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1) O sermão compara o dia de morte de São José e o nascimento do Rei D. João IV, afirmando que ambos trouxeram grandes bênçãos para Portugal.
2) São João teve dois nascimentos: um natural e um sobrenatural ao pé da cruz, quando Jesus o declarou filho de Maria.
3) A morte de São José foi benéfica para os israelitas, pois suas virtudes só puderam influenciá-los depois de estar enterrado, assim como as plantas precisam da terra.
Descrizione originale:
Titolo originale
Sermão do Padre António Vieira proferido na Capela Real em 19 de Março de 1642
1) O sermão compara o dia de morte de São José e o nascimento do Rei D. João IV, afirmando que ambos trouxeram grandes bênçãos para Portugal.
2) São João teve dois nascimentos: um natural e um sobrenatural ao pé da cruz, quando Jesus o declarou filho de Maria.
3) A morte de São José foi benéfica para os israelitas, pois suas virtudes só puderam influenciá-los depois de estar enterrado, assim como as plantas precisam da terra.
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1) O sermão compara o dia de morte de São José e o nascimento do Rei D. João IV, afirmando que ambos trouxeram grandes bênçãos para Portugal.
2) São João teve dois nascimentos: um natural e um sobrenatural ao pé da cruz, quando Jesus o declarou filho de Maria.
3) A morte de São José foi benéfica para os israelitas, pois suas virtudes só puderam influenciá-los depois de estar enterrado, assim como as plantas precisam da terra.
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na Capela Real em 19 de Março de 1642, algumas era igualado, e em alguma excedido; e dia de aniversário do Rei D. João IV. para mordomo da Rainha dos Anjos todos o excediam no atributo da ancianidade. Pois se era por João J. Vila-Chã a Sexta-feira, 18 de Março de mais moço João, e havia outros amados, e mais 2011 às 23:25 parentes, porque não escolheu Cristo a outro Cum esset desponsata Mater Jesu Maria discípulo, senão a S. João para este ofício? A Joseph razão foi; porque o ofício de acompanhar e servir à Senhora, era ofício de S. José, enquanto viveu: [Maria, Mãe de Jesus, estava comprometida em e para substituir em ausências de José, quem casamento com José; Mateus 1, 18.] havia de ser, senão João? Não é menos que de S. Cipriano o pensamento: Ut non tam Joseph I. Questão foi mui duvidada entre os Antigos, oneretur tanti ministerii praepositura, sed qual dia desta vida era mais feliz; se o primeiro, Joannes. Morrera José: vagara no mundo aquele se o último; se o do nascimento, se o da morte. grande lugar; e para substituir em sua morte, Daqui veio, que seguindo várias gentes várias para suceder em sua ausência, ninguém havia opiniões, umas se alegravam nos nascimentos, no mundo que estivesse a caber, senão quem? outras os celebravam com lágrimas: umas se João, o amado de Deus. João o amado de Deus entristeciam nas mortes, outras as solenizavam substitui a José: Non tam Joseph, sed Joannes. com festas. Chegou finalmente a dúvida ao tribunal de el-rei Salomão, o qual inclinando-se à E isto quando? No dia de seu nascimento. Parece parte que parecia menos provável, resolveu que que não pode ser; porque nem o real, nem o melhor é o dia da morte, que o dia do nascimento podem competir a S. João aqui. Ora nascimento: Melior est dies mortis die tudo foi. Quando Cristo deu a S. João o cuidado nativitatis [Mais vale ir a uma casa em luto do de servir à Senhora, as palavras que disse foram que ir a uma casa em festa. Eclesiastes 7, 2]. estas: Mulier, ecce Filius tuus: João, XIX, 26. Com isto estar resoluto, e definido assim na Mulher, eis aí teu filho. Deinde dicit discipulo: Escritura, hoje parece que temos a mesma Ecce Mater tua [João 19, 27]. João, eis aí tua questão ou concordada, ou ressuscitada; porque Mãe. Mãe e Filho, de que maneira? Mãe tinha S. estamos por mercê de Deus em um dia tão João, mas era Maria Salomé: Filho era, mas do glorioso por uma morte, tão feliz por um Zebedeu. Pois se estes eram seus pais, como se nascimento, que bem se pode competir dentro chama João filho da Senhora, e a Senhora Mãe em si mesmo, ou a vencer feliz suas glórias, ou a de João? É porque João tornou a nascer nesta vencer glorioso suas felicidades. Consagrou-se hora, e nasceu só da Virgem por força das este dia às glórias do Céu com a morte do maior palavras de Cristo. Autores houve, e entre eles santo que nele reina, o divino Esposo da Virgem expressamente S. Pedro Damião, que disseram, Maria, S. José: e consagrou-se outra vez o que assim como as palavras, Hoc est Corpus mesmo dia às felicidades de Portugal, com o meum [Isto é o meu Corpo], ditas uma vez por nascimento felicíssimo do mais desejado rei, e Cristo, tiveram força para converter o pão em mais benemérito, el-rei nosso senhor D. João, o corpo do mesmo Cristo; assim as Quarto, para que sobre os trinta e oito, que hoje palavras, Mulier, ecce Filius tuus, tiveram força conta, continue por muitos e mui compridos para fazer a S. João, e o converterem de filho do anos as prosperidades que goza. Morre hoje Zebedeu em filho de Maria. José, e nasce Sua Majestade. Que ventura tão recíproca! Nem José, morrendo, podia deixar no De maneira, que S. João teve dois nascimentos: mundo melhor substituto: nem Sua Majestade, um nascimento natural, com que nasceu filho do nascendo, podia entrar no mundo com melhor Zebedeu; outro nascimento sobrenatural, com planeta. que nasceu filho da Mãe de Deus. Pelo primeiro nascimento nasceu nas praias do Tiberíade; pelo Estando Cristo Redentor nosso na cruz, olhou segundo nascimento nasceu ao pé da cruz. Pelo para S. João, o discípulo amado, e encarregou- primeiro nascimento nasceu de geração lhe que tivesse cuidado de servir e acompanhar humilde; pelo segundo nascimento nasceu da a sua Santíssima Mãe. Reparam alguns santos mais ilustre e real prosápia que havia no mundo, em não dar o Senhor este cargo a outro filho de uma Senhora, herdeira de um rei morto apóstolo, senão a S. João, porque ainda que em à mão de seus inimigos: Jesus Nazarenus Rex Judaeorum [Jesus de Nazaré rei dos Judeus]. depois dele morto: Quo mortuo. Se José quer Assim nasceu S. João segunda vez, e assim foi dizer crescimento, e os filhos de Israel cresceram necessário que nascesse, para suceder no lugar por sua influência, porque não cresceram em sua de S. José como sucedeu; porque, só se pode vida, senão depois de sua morte? A razão é substituir dignamente a morte de José, com quê? porque para se lograrem as influências de José, Com o nascimento real de um João, o amado de há-de estar debaixo da terra. Delicadamente o Deus: Discipulum, quem diligebat: Mulier ecce tirou Hugo Cardeal do mesmo Texto. Diz o Texto Filius teus: Non tam Joseph, sed Joannes. que: Creverunt quasi germinantes, cresceram os filhos de Israel, assim como crescem as plantas. II. Só vejo me podem reparar os curiosos em Bem dito, diz Hugo:Uno grano emortuo, multa falar no dia de S. José por termos de morte, creverunt: Cresceram os filhos de Israel como as sendo que mais devia com um, e outro intento plantas; porque assim como as plantas, para chamar-lhe, nascimento; porque assim chama a nascerem, e crescerem, é necessário que a Igreja às mortes dos santos: Natalitia Sanctorum. virtude de que nascem, se enterre primeiro Se eu não fora mais amigo da verdade, que da debaixo da terra; assim para que a virtude de propriedade, assim o fizera; mas as mortes de José influísse aumentos nos filhos de Israel, foi outros santos podem-se chamar nascimentos; a necessário que ele morresse e se enterrasse morte de S. José, não. As mortes de outros primeiro: Quo mortuo, creverunt. Os outros santos podem-se chamar nascimentos, porque planetas hão-de estar em cima, mas os Josés quando morreram à vida temporal, nasceram à debaixo da terra. vida eterna. Não assim S. José. Como não estava ainda aberta a porta do Céu, quando S. José Grande advertência de Filo. Pode-se duvidar a morreu, não foi o Santo no dia de sua morte à razão porque José se mostrou tão benigno, e fez glória, senão ao Limbo. Ao Limbo S. José neste tantos favores e mercês a seus irmãos, de quem dia? Valha-me Deus; que duvidoso horóscopo! recebera tantos agravos. Digo que se pode Não sei eu como poderei provar o que entrei duvidar; porque bem mostraram os primeiros dizendo que não se podia nascer com melhor dois irmãos, Caim e Abel, que não basta a razão planeta. Dizem os matemáticos, que nascer com de irmandade para abrandar corações. E se um os planetas debaixo da Terra, é prognóstico de irmão respeitado mata; um irmão ofendido, que infelicidades. Pois se S. José neste dia seu o fará? Pois se José estava tão ofendido de seus temos todo debaixo da terra, o corpo na irmãos, como se mostrou tão benigno e liberal sepultura, a alma no Limbo; que influências com eles? A razão, disse Filo, que foi por umas podemos esperar deste planeta em tão funesto palavras que disseram a José os irmãos. Quando sítio? Ora digo que é felicíssimo auspício ter lhe deram conta de si, disseram que eram doze; neste nascimento a S. José debaixo da terra; os dez que ali estavam, um que ficara com o pai, porque ainda que os planetas debaixo da Terra e outro que morrera, que era o mesmo José. As tenham perigosas influências, tiram-se por palavras foram estas: Duodecim fratres sumus: excepção os planetas que são Josés: os planetas minimus cum patre nostro est, alius non est que são Josés, para influírem felizmente, hão-de super [“Somos doze irmãos: o mais novo está estar debaixo da Terra. agora com o nosso pai e há um que não mais existe”; Génesis 42, 13]. O menor de todos, Estava o patriarca José em Egipto: morreu, e diz Benjamim, ficou com o pai; o outro, que era o Texto sagrado, que depois de sua morte, José,Non est super, já não está em cima, está cresceram muito os israelitas em número e debaixo da terra. Já está debaixo da terra José? poder: Quo mortuo, creverunt filii Israel quasi Por isso se mostrou tão benigno, e liberal com os germinantes multiplicati shunt, ac roborati nimis, irmãos, diz Filo: Alius non est super, de se impleverunt terram [Os filhos de Israel foram loquentes audiens, quid animi habere fecundos e se multiplicaram; tornaram-se cada potuit? Ouvindo dizer José que já não estava em vez mais numerosos e poderosos, a tal ponto cima, senão que estava debaixo da terra, que que o país ficou repleto deles. Êxodo 1, 6-7.] Que outra coisa pode fazer senão amar, favorecer, e os filhos de Israel crescessem pelos influir beneficamente liberalidades? Os outros merecimentos de José, não me admira; antes planetas, para influírem benignamente, hão-de assim havia de ser, que isso quer dizer José, estar em cima; mas José, quando não está em aumento e crescimento: Joseph accrescens. O cima, senão debaixo da terra, como hoje assim que me admira é que crescessem os Israelitas tem o hebreu: Hodie non est super no dia em que não está em cima, senão debaixo da terra, porque convinha, e tinha ordenado a Divina então influi vida, mercês, felicidades, e Providência, que estivesse encoberto a todos, aumentos. como com efeito se encobriu no desposório, ou matrimónio da Virgem Santíssima com S. José, III. Temos visto o nascimento real de João o parecendo que não tinha mais mistério a Amado, e o sítio do Planeta, em que nasce conceição, e nascimento daquele Filho, que o debaixo da terra, no mesmo, ou semelhante dia; comum e ordinário dos outros homens. e porque os dias, como diz David, também se falam e se entendem uns com os outros: Dies Que semelhança tem agora, ou que propriedade diei eructat verbum [“o dia entrega a mensagem em S. José a providência de Deus neste mistério a outro dia”; Salmo 18, 3.]; com razão com o nascimento de Sua Majestade, que Deus perguntará o dia do nascimento de Sua guarde, no dia do mesmo Santo? Disse-o Majestade ao dia, em que nasce, de S. José, que Ruperto com umas palavras, que se lhe influências pode ou deve esperar de tão divino pedíramos as fizesse de encomenda, não vieram Planeta. A resposta não é como a dos mais nascidas ao intento:Ut esse Sponsus, matemáticos, duvidosa e incerta; mas tão certa custosque Beatae Virginis, ac nati ex ea Regis. e sem dúvida, como tudo o que dizem os Desposa-se José com Maria, e nomeadamente evangelistas. Vamos ao nosso Evangelho, que é com Maria Mãe de Jesus, porque o fim destes de S. Mateus, no capítulo primeiro, e ouçamos desposórios foi ser José Esposo da Virgem, e com admirável propriedade o que diz, como se guarda do Rei nascido: Custos nati Regis. Oh falara deste dia, e do nosso caso: Cum esset grande excelência! Oh grande glória! Oh desponsata Mater Jesu Maria Joseph. Estava, diz, dignidade superior a todos os santos a de José! a Mãe de Jesus, Maria, desposada com José. Que os foros da mesma omnipotência nasçam Onde se deve advertir, que a palavra desposada debaixo de seu amparo, e que não tendo Cristo não significa promessa recíproca de bodas Anjo da Guarda, porque é Deus, tenha por futuras, senão verdadeiro e actual matrimónio Custódio um homem, que é S. José: Custus nati por contrato, e palavras de presente, como Regis! Grande glória de José, e grande graça consta do mesmo Texto: Noli timere accipere também do nosso rei, e reino! Que o amasse Mariam conjugem tuam: [“não temas receber Deus, e cuidasse do seu remédio com tão Maria, tua mulher”; Mateus 1, 20.] mas a especial providência, que o patrocínio que deu cortesia do Evangelista não disse, casada, senão em seu nascimento ao Rei que havia de desposada, como termo mais decente e restaurar o mundo, esse mesmo patrocínio desse decoroso. O que suposto, era a Senhora já Mãe em seu nascimento ao rei que havia de restaurar de Jesus, porque tinha concebido ao Verbo a Portugal! Um e outro nasceu debaixo da Eterno; mas antes de Mãe, primeiro desposada. mesma protecção, um e outro nasceu debaixo E porquê? Como era, e havia de ser sempre da tutela e amparo de S. José: Joseph custos nati Virgem, tanto importava ser primeiro desposada, Regis. como depois: porque razão logo ordenou a Providência Divina, que não concebesse ao Filho Sendo pois estes dois reis nascidos ambos reis, de Deus, senão depois de desposada: Cum esset ambos redentores, e ambos encobertos; o desponsata Mater Jesu? A razão principal é primeiro, como diz a profecia de Isaías: Vere tu porque convinha e era necessário que a es Deus absconditus, Deus Israel Salvator [“Tu conceição e parto da mesma Virgem estivesse és um Deus que se esconde, ó Deus de Israel, o encoberto: Ut virginues partus celaretur. Assim o Salvador”; Isaías 45, 15.][1]. O segundo dizem S. Jerónimo, S. Basílio, S. João Damasceno, prometido pela profecia, e tradição de Santo Santo Ambrósio, S. Bernardo, e é comum dos Isidoro a Espanha, não com outro nome, ou santos padres. Constava da Sagrada Escritura antonomásia, senão a doEncoberto; vejamos pelo oráculo e testemunho do profeta Isaías, que quão particularmente encobriu a um e outro, o o Messias, e Rei prometido para Redentor do que a um e outro deu Deus por guarda o cuidado mundo havia de nascer de uma Virgem: Ecce, e vigilância de S. José. A Cristo encobriu-o, como Virgo concipiet et pariet Filium [“Eis que a jovem Esposo de Maria, nove meses e treze dias desde concebeu e dará à luz um filho”; Isaías 7, 14.]. E sua conceição até depois de seu nascimento, em porque este Rei não só na Terra, senão no que o descobriu a estrela no Oriente aos Magos, mesmo Inferno, havia de ter muitos émulos e e os Magos em seguimento dela a toda Judeia. E inimigos, esta era a importância, e necessidade como o encobriu? Spiritus Sanctus superveniet in te, et virtus Altissimi obumbravit tibi [O anjo que vendo-o, o não viam, nem viram. É, certo lhe respondeu: “O Espírito Santo virá sobre ti e o que assim foi, mas duvidoso, como podia ser. poder do Altíssimo vai te cobrir com a sua sombra”; Lucas 1, 35.] A Virgem Senhora nossa No dia da Ressurreição ajuntou-se Cristo aos tinha dois Esposos, um divino, outro humano. O dois discípulos que iam para Emaús, os quais, Esposo divino era o Espírito Santo; o humano, S. em todo aquele caminho, O viam e ouviam, sem José. Do primeiro Esposo era obra o Filho O conhecerem. Porventura transfigurou-se concebido, como disse o Anjo à mesma Cristo, ou mudou as feições do rosto? Por Virgem: Spiritus Sanctus superveniet in nenhum modo. Pois se eram seus discípulos, te: acrescentando: Et virtus Altissimi obumbravit costumados a vê-l'O todos os dias, e agora O tibi: que a virtude do Altíssimo lhe faria sombra. estavam vendo, e no seu rosto não havia E que sombra foi esta, ou quem foi esta sombra? mudança, como O não conheciam? Responde o Foi sem dúvida o segundo Esposo, a cuja sombra Evangelista: Oculi eorum tenebantur, ne eum esteve a Virgem depois de desposada, e com a agnoscerent [“seus olhos, porém, estavam sombra e nome de Pai, encobriu o que impedidos de reconhecê-lo”; Lucas 24, 16.] A verdadeiramente não era seu Filho. Assim ficou o palavra tenebantur, melhor se pode entender, do Rei, e Redentor, que havia de ser do mundo, que declarar na nossa língua: Tenebantur, encoberto desde sua Encarnação nove meses estavam detidos: Tenebantur, estavam até seu Nascimento, e treze dias, até que a presos: Tenebantur, estavam estrela e os Magos, e Deus por eles o descobriu suspensos: Tenebantur, estavam em si, e fora de ao mundo: Ubi est, qui natus est Rex Judaeorum? si, como extáticos os olhos que O viam, e não [“Onde está o rei dos judeus recém-nascido?”; conheciam. Fazendo este milagre nos Discípulos Mateus 2, 2.] a omnipotência de Cristo; e nos reis, que tanto podiam temer, e acautelar-se do que hoje é nosso, a mão invisível de S. José. Desde o princípio em que se fizeram senhores de Mas se S. José guardou encoberto a Cristo nove Portugal aqueles reis estranhos; Filipe II tinha meses e treze dias; que comparação tem este diante dos olhos a senhora D. Catarina; Filipe III tempo, que não chega a um ano, com mais de ao duque D. Teodósio; Filipe IV a Sua Majestade, trinta e seis anos inteiros em que teve encoberto que finalmente lhe tirou da cabeça a coroa; e ao rei encoberto de Portugal, desde o dia de seu vendo-os, não conheciam o que neles deviam nascimento até o felicíssimo de sua restituição? recear e temer, cegando-os S. José com a Vejo que me respondem, que S. José não só mesma luz de seus olhos; e cobrindo o seu e o encobriu a Cristo naquele primeiro ano não nosso encoberto com o descobrir. acabado, mas em outros, cujo número certo se não sabe. Sabendo pelo Anjo que Herodes entre Assim desempenhou o grande santo a obrigação os Inocentes de Belém, queria tirar a vida a que tinha de encobrir, e provar o nome de Cristo, fugiu de Judeia para o Egipto, e depois da encoberto no novo rei, nascido no seu dia: mas morte do mesmo Herodes, sabendo também por ainda lhe falta, ou nos falta uma maior aviso do Céu, que reinava em Judeia Arque seu consideração e vigilância deste seu empenho. O filho, retirou-se para Galileia. De sorte que para ódio, a emulação, a cautela, o receio de perder o encobrir o primeiro Rei nascido, tomou por meio ganhado em Portugal, que tinham os reis tirá-lo diante dos olhos dois reis seus inimigos, e estranhos, a grandeza do poder, e a doçura do escondê-lo em terras estranhas. Porém para possuir, podia lisonjear e adormecer todo este encobrir o segundo rei, não só no seu cuidado; mas da nossa parte, e em nós, os nascimento, nem na sua infância, puerícia, ou Portugueses, além da dor do perdido, estava adolescência, senão na idade de varão perfeito com os olhos abertos ao remédio o amor, o em tantos anos, a traça com que o encobriu a desejo, e a necessidade. O amor ainda que é outros dois reis, que não menos lhe podiam tirar cego para ver, é lince para adivinhar: o desejo é a vida e a coroa, qual seria? Verdadeiramente um afecto sempre ardente e inquieto, que não milagrosa, e digna da Omnipotência Divina. sabe sossegar um momento: sobretudo a Dentro na mesma Espanha, dentro no mesmo necessidade da redenção, da liberdade, e de rei Portugal, e diante dos olhos dos mesmos reis, natural, era a que mais apertava os cordéis a escondeu e encobriu de maneira ao encoberto, este tormento, e tinha com a soga na garganta todos estes afectos. E como podia ser, que sendo eles tão vigilantes, e tendo sempre o IV. Certo que ponderar cabalmente esta direito da coroa, e a pessoa do rei a quem felicidade, será causa de não faltar nunca pertencia, diante dos olhos, de tal sorte a Portugal ao eterno agradecimento a S. José. Que encobrisse S. José, que a ninguém viesse ao uma vida (não sejamos ingratos, por não saber o pensamento ser ele o que o havia de recuperar"? que devemos a Deus), que uma vida, em que Mas em encobrir o nosso encoberto neste estavam fundadas as consequências, que hoje grande perigo de o declararem as evidências, ou se logram, apesar da emulação de dois reis, conjecturas de algum destes afectos, mostrou o debaixo de sua mesma jurisdição se Santo, quão alta e delicadamente observou as conservasse! Que nasça a décima sexta geração obrigações do ofício de o guardar: Custos nati de Portugal tão esperada, e que sendo décima Regis; equivocando milagrosamente um rei com sexta por três dias, nem o amor dos naturais, outro rei, e encobrindo um vivo com outro morto. nem os ciúmes dos estranhos em trinta e sete Perdeu-se, ou morreu na batalha de África el-rei anos o descobrisse! Vivo apesar de tantas D. Sebastião, e puderam tanto as saudades de advertências políticas, encoberto, apesar de um rei, que se tinha perdido a si e a nós, que tantas evidências manifestas! Grandes milagres sem se divertirem aonde deviam, deram em da Providência Divina; e este segundo, a meu esperar dele, e por sua vida e vinda, a nossa ver, ainda maior. E se não, pergunto: Qual foi a redenção; e este foi o altíssimo conselho, com razão, porque ordenou Deus que o libertador que que S. José, debaixo das cinzas do rei passado e havia de ser de Portugal, se conhecesse tantos morto, conservou e teve encoberto o rei futuro e anos antes no mundo, não pelo nome de vivo. Não vemos conservar-se vivo o fogo libertador, senão pelo nome de encoberto? A debaixo das cinzas que o encobrem? Pois assim razão foi; porque maior milagre da Providência conservou e encobriu S. José a vida de el-rei, que era conservá-lo encoberto, que fazê-lo libertador. Deus guarde, debaixo das cinzas de el-rei D. Fazê-lo libertador, foi deliberarem-se os homens Sebastião defunto. É o que diz expressamente a uma coisa muito útil; conservá-lo encoberto, Isaías, no capítulo 61. Promete Deus ali de foi cegarem-se os homens a uma coisa muito alegrar os tristes, de consolar os desconsolados, manifesta: e maior milagre é encobrir evidências de libertar os cativos, e conclui, que pelas cinzas ao entendimento, que persuadir conveniências à lhes dará a coroa: Ut mederer contritis corde: et vontade. O que todos ponderam, o que todos praedicarem captivis indulgentiam: ut consolarer admiram, o de que todos fazem maior caso é, omnes lugentes [Isaías 61, 1, 2 e 3.] e que se unissem, e concordassem as vontades de finalmente: Et darem eis coronam pro todo um reino, para fazer o que fizeram. Muito cinere. Assim estava Portugal triste, assim foi; mas bem considerado, não foi muito; porque, estava desconsolado, assim estava cativo, e que muito que as vontades dos homens se assim lhe prometia S. José a coroa perdida persuadissem a uma coisa tão útil, e tão debaixo das cinzas do rei morto reputado por honrosa, como ter reino, ter rei, ter liberdade, vivo; e assim conservava vivo e encoberto viver sem cativeiro e sem opressão? Porém que aquele que verdadeiramente havia de restituir o autor felicíssimo de todo este bem nascesse e aos tristes, desconsolados e cativos a coroa vivesse entre nós tão retratado pelos oráculos perdida. De maneira que encoberta a verdade divinos, e ainda nomeado pelo próprio nome, e o debaixo do engano, a esperança, debaixo da tivesse Deus encoberto, sem que o amor, nem a desesperação, a vida debaixo da morte, e a emulação, que são os dois afectos mais linces, o coroa debaixo das cinzas, aos príncipes descobrissem! Que o vissem os olhos, e que estranhos, que tudo isto tinham por riso, não guardasse segredo o entendimento! Que lhes dava cuidado o remédio; e os vassalos, suspirassem os desejos, e que não bastassem as amigos e naturais, que o tinham, pouco menos, maiores advertências! Dissimulado a evidências, quase por fé, com milagrosa providência, e encoberto a olhos vistos! Este é o maior enganada a sua dor, o seu amor, o seu desejo, e milagre, esta a maior maravilha, mas agora a sua necessidade, se consolavam e animavam exercitada, e muitos séculos antes já ensaiada: da falsa e equivocada esperança até que a por quem? Pelo autor da mesma protecção, S. verdadeira, debaixo dela encoberta, ao tempo José. destinado pelo Céu, lhe trouxe a felicidade que hoje logramos. Conta o Texto sagrado no quarto Livro dos Reis, capítulo onze, que em uma ocasião quiseram tirar a vida tiranicamente os herdeiros do sangue real de Israel ao menino Joás; porém que Josabá que apareceu a Moisés na sarça, é ser libertador o livrou do perigo, e o criou do povo oprimido do poder de um rei estranho, e escondidamente: Abscondit eum, ut non esta bênção se cumpriu em José, Esposo da interficeretur até que passados alguns anos, os Virgem; digam-me agora, os historiadores, nobres do povo se uniram, e todos com as armas quando se cumpriu esta bênção, senão na nas mãos entraram no paço real, e impedindo as restauração de Portugal. Viu o Santo as aflições guardas em um sábado, aclamaram por rei a deste povo verdadeiramente seu; e desceu do Joás, e o meteram de posse do reino, que lhe Céu a libertá-lo, guardando com particular pertencia, lançando do paço a Atalia, uma providência a vida do nosso felicíssimo senhora que então governava. Desta maneira libertador, como fez à de Cristo, segundo a refere o Texto este caso, e bem se vê, que é tão protecção que tomou em um e outro próprio do que sucedeu em Portugal, que se ao nascimento: Custos nati Regis, que foi o fim com nome de Joás se mudara o s, em m, se pudera que se desposou com a Virgem:Cum esset trasladar este capítulo, e escrever-se em nossas desponsata Mater Jesu Maria Joseph. crónicas. Bem está: mas quem fez isto? A quem se deve esta façanha! Quem há-de levar a glória V. Tenho acabado o sermão; de todo ele quisera desta maravilha? Quem? S. José. Diz Isidoro tirar somente uma coisa, queira o Senhor que Isolano que Josabá, a cuja indústria deve sua seja tão bem recebida nos ânimos de todos, vida e restituição Joás, foi figura de S. José, como é a todos necessária e importantíssima. O Esposo da Virgem Joseph profecto in Josaba que concluo de todo este discurso é, que deve o praefiguratus est, quae Joas Infantem clam reino de Portugal tomar solenemente a S. nutrivit, et aluit, ao regem Israel tandem José por particular advogado, e protector constituit. Hei-de construir as palavras ao pé da de sua conservação e aumentos. A razão que letra, para maior glória de S. José, e maior tenho para isto, é a mais eficaz, que pode ser: evidência do nosso caso. Joseph profecto in querer Deus que seja assim, nem nós devemos Josaba praefiguratas est. Verdadeiramente S. querer outra coisa. Sonhou el-rei Faraó que José foi figurado em Josabá: Quae Joas infantem haviam de vir a seu reino aqueles catorze anos clam nutrivit, et aluit: que guardou ao infante de vária fortuna, e dizendo-lhe que importava Joás vivo e encoberto: Ac regem Israel tandem prevenir-se de algum varão de grande constituit: e finalmente o fez rei de Israel, prudência, que superintendesse à conservação e metendo-o de posse do reino, que lhe tocava. E remédio do reino, Placuit Pharaoni consilium [O não é isto mesmo, o que fez S. José com o rei e conselho agradou ao Faraó» Génesis 41, reino de Portugal? Nem o caso pode ser mais 37], contentou o conselho ao rei, e voltando-se próprio; nem eu quero dizer mais nesta matéria. para José, disse: Nunquid sapientiorem, et consimilem tui invenire potero ? [“não há Estas são as obrigações em que S. José tem ninguém tão inteligente e sábio como tu”; empenhado a Vossa Majestade, Senhor; e as Génesis 41, 39.] Porventura, José, posso eu consequências delas são, que assim como S. achar algum que seja mais sábio, mais prudente, José não só foi Salvador do Salvador, senão e em cujas mãos e conselho esteja mais segura também do mundo; assim não foi só Salvador do minha monarquia? O ceptro e a coroa ponho nosso Libertador, senão também do Reino debaixo do vosso patrocínio, mandai, ordenai, libertado. Espero em Deus que o hei-de provar despendei, não como vassalo, mas como pai. O literalmente. Benedictio illius, qui apparuit in mesmo digo no nosso caso. rubo, veniat super caput Joseph [Deuteronómio 33, 16.] A bênção daquele que apareceu na Isidoro de Isolano já acima alegado, autor, que sarça, desça sobre José. Esta bênção foi lançada há muitos anos que escreveu, admirando-se ao patriarca José, e diz o Pelusiota e outros, que muito de que em seu tempo não fosse celebrado se cumpriu em S. José, Esposo da Virgem. E qual na Igreja o glorioso S. José, conclui foi a bênção daquele, que apareceu na sarça a assim: Suscitabit Dominus sanctum Joseph ad Moisés? Ele mesmo o disse: Vidi afflictionem honorem nominis sui, caput, et patronum populi mei, et descendi ut liberem eum [“eu vi, peculiarem imperii militantis Ecclesiae.Esteja eu vi a miséria do meu povo, por isso desci a fim embora esquecido por agora S. José, e não seja de libertá-lo” Êxodo 3, 7 e 8.] Vi a aflição do meu sua memória tão celebrada como merece; que povo debaixo do poder de um rei estranho, e Deus levantará este grande santo a seu tempo, desci do Céu a libertá-lo. Pois se a bênção do para que seja particular padroeiro do seu império na Igreja militante: Patronum peculiarem imperii militantis Ecclesiae. Duas coisas havemos de saber para entendimento destas palavras: uma, quando se começou a celebrar S. José; outra, qual é no mundo o império de Cristo. O tempo em que se começou a celebrar S. José, foi pontualmente depois da perda de el-rei D. Sebastião, de triste memória, e antes da felicíssima restituição à coroa de el-rei D. João nosso senhor; para que posto entre a ruína do Reino, e o remédio: compadecido da ruína, a remediasse. E o império de Cristo qual é? O mesmo Senhor foi servido de no-lo explicar, quando disse a nosso fundador, o senhor rei D. Afonso Henriques: Volo in te, et in semine tuo imperium mihi stabilire. Quero em vós, e em vossa descendência estabelecer o meu império. Pois se Deus levanta no mundo a S. José, quando quer levantar a Sua Majestade por rei: se o império de Cristo na Igreja militante somos nós; e S. José há-de ser particular padroeiro deste império: que resta, senão que efectivamente se conclua de nossa parte, que é o constituir e reconhecer com pública solenidade a S. José por protector particular do reino de Portugal, e sua conservação; dizendo a este José, o que os Egípcios disseram ao outro: Salus nostra in manu tua est, respiciat nos tantum Dominus noster, et laeti serviemus regi [“Tu nos salvaste a vida! Achemos graça aos olhos de meu senhor e seremos os servos do Faraó.”; Génesis 47, 25]?