Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
_____________________________________________________________________________
MINÚCIAS DA MORTE –
RESENHA CRÍTICA DO FILME A PARTIDA
Minutiae of Death –
Critical Review of the movie A Partida
1
Andréia de Sousa Martins
Título: A Partida
Título Original: Okuribito
Elenco: Masahiro Motoki, Tsutomu Yamazaki, Ryoko Hirosue, Kazuko
Yoshyuki, Kimiko Yo, Takashi Sasano.
Direção: Yojiro Takita
Gênero: Drama
Duração: 130 min.
Distribuidora: Paris Filmes
Estreia: 05 de Junho de 2009
_____________________________________________________________________________
Revista PALAVRAR - João Pessoa - Ano 1, vol. 1, n. 1, p. 113-118 - Abril de 2010 – Semestral
PALAVRAR
_____________________________________________________________________________
“Agora percebo como minha vida foi inexpressiva até hoje”. Com essa
frase, somos apresentados ao músico Daigo Kobayashi e introduzidos ao
mundo dos rituais funerários com a preparação do corpo de Tomeo, uma
jovem hermafrodita que cometera suicídio. O ritual de “Acondicionamento”,
como é chamado, garante uma partida pacífica do falecido. Em seguida, com
um flashback, somos transportados à Tókio para conhecer a vida de Daigo
dois meses antes. Com a dissolução da Orquestra Filarmônica onde
trabalhava e sem perspectivas de continuar a viver da música, surge a idéia
de retornar para sua cidade natal, Yamagata. Sua esposa, Mika, é favorável à
mudança e o casal vai morar na casa em que Daigo cresceu, onde sua mãe
morreu e onde seu pai, que os abandonou quando ele ainda era criança,
possuía um bar. Procurando ofertas de emprego no jornal local, ele se
depara com o anúncio da empresa NK Agent – Ajudando a partir, que ele
pensa ser uma agência de viagens.
Assim, conhecemos a figura enigmática do Sr. Ikuei Sasaki, o chefe, e
de sua secretária, Yuriko Kamimura. Ele explica que o “ajudando a partir”,
na verdade, por um erro de digitação, é “ajudando os que partiram” e que a
NK Agent é uma agência especializada em acondicionar os corpos dos
mortos antes da cremação ou do enterro. NK vem de Noukan, que,
literalmente, significa “pôr no caixão”. Daigo fica espantado com o trabalho,
mas o aceita, e começa a conhecer as etapas e, principalmente, as
dificuldades do ramo.
Concomitantemente ao avanço de Daigo nas tarefas do trabalho,
vamos conhecendo também outros personagens da cidade de Yamagata,
como a proprietária da Casa de Banhos Tsurunoyu, a Sra. Tsuyako, e seu
filho, Yamashita, que insiste em vender o imóvel para a construção de um
prédio de apartamentos. Conhecemos também o grande amigo da Sra.
Tsuyako, o Sr. Shokichi Hirata, cliente da casa de banhos há décadas. Mas,
mesmo assim, Daigo ainda demora a se acostumar ao trabalho; neste ponto,
começamos a conhecer melhor sua estreita relação com a música, quando
ele volta a tocar o seu violoncelo de criança, e percebemos o quanto
bloqueou lembranças do pai, ao ponto de sequer lembrar o seu rosto. Depois
de diversos trabalhos como assistente do Sr. Sasaki, Daigo já tem autonomia
_____________________________________________________________________________
Revista PALAVRAR - João Pessoa - Ano 1, vol. 1, n. 1, p. 113-118 - Abril de 2010 – Semestral
PALAVRAR
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
Revista PALAVRAR - João Pessoa - Ano 1, vol. 1, n. 1, p. 113-118 - Abril de 2010 – Semestral
PALAVRAR
_____________________________________________________________________________
consegue se lembrar, nitidamente, de sua feição. Isso faz com que reconheça
a figura de seu pai.
Apreciação Crítica
_____________________________________________________________________________
Revista PALAVRAR - João Pessoa - Ano 1, vol. 1, n. 1, p. 113-118 - Abril de 2010 – Semestral
PALAVRAR
_____________________________________________________________________________
não é local; podemos até dizer que se trata de uma definição presente no
inconsciente coletivo (JUNG, 2006).
Mas, de toda forma, nos é possível, apesar do distanciamento da
morte atual, ou do “tabu da morte”, conforme definiu José Carlos Rodrigues
(2008), enxergar a necessidade deste tipo de ritual em nossa sociedade,
mesmo que não seja mais realizado por quem de direito. Se esta etapa fosse
pulada, se acabássemos de vez com os rituais de morte e de luto – o que
acreditamos impossível – nos seria muito mais complicado superar o
rompimento que a morte causa. De toda forma, a comunicação com o morto
nunca cessa: acontece em sonhos, em lembranças e em qualquer tipo de
objeto ou ação que nos lembre dos que já se foram. Essa comunicação
permanecerá.
A diferença é a forma com que nós a conduziremos, já que a estrutura
formal de interação será substituída por uma exclusivamente unilateral.
Então, chegamos a duas instâncias de substituição: a primeira,
culturalmente transformada pelo afastamento da morte, pela criação do
“tabu da morte”, definida pela transferência do tratamento dos mortos da
família para as casas funerárias já especializadas; e, a segunda, em termos
estritamente comunicacionais, da troca da estrutura de relacionamento
entre o que fica e aquele se vai – e necessitamos nos prender aqui somente
aos fatos científicos, abortando aqueles espirituais, religiosos e
supersticiosos – a relação comunicacional se torna unilateral: apenas os
vivos lembram-se dos mortos, primeiro com freqüência, depois, somente em
datas ou em acontecimentos específicos.
A forma com que o filme lida com essa substituição em primeira
instância (família – funerária), retratando tão bem as dificuldades
enfrentadas por esse ramo de atuação tão necessário e, ainda assim, tão
descriminado, nos faz esquecer todos esses trâmites e desejar sermos tão
delicada e respeitosamente tratados no dia de nossa morte, não importando
por quem seja. Amém.
______