, mercados, palácio, etc. Na verdade, a divisão territorial do trabalho entre o campo e a cidade foi definitivamente consolidada com a Revolução Industrial. Isso porque a atividade industrial desenvolvida, e concentrada na cidade, passou a comandar as atividades econômicas da sociedade moderna, o que resultou nos espaços urbanos que caracterizam o atual espaço geográfico mundial. No século XVII com o capitalismo a lei da oferta e da procura ganha destaque. O que está em jogo atualmente é a questão da propriedade da terra e dos meios de produção. Agricultura, a pecuária e as ocupações extrativas são as bases da economia rural. É muito interessante notar que tanto o ambiente rural quanto o urbano, influencia nas ações sociais do homem: Com a expansão do capitalismo industrial, tornou-se comum a migração, pois os industriais das grandes cidades começavam a contratar trabalhadores rurais que buscavam uma vida melhor. Assim, a migração teve papel importante no desenvolvimento das grandes cidades. O indivíduo rural vem em busca de emprego por causa dos máquinas agrícolas passarem eles para trás. Numa metrópole a função deste trabalhador é suprir a base de produção que mantém a economia do país, a mesma que exige a tecnologia no campo para poder competir com o mercado externo. Tratando-se de um ciclo comercial, não pode separar o campo da cidade, ambos estão ligados. Basicamente as metrópoles possuem a mesma característica: a população cresce em volta de uma concentração comercial geradora de empregos. Esse rápido crescimento populacional causa problemas crônicos de serviços oferecidos à população: moradia, saúde, transporte. Há uma extensa falta de oferta de empregos, sobram pessoas com pouca qualificação, faltam trabalhadores que possam ocupar cargos distintos. A relação entre as classes dominantes das cidades e os camponeses e artesãos mantinham-se com pequenas variantes: uma concentração de população tributária composta de artesãos especializados e de camponeses que asseguravam a produção agrícola e o trabalho braçal como mão-de-obra para obras públicas, escavação de canais e construção de templos. A diferença entre a população urbana e rural não implica apenas uma diferença de domicílio e de atividade, mas também diferenças no estatuto profissional, no tipo de habitação, no ritmo de trabalho, etc. A famosa globalização que nos cerca há alguns anos, deixa sua marca no âmbito social, porém com características distintas quando se trata de uma sociedade rural e uma sociedade urbana. Ambas com suas peculiaridades, as atividades desenvolvidas no campo são complementadas com as que se desenvolvem na cidade, e vice-versa. A sociedade rural é aquela que se transformou no processo de globalização, com uma ideologia tecnológica, a inserção de maquinários e as indústrias, que devolveram ao trabalhador o seu emprego que outrora fora tomado pela modernização, formam uma nova personalidade para a vida rural. A industrialização ocorrida no mundo urbano foi gerada por aqueles que saíram do campo. São profissionais que não desejavam mais trabalhar com a agricultura, que por muito tempo caracterizou o trabalho no êxodo rural. O poder urbano tende a exercer uma espécie de autoridade absoluta sobre as populações rurais forçando-as a servir seus interesses de boa vontade ou pela coação. Os rurais resignam-se a obedecer por temerem a destruição da sua civilização e terem dificuldade em trocar os seus locais por outros. As cidades dependiam do campo para a sua subsistência, mas também os camponeses necessitavam dos mercados para vender os seus produtos. Por conseqüência, a agricultura adaptou-se às necessidades da população urbana. Pouco a pouco, a procura estendia-se às matérias-primas necessárias à produção industrial, como a lã e o linho. Campos de cultura do trigo foram transformados em pastagens. Tornou- se numa regra a especialização agrícola regional. Essa globalização desenfreada gera cada vez mais conforto e técnica para o campesino, enquanto que na cidade todo esse conforto nos remete a tanta correria e distração, onde se busca o que é natural encontrado no campo. Não há competição, o que existe é uma ligação, um meio necessita do outro para que a sociedade consiga se desenvolver e crescer. É a globalização tentando transformar os dois modos de vida em uma sociedade igualitária.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
VILLAÇA.Flavio. Espaço intra-urbano no Brasil. 2º edição. Studio Nobel. São Paulo.2011
RAICHELEIS, Raquel. Legitimidade e Poder Público. Cortez. São Paulo. 1988
Os imperativos do agronegócio: Histórias de trabalhadores e camponeses no processo de reorganização das relações de trabalho no campo e na luta pela reforma agrária (Oeste do Paraná, 1970-2020)