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FOTOGRAFIA, VÍDEO E CINEMA 175

A percepção cromática na imagem fotográfica em


preto-e branco: uma análise em nove “eventos de cor”
Luciana Martha Silveira1

A cor participa de diversas formas na mos identificar perceptivamente, por exem-


percepção do nosso mundo físico visual. Ao plo, objetos “céu”, “montanhas com neve”,
mesmo tempo, a percepção visual é construída “árvores”, “folhagens” e “lago”, através dos
durante toda a vida de um indivíduo (Gibson, contrastes entre o branco, o preto e os
1974), sendo a cor uma das principais ca- cinzas e suas diferenças de luminosidades,
racterísticas agregadas aos objetos percebi- que possivelmente vão gerar respostas
dos, juntamente com o cheiro, o ruído, a cromáticas para estes mesmos objetos.
forma, o gosto, etc. Outros objetos também podem ser reconhe-
Por outro lado, atribuímos culturalmente cidos, tais como os que remetem a relações
a uma imagem em preto-e-branco (p/b) o temporais ou até áreas extensas uniforme-
sentido de uma imagem incolor, isto é, que mente preenchidas.
não desperta a percepção cromática. Longe As respostas cromáticas a esses estímu-
de serem imagens sem cor, as imagens em los poderão se dar de muitas maneiras. Para
p/b fazem parte do mundo físico visual como que fossem minimamente mensuradas, fo-
“chaves” na construção perceptiva cromática ram tratadas de duas maneiras principais:
de cada indivíduo, fazendo explodir cores considerando o branco, o preto e os cinzas
subjetivas e particulares. da imagem fotográfica tão cores quanto o
As discussões em torno da imagem vermelho, o verde ou o amarelo, e através
fotográfica em p/b, geralmente, se voltam aos da complementação cromática, quando o
impactos tecnológicos na produção da ima- branco, o preto e os cinzas da imagem são
gem, a comparação com a pintura, a inter- “traduções” de outras cores e por isso es-
ferência do fotógrafo e do dispositivo no timulam a produção de um intervalo cro-
processo de captura da imagem, não se mático (paleta).
detendo na sua interpretação visual cromá- Os eventos de cor são subjetivos e
tica. Por outro lado, a teoria da cor é uma abstratos, de difícil acesso objetivo para
teoria interdisciplinar, que pode ser aplicada descrições e análises, porém, eles podem
em inúmeras situações, prevendo os múlti- ser delimitados através de exemplificações
plos aspectos da percepção visual cromática. de estímulos e respostas no âmbito da per-
A correlação entre estes dois arcabouços cepção cromática, tornando-se suficiente-
teóricos proporcionou a formulação de nove mente pontuais.
“eventos de cor”. Cabe destacar que as paletas “percebi-
A partir da complexidade da percepção das” nos eventos são construídas num
visual cromática, podem ser descritas e ana- composto inconsciente, parte coletivo, parte
lisadas situações nas quais a percepção cro- individual, como mostra a teoria perceptiva
mática acontece na imagem fotográfica em de James J. Gibson (1974).
p/b (Silveira, 2002). Essas situações são de- Cada um dos nove eventos de cor é
nominadas eventos de cor, que são aconte- diferenciado através do tipo de estímulo
cimentos perceptivos cromáticos, flagrados no vindo da própria imagem e o tipo de res-
âmbito da percepção visual geral de uma posta simulada. Mesmo separados em es-
imagem fotográfica em p/b. tímulos e respostas diferenciados entre si,
Para que identifiquemos um evento de os eventos de cor não possuem limites
cor, devemos reconhecer um estímulo a visíveis, ou seja, um objeto reconhecido
partir da imagem fotográfica em p/b, capaz numa imagem fotográfica em p/b pode ser
de provocar uma possível resposta estímulo para mais de um evento simul-
perceptiva cromática no observador. Pode- taneamente.
176 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume I

1. Quando o branco, o preto e os cinzas visão da cor, percebem o branco e o preto


são cores através dos mesmos parâmetros pelos quais
percebem as outras cores. Os outros receptores
Considerando a percepção cromática da visuais chamados bastonetes percebem apenas
imagem fotográfica em p/b em dois momen- a ausência ou a presença da fonte de luz. Isto
tos, neste item trataremos do primeiro deles quer dizer que, fisiologicamente, o branco, o
que está relacionado à sensação cromática, preto e os cinzas são percebidos exatamente
ou seja, às impressões cromáticas físicas da nos mesmos processos pelos quais são perce-
imagem. A primeira impressão ou sensação bidos o vermelho, o azul ou o amarelo.
cromática depende da conceitualização do Outro aspecto da teoria da cor relacio-
branco, do preto e dos cinzas e suas funções nado ao status do branco, preto e cinzas são
na geração de significados, a partir das os sólidos de cor, que mostram o branco e
imagens. o preto como parâmetros importantes em sua
Tradicionalmente, através dos conceitos construção (Caivano, 1995). A maioria das
formadores da teoria da cor, principalmente tentativas de organizar as cores num modelo
em relação aos aspectos físicos, o branco, topológico pela colorimetria, parte de um eixo
o preto e os cinzas não são considerados cores principal, onde se localizam o preto e o
como as outras do espectro [Lozano, 1978], branco.
pois consideram que seja “cor” somente Através da visão dinâmica da cor, pode-
aquela que possui o que se chama matiz2. mos definir o branco, o preto e os cinzas
Por esta definição, todas as cores do espec- como cores, no mesmo status que o verme-
tro, exceto o branco, o preto e os cinzas, lho, o verde ou o azul. Contradizendo a visão
possuem matiz definida, e são por isso padronizada da teoria da cor, consideraremos
denominadas “cores”. a partir de agora que a fotografia em p/b pode
A definição de cor fundamentada na ser analisada nos mesmos parâmetros
presença ou não de um matiz, é estanque e perceptivos da fotografia em cores.
específica, não permitindo a interação com Os três primeiros eventos de cor serão
outras visões como, por exemplo, a dos apresentados a seguir fundamentando-se na
pintores. O branco, neste caso, deve ser visão dinâmica da cor, ou seja, considerando
considerado como uma reunião criativa de o branco, o preto e os cinzas como cores.
vários matizes e não como uma simples No âmbito deste conceito, cada evento de
somatória de partes. O preto, por sua vez, cor apresentará suas peculiaridades.
não é uma simples absorção de todos os
matizes, e sim também uma reunião com- 1.1 Primeiro evento de cor: contrastes e
plexa de partes. Neste contexto, podemos texturas
considerar branco e preto como possuidores
de matizes, inclusive os cinzas intermediá- O primeiro evento de cor é a percepção
rios. Escritos históricos mostram que desde de elementos componentes da imagem foto-
há muitos séculos os pintores e os profis- gráfica em p/b, através do grau de contraste
sionais que lidavam diretamente com a fa- entre o branco, o preto e os cinzas, gerando
bricação e utilização dos pigmentos e tintas a percepção da textura, que por sua vez
já tinham o branco, o preto e os cinzas no colaboram na percepção do material, do
mesmo nível das outras cores distribuídas em tamanho e da estrutura dos objetos retrata-
suas paletas. Leonardo da Vinci por exem- dos, entre outros.
plo, argumentava que o branco, preto e cinzas Algumas cores são construídas além da
também faziam parte da paleta dos pintores. sensibilização fisiológica dos cones (Lozano,
Circulando pelos ateliers, os escritos de 1978). Assim acontece com a percepção da
Leonardo ditavam a metodologia do pintar, cor metálica, da cor transparente, da cor
onde o branco, o preto e os cinzas eram tão translúcida, etc., que são percebidas em
cores como todas as outras (Carreira, 2000). interação com a percepção de texturas, atra-
Por outro lado, pensando sob aspectos vés dos contrastes.
fisiológicos da teoria da cor, segundo Pedrosa A percepção dos contrastes podem levar
(1982), os cones ópticos, responsáveis pela ao reconhecimento de objetos diversos, de
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pessoas, de clima, de texturas, da com uma cor indutora, a sua cor comple-
luminosidade, entre outros componentes. A mentar influencia a percepção de todas as
semântica da cena será associada outras cores para onde se dirige o olhar e
sistemicamente a um certo critério de coe- assim sucessivamente. No caso de uma
rência, determinado a partir da noção das imagem com cores sem a presença de matizes,
diferenças entre os contrastes. mas somente de valores, as cores indutoras
Apenas com os recursos cromáticos do provocam outras cores que também apresen-
branco, do preto e dos cinzas e através dos tam somente variação de valor e não de matiz.
contrastes entre eles, torna-se evidente a A definição do fenômeno da mutação
estrutura da forma, gerando significado ra- cromática passa pela relação entre as cores
pidamente. Podemos, inclusive, perceber e o efeito provocado na percepção visual
diferentes texturas metálicas, onde percebe- humana, principalmente através dos contras-
se o mesmo material (metal) com diferen- tes entre elas. No caso da imagem fotográ-
ciações (mais escuro, mais claro, velho, novo, fica em p/b podemos perceber este fenôme-
desgastado, relevos, opacidade, brilho, etc.) no, principalmente devido aos fortes contras-
detectadas também apenas pelos contrastes tes entre essas cores, provocando o apare-
entre o branco, o preto e os cinzas dessas cimento de uma vasta gama de cinzas.
imagens, ou ainda a transparência, resultan-
do na percepção de objetos transparentes 1.3 Terceiro evento de cor: cor inexistente
como o vidro.
A percepção da textura do objeto de uma O terceiro evento de cor é fundamentado
imagem fotográfica é construída através da na teoria da cor inexistente, a qual trata das
influência mútua entre valores, que temos cores que aparecem fisicamente, baseadas na
denominado aqui de contrastes. Consegue- relatividade de absorção e reflexão, pela
se, então, perceber outras características matéria, dos raios luminosos (Lozano, 1978).
físicas de um objeto, tais como, a fragili- As áreas brancas, pretas e cinzas da
dade, a transparência ou o brilho. imagem fotográfica em p/b servem como
anteparo para a explosão de cores resultantes
1.2 Segundo evento de cor: mutações da reflexão e/ou absorção de parte da luz
cromáticas em preto-e-branco incidente. Isso acontece porque nenhum corpo
absorve ou reflete totalmente os raios lumi-
O segundo evento de cor fundamenta-se nosos. Para percebermos brancos e pretos
no conceito das mutações cromáticas, que perfeitos, os raios da fonte luminosa inciden-
ocorrem na relação entre as cores branco, preto te deveriam ser totalmente refletidos (no caso
e cinzas das imagens fotográficas em p/b. do branco) ou totalmente absorvidos (no caso
Os fenômenos das mutações cromáticas do preto). Porém, no processo de absorção
são manifestações das cores fisiológicas, que ou reflexão, há sempre a perda de raios,
acontecem devido aos contrastes simultâne- alterando o resultado perceptivo do branco,
os, sucessivos ou mistos, isto é, fenômenos do preto e dos cinzas.
onde fisiologicamente há alterações das cores Começamos a entender amplamente o
na presença de outras (Pedrosa, 1982). No fenômeno da cor inexistente com a teoria da
caso do segundo evento de cor, será eviden- visão cromática de Thomas Young, que
ciada a diversidade de cinzas que aparecem descobriu três receptores fisiológicos para o
devido aos contrastes entre o preto, o branco azul, o vermelho e o verde, que quando são
e os outros cinzas fixados na imagem. estimulados ao mesmo tempo provocam a
No segundo evento de cor chamamos as sensação do branco e quando não são esti-
cores preto, branco e cinzas - fixadas fisico- mulados, provocam a sensação do preto
quimicamente na imagem - cores indutoras, (Pedrosa, 1982). Sabemos hoje que estes
e a diversidade dos cinzas que aparecem receptores são chamados cones e que nunca
devido aos contrastes entre as cores indutoras, podem ser estimulados totalmente e ao mesmo
cores induzidas (Bouma, 1971). tempo e nem ser totalmente não estimulados
Segundo a definição de mutação cromá- ao mesmo tempo, pois não há no mundo físico
tica (Pedrosa, 1982), saturando-se a retina brancos e pretos que consigam tal estimulação
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perfeita. Por isso, sempre há resíduos de cor objetos e significados cromáticos, assimila-
neste processo e é extremamente difícil, senão dos como particularidades ou como subje-
impossível, percebermos brancos, pretos ou tividades.
cinzas “perfeitos” no mundo físico real. A cor não pode ser percebida isoladamen-
As imagens fotográficas em p/b são te, de forma desvinculada dos outros parâ-
anteparos perfeitos da cor inexistente e metros perceptivos dos objetos alocados na
conseqüentemente deste terceiro evento de memória (cheiro, tamanho, textura, som,
cor. Plenas de áreas brancas, pretas e cinzas, gosto, etc.). Ela é um elemento apreendido
apresentam uma explosão de cores a partir durante toda a vida de um indivíduo e não
dos resíduos de raios luminosos incidentes, há o caminho de volta. A teoria perceptiva
os quais, por sua vez, provocam reações em de Gibson (1974) explica a percepção como
cadeia, criando ainda mais cores induzidas um composto apreendido, impossibilitando a
por contrastes. percepção das características isoladas dos
objetos. Segundo ele, apreendemos na me-
2. Quando o branco, o preto e os cinzas mória, através da percepção visual, a inter-
são mais do que cores pretação dos objetos que nos rodeiam, sem-
pre num composto de informações integra-
Trataremos aqui de outro momento na das, que são parte do repertório ao mesmo
percepção cromática, onde o branco, o preto tempo individual e coletivo, por ser também
e os cinzas que compõem as cenas, além de dependentes, além disso, de fatores culturais.
serem vistos como cores eles mesmos, tam- Pela teoria perceptiva de Gibson (1974),
bém podem ser vistos como traduções de aprendemos a “ver” os objetos com sua
outras cores. Na imagem fotográfica em p/ respectiva característica cromática, entre
b, as traduções cromáticas são percebidas outras, e por isso fica impossível separá-lo
através do reconhecimento do objeto e da de sua cor. A simples ação física da luz dentro
comparação (em nível inconsciente) da pri- dos olhos pode apenas proporcionar cores,
meira percepção visual com a interpretação mas não os objetos coloridos, que são com-
anterior deste objeto a partir da memória postos de sensações e produtos da capaci-
pessoal. Quando, através da comparação, dade visual e mental chamada percepção.
percebe-se a “falta” da cor, acontece o que A complementação cromática depende da
chamaremos aqui complementação cromática. interação entre a cor e as outras caracterís-
Delimitamos o conceito de complemen- ticas formadoras dos objetos em nossa
tação cromática como o ato perceptivo vi- memória, os chamados significados agrega-
sual individual, subjetivo, parte consciente e dos. Os integrantes do mundo visual, assim
parte inconsciente, de complementar croma- como as cores, as texturas, as formas e bordas
ticamente objetos reconhecidos em quaisquer têm significados que não se separam de suas
imagens fotográficas em p/b. Ele acontece qualidades espaciais concretas, isto é, os
porque no processo de percepção cromática objetos estão agregados a seus atributos.
há a comparação entre os objetos reconhe- No nível da percepção, ao reconhecermos
cidos nos vários tipos de imagens em p/b um objeto, por exemplo, numa imagem
e objetos guardados na memória, a partir do fotográfica em p/b, a falta da característica
vasto conjunto imagético adquirido no ato “cor” é percebida. Embora a cor não esteja
interpretativo de “ver”. Os objetos estão presente fisicamente, a percepção agrega às
alocados na memória juntamente com todos outras características do mesmo objeto seus
os seus parâmetros perceptíveis. Quando a atributos cromáticos. Sendo assim, quando
falta de um deles é detectada (no caso, a cor), reconhecemos um objeto numa imagem
acontece a sua complementação. fotográfica em p/b, este será complementado
O que nos interessa neste trabalho é o cromaticamente, segundo a determinação de
ato da complementação cromática dos objetos um intervalo cromático, a partir da compa-
reconhecidos na imagem em p/b e não a cor ração inconsciente entre objetos.
escolhida (mesmo que inconscientemente) O reconhecimento do objeto e a delimi-
para esta. Sabemos que todos os indivíduos tação de um intervalo de cor correspondente
são diferentes em respeito a correlacionar a ele são elementos obtidos através de “suges-
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tões” que se encontram na própria imagem. chamar objetos fixos certos tipos específicos
Podemos mapear essas sugestões utilizando- de roupas e acessórios, ou ainda os objetos
nos dos parâmetros de análise da cor de construídos cromaticamente pela propagan-
Munsell. De acordo com Munsell (Caivano, da, como as cores agregadas aos produtos
1995), uma cor é constituída por três vari- de grandes marcas. São ainda objetos fixos,
áveis de análise: matiz, valor e croma. Dadas partes do corpo humano, como pele, cabelo,
estas três variáveis de análise, define-se um olhos, sangue, etc. Quando este tipo de objeto
intervalo de cor. Retomando suas definições: é reconhecido numa imagem fotográfica em
Matiz é a característica que diferencia uma p/b, a falta da cor é percebida e o compa-
cor da outra: o azul do amarelo, o azul do ramos inconscientemente à interpretação
vermelho, etc.; Valor é o grau de claridade anterior deste objeto, a partir da memória
ou de obscuridade contido numa cor; Croma pessoal. O matiz sugerido na comparação será
é a qualidade de saturação de cada cor que único e a complementação cromática a partir
indica seu grau de pureza. dele terá variações apenas nos eixos da
As três variáveis de análise de Munsell luminosidade (valor) ou saturação (croma),
estão presentes na própria imagem fotográ- de acordo com o que é sugerido na própria
fica em p/b e, a partir da sua junção, temos imagem.
a indicação de um intervalo cromático de- A paleta para a complementação cromá-
terminado (paleta) para a ocorrência da tica do objeto fixo se dá na junção das
complementação cromática. informações contidas nas variáveis de aná-
A variável matiz é dada pela forma do lise cromática sugeridas na imagem. Para
objeto, sugerida pelos contrastes entre o a definição de cada paleta, são apontados
branco, o preto e os cinzas da imagem. A primeiramente os objetos fixos da imagem
forma determina um tipo específico de objeto, e, posteriormente, as correspondentes vari-
que remete à interpretação a partir da me- áveis de análise cromática de Munsell que
mória e consequentemente ao seu significa- eles sugerem. Identificando estes parâmetros,
do cromático agregado. O matiz está ligado formaliza-se uma paleta para a complemen-
aos objetos na memória de cada indivíduo tação cromática dos objetos fixos.
de forma pessoal e diferenciada.
A qualidade da cor (valor e croma) é dada 2.2 Quinto evento de cor: paleta cénica
pela luminosidade dos cinzas alocados em
cada objeto da imagem, que remetem ao grau O quinto evento de cor fundamenta-se na
de claridade, obscuridade e saturação. complementação cromática de objetos reco-
nhecidos na imagem fotográfica em p/b, com
2.1 Quarto evento de cor: paleta fixa um intervalo cromático finito (paleta), defi-
nido através das variáveis de análise cromá-
Diferenciamos um evento de cor através tica de Munsell, sugeridas pela própria
do tipo de estímulo, do tipo de resposta e imagem. O matiz é dado pelo objeto reco-
a complementação cromática que se forma nhecido na imagem, que no caso da paleta
a partir da junção dos dois anteriores. Es- cênica, chamaremos objeto cênico. Tais
pecificando as variáveis de análise cromática objetos são, por exemplo, céu, mar, folha-
no quarto evento de cor, elas se originam gens, montanhas, nuvens, lagos, rios, cacho-
do reconhecimento de objetos, na imagem, eiras, prédios, monumentos, areia da praia,
que sugerem um matiz único. A paredes, assoalhos, etc.
complementação cromática no âmbito deste Quando o objeto cênico reconhecido na
evento acontecerá dentro do intervalo cro- imagem é uma “folhagem” por exemplo, cujo
mático restrito a um único matiz, variando aspecto formal e a comparação com a in-
porém, apenas na luminosidade (valor) e na terpretação anterior deste objeto, a partir da
saturação (croma). memória pessoal, determinam matizes em
Os objetos fixos são, por exemplo, objetos diferentes tonalidades de verde vizinhas no
institucionais, tais como placas de trânsito, círculo cromático, há a composição de um
semáforos, com os quais temos contato intervalo finito para a sua complementação
exaustivo no cotidiano. Também podemos cromática. Os verdes para uma folhagem
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variam muito em vários aspectos. Os verdes consigo uma paleta de matizes específicas,
da Amazônia são muito diferentes dos ver- guardada na memória juntamente com outras
des da Patagônia, de modo que a percepção características. As variáveis: matiz, valor e
do objeto cênico “folhagem” devolve mati- croma sugeridas na imagem fotográfica em
zes diversos para as diversas culturas. p/b se identificam com as várias tonalidades
Através da localização das três variáveis das paletas representativas de cada época.
de análise cromática no sólido de Munsell,
vemos a formação da paleta para a 2.4. Sétimo evento de cor: paleta move-
complementação cromática do objeto cênico diça
“folhagem”, identificado o valor e o croma
com muita variação, interferindo diretamente A paleta movediça diz respeito ao ato da
na construção da paleta cênica para este percepção cromática a partir do reconheci-
objeto. mento de objetos chamados movediços. Estes
objetos não possuem formas familiares,
2.3 Sexto evento de cor: paleta temporal convencionais e não remetem a algum sig-
nificado cromático guardado na memória. Ao
O objeto que é reconhecido na imagem contrário dos outros eventos, onde o
fotográfica em p/b no sexto evento de cor “disparador” do processo (estímulo) de per-
traz componentes cromáticos temporais agre- cepção cromática é o reconhecimento de um
gados, isto é, a paleta de cores para sua determinado objeto e a comparação com a
complementação cromática é formada a partir imagem guardada anteriormente na memó-
de matizes relacionados à época em que ria, no sétimo evento de cor há o reconhe-
localizamos tal objeto. cimento de um objeto que não possui sig-
Objetos com características cromáticas nificado cromático específico agregado ou
temporais são guardados na memória, jun- ainda não se reconhece um contexto para ele.
tamente com a paleta relacionada à sua época. Haverá então a comparação entre a
Esta paleta é formada perceptivelmente, luminosidade (valor) dada pela imagem e a
através de imagens resgatadas ou forjadas do luminosidade de cada cor alocadas na me-
passado, em filmes, televisão, fotografias, mória.
artes plásticas, cor da moda, maquiagem, etc A paleta movediça é uma espécie de
(Walch & Hope, 1995). “coringa” dos eventos de cor. Todas as vezes
Chamamos o estímulo vindo da imagem que não se consegue encaixar o reconheci-
em p/b no sexto evento de cor de objeto mento de um objeto nas categorias determi-
temporal. Eles apontam para um intervalo nadas para os outros eventos, recorre-se ao
cromático relacionado à paleta de determi- procedimento de complementação cromática
nada época, o que faz o matiz dependente através da comparação entre luminosidades.
da ligação específica a uma característica No sétimo evento de cor, a construção
temporal. São exemplos deste tipo de objeto: da paleta para a complementação cromática
roupas, sapatos, acessórios e maquiagem da do objeto movediço se dará então na asso-
moda, carros, vestimentas de crianças, ciação dos cinzas da imagem, que são, na
eletrodomésticos, talheres, pratos, cafeteiras. verdade, sugestões de luminosidades, com o
O valor, o croma e o matiz estão rela- coeficiente de claridade de cada cor-pigmen-
cionados à paleta da mesma época determi- to. A maior ou menor luminosidade das cores
nada. Sendo assim, a complementação cro- é perceptível pela retina e o coeficiente de
mática no âmbito do sexto evento de cor claridade passa a ser um significado agre-
acontecerá dentro de um intervalo cromático gado. Por isso também estão alocados na
restrito a uma determinada paleta represen- memória juntamente com as cores.
tativa da época pela qual o objeto temporal Numa imagem fotográfica em p/b pode-
esteja ligado. se fazer uma associação de luminosidades
A cor é uma característica marcante de entre a variável de análise cromática “valor”
cada época e, por isso, está guardada na (dada pela imagem) e a luminosidade de cada
memória juntamente com o objeto temporal. cor-pigmento alocada na memória. Essa
O reconhecimento do objeto temporal traz luminosidade corresponde à variável de
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análise cromática de Munsell “valor”. A partir varmos cores diferentes por recíproca influ-
daí, haverá a comparação entre a ência. Mais especificamente, cores comple-
luminosidade dada pelo “valor” sugerido pelo mentares aparecem no entorno da forma que
objeto movediço e a luminosidade das cores guarda a cor pela qual a retina é saturada.
na memória. Desta comparação temos a Este fenômeno acontece também a partir de
segunda e a terceira variáveis de análise cro- estímulo subjetivo. A memória, ao ser
mática, “matiz” e “croma”, possibilitando acionada na construção de paletas para a
assim a formação da paleta para a complementação cromática, estimula a retina
complementação deste objeto movediço. e provoca o fenômeno dos contrastes simul-
tâneos. O oitavo evento de cor é a ocorrência
2.5. Oitavo evento de cor: contraste simul- do fenômeno do contraste simultâneo das
tâneo cores por estímulo subjetivo, a partir dos
objetos reconhecidos e complementados
O oitavo e nono eventos de cor são os cromaticamente nas imagens fotográficas em
efeitos do estímulo fisiológico subjetivo, a p/b.
partir da complementação cromática das
imagens fotográficas em p/b. Este tipo de 3.6. Nono evento de cor: contraste suces-
estímulo é gerado a partir de uma excitação sivo e misto
subjetiva, ou seja, a cor aparece a partir de
processos ocorridos na própria retina ou no O nono evento de cor são os contrastes
cérebro. sucessivos e mistos que ocorrem a partir de
A própria complementação cromática, por uma imagem fotográfica em p/b, onde ocor-
sua vez, pode também ser considerada como reu a formação da paleta para o processo de
uma excitação subjetiva à percepção cromá- complementação cromática do objeto.
tica. O processo de complementar uma Michel-Eugène Chevreul definiu o con-
imagem fotográfica em p/b através do reco- traste sucessivo e misto das cores como sendo
nhecimento de objetos e comparação com as os fenômenos percebidos a partir da satura-
suas respectivas interpretações anteriores é ção dos olhos pela cor de um objeto durante
um tipo de excitação subjetiva à percepção algum tempo e, deslocando-se em seguida
cromática, formando a paleta de cada ima- para um anteparo, no qual aparece então a
gem. Esta paleta é, por sua vez, um tipo de imagem do objeto na sua cor complementar
estímulo fisiológico subjetivo para a ocor- (Pedrosa, 1982).
rência dos contrastes simultâneos, onde Os fenômenos do contraste sucessivo e
fundamentam-se o oitavo e o nono eventos misto acontecem também a partir de estímu-
de cor. O oitavo evento de cor são os lo subjetivo. Como vimos no oitavo evento
contrastes simultâneos que ocorrem numa de cor, a memória, ao ser acionada na
imagem fotográfica em p/b a partir da paleta construção de paletas para a complementação
formada para o processo de complementação cromática, estimula a retina e provoca o
cromática do objeto. fenômeno dos contrastes simultâneos. A partir
Porém, os contrastes simultâneos que daí, onde há o deslocamento do olhar, ocorre
ocorrem neste evento não se dão por estí- o fenômeno do contraste sucessivo. O con-
mulo objetivo, quer dizer, não há a resposta traste misto acontece quando este desvio do
fisiológica da retina em relação a uma sa- olhar se dirige para um anteparo previamen-
turação. No caso do oitavo e nono eventos te colorido.
de cor, os efeitos da saturação da retina O nono evento de cor é a ocorrência dos
também são objetos guardados na memória fenômenos dos contrastes sucessivo e misto
anteriormente, num composto com a cor das cores por estímulo subjetivo, a partir dos
indutora, e aparecem juntamente com a objetos reconhecidos e complementados
complementação cromática do objeto reco- cromaticamente nas imagens fotográficas em
nhecido na imagem. p/b. Este evento depende anteriormente da
Michel-Eugène Chevreul (Pedrosa, 1982) ocorrência do oitavo evento de cor, que por
definiu o contraste simultâneo das cores como sua vez, depende primeiramente da ocorrên-
sendo o fenômeno que se registra ao obser- cia da complementação cromática.
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3. Considerações finais de contraste.


Este trabalho envolveu um estudo sobre
Este trabalho visou demonstrar que exis- a dilatação dos limites da percepção cromá-
te percepção cromática nas imagens fotográ- tica humana, que se dá também no domínio
ficas em preto-e-branco. Utilizamos resulta- do psicológico, do cultural e do social. Neste
dos intermediários vindos da correlação de sentido, os eventos de cor são elementos
conceitos da teoria da cor (branco, preto e fundadores de um novo modo de perceber
cinzas são cores e a existência da as imagens fotográficas em p/b, envolvendo
complementação cromática) para fundamen- mais a complexidade da percepção do que
tarmos a presença de nove fenômenos de a simples sensação cromática. Temos agora
percepção cromática nas imagens em preto- que considerar a imagem fotográfica “atra-
e-branco. vessada” por diversos atos de percepção
A evolução dos estudos no âmbito da cromática (os eventos de cor), que interagem
teoria da cor aponta para uma interação simultaneamente. Por isso, a observação de
perceptiva complexa, considerando a relação uma imagem fotográfica em preto-e-branco
que os indivíduos mantêm com a cor não deve ser considerada como criativa e única.
como pura observação, mas principalmente Através deste trabalho, podemos concluir
como um ato criativo. que a imagem fotográfica em p/b deve ser
O conceito de que a cor não pode ser considerada além do simples rótulo de
percebida de forma isolada do objeto imagem “sem cor”. A complexidade da
(Gibson,1974), nos levou a concluir que percepção visual cromática do ser humano
existe a complementação cromática dos atravessa a simples consideração da falta da
objetos que reconhecemos numa imagem cor numa imagem fotográfica em preto-e-
fotográfica em preto-e-branco, no sentido de, branco e mostra as possibilidades da
perceptivelmente, não conseguirmos isolá-lo complementação cromática dos seus objetos,
da sua cor. quando reconhecidos e comparados às infor-
Quando uma fotografia em p/b é obser- mações anteriormente retidas na memória. A
vada, as texturas e formas dos objetos tor- cor não pertence fisicamente ao objeto, mas
nam-se “chaves” perceptivas para a memória pertence perceptivamente e culturalmente a
da sua cor. Entendendo o processo de este objeto. Por isso, ao reconhecermos um
complementação cromática, podemos concluir objeto numa imagem fotográfica em preto-
também que as cores complementadas na e-branco, vamos complementá-lo com a cor
imagem são mais luminosas do que as cores perceptiva e cultural, a partir da sua presença
do mundo físico real, pois se tratam de cores física.
FOTOGRAFIA, VÍDEO E CINEMA 183

Bibliografia Silveira, L. M. A Percepção da Cor na


Imagem Fotográfica em Preto-e-Branco.
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