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EXMO. SRª. DRª.

PROMOTOR DE JUSTIÇA DA 5ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA


DO CONSUMIDOR DESTA CAPITAL.

O consumidor, que, por cautela, em face de possíveis retaliações no


âmbito das relações jurídicas que venha a constituir, prefere não se identificar, vem
aduzir a seguinte REPRESENTAÇÃO ao Ministério Público do Estado da Bahia,
com fulcro no artigo 129, II e III da Constituição Federal de 1988 e artigos 2º, 3º,
6º(incisos III, IV, VI, VII), 14 e 81 da lei 8.078/1990, face à atuação da empresa
UNICENID – FACULDADE DE CIÊNCIAS GERENCIAIS, pessoa jurídica com sede
administrativa situada na Rua das Hortênsias, 696, Praça Ana Lúcia Magalhães,
Itaigara, Salvador/BA, pelos fatos e direitos adiante minudenciados.

DOS FATOS

O nome da empresa UNICENID – FACULDADE DE CIÊNCIAS


GERENCIAIS é dotado de nociva ambigüidade, em razão de ser notório o fato do
prefixo “UNI”, quando presente em nomes de estabelecimentos de ensino superior,
fazer referência à natureza universitária destes.

Ocorre que a supracitada empresa, apesar de não possuir caráter


universitário, divulga amplamente seu nome sem fazer nenhuma ressalva acerca de
sua natureza. Tal fato é capaz de induzir consumidores incautos em erro, fazendo-
os acreditar que a UNICENID – FACULDADE DE CIÊNCIAS GERENCIAIS possui
maior prestígio, tanto social quanto mercadológico, do que realmente tem.

Ainda que conste no nome a natureza verdadeira do


estabelecimento (Faculdade de Ciências Gerenciais), a instituição de ensino não
deixa claro o suficiente para impedir equívocos por parte dos consumidores. Afinal, é
possível que um cidadão creia se tratar de uma subdivisão de uma universidade,
assim como ocorre com a Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia,
por exemplo.

DO DIREITO

Inicialmente, deve-se deixar clara a competência do Ministério


Público para levar adiante o seguinte pleito, visto tratar-se de demanda com caráter
nitidamente difuso, ensejando a atuação do referido órgão com base no artigo 129,
incisos II e III, da Constituição Federal de 1988 e artigo 81 do CDC. A empresa
referida é uma pessoa jurídica privada nacional que desenvolve atividade de
prestação de serviços mediante remuneração. Disso, decorre, inclusive, sua
condição de fornecedora, o que a enquadra no artigo 3º da lei 8.078/1990.

Da Publicidade Enganosa por Omissão e do Direito à Informação

A divulgação sem ressalvas do nome da supracitada empresa


configura, de acordo com o artigo 37, parágrafos 1º e 3º do Código de Defesa do
Consumidor, publicidade enganosa, visto que é capaz de induzir o consumidor em
erro a respeito de dado essencial do serviço. Fato este que deve ser evitado, posto
que, segundo o artigo 6ª, inciso VI do CDC, é direito básico do consumidor não só a
reparação, mas, principalmente, a efetiva prevenção de danos patrimoniais e morais,
individuais, coletivos e difusos.

2
O legislador, visando a proteger amplamente o consumidor, afirmou
ser enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter
publicitário que tenha a capacidade de induzi-lo em erro. Portanto, não há que se
falar no argumento de que o nome da empresa não se enquadra no artigo 37 do
CDC, visto que, mesmo que não constitua propriamente publicidade, ele tem, ainda
que secundariamente, uma natureza publicitária.

Destarte, o legislador também protegeu o consumidor da omissão de


informações essenciais sobre os produtos e serviços, submetendo o fornecedor ao
princípio da veracidade. Este princípio deriva do direito fundamental à informação,
consagrado no artigo 5º, inciso XIV.

Sobre este tema, destaca-se o ensinamento de Bruno Miragem:

“O princípio da veracidade informa o


conteúdo da mensagem publicitária, estabelecendo
que a mesma se componha exclusivamente de
informações corretas e verdadeiras. [...] Este
princípio é reconhecido por majoritária doutrina,
constituindo uma das bases do regime jurídico da
publicidade do CDC, e associado à informação do
consumidor.
Observe-se que não há de se exigir
neutralidade ou isenção de publicidade.
Considerando que esta se vincula a um fim
econômico específico, naturalmente que por esta
razão será tendente a este objetivo. Todavia, em
face do dever de lealdade que deve ser observado
na fase pré-contratual, em face do princípio da boa-
fé, ainda que se admita o caráter tendencioso da
publicidade, seu limite de ser o direito à informação
do consumidor, e o correspondente dever de
informar do fornecedor. Assim, não há de se
considerar a possibilidade de omitir informações
3
essenciais, que o próprio CDC determina que sejam
prestadas com ampla divulgação, como é o caso das
relativas aos riscos do produto ou do serviço, ou
ainda, as limitações da oferta publicitária, quando for
o caso.
[...] O que se deverá reclamar com
relação à publicidade em geral, como pressuposto
do atendimento do princípio da veracidade, é o dever
de objetividade por parte de todos os envolvidos na
elaboração de um anúncio publicitário. Exige-se,
pois, que a mensagem publicitária divulgada seja
clara e objetiva quanto aos seus aspectos
essenciais, de modo a compatibilizar a liberdade de
criação publicitária e o direito básico do consumidor
à informação.”1

A jurisprudência, por sua vez, vem se posicionando no mesmo


sentido, vide ementa do Ministro Herman Benjamin:

“DIREITO DO CONSUMIDOR. ADMINISTRATIVO.


NORMAS DE PROTEÇÃO E DEFESA DO
CONSUMIDOR. ORDEM PÚBLICA E INTERESSE
SOCIAL. PRINCÍPIO DA VULNERABILIDADE DO
CONSUMIDOR. PRINCÍPIO DA TRANSPARÊNCIA.
PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA. PRINCÍPIO DA
CONFIANÇA. OBRIGAÇÃO DE SEGURANÇA.
DIREITO À INFORMAÇÃO. DEVER POSITIVO DO
FORNECEDOR DE INFORMAR, ADEQUADA E
CLARAMENTE, SOBRE RISCOS DE PRODUTOS E
SERVIÇOS. DISTINÇÃO ENTRE INFORMAÇÃO-
CONTEÚDO E INFORMAÇÃO-ADVERTÊNCIA.
ROTULAGEM. PROTEÇÃO DE CONSUMIDORES
HIPERVULNERÁVEIS. CAMPO DE APLICAÇÃO DA
1
MIRAGEM, Bruno. Direito do Consumidor: fundamentos do direito do consumidor; direito material e
processual do consumidor; proteção administrativa do consumidor; direito penal do consumidor. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008, páginas 166 e 167.

4
LEI DO GLÚTEN (LEI 8.543/92 AB-ROGADA PELA
LEI 10.674/2003) E EVENTUAL ANTINOMIA COM
O ART. 31 DO CÓDIGO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR. MANDADO DE SEGURANÇA
PREVENTIVO. JUSTO RECEIO DA IMPETRANTE
DE OFENSA À SUA LIVRE INICIATIVA E À
COMERCIALIZAÇÃO DE SEUS PRODUTOS.
SANÇÕES ADMINISTRATIVAS POR DEIXAR DE
ADVERTIR SOBRE OS RISCOS DO GLÚTEN AOS
DOENTES CELÍACOS. INEXISTÊNCIA DE
DIREITO LÍQUIDO E CERTO. DENEGAÇÃO DA
SEGURANÇA.
[...]
4. O ponto de partida do CDC é a afirmação do
Princípio da Vulnerabilidade do Consumidor,
mecanismo que visa a garantir igualdade formal-
material aos sujeitos da relação jurídica de consumo,
o que não quer dizer compactuar com exageros que,
sem utilidade real, obstem o progresso tecnológico,
a circulação dos bens de consumo e a própria
lucratividade dos negócios.
5. O direito à informação, abrigado expressamente
pelo art. 5°, XIV, da Constituição Federal, é uma das
formas de expressão concreta do Princípio da
Transparência, sendo também corolário do Princípio
da Boa-fé Objetiva e do Princípio da Confiança,
todos abraçados pelo CDC.
[...]
7. Entre os direitos básicos do consumidor, previstos
no CDC, inclui-se exatamente a “informação
adequada e clara sobre os diferentes produtos e
serviços, com especificação correta de quantidade,
características, composição, qualidade e preço, bem
como sobre os riscos que apresentem” (art. 6°, III).
5
8. Informação adequada, nos termos do art. 6°, III,
do CDC, é aquela que se apresenta
simultaneamente completa, gratuita e útil, vedada,
neste último caso, a diluição da comunicação
efetivamente relevante pelo uso de informações
soltas, redundantes ou destituídas de qualquer
serventia para o consumidor.
9. Nas práticas comerciais, instrumento que por
excelência viabiliza a circulação de bens de
consumo, “a oferta e apresentação de produtos ou
serviços devem assegurar informações corretas,
claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa
sobre suas características, qualidades, quantidade,
composição, preço, garantia, prazos de validade e
origem, entre outros dados, bem como sobre os
riscos que apresentam à saúde e segurança dos
consumidores” (art. 31 do CDC).
10. A informação deve ser correta (= verdadeira),
clara (= de fácil entendimento), precisa (= não prolixa
ou escassa), ostensiva (= de fácil constatação ou
percepção) e, por óbvio, em língua portuguesa.
11. A obrigação de informação é desdobrada pelo
art. 31 do CDC, em quatro categorias principais,
imbricadas entre si: a) informação-conteúdo (=
características intrínsecas do produto e serviço), b)
informação-utilização (= como se usa o produto ou
serviço), c) informação-preço (= custo, formas e
condições de pagamento), e d) informação-
advertência (= riscos do produto ou serviço).
12. A obrigação de informação exige comportamento
positivo, pois o CDC rejeita tanto a regra do caveat
emptor como a subinformação, o que transmuda o
silêncio total ou parcial do fornecedor em patologia
repreensível, relevante apenas em desfavor do
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profissional, inclusive como oferta e publicidade
enganosa por omissão. [...]”2

Do Elemento Subjetivo

A alegação de que não houve má-fé na divulgação da publicidade


enganosa não exime o fornecedor de sua responsabilidade. No direito do
consumidor, a averiguação do elemento subjetivo é cabível somente no âmbito
penal, não no civil. Portanto, basta somente que a publicidade seja apta a induzir o
consumidor em erro para que o fornecedor seja responsabilizado por ela.

Com essa responsabilização objetiva, o legislador buscou


resguardar o consumidor, não reprimir o fornecedor. O que se está em jogo não é a
intenção deste, mas a proteção efetiva daquele, não importando, portanto, se o
fornecedor agiu ou não de má-fé.

Não é outra a posição jurisprudencial, como pode ser percebido na


ementa do Ministro Humberto Gomes de Barros:

“RECURSO ESPECIAL - PREQUESTIONAMENTO -


INOCORRÊNCIA - SÚMULA 282/STF - FALTA DE
COMBATE AOS FUNDAMENTOS DO ACÓRDÃO -
APLICAÇÃO ANALÓGICA DA SÚMULA 182 -
PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE RECURSAL -
AÇÃO CIVIL PÚBLICA - CONSUMIDOR -
VEÍCULOS DE COMUNICAÇÃO - EVENTUAL
PROPAGANDA OU ANÚNCIO ENGANOSO OU
ABUSIVO - AUSÊNCIA DE RESPONSABILIDADE -
CDC, ART. 38 - FUNDAMENTOS
CONSTITUCIONAIS.
[...]
III - As empresas de comunicação não respondem
por publicidade de propostas abusivas ou

2
REsp 586.316/MG, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 17/04/2007,
DJe 19/03/2009

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enganosas. Tal responsabilidade toca aos
fornecedores-anunciantes, que a patrocinaram
(CDC, Arts. 3º e 38).
IV - O CDC, quando trata de publicidade, impõe
deveres ao anunciante - não às empresas de
comunicação (Art. 3º, CDC). [...]”3

A doutrina majoritária, a exemplo de Bruno Miragem e Claudia Lima


Marques, coaduna com o entendimento jurisprudencial:

“O elemento principal da definição


jurídica em questão é a aptidão da publicidade de
induzir o consumidor em erro. Nota Claudia Lima
Marques, que sua caracterização como publicidade
ilícita, ou seja, ilícito civil, poderia fazer surgir
discussão sobre a necessidade de demonstração de
culpa do fornecedor na realização do efeito projetado
desta publicidade. Todavia, considera-se nesta
hipótese de que há uma presunção de culpa do
fornecedor, que proibido de promover publicidade
enganosa, terminou por realizá-la. Neste sentido,
exonera-se da responsabilidade apenas se
conseguir demonstrar, nesta hipótese, que o caráter
enganoso da publicidade decorre de caso fortuito.”4

Co-autor do anteprojeto do Código de Defesa do Consumidor,


Antônio Herman de Vasconcellos e Benjamin segue a mesma linha:

“Na caracterização da publicidade


enganosa não se exige a intenção de enganar por
parte do anunciante. É irrelevante, pois, sua boa ou

3
REsp 604172/SP, Rel. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, TERCEIRA TURMA, julgado
em 27/03/2007, DJ 21/05/2007, p. 568
4
MIRAGEM, Bruno. Direito do Consumidor: fundamentos do direito do consumidor; direito material e
processual do consumidor; proteção administrativa do consumidor; direito penal do consumidor. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008, páginas 166 e 167.

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má-fé. A intenção (dolo) e a prudência (culpa) só
ganham destaque no tratamento penal do fenômeno.
Logo, sempre que o anúncio for capaz de induzir o
consumidor em erro – mesmo que tal não tenha sido
querido pelo anunciante –, caracterizada está a
publicidade enganosa.
[...] Tudo o que se exige é prova de
que o anúncio possui a tendência ou capacidade
para enganar, mesmo que seja uma minoria
significante de consumidores. A essência do desvio
(a enganosidade) não é a má-fé, a negligência, ou
mesmo o descumprimento de um dever contratual
ou paracontratual. Em suma: uma prática é
enganosa mesmo quando inexiste qualquer intenção
de enganar. Pelo mesmo raciocínio, não elide a
enganosidade os esforços efetuados pelo
anunciante no sentido de preveni-la. Finalmente, o
fato de ser uma determinada prática enganosa
corrente no mercado, não dá salvo-conduto aos seus
adeptos para utilizá-las em detrimento dos
consumidores.”5

DOS REQUERIMENTOS

Diante do exposto, requer ao Ministério Público, legitimado pelo


artigo 129, incisos II e III da CF, que sejam tomadas medidas judiciais ou
administrativas cabíveis a fim de cessar a divulgação dessa publicidade enganosa,
atentando-se à possibilidade de realização de Termo de Ajustamento de Conduta
(TAC). Em caso da não conveniência dessa medida administrativa, requer a

5
BENJAMIN, Antônio Herman de Vasconcellos [et al.]. Código brasileiro de defesa do consumidor:
comentado pelos autores do anteprojeto. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 9ª edição, 2007,
página 340

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propositura de ação coletiva para a defesa de interesse difuso, com base no artigo
81, parágrafo único, inciso I do CDC, e legitimado pelo artigo 82, inciso I do referido
código, para que haja a suspensão da exposição da propaganda enganosa e,
conforme permite o artigo 83, impor a contrapropaganda à UNICENID –
FACULDADE DE CIÊNCIAS GERENCIAIS.

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