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A ANTROPOLOGIA NUMA

ERA DE CONFUSÃO*

David Maybury-Lewis

Quando a Anpocs me honrou com o convi- mente no começo da antropologia; que conside-
te para pronunciar uma conferência em seu en- rem o que ela tentou fazer e se pode continuar a
contro anual – convite que aceitei antes dos acon- fazê-lo. Tais reflexões são inevitavelmente idios-
tecimentos do último 11 de setembro – escolhi sincráticas. Cada um de nós provavelmente re-
como título A Antropologia numa era de confu- constrói a história da antropologia de uma manei-
são. Certamente eu não fazia idéia naquele mo- ra diferente, mas acredito que exista consistência
mento de quão sinistramente apropriado o título suficiente nessas genealogias para os propósitos
havia de se tornar. O ataque terrorista aos Estados muito gerais destas primeiras linhas.
Unidos mostrou dramaticamente – muito mais Acredito que a antropologia emana de um
dramaticamente do que todos os nossos escritos impulso tão antigo quanto a humanidade, da cu-
sobre a globalização – o grau de confusão de nos- riosidade sobre os outros povos combinada com
sos tempos. Essa confusão, ou melhor, essas con- a introspecção a nosso próprio respeito, quem
fusões são acompanhadas, lamento dizer, pela quer que acreditemos ser. Ela deriva da especula-
confusão na antropologia. Tentarei, portanto, de- ção sobre a natureza humana, sobre o que signi-
semaranhar neste texto algumas delas. fica ser mulher ou homem, e de um desejo de en-
Primeiro, para colocá-las em perspectiva, pe- tender a variedade da cultura humana.
direi a meus leitores que pensem retrospectiva- Em minha reconstrução do início da antro-
pologia, gosto de começar com Heródoto. Esco-
lho-o como primeiro ancestral por causa de seu
* Conferência pronunciada na abertura do XXV Encontro relativismo e considero o relativismo fundamental
Anual da Anpocs, 2001. Tradução de Plínio Dentzein. para a boa antropologia. Não me refiro ao relati-

RBCS Vol. 17 no 50 outubro/2002


o
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vismo do tipo “vale tudo” de que os antropólogos como Montaigne que, num famoso ensaio sobre
são às vezes injustamente acusados.1 Esse tipo de canibalismo, chegou a assumir uma atitude relati-
relativismo insistiria em que não podemos conde- vista em relação a essa prática, observada na
nar as práticas de outros povos, por mais repreen- América do Sul e que costumava atrair a condena-
síveis que as consideremos, na medida em que ção mais dura da parte dos europeus. Ele dizia
elas são aprovadas pelas culturas desses povos. que os europeus, que se declaravam chocados
Ao contrário, o tipo de relativismo que respeito pelo canibalismo, em realidade eram responsáveis
no pensamento de nossos antecessores e contem- por torturas e barbaridades piores, e resumia seu
porâneos é um relativismo que suspende o juízo argumento dizendo: “Podemos assim chamar de
sobre os costumes de outros povos para melhor bárbaros a esses povos em relação às leis da ra-
compreender seus modos de vida e, tanto quanto zão, mas não em relação a nós mesmos, que os
possível, sem preconceitos. Este entendimento ultrapassamos em todo tipo de barbaridade”
não se apressa em julgar, mas também não foge (Montaigne, 1578 [1960], p. 215).2
ao julgamento. Seu propósito é melhorar nossa Às posições de Las Casas e Montaigne opu-
capacidade de fazer julgamentos fundamentados. nham-se as de Sepúlveda e dos conservadores, que
Volto até Heródoto, portanto, por causa do argumentavam que os invasores europeus das
relativismo de suas posições e também para nos Américas eram demonstravelmente civilizados, ao
ajudar a lembrar que o relativismo razoável não é passo que as populações nativas não o eram. Estas
uma invenção moderna. Tal relativismo, entretan- eram selvagens e deviam ser tratadas como tais. O
to, sempre gerou oposição, mesmo na época de espírito de Sepúlveda ainda vive e inspira os argu-
Heródoto. Para um pensador grego do século V a. mentos daqueles que mesmo hoje desprezam a ca-
C. era necessária uma notável tolerância para ob- pacidade dos povos indígenas e argumentam con-
servar que os arquiinimigos dos gregos, os persas, tra o reconhecimento de seus direitos.
consideravam seu próprio modo de vida superior Mas a tolerância fundamentada de Las Casas
ao daqueles. Além disso, em seu amplo levanta- ganhava adeptos no século XVIII à medida que o
mento dos povos do mundo antigo, Heródoto ob- racionalismo ganhava a Europa. Giambattista Vico
serva que toda sociedade tem suas próprias van- acreditava que já era possível uma ciência da his-
tagens e desvantagens e que não deveríamos nos tória. Enquanto isso, a expansão européia do final
precipitar em julgar outros povos segundo nossos do século XVIII e início do XIX prenunciava a imi-
próprios padrões. Foi por isso criticado por Plu- nente possibilidade de uma ciência da sociedade –
tarco, acusado de simpatizante dos bárbaros. ou pelo menos uma ciência das sociedades. Os im-
É claro, então, que a batalha em torno do perialistas europeus conquistavam vastas exten-
relativismo cultural no pensamento ocidental co- sões de território em todo o mundo e enviavam
meçou há muitos séculos. Este não é o lugar para emissários para estudar os povos que neles vi-
remontar a história dessa luta contínua, mas cabe viam. Dados sobre a população da terra fluíam –
a nós, os estudiosos reunidos no encontro anual para escritórios coloniais, museus, sociedades
da Anpocs, lembrarmos, ainda que de passagem, científicas, organizações missionárias e grande nú-
o desafio específico que se apresentou aos pensa- mero de instituições oficiais e não oficiais que ti-
dores do Velho Mundo com a invasão européia vessem interesse nos povos das colônias e, por
das Américas e o esforço deles para entender os extensão, nos povos do mundo “não civilizado”.
povos e as culturas do Novo Mundo. Esses dados eram logo analisados e ordenados
O célebre debate entre Las Casas e Sepúlve- “cientificamente” em termos da teoria social evo-
da na corte espanhola em 1550 reuniu uma vez lucionista que aplicava princípios neodarwinistas
mais os argumentos a favor e contra uma tolerân- ao estudo da história e da sociedade humanas.
cia razoável em relação a outros modos de vida. Um dos principais problemas com a teoriza-
Las Casas argumentava a favor da tolerância e ção evolucionista era que ela tendia a eliminar a
apoiava-se nas posições de contemporâneos tolerância razoável em relação às outras socieda-
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des e a substituí-la pelo desdém evolucionista. Os tamentos de antropologia (como o de Oxford,


evolucionistas sociais acreditavam possuir crité- onde obtive meu doutorado) mudaram os nomes
rios científicos que lhes permitiam ordenar as so- de seus programas para refletir essa convergência.
ciedades num gradiente de menos a mais civiliza- Enquanto isso, a idéia de cultura passou a
das. Não é de surpreender que classificassem as ser adotada por outras disciplinas e se tornou
sociedades não ocidentais como as menos civili- parte tanto do discurso acadêmico como do dis-
zadas, por comparação com as ocidentais, que curso popular. Nos últimos anos, a cultura pare-
não só eram as mais civilizadas, mas também, ce estar em toda parte. As pessoas falam de “cul-
convenientemente, produziam os estudiosos que tura corporativa”, “cultura adolescente”, “cultura
desenvolviam essas classificações. da polícia” e assim por diante, quase ao infinito.
Ao final do século XIX, essas classificações É como se cada grupo ou categoria de pessoas ti-
começavam a ser atacadas por uma nova geração vesse uma cultura. Infelizmente, esse amplo inte-
de antropólogos que argumentavam que a teoria resse pela idéia de cultura, que poderia ter anun-
social evolucionista se baseava em inferências ciado uma nova era em que o estudo da cultura
equivocadas extraídas de dados etnográficos pou- ocupasse um lugar central nas ciências sociais e
co fidedignos. As conseqüências dessas inferências nas humanidades, surgiu exatamente quando os
eram graves, pois davam apoio supostamente antropólogos começavam a ter sérias dúvidas so-
“científico” a classificações questionáveis e ineren- bre o conceito.
temente racistas. Nos Estados Unidos, Franz Boas Essas dúvidas faziam parte de uma crítica ge-
e seus discípulos eram os que insistiam na neces- ral das teorias, dos métodos e das conclusões an-
sidade de um melhor trabalho de campo para dar tropológicas que se desenvolvia a partir dos movi-
base a uma antropologia cultural empiricamente mentos conhecidos como pós-colonialismo e pós-
fundada que, por sua vez, mostraria a debilidade modernismo, ou, resumindo, POCO e POMO.3 O
das teorias sociais evolucionistas. Na Europa oci- POCO observava que as análises de outras socie-
dental, uma nova geração de antropólogos tam- dades produzidas pelos antropólogos que trabalha-
bém insistia em um melhor trabalho de campo a vam em situações coloniais eram suspeitas porque
serviço de uma antropologia social científica que manchadas pelas assimetrias e vieses da situação
também desconfiava da teoria evolucionista. Mas colonial. O POMO generalizava essa dúvida, argu-
os europeus, particularmente os antropólogos so- mentando que toda investigação antropológica es-
ciais britânicos, também tinham dúvidas sobre a tava manchada de maneira semelhante, a menos
antropologia cultural de Boas. Ocupavam-se, em que tivesse sido realizada por estudiosos conscien-
vez disso, da análise da estrutura social. Pelo me- temente pós-modernos. Em verdade, os pós-mo-
nos um de seus teóricos principais, A. R. Radcliffe- dernos mais estritos pareciam aproximar uma espé-
Brown, referia-se à estrutura social como uma rea- cie de niilismo segundo o qual seria virtualmente
lidade concreta e observável, por contraste com a impossível reunir dados confiáveis ou desenvolver
cultura, que considerava uma abstração vaga (Rad- análises confiáveis a partir deles.
cliffe-Brown 1940 [1965], p. 190). A abordagem do POMO teve o mérito de tor-
O enfrentamento entre antropólogos cultu- nar os antropólogos agudamente conscientes das
rais e antropólogos sociais estendeu-se por déca- fontes de distorções em seus próprios dados, espe-
das em meados do século XX, mas foi eventual- cialmente aqueles relacionados com as circunstân-
mente abandonado. Passou a ser, em geral, aceito cias sob as quais o trabalho de campo fora realiza-
que a antropologia cultural incluía o estudo da es- do e do relacionamento do investigador(a) com os
trutura e que a antropologia social inevitavelmente povos que investigara. Mas se se concluir a partir
se ocupava da cultura. De fato, a antropologia es- disso que os dados antropológicos previamente co-
trutural defendida por Lévi-Strauss ocupava-se das ligidos seriam dúbios e que os futuros dados mais
estruturas da cultura assim como das estruturas da confiáveis seriam virtualmente impossíveis de coli-
sociedade. De maneira lenta, mas segura, os depar- gir, isso claramente colocaria um problema sério e
o
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potencialmente letal para a antropologia. Se os mé- mos adotar uma nova abordagem à cultura que evi-
todos da antropologia, particularmente o trabalho te os erros do passado. O que não devemos fazer,
de campo por meio do qual a disciplina se estabe- acredito, é abandonar o termo de vez. Isso seria jo-
leceu, são pouco confiáveis e a teoria antropológi- gar fora o bebê com a água do banho.
ca está assim marcada na fonte, então não fica cla- Fiquei satisfeito ao ver que havia outros es-
ro quais resultados ela poderia produzir nem por tudiosos que concordavam com esta posição e
que as pessoas deveriam dar qualquer atenção ao que defendiam a utilidade do conceito de cultura
que os antropólogos têm a dizer. no debate organizado por Richard Fox e publica-
Foi no meio desse processo de introspecção do na Current Anthropology em 1999. Acredito
e conscientização que o conceito central da antro- que se abandonássemos o conceito de cultura
pologia – cultura – também começou a ser ataca- simplesmente teríamos de reinventá-lo.4 Cultura se
do. A cultura sempre foi notoriamente difícil de refere, ainda que de modo impreciso, a algo cen-
definir, mas a maioria dos estudiosos a concebia tral à vida e ao pensamento humanos e, portanto,
como um conjunto padronizado e coerente de a algo que deve ser importante para a antropolo-
idéias que constituíam a visão de mundo e de si gia. A maioria das pessoas acredita participar de
mesmo de um dado povo. Entretanto, os críticos um modo de vida, e isso é uma parte importante
diziam que a cultura não era claramente demarca- de sua identidade. Esse é um fato social que,
da, tanto em termos conceituais quanto em ter- como antropólogos, temos de nos esforçar por
mos demográficos. O que quer dizer que as idéias entender. Precisamos com efeito entender o que
num sistema cultural não seriam necessariamente as pessoas pensam que é sua cultura e o que ela
coerentes nem consistentes. Como conseqüência, significa para elas. Isso não nos impedirá de ana-
também não seriam necessariamente sistemáticas, lisar seus próprios equívocos, assim como não
nem serviriam como modelo para o pensamento nos impediu de analisar os velhos equívocos an-
e a ação. Além disso, raramente se encontrariam tropológicos que dizem respeito à cultura. Não
grupos identificáveis e bem marcados de pessoas deve nos incomodar que as pessoas tendam a es-
que vivessem segundo as idéias das culturas, sis- sencializar suas culturas. Ao contrário, aprende-
temáticas ou não. As concepções antropológicas mos bastante sobre as pessoas a partir da nature-
da cultura, assim argumentavam seus críticos, não za dessas essencializações.
davam conta da mudança ou da agência indivi- Tenho uma certa simpatia pelo líder aborígi-
dual (ver Ortner, 1984). Não davam o peso devi- ne australiano mencionado numa palestra por Jo-
do às histórias subalternas (ver Trouillot, 1995). nathan Friedman que disse ao antropólogo visi-
Chegavam a desumanizar o povo que aspiravam tante: “Eu sou um essencialista e se você não gos-
a entender (ver Abu-Lughod, 1991). Assim, a des- tar, suma-se” (exceto que a expressão que ele
peito do fato de que cultura era um conceito cen- usou era mais picante que “suma-se”!). O funda-
tral da antropologia sociocultural, ele teria sido mal mental é que as idéias das pessoas sobre seu modo
construído e mal utilizado pelos próprios especia- de vida, o que é importante nele, quem o compar-
listas que o empregavam. Eles não teriam analisa- tilha, aquilo sobre o que concordam ou discordam,
do a cultura como processo, como debate, como se querem ou não mudá-lo e como, de quais os as-
campo de contestação. Não teriam levado na devi- pectos dele que aceitam ou estão ansiosos por li-
da conta o fato de que as idéias de uma cultura se vrar-se – todas essas e muitas mais são criticamen-
confundiam com as de outras culturas, assim como te importantes. Essa informação nos diz quem elas
de que os portadores de uma cultura não eram um pensam que são e o que isso significa para elas.
grupo claramente delimitado. Tais equívocos po- Isso é especialmente verdade dos povos in-
dem ser corrigidos. Aprendemos dos pós-moder- dígenas, para os quais agora me volto, pois são e
nistas uma nova autoconsciência que melhora nos- sempre foram uma preocupação central em mi-
sas análises atuais, desde que recusemos que ela nhas pesquisas e nos meus esforços no campo
paralise nossa pesquisa. De modo análogo, pode- dos direitos humanos. É importante observar des-
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de o começo que povos indígenas não são sim- mente uma questão de grau. Quanto mais autono-
plesmente aqueles que chegaram primeiro a um mia e mais capacidade o grupo tiver de adminis-
dado território. Tal definição funciona muito bem trar a mudança em lugar de ser destruído por ela,
em lugares como as Américas ou a Austrália, mas tanto maior a possibilidade de sobrevivência de
é insatisfatória na África e na Eurásia, onde dife- sua cultura. O grupo certamente pode abandonar
rentes populações se deslocaram entre territórios aspectos centrais de sua cultura. Em tais casos,
por centenas e mesmo milhares de anos. Uma de- muitas vezes é algo a ser debatido entre seus tra-
finição melhor seria um povo que foi conquista- dicionalistas e seus modernistas se a cultura está
do, subordinado e marginalizado por um Estado ou não sobrevivendo.
estrangeiro (ver Maybury-Lewis, 1997, pp. 6-7). Blake avança outros argumentos que consi-
Esses povos lutam em todo o mundo para manter dero aqui porque são freqüentemente utilizados
suas culturas. Nas Américas, essa é um luta de contra o direito dos grupos à sobrevivência cultu-
quinhentos anos que ainda continua. É uma histó- ral. Ele sugere que só os românticos e sentimen-
ria amarga, mas também uma notável história de tais lutam pela sobrevivência cultural. Já que a
perseverança. mudança é inevitável, as culturas desaparecem o
Na minha experiência, os povos indígenas tempo todo. Por que deveríamos lamentar isso?
têm idéias definidas sobre suas culturas e sobre o Pode até ser bom que as culturas que não podem
que constitui a essência delas, embora possam competir com sucesso desapareçam e que as que
discordar, e discordar agudamente, sobre essas sobrevivem se tenham mostrado as mais capazes
questões. Também na minha experiência, esses numa espécie de competição neodarwinista.
povos não se envergonham de dizer a estranhos Note-se que quando somos questionados so-
que estão lutando pela sobrevivência cultural. E, bre por que deveríamos lamentar se alguma cul-
no entanto, eles são hoje atacados com uma bate- tura não sobrevive, estamos sendo questionados
ria de argumentos que tenta mostrar que sua so- por que deveríamos lamentar se a cultura de ou-
brevivência cultural é, ao mesmo tempo, impossí- tros povos não sobrevive. Normalmente nos preo-
vel e indesejável. cupamos muito com nossa própria cultura e nos-
Filósofos como Michael Blake argumentam so próprio modo de vida, como deixaram claro as
(Blake, 2000) que a sobrevivência cultural é im- intensas discussões em todo o mundo depois do
possível, dado que uma cultura está em mudança 11 de setembro. Além disso, é pouco provável
perpétua e não pode ser posta no congelador. que eu, que escrevo estas linhas, e você, que as
Essa formulação é, contudo, condescendente e lê, acordemos um dia num mundo em que não
equivocada. A sobrevivência cultural não é uma haja mais ninguém que fale nossa língua. E, no
coisa que nós, os poderosos, fazemos para outros, entanto, as línguas estão morrendo num ritmo no-
os menos poderosos. Não é questão de preservar tável. Das aproximadamente seis mil línguas ain-
a cultura de um povo como que num museu; com da faladas no mundo, cerca de metade estão mo-
o corolário de que, se um povo perder ou aban- ribundas no sentido em que não são ensinadas às
donar certos traços culturais, sua cultura não terá crianças. As cerca de três mil restantes podem es-
sobrevivido. Em suma, a sobrevivência cultural tar reduzidas a 300-500 num futuro previsível. Tra-
não é a preservação cultural. Os povos nativos ta-se de uma taxa de extinção de línguas que su-
não perderam suas culturas quando abandonaram pera as estimativas dos biólogos mais pessimistas
o arco e a flecha, assim como os norte-americanos quanto à extinção de espécies.
não perderam a sua cultura quando abandonaram A morte de uma língua e de uma cultura são
o cavalo e a charrete. desorientadoras para os indivíduos e empobrece-
Sabemos que a cultura é um processo. Por- doras para a espécie humana. A diversidade cul-
tanto, quando falamos de sobrevivência cultural, tural e a comunicação entre culturas são os recur-
queremos dizer que os portadores da cultura con- sos mais importantes da humanidade e devem ser
trolam esse processo. Esse controle é invariavel- encorajadas e não abandonadas como questões
o
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marginais. É importante lembrar que as culturas vai afiançar a cultura de povos como os oneida ou
não desaparecem por causa das leis abstratas da acabará por destruí-la?
história. São com muita freqüência subjugadas e Os oneida são um caso benigno quando
destruídas. Não preciso descrever aqui as muitas comparados com os enormes cassinos construídos
maneiras pelas quais se tentaram destruir as cultu- pelos pequot mashantucket e pelos mohegans no
ras indígenas. Muitos livros foram escritos descre- Estado de Connecticut, Estados Unidos. Trata-se
vendo os ataques às línguas e culturas de povos dos maiores cassinos do mundo e trouxeram rios
indígenas, descrevendo a ruptura de suas comuni- de dinheiro que alteraram dramaticamente as vi-
dades, a proibição de seus rituais, o rapto de suas das de todos os que viviam na vizinhança, que era
crianças. Essas eram (e são) medidas clara e inten- uma parte tranqüila do Connecticut rural. Os cas-
cionalmente etnocidas que ainda são enfrentadas sinos também alimentaram uma reação contra os
por organizações indígenas e pró-indígenas. indígenas entre os não indígenas da área, o que
E o que dizer sobre medidas etno-suicidas? E resultou, entre outras coisas, em esforços incansá-
sobre as mudanças que não são forçadas mas pro- veis da parte dos residentes locais para impedir
curadas pelos povos nativos? E sobre a extinção que outros grupos nativos, como os pequots
da língua que resulta da assimilação dos nativos orientais, recebessem reconhecimento federal
pelos Estados onde vivem? Tais tendências muitas como tribos indígenas.
vezes opõem tradicionalistas e modernistas, cada Ao mesmo tempo em que os povos indígenas
um dos lados argumentando que o seu é o me- estão à procura de estratégias que permitam a so-
lhor, quando não o único caminho para assegurar brevivência de suas culturas, eles têm de enfrentar
a viabilidade de seu modo de vida. A construção aqueles que insistem em que essa sobrevivência
de cassinos é um desses casos e é uma questão deve ser impedida, porque enfraquece o Estado.
intensamente debatida nos Estados Unidos. De- Esse argumento assume várias formas. Em sua
fensores dos cassinos dizem que a renda que eles versão mais forte, sustenta que tolerar a sobrevi-
trazem garante a sobrevivência cultural das comu- vência cultural dos povos indígenas significa outor-
nidades nativas que os operam. Os opositores gar-lhes autonomia local, o que os levaria a sepa-
afirmam que os povos indígenas estão fazendo a rar-se do Estado. O argumento é uma grosseira fal-
si mesmos com os cassinos o mal que os brancos ta de compreensão ou então é fruto de má fé (ver
não conseguiram fazer em 500 anos. Maybury-Lewis, 2002, p. 32). A grande maioria dos
A defesa dos cassinos foi feita de maneira povos nativos hoje não querem se separar dos Es-
eloqüente por Patty Hoeft (1993), que mostrou tados em que vivem. Em lugar disso, pedem auto-
como o cassino na reserva oneida em Wisconsin, nomia limitada dentro desses Estados. Governos
Estados Unidos, fez a área reviver economicamen- que invocam o espectro da secessão normalmente
te. Os lucros são investidos na região, de modo o fazem sabendo perfeitamente bem que isso não
está em questão, porque não querem conceder aos
que as pessoas não precisam mais sair para en-
nativos direitos dentro do Estado.
contrar emprego em outro lugar. Agora existem
De modo alternativo, alguns governos afir-
empregos entre os oneida tanto para os indígenas
mam que conceder direitos aos indígenas prejudi-
como para os não indígenas. A renda do cassino
ca o Estado porque os povos indígenas “são obs-
paga um centro comunitário, creches, escolas e
táculos ao desenvolvimento”. Isso também não é
centros de saúde, e também subsidia o departa-
verdade. O que esse argumento oculta é que os
mento de polícia e casas e apartamentos para a povos indígenas reclamam o reconhecimento de
crescente população do distrito. Certamente a ex- seus direitos a certos recursos que outras pessoas
periência dos oneida com o jogo foi positiva, na gostariam de lhes tomar, o que é uma questão in-
medida em que não esmagou os nativos, que fo- teiramente diferente.
ram capazes de investir os lucros cuidadosamente Finalmente, muitas vezes se diz que o reco-
e de maneira a reforçar a sociedade civil na reser- nhecimento dos direitos dos indígenas solapa o Es-
va. Mas o debate continua. A longo prazo, o jogo tado porque este não pode tolerar “quistos étnicos”
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dentro dele. Esse é o clássico argumento conserva- modelo iluminista? Mas sempre foi assim. É que se
dor contra o pluralismo étnico e se baseia numa está fazendo um esforço em todo o mundo para
teoria do Estado ultrapassada. A visão iluminista do repensar o Estado, para entender as novas rela-
Estado imaginava que, na medida em que ele se ções entre nações e Estados e as novas relações
modernizasse, protegeria os direitos individuais, que são tanto externas quanto internas ao Estado.
encorajaria a liberdade, a igualdade e a fraternida- O Estado, como a cultura, deixou de ser bem
de e assistiria à evaporação da etnicidade. E, no en- delimitado e claramente definido. Não é claro quem
tanto, Estados modernos desse tipo nunca foram pertence a ele. Também não é claro o que seus
realizados, nem mesmo na Europa, que foi alguma membros têm em comum, da mesma forma que são
vez considerada a vanguarda da modernidade. Em pouco claras a natureza e a amplitude de sua sobe-
vez disso, há um reconhecimento crescente e am- rania. O Estado, enfim, está lutando para conter e
plo de que a supressão da etnicidade e a assimila- controlar os fluxos de informação, dinheiro, pes-
ção forçada de minorias em geral não funcionou. soas e outros recursos que cada vez mais escapam
As Américas são um bom exemplo. Depois de qui- à sua autoridade. Além disso, o Estado contempo-
nhentos anos de insistência em que os povos indí- râneo não mais compete principalmente com ou-
genas deveriam fundir-se na sociedade circundan- tros Estados. Agora ele tem de enfrentar redes de
te ou ser assimilados por ela, pela força se neces- todos os tipos. As redes financeiras e dos negócios
sário, os países estão abandonando essa insistência são as mais óbvias dentre elas. São as mais citadas
e passam a proclamar-se multi-étnicos. Esse é espe- nas discussões da globalização. Mas, aos poucos,
cialmente o caso naqueles países em que a moder- vamos tomando consciência do fato de que outras
nização e a construção da nação envolvem popu- redes, menos benignas, de traficantes de drogas,
lações indígenas substanciais. guerrilheiros e terroristas, vêm adquirindo influên-
É significativo que as duas maiores nações cia crescente em períodos recentes.
das Américas que não se proclamaram multi-étni- Neste momento, os Estados Unidos estão em
cas sejam os Estados Unidos e o Brasil. Isso acon- guerra com uma rede, cuja localização e membros
teceu porque as populações indígenas dos dois são incertos. Enquanto isso, os dois lados afirmam
países são marginais a suas identidades nacionais. agir em defesa de suas culturas. Cada um dos la-
Mas, embora esses países não se apressem em de- dos alude com grandiloqüência à sua civilização e
clarar-se multi-étnicos na lei, a verdade é que vi- proclama ter embarcado numa cruzada ou jihad.
vemos num mundo em que, virtualmente, todos Acredito que esse é precisamente o tipo de ema-
os Estados são multi-étnicos de fato. A única dife- ranhado conceitual que os antropólogos devem
rença é que alguns deles o admitem e procuram tentar esclarecer.
acomodar as diferenças culturais dentro do Esta- Em primeiro lugar, não estamos diante de
do, enquanto outros o negam e procuram elimi- um “choque de civilizações” do tipo sugerido por
nar as diferenças culturais insistindo na assimila- meu colega de Harvard, Samuel Huntington
ção. O século XX nos mostrou que a última estra- (1993), ainda que (ou talvez precisamente por-
tégia raramente funciona. Ao contrário, ela serve que) grande parte do público norte-americano e
para incubar o conflito étnico, que tenderá a ir- alguns “por dentro” de Washington pareçam acre-
romper com mais virulência porque se tentava su- ditar que as coisas estão acontecendo exatamente
primi-lo. como Huntington previu. Sua tese era a de que os
O século XX inaugurou a era da confusão, principais conflitos do futuro não seriam ideológi-
cujos efeitos estamos sentindo agora no século cos ou políticos, mas culturais. Esses conflitos se-
XXI. Boa parte dessa confusão diz respeito à cri- guiriam as linhas que separam as principais civili-
se do Estado-nação, que foi solapado e ultrapas- zações do mundo que seriam, segundo seu esque-
sado ao mesmo tempo em que perdia muito de ma, a ocidental, a confuciana, a japonesa, a islâ-
sua força e autoridade. Mas, quando as pessoas mica, a hindu, a eslávica-ortodoxa, a latino-ameri-
escrevem sobre a crise do Estado-nação, o que es- cana e possivelmente a africana. A tese foi critica-
tão dizendo? Que ele está para desaparecer? Acho da por especialistas, que observaram que há tan-
que não. É por que os Estados se afastaram do to conflito dentro das civilizações de Huntington
o
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quanto entre elas. Isso foi, por exemplo, clara- por isso que comecei o texto lembrando que a an-
mente demonstrado no Afeganistão, onde as lutas tropologia foi sempre extraordinariamente ambi-
mais intensas e brutais tiveram lugar entre muçul- ciosa. Ela precisa continuar essa tradição e trazer
manos de etnias diferentes e de diferentes orien- sua análise clara e relacional para as categorias es-
tações políticas. Os antropólogos e os historiado- maecidas e desordenadas desta era de confusão.
res têm qualificações especiais para fazer esse tipo Agora, mais que nunca, é imperativo que a antro-
de crítica à tese de Huntington, porque são espe- pologia continue a fazer o que sempre fez, isto é,
cializados no detalhe local e podem mostrar as desenvolver a compreensão relativista de outras
fraquezas das generalizações de Huntington. culturas e civilizações para promover a tolerância
Mas as futuras contribuições da antropologia fundamentada. Acima de tudo, a antropologia
podem ser mais importantes do que simplesmen- deve intensificar o esforço que sempre fez de
te insistir em que nosso conhecimento local der- compreender as categorias que as pessoas utili-
rube as generalizações de Huntington ou de qual- zam para dar sentido a um mundo que parece es-
quer outro teórico. A pesquisa antropológica é es- tar enlouquecendo.
pecialmente adequada para o que chamei de era
da confusão. Os antropólogos já fazem pesquisas
sobre as redes que são tão características dos nos- NOTAS
sos tempos. E, o que é ainda mais importante, os
antropólogos estão qualificados e em boa posição 1 Para uma discussão do relativismo sério, ver May-
para ampliar suas técnicas de pesquisa, que con- bury-Lewis, 2002, pp. 126-127.
sistem em se concentrar no particular para ilumi- 2 Utilizo neste trabalho a convenção segundo a qual
nar o geral. O foco antropológico no particular é uma data que consta como, por exemplo, 1578
[1960], indica que o item foi escrito em 1578 e que
coisa sabida e, às vezes motivo de piada. Fomos
eu o cito de sua reprodução numa publicação de
muitas vezes criticados por sermos localistas ao 1960.
mais alto grau, que só raramente e com dificulda-
3 Uma boa discussão dos motivos que incentivaram
de somos capazes de enxergar o quadro geral.
esta introspecção pode ser encontrada em Marcus e
Mas esse é um equívoco ultrapassado. Há muito Fischer, 1986.
tempo os antropólogos começaram a fazer suas
4 Brumann diz o mesmo em sua resposta na Current
análises no âmbito do Estado e à procura de en-
Anthropology, 1999, p. S24.
tender os sistemas internacionais.
Hoje, e nesta era, a análise antropológica
precisa tentar ser cada vez mais relacional. Sabe- BIBLIOGRAFIA
mos que o entendimento antropológico começa
no âmbito da comunidade com o conhecimento ABU-LUGHOD, Lila. (1991), “Writing against cul-
local. Já relacionamos esse conhecimento à ma- ture”, in R. G. Fox (org.), Recapturing
neira como as pessoas pensam e agem em suas anthropology, Santa Fe, School of Ameri-
culturas ou modos de vida. Além disso, e concor- can Research.
dando com Huntington, precisamos estar atentos BLAKE, Michael. (2000), “Rights for people, not
às civilizações com que as pessoas que estudamos for cultures”. Civilization.
se identificam. Em desacordo com Huntington,
BRUMANN, Christoph. (1999), “Writing for culture :
precisamos manter um certo ceticismo quanto à
why a successful concept should not be
consistência e às propriedades causais das civili-
Discarded”. Current Anthropology, 40, Sup-
zações, do modo como já fazemos em relação à
plement.
cultura. Ao mesmo tempo, nossas análises devem
incluir os Estados que tentam pôr ordem nisso FOX, R. G. (1999), “Editorial: culture – a second
tudo e as redes que atravessam esses Estados. chance?”. Current Anthropology, 40,
É claro que o que acabo de esboçar é um Supplement.
empreendimento fantasticamente ambicioso, e é
A ANTROPOLOGIA NUMA ERA DE CONFUSÃO 23

HOEFT, Patty. (1993), “Gaming: the oneida expe-


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178 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 17 Nº. 50

A ANTROPOLOGIA NUMA ERA ANTHROPOLOGY IN L’ANTHROPÓLOGIE


DE CONFUSÃO A CONFUSION ERA DANS UNE ÈRE DE
CONFUSION

David Maybury-Lewis David Maybury-Lewis David Maybury-Lewis

Palavras-chave Keywords Mots-clés


Antropologia; Cultura; Sobrevivên- Anthropology; Culture; Cultural Anthropologie; Culture; Survie cul-
cia cultural; Teoria antropológica. Survival; Anthropological Theory. turelle; Théorie anthropologique.

A Antropologia sempre procurou The study of anthropology has L’anthropologie a toujours cherché à
entender a natureza humana e as always tried to understand the comprendre la nature humaine et la
variedades da cultura humana. Esta human nature and the varieties of diversité de sa culture. Cette tâche
tarefa ambiciosa enfrentou constan- human culture. Such ambitious task ambitieuse a affronté, de manière
temente dificuldades teóricas e me- has constantly faced methodological constante, des difficultés théoriques
todológicas. A teoria da evolução and theoretical difficulties. The so- et méthodologiques. La théorie de
social foi apresentada como sendo called social evolution theory has l’évolution sociale a été présentée
preconceituosa e baseada em pou- been seen as both prejudicial and comme faisant preuve de préjugés
cas evidências, inclusive com uma one that lacks enough evidence, et fondée sur peu d’évidences. Elle
inferência racista em uma época de having also some racist inference même été présentée comme étant
dominação européia. Os antídotos – due to the European hegemony une interférence raciste dans une
rigoroso trabalho de campo inspira- then. The antidotes – rigorous field- époque de domination européenne.
do no funcionalismo, estruturalismo work inspired in functionalism, Les antidotes – rigoureux travail de
ou culturalismo – eram também vis- structuralism, or “culturalism” – champs inspiré sur le fonctionnal-
tos como contaminados por hierar- were also seen as contaminated by isme, le structuralisme ou le cultur-
quias de uma ordem mundial colo- colonialist world order hierarchies. alisme – étaient aussi compris
nialista. A atenção pós-moderna a The post-modern attention to such comme étant contaminés par des
este “orientalismo” em um mundo “orientalism” in a post-colonial hiérarchies d’un ordre mondial colo-
pós-colonial produziu textos no sen- world has brought forth numerous nialiste. L’attention postmoderne à
tido de atentar os antropólogos para papers that will help anthropologists cet “orientalisme” dans un monde
estas questões, o que acarretou um pay due attention to such matters, postcolonial a produit des textes en
declínio na produção e no entendi- which has caused a decline in both vue d’attirer l’attention des anthro-
mento antropológico. Esta conferên- production and anthropological pologues sur ces questions, ce qui a
cia considera estes dilemas, os understanding. This conference déclenché un déclin de production
correntes debates sobre “cultura” e takes in consideration these dilem- et de la compréhension anthro-
“sobrevivência cultural” e como mas, the current debates on “cul- pologiques. Cette conférence prend
antropólogos deveriam proceder ture” and “cultural survival,” and en compte ces dilemmes ainsi que
nesta nova era de confusão, produ- how anthropologists could proceed les débats courants à propos de la
zida pela globalização e pelo apare- in such confusion era, confusion “culture” et de la “survie culturelle”,
cimento do Estado-nação. that comes as a result of globaliza- et la manière par laquelle les
tion and the appearance of the idea anthropologues devraient procéder
of State-nation. dans cette nouvelle ère de confu-
sion, produite par la globalisation et
l’apparition de l’État-nation.

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