“As faces do trabalho retratada por trabalhadores”
Primeiro de Maio, Marisa Lajolo (org.). Imprensa Oficial - SP (IMESP). 104
pág. R$ 5,00
Desde o início dos tempos, o homem descobriu a necessidade de agir
para alcançar o que desejava. Tinha ocupações manuais e intelectuais, dava forma e utilidade aos objetos encontrados, fazia e refazia com cuidado, exercitava e desenvolvia – literalmente, o homem ralava... Trabalho, trabalhar, trabalhador... Trabalhoso para retratar, falar e expressar, mas prazeroso para a Professora Titular no Departamento de Teoria Literária da Unicamp, Marisa Lajolo. Organizadora do livro intitulado – não por acaso – Primeiro de Maio, ela reúne autores consagrados que retratam em contos e poemas os inúmeros aspectos do trabalho e dos trabalhadores. Quantos primeiros de maio não foram marcados por lutas e lutos, reivindicações daqueles que produzem a riqueza da sociedade no âmbito econômico, cultural, social e patrimonial. De texto em texto a viagem por diferentes cenários, épocas, situações e personagens se dá ora pelo humor ora pelo envolvimento. A caminhada de “35” pelas ruas de São Paulo revela o retrato da cidade na década de 30 – ditadura, modernização e repressão. O trabalhador entusiasmado com o feriado primeiro de maio, mas cercado por dúvidas. A lida do poeta, o molde perfeito da forma, das palavras e de um produto final que oculta todo esforço empregado na construção de cada verso. Os afazeres do homem chupim. E a vida paulistana de Conrado: burocracia, metodismo e alienação, cujo “atestado de óbito constou como causa mortis curto- circuito por excesso de carga burocrática”. Diferente do ganha-pão dos nômades empoleirados nos paus de arara. Distinto do sangue e suor negro derramado por cada canto de terra deste país. E dessemelhante a produção industrial literária de um bardo. Diante de uma obra tão complexa, não no seu entendimento, mas nas questões intrínsecas levantadas em cada narrativa e conto, uma análise humilde. O livro reúne temas e personagens que revelam a essência da data (primeiro de maio) em múltiplos aspectos. Um dos pontos interessantes é o viés adotado pela organizadora. Valer-se do trabalho manual, intelectual e até físico de autores consagrados, poetas, jornalistas e escritores maravilhosos, como Olavo Bilac, Mário de Andrade e Monteiro Lobato, para falar da diversidade na labuta brasileira e de seus atores – uma sacada atraente. Vale a pena deliciar-se com textos bem- humorados, envolventes e informativos, que levam a uma reflexão tão profunda da sociedade.