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CORPORATIVAS
Finanças
Mercado
Financeiro
O segmento de mercado financeiro estuda os de finanças corporativas estuda, como já foi men-
comportamentos dos mercados, seus vários títulos cionado acima, os processos e as tomadas de de-
e valores mobiliários negociados e as instituições cisões nas organizações. E recentemente um novo
financeiras que atuam nesse segmento. Já a parte segmento -finanças pessoais - vem ganhando gran-
2 Fundamentos de administração financeira - Assaf Neto e Lima
de importância com o estudo dos investimentos e conceituai e técnica. O estudo de finanças vem-se
financiamentos das pessoas físicas, encontrando ajustando aos diversos momentos da economia e
alta relação com a área de mercado financeiro. encontra seu maior desafio atualmente, diante das
A crescente complexidade do mundo dos ne- evidências de fim da era industrial e surgimento
gócios determinou, ainda, que o responsável pela de uma era de informação e, mais adiante, de co-
área financeira desenvolvesse uma visão mais in- nhecimento.
tegrativa da empresa e de seu relacionamento com
Principalmente a partir dos anos 20 do sécu-
o ambiente externo. O conhecimento restrito às
lo XX, as finanças das empresas são motivadas a
técnicas e os instrumentos tradicionais da admi-
nistração financeira já se mostram insuficientes no evoluir de maneira a atender à crescente comple-
atual mundo dos negócios, necessitando o executi- xidade assumida pelos negócios e operações de
vo de maior sensibilidade relativa a outros valores mercado. O grande desafio das finanças é a cria-
e informações estratégicos. ção de uma metodologia para a gestão nesse novo
cenário dos negócios.
Archer e D'Ambrosio (1969) discutem essen-
1
fundamental importância para o estudo do funcio- Na década de 1930, verificou-se uma recessão
namento das finanças das empresas. económica vinda da crise de 1929/30, destacan-
No desenvolvimento da função financeira, do-se na época os estudos sobre solvência, liquidez
ainda, Weston (1975) considera que devido ao
2 e recuperação financeira da empresa.
prc-cesso de consolidação das empresas e ao cres- Devido à Segunda Guerra Mundial, na década
cimento do mercado interno norte-americano o de 1940, a função financeira atribuiu maior im-
inicio do século XX foi o marco do princípio do portância à obtenção de recursos para financiar a
estudo sistemático em finanças. E, diante do sur- produção de bens; no início de 1950, houve uma
r_~.er.:o de grupos industriais que demandavam rápida expansão económica mundial, apesar do re-
recursos financeiros para financiar as suas opera- ceio quanto à possibilidade de uma recessão nesse
ções, os gestores passaram a enfrentar problemas período pós-guerra. Tudo isso acarretou uma mu-
na estrutura de capital (composição das fontes de dança no foco do estudo de Finanças, que passou
financiamento) da empresa. a se caracterizar pela predominância das rotinas
Dewing (1914), apud Weston (1975), tam- internas e pela preocupação com a estrutura orga-
bém realizou estudos relativos ao processo de fi- nizacional, que ficou conhecida como abordagem
nanciamento e à definição da estrutura de capital administrativa.
(composição das várias fontes de financiamento),
Assim, no final da década dos anos 50 e início
constatando a forte relação entre o desequilíbrio
da década de 1960, houve uma redução na ren-
a e;rr^:ura de capital das empresas e suas res-
tabilidade das empresas consolidadas. O elevado
pectivas falências. O estudo concluiu que o foco
preço de mercado das ações de novas indústrias
do administrador financeiro, em ambiente de crise
resultou na escassez de recursos para as empresas
económica, é a proteção contra a falência e a pro-
tradicionais, o que fez com que os estudos de custo
moção de sua reorganização.
de capital ganhassem importância mais destacada.
Segundo Archer e D'Ambrosio (1969), ainda, uma
nova abordagem financeira ganhou relevância
IMPORTANTE • o estudo d e f i n a n ç a s d a s e m -
com a utilização da Teoria Económica nas Finan-
presas evoluiu bastante, exigindo d o adminis-
ças das Empresas.
t r a d o r a c o m p r e e n s ã o d e u m contexto m a i o r
Segundo Smith (1984), somente após a década
3
e m a i s c o m p l e x o . São inseridos nessas exi-
de 50 é que se verificou uma mudança no estudo
gências u m a sofisticada a v a l i a ç ã o d e riscos,
da função financeira, procurando compreender as
n o v a s f o r m a s d e a t u a ç ã o n o m e r c a d o , gestão
b a s e a d a e m valor, g o v e r n a n ç a c o r p o r a t i v a ,
várias consequências das políticas de investimento,
fatores jurídicos, entre outros assuntos i m p o r -
financiamento e dividendos sobre o comportamen-
tantes.
to dos fluxos de caixa das empresas, em seu nível
WÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÈÊÈÊÈÊÊÊÊIÊÊÊÊÊmm de risco e em seu valor económico, ou seja, uma
abordagem conhecida como positiva da literatura
financeira.
Décadas de 1920 a 1960
outra iniciada por Markowitz (1952) e direciona- 5 Markowitz apresentou em The Journal of Finan-
da aos estudos de portfólio (carteira) e de risco e ce, em 1952, o artigo Portfólio Selection, o qual di-
retorno. fundiu a noção de que um investidor deve formar
um portfólio com base em seu retorno esperado e
na variância dos retornos (risco), de modo a maxi-
mizar o primeiro e minimizar o último. A proposta
Portfólio, o u carteira, é u m conjunto d e b e n s ,
básica para as decisões financeiras sugerida está
c o m o ações, títulos d e r e n d a f i x a , imóveis,
em elevar o retorno da empresa para certo nível de
m o e d a s e t c , d e p r o p r i e d a d e d e u m investidor
risco, ou reduzir o seu risco para um determinado
(pessoa física o u p e s s o a jurídica). U m p o r t f ó -
retorno.
lio d i v e r s i f i c a d o c o n t é m u m a v a r i e d a d e desses
b e n s . O objetivo d a f o r m a ç ã o d e porffólios d i - Esse resultado favorável da relação risco-retor-
versificados é reduzir o risco.
no de um investimento é obtido, segundo ainda
Markowitz, por meio da diversificação de ativos
com reduzido nível de covariância.
No final da década de 1950, Modigliani e Miller
(1958) demonstraram que o valor de uma empre-
sa independe de sua estrutura de capital, ou seja, A covariância, a s s i m c o m o a correlação, são
eles abordaram a irrelevância da estrutura de ca- m e d i d a s estatísticas q u e i n d i c a m c o m o d u a s
pital e da política de dividendos sobre o valor de variáveis se r e l a c i o n a m entre s i . O u s e j a ,
mercado da empresa. Em outras palavras, a forma q u a n d o o p r e ç o d e u m ativo se e l e v a , c o m o
como a empresa é financiada (quanto de dívidas se c o m p o r t a o d o outro. Se u m a c o m p a n h a r
e de recursos próprios está financiando seus ati- a subida d o outro, diz-se que a covariância é
vos), ou como paga dividendos aos seus acionistas, positiva, d e n o t a n d o risco m a i o r p a r a a car-
não exerce influência sobre o seu valor. O valor de teira; caso contrário, tem-se u m a covariân-
mercado da empresa é o mesmo, independe dessas cia n e g a t i v a , r e d u z i n d o o risco de p e r d a p e l o
decisões. c o m p o r t a m e n t o inverso d e u m ativo e m r e l a -
ç ã o a o outro.
Markowitz (1952) rejeitou a ideia de que os Essa década teve como principal característica a
idores devem formar seus portfólios em- recessão mundial oriunda do esgotamento do mo-
somente no maior retorno esperado. As delo de crescimento adotado no pós-guerra. Além
: r : , i l e ; devem seguir o equilíbrio da relação ris- disso, o cenário económico mundial enfrentou a cri-
CD-cetomo. se do petróleo e paralelamente a bolsa de Nova York
entrou em crise, aumentando ainda mais o ambien-
Ma administração financeira, a teoria formulada
te de risco e incerteza. Assim, diante desse cenário,
a t a que um investimento deve ser avaliado por
houve a retomada dos modelos quantitativos cria-
cxmiribuição aos resultados de risco e retorno
dos antes da década de 70, por Markowitz, Tobin
fos por ampla (diversificada) carteira de
e Sharpe. Nessa década, a Teoria de Eficiência dos
Não deve predominar na gestão de uma em-
Mercados ganhou relevância com Eugene Fama,
maior preocupação com o desempenho isola- sendo essa uma das mais importantes contribuições
de um ativo, mas com o reflexo que determinada à Teoria de Finanças desenvolvidas nesse período.
promove sobre toda a empresa (portfólio).
Década de 1980
do. Se o ativo apresentar um risco maior que o do dos modelos matemáticos aumentou ainda mais
• SHARPE, N . F. Capital asset prices: a theory of market equi- 7 MERTON, Robert C. Influence of mathematical models in
.2- -- .r.ier conditions of risk. The Journal of Finance, v. finance on practice: past, present and future. The Royai So-
' 3 , p. 425-442, 1964. ciety, v. 347, n 1684, p. 451-463, 1997.
2
6 Fundamentos de administração financeira - Assaf Neto e Lima
no período, sendo empregados por bancos comer- Na década, ganharam destaque ainda os graves
ciais e de investimentos, bem como por investido- problemas financeiros enfrentados, entre outros,
res institucionais. Nesse contexto financeiro, deve pelo banco inglês Barings Bank e pelo fundo de
ser destacado o modelo de precificação de opções investimento norte-americano Long Term Capital
de Black e Scholes como o de maior influência na Management. Além disso, foram desenvolvidas
época. novas técnicas de custeio importantes para o mo-
mento de reestruturação pela qual passaram as
empresas.
O p ç õ e s s ã o contratos (derivativos) q u e o f e r e - Em períodos mais recentes, ganha destaque a
c e m a o seu titular a o p ç ã o (direito) d e c o m - fraude superior a US$ 7 bilhões sofrida pelo banco
p r a r o u v e n d e r u m ativo, e m certa d a t a futura, Société Generale em janeiro de 2008.
e a u m preço p r e v i a m e n t e e s t a b e l e c i d o . N o
contrato d e o p ç ã o , n ã o há a o b r i g a ç ã o d e
c o m p r a o u v e n d a , e s i m o direito (opção) d o O Barings Bank é u m b a n c o inglês q u e f a l i u
investidor. e m 1 9 9 5 e m razão de operações financei-
ras i r r e g u l a r e s e m a l - s u c e d i d a s r e a l i z a d a s
pelo seu principal o p e r a d o r de m e r c a d o . O
Nessa década, foram desenvolvidas também r o m b o d a instituição foi s u p e r i o r a U S $ 1,3
novas e complexas estratégias de mitigação de ris- bilhão e causado por u m a aposta equivoca-
cos através de derivativos. Destaque-se da déca- d a n o d e s e m p e n h o f u t u r o d o índice d e ações
da ainda a criação do Comité da Basileia que, em do Japão. N a realidade, o mercado acio-
1988, produziu o importante Acordo da Basileia nário japonês caiu mais de 1 5 % na época,
no qual se estabelecia uma estrutura de cálculo de determinando a falência do banco. O Barin-
capital regulamentar mínimo para as instituições
gs Bank foi v e n d i d o a u m g r u p o f i n a n c e i r o
financeiras, tornando-se referência para a super-
holandês (ING) pelo valor simbólico de u m a
visão bancária.
libra esterlina.
eventuais sobras financeiras que possuem, visan- A própria evolução das finanças imprimiu no
do uma melhor comodidade no futuro. Gerir de administrador uma necessidade maior de visuali-
forma eficaz os ganhos e as despesas individuais zar toda a empresa, realçando suas estratégias de
de cada pessoa é o que se conhece atualmente por competitividade, continuidade e crescimento fu-
finanças pessoais. turo. Em verdade, o administrador financeiro no
Quantas vezes você já fez a pergunta "onde está contexto atual não pode assumir posições menos
meu dinheiro?" ou teve a sensação de que seu di- envolventes de centrar suas preocupações unica-
nheiro simplesmente "evaporou"? Poucos brasilei- mente nos mecanismos de captação de fundos e
ros têm o hábito de colocar no papel suas receitas aplicações na atividade da empresa. Deve, outros-
e despesas. Organizar as contas significa ter real sim, gerenciar esses recursos de forma a manter a
dimensão de sua saúde financeira. Feito isso, você saúde financeira e económica da empresa e lograr
pode ter uma agradável surpresa e descobrir que ainda alcançar suas metas estabelecidas e criar va-
tem mais dinheiro do que pensa ou tomar um bai- lor aos seus proprietários (acionistas).
ta susto com o tamanho da sua dívida.
Sem um planejamento realista, fica difícil reser-
var algo para investir. Portanto, você deve apren- Criar valor está g e r a l m e n t e f o c a d o n o a c i o -
der a organizar sua vida financeira, para descobrir nista. O conceito r e s u m e - s e e m obter u m g a -
como transformar os sonhos de hoje em uma rea- n h o d o s investimentos (alocação d e capital)
lidade futura. s u p e r i o r a o custo d o f i n a n c i a m e n t o . E m o u -
••presas em posição desfavorável, ou seja, que É importante que se destaque, ainda, o risco
HT-rirr. resultado operacional inferior aos encar- associado às decisões financeiras tomadas pelas
nas das dividas, sacrificam diretamente o retorno empresas, o qual pode ser identificado segundo a
Éte seus proprietários (acionistas), destroem rique- natureza da decisão tomada:
n económica, além de promoverem, ao longo do
• • p o , o próprio desequilíbrio financeiro.
a) risco económico (operacional): inerente à
própria atividade da empresa e às caracte-
rísticas do mercado em que opera. Esse risco
IMPORTANTE • a s s i m , n o p r o c e s s o d e t o m a - independe da forma como a empresa é fi-
d a d e decisões f i n a n c e i r a s d e u m a e m p r e s a , nanciada, restringindo-se exclusivamente às
d o i s fatores d e v i a b i l i d a d e d e v e m ser c o n s i - decisões de investimentos (ativos). Alguns
exemplos: sazonalidade de mercado, tec-
nologia, concorrência, estrutura de custos
;3oómico, c o m base na relação entre o retor- mantida pela empresa, qualidade dos pro-
n o d o investimento e o custo total dos recursos dutos negociados, variações nas taxas de ju-
aplicados. A agregação de valor económico
ros de mercado etc;
e m u m a empresa somente se verifica q u a n d o
b) risco financeiro: reflete o risco associado às
o kjcro o p e r a c i o n a l a p u r a d o e m determinado
decisões de financiamento, ou seja, a capaci-
m o m e n t o superar o custo total de capital d a
e~cresa; e
dade da empresa em liquidar seus compro-
missos financeiros assumidos. Empresas com
o> financeiro, identificado pela sincronização e n -
reduzido nível de endividamento apresentam
fce a c a p a c i d a d e de geração de caixa dos
baixo nível de risco financeiro; altos níveis de
negócios e o fluxo de desembolsos (paga-
mentos) exigidos pelos passivos. O equilíbrio
endividamento, por outro lado, ao mesmo
financeiro de u m a empresa pressupõe u m a tempo em que podem promover maior capa-
interdependência d e prazos entre ativos e cidade de alavancar os resultados, denotam
passivos, ou seja, a maturidade d a s decisões também maior risco financeiro.
êstimento deve ser compatível c o m a
d a s decisões de financiamento. Os desempenhos desses dois componentes de
risco afetam, evidentemente, o risco total da em-
12 Fundamentos de administração financeira - Assaf Neto e Lima
presa e o seu valor de mercado. Esses riscos não Em economia de mercado, as empresas são
são tratados de forma independente, pois uma de- atraídas fundamentalmente pelas possibilidades
cisão financeira tende a afetar a outra. Em termos de lucros e seus preços de venda são regidos livre-
práticos, a administração financeira preocupa-se mente segundo comportamento de oferta e pro-
com o equilíbrio na relação risco-retorno de suas cura dos bens e serviços. Nesse sistema, ainda, as
decisões, alcançando a máxima rentabilidade asso- decisões financeiras são tomadas de forma bastan-
ciada a um nível de risco que promova a maximi- te descentralizadora, segundo os desejos e os crité-
zação do valor de mercado da empresa. rios de cada unidade empresarial. Ou seja, inexiste
nesse tipo de mercado qualquer forma de planeja-
mento centralizado, ficando as diversas unidades
económicas guiadas por seus próprios objetivos e
Quando uma empresa toma dinheiro e m - estratégias de atuação.
p r e s t a d o p a g a n d o taxa d e juros m e n o r q u e o
A ideia central dessa questão é se os princípios
retorno o b t i d o e m s u a a p l i c a ç ã o , d i z - s e q u e
do sistema de livre empresa atendem aos interes-
a l a v a n c o u f a v o r a v e l m e n t e o retorno d o s a c i o - ses sociais mais amplos da economia, ou seja, o
nistas. A diferença entre a taxa d e retorno d o bem-estar social do público em geral.
investimento e o custo d a dívida é transferida
A administração financeira orienta-se geralmen-
a o s acionistas: q u a n d o positiva, eleva o retor-
te pelos princípios de livre empresa, conforme pro-
n o d o s p r o p r i e t á r i o s , e q u a n d o n e g a t i v a , re-
postos por Adam Smith. Para Smith, o empresário,
8
d u z os seus g a n h o s .
ao procurar isoladamente maximizar sua riqueza,
propicia automaticamente a realização dos objeti-
vos de toda a sociedade. O autor propõe ainda que
A mensuração do risco da empresa é uma preo- o empresário, ao perseguir seu próprio benefício,
cupação presente em todas as decisões de ad- é guiado por uma mão invisível, fazendo com que
ministração financeira. Uma configuração mais todos obtenham, em consequência, também os me-
aprofundada do risco empresarial, inclusive abor- lhores resultados. Solomon e Pringle concluem,
9
dando a moderna teoria do portfólio, é desenvolvi- destacando que a grande contribuição de Smith foi
da principalmente em capítulos posteriores. perceber que, dadas as condições adequadas, particu-
larmente a liberdade de concorrência, as decisões dos
empresários, que visam à satisfação de seus próprios
1.5 A a d m i n i s t r a ç ã o financeira e o interesses, levariam a um resultado igualmente satis-
fatório para os interesses da sociedade.
objetivo da empresa
É preciso que se acrescente que as ideias libe-
No processo de seleção das decisões financei- rais de Adam Smith constituem a base da moder-
ras, a empresa deve delinear seu objetivo a perse- na economia, fornecendo os fundamentos teóricos
guir, de maneira que essas decisões sejam tomadas que explicam o processo atual de globalização e
segundo critério mais racional. A definição de seu competitividade do mercado.
objetivo deve ainda permitir que as empresas pos- É evidente que devem ser consideradas algu-
sam avaliar os vários resultados provenientes das mas restrições impostas ao sistema de mercado.
decisões financeiras tomadas, o que não é tarefa Esse enfoque mais liberal da doutrina económi-
fácil, requerendo algumas reflexões diante de seu ca somente produz os resultados apregoados em
caráter controvertido e, muitas vezes, complexo. sua totalidade na suposição da existência de mer-
cados eficientes. Toda intervenção do Estado no
Fundamento da definição do objetivo da
funcionamento do mercado ou quaisquer outras
empresa: o ponto de partida sugerido para essa
imperfeições no relacionamento entre os agentes
discussão é se o objetivo da empresa deve estar
económicos reduzem a atuação da mão invisível.
voltado para a satisfação do retorno exigido por
seus proprietários ou por algum parâmetro de de-
8 SMITH, Adam. The wealth of nations, 1776.
sempenho mais abrangente, que incorpora o bem- 9 SOLOMON, Ezra; PRINGLE, John. Introdução à adminis-
estar de toda a sociedade. tração financeira. São Paulo: Atlas, 1981. p. 27.
Introdução às finanças corporativas 13
dade tem por objetivo a preservação de recursos A adoção do conceito de valor de mercado das
ambientais e culturais, respeito às diversidades e ações (valor de bolsa) para definir o valor da em-
redução da desigualdade social. presa, e a qualidade das decisões financeiras to-
É amplamente reconhecida a missão da em- madas, apresenta restrições nos vários mercados
presa de promover a riqueza económica de seus mundiais e, em particular, no ambiente financeiro
proprietários, de ser suficientemente lucrativa de brasileiro. Essa metodologia de avaliação requer,
forma a remunerar o capital investido. Sem cria- como condição básica para validar sua aplicação,
ção de valor não há interesse na continuidade da alto grau de pulverização das ações de mercado,
não se distinguindo nas empresas envolvidas em
a p r e s a , crescimento de seus negócios, geração
negociações em bolsa a presença de um acionista
z-t err.prego e de trabalhos sociais.
(ou grupo reduzido de investidores) controlador
de capital. Poderá haver uma participação acioná-
ria mais expressiva do maior acionista, porém em
D e a c o r d o c o m o Instituto Ethos, a s práticas percentual distante do efetivo controle da empresa.
carretas de sustentabilidade trazem como
Essa exigência básica do mercado de capitais
' e s u l t a d o s a v a l o r i z a ç ã o d a i m a g e m institu-
não costuma ser observada nas empresas brasilei-
cional e d a marca, maior lealdade d o consu-
ras com ações negociadas em bolsas de valores.
m i d o r , m a i o r c a p a c i d a d e d e recrutar e m a n t e r Para a maioria das companhias, é possível iden-
talentos, flexibilidade, c a p a c i d a d e de a d a p t a - tificar um acionista (ou grupos reduzidos de acio-
ção e l o n g e v i d a d e . nistas) controlador, com um volume total de ações
Disponível e m : <www.ethos.org.br>.
que lhe permita isoladamente exercer influência
sobre as decisões financeiras da empresa.
Em verdade, o valor de mercado de uma ação
no mercado brasileiro não costuma embutir, em seu
Ambiente financeiro e valor da preço de negociação, o valor do controle, prejudi-
empresa cando assim uma análise de relação da cotação de
mercado da ação com o efetivo valor da empresa.
O objetivo de maximização da riqueza dos pro-
Como consequência, ainda, dessa concentração
prietários de capital encontra-se, de alguma for-
de papéis sob o domínio de poucos investidores,
9B2. refletido no comportamento das cotações de
observa-se que o número de ações normalmente
-mercado a longo prazo das ações da empresa.
negociado em bolsa é bastante reduzido em rela-
Especifica-se geralmente o longo prazo em ra- ção ao total emitido, prejudicando toda tentativa
xão de que no curto prazo os valores das ações de determinar o valor da empresa pelo produto
:•: ~ . ~ . muitas vezes, influências que pouco têm entre a quantidade de ações emitidas e seu valor
a TCT com o efetivo desempenho da empresa. A (cotação) de mercado.
r_rr: rrazo. dificilmente o administrador finan-
o ã r o consegue exercer algum controle sobre as
ir.arres ocorridas, ficando mais dependente de
sroações momentâneas de otimismo e pessimismo IMPORTANTE • dessa m a n e i r a , a avaliação d a
C D B relação ao comportamento da economia de e m p r e s a volta-se à projeção d a s m e d i d a s a n -
« • d a s especulativas nas bolsas de valores etc. A teriormente citadas d e seu valor intrínseco, o u
látego prazo, esses fatores se diluem e os preços de seja: benefícios económicos e s p e r a d o s d e c a i -
•Kfcado das ações tornam-se mais dependentes x a , risco a s s o c i a d o a esses resultados previstos
á b potencial de geração de resultados da empresa. e taxa d e retorno requerida pelos investidores.
São esses parâmetros decisórios f u n d a m e n t a i s ,
definidos c o m base nas expectativas d o s investi-
Todas a s decisões f i n a n c e i r a s p r o m o v i d a s p e l a dores c o m relação a o d e s e m p e n h o e s p e r a d o e
e ~ o r e s a t e n d e r ã o a refletir-se n o s v a l o r e s d e seu g r a u d e aversão a o risco, q u e d e t e r m i n a m
l o n g o p r a z o d e suas ações. o valor d e m e r c a d o d e u m a e m p r e s a .
16 Fundamentos de administração financeira - Assa. Neto e Lima
1.5.3 Objetivo da empresa e os conflitos Van Horne relata ainda que o objetivo da ma-
12
representado por fundos de pensão, fun- (principais) somente conseguirão que os adminis-
dos mútuos e outros investidores de gran- tradores (agentes) tomem as melhores decisões
de porte, representa uma maior parte da se for concedido um conjunto de incentivos pelos
população e controla mais de 60% do total resultados alcançados, além de exercerem um mo-
das ações negociadas. Portanto, sempre que nitoramento maior da gestão.
uma empresa tem sucesso em seu objetivo Não se verificando qualquer iniciativa para in-
de maximizar o valor de mercado de suas centivar e controlar o trabalho da administração,
ações, atinge o bem-estar económico da so- certamente os acionistas passam a conviver com
ciedade; uma situação de destruição de valor, em virtude de
b) a busca da maximização do preço das ações posições conflitantes dos gestores em relação aos
seus interesses de maximização de riqueza.
requer maior eficiência das empresas, pro-
movendo a redução de custos e melhorias Além dos problemas descritos no relaciona-
de qualidade dos produtos e serviços pres- mento entre acionistas e administradores, podem
tados, beneficiando todos os seus consumi- ocorrer ainda outros conflitos de interesses entre
dores; diferentes grupos, como acionistas e credores, de-
benturistas e parcelas da sociedade. Esses conflitos
c) argumentam os autores, ainda, que a longo
geram às empresas altos custos, conhecidos por
prazo o crescimento no preço das ações traz
agency costs, promovendo um viés na maximização
benefícios aos empregados, melhorando a
do preço de mercado das ações.
estabilidade e a oferta de empregos, o que
As métricas de desempenho como V E A (Va- 14
beneficia também toda a sociedade.
lor Económico Agregado), M V A (Valor Agrega-
15
da riqueza do acionista. Essas medidas de suces- bém conhecida por decisão de dividendos, é ge-
5: rir.ipresarial são desenvolvidas em detalhes em ralmente incluída na área de financiamento por
partes posteriores deste livro. representar, em última análise, uma alternativa de
financiar suas atividades.
As finanças corporativas priorizam sua atenção
Resumo nas decisões de investimento, financiamento e di-
videndos, de maneira a promover a riqueza de seus
As finanças corporativas incorporam em seu
acionistas, minimizando os riscos e tornando mais
conteúdo todos os resultados da evolução concei-
eficazes os recursos alocados. Fundamentalmente,
mal e técnica verificada ao longo dos anos. Na dé-
a administração financeira está voltada para a cria-
aaaa de 30, as finanças eram voltadas à captação
ção de riqueza e a orientação básica das decisões
id --.r^rsos. Com a depressão económica, o enfo-
financeiras das empresas segue o objetivo principal
r_e passou a ser administrativo e a preocupação
de maximização da riqueza de seus proprietários.
-terra era com a liquidez e a solvência da empre-
sa. Dos anos 40 até meados dos anos 50, o enfoque Esse objetivo da administração financeira é
p-ass: _ para as decisões externas como aplicadora mensurado a partir do valor que suas ações ordi-
z± --irosos. Na década de 50, surgem os conceitos nárias alcançam no mercado, refletindo, em última
n rer: rr.o de investimentos e custo de capital e da análise, as expectativas dos acionistas com relação
fjesão de riqueza. aos resultados das decisões financeiras tomadas.
Amoderna teoria de finanças surge no final dos Uma empresa somente cria valor se o retorno do
ara: s "" e início dos anos 60 com a estrutura de capital investido em sua atividade exceder o custo
cnjôral, dividendos e o valor da empresa. Na déca- de oportunidade de suas fontes de financiamento.
zi it í. surge a gestão do risco com estratégias
z
Ao tomar decisões de investimento que promovam
• O H I H udo derivativos, opções, swaps e hedges.
esse diferencial economicamente favorável, a em-
Z: -erres que discutem a validade do CAPM e da presa passa a promover um aumento de seu valor
-Lp-rtese de Eficiência do Mercado começaram a agregado, revelando uma atraente aplicação de
parra.- aestaque na década de 1990. Atualmente, seus recursos.
r_a.r_terr.-se as aplicações dos modelos matemáti-
r.i pestão financeira das empresas.
Links da web
- administração financeira envolve-se tanto
coco. a problemática da escassez de recursos quan- <http://www.anefac.com.br/>. Site da Associação
m com a realidade operacional e prática da gestão Nacional do Executivos em Finanças, Administração e
rraar terra das empresas, assumindo uma definição Contabilidade.
z~ rrarrr amplitude. Exige do administrador uma <http://www.prossiga.br/nuca-ie-ufrj/economia/>.
aeressidade maior de visualizar toda a empresa, Biblioteca Virtual de Economia.
soskando suas estratégias de competitividade, <http://www.ibef.com.br/>. Site do Instituto Brasileiro
rtrrrruidade e crescimento futuro. de Executivos em Finanças de São Paulo.