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Curitiba
2010
Ficha Catalográfica elaborada pela Fael. Bibliotecária – Cleide Cavalcanti Albuquerque CRB9/1424
FAEL
Diretor Acadêmico Osíris Manne Bastos
Diretor Administrativo-Financeiro Cássio da Silveira Carneiro
Coordenadora do Núcleo de Vívian de Camargo Bastos
Educação a Distância
Coordenadora do Curso de Ana Cristina Gipiela Pienta
Pedagogia EaD
Secretária Geral Dirlei Werle Fávaro
EDitorA FAEL
Coordenador Editorial William Marlos da Costa
Edição Silvia Milena Bernsdorf
Projeto Gráfico e Capa Denise Pires Pierin
ilustração da Capa Cristian Crescencio
Diagramação Denise Pires Pierin
Dedico esta obra à minha filha Ana Paula, que me fez companhia em seus
primeiros meses de vida, enquanto eu escrevia este livro.
Agradeço a Deus pela sabedoria maior.
Aos meus pais pelo dom da vida.
Ao meu esposo, Paulo Morais, pelo incentivo e apoio em todos os
momentos de nossas vidas.
A todos os familiares pela compreensão.
Aos mestres da Universidade Federal do Paraná que sempre se dispuse-
ram a compartilhar seus conhecimentos durante minha formação.
Aos meus educandos, com os quais tive o prazer de aprender e ensinar
durante minha trajetória profissional.
À equipe editorial da Editora Fael, por todo o profissinalismo na execu-
ção deste trabalho.
apresentação
apresentação
Ensinar não é transferir conhecimento,
mas criar as possibilidades para sua
produção e construção.
Paulo Freire
* Mestre em Educação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Atua na rede publi-
ca de ensino e é professor do curso de pedagogia da FAEL nas modalidades presencial
e a distância.
sumário
sumário
. Prefácio..................................................................................... 11
. Referências............................................................................. 137
prefácio
prefácio
P osso dizer que as inspirações para uma obra como esta sur-
giram bem antes de me tornar professora. Ainda pequena, assim que
aprendi a ler e a escrever, já aspirando à profissão docente, adorava
brincar de escolinha. E foi em uma dessas brincadeiras de infância
que alfabetizei o primeiro jovem trabalhador.
Lembro-me bem de que em uma tarde, enquanto brincava de
escolinha, um dos trabalhadores do sítio em que eu morava se inte- 11
ressou pela “dinâmica da aula” e pediu para que eu escrevesse o nome
dele em um papel. Imediatamente comecei a rabiscar o nome solici-
tado e, na medida em que eu escrevia o nome do jovem trabalhador,
ele solicitva que eu escrevesse outros nomes, como o de seus pais e
irmãos, bem como o de uma moça por quem estava apaixonado.
Nos dias seguintes, sempre quando eu brincava de escolinha, o
jovem vinha até mim e perguntava como se escrevia uma ou outra
coisa. De vez em quando, trazia, também, um pedaço de papel com
alguma coisa escrita para eu ler para ele. Assim, com o tempo, aquele
jovem aprendeu a escrever o próprio nome e a ler e a escrever outras
coisas de seu mundo que lhe interessavam.
Na época, não percebi o que essa experiência significou: foi a
única oportunidade que aquela pessoa teve de aprender alguma coisa
relacionada ao mundo da leitura e da escrita. Durante muitos anos,
eu tinha em mente que as pessoas aprendiam a ler e a escrever natu-
ralmente. Como pode alguém não saber escrever o próprio nome?
Com o passar do tempo, percebi, também, que meus pais tinham
dificuldades com o mundo da escrita, e que muitas pessoas na região
em que eu nasci possuíam poucos anos de estudo.
prefácio
prefácio
Desse contexto, surgiram a necessidade e a vontade de fazer
alguma coisa pelas pessoas pouco escolarizadas, e o caminho escolhi-
do foi me tornar uma professora. Mesmo estudando em uma escola
rural, com poucos recursos, sempre mantive o sonho de chegar à
faculdade. Assim, estudei pedagogia e me especializei em Educação
de Jovens e Adultos.
Derivam dessa história e da minha dissertação de Mestrado as
principais ideias contidas nesta obra, que também é resultante da
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convivência com educandos jovens e adultos com os quais tive o pra-
zer de aprender e de ensinar durante minha trajetória profissional.
Com o mesmo prazer, espero poder compartilhar com inúmeros edu-
cadores os pressupostos teóricos e metodológicos apresentados e dis-
cutidos neste livro, assim como inspirar a beleza que o ato de lecionar
ainda apresenta.
A autora.*
* Ana Maria Soek é pedagoga, Mestre em Educação pela Universidade Federal do Paraná
(UFPR) e, atualmente, vem se dedicando à Educação a Distância e à educação de pessoas
adultas. Além disso, trabalha com a formação de professores e é autora e editora de
materiais didático-pedagógicos.
1
Aspectos sócio-históricos
e filosóficos da Educação
de Jovens e Adultos
no Brasil
Reflita
Reflita
Como vimos, o conceito de educação está fortemente atrelado ao
contexto e ao momento histórico vivenciado. Fazendo um parale-
lo entre esse primeiro momento histórico do Brasil e o que você já
sabe sobre a Educação de Jovens e Adultos, que comparações po-
dem ser estabelecidas?
O que podemos analisar, por exemplo, sobre a situação que durou qua-
se quatro séculos na história do Brasil de “domínio da cultura branca,
cristã, masculina e alfabetizada sobre a cultura dos índios, negros, mu-
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lheres e analfabetos”, o que gerou uma “educação seletiva, descrimina-
tória e excludente”, conforme citado dos estudos de Paiva (1987)?
Reflita
Reflita
Na primeira Constituição Brasileira (1824) encontramos registros
sobre a instrução primária gratuita para todos os cidadãos; no entanto,
sabe-se que, durante um longo período da história do Brasil, essa educa-
ção foi destinada somente às elites, uma pequena parcela da população.
Em consequência disso, pouco a pouco, foi aumentando o percentual
de pessoas não alfabetizadas. De acordo com o censo do ano de 1920,
havia um índice de 72% da população, com idade acima de cinco anos,
que nunca havia ido à escola.
A Revolução de 1930 deu início ao processo de reformulação da
função do setor público no Brasil, e a sociedade brasileira passou por
grandes transformações decorrentes do processo de industrialização.
Com a promulgação da Constituição de 1934 foi previsto o ensino
obrigatório, tanto para crianças, quanto para adultos, sendo a primeira
FAEL
Capítulo 1
16
• oferecer oportunidades e incentivos aos alfabetizandos, porque todos
são capazes de aprender;
• construir a educação de jovens e adultos a partir dos conhecimentos já
existentes, cabendo ao educador a tarefa de ajudá-los a construir novos
conhecimentos;
• despertar no alfabetizando o interesse por assuntos que fazem parte de
seu cotidiano, para que ele possa estabelecer relações entre o conhecido
e o novo;
• incentivar o alfabetizando sempre, mesmo que erre, observando que as
correções devem ser feitas de forma a motivá-lo a novas tentativas;
• elogiar com palavras de ânimo e conscientização;
• manter entre o educador e o alfabetizando, antes de tudo, uma relação de
amizade, na qual a confiança e o preparo façam uma grande diferença;
• propor um caminho para a escrita e a leitura sem grandes dificuldades e
abstrações, para que o alfabetizando sinta-se capaz diante dos desafios,
já que conseguirá ler palavras e até um pequeno texto na primeira aula;
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Capítulo 1
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Capítulo 1
Reflita
Reflita
Imagine como estaria o Brasil hoje se o Plano Nacional de
Alfabetização proposto por Paulo Freire não fosse interrompido
20 pelo Golpe Militar?
Reflita
Reflita
O paradigma pedagógico proposto por Freire baseava-se em um novo
entendimento da relação entre as problemáticas educacional e a social.
“Antes apontado como causa da pobreza e da marginalização, o analfabe-
tismo passou a ser interpretado como efeito da situação de pobreza gerada
por uma estrutura social não igualitária.” (PAIVA, 1987, p. 216).
Freire (1996) criticou a chamada “educação bancária”, que con-
siderava o analfabeto como alguém que não possui cultura ou conhe-
cimento, uma espécie de banco onde o educador deveria depositar o
conhecimento. Como contraponto a esse modelo, Freire fez referência
à educação problematizadora. A educação apregoada por Freire não
se caracteriza pela transmissão de conhecimentos, como se o processo
de ensino e de aprendizagem circulasse em uma rua de mão única.
Tomando o alfabetizando como sujeito de sua aprendizagem, ele pro-
punha uma ação educativa que não negasse a cultura, mas que fosse
transformando-a através de um diálogo ancorado no tripé educador/
alfabetizando/objeto do conhecimento.
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Capítulo 1
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Capítulo 1
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Capítulo 1
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Capítulo 1
Dica de Filme
Assista ao filme Narradores de Javé. Nele os moradores de um pequeno vi-
larejo de Javé se deparam com o anúncio de que a cidade poderia desapa-
32 recer sob as águas de uma enorme usina hidrelétrica. Essa ameaça à pró-
pria existência pode mudar a rotina dos habitantes. Em resposta à notícia
devastadora, a comunidade adota uma ousada estratégia: decide preparar
um documento contando todos os grandes acontecimentos heroicos de sua
história, para que Javé possa escapar da destruição. Como a maioria dos
moradores são analfabetos, a primeira tarefa é encontrar alguém que pu-
desse escrever essas histórias.
O único habitante alfabetizado de Javé é Antônio Biá, um funcionário
do correio local que, para manter seu emprego, passou a escrever cartas
para várias pessoas de outros locais, contando as fofocas das principais
figuras locais, fato que lhe rendeu incontáveis inimigos. Porém, não res-
tou outra opção ao povo de Javé senão exigir que Antônio Biá escrevesse
de “forma científica” o documento que demonstrasse a importância his-
tórica da região.
O filme retrata o perfil de muitas comunidades carentes do Brasil e as difi-
culdades de suas lutas. De modo hilariante, o filme nos mostra a dinâmica de
transição da tradição oral para a tradição escrita, e a graça reside no fato de
a memória oral privilegiar alguns detalhes em detrimento de outros. Como
FAEL
Capítulo 1
diz o próprio Biá: “uma coisa é o fato acontecido, outra é o fato escrito”.
Por isso, o filme nos leva a refletir sobre a importância da leitura e escrita
para o desenvolvimento social do país e, consequentemente, para o exer-
cício da cidadania.
No universo da Educação de Jovens e Adultos, ressalta-se a importância de
que as histórias individuais e coletivas dos moradores de tantas outras Javés
que existem pelo Brasil sejam valorizadas e não tenham as suas memórias
esquecidas e destruídas. Isso demonstra o quanto a história pessoal está
intimamente ligada à história e ao momento histórico do país.
NARRADORES de Javé. Direção de Eliane Caffé. Brasil: Bananeira Filmes;
Gullane Filmes; Laterit Productions: Dist. Riofilme, 2003. 1 filme (100 min),
sonoro, color.
Dica de Filme
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Da teoria para a prática
Uma sugestão de atividades para se realizar com os educandos da
EJA é organizar uma roda de prosa, em que cada um relate os principais
fatos da história de suas vidas. Uma sugestão é que educandos tragam
fotos ou recortem figuras que representem esses acontecimentos, o que
irá facilitar a apresentação para os colegas.
Oriente os educandos a sentarem em forma de roda e inicie a con-
versa deixando-os à vontade para falar. Você, enquanto educador, pode
começar a exposição. Lembre-se de que o objetivo dessa atividade é
conhecer melhor seus educandos e possibilitar a interação entre eles.
Por isso, é importante criar um clima de confiança e respeito, desta-
cando o quanto a história de vida de cada um está relacionada a outras
histórias e à história da comunidade, do município, do estado e da
nação a que pertencem. Se possível, relacione os fatos apresentados com
pontos da história do país.
Com as fotos e figuras trazidas pelos educandos crie um painel
denominado de “Imagens da Vida” para deixar no mural da sala.
Síntese
Ao estudar a história da Educação de Jovens e Adultos, no Brasil,
percebe-se que o conceito de educação está fortemente atrelado ao con-
texto político e aos momentos históricos vivenciados. Fazendo um para
lelo entre o histórico da EJA e analisando a própria história do Brasil, é
possível fazer comparações de acordo com os meandros sociopolíticos,
que acabaram tomando corpo nas questões culturais do país. Por isso, é
importante conhecer tanto a história do país a que pertencemos, como,
também, enquanto profissionais da área, conhecer a trajetória histórica
da alfabetização do povo brasileiro, refletindo sobre as influências que
permearam e ainda permeiam todo esse processo.
34
FAEL
2
Sistema
organizacional
da EJA no Brasil
D e acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Na-
cional n. 9.394/96, a Educação de Jovens e Adultos é uma modalidade
da educação básica, nas etapas dos Ensino Fundamental e Médio, que
usufrui de uma especificidade própria que, como tal, deve receber um
tratamento consequente. Para tanto, além de adequações nas questões
curriculares, deve-se considerar a forma como os conteúdos/conceitos
devem ser tratados e as aspirações e interesses dos educandos.
No processo de seleção de conteúdos, o desafio que se apresenta é 35
identificar, dentro de cada um dos vastos campos de conhecimento das
diferentes áreas, quais são socialmente relevantes e em que medida con-
tribuem para o desenvolvimento intelectual do educando. Em outras
palavras, o desafio é identificar que conteúdos permitem a construção
do raciocínio, o desenvolvimento da criatividade, da intuição, da capa-
cidade de análise e de crítica, e a constituição de esquemas lógicos de
referência para interpretar fatos e fenômenos da sociedade.
Neste capítulo, serão apresentadas as orientações e diretrizes gerais
para a EJA, quanto à seleção de conteúdos, às funções e aos aspectos
legais que regem as políticas dessa modalidade de ensino, no Brasil.
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Capítulo 2
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Capítulo 2
Reflita
Reflita
Para você, qual deveria ser a real função da Educação de Jovens
e Adultos em um país como o nosso?
Reflita
Reflita
As Diretrizes Curriculares da EJA (BRASIL, 2000, p. 18) deter-
minam, ainda, que essa modalidade educacional deve desempenhar as
seguintes funções:
●● função reparadora – preocupa-se em propiciar não só a
entrada dos jovens e adultos no âmbito dos direitos civis, pela
restauração de um direito a eles negado – o direito a uma
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Capítulo 2
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Capítulo 2
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Capítulo 2
Dica de Filme
Erin Gruwell é uma educadora inexperiente que assume uma turma consi-
derada “problemática”, em uma pequena escola de um bairro periférico dos
EUA. Com muito empenho e carinho e por meio da leitura de livros que
relatam guerras racistas e separatistas e entre gangues, consegue ensinar a
seus educandos valores como tolerância e disciplina, além de fazer de sua
turma uma grande e unida família. Escritores da liberdade tem como um
de seus objetivos mostrar o desafio que é a educação, em qualquer lugar
do mundo, e de como um educador pode adotar novos métodos de ensino
FAEL
Capítulo 2
O direito à vida
Art. 1º.
Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direi-
tos e, dotados que são de razão e consciência, devem comportar-se
fraternalmente uns com os outros.
[...]
Art. 3º.
Todo indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança de sua 47
pessoa.
[...]
O direito à integridade da vida
Art. 5º.
Ninguém será submetido a torturas, penalidades ou tratamentos
cruéis, desumanos ou degradantes.
[...]
O direito à vida privada e à honra
Art. 12.
Ninguém será objeto de ingerências arbitrárias em sua vida privada,
sua família, seu domicílio ou sua correspondência, nem de ataques
à sua honra ou reputação. Toda pessoa tem direito à proteção da lei
contra tais ingerências ou ataques.
[...]
Art. 3º.
A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais
inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que
trata esta Lei, assegurando-lhes, por lei ou por outros meios, todas as
oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento
físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade
e de dignidade.
Art. 4º.
É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder
Público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos
referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte,
ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar e comunitária.
Art. 5º.
Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opres-
são, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão,
48 aos seus direitos fundamentais.
[...]
Art. 7º.
A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde,
mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o
nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições
dignas de existência.
Síntese
Nesse capítulo, pudemos conhecer o que caracteriza a EJA enquan-
to modalidade educativa, conforme definido pela Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional n. 9.394/96. Apresentamos, também, as
orientações dos organismos internacionais para as políticas de EJA, res-
saltando a necessidade de uma concepção de educação ao longo da vida.
Por fim, pôde-se conhecer os princípios e funções da EJA, bem como os
seus fatores estratégicos, que são baseados nos quatro pilares da educa-
ção, conforme descrito no relatório Educação para o Século XXI.
FAEL
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Especificidades do
trabalho pedagógico
frente ao perfil do
educando da EJA
A Educação de Jovens e Adultos emerge de um movimento de
lutas, desafios e conquistas da Educação Popular. Esse dado se revela
importante, uma vez que permite a compreensão das condições limi-
tadoras impostas pelo modelo rígido da educação formal quando se
pensa na EJA enquanto modalidade educativa.
Diante disso, é preciso indagar: quem são os sujeitos da EJA situa
dos historicamente? Quais são as marcas sociais e o perfil desses su-
jeitos? Por que e como foram se delineando na história da Educação 49
de Jovens e Adultos do nosso país? Como se constituiu a identidade
desses sujeitos?
Perante tais questionamentos é necessário, por um lado, levantar as
dimensões que alicerçam a conjuntura e a constituição histórica desses
sujeitos e, por outro lado, instigar a reflexão crítica sobre as necessida-
des que se fazem presentes.
Desse modo, neste capítulo, é delineado o perfil sociocultural dos
educandos da EJA, com base em dados estatísticos e pesquisas da área.
Além disso, estão presentes algumas orientações para o trabalho peda-
gógico frente a essa modalidade educativa.
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Capítulo 3
Reflita
Reflita
Como você percebe o perfil dos educandos da EJA? Que aspirações
trazem para as salas de aula? O que os identifica como pertencentes
a essa modalidade educativa?
Reflita
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51
Para Arroyo (2001, p. 15), falar dos educandos da EJA é “falar,
sobretudo, do jovem, adulto, trabalhador, pobre, negro, oprimido e
excluído”. Identifica-se, assim, a estreita relação que se estabelece entre
a incidência da exclusão e as restrições ao acesso à educação, pois con-
forme afirmam Haddad e Di Pierrô (2000), a história brasileira nos
oferece claras evidências de que as margens da inclusão e da exclusão
educacional foram sendo construídas simétrica e proporcionalmente à
extensão da cidadania política e social, em íntima relação com a parti-
cipação na renda e o acesso aos bens econômicos. Isso se evidencia nas
estatísticas, visto que os percentuais abrangem, geralmente, determina-
dos “tipos sociais”. Por exemplo, nas questões referentes a gênero e raça,
no Brasil, evidenciam-se as marcas sociais do preconceito em relação
aos negros e às mulheres.
As mulheres, em grande parte da história, foram discriminadas e
eram entendidas como pessoas que não necessitavam de escolarização,
pois a preparação delas deveria ser para o casamento e para cuidar dos fi-
lhos. Isso é evidente nas classes de alfabetização. Quando perguntadas so-
bre a razão de não terem estudado na infância, grande parte delas respon-
de que seus pais acreditavam que as mulheres não precisavam estudar.
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Capítulo 3
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Capítulo 3
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Capítulo 3
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Capítulo 3
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Capítulo 3
Síntese
Neste capítulo, discutimos noções sobre o perfil sócio-histórico e
psicológico dos educandos da EJA e, com isso, foi possível perceber as
64
FAEL
4
Mediação
pedagógica
na EJA
O processo educativo especificamente direcionado a jovens e adul-
tos adquire significado à medida que intrinsecamente se relaciona à prática
de vida desses sujeitos, nos diferentes modos de viver e atuar no mundo
com seus limites e possibilidades. Atender a essa demanda requer, necessa-
riamente, um trabalho pedagógico em que exista uma superação do conhe-
cimento que o educando traz do seu cotidiano, que é a expressão da classe
social à qual pertence, não no sentido de anular ou de sobrepor um conhe-
cimento ao outro, mas no sentido de dar e construir novos significados.
65
Em outras palavras, o que se propõe é que o conhecimento com o
qual se trabalha na escola seja significativo para a formação do educan-
do. Nesse sentido, apresentaremos, nesse capítulo, alternativas para a
realização de práticas pedagógicas significativas.
Reflita
Reflita
Em que consiste uma prática pedagógica significativa?
Reflita
Reflita
Fundamentos e Metodologia da Educação de Jovens e Adultos
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Capítulo 4
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Capítulo 4
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Capítulo 4
Dados de identificação
• Nome da escola; 71
• Caracterização da localização da escola;
• Professor educador;
• Perfil dos educandos (média de idade, sexo, localidade de origem, atua-
ção profissional, residência e proximidade da escola ou local de trabalho,
renda familiar, papel na família, assuntos de interesse, dentre outras
questões que podem ser levantadas).
Título
O título do projeto deve ser claro, conciso, explicativo e coerente com o
conteúdo e objetivos do plano de trabalho, para possibilitar e garantir a
identificação da temática a ser abordada com o perfil, a demanda da turma
e o nível de aprendizagem dos alunos.
Tema a ser desenvolvido
É preciso selecionar o tema a ser abordado em conjunto com a comunidade
escolar ou educandos. O tema deve abordar de forma interdisciplinar as
áreas de conhecimento e deve estar articulado à realidade social.
Justificativa
Consiste na apresentação clara e objetiva das razões teórico-práticas que
justificam o desenvolvimento do tema com a comunidade. Deve indicar a
relevância dos conteúdos a serem abordados, assim como explicitar fun-
damentalmente o que colabora o estudo do tema para o desenvolvimento
cognitivo e a aprendizagem dos alunos.
Problematização
O trabalho docente deve se iniciar com uma situação que gere dúvida ou
que instigue os educandos, denominada “situação problema”, que se origina
a partir da definição da situação a ser discutida, investigada e solucionada.
Dessa forma, o problema pode ser caracterizado/formulado através de uma
“questão norteadora”, o que facilita o direcionamento da objetivação.
Objetivo geral
Os objetivos devem indicar o intuito das atividades a serem realizadas, es-
clarecendo os fins que pretendem ser atingidos com a intervenção. O obje-
72 tivo geral possui uma dimensão ampla, com a característica de ser único e
com a função de ser atingido.
Objetivos específicos
Os objetivos específicos assumem uma dimensão mais restrita, com uma
temporalidade mais imediata (a aula), e delimitam as ações complementa-
res para o alcance do objetivo geral.
Fundamentação teórica
Definido o tema, deve-se proceder a revisão bibliográfica relacionada à temá-
tica em questão, a fim de aprofundar e fundamentar o trabalho pedagógico.
Para tanto, deve-se procurar uma literatura relevante e atualizada, com vis-
tas a buscar compreender o tema e, também, o que já foi produzido na área
a ser trabalhada.
Estratégias de ação
Esse item deve materializar os desdobramentos do trabalho de aprofunda-
mento teórico-prático, no que diz respeito às ações a serem desenvolvidas
FAEL
Capítulo 4
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Capítulo 4
76
FAEL
Capítulo 4
Síntese
78 Vimos que muitos são os desafios e preocupações com a situação
pedagógica da EJA. Conhecer o mundo diversificado dos educandos e
as formas de produção do conhecimento, é ponto de partida para refle-
tir, compreender e buscar soluções para melhoria do ensino e para uma
aprendizagem significativa. Para tanto, se faz necessário conhecer a ro-
tina escola onde se está incluído: organização curricular, planejamento
de aula, a seleção de conteúdos, as estratégias e recursos de ensino bem
como o espaço onde ocorrem tais significações, a sala de aula.
Portanto, o objetivo dessas proposições, o foco de observação,
a sala de aula e as formas de produção do conhecimento expressam
um sentido autêntico, buscando criar na escola um ambiente de plena
liberdade onde se possa questionar, refletir, criar, elaborar e construir o
conhecimento, que possibilite à luz das considerações teóricas e práti-
cas superar as dificuldades, replanejando e propondo novas propostas
pedagógicas a partir das análises do observado.
FAEL
Relações de ensino
e aprendizagem
na EJA
5
A historicidade da EJA é marcada pelo caráter compensatório
de uma relação em que se priorizam questões relativas ao ensino em
detrimento da aprendizagem. Nesse sentido, há de considerar inúme-
ros fatores, como concepções de ensino, aprendizagem, currículo e
avaliação na EJA.
No âmbito curricular, deve-se considerar que não há um currículo
definido para essa modalidade de ensino: o que temos em âmbito nacio-
79
nal são diretrizes que apontam eixos articuladores que se aproximam ou
não da realidade dos jovens e adultos. Já a questão da avaliação implica
a reformulação do processo didático-pedagógico, deslocando também a
ideia da avaliação do ensino para a avaliação da aprendizagem.
FAEL
Capítulo 5
FAEL
Capítulo 5
Aprender não é a mesma coisa que copiar ou repetir aquilo que foi ensi-
nado. A cópia não faz ninguém aprender, pois aprendizagem não é deter-
minada por quem ensina, mas por quem aprende. A aprendizagem é um
processo construtivo, pessoal, em que cada um aprende por si, seguindo
seu próprio caminho. Contudo, um fator importante a ser considerado é
que a aprendizagem se concretiza nas relações sociais, ou seja, é nas “re- 83
lações dos homens com outros homens que se constrói o conhecimento”
(FREIRE, 1996).
FAEL
Capítulo 5
Dica de Filme
Assista ao filme Bicho de sete cabeças. No seu início, é retratada a relação
de alguns jovens com seus professores, demonstrando os problemas que es-
ses jovens têm e que geram enormes dificuldades para o exercício da função
docente. Em uma das cenas, por exemplo, que se desenvolve em uma sala
de aula, o personagem central, Neto, está totalmente desvinculado daquilo
que está acontecendo na sala de aula, literalmente “no mundo da lua”, des-
prezando a presença do professor.
Diante disso, várias questões sobre o “saber fazer” pedagógico são susci-
tadas. Entre elas, temos questões importantes que se referem à própria
conduta da escola: a forma como as aulas são conduzidas, seus méto-
dos, a comunicação e sua significação dentro de uma classe, os recursos
que estão sendo utilizados, o diálogo entre os professores e os alunos e
FAEL
Capítulo 5
entre a escola e os pais. Isso nos leva a pensar que temos uma parcela de
responsabilidade, enquanto educadores, pois devemos fazer com que nos-
sos educandos aprendam não só os conteúdos escolares, mas, também, as-
sumam responsabilidades e tenham posturas definidas quanto à vida, de
modo que eles tenham condições de evitar as armadilhas do cotidiano.
BICHO de sete cabeças. Direção de Laís Bodanzky. Brasil: Columbia, 2000.
1 filme (74 min), sonoro, color.
Dica de Filme
um de nós pode fazer, na vida cotidiana, para criar espaços onde predo-
minem – para o homem e para a natureza – a paz e a solidariedade?
Fonte: adaptado de Diskin e Roizman (2000, p. 63).
Síntese
Neste capítulo, vimos como acontecem as inter-relações entre o
currículo e a avaliação no contexto de ensino e aprendizagem na EJA.
Vale ressaltar que essas relações ganham maior sentido ao se considerar
outros elementos do processo educativo, por exemplo: a formação do
educador e suas concepções acerca da Educação de Jovens e Adultos, o
espaço onde acontece tal significação – a sala de aula – e, principalmen-
te, o perfil social, econômico e cultural desses sujeitos.
88
FAEL
6
Função social
da leitura e
da escrita
D iante do contexto histórico e social da realidade brasileira é
preciso rever teoricamente a concepção de alfabetização e sua relação
com as tendências recentemente discutidas pelo foco do letramento.
Para tanto, faz-se necessário revisitar o termo, constituído historica-
mente em diferentes momentos, principalmente em se tratando da
alfabetização de adultos, já que essa modalidade desenvolveu-se tardia-
mente – até porque o ensino da leitura e da escrita era pensado predo-
minantemente para as crianças das elites dominantes. 89
Como ponto de partida dessa discussão, resgatamos o próprio
conceito de linguagem, pois ao longo da história da educação brasileira
a tarefa de alfabetizar reduziu-se ao “domínio do sistema gráfico”, isto
é, tradicionalmente, a alfabetização era vista como um código ou como
uma habilidade que pudesse ser treinada.
Nesse sentido, apresentamos uma discussão da alfabetização en-
quanto um processo educativo que precisa ser pensado como resultante
de um trabalho coletivo e historicamente situado, sendo produto das
relações entre os homens. Por isso, ela está sujeita às mudanças, assim
como a linguagem, que não se presta somente para a troca de informa-
ções, nem é apenas um mero instrumento de comunicação, seja ela oral
ou escrita. A linguagem é muito além disso, pois por seu intermédio o
pensamento se organiza e é expresso.
Reflita
Reflita
Qual a importância da linguagem escrita em sociedades
letradas como a nossa? Como é a vida de quem não tem acesso a
esses conhecimentos?
Reflita
Reflita
Com o desenvolvimento das sociedades letradas foram se inten-
sificando as necessidades de domínio dos códigos que expressassem as
relações sociais. Dessa forma, a alfabetização passou, cada vez mais, a
ser um requisito de inclusão nessas sociedades.
No Brasil, é possível identificar a evolução do conceito e necessidade
de alfabetização da população em cada momento histórico. Analisando
FAEL
Capítulo 6
FAEL
Capítulo 6
FAEL
Capítulo 6
Reflita
Reflita
Para ser letrada, a pessoa deve, necessáriamente, ser alfabetizada?
Reflita
Reflita
96
FAEL
Capítulo 6
Dica de Filme
Um ônibus repleto de turistas atravessa uma região montanhosa do Mar-
rocos. Entre os viajantes estão Richard e Susan, um casal de americanos.
Ali perto, dois meninos marroquinos manejam um rifle que seu pai lhes
deu para proteger o rebanho de cabras da família. Acidentalmente, um tiro
acerta Susan, dentro do ônibus.
Assista ao filme Babel. A história, que gira em torno das dificuldades da co-
municação que temos quando pertencemos a grupos humanos diferentes,
vai mostrar como esse fato pode alterar o rumo dos acontecimentos e a
vida de várias pessoas, em muitos lugares do mundo.
BABEL. Direção de Alejandro González-Iñárritu. Estados Unidos: Dune
Films; Zeta Film; Anonymous Content: Dist. Paramount Vantage; UIP,
2006. 1 filme (142 min), sonoro, legenda, color.
Dica de Filme
FAEL
Capítulo 6
100
Síntese
O conceito de alfabetização tem mudado ao longo do tempo, de
acordo com a época, a cultura e com o desenvolvimento das tecnolo-
gias. As habilidades de leitura e escrita deixaram de ser vistas como sim-
ples desenvolvimento de habilidades motoras para assumirem o papel
de habilidades culturais e sociais necessárias à vida de todo cidadão.
Há dificuldade em definir o que é ser alfabetizado, pois o processo
é dinâmico e, de algum modo, somos alfabetizados todos os dias, o que
se prolongando por toda vida, pois o aprendizado deve ser contínuo.
Dessa forma, o processo de alfabetização de jovens e adultos supõe
muito mais do que a apreensão dos mecanismos de um código gráfi-
co. Deve ser um processo de aquisição da linguagem escrita no qual a
aprendizagem, as elaborações mentais e a própria linguagem resultem
nas relações sociais.
FAEL
7
Desenvolvimento
da oralidade e do
raciocínio lógico
FAEL
Capítulo 7
A seguir, são elencadas ações que têm por finalidade diagnosticar e/ou de-
senvolver a oralidade dos educandos.
• Contar fatos e experiências cotidianas;
• Recontar textos narrativos (contos, notícias de jornais);
• Dramatizar situações reais ou imaginadas, contos, fatos, experiências;
• Descrever lugares, pessoas, objetos e processos;
• Recitar ou ler em voz alta textos poéticos breves e trava-línguas previa-
mente preparados;
104
• Acompanhar leituras feitas em voz alta;
• Dar instruções verbais ou compreender e seguir instruções verbais;
• Identificar lacunas ou falta de clareza em esclarecimentos dados por
outrem;
• Pedir esclarecimentos sobre assuntos tratados ou atividades propostas;
• Responder perguntas;
• Dar exemplos;
• Definir conceitos (explicá-los com as próprias palavras);
• Posicionar-se em relação a diferentes temas tratados;
• Identificar a posição do outro em relação a diferentes temas tratados;
• Defender posições, fundamentando argumentos com exemplos e infor-
mações;
• Respeitar a vez de se pronunciar.
FAEL
Capítulo 7
Reflita
Reflita
Qual a importância dos conhecimentos matemáticos em nossas
vidas e para nossos educandos?
Reflita
Reflita
FAEL
Capítulo 7
FAEL
Capítulo 7
FAEL
Capítulo 7
Síntese
Como vimos, o meio social é permeado pela linguagem, que, em
grande parte, se expressa por intermédio da oralidade. Sabemos que
os educandos jovens e adultos possuem toda uma experiência com a
oralidade, afinal, são falantes nativos da língua.
FAEL
Capítulo 7
Vale ressaltar que apesar de termos uma única língua oficial, a lín-
gua portuguesa desdobra-se em variantes nas formas orais, dependendo
da região e das questões culturais. Assim, não há uma forma oficial de
expressão oral dessa língua, mas uma variedade linguística que deve
e precisa ser respeitada, pois é nessa diversidade que reside a riqueza
cultural do Brasil.
Quanto à alfabetização matemática enquanto atividade simbólica,
ressalta-se a importância de sua utilização no contexto social e, tam-
bém, o fato de ser base para a aprendizagem de outros conceitos e de
outras áreas do conhecimento.
113
Reflita
Reflita
Como o contexto histórico e cultural interfere no desenvolvimento
cognitivo do aluno adulto? O que significa isso?
Reflita
Reflita
Desde o momento em que nascemos, a cultura age sobre nós de
diferentes formas, seja por intermédio das próprias pessoas ou dos arte-
fatos culturais construído por elas.
No contexto social e político brasileiro da atualidade evidenciam‑se
muitos questionamentos quando se analisa as taxas de desemprego, de
analfabetismo e os problemas sociais decorrentes da insuficiencia na
educação brasileira. Compreendendo isso, questiona-se: na realidade
sociocultural brasileira, como os sujeitos não escolarizados se desenvol-
vem cognitivamente? Como aprendem, pensam, organizam e sistema-
116
tizam as experiências da vida cotidiana? Qual é a relação existente entre
a escolarização e o desenvolvimento cognitivo/social desses sujeitos?
Nessa lógica, buscou-se em um estudo empírico discutir o papel,
a natureza, a abrangência e a dimensão da escolarização no desenvolvi-
mento dos sujeitos. O esforço em examinar tal temática pode signifi-
car uma importante contribuição para o estudo das complexas relações
existentes entre os sujeitos, a educação e a cultura, pois na pesquisa
também se levou em consideração a significativa relação entre o que o
educando é capaz de elaborar e sua história de vida, na fase do desen-
volvimento, e o contexto em que se situa.
Na analise dos dados da pesquisa, além do uso de referencial bi-
bliográfico consistente (identificando, no universo de referências exis-
tentes sobre essa temática, pesquisas, artigos, revistas científicas, perió
dicos, livros, sites, dentre outras fontes), foi realizada uma análise das
falas e das produções textuais dos educandos da EJA, em processo de
escolarização, que evidenciam formas e conteúdos escritos, aspirações e
os modos de pensamentos desses educandos.
No estudo, considerou-se a possibilidade de influência da esco-
larização sobre os processos de funcionamento cognitivo, partindo de
FAEL
Capítulo 8
FAEL
Capítulo 8
FAEL
Capítulo 8
Dica de Filme
No filme Forrest Gump – o contador de histórias, são retratadas quatro 121
décadas de história norte-americana. O personagem principal, o contador
de histórias, com um jeito puro, perpassa pela luta no Vietnã, é condecora-
do, conhece o presidente Kennedy, fala em uma grande concentração paci-
fista em Washington, e circula pela era da libertação sexual. Assim, leva aos
espectadores as transformações pelas quais a sociedade local passou, desde
a década de 60, levando-nos a perceber como o meio sociocultural influen-
cia na constituição do ser humano.
FOREST Gump – o contador de histórias. Direção de Robert Zemeckis.
Estados Unidos: Paramount Pictures: Dist. Paramount Pictures; UIP, 1994.
1 filme (141 min), sonoro, legenda, color.
Dica de Filme
Síntese
Vivemos em uma época marcada por incertezas e aceleradas
transformações em todos os âmbitos sociais, o que determina algumas
FAEL
Capítulo 8
Reflita
Reflita
O que significa ser professor no atual contexto brasileiro? Como
você se percebe enquanto professor? Como acha que é percebido
pela sociedade enquanto professor de EJA?
Reflita
Reflita
A EJA, como modalidade da educação básica, em termos de legis-
lação possui recomendações claras que direcionam para a necessidade de
se buscar condições e alternativas adequadas à realidade de seus sujeitos,
ou seja, práticas que levem em conta seus saberes, seus conhecimentos
até então produzidos e suas experiências no mundo do trabalho.
Reconhece-se que é através dessas práticas, objetivas e subjetivas,
que os sujeitos têm a possibilidade de se formar conscientemente e, por
meio delas, aprendem e aprenderão conteúdos que determinam seus
126 modos de estar no mundo e de aprender novas coisas, que determina-
rão seus desejos de saber e de ensinar. Mais que certificar-se, a formação
consiste em aprender, progredir e continuar a aprender.
Os professores envolvidos nessa modalidade de ensino possuem
uma formação voltada para a educação regular e não tiveram, na gama
de disciplinas das licenciaturas, matérias e conteúdos voltados para a
EJA. Em virtude desse processo de formação, não puderam conhecer o
curso das aprendizagens dos sujeitos jovens e adultos e reconhecer que
tudo o que sabem até o momento, que retornam ao ensino formal, é
resultado de ação inteligente sobre o mundo (FREIRE, 1996). Esse
conhecimento poderá ampliar-se com o apoio do professor, no que diz
respeito a como se pode oferecer situações de aprendizado para forma-
lizar o que os educandos sabem e ampliar o que ainda não sabem, mas
que precisam saber.
Diante desse quadro, pode-se afirmar que o que se constata na rea-
lidade são práticas direcionadas à educação de crianças, infantilizando e
limitando o processo de ensino-aprendizagem ao não proporcionarem
discussões e reflexões e, tampouco, criticidade. Isso nada mais é que o
reflexo do processo educativo pelo qual passou o próprio educador.
FAEL
Capítulo 9
Constituir-se professor
Constituir-se educador de jovens e adultos é mais do que se cons-
tituir meramente um professor que dá aula. O compromisso com os
oprimidos torna-o um agente com a possibilidade de instigar processos
FAEL
Capítulo 9
formação seja revertida, inclusive porque muitos projetos não podem dar
certo no País por falta da própria formação adequada dos educadores.
Em relação ao educador de jovens e adultos, nota-se que há pouco
cuidado com sua formação e carreira do profissional, sendo a educação
básica sempre a menor das políticas.
[...] as iniciativas têm sido, até aqui, mais que modestas, como
se o professor se fabricasse por um passe de mágica ou como se
um sistema educacional, que é a base de uma nação, pudesse
funcionar sempre através de quebra-galhos, dá-se um jeitinho.
O resultado está aí: analfabetismo funcional em todos os ní-
veis, formação de várias gerações comprometidas por baixa
inserção cultural. Fica-se correndo atrás do deficit, seja com
programas compensatórios, supletivos, ou de formação em
serviço (GATTI, 1997, p. 4).
FAEL
Capítulo 9
Dica de Filme
Assista ao filme Adorável professor, que narra a história de um músico
que, em 1964, decidiu lecionar, para ter mais dinheiro e, assim, se dedicar a
compor uma sinfonia. Inicialmente, ele sentiu grande dificuldade em fazer
com que seus alunos se interessassem pela música. As coisas se complicaram
ainda mais quando sua mulher da à luz um filho, que o casal vem a desco-
brir mais tarde que é surdo. Para poder financiar os estudos especiais e o
tratamento do filho, ele se envolve cada vez mais com a escola e seus alunos,
deixando de lado seu sonho de tornar-se um grande compositor, mas ao
mesmo tempo mostrando a incrível arte de lecionar. Passados trinta anos
lecionando no mesmo colégio, há grandes surpresas mostradas no final do
filme, o que pode ter similaridade com a história de muitos professores.
ADORÁVEL professor. Direção de Stephen Herek. Estados Unidos:
Interscope Communications; PolyGram Filmed Entertainment; Hollywood
Pictures: Dist. Buena Vista Pictures, 1995. 1 filme (140 min), sonoro, legen-
da, color.
Dica de Filme
FAEL
Capítulo 9
Relato 5 – da faxineira
Ele anda sempre com um ar misterioso. Os quadros que ele pinta,
a gente não entende. Quando ele chegou, na manhã de ontem, me
olhou meio enviesado. Tive um pressentimento ruim, como se fosse
acontecer alguma coisa. Pouco depois chegou a moça loura. Ela me
perguntou onde ele estava e eu disse. Daí a pouco ouvi ela gritar e
acudi correndo. Abri a porta de supetão e ele estava com uma cara
furiosa, olhando para ela cheio de ódio. Ela estava jogada no divã e
no chão tinha uma faca. Eu saí gritando: Assassino! Assassino!
FAEL
Capítulo 9
Síntese
135
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noro, color.
FOREST Gump – o contador de histórias. Direção de Robert Zemeckis.
Estados Unidos: Paramount Pictures: Dist. Paramount Pictures; UIP,
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