Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
A - Conclusões Gerais
IV - Os materiais de restauração.
A conferência recomenda:
VI - Técnica da conservação
A conferência constata com satisfação que os princípios e as técnicas expostas nas diversas
comunicações se inspiram numa tendência comum, a saber:
Quando se trata de ruínas, uma conservação escrupulosa se impõe, com a recolocação em seus
lugares dos elementos originais encontrados (anastilose), cada vez que o caso o permita; os
materiais novos necessários a esse trabalho deverão ser sempre reconhecíveis. Quando for
impossível a conservação de ruínas descobertas durante uma escavação, é aconselhável
sepultá-las de novo depois de haver sido feito um estudo minucioso.
Não é preciso dizer que a técnica e a conservação de uma escavação impõem a colaboração
estreita do arqueólogo e do arquiteto.
Quanto aos outros monumentos, os técnicos unanimemente aconselharam, antes de toda
consolidação ou restauração parcial, análise escrupulosa das moléstias que os afetam,
reconhecendo, de fato, que cada caso contribui um caso especial.
VII - A conservação dos monumentos e a colaboração internacional.
Havia sido previsto que uma das sessões da Conferência do EIM se detivesse na acrópole, e
os membros da conferência usufruíssem das facilidades que lhes haviam sido oferecidos por
M. Balanos, diretor dos trabalhos dos monumentos da Acrópole, que se pôs à disposição para
prestar quaisquer explicações sobre os trabalhos em curso, permitindo-lhes pedir detalhes e
emitir opiniões.
Essa sessão, se realizou na manhã de domingo, 25 de outubro, sob a presidência de M. Karo.
Durante a primeira parte da sessão os membros da conferência ouviram a exposição de M.
Balanos sobre os trabalhos de anastilose já executados, tanto nos Propileus como no Partenon.
Na segunda parte de sua exposição M. Balanos forneceu detalhes sobre o programa ulterior
dos trabalhos. Ao terminar, exprimiu o desejo de ouvir dos membros da conferência,
individualmente, sua opinião sobre esse programa. Sob a orientação de M. Karo, os membros
da conferência procederam a uma longa troca de opiniões, especialmente sobre os seguintes
pontos:
Assembléia do CIAM
CIAM – Congresso Internacional de Arquitetura Moderna – 1933
Primeira Parte
Genera1idades
A situação econômica, riqueza ou pobreza, é uma das grandes forças da vida, determinando-
lhe o movimento na direção do progresso ou da regressão. Ela desempenha o papel de um
motor que, de acordo com a força de sua pulsações, introduz a, prodigalidade, aconselha a
prudência ou impõe a sobriedade; ela condiciona as variações que traçam a história da aldeia,
da cidade ou do país. A cidade cercada por uma região coberta de cultivos tem seu
abastecimento assegurado. Aquela que dispõe de um subsolo precioso se enriquece com
matérias que lhe servirão como moeda de troca, sobretudo se ela é dotada de uma rede de
circulação suficientemente abundante para permitir-lhe entrar em contato útil com seus
vizinhos próximos ou distantes. A tensão da engrenagem econômica, embora dependa em
parte de circunstâncias invariáveis, pode ser modificada a cada momento pelo aparecimento
de forças imprevistas, que o acaso ou a iniciativa humana podem tornar produtivas ou deixar
inoperantes. Nem as riquezas latentes, que é preciso querer explorar, nem a energia individual
têm caráter absoluto. Tudo é movimento, e o econômico, afinal, é sempre um valor
momentâneo.
Fenômeno mais variável do que qualquer outro, sinal da vitalidade do país, expressão de uma
sabedoria que atinge seu apogeu ou já toca seu declínio. Se a política é de natureza
essencialmente variável, seu, fruto, o sistema administrativo, possui uma estabilidade natural
que lhe permite, ao longo do tempo, uma permanência maior e não autoriza modificações
muito freqüentes.
Expressão da dinâmica política, sua duração é assegurada por sua própria natureza e pela
própria força das coisas. É um sistema que, dentro de limites bastante rígidos, rege
uniformemente o território e a sociedade, impõe-lhes seus regulamentos e, atuando
regularmente sobre todos os meios de comando, determina modalidades uniformes de ação
em todo o país. Esse quadro econômico e político, cujo valor embora tenha sido confirmado
pelo uso durante um certo período, pode ser alterado a qualquer instante em uma de suas
partes, ou em seu conjunto. Algumas vezes, basta uma descoberta científica para provocar
uma ruptura de equilíbrio, para fazer surgir a incompatibilidade entre o sistema administrativo
de ontem e as imperiosas realidades de hoje. Pode ocorrer que algumas comunidades, que
souberam renovar seu quadro particular, sejam afixidas pelo quadro geral do país. Este último
pode, por sua vez, sofrer diretamente a investida das grandes correntes mundiais. Não há
quadro administrativo que possa pretender a imutabilidade.
A história está inscrita no traçado e na arquitetura das cidades. Aquilo que deles subsiste
forma o fio condutor que, juntamente com os textos e os documentos gráficos, permite a
representação de imagens sucessivas do passado. Os motivos que deram origem às cidades
foram de natureza diversa. Por vezes era o valor defensivo. E o alto de um rochedo ou a curva
de um rio viam nascer um pequeno burgo fortificado. Ás vezes, era o cruzamento de duas
rotas, unia cabeça de ponte ou uma baía do litoral que determinava a localização do primeiro
estabelecimento. A cidade era de formato incerto, mais freqüentemente em círculo ou
semicírculo. Quando era uma cidade de colonização, organizavam-na como um
acampamento, com eixos de ângulos retos e cercada de palíçadas retilíneas. Tudo nela era
ordenado segundo a proporção, a hierarquia e a conveniência. Os caminhos partiam dos
portões da muralha e estendiam-se obliquamente na direção de alvos distantes. Podemos
encontrar ainda no desenho das cidades o primeiro núcleo compacto do burgo, as muralhas
sucessivas e o traçado dos caminhos divergentes. As pessoas aí se aglomeravam e
encontravam, conforme o grau de civilização, uma dose variável de bem-estar. Aqui, regras
profundamente humanas ditavam a escolha dos dispositivos; ali, constrangimentos arbitrários
davam origem a injustiças flagrantes. Sobreveio a era do maquinismo. A uma medida milenar,
que se poderia crer imutável, a velocidade do passo humano, somou-se uma medida em plena
evolução, a velocidade dos veículos mecânicos.
Segunda Parte
Estado Atual Crítico das Cidades
Habitação
Observações
A densidade, relação entre as cifras da população, e a superfície que ela ocupa, pode ser
totalmente modificada pela altura dos edifícios. Até então, porém, a técnica de construção
tinha limitado a altura das casas a aproximadamente seis pavimentos. A densidade admissível
para as construções dessa natureza é de 250 a 300 habitantes por hectare. Quando essa
densidade atinge, como em vários bairros, 600, 800 e até 1000 habitantes, tem-se o cortiço,
caracterizado pelos seguintes sinais:
O núcleo das cidades antigas, cerceado pelas muralhas militares, era em geral cheio de
construções comprimidas e privadas de espaço. Mas, em compensação, ultrapassada a porta
da muralha, os espaços verdes eram imediatamente acessíveis, dando às proximidades um ar
de qualidade. Ao longo dos séculos, foram sendo acrescentados anéis urbanos, substituindo a
vegetação pela pedra e destruindo as superficies verdes, pulmões da cidade. Nessas condições,
as altas densidades significam o mal-estar e a doença em estado permanente.
10 - Nos setores urbanos congestionados, as condições de habitação são nefastas pela falta de
espaço suficiente destinado à moradia, pela falta de superfícies verdes disponíveis, pela falta,
enfim, de conservação das construções (exploração baseada na especulação). Estado de coisas
ainda agravado pela presença de uma população com padrão de vida muito baixo, incapaz de
adotar, por si mesma, medidas defensivas (a mortalidade atinge até vinte por cento).
É o estado interior da moradia que constitui o cortiço, cuja miséria, entretanto, é prolongada
no exterior pela estreiteza das ruas sombrias e total falta de espaços verdes, criadores de
oxigênio e que seriam tão propícios aos folguedos das crianças. A despesa comprometida
numa construção erguida há seculos foi amortizada há muito tempo; tolera-se, todavia que
aquele que a explora possa considerá-la ainda, sob forma de moradia, uma mercadoria
negociável. Ainda que seu valor de habitabilidade seja nulo, ela continua a fornecer,
impunemente e às expensas da espécie, uma renda importante. Condenar-se-ia um açougueiro
que vendesse carne podre, mas a legislação permite impor habitações podres às populações
pobres. Para o enriquecimento de alguns egoístas, tolera-se que uma mortalidade assustadora
e todo tipo de doenças façam pesar sobre a coletividade uma carga esmagadora.
Quanto mais a cidade cresce, menos as "condições naturais" são nela respeitadas. Por
"condições naturais" entende-se a presença, em proporção suficiente, de certos elementos
indispensáveis aos seres vivos: sol, espaço, vegetação. Uma expansão sem controle privou as
cidades desses alimentos fundamentais, de ordem tanto psicológica quanto fisiológica. O
indivíduo que perde contato com a natureza é diminuído e paga caro, com a doença e a
decadência, uma ruptura que enfraquece seu corpo e arruína sua sensibilidade, corrompida
pelas alegrias ilusórias da cidade. Nessa ordem de idéias, a medida foi ultrapassada no
decorrer dos últimos cem anos, e essa não é a causa menor da penúria pela qual o mundo se
encontra presentemente oprimido.
Nenhuma legislação interveio ainda para fixar as condições habitação moderna, que devem
não somente assegurar a proteção da pessoa humana mas também dar-lhe meios para um
aperfeiçoamento crescente. Assim, o solo urbano, os bairros residenciais as moradias são
distribuídos segundo a circunstância, ao sabor dos interesses mais inesperados e, às vezes,
mais baixos. Um geômetra municipal não hesitará em traçar uma rua que privará de sol
milhares de casas. Certos edis, infelizmente, acharão natural destinar à instalação de um
bairro operário uma zona até então negligenciada porque as névoas a invadem, porque a
umidade é excessiva ou porque os mosquitos nela pululam. Ele considerará que uma encosta
voltada para o norte, que, em decorrência de sua orientação, nunca atraiu ninguém, que um
terreno envenenado pela fuligem, pela fumaça de carvão, pelos gases, deletérios de alguma
indústria, às vezes ruidosa, será sempre bom o bastante para acomodar as populações
desenraizadas e sem vínculos sólidos, a que chamamos de mão-de-obra comum.
As zonas favorecidas são geralmente ocupadas pelas habitações de luxo; provase assim que as
aspirações instintivas do homem o induzem, sempre que seus recursos lhe permitem, a
procurar condições de vida e uma qualidade de bem estar cujas raízes se encontram na própria
natureza.
15 - Essa distribuição parcial da habitação é sancionada pelo uso e por disposições edílicas
que se consideram justificadas: o zoneamento.
O zoneamento é a operação feita sobre um plano de cidade com o objetivo de atribuir a cada
função e a cada indivíduo seu justo lugar. Ele tem por base a discriminação necessária entre as
diversas atividades humanas, cada uma das quais reclama seu espaço particular: locais de
habitação, centros industriais ou comerciais, salas ou terrenos destinados ao lazer. Mas se a
força das coisas diferencia a habitação rica da habitação modesta, não se tem o direito de
transgredir regras que deveriam ser sagradas, reservando só para alguns favorecidos da sorte o
benefício das condições necessárias para uma vida sadia e ordenada. É urgente e necessário
modificar certos usos. É preciso tornar acessível para todos, por meio de uma legislação
implacável, uma certa qualidade de bem-estar, independente de qualquer questão de dinheiro.
É preciso impedir, para sempre, por uma rigorosa regulamentação urbana, que famílias
inteiras sejam privadas de luz, de ar e de espaço.
16 - As construções edificadas ao longo das vias de ao redor dos cruzamentos são prejudiciais
à habitação: barulhos, poeiras e gases nocivos.
O alinhamento tradicional dos imóveis ao longo das ruas acarreta urna disposição obrigatória
do volume construído. Ao serem cortadas, ruas paralelas ou oblíquas desenham superfícies
quadradas ou retangulares, trapezoidais ou triangulares, de capacidades diversas que, uma vez
edificadas, constituem os "blocos". A necessidade de iluminar o centro desses blocos
engendra pátios internos de dimensões variadas. As regulamentações edilícias deixam,
infelizmente, àqueles que buscam o lucro, a liberdade de restringir esses pátios a dimensões
verdadeiramente escandalosas. Chega-se então a este triste resultado: uma fachada em quatro,
seja ela voltada para a rua ou para o pátio, está orientada para o norte e não conhece o sol,
enquanto as outras três, em consequência da estreiteza das ruas, dos pátios e da sombra
projetada disso resultante, são também parcialmente privadas de sol. A análise revela que nas
cidades, a proporção de fachadas não ensolaradas varia entre a metade e três quarto total. Em
certos casos, essa proporção é ainda mais desastrosa.
A moradia abriga a família, função que constitui por si só todo um programa e coloca um
problema cuja solução – que outrora já foi, por vezes, feliz – está hoje entregue, em geral, ao
acaso. Mas a família reclama ainda a presença de instituições que, fora da moradia e em suas
proximidades, sejam seus verdadeiros prolongamentos. São elas: centros de abastecimento,
serviços médicos, creches, jardins de infância, escolas, às quais se somarão organizações
intelectuais e esportivas destinadas a proparcionar aos adolescentes a possibilidade de
trabalhos ou de jogos adequados à satisfação das aspirações próprias dessa idade e, para
completar, os "equipamentos de saúde", as áreas próprias à cultura fisica e ao esporte
cotidiano de cada um. O benefício dessas instituições coletivas é evidentes, mas sua
necessidade é ainda mal compreendida pela massa. Sua realização está apenas esboçada, da
maneira mais fragmentária e desvinculada das necessidades gerais das habitações,
19 - As escolas, muito particularmente, não raro estão situadas nas vias de circulação e muito
afastadas das habitações.
20 - Os subúrbios estão organizados sem plano e sem ligação normal com a cidade.
Os subúrbios são descendentes degenerados dos arrabaldes. O burgo era outrora uma unidade
organizada no interior de uma muralha militar. O falso burgo contíguo a ele pelo lado de fora,
construído ao longo de uma via de acesso desprovido de proteção, era o escoadouro da
população excedente que, bom ou mau grado, devia acomodar-se em sua insegurança.
Quando a criação de uma nova muralha encerrava um dia o falso burgo, com seu trecho de
via, no seio da cidade, ocorria uma primeira alteração na regra normal dos traçados. A era do
maquinismo é caracterizado pelo subúrbio, área sem traçado definido, onde são jogados todos
os resíduos, onde se arriscam todas as tentativas, onde se instalam em geral os artesanatos
mais modestos, com as indústrias julgadas de antemão provisórias, algumas das quais, porém,
conhecerão um crescimento gigantesco. O subúrbio é o símbolo, ao mesmo tempo, do
fracasso e da tentativa. É uma espécie de onda batendo nos muros da cidade. No decorrer dos
séculos XIX e XX, essa onda tornou-se maré, e depois inundação. Ela comprometeu
seriamente o destino da cidade e suas possibilidades de crescer conforme uma regra. Sede de
uma população incerta, destinada a suportar inúmeras misérias, caldo de cultura de revoltas, o
subúrbio é com freqüência, dez vezes, cem vezes, mais extenso do que a cidade. Desse
subúrbio doente, onde a função distância-tempo suscita uma difícil questão que continua sem
solução, alguns procuram fazer cidades-jardins. Paraísos ilusórios, solução irracional. O
subúrbio é um erro urbanístico, disseminado por todo o universo e levado a suas
conseqüências extremas na América. Ele se constitui em um dos grandes males do século.
22 - Freqüentemente os subúrbios nada mais são do que uma aglomeração de barracos onde a
infra-estrutura indispensável dificilmente é rentável.
Casinhas mal construídas, barracos de madeira, galpões onde se misturam bem ou mal os
materiais mais imprevistos, domínio dos pobres diabos que oscilam nos turbilhões de uma
vida sem disciplina, eis o subúrbio! Sua feiúra e sua tristeza são a vergonha da cidade que ele
circunda. Sua miséria, que obriga a malbaratar o dinheiro público sem a contraparte de
recursos fiscais suficientes, é uma carga sufocante para a coletividade. Os subúrbios são a
sórdida antecâmara das cidades; enganchados às grandes vias de acesso por suas ruelas, a
circulação aí se torna perigosa; vistos de avião, expõe aos olhos menos avisados a desordem e
a incoerência de sua distribuição; cortados por ferrovias, eles são, para o viajante atraído pela
reputação da cidade, uma penosa desilusão!
É preciso exigir
24 - A determinação dos setores habitacionais deve ser ditada por razões de higiene.
25 - Densidades razoáveis devem ser impostas, de acordo com as formas de habitação postas
pela própria natureza do terreno.
As densidades populacionais de uma cidade devem ser ditadas pelas autoridades. Elas
poderão variar segundo a destinação do solo urbano e resultar, de acordo com seu índice,
numa cidade ou muito extensa ou concentrada sobre si mesma. Fixar as densidades urbanas é
realizar um ato de gestão pleno de conseqüências. Quando surgiu a era da máquina, as cidades
se desenvolveram sem controle e sem freio. A displicência é a única explicação válida para
esse crescimento desmesurado e absolutamente irracional, que é uma das causas de seus
males. Tanto para nascer como para crescer, as cidades têm razões particulares, que devem ser
estudadas e que levarão a previsões que abarquem um certo espaço de tempo: cinqüenta anos,
por exemplo. Poder-se-á pressupor uma certa cifra de população. Será necessário alojá-la,
sabendo-se em que área útil, prever qual "tempo-distância" será seu quinhão cotidiano, fixar a
superfície e a capacidade necessárias à realização desse programa de cinqüenta anos. Quando
a cifra da população e as dimensões do terreno são fixadas, a "densidade" é determinada.
26 - Um número mínimo de horas de insolação deve ser fixado para cada moradia.
A ciência, estudando as radiações solares, detectou aquelas que são indispensáveis á saúde
humana e também aquelas que, em certos casos, poderiam ser-lhe nocivas. O sol é o senhor da
vida. A medicina demonstrou que a tuberculose se instala onde o sol não penetra; ela exige
que o indivíduo seja recolocado, tanto quanto possível, nas "condições naturais". O sol deve
penetrar em toda moradia algumas horas por dia, mesmo durante a estação menos favorecida.
A sociedade não tolerará mais que famílias inteiras sejam privadas de sol e, assim,
condenadas ao definhamento. Todo projeto de casa no qual um único alojamento seja
orientado exclusivamente para o norte, ou privado de sol devido às sombras projetadas, será
rigorosamente condenado. É preciso exigir dos construtores uma planta demonstrado que no
solstício de inverno o sol penetrará em cada moradia, no mínimo 2 horas por dia. Na falta
disso será negada a autorização para construir. Introduzir o sol é o novo e o mais imperioso
dever do arquiteto.
27 - 0 alinhamento das habitações ao longo das vias de comunicação deve ser proibido.
As vias de comunicação, isto é, as ruas do nossas cidades, têm finalidades díspares. Elas
recebem as mais variadas cargas e devem servir tanto para a caminhada dos pedestres, quanto
para o trânsito, interrompido por paradas intermitentes, de veículos rápidos de transporte
coletivo, ônibus ou bondes, ou para aquele ainda mais rápido, dos caminhões ou dos
automóveis particulares. As calçadas, criadas no tempo dos cavalos e só após a introdução dos
coches, para evitar os atropelamentos, são um remédio irrisório desde que as velocidades
mecânicas introduziram nas ruas uma verdadeira ameaça de morte. A cidade atual abre as
inumeráveis portas de suas casas para essa ameaça e suas inumeráveis janelas para os ruídos,
as poeiras e os gases nocivos, resultantes de uma intensa circulação mecânica. Esse estado de
coisas exige uma modificação radical: as velocidades do pedestre, 4km horários, e as
velocidades, mecânicas, 50 a 100km horários, devem ser separadas. As habitações serão
afastadas das velocidades mecânicas, a serem canalizadas para um leito particular, enquanto o
pedestre disporá de caminhos diretos ou de caminhos de passeio para ele reservados.
28 - Os modernos recursos técnicos devem ser levados em conta para erguer construções
elevadas.
Cada época utilizou em suas construções a técnica que lhe era imposta por seus recursos
particulares. Até o século XIX, a arte de construir casas só conhecia paredes constituídas de
pedras, tijolos ou tabiques de madeira e tetos constituídos por vigas de madeira. No século
XIX, um período intermediário fez uso dos ferros perfilados, depois vieram, enfim, no século
XX, as construções homogêneas, todas em aço ou cimento armado. Antes dessa inovação
absolutamente revolucionária na história da construção de casas, os construtores não podiam
erguer um imóvel que ultrapassasse seis pavimentos. O presente não é mais tão limitado. As
construções atingem sessenta e cinco pavimentos ou mais. Resta determinar, por um exame
criterioso dos problemas urbanos, a altura que mais convém a cada caso particular. No que
concerne à habitação, as razões que postulam a favor de uma determinada decisão são: a
escolha da vista mais agradável, a busca do ar mais puro e da insolação mais completa, enfim,
a possibilidade de criar nas proximidades imediatas da moradia instalações coletivas, áreas
escolares, centros de assistência, terrenos para jogos, que serão seus prolongamentos. Apenas
construções de uma certa altura poderão satisfazer a contento essas legítimas exigências.
29 - As construções elevadas erguidas a grande distância umas das outras devem liberar o solo
para amplas superfícies verdes.
É preciso, ainda, que elas estejam situadas as distâncias bem grandes umas das outras, caso
contrário sua altura, longe de construir um melhoramento, só agravaria o mal existente; é o
grave erro cometido nas cidades das duas Américas. A construção de uma cidade não pode ser
abandonada, sem programa, à iniciativa privada. A densidade de sua população deve ser
elevada o bastante para validar a organização das instalações coletivas, que serão os
prolongamentos da moradia. Uma vez fixada essa densidade, será admitida uma cifra de
população presumível, que permita calcular a superfície reservada à cidade. Decidir sobre a
maneira como o solo será ocupado, estabelecer a relação entre a superfície construída e aquela
deixada livre ou plantada, dividir o terreno necessário tanto para as moradias particulares
quanto para seus diversos prolongamentos, fixar uma superfície para a cidade que não poderá
ser ultrapassada durante um período determinado, constituir essa grave operação, da qual a
autoridade está incumbida: a promulgação do "estatuto do solo". Assim se construirá a cidade
daqui para diante com toda segurança e, dentro dos limites das regras estabelecidas por esse,
estatuto, será dada toda a liberdade à iniciativa privada e à imaginação do artista.
Lazer
Observações
Existem, ainda, superfícies livres no interior de algumas cidades. Elas são a sobrevivência,
miraculosa em nossa época, de reservas constituídas no passado: parques rodeando
residências principescas, jardins adjacentes a casas burguesas, passeios sombreados ocupando
a área de uma muralha militar derrubada. Os dois últimos séculos consumiram com
voracidade essas reservas, autênticos pulmões da cidade, cobrindo-os de imóveis, colocando
alvenaria no lugar da relva e das árvores. Outrora os espaços livres não tinham outra razão de
ser que o deleite de alguns privilegiados. Não interviera ainda o ponto de vista social, que dá
hoje um sentido novo a sua destinação. Eles podem ser os prolongamentos diretos ou
indiretos da moradia; diretos, se cercam a própria habitação, indiretos, se estão concentrados
em algumas grandes superfícies, não tão próximas. Em ambos os casos, sua destinação será a
mesma: acolher as atividades coletivas da juventude, propiciar um espaço favorável às
distrações, aos passeios ou aos jogos das horas de lazer.
31 - Quando as superfícies livres têm uma extensão suficiente, não raro estão mal destinadas
e, por isso, são pouco utilizáveis pela massa dos habitantes.
32 - A situação excêntrica das superficies livres não se presta à melhoria das condições de
habitação nas zonas congestionadas da cidade.
33 - As raras instalações esportivas, para serem colocadas nas proximidades dos usuários,
eram em geral instaladas provisioriamente: em terrenos destinados a receber futuros bairros
residências ou industriais. Precariedade e transtornos incessantes.
34 - Os terrenos que poderiam ser destinados ao lazer semanal estão frequentemente mal
articulados à cidade.
Uma vez escolhidos os locais situados nos arredores imediatos da cidade e próprios para se
tomarem centros úteis de lazer semanal, colocar-se-á o problema dos transportes de massa.
Esse problema deve ser considerado desde o instante em que se esboça o plano da região; ele
implica o estudo de diversos meios de transporte possíveis: estradas, ferrovias ou rios.
É preciso exigir
Esta decisão só terá resultado se estiver sustentada por uma verdadeira legislação: o "estatuto
do solo". Esse estatuto terá a diversidade correspondente às necessidades a satisfazer. Assim,
a densidade da população ou a porcentagem de superficie livre e de superfície edificada
poderão variar segundo as funções, os locais ou os climas. Os volumes edificados serão
intimamente amalgamados às superfícies verdes que os cercam. As zonas edificadas e as
zonas plantadas serão distribuídas levando-se em consideração um tempo razoável para ir de
umas às outras. De qualquer modo, a textura do tecido urbano deverá mudar; as aglomerações
tenderão a tornar-se cidades verdes. Contrariamente ao que ocorre nas cidades-jardins, as
superficies verdes não serão compartimentadas em pequenos elementos de uso privado, mas
consagradas ao desenvolvimento das diversas atividades comuns que formam o
prolongamento da moradia. O cultivo de hortas, cuja utilidade constitui, de fato, o principal
argumento a favor das cidades jardins, poderá muito bem ser levado em consideração aqui;
uma porcentagem do solo disponível lhe será destinada, dividida em múltiplas parcelas
individuais; mas certos empreendimentos coletivos, como a aragem eventual e a irrigação ou
a rega, poderão aliviar os encargos e aumentar o rendimento.
36 - Os quarteirões insalubres devem ser demolidos e substituídos por superfícies verdes: os
bairros limítrofes serão saneados.
Um conhecimento elementar das principais noções de higiene basta para discernir os cortiços
e discriminar os quarteirões notoriamente insalubres. Estes quarteirões deverão ser demolidos.
Dever-se-á aproveitar essa ocasião para substituí-los por parques que serão, pelo menos nos
bairros limítrofes, o primeiro passo no caminho do saneamento. Pode acontecer, todavia, que
alguns desses quarteirões ocupem um local particularmente conveniente à construção de
certos edifícios indispensáveis à vida da cidade. Nesse caso, um urbanismo inteligente, saberá
dar-lhes a destinação que o plano geral da região e o da cidade tenham antecipadamente
considerado a mais útil.
Nada ou quase nada foi ainda previsto para o lazer semanal. Na região que cerca a cidade,
amplos espaços deverão ser reservados e organizados, e o acesso a eles deverá ser assegurado
por meios de transporte suficientemente numerosos e cômodos. Não se trata mais de simples
gramado cercando a casa, com uma ou outra árvore plantada, mas de verdadeiros prados, de
bosques, de praias naturais ou artificiais constituindo uma imensa reserva cuidadosamente
protegida, oferecendo mil oportunidades de atividades saudáveis ou de entretenimento útil ao
habitante da cidade. Toda cidade possui em sua periferia locais capazes de corresponder a
esse programa e que através de uma organização bem estudada dos meios de transporte,
tornar-se-ão facilmente acessíveis.
Trabalho
Observações
Outrora, a moradia e a oficina, unidas por vínculos estreitos e permanentes, estavam situadas
uma perto da outra. A expansão inesperada do maquinismo rompeu essas condições de
harmonia, em menos de um século, ela transformou a fisionomia das cidades, quebrou as
tradições seculares do artesanato e deu origem a uma nova mão-de-obra anônima e instável. O
desenvolvimento industrial depende essencialmente dos meios de abastecimento de matérias-
primas e das facilidades de escoamento dos produtos manufaturados. Foi, portanto, ao longo
das vias férreas introduzidas pelo século XIX, e às margens das vias fluviais, cujo tráfego a
navegação a vapor multiplicava, a que as indústrias verdadeiramente se precipitaram. Mas,
aproveitando as disponibilidades imediatas de habitações e de abastecimento das cidades
existentes, os fundadores das indústrias instalaram suas empresas na cidade ou em seus
arredores, a despeito do mal que disso poderia resultar. Implantadas no coração dos bairros
habitacionais, as fábricas aí espalham suas poeiras e seus ruídos. Instaladas na periferia e
longe desses bairros, elas condenam os trabalhadores a percorrer diariamente longas
distâncias em condições cansativas de pressa e de agitação, fazendo-os perder inutilmente
uma parte de suas horas de lazer. A ruptura com a antiga organização do trabalho criou uma
desordem indizível e colocou um problema para o qual, até o presente, só foram dadas
soluções paliativas. Derivou disso o grande mal dá época atual: nomadismo das populações
operárias.
42 - A ligação entre a habitação e os locais de trabalho não é mais normal: ela impõe
percursos desmesurados.
Desde então foram rompidas as relações normais entre essas duas funções essenciais da vida:
habitar, trabalhar. Os arrabaldes se enchem de oficinas e manufaturas e a grande indústria, que
continua seu desenvolvimento sem limites, é empurrada para fora, para os subúrbios. Saturada
a cidade, sem poder acolher novos habitantes, fez-se surgir apressadamente cidades
suburbanas, vastos e compactos blocos de caixotes para alugar ou loteamentos intermináveis.
A mão-de-obra intercambiável, que absolutamente não está ligada por um vínculo estável à
indústria, suporta de manhã, à tarde e à noite, no verão e no inverno, a perpétua
movimentação e a deprimente confusão dos transportes coletivos. Horas inteiras se dissolvem
nesses deslocamentos desordenados.
O solo das cidades e o das regiões vizinhas pertencem quase inteiramente a particulares. A
própria indústria está nas mãos de sociedades privadas, sujeitas a todo tipo de crises e cuja
situação é ás vezes instável. Nada foi feito para submeter o surto industrial a regras lógicas; ao
contrário, tudo foi deixado à improvisação que, se às vezes favorece o indivíduo, sempre
oprime a coletividade.
É preciso exigir
Isto supõe uma nova distribuição, conforme um plano cuidadosamente elaborado, de todos os
lugares destinados ao trabalho. A concentração das indústrias em anéis em tomo das grandes
cidades pode ter sido, para certas empresas, uma fonte de prosperidade, mas é preciso
denuciar as deploráveis condições de vida que disso resultaram para a massa. Essa disposição
arbitrária criou uma promiscuidade insuportável. A duração das idas e vindas não tem relação
com a trajetória cotidiana do sol. As indústrias devem ser transferidas para locais de passagem
das matérias-primas, ao longo das grandes vias fluviais, terrestres ou férreas. Um lugar de
passagem é um elemento linear. As cidades industriais, ao invés de serem concêntricas,
tornar-se-ão, portanto, lineares.
47 - Os setores industriais devem ser independentes dos setores habitacionais e separados uns
dos outros por uma zona de vegetação.
A cidade industrial se estenderá ao longo do canal, estrada ou via férrea ou, melhor ainda,
dessas três vias conjugadas. Tornando-se linear e não mais anelar, ela poderá alinhar, à
medida em que se desenvolve, seu próprio setor habitacional, que lhe será paralelo. Uma zona
verde separará este último das construções industriais. A moradia inserida desde então em
pleno campo, estará completamente protegida dos ruídos e das poeiras, mantendo-se a uma
proximidade que suprimirá os longos trajetos diários; ela voltará a ser um organismo familiar
normal. As "condições naturais" assim reencontradas contribuirão para fazer cessar o
nomadismo das populações operárias. Três tipos de habitação estarão disponíveis para escolha
dos habitantes: a casa individual da cidade-jardim, a casa individual acoplada a uma pequena
exploração rural e, enfim, o imóvel coletivo provido de todos os serviços necessários ao bem-
estar de seus ocupantes.
A velocidade inteiramente nova dos transportes mecânicos, que utilizam a rodovia, a ferrovia,
o rio ou o canal, exige a criação de novas vias ou a transformação das já existentes. É um
programa de coordenação que deve levar em conta a nova distribuição dos estabelecimentos
industriais e das moradias operárias que os acompanham.
49 - O artesanato, intimamente ligado à vida urbana, da qual procede diretamente, deve poder
ocupar locais claramente designados no interior da cidade.
O artesanato, por sua natureza, difere da indústria e requer disposições apropriadas. Ele
emana diretamente do potencial acumulado nos centros urbanos. O artesanato de livros,
joalheria, costura ou moda encontra na concentração intelectual da cidade a excitação criadora
que lhe é necessária. São atividades essencialmente urbanas e, portanto, os locais de trabalho,
poderão ficar situados nos pontos mais intensos da cidade.
Os negócios assumiram uma importância tão grande que a escolha da localização que lhes
será reservada exige um estudo muito particular. O centro de negócios deve encontrar-se na
confluência das vias de circulação que servem ao mesmo tempo os setores de habitação, os
setores de indústria e de artesanato, as administrações públicas, alguns hotéis e diversas
(estações ferroviária, rodoviária, marítima, aérea).
Circulação
Observações
51 - A rede atual das vias urbanas é um conjunto de ramificações desenvolvidas em torno das
grandes vias de comunicação. Na Europa, essas últimas remontam a um tempo bem anterior à
idade média, ou às vezes até mesmo à antiguidade.
As cidades antigas eram, por razões de segurança, cercadas por muralhas. Não podiam,
portanto, estender-se proporcionalmente ao crescimento de sua população. Era preciso agir
com economia para fazer o terreno render o máximo de superfície habitável. É isso que
explica sua disposição em ruas e ruelas estreitas que permitiam servir ao maior número
possível de portas de habitação. Além disso, essa organização das cidades teve como
conseqüência o sistema de blocos edificados a prumo sobre a rua, de onde eles recebiam luz, e
perfurados, com a mesma finalidade, por pátios internos. Mas tarde, quando as muralhas
fortificadas foram sendo afastadas, ruas e ruelas foram prolongadas em avenidas e alamedas
além do primeiro núcleo, que conservava sua estrutura primitiva. Esse sistema de construção,
que não corresponde mais, há muito tempo, a nenhuma necessidade, tem ainda hoje força de
lei. É sempre o bloco edificado, subproduto direto da rede viária. Suas fachadas dão para ruas
ou para pátios internos mais ou menos estreitos. A rede circulatória que o contém tem
dimensões e intersecções múltiplas. Prevista para outros tempos, essa rede não pôde adaptar-
se às novas velocidades dos veículos mecânicos.
53 - O dimensionamento das ruas, desde então inadequado, se opõe à utilização das novas
velocidades mecânicas e à expansão regular da cidade.
Para atingir sua marcha normal, os veículos mecânicos precisam do arranque e da aceleração
gradual. A freada não pode intervir brutalmente sem causar um desgaste rápido de suas
principais órgãos. Dever-se-ia, portanto, prever uma unidade de extensão razoável entre o
local do arranque e aquele em que a freada torna-se necessária. Os cruzamentos das ruas
atuais, situados a 100, 50, 20, ou mesmo 10 metros de distância uns dos outros, não convêm à
boa progressão dos veículos mecânicos. Espaços de 200 a 400 metros deveriam separá-los.
55 - A largura das ruas é insuficiente. Procurar alargá-las é quase sempre uma operação
onerosa e, além disso, inoperante.
Não há uma largura-tipo uniforme para as ruas. Tudo depende de seu tráfego, em número e
natureza dos veículos. As antigas vias principais, impostas desde o início da cidade pela
topografia e pela geografia, e que formam o tronco da inumerável ramificação de ruas,
conservaram quase sempre um tráfego intenso. Elas são geralmente muito estreitas, mas seu
alargamento não é sempre uma solução fácil e nem sequer eficaz. É preciso que o problema
seja retomado bem mais de cima.
56 - Diante das velocidades mecânicas, a malha das ruas apresenta-se irracional, faltando
precisão, flexibilidade, diversidade e adequação.
A circulação moderna é uma operação das mais complexas. As vias destinadas a múltiplos
usos devem permitir, ao mesmo tempo: aos automóveis, ir de um extremo a outro; aos
pedestres, ir de um extremo a outro; aos ônibus e bondes, percorrer itinerários prescritos; aos
caminhões, ir dos centros de abastecimento a locais de distribuição infinitamente variados; a
determinados veículos, atravessar a cidade em simples trânsito. Cada uma dessas atividades
exigiria uma pista particular, condicionada para satisfazer necessidades claramente e
caracterizadas. É, portanto, preciso dedicar-se a um estudo profundo da questão, considerar
seu estado atual e procurar soluções que respondam de fato a necessidades estritamente
definidas.
Aquilo que era admissível e até mesmo admirável no tempo dos pedestres e dos coches pode
ter-se tomado, atualmente, uma fonte de problemas constantes. Certas avenidas concebidas
para assegurar uma perspectiva monumental coroada por um monumento ou um edificio, são,
no presente, uma causa de engarrafamento, de atraso, e, às vezes, de perigo. Essas
composições de ordem arquitetônica deveriam ser preservadas da invasão de veículos
mecânicos, para os quais não foram feitas e à cuja velocidade nunca poderão ser adaptadas. A
circulação tornou-se hoje uma função primordial da vida urbana. Ela pede um programa
cuidadosamente estudado, que saiba prever tudo o que é preciso para regularizar os fluxos,
criar os escoadouros indispensáveis e chegar, assim, a suprimir os engarrafamentos e o mal-
estar constante de que são a causa.
58 - Em inúmeros casos, a rede das vias férreas tornou-se, por ocasião da extensão da cidade,
um grave obstáculo à urbanização. Ela isola os bairros habitacionais, privando-os de contatos
úteis com os elementos vitais da cidade.
Também aqui o tempo andou muito depressa. As estradas de ferro foram construídas antes da
prodigiosa expansão industrial que elas mesmas provocaram. Ao penetrarem nas cidades, elas
seccionam arbitrariamente zonas inteiras. A estrada de ferro é uma via que não se atravessa;
ela isola uns dos outros setores que, tendo-se coberto pouco a pouco de habitações, viram-se
privados de contatos para eles indispensáveis. Em certas cidades, a situação é grave para a
economia geral e o urbanismo é chamado para considerar o remanejamento e o deslocamento
de certas redes, de modo a fazê-las inserir-se na harmonia de um plano geral.
É preciso exigir
59 - Devem ser feitas análises úteis, com base em estatísticas rigorosas do conjunto da
circulação na cidade e sua região, trabalho que revelará os leitos de circulação e a qualidade
de seus tráficos.
A circulação é uma função vital cujo estado atual deve ser expresso em gráficos. As causas
determinantes e os efeitos de suas diferentes intensidades aparecerão então claramente e será
mais fácil discernir os pontos críticos. Somente uma visão clara da situação permitirá realizar
dois progressos indispensáveis: dar a cada uma das vias de circulação uma destinação precisa,
que será receber seja os pedestres, seja os automóveis, seja as cargas pesadas ou os veículos
em trânsito; dar depois a essas vias, de acordo com a função para a qual forem destinadas,
dimensões e características especiais: natureza do leito, largura da calçada, locais e natureza
dos cruzamentos ou das interligações.
A rua única, legada pelos séculos, recebia outrora pedestres e cavaleiros indistintamente e só
no final do século XVIII o emprego generalizado de coches provocou a criação das calçadas.
No século XX, abateu-se como um cataclisma a massa de veículos mecânicos - bicicletas,
motocicletas, automóveis, caminhões, bondes - com suas velocidades inesperadas. O
crescimento fulminante de algumas cidades como Nova York por exemplo, provocou um
fluxo inimaginável de veículos em certos pontos determinados. Já é tempo de remediar, por
meio de medidas apropriadas, uma situação que caminha para ao desastre. A primeira medida
útil seria separar radicalmente, nas artérias congestionadas, o caminho dos pedestres e o dos
veículos mecânicos. A segunda, dar às cargas pesadas um leito de circulação particular. A
terceira, considerar, para a grande circulação, vias de trânsito independentes das vias usuais,
destinadas somente à pequena circulação.
Isso constituiria uma reforma fundamental da circulação nas cidades. Não haveria nada mais
sensato nem que abrisse uma era de urbanismo mais nova e mais fértil. Essa exigência
concernente à circulação pode ser considerada tão rigorosa quanto aquela que, no domínio da
habitação, condena toda orientação da moradia para o norte.
63 - As ruas devem ser diferenciadas de acordo com suas destinações: ruas de residências,
ruas de passeio, ruas de trânsito, vias principais.
As ruas, ao invés de serem liberadas a tudo e a todos, deverão, conforme sua categoria, ter
regimes diferentes. As ruas residenciais e as áreas destinadas aos usos coletivos exigem uma
atmosfera particular. Para permitir às moradias e a seus "prolongamentos" usufruir da calma e
da paz que lhes são necessárias, os veículos mecânicos serão canalizados para circuitos
especiais. As avenidas de trânsito não terão nenhum contato com as ruas de circulação miúda,
salvo nos pontos de interligação. As grandes vias principais que estão relacionadas a todo o
conjunto da região afirmarão, naturalmente, sua prioridade. Mas serão também levadas em
consideração as ruas de passeio, nas quais, sendo rigorosamente imposta uma velocidade
reduzida a todos os tipos de veículos, sua mistura com os pedestres não oferecerá mais
inconvenientes.
Sendo as vias de trânsito ou de grande circulação bem diferenciadas das vias de circulação
miúda, não terão nenhuma razão para se aproximarem das construções públicas ou privadas.
Será bom que elas sejam ladeadas por espessas cortinas de vegetação.
A vida de uma cidade é um acontecimento contínuo, que se manifesta ao longo dos séculos
por obras materiais, traçados ou contruções que lhe conferem sua personalidade própria e dos
quais emana pouco a pouco a sua alma. São testemunhos preciosos do passado que serão
respeitados, a princípio por seu valor histórico ou sentimental, depois, porque alguns trazem
uma virtude plástica na qual se incorporou o mais alto grau de intensidade do gênio humano.
Eles fazem parte do patrimônio humano, e aqueles que os detêm ou são encarregados de sua
proteção, têm a responsabilidade e a obrigação de fazer tudo o que é lícito para transmitir
intacta para os séculos futuros essa nobre herança.
A morte, que não poupa nenhum ser vivo, atinge também as obras dos homens. É necessário
saber reconhecer e discriminar nos testemunhos do passado aquelas que ainda estão bem
vivas. Nem tudo que é passado tem, por definição, direito à perenidade; convém escolher com
sabedoria o que deve ser respeitado. Se os interesses da cidade são lesados pela persistência
de determinadas presenças insignes, majestosas, de uma era já encerrada, será procurada a
solução capaz de conciliar dois pontos de vista opostos: nos casos em que se esteja diante de
construções repetidas em numerosos exemplares, algumas serão conservadas a título de
documentário, as outras demolidas; em outros casos poderá ser isolada a única parte que
constitua uma lembrança ou um valor real; o resto será modificado de maneira útil. Enfim, em
certos excepcionais, poderá ser aventada a transplantação de elementos incômodos por sua
situação, mas que merecem ser conservados por seu alto significado estético ou histórico.
Um culto estrito do passado não pode levar a desconhecer as regras da justiça social. Espíritos
mais ciosos do estetismo do que da solidariedade militam a favor da conservação de certos
velhos bairros pitorescos, sem se preocupar com a miséria, a promiscuidade e a doença que
eles abrigam. É assumir uma grave responsabilidade. O problema deve ser estudado e pode às
vezes ser resolvido por uma solução engenhosa; mas, em nenhum caso, o culto do pitoresco e
da história deve ter primazia sobre a salubridade da moradia da qual dependem tão
estreitamente o bem-estar e à saúde moral do indivíduo.
68 - Se é possível remediar sua presença prejudicial com medidas radicais: por exemplo, o
destino de elementos vitais de circulação ou mesmo o deslocamento de centros considerados
até então imutáveis.
O crescimento excepcional de uma cidade pode criar uma situação perigosa, levando a um
impasse do qual só se sairá mediante alguns sacrifícios. O obstáculo só poderá ser suprimido
pela demolição. Mas, quando esta medida acarreta a destruição de verdadeiros valores
arquitetônicos, históricos ou espirituais, mais vale, sem dúvida, procurar uma outra solução.
Ao invés de suprimir o obstáculo à circulação desviar-se-á a própria circulação ou, se as
condições o permitirem impor-se-lhe-á uma passagem sob um túnel. Enfim, pode-se também
deslocar um centro de atividade intensa e, transplantando-o para outra parte, mudar
inteiramente o regime circulatório da zona congestionada. A imaginação, a invenção e os
recursos técnicos devem combinar-se para chegar a desfazer os nós que parecem mais
inextrincáveis.
69 - A destruição de cortiços ao redor dos monumentos históricos dará a ocasião para criar
superfícies verdes.
70 - O emprego de estilos do passado, sob pretextos estéticos, nas construções novas erigidas
nas zonas históricas, têm conseqüências nefastas. A manutenção de tais usos ou a introdução
de tais iniciativas não serão toleradas de forma alguma.
Tais métodos são contrários à grande lição da história. Nunca foi constatado um retrocesso,
nunca o homem voltou sobre seus passos. As obras-primas do passado nos mostram que cada
geração teve sua maneira de pensar, suas concepções, sua estética, recorrendo, como
trampolim para sua imaginação, à totalidade de recursos técnicos de sua época. Copiar
servilmente o passado é condenar-se à mentira, é erigir o "falso" como princípio, pois as
antigas condições de trabalho não poderiam ser reconstituídas e a aplicação da técnica
moderna a um ideal ultrapassado sempre leva a um simulacro desprovido de qualquer vida.
Misturando o "falso" ao "verdadeiro", longe de se alcançar uma impressão de conjunto e dar a
sensação de pureza de estilo, chega-se somente a uma reconstituição fictícia, capaz apenas de
desacreditar os testemunhos autênticos, que mais se tinha empenho em preservar.
Terceira Parte
Conclusões
Pontos de doutrina
71 - A maioria das cidades estudadas oferece hoje a imagem do caos. Essa cidades não
correspondem, de modo algum a sua destinação, que seria satisfazer as necessidades,
primordiais, biológicas e psicológicas de sua população.
Trinta e três cidades foram analisadas, por ocasião do Congresso de Atenas, por diligência dos
grupos nacionais dos Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna: Amsterdã, Atenas,
Bruxelas, Baltimore, Bandoeng, Budapeste, Berlim, Barcelona, Charieroi, Colônia, Como,
Dalat, Detroit, Dessau, Frankfurt, Genebra, Gênova, Haia, Los Angeles, Litoria, Londres,
Madri, Oslo, Paris, Praga, Roma, Roterdã, Estocolmo, Utrecht, Verona,Varsóvia, Zagreb e
Zurique. Elas ilustram a história da raça branca sob os mais diversos climas e latitudes. Todas
testemunham o mesmo fenômeno: a desordem instituída pelo maquinismo em uma situação
que comportava até então uma relativa harmonia; e também a ausência de qualquer esforço
sério de adaptação. Em todas essas cidades o homem é molestado. Tudo que o cerca sufoca-o
e esmaga-o. Nada do que é necessário a sua saúde física e moral foi salvaguardado ou
organizado. Uma crise-de humanidade assola as grandes cidades e repercute em toda a
extensão dos territórios. A cidade não corresponde mais a sua função, que é a de abrigar os
homens, e abrigá-los bem.
A base desse lamentável estado de coisas está na preeminência das iniciativas privadas
inspiradas pelo interesse pessoals pelo atrativo do ganho. Nenhuma autoridade consciente da
natureza e da importância do movimento do maquinismo interveio, até o presente, para evitar
os danos pelos quais ninguém pode ser efetivamente responsabilizado. As empresas
estiveram, durante cem anos, entregues ao acaso. A construção de habitações ou de fábricas, a
organização das rodovias, hidrovias ou ferrovias, tudo se multiplicou numa pressa e numa
violência individual, da qual estavam excluídos qualquer plano preconcebido e qualquer
reflexão prévia. Hoje, o mal está feito. As cidades são desumanas, e da ferocidade de alguns
interesses privados nasceu a infelicidade de inúmeras pessoas.
Liberdade individual e ação coletiva são os dois polos entre os quais se desenrola o jogo da
vida. Todo empreendimento cujo objetivo é a melhoria do destino humano deve levar em
consideração esses dois fatores. Se ele não chega a satisfazer suas exigências, frequentemente
contraditórias, condena-se a um inevitável fracasso. É impossível, em todo caso, coordená-los
de maneira harmoniosa se não se elabora, de antemão, um programa cuidadosamente
estudado e que nada deixe ao acaso.
A medida natural do homem deve servir de base a todas as escalas que estarão relacionadas à
vida e às diversas funções do ser. Escala das medidas, que se aplicarão às superfícies ou às
distâncias; escala das distâncias, que serão consideradas em sua relação com o ritmo natural
do homem; escala dos horários, que devem ser determinados considerando-se o trajeto
cotidiano do sol.
77 - As chaves do urbanismo estão nas quatro funções: habitar, trabalhar, recrear-se (nas
horas livres), circular.
O urbanismo exprime a maneira de ser de uma época. Até agora, ele só atacou um único
problema, o da circulação. Ele se contentou em abrir avenidas ou traçar ruas, constituindo
assim quarteirões edificados cuja destinação é abandonada à aventura das iniciativas privadas.
Essa é uma visão estreita e insuficiente da missão que lhe está destinada. O urbanismo tem
quatro funções principais, que são: primeiramente, assegurar aos homens moradias saudáveis,
isto é, locais onde o espaço, o ar puro e o sol, essas três, condições essenciais da natureza, lhe
sejam largamente asseguradas; em segundo lugar, organizar os locais de trabalho, de tal modo
que, ao invés de serem uma sujeição penosa, eles retomem seu caráter de atividade humana
natural; em terceiro lugar, prever as instalações necessárias à boa utilização das horas livres,
tornando-as benéficas e fecundas; em quarto lugar, estabelecer o contato entre essas diversas
organizações mediante uma rede circulatória que assegure as trocas, respeitando as
prerrogativas de cada uma. Essas quatro funções, que são as quatro chaves do urbanismo,
cobrem um domínio imenso, sendo o urbanismo a conseqüência de uma maneira de pensar
levada à vida pública por uma técnica de ação.
Os veículos mecânicos deveriam ser agentes liberadores e, por sua velocidade, trazer um
ganho apreciável de tempo. Mas sua acumulação e concentração em certos pontos tomaram-
se, a um só tempo, uma dificuldade para a circulação e a ocasião de perigos permanentes.
Além disso, eles introduziram na vida citadina inúmeros fatores prejudiciais à saúde. Seus
gases de combustão difundidos no ar são nocivos aos pulmões e seu barulho determina no
homem um estado de nervosismo permanente. Essas velocidades, doravante utilizáveis,
despertam a tentação de evasão cotidiana, para longe, na natureza, difundem o gosto por uma
mobilidade sem freio nem medida e favorecem modos de vida que deslocando a família,
perturbam profundamente a estabilidade da sociedade. Elas condenam os homens a passar
horas cansativas em todo tipo de veículos e a perder, pouco a pouco, a prática da mais
saudável e natural de todas as funções: a caminhada.
81 - O princípio da circulação urbana e suburbana deve ser revisto. Deve ser feita uma
classificação das velocidades disponíveis. A reforma do zoneamento, harmonizando as
funções-chave da cidade, criará entre elas vínculos naturais para cujo fortalecimento será
prevista uma rede racional de grandes artérias.
82 - O urbanismo é uma ciência de três dimensões e não apenas de duas. É fazendo intervir o
elemento altura que será dada uma solução para as circulações modernas, assim como para os
lazeres, mediante a exploração dos espaços livres assim criados.
83 - A cidade deve ser estudada no conjunto de sua região de influência. Um plano de região
substituirá o simples pla no municipal. O limite da aglomeração será função do raio de sua
ação econômica.
Os dados de um problema de urbanismo são fornecidos pelo conjunto das atividades que se
desenvolvem não somente na cidade, mas em toda a região da qual ela é o centro. A razão de
ser da cidade dever ser procurada e expressada em cifras que permitirão prever, para o futuro,
as etapas de um desenvolvimento plausível. O mesmo trabalho aplicado às aglomerações que
fixarão para cada cidade envolvida por sua região um caráter e um destino próprios. Assim,
cada uma tomará seu lugar e sua classificação na economia geral do país. Resultará disso uma
delimitação clara dos limites da região. Este é o urbanismo total, capaz de levar o equilíbrio à
região e ao país.
84 - A cidade, definida desde então como uma unidade funcional, deverá crescer
harmoniosamente em cada uma de suas partes, dispondo de espaços e ligações onde poderão
se inscrever equlilibradamente as etapas de seu desenvolvimento.
85 - É da mais urgente necessidade que cada cidade estabeleça seu programa, promulgando
leis que permitam sua realização.
O acaso cederá diante da previsão, o programa sucederá a improvisação. Cada caso será
inscrito no planejamento regional; os terrenos serão aferidos e atribuídos a diversas
atividades: clara ordenação no empreendimento que será iniciado a partir de amanhã e
continuado, pouco a pouco, por etapas sucessivas. A lei fixará o "estatuto do solo", dotando
cada função-chave dos meios de melhor se exprimir, de se instalar nos terrenos mais
favoráveis e a distâncias mais proveitosas. Ela deve prever também a proteção e a guarda das
extensões que serão ocupadas um dia. Ela terá o direito de autorizar - ou de proibir -, e
favorecerá todas as inicatívas adequadamente planejadas, mas velará para que elas se insiram
no planejamento geral e sejam sempre subordinadas aos interesses coletivos, que constituem o
bem público.
86 - O programa deve ser elaborado com base em análises rigorosas, feitas por especialistas.
Ele deve prever as etapas no tempo e no espaço. Deve reunir em um acordo fecundo os
recursos naturais do sítio, a topografia do conjunto, os dados econômicos, as necessidades
sociológicas, os valores espirituais.
A obra não será mais limitada ao plano precário do geômetra que projeta, à revelia dos
subúrbios, os blocos de imóveis na poeira dos loteamentos. Ela será uma verdadeira criação
biológica, compreendendo órgãos claramente definidos, capazes de desempenhar com
perfeição suas funções essenciais. Os recursos do solo serão analisados e as limitações à quais
ele se obriga, reconhecidas; a ambiência geral, estudada e os valores naturais, hierarquizados.
Os grandes leitos de circulação serão confirmados e instalados no lugar adequado, e a
natureza de seu equipamento fixada segundo o uso para o qual serão destinados. Uma curva
de crescimento exprimirá o futuro econômico previsto para cidade. Regras invioláveis
assegurarão aos habitantes o bem-estar da moradia, a facilidade do trabalho, o feliz emprego
das horas livres. A alma das cidades será animada pela clareza do plananejamento.
A arquitetura, após a derrota, desses últimos cem anos, deve ser recolocada a serviço do
homem. Ela deve deixar as pompas estéreis, debruçar-se sobre o indivíduo e criar-lhe, para
sua felicidade, as organizações que estarão à volta, tornando mais fáceis todos os gestos de
sua vida. Quem poderá tomar as medidas necessárias para levar a bom termo essa tarefa,
senão o arquiteto, que possui o perfeito conhecimento do homem, que abandonou os
grafismos ilusórios, e que, pela justa adaptação dos meios aos fins propostos, criará uma
ordem que tem em si sua própria poesia?
88 - O número inicial do urbanismo é uma célula habitacional (uma moradia) e sua inserção
num grupo formando uma unidade habitacional de proporções adequadas.
Se a célula é o elemento biológico primordial, a casa, quer dizer, o abrigo de uma família,
constitui a célula social. A construção dessa casa, há mais de um século submetida aos jogos
brutais da especulação, deve torna-se uma empresa humana. A casa é o núcleo inicial do
urbanismo. Ela protege o crescimento do homem, abriga as alegrias e as dores de sua vida
cotidiana. Se ela deve conhecer interiormente o sol e o ar puro, deve, além disso, prolongar-se
no exterior em diversas instalações comunitárias. Para que seja mais fácil dotar as moradias
dos serviços comuns destinados a realizar comodamente o abastecimento, a educação, a
assistência médica ou a utilização dos lazeres, será preciso reuni-las em "unidades
habitacionais" de proproções adequadas.
89 - É a dessa unidade-moradia que se estabelecerão no espaço urbano as relações entre a
habitação, os locais de trabalho e as instalações consagradas às horas livres.
A primeira das funções que deve atrair a atenção do urbanismo é habitar e... habitar bem. É
preciso também trabalhar, e fazê-lo em condições que requerem uma séria revisão dos usos
atualmente em vigor. Os escritórios, as oficinas, as fábricas devem ser dotados de instalações
capazes de assegurar o bem-estar necessário ao desempenho desta segunda função. Enfim,
não se pode negligenciar a terceira, que é recrear-se, cultivar o corpo e o espírito. E o
urbanista deverá prever os sítios e os locais propícios.
90 - Para realizar essa grande tarefa é indispensável utilizar os recursos da técnica moderna.
Esta com a ajuda de seus especialistas, respaldará a arte de construir com todas as garantias da
ciência e a enriquecerá com as invenções e os recursos da época.
A era do maquinismo introduziu técnicas novas, que são uma das causas da desordem e da
confusão das cidades. É a ela, no entanto, que é preciso pedir a solução do problema. As
modernas técnicas de construção instituíram novos métodos, trouxeram novas facilidades,
permitiram novas dimensões. Elas abrem verdadeiramente um novo ciclo na história da
arquitetura. As novas construções serão não somente de uma amplitude, mas, ainda, de uma
complexidade desconhecidas até aqui. Para realizar a tarefa múltipla que lhe é imposta, o
arquiteto deverá associar-se a numerosos especialistas em todas as etapas do empreendimento.
Não basta que a necessidade do estatuto do solo e de certos princípios de construção seja
admitida. É preciso, ainda, para passar da teoria aos atos, o concurso dos seguintes fatores: um
poder político tal como se o deseja, clarividente, convicto, decidido a realizar as melhores
condições de vida, elaboradas e expressas nos planos; uma população esclarecida para
compreender, desejar, reivindicar aquilo que os especialistas planejaram para ela; uma
situação econômica que permita empreender e prosseguir os trabalhos, alguns dos quais serão
consideráveis. Pode ser, todavia, que mesmo em uma época em que tudo caiu ao nível mais
baixo, em que as condições, políticas, sociais e econômicas são as mais desfavoráveis, a
necessidade de construir abrigos decentes apareça de repente como uma imperiosa obrigação,
e que ela venha dar ao político, ao social e ao econômico o objetivo e o programa coerentes
que justamente lhes faltavam.
A arquitetura preside aos destinos da cidade. Ela ordena a estrutura da moradia, célula
essencial do tecido urbano, cuja salubridade, alegria, harmonia são subordinadas às suas
decisões. Ela reúne as moradias em unidades habitacionais, cujo êxito dependerá da justeza de
seus cálculos. Ela reserva, de antemão, os espaços livres em meio aos quais se erguerão os
volumes edificados, em porporções harmoniosas. Ela organiza os prolongamentos da
moradia, os locais de trabalho, as áreas consagradas ao entretenimento. Ela estabelece a rede
de circulação que colocará em contato as diversas zonas. A arquitetura é responsável pelo
bem-estar e pela beleza da cidade. É ela que se encarrega de sua criação ou de sua melhoria, e
é ela que está incumbida da escolha e da distribuição dos diferentes elementos, cuja feliz
proporção constituirá uma obra harmoniosa e duradoura. A arquitetura é chave de tudo.
93 - A escala dos trabalhos a empreender com urgência para a organização das cidades, de
outro lado, o estado infinitamente parcelado da propriedade fundiária são duas realidades
antagônicas.
Devem ser empreendidos, sem demora, trabalhos de importância capital, uma vez que todas
as cidades do mundo, antigas ou modernas, revelam os mesmos vícios advindos das mesmas
causas. Mas nenhuma obra fragmentária deve ser empreendida se ela não se insere no
contexto da cidade e no da região, tais como eles terão sido previstos por um amplo estudo e
um grande plano de conjunto. Esse plano, forçosamente, conterá partes cuja realização poderá
ser imediata e outras, cuja execução deverá ser remetida para datas indeterminadas. Inúmeras
parcelas fundiárias deverão ser expropriadas e serão objeto de transações. Então, será preciso
temer o jogo sórdido da especulação, que tão frequentemente esmaga no berço os grandes
empreendimentos animados pela preocupação com o bem público. O problema da
propriedade do solo e de sua possível requisição se coloca nas cidades, em sua periferia, e se
estende até a zona, mais ou menos ampla que constitui sua região.
94 - A perigosa contradição aqui constatada sustica uma das questões mais perigosas da
época: a urgência de regulamentar, por um meio legal, a disposição de todo o solo útil para
equilibrar as necessidades vitais dos indivíduos em plena harmonia com as necessidades
coletivas.
Notas
Sobre os Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna
1928 - Fundação dos Ciam Em 1928 um grupo de arquitetos modernos se reunia na Suíça, no
castelo de La Sarraz Vaud, graças à generosa hospitalidade de Madame Hélène de Mandrot.
Depois de ter examinado, a partir de um programa elaborado em Paris, o problema colocado
pela arte de edificar, firmaram um ponto de vista sólido e decidiram reunir-se para colocar a
arquitetura diante de suas verdadeiras tarefas. Assim foram fundados os Congressos
Internacionais de Arquitetura Moderna, os CIAM.
Declaração de La Sarraz
Economia Geral
Urbanismo
O urbanismo é a administração dos lugares e dos locais diversos que devem abrigar o
desenvolvimento da vida material, sentimental e espiritual em todas as suas manifestações,
individuais ou coletivas. Ele envolve tanto as aglomerações urbanas quanto os agrupamentos
rurais. O urbanismo não poderia mais estar exclusivamente subordinado às regras de um
estetismo gratuito. Por sua essência, ele é de ordem funcional. As três funções fundamentais
pela realização das quais o urbanismo deve velar são: 1º habitar; 2° trabalhar; 3° recrear-se.
Seus objetivos são:
a) a ocupação do solo;
b) a organização da circulação;
c) a legislação.
As três funções fundamentais acima indicadas não são favorecidas pelo estado atual das
aglomerações. As relações entre os diversos locais que lhes são destinados devem ser
recalculadas de maneira a determinar uma justa proporção entre volumes edificados e espaços
livres. O problema da circulação e o da densidade devem ser reconsiderados. O parcelamento
desordenado do solo, fruto de partilhas, de vendas e da especulação, deve ser substituído por
uma economia territorial de reagrupamento. Este reagrupamento, base de todo urbanismo
capaz de responder às necessidades presentes, assegurará aos proprietários e à comunidade a
justa distribuição das mais-valias resultantes dos trabalhos de interesse comum.
É indispensável que os arquitetos exerçam uma influência sobre a opinião pública e a façam
conhecer os meios e os recursos da nova arquitetura. O ensino acadêmico perverteu o gosto
público, e não raro os problemas autênticos da habitação sequer são levantados. A opinião
pública está mal informada e os usuários, em geral, só sabem formular muito mal seus desejos
em matéria de moradia. Além disso, essa moradia tem estado há muito tempo excluída das
preocupações maiores do arquiteto. Um punhado de verdades elementares, ensinadas na
escola primária, poderia constituir o fundamento de uma educação doméstica. Esse ensino
resultaria na formação de gerações possuidoras de uma concepção saudável da moradia. Essas
gerações. futura clientela do arquiteto, seriam capazes de lhe impor a solução do problema da
habitação, por tanto tempo negligenciado.
A Arquitetura e o Estado
Objetivos do CIAM
Os Congressos do CIAM
Desde o momento de sua fundação, os CIAM avançaram pelo caminho das realizações
práticas: trabalhos coletivos, discussões, resoluções, publicações. Os congressos CIAM, que
sempre foram assembléias de trabalho, escolheram sucessivamente diferentes países para se
reunir. A cada vez, eles provocaram, nos centros profissionais e na opinião pública, uma
agitação fecunda, uma animação, um despertar. 1928 - 1° Congresso, La Sarraz, Fundação
dos CIAM.
1929 - 2° Congresso, Frankfurt (Alemanha), Estudo da moradia mínima.
1930 - 3° Congresso, Bruxelas, Estudo do loteamento racional.
1933 - 4° Congresso, Atenas, Análise de 33 cidades. Elaboração da Carta do Urbanismo.
1937 - 5° Congresso, Paris, Estudo do problema moradia e lazer.
1947 - 6° Congresso, Bridgwater, Reafirmação dos objetivos dos CIAM.
1949 - 7° Congresso, Bérgamo, Execução da Carta de Atenas, nascimento da grille CIAM de
urbanismo.
1951 - 8° Congresso, Hoddesdon, Estudo do centro, do coração das cidades.
1953 - 9° Congresso, Aix-en-Provence, Estudo do habitat humano.
1956 - 10° Congresso, Dubrovnik, Estudo do habitat humano.
Nova Delhi
de dezembro de 1956
Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
- 9ª Sessão de 5 de dezembro de 1956
UNESCO - Nova Delhi
Estimando que a garantia mais eficaz de conservação dos monumentos e obras do passado
reside no respeito e dedicação que lhes consagram os próprios povos e certa de que tais
sentimentos podem ser enormemente favorecidos por uma ação apropriada, inspirada na
vontade dos Estados Membros de desenvolver as ciências e as relações internacionais,
Convencida de que os sentimentos que dão origem à contemplação e ao conhecimento das
obras do passado podem facilitar grandemente a compreensão mútua entre os povos e que,
para isso, é preciso beneficiá-los com uma cooperação internacional e favorecer por todos os
meios a execução da missão social que lhes cabe,
Considerando que, se cada Estado é mais diretamente interessado nas descobertas
arqueológicas feitas em seu território, toda a comunidade internacional participa, entretanto,
desse enriquecimento,
Considerando que a história do homem implica no conhecimento das diferentes civilizações;
que é preciso, portanto, em nome do interesse comum, que todos os vestígios arqueológicos
sejam estudados e, eventualmente, preservados e coletados,
Convencida de que é preciso que as autoridades nacionais encarregadas da proteção do
patrimônio arqueológico se inspirem em determinados princípios comuns aferidos na
experiência e na prática dos serviços arqueológicos nacionais, Estimando que, se o regime das
pesquisas diz respeito, antes de tudo, à competência interna dos Estados, é preciso, entretanto,
conciliar este princípio com o de uma colaboração internacional amplamente concebida e
livremente aceita, Sendo-lhe apresentadas propostas referentes aos princípios internacionais a
serem aplicados em matéria de pesquisas arqueológicas, questão que constitui o ponto 9.4.3.
da ordem do dia da sessão,
Após haver decidido, durante a sua oitava sessão, que essas propostas seriam objeto de uma
regulamentação internacional, através de uma recomendação aos Estados Membros,
Adota, neste quinto dia de dezembro de 1956, a seguinte recomendação:
A Conferência Geral recomenda aos Estados Membros que apliquem as disposições seguintes
e que adotem, sob forma de lei nacional ou de qualquer outro modo, medidas que visem a
tornar eficazes nos territórios sob sua jurisdição as normas e princípios formulados na
presente recomendação.
A Conferência Geral recomenda aos Estados Membros que levem a presente recomendação
ao conhecimento das autoridades e órgãos que se dedicam às pesquisas arqueológicas e aos
museus.
A Conferência Geral recomenda aos Estados Membros que lhe apresentem, nas datas e na
forma que ela determinar, relatórios sobre a continuidade que derem à presente
recomendação.
I - Definições
Pesquisas arqueológicas
Bens protegidos
a) No primeiro caso, o critério que consiste em proteger todos os objetos anteriores a uma
determinada data deveria ser abandonado e a atribuição a uma determinada época ou uma
ancianidade de um número mínimo de anos fixado por lei deveria ser adotada como critério
de proteção.
b) No segundo caso, cada Estado Membro deveria adotar critérios bem mais amplos que
imponham ao escavador e ao descobridor a obrigação de declarar todos os bens de caráter
arqueológico, móveis ou imóveis, por ele encontrados.
II - Princípios Gerais
Cada Estado Membro deveria garantir a proteção de seu patrimônio arqueológico, levando em
conta, especialmente, os problemas advindos das pesquisas arqueológicas e em concordância
com as disposições da presente recomendação. Cada Estado Membro deveria, especialmente:
a) O serviço de pesquisas arqueológicas deveria ser, sempre que possível, uma administração
central do Estado, ou, pelo menos, uma organização que disponha por força de lei, de meios
que lhe permitam adotar, em caso de necessidades, as medidas de urgência indispensáveis.
Esse serviço, encarregado da administração geral das atividades arqueológicas deveria prover,
em colaboração com os institutos de pesquisa e as universidades, o ensino de técnicas das
escavações arqueológicas. Esse serviço deveria também criar uma documentação central, com
mapas que se refiram a seus monumentos móveis ou imóveis, assim como uma documentação
junto a cada museu importante, de acervos cerâmicos, iconográficos, etc.
b) A continuidade dos recursos financeiros deveria ser garantida principalmente com:
Cada Estado Membro deveria exercer um controle rigoroso sobre as restaurações dos
vestígios e objetos arqueológicos descobertos.
Deveria ser solicitado às autoridades competentes uma autorização prévia para o
deslocamento de monumentos cuja localização in situ é essencial.
Cada Estado Membro deveria considerar a conveniência de manter intactos, total ou
parcialmente, determinado número de sítios arqueológicos de diversas épocas, para que sua
exploração possa beneficiar-se dos progressos da técnica e do avanço dos conhecimentos
arqueológicos. Em cada um dos sítios arqueológicos importantes em processo de pesquisa, na
medida em que o terreno o permita, testemunhos, ou seja, porções de terreno poderiam
também ser reservados em vários locais para permitir um controle da estatigrafia, bem como
da composição do meio arqueológico.
Educação do público
A autoridade competente deveria empreender uma ação educativa para despertar e
desenvolver o respeito e a estima ao passado, especialmente através do ensino de história, da
participação de estudantes em determinadas pesquisas, da difusão pela imprensa de
informações arqueológicas que provenham de especialistas reconhecidos, da organização de
circuitos turísticos, exposições e conferências que tenham por objeto os métodos aplicáveis
em matéria de pesquisas arqueológicas assim como os resultados obtidos, da apresentação
clara dos sítios arqueológicos explorados e dos monumentos descobertos, da edição a preços
módicos de monografias e guias em uma redação simples. Os Estados Membros deveriam
adotar todas as medidas necessárias para facilitar o acesso do público a esses sítios.
Cada Estado Membro em cujo território as pesquisas necessitam ser executadas deveria
regulamentar as condições gerais às quais está subordinada a respectiva concessão, as
obrigações impostas ao concessionário principalmente quanto ao controle da administração
nacional, a duração da concessão, as causas que possam justificar a rescisão, a suspensão dos
trabalhos ou a substituição pela administração nacional do concessionário de sua execução.
As condições impostas ao pesquisador estrangeiro deveriam ser as mesmas que se aplicam aos
competentes nacionais e, portanto, o contrato de concessão deveria evitar formular, sem
necessidade, exigências específicas.
Colaboração internacional
Garantias recíprocas
Acesso à pesquisa
a) Cada Estado Membro deveria determinar claramente os princípios que, em seu território,
regulam a destinação do produto das pesquisas.
b) O produto das pesquisas deveria se destinar, antes de mais nada, à constituição, nos museus
do país em que são realizadas, de coleções completas, plenamente representativas da
civilização, da história e da arte desse país.
c) Com a preocupação básica de favorecer os estudos arqueológicos através da divulgação de
objetos originais, a autoridade concedente poderia ter em vista, depois da publicação
científica, a cessão ao pesquisador habilitado de um determinado número de objetos
provenientes de suas escavações, ou que consistam de objetos repetidos ou, de um modo
geral, em objetos ou grupos de objetos aos quais essa autoridade possa renunciar, em razão de
sua similitude com outros objetos produzidos pela mesma pesquisa. A cessão ao pesquisador
de objetos provenientes de pesquisas deveria estar sempre condicionada a que eles sejam
destinados, em um prazo determinado, a centros científicos abertos ao público, ficando
estabelecido que, se essa condição não for cumprida, ou vier a ser desrespeitada, os objetos
cedidos voltarão à autoridade concedente.
d) A exportação temporária dos objetos descobertos, excluídos os objetos particularmente
frágeis ou de importância nacional, deveria ser autorizada, mediante solicitação justificada de
instituição científica, pública ou privada, desde que seu estudo seja impraticável no território
do Estado concedente devido à insuficiência de meios para a pesquisa bibliográfica e
científica, ou por tornar-se difícil pelas condições de acesso.
e) Cada Estado Membro deveria considerar a possibilidade de ceder, trocar ou enviar para
depósito em museus estrangeiros, objetos que não apresentem interesse para as coleções
nacionais.
Com vistas a facilitar o estudo dos problemas de interesse comum, os Estados Membros
poderiam organizar, periodicamente, reuniões regionais com grupos de representantes dos
serviços arqueológicos dos Estados interessados. Por outro lado, cada Estado Membro poderia
suscitar reuniões de discussões científicas entre os pesquisadores que operam em seu solo.
Em caso de conflito armado, qualquer Estado Membro que venha a ocupar o território de um
outro Estado deveria se abster de realizar pesquisas arqueológicas no território ocupado. No
caso de achados fortuitos, sobretudo os que se derem durante atividades militares, a potência
ocupante deveria adotar todas as medidas possíveis para protegê-los e deveria enviá-los, ao
término das hostilidades, acompanhados de toda a documentação relativa que detiver, às
autoridades competentes do território anteriormente ocupado.
A Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura,
reunida em Paris, de 9 de novembro a 12 de dezembro de 1962, em sua décima segunda
sessão,
Considerando que em todas as épocas o homem algumas vezes submeteu a beleza e o caráter
das paisagens e dos sítios que fazem parte do quadro natural de sua vida a atentados que
empobreceram o patrimônio cultural, estético e até mesmo vital de regiões inteiras, em todas
as partes do mundo,
Considerando que, ao cultivar novas terras, desenvolver por vezes desordenadamente os
centros urbanos, executar grandes obras e realizar vastos planejamentos físicos territoriais e
instalações de equipamento industrial e comercial, as civilizações modernas aceleraram esse
fenômeno que, até o século passado, havia sido relativamente lento,
Considerando que esse fenômeno tem repercussão não apenas no valor estético das paisagens
e dos sítios naturais ou criados pelo homem, mas também no interesse cultural e científico
oferecido pela vida selvagem,
Considerando que, por sua beleza e caráter, a salvaguarda das paisagens e dos sítios definidos
pela presente recomendação é necessária à vida do homem, para quem são um poderoso
regenerador físico, moral e espiritual e por contribuírem para a vida artística e cultural dos
povos, como o demonstram inúmeros exemplos universalmente conhecidos,
Considerando, ainda mais, que as paisagens e sítios constituem um fator importante da vida
econômica e social de um grande número de países, assim como um elemento importante das
condições de higiene de seus habitantes,
Reconhecendo, entretanto, que é preciso levar em conta as necessidades da vida coletiva, sua
evolução e o rápido desenvolvimento do progresso técnico,
Considerando, em conseqüência, que é altamente desejável e urgente estudar e adotar as
medidas necessárias para salvaguardar a beleza e o caráter das paisagens e dos sítios em toda
parte e sempre que possível,
Havendo-se-lhe apresentadas propostas relativas à salvaguarda da beleza e do caráter das
paisagens e dos sítios, questão que constitui o ponto 17.4.2 da ordem do dia da sessão,
Depois de haver decidido, em sua décima primeira sessão, que propostas relativas a esse
ponto seriam objeto de uma regulamentação internacional através de uma recomendação aos
Estados Membros.
Adota, hoje, onze de dezembro de 1962, a presente recomendação.
A Conferência Geral recomenda aos Estados Membros que apliquem as disposições seguintes
e adotem, sob a forma de lei nacional ou de alguma outra maneira, medidas que ponham em
efeito, nos territórios sob sua jurisdição, as normas e princípios formulados na presente
recomendação.
A Conferência Geral recomenda aos Estados Membros que levem a presente recomendação
ao conhecimento das autoridades e organismos envolvidos com a proteção das paisagens e
dos sítios e com o planejamento territorial, aos organismos encarregados da proteção da
natureza, do fomento ao turismo e às organizações da juventude.
A Conferência Geral recomenda aos Estados Membros que lhe apresentem, nas datas e sob a
forma que ela determinará, relatórios concernentes à implementação desta recomendação.
I - Definição
II – Princípios Gerais
Os estudos e as medidas a serem adotadas para a salvaguarda das paisagens e dos sítios dever-
se-iam se estender a todo o território do Estado e não se limitar a algumas paisagens ou sítios
determinados.
Convém levar em conta, na escolha das medidas aplicáveis, o interesse relativo das paisagens
e dos sítios em consideração. Essas medidas poderiam variar, especialmente segundo o caráter
e as dimensões das paisagens e sítios, sua localização, e a natureza dos perigos de que estejam
ameaçados.
A salvaguarda não deveria limitar-se às paisagens e aos sítios naturais, mas estender-se
também às paisagens e sítios cuja formação se deve, no todo ou em parte, à obra do homem.
Assim, disposições especiais deveriam ser tomadas para assegurar a salvaguarda de algumas
paisagens e de determinados sítios, tais como as paisagens e sítios urbanos, que são,
geralmente, os mais ameaçados, especialmente pelas obras de construção e pela especulação
imobiliária. Uma proteção especial deveria ser assegurada às proximidades dos monumentos.
As medidas a serem adotadas para a salvaguarda das paisagens e dos sítios deveriam ter
caráter preventivo e corretivo.
As medidas preventivas para a salvaguarda das paisagens e dos sítios deveriam visar a
protegê-los dos perigos que os ameaçam. Essas medidas deveriam consistir essencialmente no
controle dos trabalhos e atividades susceptíveis de causar dano às paisagens e aos sítios e,
especialmente, de:
A salvaguarda da beleza e do caráter das paisagens e dos sítios deveria também levar em
conta os perigos decorrentes de certas atividades de trabalho, ou de determinadas formas de
vida da sociedade contemporânea, por causa do barulho que provocam.
As atividades que possam levar a uma deterioração das paisagens e dos sítios em zonas
protegidas por lei, ou de alguma forma protegidas, só poderiam ser admitidas no caso de
exigência imperiosa de um interesse público ou social.
Medidas corretivas deveriam ser destinadas a suprimir o “dano” causados às paisagens e aos
sítios e, na medida do possível, a reabilitá-los.
Para facilitar o trabalho dos diversos serviços públicos encarregados da salvaguarda da
paisagem e dos sítios em cada país, deveriam ser criados institutos de pesquisa científica para
colaborar com as autoridades competentes a fim de assegurar a harmonização e a codificação
das disposições legislativas e regulamentares aplicáveis à matéria. Essas disposições e os
resultados dos trabalhos dos institutos de pesquisa deveriam ser reunidos em uma só
publicação administrativa periódica, atualizada.
A salvaguarda da paisagem e dos sítios deveria ser assegurada com o auxílio dos seguintes
métodos:
Controle Geral
Quando for possível, os Estados Membros deveriam incorporar às zonas e sítios cuja
salvaguarda convém assegurar, parques nacionais destinados à educação e ao lazer do
público, ou reservas naturais, parciais ou integrais. Esses parques nacionais e reservas naturais
deveriam formar um conjunto de zonas experimentais destinadas também às pesquisas sobre a
formação e a restauração da paisagem e à proteção da natureza.
Os órgãos de caráter consultivo deveriam ser comissões de caráter nacional, regional e local,
encarregadas de estudar as questões relativas à salvaguarda e de manifestar seu parecer sobre
essas questões às autoridades centrais ou regionais, ou às coletividades locais interessadas. O
parecer dessas comissões deveria ser solicitado em todos os casos e em tempo útil,
particularmente na fase dos anteprojetos, nos casos de obras de interesse geral e de grande
envergadura, como a construção de rodovias, ordenação espacial de instalações hidrotécnicas,
criação de novas instalações industriais, etc.
A violação das normas de salvaguarda das paisagens e dos sítios devria redundar em perdas e
danos e ou na obrigação de repor os sítios em seu estado primitivo, na medida do possível.
V – Educação do Público
Uma ação educativa deveria ser empreendida dentro e fora das escolas para despertar e
desenvolver o respeito público pelas paisagens e sítios e para tornar mais conhecidas as
normas editadas para garantir sua salvaguarda.
Os professores encarregados dessa tarefa educativa na escola deveriam receber uma
preparação especial, na forma de estágios especializados de estudos em estabelecimentos de
ensino secundário e superior.
Os Estados Membros deveriam também facilitar a tarefa dos museus existentes, com o
objetivo de intensificar a ação educativa já empreendida nesse sentido e considerar a
possibilidade de criar museus especiais, ou seções especializadas nos museus existentes, para
o estudo e a apresentação dos aspectos naturais e culturais característicos de determinadas
regiões.
A educação do público fora da escola deveria ser tarefa da imprensa, das associações privadas
de proteção das paisagens e dos sítios ou de proteção da natureza, dos órgãos encarregados do
turismo e das organizações de juventude e de educação popular.
Os Estados Membros deveriam facilitar a educação do público e estimular a ação das
associações, e de órgãos dedicados a essa tarefa, prestando-lhes uma ajuda material e
colocando a sua disposição e à dos educadores em geral os meios apropriados de publicidade,
tais como filmes, emissões radiofônicas ou de televisão, material para exposições
permanentes, temporárias ou itinerantes, folhetos e livros capazes de obter uma grande
difusão e idealizados com um espírito didático. Uma ampla publicidade poderia ser obtida
através dos jornais, das revistas e das publicações periódicas regionais.
Jornadas nacionais e internacionais, concursos e outras manifestações similares deveriam ser
consagrados e ressaltar o valor das paisagens e dos sítios naturais ou criados pelo homem,
para chamar a atenção do grande público sobre a importância da salvaguarda da sua beleza e
de seu caráter, problema primordial para a coletividade.
Carta de Veneza
de maio de 1964
É, portanto, essencial que os princípios que devem presidir à conservação e à restauração dos
monumentos sejam elaborados em comum e formulados num plano internacional, ainda que
caiba a cada nação aplicá-los no contexto de sua própria cultura e de suas tradições.
Ao dar uma primeira forma a esses princípios fundamentais, a Carta de Atenas de 1931
contribui para a propagação de um amplo movimento internacional que se traduziu
principalmente em documentos nacionais, na atividade de ICOM e da UNESCO e na criação,
por esta última, do Centro Internacional de Estudos para a Conservação e Restauração dos
Bens Culturais. A sensibilidade e o espírito crítico se dirigem para problemas cada vez mais
complexos e diversificados. Agora é chegado o momento de reexaminar os princípios da
Carta para aprofundá-las e dotá-las de um alcance maior em um novo documento.
Definições
Finalidade
Conservação
Artigo 5º - A conservação dos monumentos é sempre favorecida por sua destinação a uma
função útil à sociedade; tal destinação é portanto, desejável, mas não pode nem deve alterar à
disposição ou a decoração dos edifícios. É somente dentro destes limites que se deve conceber
e se pode autorizar as modificações exigidas pela evolução dos usos e costumes.
Restauração
Artigo 9º - A restauração é uma operação que deve ter caráter excepcional. Tem por objetivo
conservar e revelar os valores estéticos e históricos do monumento e fundamenta-se no
respeito ao material original e aos documentos autênticos. Termina onde começa a hipótese;
no plano das reconstituições conjeturais, todo trabalho complementar reconhecido como
indispensável por razões estéticas ou técnicas destacar-se-á da composição arquitetônica e
deverá ostentar a marca do nosso tempo. A restauração será sempre precedida e acompanhada
de um estudo arqueológico e histórico do monumento.
Artigo 13º - Os acréscimos só poderão ser tolerados na medida em que respeitarem todas as
partes interessantes do edifício, seu esquema tradicional, o equilíbrio de sua composição e
suas relações com o meio ambiente.
Sítios Monumentais
Artigo14º - Os sítios monumentais devem ser objeto de cuidados especiais que visem a
salvaguardar sua integridade e assegurar seu saneamento, sua manutenção e valorização. Os
trabalhos de conservação e restauração que neles se efetuarem devem inspirar-se nos
princípios enunciados nos artigos precedentes.
Escavações
Artigo 15º - Os trabalhos de escavação devem ser executados em conformidade com padrões
científicos e com a "Recomendação Definidora dos Princípios Internacionais a serem
aplicados em Matéria de Escavações Arqueológicas", adotada pela UNESCO em 1956.
Todo trabalho de reconstrução deverá, portanto, deve ser excluído a priori, admitindo-se
apenas a anastilose, ou seja, a recomposição de partes existentes, mas desmembradas. Os
elementos de integração deverão ser sempre reconhecíveis e reduzir-se ao mínimo necessário
para assegurar as condições de conservação do monumento e restabelecer a continuidade de
suas formas.
Documentação e Publicações
A Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura,
reunida em Paris de 20 de outubro a 20 de novembro de 1964, em sua décima-terceira sessão,
I - Definição
Para efeito desta recomendação, são considerados bens culturais os bens móveis e imóveis de
grande importância para o patrimônio cultural de cada país, tais como as obras de arte e de
arquitetura, os manuscritos, os livros e outros bens de interesse artístico, histórico ou
arqueológico, os documentos etnológicos, os espécimens-tipo da flora e da fauna, as coleções
científicas e as coleções importantes de livros e arquivos, incluídos os arquivos musicais.
Cada Estado Membro deveria adotar os critérios que julgar mais adequados para definir, no
âmbito de seu território, os bens culturais que haverão de se beneficiar da proteção
estabelecida nesta recomendação em virtude da grande importância que apresentam.
II - Princípios Gerais
Para garantir a aplicação mais eficaz dos princípios gerais enunciados acima, cada Estado
Membro deveria, na medida do possível, estabelecer e aplicar procedimentos para a
identificação dos bens culturais definidos nos parágrafos 1 e 2 que existam em seu território e
estabelecer um inventário nacional desses bens. A inclusão de um objeto cultural nesse
inventário não deveria alterar de maneira alguma sua propriedade legal. Particularmente, um
objeto cultural de propriedade privada deveria permanecer como tal mesmo após sua inclusão
no inventário nacional. Este inventário não teria caráter restritivo.
Cada Estado-Membro deveria providenciar para que a proteção dos bens culturais estivesse
sob a responsabilidade de órgãos oficiais adequados e, se necessário, deveria instituir um
serviço nacional para a proteção dos bens culturais. Ainda que a diversidade de disposições
constitucionais e de tradições e a desigualdade de recursos impossibilitem a adoção por todos
os Estados-Membros de uma organização uniforme, é conveniente levar em consideração os
seguintes princípios comuns, caso se julgue necessária a criação de um serviço nacional de
proteção dos bens culturais:
a) O serviço nacional de proteção dos bens culturais deveria ser, na medida do possível, um
serviço administrativo do Estado ou um órgão que, atuando em conformidade com a
legislação nacional, dispusesse dos meios administrativos, técnicos e financeiros que
permitissem o desempenho eficaz de suas funções.
b) As funções do serviço nacional de proteção dos bens culturais deveriam incluir:
c) O serviço nacional de proteção dos bens culturais deveria estar autorizado a apresentar às
autoridades nacionais competentes propostas de outras medidas legislativas ou administrativas
adequadas à proteção dos bens culturais, inclusive sanções que impedissem a exportação, a
importação e a transferência de propriedade ilícitas.
d) O serviço nacional de proteção dos bens culturais deveria poder recorrer a especialistas
para assessorá-lo em relação a problemas técnicos e na solução de casos litigiosos.
Ação Educativa
Informe Final
I - Introdução
O acelerado processo de empobrecimento que vem sofrendo a maioria dos países americanos
como conseqüência do estado de abandono e da falta de defesa em que se encontra sua
riqueza monumental e artística demanda a adoção de medidas de emergência, tanto em nível
nacional quanto internacional, mas sua eficácia prática dependerá, em último caso, de sua
adequada formulação dentro de um plano sistemático de revalorização dos bens patrimoniais
em função do desenvolvimento econômico-social.
É preciso reconhecer, entretanto, que, dada a íntima relação entre o continente arquitetônico e
o conteúdo artístico, torna-se imprescindível estender a devida proteção a outros bens móveis
e a objetos valiosos do patrimônio cultural para evitar sua contínua deterioração e subtração
impune e para conseguir que contribuam à obtenção dos fins pretendidos mediante sua
adequada exibição, de acordo com a moderna técnica museográfica.
II - Considerações Gerais
Os lugares pitorescos e outras belezas naturais, objeto de defesa e proteção por parte do
Estado, não são propriamente monumentos nacionais. A marca histórica ou artística do
homem é essencial para imprimir a uma paisagem ou a um recinto determinado essa categoria
específica.
Qualquer que seja o valor intrínseco de um bem ou as circunstâncias que concorram para
constituir a sua importância e significação histórica ou artística, ele não se constituirá em um
monumento a não ser que haja uma expressa declaração do Estado nesse sentido. A
declaração de monumento nacional implica a sua identificação e registro oficiais. A partir
desse momento o bem em questão estará submetido ao regime de exceção assinalado pela lei.
Todo monumento nacional está implicitamente destinado a cumprir uma função social. Cabe
ao Estado fazer com que ela prevaleça e determinar, nos diferentes casos, a medida em que a
referida função social é compatível com a propriedade privada e com o interesse dos
particulares.
É uma realidade evidente que a América, e em especial a América Ibérica, constitui uma
região extraordinariamente rica em recursos monumentais. Aos grandiosos testemunhos das
culturas pré-colombianas se agregam as expressões monumentais, arquitetônicas, artísticas e
históricas do extenso período colonial, numa exuberante variedade de formas. Um acento
próprio, produto do fenômeno da aculturação, contribui para imprimir aos estilos importados
um sentido genuinamente americano de múltiplas manifestações locais que os caracteriza e
distingue. Ruínas arqueológicas de capital importância, nem sempre acessíveis ou de todo
exploradas, se alternam com surpreendentes sobrevivências do passado; complexos urbanos e
povoados inteiros são suscetíveis de se tomar centros de maior interesse e atração.
É certo também que grande parte desse patrimônio se arruinou irremediavelmente no curso
das últimas décadas ou se acha hoje em perigo iminente de perder-se. Múltiplos fatores têm
contribuído e continuam contribuindo para diminuir as reservas de bens culturais da maioria
dos países da América Ibérica, mas é necessário reconhecer que a razão fundamental da
destruição progressivamente acelerada desse potencial de riqueza reside na falta de uma
política oficial capaz de imprimir eficácia prática às medidas protecionistas vigentes e de
promover a revalorização do patrimônio monumental em função do interesse público e para
beneficio econômico da nação.
Grande número de cidades ibero-americanas que entesouravam, num passado ainda próximo,
um rico patrimônio monumental, evidência de sua grandeza passada - templos, praças, fontes
e vielas, que, em conjunto, acentuavam sua personalidade e atração -, têm sofrido tais
mutilação e degradações no seu perfil arquitetônico que se tomam irreconhecíveis. Tudo isso
em nome de um mal entendido e pior administrado progresso urbano.
Não é exagerado afirmar que o potencial de riqueza destruída com esses atos irresponsáveis
de vandalismo urbanístico em numerosas cidades do continente excede em muito os
benefícios advindos para a economia nacional através das instalações e melhorias de infra-
estrutura com que se pretendem justificar.
IV - A solução conciliatória
"Esforços Multinacionais..."
"... A extensão da assistência técnica e a ajuda financeira ao patrimônio cultural dos Estados
Membros será cumprida em função de seu desenvolvimento econômico e turístico."
Isso implica uma tarefa prévia de planejamento em nível nacional, ou seja, a avaliação dos
recursos disponíveis e a formulação de projetos específicos dentro de um plano de ordenação
geral.
O termo "valorização", que tende a tomar-se cada dia mais freqüente entre os especialistas,
adquire no momento americano uma especial aplicação. Se algo caracteriza este momento é,
precisamente, a urgente necessidade de utilizar ao máximo o cabedal de seus recursos e é
evidente que entre eles figura o patrimônio monumental das nações.
De outra parte, a valorização de um monumento exerce uma benéfica ação reflexa sobre o
perímetro urbano em que se encontra implantado e ainda transborda dessa área imediata,
estendendo seus efeitos a zonas mais distantes. Esse incremento de valor real de um bem por
ação reflexa constitui uma forma de mais valia que há de se levar em consideração.
A Conferência das Nações Unidas sobre Viagens Internacionais e Turismo (Roma, 1963) não
somente recomendou que se desse uma alta prioridade aos investimentos em turismo dentro
dos planos nacionais, como fez ressaltar que, "do ponto de vista turístico, o patrimônio
cultural, histórico e natural das nações, constitui um valor substancialmente importante" e
que, em conseqüência, seria urgente "a adoção de medidas adequadas dirigidas a assegurar a
conservação e proteção desse patrimônio" (Informe Final, Doc. 4). Por sua vez, a Conferência
sobre Comércio e Desenvolvimento das Nações Unidas (1964) recomendou às agências e
organismos de financiamento, tanto governamentais como privados, "oferecer assistência, na
forma mais apropriada, para obras de conservação, restauração e utilização vantajosa de sítios
arqueológicos, históricos e de beleza natural" (Resolução, Anexo A, IV.24). Ultimamente, o
Conselho Econômico e Social do citado organismo mundial, depois de recomendar à
Assembléia Geral designar o ano de 1967 como "Ano do Turismo Internacional", resolveu
solicitar aos organismos das Nações Unidas e às agencias especializadas que dessem "parecer
favorável às solicitações de assistência técnica e financeira dos países em desenvolvimento, a
fim de acelerar a melhoria dos seus recursos turísticos" (Resolução 1109 XL).
Em relação a esse tema, que vem sendo objeto de especial atenção por parte da Secretaria
Geral da UNESCO, empreendeu-se um exaustivo estudo, com a colaboração de um
organismo não-governamental de grande prestígio, a União Internacional de Organizações
Oficiais de Turismo. Esse estudo confirma os critérios expostos e, depois de analisar as razões
culturais, educativas e sociais que justificam o uso da riqueza monumental em função do
turismo, insiste nos benefícios econômicos que derivam dessa política para as áreas territoriais
correspondentes. Dois pontos de particular interesse merecem ser destacados: a) a afluência
turística determinada pela revalorização adequada de um monumento assegura a rápida
recuperação do capital investido nesse fim; b) a atividade turística que se origina da adequada
apresentação de um monumento e que, abandonada, determinaria sua extinção, traz consigo
uma profunda transformação econômica da região em que esse monumento se acha inserido.
Do seio de cada comunidade pode e deve surgir a voz de alarme e a ação vigilante e
preventiva. O estímulo a agrupamentos cívicos de defesa do patrimônio, qualquer que seja sua
denominação e composição, tem dado excelentes resultados, especialmente em localidades
que não dispõem ainda de diretrizes urbanísticas e onde a ação protetora em nível nacional é
débil ou nem sempre eficaz.
Nada pode contribuir melhor para a tomada de consciência desejada do que a contemplação
do próprio exemplo. Uma vez que se apreciam os resultados de certas obras de restauração e
de revitalização de edifícios, praças e lugares, costuma ocorrer uma reação favorável de
cidadania que paralisa a ação destrutiva e permite a consecução de objetivos mais ambiciosos.
Em qualquer caso, a colaboração espontânea e múltipla dos particulares nos planos de
valorização do patrimônio histórico e artístico é absolutamente imprescindível, muito
especialmente nas pequenas comunidades. Daí que, na preparação desses planos, deve se
levar em conta a conveniência de um programa anexo de educação cívica, desenvolvido
sistemática e simultaneamente à execução do projeto.
IX - Os instrumentos da valorização
Não pode haver essa necessária coordenação se não existem no país em questão as condições
legais e os instrumentos técnicos que a tomem possível.
Do ponto de vista cultural, são requisitos prévios a qualquer propósito oficial dirigido a
revalorizar seu patrimônio monumental: legislação eficaz, organização técnica e planejamento
nacional.
A integração dos projetos culturais e econômicos deve produzir-se em nível nacional como
medida prévia a toda gestão de assistência ou cooperação exterior. Essa integração, tanto em
termos técnicos como financeiros, é o complemento do esforço nacional. Aos governos dos
diferentes Estados Membros cabe a iniciativa; aos países corresponde a tarefa prévia de
formular seus projetos e integrá-los com os planos gerais para o desenvolvimento. As medidas
e procedimentos que se seguem destinam-se a essa finalidade.
Compete ao governo dotar o país das condições que tomem possível a formulação e execução
de projetos específicos de valorização.
A cooperação dos interesses privados e o respaldo da opinião pública são indispensáveis para
a realização de qualquer projeto de valorização. Nesse sentido, deve-se ter presente, durante a
sua formulação, o desenvolvimento de uma campanha cívica que possibilite a formação de
uma consciência pública favorável.
Reiterar a conveniência de que os países da América adotem a Carta de Veneza como norma
mundial em matéria de preservação de sítios e monumentos históricos e artísticos, sem
prejuízo de adotarem outros compromissos e acordos que se tomem recomendáveis dentro do
sistema interamericano.
Recomendar à Organização dos Estados Americanos que estenda a cooperação que se propôs
prestar à revalorização dos monumentos de interesse arqueológico, histórico e artístico a
outros bens do patrimônio cultural, constituídos do acervo de museus e arquivos, bem como
do acervo sociológico do folclore nacional.
Recomendar que seja redigido um novo documento hemisférico que substitua o Tratado
Interamericano sobre a Proteção de Móveis de Valor Histórico (1935), capaz de proteger de
maneira mais ampla e efetiva essa parte importantíssima do patrimônio cultural do continente
dos múltiplos riscos que a ameaçam.
Enquanto não se ultima o estabelecido no item anterior, recomenda-se que o Conselho
Interamericano Cultural providencie, na sua próxima reunião, obter dos Estados-membros a
adoção de medidas de emergência capazes de eliminar os riscos do comércio ilícito de peças
do patrimônio cultural e que se ative a sua devolução ao país de origem, uma vez provada sua
exportação clandestina ou aquisição ilegal.
Tendo em vista que a escassez de recursos humanos constitui um grave inconveniente para a
realização de planos de valorização, toma-se recomendável tomar as providências adequadas
para a criação de um centro ou instituto especializado em matéria de restauração, de caráter
interamericano. Da mesma forma, torna-se recomendável satisfazer as necessidades em
matéria de restauração de bens móveis, mediante o fortalecimento dos órgãos existentes e a
criação de outros novos.
Toda vez que se tome necessário o intercâmbio de experiências sobre os problemas próprios
da América e convém manter-se uma adequada unidade de critérios relativos à matéria,
recomenda-se reconhecer a Sociedade de Arquitetos Especializados em Restauração de
Monumentos, com sede provisória no Instituto de Cultura Hispânica, Madrid, e proporcionar
sua instalação definitiva num dos Estados Membros.
Medidas Legais
Ao atualizar a legislação vigente, os países deverão ter em conta o maior valor que adquirem
os bens imóveis incluídos na zona de valorização, assim como, até certo ponto, as limítrofes.
Medidas Técnicas
Cada projeto de valorização constitui um problema específico e requer uma solução também
específica.
A colaboração técnica dos peritos nas diversas disciplinas que deverão intervir na execução de
um projeto é absolutamente essencial. Da acertada coordenação dos especialistas irá
depender, em boa parte, o resultado final.
A prioridade dos projetos fica subordinada à estimativa dos benefícios econômicos, que
derivariam de sua execução para uma determinada região. Entretanto, em tudo que for
possível, deve-se ter em conta a importância intrínseca dos bens objeto de restauração ou
revalorização e a situação de emergência em que eles se encontram.
a) estudo e determinação de seu uso eventual e das atividades que nela deverão desenvolver-
se;
b) estudo da magnitude dos investimentos e das etapas necessárias até o término dos trabalhos
de restauração e conservação, incluídas as obras de infra-estrutura e adaptações exigidas pelo
equipamento turístico para sua valorização;
c) estudo analítico do regime especial a que a zona ficará submetida, a fim de que as
construções existentes e as futuras possam ser efetivamente controladas;
d) a regulamentação das zonas adjacentes ao núcleo histórico deve estabelecer, além do uso
da terra e densidade da respectiva ocupação, a relação volumétrica como fator determinante
da paisagem urbana e natural;
e) estudo do montante das inversões necessárias para o adequado saneamento da zona a ser
valorizada;
f) estudo das medidas preventivas necessárias para a manutenção permanente de zona a
valorizar.
Considerando que a civilização contemporânea e sua evolução futura repousam nas tradições
culturais dos povos e nas forças criadoras da humanidade, assim como em seu
desenvolvimento social e econômico.
Considerando que os bens culturais são o produto e o testemunho das diferentes tradições e
realizações intelectuais do passado e constituem, portanto, um elemento essencial da
personalidade dos povos.
Considerando que é indispensável preservá-los, na medida do possível e, de acordo com sua
importância histórica e artística, valorizá-los de modo que os povos se compenetrem de sua
significação e de sua mensagem e, assim, fortaleçam a consciência de sua própria dignidade.
Considerando que essa preservação e valorização dos bens culturais, de acordo com o espírito
da Declaração de Princípios da Cooperação Cultural Internacional, adotada em 4 de novembro
de 1966, durante a 14 a sessão, favorecem uma melhor compreensão entre os povos e,
consequentemente, servem à causa da paz.
Considerando também que o bem-estar de todos os povos depende, entre outras coisas, de que
sua vida se desenvolva em um meio favorável e estimulante, e que a preservação dos bens
culturais de todos os períodos de sua história contribui diretamente para isso.
Reconhecendo, por outro lado, o papel desempenhado pela industrialização e urbanização a
que tende a civilização mundial no desenvolvimento dos povos e em sua completa realização
espiritual e nacional.
Considerando, entretanto, que os monumentos, testemunhos e vestígios do passado pré-
histórico, proto-histórico e histórico, assim como inúmeras construções recentes que têm uma
importância artística, histórica ou científica, estão cada vez mais ameaçados pelos trabalhos
públicos ou privados resultantes do desenvolvimento da indústria e da urbanização.
Considerando que é dever dos governos assegurar a proteção e a preservação da herança
cultural da humanidade tanto quanto promover o desenvolvimento social e econômico.
Considerando, portanto, que é necessário harmonizar a preservação do patrimônio cultural
com as transformações exigidas pelo desenvolvimento social e econômico, e que urge
desenvolver os maiores esforços para responder a essas duas exigências em um espírito de
ampla compreensão e com referência a um planejamento apropriado.
Considerando, igualmente, que a adequada preservação e exposição dos bens culturais
contribuem poderosamente para o desenvolvimento social e econômico dos países e das
regiões que possuem esse gênero de tesouros da humanidade, através do estímulo ao turismo
nacional e internacional.
Considerando, enfim, que, em matéria de preservação de bens culturais, a garantia mais
segura é constituída pelo respeito e pela vinculação que a própria população experimenta em
relação a esses bens e que os Estados Membros poderiam contribuir para fortalecer tais
sentimentos através de medidas adequadas,
Sendo-lhe apresentadas propostas relativas à preservação dos bens culturais ameaçados por
obras públicas ou privadas, questão que constitui o item 16 da ordem do dia da sessão.
Após haver decidido, em sua décima terceira sessão, que as propostas sobre esse assunto
seriam objeto de uma regulamentação internacional através de uma recomendação aos
Estados Membros,
Adota, neste décimo nono dia de novembro de 1968, a presente recomendação:
I - Definição
II - Princípios gerais
Os Estados Membros deveriam dar a devida prioridade às medidas necessárias para garantir a
conservação in situ dos bens culturais ameaçados por obras públicas ou privadas e manter-
lhes, assim, a continuidade e significação histórica. Quando uma imperiosa necessidade
econômica ou social impuser o traslado, o abandono ou a destruição de bens culturais, os
trabalhos de salvamento deveriam sempre compreender um estudo minucioso desses bens e o
registro completo dos dados de interesse.
Deveriam ser publicados ou, de algum outro modo, postos à disposição dos futuros
pesquisadores os resultados dos estudos de interesse científico e histórico empreendidos em
relação aos trabalhos de salvamento de bens culturais, especialmente quando os bens culturais
imóveis, em grande parte ou na totalidade, tenham sido abandonados ou destruídos.
As edificações e outros monumentos culturais importantes que tenham sido trasladados para
evitar sua destruição por obras públicas ou privadas deveriam ser reinstalados em um sítio ou
ambiente semelhante ao de sua implantação primitiva e ao de suas vinculações naturais,
históricas ou artísticas.
Os bens culturais móveis de grande interesse, e especialmente os espécimes representativos de
objetos procedentes de escavações arqueológicas ou encontrados durante trabalhos de
salvamentos, deveriam ser preservados para estudos ou expostos em museus, inclusive os
museus dos sítios ou das universidades.
A preservação ou o salvamento dos bens culturais ameaçados por obras públicas ou privadas
deveria ser assegurada pelos meios abaixo relacionados, cabendo à legislação e à organização
de cada Estado precisar as medidas:
a) Legislação;
b) Financiamento;
c) Medidas administrativas;
d) Métodos de preservação e salvamento dos bens culturais;
e) Sanções;
f) Reparações;
g) Recompensas;
h) Assessoramento;
i) Programas educacionais;
Legislação
Financiamento
a) Diminuição de impostos; ou
b) Estabelecimento, através de uma legislação adequada, de um orçamento destinado a ajudar,
mediante subvenções, empréstimos ou outras medidas, as autoridades locais, as instituições e
os proprietários privados de edificações que tenham um interesse artístico, arquitetônico,
científico ou histórico, inclusive os conjuntos tradicionais, a garantirem a manutenção ou a
adequada adaptação dessas edificações ou conjuntos a funções que respondam às
necessidades da sociedade contemporânea; ou
c) Deveria ser possível combinar os dois métodos mencionados nas alíneas a e b acima.
Se os bens culturais não são protegidos por lei ou de outro modo, o proprietário deveria ter a
oportunidade de requisitar a ajuda necessária das autoridades competentes.
As autoridades nacionais ou locais, assim como os proprietários privados, deveriam levar em
conta, para fixar o montante dos fundos destinados à conservação dos bens culturais
ameaçados por obras públicas ou privadas, o valor intrínseco de tais bens e a contribuição que
podem proporcionar à economia como pólos de atração turística.
Medidas Administrativas
A responsabilidade pela preservação e pelo salvamento dos bens culturais ameaçados por
obras públicas ou privadas deveria competir a organismos oficiais apropriados. Onde já
funcionem órgãos ou serviços oficiais de proteção dos bens culturais deveria competir-lhes a
proteção dos bens culturais ameaçados por obras públicas ou privadas. Se não houver tais
serviços, órgãos ou serviços especiais deveriam ser encarregados da preservação dos bens
culturais ameaçados por obras públicas ou privadas; embora a diversidade dos dispositivos
constitucionais e da tradição dos Estados Membros impeça a adoção de um sistema uniforme,
alguns princípios comuns deveriam ser adotados:
Com a devida antecedência à realização de obras públicas ou privadas que ameacem os bens
culturais, deveriam ser realizados aprofundados estudos para determinar:
a) As medidas a serem tomadas para assegurar a proteção in situ dos bens culturais
importantes.
b) A extensão dos trabalhos de salvamento necessários, tais como a escolha dos sítios
arqueológicos a serem escavados, os edifícios a serem trasladados e os bens culturais móveis
cujo salvamento seja necessário garantir.
As medidas destinadas a preservar ou a salvar os bens culturais deveriam ser tomadas com
suficiente antecipação ao início de obras públicas ou privadas. Nas regiões importantes do
ponto de vista arqueológico ou cultural, tais como cidades, aldeias, sítios e bairros históricos,
que deveriam estar protegidos pela legislação de cada país, qualquer nova construção deveria
ser obrigatoriamente precedida de escavações arqueológicas de caráter preliminar. Se
necessário, os trabalhos de construção deveriam ser retardados para permitir a adoção de
medidas indispensáveis a assegurar a preservação ou o salvamento dos bens culturais.
Deveria ser assegurada a salvaguarda dos sítios arqueológicos importantes, sobretudo os sítios
pré-históricos que estão particularmente ameaçados por serem difíceis de reconhecer, dos
bairros históricos dos centros urbanos ou rurais, dos conjuntos tradicionais, dos vestígios
etnológicos de civilizações anteriores e de outros bens culturais imóveis que, sem isso, seriam
ameaçados por obras públicas ou privadas, através de medidas que estabeleçam a proteção
legal ou a criação de zonas protegidas:
Os Estados Membros deveriam impor a qualquer pessoa que encontre vestígios arqueológicos
durante a realização de obras públicas ou privadas a obrigação de comunicar seu achado o
mais rápido possível ao serviço competente. Esse serviço submeteria a descoberta a um detido
exame e, se o sítio se revelasse importante, deveriam ser suspensas as obras de construção
para permitir as escavações completas, previstas indenizações ou compensações adequadas
pelo atraso ocasionado.
Os Estados Membros deveriam adotar disposições que permitam às autoridades nacionais ou
locais ou aos órgãos competentes adquirir os bens culturais importantes que corram perigo em
conseqüência de obras públicas ou privadas. Caso necessário, essas aquisições poderiam ser
feitas através de expropriação.
Sanções
Os Estados Membros deveriam adotar as medidas necessárias para que as infrações cometidas
intencionalmente ou por negligência em relação à preservação ou ao salvamento de bens
culturais ameaçados por obras públicas ou privadas sejam severamente punidas por seus
códigos penais, que deveriam prever penas de multa ou de prisão, ou ambas.
Reparações
Os Estados membros deveriam adotar, quando a natureza do bem o permitir, as medidas
necessárias para assegurar a reparação, a restauração ou a reconstrução dos bens culturais
deteriorados por obras públicas ou privadas. Deveriam prever também a possibilidade de
obrigar as autoridades locais e os proprietários particulares de bem culturais importantes a
procederem às reparações ou às restaurações, sendo-lhes concedida assistência técnica ou
financeira, se necessário.
Recompensas
Assessoramento
Programas Educativos
Aos Estados e Municípios também compete, com a orientação técnica da DPHAN, a proteção
dos bens culturais de valor regional;
Para a obtenção dos resultados em vista, serão criados onde ainda não houver, órgãos
estaduais e municipais adequados, articulados devidamente com os Conselhos Estaduais de
Cultura e com a DPHAN, para fins de uniformidade da legislação em vista, atendido o que
dispõe o art. 23 do Decreto-Lei 25, de 1937;
De acordo com a disposição legal acima citada, colaborará a DPHAN com os Estados e
Municípios que ainda não tiverem legislação específica, fornecendo-lhes as diretrizes
tendentes à desejada uniformidade;
Sendo o culto ao passado elemento básico da formação da consciência nacional, deverão ser
incluídas nos currículos escolares, de nível primário, médio e superior, matérias que versem o
conhecimento e a preservação do acervo histórico e artístico, das jazidas arqueológicas e pré-
históricas, das riquezas naturais, e da cultura popular, adotado o seguinte critério: no nível
elementar, noções que estimulem a atenção para os monumentos representativos da tradição
nacional; no nível médio, através da disciplina de Educação Moral e Cívica; no nível superior
(a exemplo do que já existe no curos de Arquitetura com a disciplina de Arquitetura no Brasil,
a introdução, no currículo das escolas de Arte, de disciplina de História da Arte no Brasil; e
nos cursos não especializados, a de Estudos Brasileiros, parte destes consagrados aos bens
culturais ligados à tradição nacional;
Com o mesmo objetivo, é de desejar que nos Estados seja confiada a especialistas a
elaboração de monografias acerca dos aspectos sócio-econômicos regionais e valores
compreendidos no respectivo patrimônio histórico e artístico; e também que, em cursos
especiais para professores do ensino fundamental e médio, se lhes propicie a conveniente
informação sobre tais problemas, de maneira a habilitá-los a transmitir às novas gerações a
consciência e interesse do ambiente histórico-cultural;
Caberá às secretarias competentes dos Estados a promoção e divulgação do acervo dos bens
culturais da respectiva área, utilizando-se, para este fim, os vários meios de comunicação de
massas, tais como a imprensa escrita e falada, o cinema, a televisão;
Que a mesma cautela prevista no item anterior seja tomada junto às autoridades militares, em
relação aos antigos fortes, instalações e equipamentos castrenses, para a sua conveniente
preservação;
Urge legislação defensiva dos antigos cemitérios e especialmente dos túmulos históricos e
artísticos e monumentos funerários;
Pelo Estado de Santa Catarina assinaram o documento os professores Jaldir Bhering Faustino
da Silva, Secretário de Estado da Educação e Cultura, Carlos Humberto Pederneiras Corrªe,
Diretor do Departamento de Cultura, e Oswaldo Rodrigues Cabral, representante da
Universidade Federal de Santa Catarina e da comissão especial que estuda a organização do
Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico do Estado nomeada pelo Governador Ivo
Silveira.
Anexo:
Lucio Costa,1970
Compromisso de Salvador
de outubro de 1971
Em união de propósitos, solidários integralmente com a orientação que vem sendo traçada
pelo Ministro Jarbas Passarinho desde o I Encontro de Brasília, em abril de 1970, e
manifestando apoio à política de proteção aos bens naturais e de valor cultural, principalmente
paisagens, parques, naturais, praias, acervos arqueológicos, conjuntos urbanos, monumentos
arquitetônicos, bens móveis, documentos e livros, política definida no Relatório apresentado
pelo Diretor do IPHAN, reconhecendo o imenso proveito para a cultura brasileira alcançado
como conseqüência do referido Encontro de Brasília,
Sugerem, outrossim:
Aprovada pela Conferência Geral da UNESCO em sua décima sétima reunião Paris, 16 de
novembro de 1972;
Adota, neste dia dezesseis de novembro de mil novecentos e setenta e dois, a presente
Convenção.
Artigo 1o - Para os fins da presente convenção serão considerados como patrimônio cultural:
Artigo 2o - Para os fins da presente convenção serão considerados como patrimônio natural:
Artigo 4o - Cada um dos Estados partes na presente convenção reconhece que a obrigação de
identificar, proteger, conservar, valorizar e transmitir às futuras gerações o patrimônio cultural
e natural mencionado nos artigos 1 e 2, situado em seu território, lhe incumbe
primordialmente. Procurará tudo fazer para esse fim, utilizando ao máximo seus recursos
disponíveis, e, quando for o caso, mediante a assistência e cooperação internacional de que
possa beneficiar-se, notadamente nos planos financeiro, artístico, científico e técnico.
a) adotar uma política geral que vise a dar ao patrimônio cultural e natural uma função na vida
da coletividade e a integrar a proteção desse patrimônio nos programas de planejamento geral;
VI - Programas Educativos
Artigo 27o
Artigo 28o - Os Estados partes na presente convenção que receberem assistência internacional
em aplicação da convenção tomarão as medidas necessárias para tornar conhecidos a
importância dos bens que tenham sido objeto dessa assistência e o papel que ela houver
desempenhado.
Carta do Restauro
de 6 de abril de 1972
Artigo 1º - Todas as obras de arte de qualquer época, na acepção mais ampla, que compreende
desde os monumentos arquitetônicos até as de pintura e escultura, inclusive fragmentados, e
desde o período paleolítico até as expressões figurativas das culturas populares e da arte
contemporânea, pertencentes a qualquer pessoa ou instituição, para efeito de sua salvaguarda
e restauração, são objeto das presentes instruções, que adotam o nome de Carta do Restauro
1972.
Artigo 2º - Além das obras mencionadas no artigo precedente, ficam assimiladas a essas, para
assegurar sua salvaguarda e restauração, os conjuntos de edifícios de interesse monumental,
histórico ou ambiental, particularmente os centros históricos; as coleções artísticas e as
decorações conservadas em sua disposição tradicional; os jardins e parques considerados de
especial importância.
Artigo 3º - Ficam submetidas à disciplina das presentes instruções, além das obras incluídas
nos artigos 1 e 2, as operações destinadas a assegurar a salvaguarda e a restauração dos
vestígios antigos relacionados com as pesquisas subterrâneas e subaquáticas.
Artigo 4º - Entende-se por salvaguarda qualquer medida de conservação que não implique a
intervenção direta sobre a obra; entende-se por restauração qualquer intervenção destinada a
manter em funcionamento, a facilitar a leitura e a transmitir integralmente ao futuro as obras e
os objetos definidos nos artigos precedentes.
Esse informe será igualmente aprovado pelo Ministério de Instrução Pública com parecer
prévio do Conselho Superior de Antigüidades e Belas Artes, nos casos de emergência ou
dúvida previstos na lei.
Artigo 6º - De acordo com as finalidades a que, segundo o artigo 4º, devem corresponder as
operações de salvaguarda e restauração, proíbem-se indistintamente para todas as obras de
arte a que se referem os artigos 1º, 2º e 3º:
No caso das limpezas, se possível em lugar próximo à zona interventora, deverá ser deixado
um testemunho do estado anterior à operação, enquanto que no caso das adições, as partes
eliminadas deverão, sempre que possível, ser conservadas ou documentadas em um arquivo-
depósito especial das superintendências competentes.
Artigo 10º - As medidas destinadas a preservar dos agentes contaminadores ou das variações
atmosféricas, térmicas ou higrométricas as obras a que se referem os artigos 1º, 2º e 3º não
deverão alterar sensivelmente o aspecto da matéria e a cor das superfícies, nem exigir
modificações substanciais e permanentes do ambiente em que as obras tiverem sido
transmitidas historicamente. Se, contudo, forem indispensáveis modificações de tal gênero
com vistas ao fim superior de sua conservação, essas modificações deverão ser realizadas de
modo que evitem qualquer dúvida sobre a época em que foram empreendidas e da maneira
mais discreta possível.
Artigo 12º - Nos casos em que houver dúvida sobre a atribuição das competências técnicas,
ou em que surgirem conflitos a respeito do assunto, decidirá o ministro, a partir dos pareceres
dos superintendentes ou chefes de instituições interessados, ouvido o Conselho Superior de
Antigüidades e Belas Artes.
Anexo A
Além das regras gerais contidas nos artigos da Carta do Restauro, é necessário, no campo da
arqueologia, ter presentes exigências particulares relativas à salvaguarda do subsolo
arqueológico e à conservação e restauração dos achados durante as prospeções terrestres e
subaquáticas relacionadas no artigo 3º.
Para os efeitos da aplicação destas instruções é preciso que, durante o desenvolvimento das
escavações, seja garantida a presença de restauradores preparados para uma primeira
intervenção de recuperação e fixação, quando for necessário.
Deverá ser considerado com especial atenção o problema de restauração das obras destinadas
a permanecerem ou a serem reinstaladas em seu lugar original, particularmente as pinturas e
mosaicos. Têm sido experimentados com êxito vários tipos de suportes, de entelado e
encolados em função das condições climáticas, atmosféricas e higrométricas, que permitem a
recolocação das pinturas nos espaços convenientemente cobertos de um edifício antigo,
evitando o contato direto com a parede e proporcionando, em troca, uma montagem fácil e
uma conservação segura. Ainda assim, devem-se evitar as integrações, dando às lacunas uma
entonação similar à do reboco grosso, assim como há que evitar o uso de vernizes ou ceras
para reavivar as cores, pois sempre são susceptíveis de alteração, sendo suficiente uma
limpeza cuidadosa das superfícies originais.
Quanto aos mosaicos, é preferível, sempre que possível, sua reinstalação no edifício de que
provêm e de cuja decoração constituem parte integrante e, em tal caso, depois de sua retirada -
que, com os métodos modernos pode ser feita inclusive em grandes superfícies sem realizar
cortes - o sistema de cimentação com recheio metálico inoxidável resulta, até agora, no
sistema mais idôneo e resistente aos agentes atmosféricos. Para os mosaicos que, ao contrário,
destinam-se a serem expostos em museu, já é amplamente utilizado o suporte em sanduíche
de materiais ligeiros, resistente e manejável.
Para a restauração dos monumentos arqueológicos, além das normas gerais contidas na "Carta
do Restauro" e nas Instruções para os critérios das Restaurações Arquitetônicas, dever-se-iam
ter presentes algumas exigências em relação às peculiares técnicas antigas. Em primeiro lugar,
quando para a restauração completa de um monumento - que comporta necessariamente seu
estudo histórico - seja necessário efetuar prospeções de escavação para o descobrimento das
fundações, as operações terão que se realizar com o método estatigráfico que pode oferecer
dados preciosos sobre a vida e as fases do próprio edifício.
Finalmente, será adequado colocar em todas as zonas restauradas placas com as datas, ou
gravar siglas ou marcas especiais.
O uso do cimento com sua superfície revestida do pó do mesmo material do monumento a ser
restaurado pode se mostrar útil para a reintegração de tambores de colunas antigas de
mármore, de calcário, ou de caliça, visando à obtenção de um aspecto mais ou menos rústico
em relação ao tipo de monumento; na arte romana, o mármore branco pode ser reintegrado
com travertino ou calcário em combinações já experimentadas com êxito (restauração de
Valadier, no Arco de Tito). Nos monumentos antigos e particularmente nos da época arcaica
ou clássica, deve ser evitar a combinação de materiais diferentes e anacrônicos nas partes
restauradas, que resulta ostensiva e agressiva, inclusive do ponto de vista cromático, ao
mesmo tempo em que se podem utilizar diversos sistemas para diferenciar o uso do mesmo
material com que foi construído o monumento e que é preferível manter nas restaurações.
Anexo B
A realização do projeto para a restauração de uma obra arquitetônica deverá ser precedida de
um exaustivo estudo sobre o monumento, elaborado de diversos pontos de vista (que
estabeleçam a análise de sua posição no contexto territorial ou no tecido urbano, dos aspectos
tipológicos, das elevações e qualidades formais, dos sistemas e caracteres construtivos, etc),
relativos à obra original, assim como aos eventuais acréscimos ou modificações. Parte
integrante desse estudo serão pesquisas bibliográficas, iconográficas e arquivísticas, etc., para
obter todos os dados históricos possíveis. O projeto se baseará em uma completa observação
gráfica e fotográfica, interpretada também sob o aspecto metrológico, dos traçados
reguladores e dos sistemas proporcionais e compreenderá um cuidadoso estudo específico
para a verificação das condições de estabilidade.
A execução dos trabalhos pertinentes à restauração dos monumentos, que quase sempre
consiste em operações delicadíssimas e sempre de grande responsabilidade, deverá ser
confiada a empresas especializadas e, quando possível, executada sob orçamento e não sob
empreitada.
As esculturas em pedra colocadas no exterior dos edifícios, ou nas praças, devem ser vigiadas,
intervindo-se sempre que seja possível adotar, a partir da prática anteriormente descrita, um
método comprovado de consolidação ou de proteção, inclusive temporal. Quando isso for
impossível, convirá transferir a escultura para um local fechado.
Para a boa conservação das fontes de pedra ou de bronze, é necessário descalcificar a água,
eliminando as concreções calcárias e as inadequadas limpezas periódicas.
A pátina da pedra deve ser conservada por evidentes razões históricas, estéticas e também
técnicas, já que ela desempenha uma função protetora como ficou demonstrado pelas
corrosões que se iniciam a partir das lacunas da pátina. Podem-se eliminar as matérias
acumuladas sobre as pedras - detritos, pó, fuligem, fezes de pombo, etc., usando apenas
escovas vegetais ou jatos de ar com pressão moderada. Dever-se-ão evitar, portanto, as
escovas metálicas e raspadores, ao mesmo tempo em que se devem excluir, em geral, os jatos
de areia, de água e de vapor com forte pressão, sendo, ainda, desaconselháveis as lavações de
qualquer natureza.
Anexo C
Operações preliminares
Se, a partir dos documentos fotográficos - que serão detalhados no diário da restauração - se
observarem elementos problemáticos, ficará explicada sua problemática.
Depois de haver tirado as fotografias, dever-se-ão retirar amostras mínimas, que abarquem
todos os estratos até o suporte, em lugares não capitais da obra, para efetuar as seções
estratigráficas, sempre que existirem estratificações ou houver que constatar o estado da
preparação.
Deverá ser assinalado na fotografia de luz natural o ponto exato das provas e, além disso,
registrar-se no diário da restauração uma nota de referência à fotografia.
No que se refere às pinturas murais, ou sobre pedra, Terracota ou outro suporte (imóvel), será
preciso ter conhecimento preciso das condições do suporte em relação à umidade, definir se
trata de umidade de infiltração, condensação ou de capilaridade, efetuar provas da argamassa
e do conjunto dos materiais da parede e medir seu grau de umidade.
O problema mais peculiar das esculturas, quando não se trata de esculturas envernizadas ou
policromadas, será certificar-se do estado de conservação da matéria de que se realizaram e,
eventualmente, obter radiografias.
No que concerne à limpeza, poderá ser realizada, principalmente, de dois modos: por meios
mecânicos ou por meios químicos. Há de se excluir qualquer sistema que oculte a
visualização ou a possibilidade de intervenção ou controle direto sobre a pintura, como a
câmera Pethen Koppler e similares.
Os meios mecânicos (bisturi) deverão sempre ser utilizados com o controle do pinacoscópio,
mesmo que nem sempre se trabalhe sob sua lente.
Os meios químicos (dissolventes) deverão ser de tal natureza que possam ser imediatamente
neutralizados e também que não se fixem de forma duradoura sobre os estratos da pintura e
sejam voláteis. Antes de usá-los, deverão ser realizadas experimentações para assegurar que
não possam atacar o verniz original da pintura, nos casos em que das seções estratigráficas
haja resultado um estrato ao menos presumível como tal.
Antes de proceder à limpeza, qualquer que seja o meio empregado, é necessário, ainda,
controlar minuciosamente a estabilidade da capa pictórica sobre seu suporte e proceder ao
assentamento das partes desprendidas ou em perigo de desprendimento. Esse assentamento
poderá ser realizado, conforme o caso, de forma localizada ou com aplicação de um adesivo
estendido uniformemente, cuja penetração seja assegurada com uma fonte de calor constante e
que não apresente perigo para a conservação da pintura. Mas, sempre que se tenha realizado
um assentamento, é regra estrita a eliminação de qualquer resto do fixador da superfície
pictórica. Para isso, atrás do assentado, deverá ser feito um exame minucioso com a ajuda do
pinacoscópio.
Quando for necessário proceder à proteção geral do anverso da pintura por causa de
necessidade de realizar operações no suporte, é imprescindível que tal proteção se realize
depois da consolidação das partes levantadas ou desprendidas, e com uma cola de dissolução
muito fácil e diferente da empregada no assentamento da cor.
Se o suporte é de madeira e está infestado por carunchos, térmitas, etc., a pintura deverá ser
submetida à ação de gazes inseticidas adequados, que não possam danificar a pintura. Deve-se
evitar a impregnação com líquidos.
Na substituição do suporte lenhoso, quando for indispensável, deve se evitar substituí-lo por
um novo suporte composto de peças de madeira e só é aconselhável efetuar o traslado para
um suporte rígido quando se tiver absoluta certeza de que ele não terá um índice de dilatação
diferente do suporte eliminado. Ainda assim, o adesivo do suporte para a tela da pintura
trasladada deverá ser facilmente solúvel, sem danificar a capa pictórica nem o adesivo que
une os estratos superficiais à tela do traslado.
Quando o suporte lenhoso original estiver em bom estado, mas seja necessário retificá-lo ou
colocar reforços ou rebocos, deve-se ter presente que, como não é indispensável para a
própria fruição estética da pintura, é sempre melhor não intervir em uma madeira antiga e já
estabilizada. Se intervier, é preciso fazê-lo com regras tecnológicas muito precisas, que
respeitem o movimento das fibras da madeira. Dever-se-á retirar uma amostra, identificar a
espécie botânica e averiguar seu índice de dilatação. Qualquer adição deverá ser realizada
com madeira já estabilizada e em pequenos fragmentos, para que resulte o mais inerte
possível em relação ao suporte antigo em que se inserir.
O reboco, qualquer que seja o material de que for feito, deve assegurar principalmente os
movimentos naturais da madeira a que estiver fixado.
No caso de pinturas sobre tela, a eventualidade de um traslado deve ser efetuada com a
destruição gradual e controlada da tela deteriorada, enquanto que para a possível imprimação
(ou preparação) deverão ser seguidos os mesmos critérios utilizados para as pranchas. Quando
se tratar de pinturas sem preparação, nas quais se tenha aplicado uma cor muito diluída
diretamente sobre o suporte (como nos esboços de Rubens), não será possível o traslado.
A operação de reentelar, se for realizada, deve evitar compressões excessivas e temperaturas
altas demais para a película pictórica. Excluem-se sempre e taxativamente operações de
aplicação de uma pintura sobre tela em um suporte rígido(maruflagem).
Os teares deverão ser concebidos de modo a assegurar não apenas a justa tensão, mas,
também, a possibilidade de restabelecê-la automaticamente quando a tensão vier a ceder por
causa das variações termo-higrométricas.
Nas pinturas móveis a determinação da técnica pode, às vezes, gerar uma investigação sem
conclusão definitiva e, atualmente, irresolúvel, inclusive em relação às categorias genéricas de
pintura a têmpera, a óleo, a encáustica, a aquarela ou a pastel; nas pinturas murais, realizadas
sobre preparação, ou mesmo diretamente sobre mármore, pedra, etc, a definição do
aglutinante utilizado não será às vezes menos problemática (como no que se refere às pinturas
murais da época clássica), mas, ao mesmo tempo, ainda mais indispensável para proceder a
qualquer operação de limpeza, de assentamento, de arranque do estrato de cor (strappo), ou de
arranque em que também se desprendam os rebocos de preparação (distacco). No que diz
respeito especialmente ao arranque, antes da aplicação das telas protetoras por meio de um
adesivo solúvel, é necessário assegurar-se de que o diluente não dissolverá ou atacará o
aglutinante da pintura a ser restaurada.
Além disso, se tratar de uma têmpera e, de um modo geral, das partes em têmpera de um
afresco, em que certas cores não podiam ser aplicadas a fresco, será imprescindível um
assentamento preventivo.
Quanto ao assentamento da cor, deve-se procurar um fixador que não seja de natureza
orgânica, que altere o mínimo possível as cores originais e que não se torne irreversível com o
tempo.
A cor pulverulenta será analisada para ver se contém formações de fungos e a que causas se
pode atribuir o seu desenvolvimento. Quando se puderem conhecer essas causas e se
encontrar um fungicida adequado, será preciso certificar-se de que não danificará a pintura e
de que possa vir, facilmente, a ser eliminado.
O suporte em que se instalará a película pictórica tem que oferecer garantias máximas de
estabilidade, inércia e neutralidade (ausência de ph); além disso, será necessário que ele possa
ser construído nas mesmas dimensões da pintura, sem junções intermediárias, que,
inevitavelmente, viriam à superfície da película pictórica com o passar do tempo. O adesivo
com que se irá fixar a tela grudada à película pictórica sobre o novo suporte terá que poder
dissolver-se com a maior facilidade com um dissolvente que não traga danos à pintura.
Quando se preferir manter a pintura trasladada sobre tela, naturalmente reforçada, o bastidor
deverá ser construído de tal modo - e com materiais tais - que tenha a máxima estabilidade,
elasticidade e automatismo para restabelecer a tensão que, por qualquer razão, climática ou
não, possa mudar.
Quando, em vez de pinturas, trate-se de arrancar mosaicos, deverá ficar assegurado que onde
as tesselas não constituem uma superfície completamente plana, sejam fixadas e possam ser
dispostas em sua colocação original. Antes da aplicação do engaste e da armadura de
sustentação é preciso certificar-se do estado de conservação das tesselas e, eventualmente,
consolidá-las. Deverá ser dedicado cuidado especial à conservação das características
tectônicas da superfície.
Por isso, no caso de esculturas encontradas em escavações ou na água (mar, rios, etc.), se
houver incrustações, deverão ser separadas preferivelmente através de meios mecânicos, ou,
se com dissolventes, de natureza tal que não ataquem o material da escultura e tampouco se
fixem sobre ele.
Se a madeira estiver infectada por caruncho, cupins, etc. será preciso submetê-la à ação de
gases adequados, mas sempre que possível, há de se evitar a impregnação com líquidos que,
mesmo na ausência de policromia, poderiam alterar o aspecto da madeira.
No caso de esculturas fragmentadas, para uso de eventuais dobradiças, ligaduras, etc. deverá
ser escolhido metal inoxidável. Para os objetos de bronze, recomenda-se um cuidado
particular quanto à conservação da pátina dupla (atacamitas, malaquitas, etc.) sempre que por
debaixo dela não existirem sinais de corrosão ativa.
Como linha de conduta geral, uma obra de arte restaurada não deve ser posta novamente em
seu lugar original, se a restauração tiver sido ocasionada pela situação térmica e higrométrica
do lugar como um todo ou da parede em particular, ou se o lugar ou a parede não vierem a ser
tratados imediatamente (saneados, climatizados, etc.) de forma a garantirem a conservação e a
salvaguarda da obra de arte.
Anexo D
Instruções para a tutela dos centros históricos
Sua natureza histórica se refere ao interesse que tais assentamentos apresentarem como
testemunhos de civilizações do passado e como documentos de cultura urbana, inclusive
independentemente de seu intrínseco valor artístico ou formal, ou de seu aspecto peculiar
enquanto ambiente, que podem enriquecer e ressaltar posteriormente seu valor, já que não só
a arquitetura, mas também a estrutura urbanística, têm por si mesmas um significado e um
valor.
Para que o conjunto urbanístico em questão possa ser adequadamente salvaguardado, tanto em
relação a sua continuidade no tempo como ao desenvolvimento de uma vida de cidadania e
modernidade em seu interior, é necessário principalmente que os centros históricos sejam
reorganizados em seu mais amplo contexto urbano e territorial e em sua relações e conexões
com futuros desenvolvimentos; tudo isso, além do mais, com o fim de coordenar as ações
urbanísticas de maneira a obter a salvaguarda e a recuperação do centro histórico a partir do
exterior da cidade, através de um planejamento físico territorial adequado. Por meio de tais
intervenções (a serem efetuadas com os instrumentos urbanísticos), poder-se-á configurar um
novo organismo urbano, em que se subtraiam do centro histórico as funções que não serão
compatíveis com sua recuperação em termos de saneamento e de conservação.
No que respeita aos elementos individuais através dos quais se efetua a salvaguarda do
conjunto, há que serem considerados tanto os elementos edílicos como os demais elementos
que constituem os espaços exteriores (ruas, praças, etc.) e interiores (pátios, jardins, espaços
livres, etc.) e outras estruturas significativas (muralhas, portas, fortalezas, etc.) assim como
eventuais elementos naturais que acompanharem o conjunto, caracterizando-o de forma mais
ou menos acentuada (entornos naturais, cursos fluviais, singularidade geomórficas, etc.).
Os elementos edílicos que formam parte do conjunto devem ser conservados não apenas
quanto aos aspectos formais, que determinam sua a expressão arquitetônica ou ambiental,
como ainda quanto a seus caracteres tipológicos enquanto expressão de funções que também
têm caracterizado, ao longo do tempo, a utilização dos elementos favoráveis.
A esse propósito, é necessário precisar que por saneamento de conservação deve-se entender,
sobretudo, a manutenção das estruturas viárias e edílicas em geral (manutenção do traçado,
conservação da rede viária, de perímetro das edificações, etc.); e, por outro lado, a
manutenção dos caracteres gerais do ambiente, que comportam a conservação integral dos
perfis monumentais e ambientais mais significativos e a adaptação dos demais elementos ou
complexos edílicos individuais às exigências da vida moderna, consideradas apenas
excepcionalmente as substituições, ainda que parciais, dos elementos, e apenas na medida em
que sejam compatíveis com a conservação do caráter geral das estruturas do centro histórico.
1) Saneamento estático e higiênico dos edifícios, que tende à manutenção de suas estruturas e
a uma utilização equilibrada; essa intervenção se realizará em função das técnicas, das
modalidades e das advertências a que se referem as instruções procedentes para a realização
de restaurações arquitetônicas. Nesse tipo de intervenção é de particular importância o
respeito às peculiaridades tipológicas, construtivas e funcionais do edifício, evitando-se
qualquer transformação que altere suas características.
2) Renovação funcional dos elementos internos, que se há de permitir somente nos casos em
que resultar indispensável para efeitos de manutenção em uso do edifício. Nesse tipo de
intervenção é de fundamental importância o respeito às peculiaridade tipológicas e
construtivas dos edifícios, proibidas quaisquer intervenções que alterem suas características,
como o vazado da estrutura ou a introdução de funções que deformarem excessivamente o
equilíbrio tipológico-estrutural do edifício.
Declaração de Estocolmo
de junho de 1972
Os recursos naturais da Terra, incluídos o ar, a água, o solo, a flora e a fauna e, especialmente,
parcelas representativas dos ecossistemas naturais, devem ser preservados em benefício das
gerações atuais e futuras, mediante um cuidadoso planejamento ou administração adequados.
A capacidade da Terra de produzir recursos renováveis vitais, deve ser mantida e, sempre que
possível, restaurada ou melhorada.
Os recursos não renováveis da Terra devem ser utilizados de forma a evitar o perigo do seu
esgotamento futuro e a assegurar que toda a humanidade participe dos benefícios de tal uso.
Deve-se pôr fim à descarga de substâncias tóxicas e de outras matérias e à liberação de calor,
em quantidades ou concentrações tais que não possam ser neutralizadas pelo meio ambiente, a
fim de se evitar danos graves e irreparáveis aos ecossistemas. Assim deverá ser apoiada a
justa luta de todos os povos contra a poluição.
Os países deverão tomar todas as medidas possíveis para impedir a poluição dos mares por
substâncias que possam pôr em perigo a saúde do homem, prejudicar os recursos vivos e da
marinha, causar danos às possibilidades recreativas ou interferir em outros usos legítimos do
mar;
A fim de se obter um ordenamento mais racional dos recursos e, assim, melhorar as condições
ambientais, os Estados deveriam adotar um enfoque integrado e coordenado de planejamento
de seu desenvolvimento, de modo que fique assegurada a compatibilidade desse crescimento
com a necessidade de proteger e melhorar o meio ambiente humano em benefício de sua
população.
O planejamento racional constitui um instrumento indispensável para conciliar as diferenças
que possam surgir entre as exigências do desenvolvimento e a necessidade de proteger e
melhorar o meio ambiente.
Como parte de sua contribuição ao desenvolvimento econômico e social, devem ser utilizadas
a ciência e a tecnologia para descobrir, evitar e combater os riscos que ameaçam o meio
ambiente, visando às soluções dos problemas ambientais e ao bem comum do homem.
Tendo em vista a Carta das Nações Unidas e os princípios do Direito Internacional, as nações
têm o direito soberano de explorar seus próprios recursos, de acordo com a sua política
ambiental, desde que as atividades levadas a efeito dentro de sua jurisdição ou sob seu
controle, não prejudiquem o meio ambiente de outros países ou de zonas situadas fora da
jurisdição nacional.
a - No plano social:
A salvação dos centros históricos é um compromisso social além de cultural e deve fazer parte
da política de habitação, para que nela se levem em conta os recursos potenciais que tais
centros possam oferecer. Todos os programas de intervenção e resgate dos centros históricos
devem, portanto, trazer consigo soluções de saneamento integral que permitam a permanência
e melhoramento da estrutura social existente.
b - No plano econômico:
A iniciativa privada e o seu apoio financeiro constituem uma contribuição fundamental para a
conservação e valorização dos centros históricos. Recomenda-se a todos os governos
estimular essa contribuição mediante disposições legais, incentivos e facilidades de caráter
econômico.
e - Reconhecimento:
Declaração de Amsterdã
de outubro de 1975
a) Além de seu inestimável valor cultural, o patrimônio arquitetônico da Europa leva todos os
europeus a tomarem consciência de uma história e destino comuns. Sua conservação é,
portanto, revestida de uma importância vital.
b) Esse patrimônio compreende não somente as construções isoladas de um valor excepcional
e seu entorno, mas também os conjuntos, bairros de cidades e aldeias, que apresentam um
interesse histórico ou cultural.
c) Essas riquezas são um bem comum a todos os povos da Europa, que têm o dever comum de
protegê-las dos perigos crescentes que as ameaçam: negligência e deterioração, demolição
deliberada, novas construções em desarmonia e circulação excessiva.
d) A conservação do patrimônio arquitetônico deve ser considerada não apenas como um
problema marginal, mas como objetivo maior do planejamento das áreas urbanas e do
planejamento físico territorial.
e) Os poderes locais, aos quais compete a maioria das decisões importantes em matéria de
planejamento, são todos particularmente responsáveis pela proteção do patrimônio
arquitetônico e devem ajudar-se mutuamente através da troca de idéias e de informações.
f) A reabilitação dos bairros antigos deve ser concebida e realizada, tanto quanto possível,
sem modificações importantes da composição social dos habitantes e de uma maneira tal que
todas as camadas da sociedade se beneficiem de uma operação financiada por fundos
públicos.
g) As medidas legislativas e administrativas necessárias devem ser reforçadas e tornadas mais
eficazes em todos os países.
h) Para fazer face aos custos de restauração, planejamento e conservação das construções e
sítios de interesse arquitetônico ou histórico, uma ajuda financeira adequada deve ser
colocada à disposição dos poderes locais e de proprietários particulares; além disso, para estes
últimos, incentivos fiscais deverão ser previstos.
i) O patrimônio arquitetônico não sobreviverá a não ser que seja apreciado pelo público e
especialmente pelas novas gerações. Os programas de educação em todos os níveis devem,
portanto, se preocupar mais intensamente com essa matéria.
j) Devem ser encorajadas as organizações privadas - internacionais, nacionais e locais - que
contribuam para despertar o interesse do público.
k) Uma vez que a arquitetura de hoje é o patrimônio de amanhã, tudo deve ser feito para
assegurar uma arquitetura contemporânea de alta qualidade.
- Nossa sociedade poderá, brevemente, ser privada do patrimônio arquitetônico e dos sítios
que formam seu quadro tradicional de vida, caso uma nova política de proteção e conservação
integradas desse patrimônio não seja posta em ação imediatamente. O que hoje necessita de
proteção são as cidades históricas, os bairros urbanos antigos e aldeias tradicionais, aí
incluídos os parques e jardins históricos. A proteção desses conjuntos arquitetônicos só pode
ser concebida dentro de uma perspectiva global, tendo em conta todos os edifícios com valor
cultural, dos mais importantes aos mais modestos, sem esquecer os da época moderna, assim
como o ambiente em que se integram. Essa proteção global completará a proteção pontual dos
monumentos e sítios isolados.
Ainda que, por todas essas razões, a legitimidade da conservação do patrimônio arquitetônico
apareça hoje com uma força nova, é necessário fundamentá-la sólida e definitivamente; ela
deve, portanto, abrir espaço às pesquisas de caráter fundamental e ser incluída em todos os
programas de educação e desenvolvimento cultural.
Os urbanistas devem reconhecer que os espaços não são equivalentes e que convém tratá-los
conforme as especificidades que lhes são próprias. O reconhecimento dos valores estéticos e
culturais do patrimônio arquitetônico deve conduzir à fixação dos objetivos e das regras
particulares de organização dos conjuntos antigos. Não basta sobrepor as regras básicas de
planejamento às regras especiais de proteção aos edifícios históricos, sem uma coordenação.
Enfim, a conservação do patrimônio se insere numa nova perspectiva geral, atenta aos novos
critérios de qualidade e de medida, e que deve permitir inverter, de hoje em diante, a ordem
das escolhas e dos objetivos, frequentemente determinada pelo curto prazo, por uma visão
estreita da técnica e, finalmente, por uma concepção superada.
Para pôr em ação tal política, respeitando com inteligência, sensibilidade e organização o
ambiente construído pelo homem, os poderes locais devem:
- basear-se numa análise da textura das construções urbanas e rurais, notadamente no que diz
respeito às suas estruturas, suas complexas funções, assim como às características
arquitetônicas e volumétricas de seus espaços construídos e abertos;
- atribuir às construções funções que, respeitando seu caráter, respondam às condições atuais
de vida e garantam, assim, a sua sobrevivência;
- estar atentos ao fato de que os estudos prospectivos sobre a evolução dos serviços públicos
(educativos, administrativos, médicos) demonstram que o gigantismo é desfavorável a sua
qualidade e a sua eficácia;
- dedicar uma parte apropriada de seu orçamento a essa política. Nesse contexto, eles
deveriam solicitar dos governos a criação de fundos específicos. As subvenções e
empréstimos concedidos a particulares e grupos diversos pelos poderes locais deveriam
estimular o compromisso moral e financeiro dos favorecidos.
- designar delegados responsáveis por todas as transações referentes ao patrimônio
arquitetônico;
- instaurar órgãos de atividade pública, criando um elo de ligação direta entre os utilizadores
potenciais das edificações antigas e seus proprietários;
- facilitar a formação e o funcionamento eficaz de associações mantenedoras de restauração e
de reabilitação.
Os poderes locais devem aperfeiçoar suas técnicas de pesquisa para conhecer a opinião dos
grupos envolvidos nos planos de conservação e levá-la em conta desde \a elaboração dos seus
projetos. Em relação à política de informação ao público, eles devem tomar suas decisões à
vista de todos, utilizando uma linguagem clara e acessível, a fim de que a população possa
conhecer, discutir e apreciar os motivos das decisões. Locais de encontro para reunião pública
deveriam ser previstos.
A educação dos jovens em relação ao domínio do meio ambiente e sua associação a todas as
tarefas da salvaguarda é um dos imperativos maiores da ação comunitária.
O esforço de conservação deve ser calculado não somente sobre o valor cultural das
construções, mas também pelo seu valor de utilização. Os problemas sociais da conservação
integrada só podem - ser resolvidos através de uma referência combinada a essas duas escalas
de valores.
A reabilitação de um conjunto que faça parte do patrimônio arquitetônico não é uma operação
necessariamente mais onerosa que a de uma construção nova, realizada sobre uma infra-
estrutura existente, ou a construção de um conjunto sobre um sítio não urbanizado. É
conveniente, portanto, quando se comparam os custos equivalentes desses três procedimentos,
cujas conseqüências sociais são diferentes, não omitir o custo social. Isto interessa não
somente aos proprietários e aos locatários, mas também aos artesãos, aos comerciantes e aos
empresários estabelecidos no local, que asseguram a vida e a conservação do bairro em bom
estado.
Para evitar que as leis do mercado sejam aplicadas com todo o rigor nos bairros restaurados o
que teria por conseqüência a evasão dos habitantes, incapazes de pagar aluguéis majorados, é
necessária uma intervenção dos poderes públicos no sentido de moderar os mecanismos
econômicos, como sempre é feito quando se trata de estabelecimentos sociais. As
intervenções financeiras podem se equilibrar entre os incentivos à restauração concedidos aos
proprietários através da fixação de tetos para os aluguéis e da alocação de indenizações de
moradia aos locatários, para diminuir ou mesmo completar a diferença existente entre os
antigos e os novos aluguéis.
Para permitir à população participar da elaboração dos programas, convém fornecer-lhe os
elementos para apreciação da situação; de uma parte, explicando-lhe o valor histórico e
arquitetônico das edificações a serem conservadas e; de outra parte, fornecendo-lhe todas as
indicações sobre os regulamentos definitivos e temporários.
Essa participação toma-se ainda mais importante na medida em que não se trate apenas da
restauração de algumas construções privilegiadas, mas da reabilitação de bairros inteiros.
Essa reforma deve ser dirigida pela necessidade de coordenar, por uma parte, a legislação
relativa ao planejamento fisico-territorial, e por outra, a legislação relativa à proteção do
patrimônio arquitetônico.
Essa última deve fornecer uma nova definição do patrimônio arquitetônico e dos objetivos da
conservação integrada.
Por outro lado, o legislador deveria tomar as medidas necessárias a fim de:
Com o objetivo de aumentar a capacidade operacional dos poderes públicos, faz-se necessário
rever a estrutura administrativa de maneira tal que os setores responsáveis pelo patrimônio
arquitetônico sejam organizados em níveis apropriados e dotados suficientemente de pessoal
qualificado, assim como de meios científicos, técnicos e financeiros indispensáveis.
Esses serviços deveriam ajudar as autoridades locais, cooperar no planejamento fisico-
territorial e manter relações estreitas com os órgãos públicos e organizações privadas.
É difícil definir uma política financeira aplicável a todos os países e avaliar as conseqüências
das diferentes medidas que intervêm nos processos de planejamento, em razão de suas
repercussões recíprocas.
Esse processo está, por outro lado, submetido a fatores externos resultantes da estrutura atual
da sociedade.
Compete, pois, a cada estado pôr em prática seus próprios métodos e instrumentos de
financiamento.
Todavia, pode-se estabelecer com certeza que não existe país na Europa cujos recursos
financeiros utilizados para a conservação sejam suficientes.
Além do mais, parece que nenhum país europeu jamais elaborou um mecanismo
administrativo perfeitamente adequado a corresponder às exigências econômicas de uma
política de conservação integrada.
É necessário criar métodos que permitam avaliar os custos adicionais impostos pelas
dificuldades apresentadas nos programas de conservação. Na medida do possível seria
necessário dispor de meios financeiros suficientes para ajudar os proprietários, que efetuam
trabalhos de restauração, a suportar estritamente as taxas adicionais que lhes serão impostas.
Se tal ajuda para fazer face aos custos adicionais for aceita, será necessário naturalmente
cuidar para que essa vantagem não seja amenizada pelo imposto.
Também é preciso aplicar este mesmo principio em proveito da reabilitação dos conjuntos
degradados de interesse histórico ou arquitetônico, o que permitiria restabelecer o equilíbrio
social.
Por ora, as vantagens financeiras e fiscais oferecidas pelas novas construções de veriam ser
concedidas nas mesmas proporções para a manutenção e conservação das construções antigas,
deduzidos os eventuais custos adicionais.
É importante atentar para que os materiais de construção tradicional continuem a ser aplicados
Todo programa de reabilitação deveria ser estudado meticulosamente antes de sua execução, e
convém, ao mesmo tempo, reunir uma documentação completa sobre os materiais e as
técnicas e proceder a uma análise dos custos. Essa documentação deveria ser reunida em
centros apropriados.
Os materiais e técnicas novas não devem ser aplicados sem antes se obter a concordância de
instituições científicas neutras. Seria necessário arrecadar dados para confecção de um
catálogo de métodos e de técnicas utilizados e, para isso, criar instituições científicas que
deveriam cooperar estreitamente entre si. Esse catálogo deveria ser posto à disposição de
todos os interessados, o que favoreceria a reforma das práticas de restauração e de
reabilitação.
Manifesto de Amsterdã
de outubro de 1975
O Comitê de Ministros,
Considerando que o objetivo do Conselho da Europa é efetivar uma união mais estreita entre
seus membros, principalmente para salvaguardar e promover os ideais e os princípios que lhes
são patrimônio comum;
Considerando que os Estados Membros do Conselho da Europa, participantes da Convenção
Cultural Européia de 19 de dezembro de 1954, acham-se empenhados, em virtude do artigo
primeiro dessa convenção, a adotar as medidas necessárias a salvaguardar sua contribuição ao
patrimônio cultural comum da Europa e a encorajar-lhe o desenvolvimento;
Reconhecendo que o patrimônio arquitetônico, expressão insubstituível da riqueza e da
diversidade da cultura européia, é herança comum de todos os povos e que sua conservação
compromete, por consequência, a solidariedade efetiva dos Estados europeus;
Considerando que a conservação do patrimônio arquitetônico depende, em grande parte, de
sua integração no quadro da vida dos cidadãos e de sua valorização nos planejamentos físico-
territorial e nos planos urbanos;
Tendo em vista a recomendação da Conferência de Ministros Europeus Responsáveis pelo
Patrimônio Arquitetônico, realizada em Bruxelas, em 1969, e a recomendação número 589
(de 1970) da Assembléia Consultiva do Conselho da Europa, relativa a uma carta do
patrimônio arquitetônico;
Reafirma sua disposição de promover uma política européia comum e uma ação adequada de
proteção do patrimônio arquitetônico apoiadas nos princípios de sua conservação integrada;
Recomenda que os governos dos Estados Membros adotem as medidas de ordem legislativa,
administrativa, financeira e educativa necessárias à implementação de uma política de
conservação integrada do patrimônio arquitetônico e a desenvolver o interesse do público por
essa política, levando em conta os resultados da campanha do Ano Europeu do Patrimônio
Arquitetônico, organizado em 1975, sob os auspícios do Conselho da Europa;
Adota e promulga os princípios da presente carta, preparada pelo Comitê dos Monumentos e
Sítios do Conselho da Europa, abaixo redigidos:
O patrimônio arquitetônico europeu é constituído não somente por nossos monumentos mais
importantes, mais também pelos conjuntos que constituem nossas antigas cidades e povoações
tradicionais em seu ambiente natural ou construído.
Os homens do nosso tempo, em presença de uma civilização que muda de feição e cujos
perigos são tão manifestos quanto os bons resultados, se apercebem instintivamente do valor
desse patrimônio.
É uma parte essencial da memória dos homens de hoje em dia e se não for possível transmiti-
la às gerações futuras na sua riqueza autêntica e em sua diversidade, a humanidade seria
amputada de uma parte da consciência de sua própria continuidade.
Cada geração dá uma interpretação diferente ao passado e dele extrai novas idéias. Qualquer
diminuição desse capital é, portanto, mais um empobrecimento cuja perda em valores
acumulados não pode ser compensada, mesmo por criações de alta qualidade.
Por outro lado, a necessidade de poupar recursos impõe-se a nossa sociedade. Longe de ser
um luxo para a coletividade, a utilização desse patrimônio é uma fonte de economias.
Ele está ameaçado pela ignorância, pela antiguidade, pela degradação sob todas as formas,
pelo abandono. Determinado tipo de urbanismo é destruidor quando as autoridades são
exageradamente sensíveis às pressões econômicas e as exigências da circulação. A tecnologia
contemporânea, mal aplicada, destrói as antigas estruturas. As restaurações abusivas são
nefastas. Afinal e principalmente, a especulação financeira e imobiliária tiram partido de tudo
e aniquilam os melhores projetos.
Convém notar que essa conservação integrada não exclui completamente a arquitetura
contemporânea nos conjuntos antigos, e que ela deverá ter na maior conta o entorno existente,
respeitar as proporções, a forma e a disposição dos volumes, assim como os materiais
tradicionais.
Recursos Jurídicos
A conservação integrada deve utilizar todas as leis e regulamentos existentes que possam
concorrer para a salvaguarda e para a proteção do patrimônio, qualquer que seja a sua origem.
Quando essas disposições não permitirem a obtenção do objetivo buscado, é preciso
complementá-las e criar os instrumentos jurídicos indispensáveis a níveis apropriados:
nacional, regional e local.
Recursos Administrativos
Recursos Financeiros
A manutenção e restauração dos elementos do patrimônio arquitetônico devem poder se
beneficiar, em se apresentando ocasião, de todas as ajudas e incentivos financeiros
necessários, aí compreendidos os recursos fiscais.
Recursos Técnicos
Ainda que o patrimônio arquitetônico seja propriedade de todos, cada uma das suas partes está
à mercê de cada um.
A informação do público deve ser mais desenvolvida na medida em que os cidadãos têm o
direito de participar das decisões que dizem respeito a suas condições de vida.
Todos os problemas de conservação são comuns a toda a Europa e devem ser tratados de
maneira coordenada. Cabe ao Conselho da Europa assegurar a coerência da política de seus
Estados Membros e promover sua solidariedade.
I - Definições
II - Princípios Gerais:
Cada conjunto histórico ou tradicional e sua ambiência deveria ser considerado em sua
globalidade, como um todo coerente cujo equilíbrio e caráter específico dependem da síntese
dos elementos que o compõem e que compreendem tanto as atividades humanas como as
construções, a estrutura espacial e as zonas circundantes. Dessa maneira, todos os elementos
válidos, incluídas as atividades humanas, desde as mais modestas, têm, em relação ao
conjunto, uma significação que é preciso respeitar.
Numa época em que a crescente universalidade das técnicas construtivas e das formas
arquitetônicas apresentam o risco de provocar uma uniformização dos assentamentos
humanos no mundo inteiro, a salvaguarda dos conjuntos históricos ou tradicionais pode
contribuir extraordinariamente para a manutenção e o desenvolvimento dos valores culturais e
sociais peculiares de cada nação e para o enriquecimento arquitetônico do patrimônio cultural
mundial.
Em cada Estado Membro deveria se formular, nas condições peculiares a cada um em matéria
de distribuição de poderes, uma política nacional, regional e local a fim de que sejam adotadas
medidas jurídicas, técnicas, econômicas e sociais pelas autoridades nacionais, regionais e
locais para salvaguardar os conjuntos históricos ou tradicionais e sua ambiência e adaptá-los
às exigências da vida contemporânea. Essa política deveria influenciar o planejamento
nacional, regional e local e orientar a ordenação urbana urbano e rural e o planejamento
físico-territorial em todos os níveis. As ações resultantes desse planejamento deveriam se
integrar à formulação dos objetivos e programas, à distribuição das funções e à execução das
operações. Dever-se-ia buscar a colaboração dos indivíduos e das associações privadas para a
aplicação da política de salvaguarda.
IV - Medidas de Salvaguarda
Os efeitos legais das medidas de proteção a edificações e terrenos deveriam ser levadas ao
conhecimento público e registradas em um órgão oficial competente.
Respeitadas as condições próprias a cada país e a distribuição de poderes das diversas
administrações nacionais, regionais e locais, a execução de obras de salvaguarda deveria se
inspirar nos seguintes princípios:
Dever-ser-ia estabelecer, nos níveis nacional, regional ou local, uma relação dos conjuntos
históricos ou tradicionais e sua ambiência a serem salvaguardados. Essa relação deveria
indicar prioridades para facilitar uma alocação racional dos limitados recursos disponíveis
para fins de salvaguarda. As medidas de proteção, de qualquer tipo, que tiverem caráter
urgente, deveriam ser tomadas sem esperar que se estabeleçam planos e documentos de
salvaguarda.
Deveria ser feita uma análise de todo o conjunto, inclusive de sua evolução espacial, que
contivesse os dados arqueológicos, históricos, arquitetônicos, técnicos e econômicos. Deveria
ser produzido um documento analítico destinado a determinar os imóveis ou os grupos de
imóveis a serem rigorosamente protegidos, conservados sob certas condições, ou, em
circunstâncias absolutamente excepcionais e escrupulosamente documentadas, destruídos, o
que permitiria às autoridades suspender qualquer obra incompatível com esta recomendação.
Além disso, deveria ser realizado, com a mesma finalidade, um inventário dos espaços
abertos, públicos e privados, assim como de sua vegetação.
Além dessa investigação arquitetônica, são necessários estudos pormenorizados dos dados e
das estruturas sociais, econômicas, culturais e técnicas, assim como do contexto urbano ou
regional mais amplo. Esses estudos deveriam abranger, se possível, dados demográficos e
uma análise das atividades econômicas, sociais e culturais, os modos de vida e as relações
sociais, os problemas fundiários, infraestrutura urbana, o estado do sistema viário, as redes de
comunicação e as inter-relações recíprocas da zona protegida com as zonas circundadas. As
autoridades competentes deveriam atribuir suma importância a esses estudos e compreender
que, sem eles, não seria possível estabelecer planos eficazes de salvaguarda.
É necessária uma vigilância permanente para evitar que essas operações beneficiem apenas a
especulação ou sejam utilizadas com finalidades contrárias aos objetivos do plano.
Dado o conflito existente na maior parte dos conjuntos históricos ou tradicionais entre o
trânsito automobilístico, por um lado e a densidade do tecido urbano e as características
arquitetônicas por outro, os Estados Membros deveriam estimular e ajudar as autoridades
locais a encontrar soluções para esse problema. Para consegui-lo e para favorecer o trânsito de
pedestres, conviria estudar com extremo cuidado a localização e o acesso dos parques de
estacionamento não só dos periféricos como dos centrais, e estabelecer redes de transporte
que facilitem ao mesmo tempo a circulação dos pedestres, o acesso aos serviços e o transporte
público. Numerosas operações de reabilitação, tais como, entre outras, a instalação
subterrânea de redes elétricas e de outros cabos, que seriam demasiadamente onerosas se
fossem feitas separadamente, poderiam ser, então, coordenadas fácil e economicamente com o
desenvolvimento da rede viária.
Nas zonas rurais todos os trabalhos que implicarem uma degradação da paisagem, assim
como quaisquer mudanças nas estruturas econômicas e sociais deveriam ser cuidadosamente
controlados para preservar a integridade das comunidades rurais históricas em seu ambiente
natural.
A ajuda pública, em qualquer das formas descritas nos parágrafos seguintes, deveria
pressupor as intervenções da coletividade, onde for necessário e conveniente, e levar em
consideração o custo adicional da restauração, ou seja, o custo suplementar imposto ao
proprietário em relação ao novo valor venal ou locativo do edifício.
Em geral, esses investimentos públicos deveriam servir, antes de mais nada, para conservar os
edifícios existentes, particularmente as habitações de baixa renda e somente aplicar-se a novas
construções na medida em que elas não constituírem uma ameaça à utilização e às funções
dos edifícios existentes.
Dotações especiais deveriam ser previstas nos orçamentos dos órgãos públicos ou privados
para a proteção dos conjuntos históricos ou tradicionais ameaçados por grandes obras públicas
ou privadas e pela poluição. As autoridades públicas deveriam prever igualmente dotações
especiais para a reparação dos danos causados pelos desastres naturais.
É essencial evitar que as medidas de salvaguarda acarretem uma ruptura da trama social. Para
evitar, nos imóveis ou nos conjuntos a serem restaurados , o traslado dos habitantes, com
prejuízo dos menos favorecidos, poderiam ser concedidas indenizações que compensassem a
alta do aluguel, para que os ocupantes pudessem conservar suas habitações e seus pontos de
comércio e produção assim como seus modos de vida e suas ocupações tradicionais,
especialmente o artesanato rural, a agricultura em pequena escala, a pesca etc. Essas
indenizações, determinadas em função dos rendimentos, ajudariam os interessados a fazer
frente ao aumento dos encargos provocados pelas obras realizadas.
Para aperfeiçoar a competência dos especialistas e dos artesãos necessários e para fomentar o
interesse e a participação de toda a população no trabalho de salvaguarda, os Estados
Membros deveriam adotar as medidas que se seguem, de acordo com sua competência
legislativa e constitucional.
O estudo dos conjuntos históricos deveria ser incluído no ensino em todos os níveis e,
particularmente, no de história, para inculcar no espírito dos jovens a compreensão e o
respeito às obras do passado e para mostrar o papel desse patrimônio na vida contemporânea.
Esse ensino deveria utilizar amplamente os meios audiovisuais e as visitas aos conjuntos
históricos ou tradicionais.
VI - Cooperação Internacional
Passaram-se quase 45 anos desde que ó CIAM elaborou um documento sobre teoria e
metodologia de planejamento, que recebeu o nome de Carta de Atenas.
Muitos fenômenos novos emergiram durante esse tempo e exigem uma revisão da carta que a
complemente com um documento de enfoque e amplitude mundiais, a ser analisado
interdisciplinarmente em uma discussão internacional que inclua intelectuais e profissionais,
institutos de pesquisas e universidades de todos os países.
Houve alguns esforços para atualizar a Carta de Atenas e o presente documento só pretende
ser ponto de partida para tal empresa, devendo salientar, em primeiro lugar, que a Carta de
Atenas, de 1933, é ainda um documento fundamental para a nossa época. Que pode ser
atualizado mas não negado. Muitos de seus noventa e cinco pontos são válidos, ainda, como
testemunho da vitalidade e da continuidade do movimento moderno, tanto em planejamento
como em arquitetura.
Atenas, 1933; Machu Picchu, 1977. Os lugares são significativos. Atenas se ergueu como o
berço da civilização ocidental; Machu Picchu simboliza a contribuição cultural independente
de outro mundo. Atenas representou a racionalidade personificada por Aristóteles e Platão.
Machu Picchu representa tudo o que não envolve a mentalidade global iluminística e tudo o
que não é classificável por sua lógica.
Cidade e região
A Carta de Atenas reconheceu a unidade essencial das cidades e suas regiões circundantes. A
fraqueza da sociedade ao enfrentar as necessidades do crescimento urbano e as mudanças
sócio-econômicas requer a reafirmação desse princípio em termos mais específicos e
urgentes.
O crescimento urbano
Desde a Carta de Atenas até nossos dias a população do mundo duplicou, dando lugar à
chamada crise tripla: ecológica, energética e alimentícia. A elas temos que somar as crises de
moradia e de serviços urbanos, agravadas pelo fato de o ritmo de crescimento populacional
das cidades ser muito superior ao demográfico geral. As soluções urbanísticas propugnadas
pela Carta de Atenas não levaram em conta esse crescimento acelerado, que constitui a raiz do
problema de nossas cidades.
Conceito de setor
A Carta de Atenas assinala que as chaves do urbanismo se encontram nestas quatro funções
básicas: de habitar, trabalhar, divertir-se e circular e que os planos devem fixar sua estrutura e
implantação.
Moradia
A casa popular não será considerada um objeto de consumo subsidiário, mas um poderoso
instrumento de desenvolvimento social.
O projeto da casa deve ter a flexibilidade necessária para adaptar-se à dinâmica social,
facilitando portanto a participação criadora do usuário. Devem ser projetados elementos
construtivos que possam ser fabricados massificadamente para serem utilizados pelos usuários
e que, economicamente, estejam a seu alcance.
Na Carta de Atenas está explícito que a circulação é uma das funções urbanas básicas e
implícito que ela depende principalmente do uso do automóvel como meio de transporte
individual. Depois de quarenta e quatro anos, comprovou-se que não há solução ótima para
diferenciar, multiplicar e solucionar cruzamentos de ruas. É necessário, portanto, enfatizar que
a solução para a função de circulação deve ser pesquisada mediante a subordinação do
transporte individual ao transporte coletivo de massa.
A Carta de Atenas mostrou a necessidade de uma legislação que permitisse dispor, sem
impedimentos, do solo urbano para satisfazer as necessidades coletivas. Para tanto,
estabeleceu que o interesse privado devia subordinar-se ao interesse coletivo.
Uma das formas mais atentatórias contra a natureza é, hoje, a contaminação ambiental, que
tem se agravado em proporções sem precedentes e potencialmente catastróficas, como
conseqüência direta da urbanização não planejada e da excessiva exploração de recursos.
Nas áreas urbanizadas do mundo a população está cada vez mais sujeita a condições
ambientais que são incompatíveis com normas e conceitos razoáveis de saúde e bem estar
humanos. Entre as características não aceitáveis se incluem a prevalência de quantidades
excessivas de perigosas substâncias tóxicas no ar, na água e nos alimentos da população
urbana, além dos níveis danosos de ruídos. As políticas oficiais que regem o desenvolvimento
urbano deverão incluir medidas imediatas para evitar que se acentue a degradação do meio
ambiente urbano e conseguir a restauração da integridade básica do meio ambiente, de acordo
com as normas de saúde e de bem estar social.
A identidade e o caráter de uma cidade são dados não só por sua estrutura física, mas,
também, por suas características sociológicas. Por isso, é necessário que não só se preserve e
conserve o patrimônio histórico monumental, como também que se assuma a defesa do
patrimônio cultural, conservando os valores que são de fundamental importância para afirmar
a personalidade comunal ou nacional e/ou aqueles que têm um autêntico significado para a
cultura em geral.
Por isso mesmo, é imprescindível que na tarefa de conservação, restauração e reciclagem das
zonas monumentais e dos monumentos históricos e arquitetônicos, considere-se a sua
integração ao processo vivo do desenvolvimento urbano como único meio que possibilite o
financiamento da operação.
Tecnologia
Implementação
Deve-se entender também que cada região e cada cidade, no processo de sua implementação,
deve criar e importar suas normas legais, de acordo com seu meio ambiente, recursos e
características formais próprias.
A Carta de Atenas não cuidou do projeto arquitetônico. Aqueles que a formularam não o
consideraram necessário, porque concordavam que a arquitetura era um jogo sábio de
volumes puros sob a luz, la Ville Radieuse, composta de tais volumes, aplicou uma linguagem
arquitetônica de origem cubista, perfeitamente coerente com o conceito que separou as
cidades em partes funcionais.
As conquistas dos anos trinta, quando a Carta de Atenas foi promulgada, são ainda válidas.
Elas dizem respeito a:
f) a temporalidade do espaço;
g) a reintegração edifício-cidade-paisagem.
A temporalidade do espaço é a maior contribuição de Frank Lloyd Wright e corresponde à
visão dinâmica do espaço-tempo-cubista, enfoque aplicado não só aos volumes, como
também aos espaços humanos, não apenas ao visual, mas também aos valores sociais. A
reintegração edifício-cidade-paisagem é uma consequência da unidade entre cidade e campo.
É tempo de recomendar aos arquitetos que tomem consciência do desenvolvimento histórico
do movimento moderno e cessem de multiplicar paisagens urbanas obsoletas, feitas de
volumes monumentais, sejam horizontais ou verticais, opacos, reflexivo ou transparentes. O
novo conceito de urbanização pede a continuidade de edificação, o que implica que cada
edifício não seja um objeto finito, mas um elemento do continuum, que requer um diálogo
com outros elementos para completar sua própria imagem.
O princípio do não-finito não é novo. Foi explorado pelos maneiristas e, de uma forma
explosiva, por Michelangelo Não obstante, em nossa época não é apenas um princípio visual,
mas fundamentalmente social. A experiência artística nas últimas décadas, na música e nas
artes visuais, tem demonstrado que os artistas já não produzem um objeto finito, que eles se
detêm no meio ou nas três quartas partes do processo, de maneira que o espectador não seja
um contemplador passivo da obra artística, mas um fator ativo de mensagem polivalente. No
campo construtivo, a participação do usuário é ainda mais importante e concreta. Significa
que o povo deve participar ativa e criativamente em cada fase do projeto, podendo, assim, os
usuários integrar-se no trabalho do arquiteto.
Quanto a isso, não obstante, deve-se ser cuidadoso. O fato de reconhecer que os edifícios
vernaculares muito contribuem para a imaginação arquitetônica não significa que devam ser
imitados. Tal atitude, hoje, é tão absurda como foi a cópia do Partenon. O problema é
totalmente diferente da imitação.
Algumas vezes se compararam, por sua monumentalidade, as construções do antigo Peru com
as pirâmides do Egito. Fisicamente, pelo grandioso em ambas as concepções, procede o
paralelo. Mas estas foram construídas como um monumento à morte, exaltando a glória do
monarca e, aquelas se levantaram por obra e para o sustento das comunidades, como um
monumento à vida. Elas expressam volumétrica e espiritualmente o rumo diferente de duas
grandes civilizações que edificaram para a eternidade.
Carta de Burra
Austrália, 1980
Definições
- o termo bem designará um local, uma zona, um edifício ou outra obra construída, ou um
conjunto de edificações ou outras obras que possuam uma significação cultural,
compreendidos, em cada caso, o conteúdo e o entorno a que pertence.
- o termo significação cultural designará o valor estético, histórico, científico ou social de um
bem para as gerações passadas, presentes ou futuras.
- a substância será o conjunto de materiais que fisicamente constituem o bem.
- o termo conservação designará os cuidados a serem dispensados a um bem para preservar-
lhe as características que apresentem uma significação cultural. De acordo com as
circunstâncias, a conservação implicará ou não a preservação ou a restauração, além da
manutenção; ela poderá, igualmente, compreender obras mínimas de reconstrução ou
adaptação que atendam às necessidades e exigências práticas.
- o termo manutenção designará a proteção contínua da substância, do conteúdo e do entorno
de um bem e não deve ser confundido com o termo reparação. A reparação implica a
restauração e a reconstrução, e assim será considerada.
- a preservação será a manutenção no estado da substância de um bem e a desaceleração do
processo pelo qual ele se degrada.
- a restauração será o restabelecimento da substância de um bem em um estado anterior
conhecido.
- a reconstrução será o restabelecimento, com o máximo de exatidão, de um estado anterior
conhecido; ela se distingue pela introdução na substância existente de materiais diferentes,
sejam novos ou antigos. A reconstrução não deve ser confundida, nem com a recriação, nem
com a reconstituição hipotética, ambas excluídas do domínio regulamentado pelas presentes
orientações. - a adaptação será o agenciamento de um bem a uma nova destinação sem a
destruição de sua significação cultural.
- o uso compatível designará uma utilização que não implique mudança na significação
cultural da substância, modificações que sejam substancialmente reversíveis ou que requeiram
um impacto mínimo.
Conservação
Artigo 6° - As opções a serem feitas na conservação total ou parcial de um bem deverão ser
previamente definidas com base na compreensão de sua significação cultural e de sua
condição material.
Artigo 9° - Todo edifício ou qualquer outra obra devem ser mantidos em sua localização
histórica. O deslocamento de uma edificação ou de qualquer outra obra, integralmente ou em
parte, não pode ser admitido, a não ser que essa solução constitua o único meio de assegurar
sua sobrevivência.
Artigo 10° - A retirada de um conteúdo ao qual o bem deve uma parte de sua significação
cultural não pode ser admitida, a menos que represente o único meio de assegurar a
salvaguarda e a segurança desse conteúdo. Nesse caso, ele deverá ser restituído na medida em
que novas circunstâncias o permitirem.
Preservação
Artigo 11° - A preservação se impõe nos casos em que a própria substância do bem, no estado
em que se encontra, oferece testemunho de uma significação cultural específica, assim como
nos casos em que há insuficiência de dados que permitam realizar a conservação sob outra
forma.
Restauração
Artigo 13° - A restauração só pode ser efetivada se existirem dados suficientes que
testemunhem um estado anterior da substância do bem e se o restabelecimento desse estado
conduzir a uma valorização da significação cultural do referido bem. Nenhuma empreitada de
restauração deve ser empreendida sem a certeza de existirem recursos necessários para isso.
Artigo 14° - A restauração deve servir para mostrar novos aspectos em relação à significação
cultural do bem. Ela se baseia no princípio do respeito ao conjunto de testemunhos
disponíveis, sejam materiais, documentais ou outros, e deve parar onde começa a hipótese.
Artigo 16° - As contribuições de todas as épocas deverão ser respeitadas. Quando a substância
do bem pertencer a várias épocas diferentes, o resgate de elementos datados de determinada
época em detrimento dos de outra só se justifica se a significação cultural do que é retirado for
de pouquíssima importância em relação ao elemento a ser valorizado.
Reconstrução
Artigo 17° - A reconstrução deve ser efetivada quando constituir condição sine qua non de
sobrevivência de um bem cuja integridade tenha sido comprometida por desgastes ou
modificações, ou quando possibilite restabelecer ao conjunto de um bem uma significação
cultural perdida.
Artigo 20° - A adaptação só pode ser tolerada na medida em que represente o único meio de
conservar o bem e não acarrete prejuízo sério a sua significação cultural.
Artigo 22° - Os elementos dotados de uma significação cultural que não se possa evitar
desmontar durante os trabalhos de adaptação deverão ser conservados em lugar seguro, na
previsão de posterior restauração do bem.
Procedimentos
Artigo 23° - Qualquer intervenção prevista em um bem deve ser precedida de um estudo dos
dados disponíveis, sejam eles materiais, documentais ou outros. Qualquer transformação do
aspecto de um bem deve ser precedida da elaboração, por profissionais, de documentos que
perpetuem esse aspecto com exatidão.
Artigo 26° - As decisões de orientação geral devem proceder de organismos cujos nomes
serão devidamente comunicados, bem como o de seus dirigentes responsáveis, devendo a
cada decisão corresponder uma responsabilidade específica.
Artigo 27° - Os trabalhos contratados devem ter acompanhamento apropriado, exercido por
profissionais, e deve ser mantido um diário no qual serão consignadas as novidades surgidas,
bem como as decisões tomadas, conforme o disposto no artigo 25 acima.
Artigo 28° - Os documentos consignados nos artigos 23, 25, 26 e 27 acima serão guardados
nos arquivos de um órgão público e mantidos à disposição do público.
Artigo 29° - Os objetos a que se refere o artigo 10 acima serão catalogados e protegidos de
acordo com normas profissionais.
Carta de Florença
de maio de 1981
Preâmbulo
Definição e objetivos
Declaração de Nairobi
de 10 a 18 de maio de 1982 (Quênia)
A Assembléia Mundial dos Estados, reunida em Nairobi do dia 10 ao dia 18 de maio de 1982,
a fim de comemorar o décimo aniversário da Conferência das Nações Unidas sobre o
Ambiente Humano, que ocorreu em Estocolmo, tendo recapitulado as medidas tomadas para
implementar a declaração e o plano de ação adotados naquela conferência, roga solenemente a
governos e povos para agirem construtivamente a partir do progresso alcançado até hoje,
embora expressando sua grave preocupação acerca do atual estado do ambiente, em nível
mundial, e reconhece a necessidade urgente de intensificar esforços em níveis global, regional
e nacional de modo a protegê-lo e melhorá-lo.
As ameaças ao meio ambiente são agravadas por estruturas coniventes com a miséria, assim
como com um consumismo e um desperdício abusivos: ambos podem levar à exploração
predatória do meio. A estratégia internacional de desenvolvimento para a terceira década de
ação das Nações Unidas e o advento de uma nova ordem econômica internacional fazem
parte, por conseguinte, dos instrumentos primordiais no sentido do esforço global para
reverter o curso da agressão ambiental. Mecanismos conjugados de mercado e de
planejamento podem também contribuir para a racionalização do desenvolvimento e do
manejo do ambiente e dos recursos naturais.
Declaração de Tlaxcala
de outubro de 1982
Os delegados, após examinarem a situação atual na América em relação aos perigos que
ameaçam o patrimônio arquitetônico e a ambiência das pequenas localidades, decidem adotar
as seguintes conclusões:
Recomendações
Os participantes do colóquio reiteram os princípios que animam o Conselho Internacional dos
Monumentos e do Sítios, concretizados em diversos documentos internacionais, assim como
as recomendações feitas durante as precedentes reuniões americanas de Quito, Chapultepec e
Morélia concernentes à conservação dos pequenos lugares de habitat e emitem, por sua vez,
as recomendações seguintes, que devem ser difundidas pelos comitês do ICOMOS na
América e por todos os demais especialistas e apresentadas, em cada país, às autoridades, às
escolas profissionais, aos institutos competentes na matéria, às universidades, às faculdades
de arquitetura e a outros organismos.
Recomenda-se:
Que qualquer ação que vise à conservação e a revitalização das pequenas localidades seja
inserida em um programa que leve em conta os aspectos históricos, antropológicos, sociais e
econômicos da região e as possibilidades de revitalizá-la, sem o que a referida ação será
condenada à superficialidade e à ineficácia.
Que seja encorajada a participação interdisciplinar, condição indispensável a qualquer
empenho em favor da conservação, restauração e revitalização das pequenas localidades.
Que os órgãos do serviço público, tais como os de comunicação, saúde, educação,
eletrificação e outros, levem em consideração que suas ações e boas intenções podem causar
danos às pequenas comunidades se forem ignorados ou minimizados os valores do patrimônio
cultural e os benefícios que resultam da conservação desse patrimônio para toda a
comunidade.
Que a comunicação de experiências nos diversos domínios relativos à preservação das
pequenas localidades é indispensável para a obtenção de melhores resultados no que diz
respeito não só às políticas nacionais mas à legislação específica e ao progresso técnico. A
informação é importante tanto no nível internacional quanto no que é específico do meio
americano. Reafirma-se a necessidade de publicações nesse sentido e propõe-se a criação de
grupos de trabalho americanos para os diversos temas específicos.
Que a utilização de materiais regionais e a conservação de técnicas de construção tradicionais
de cada região sejam indispensáveis para a conservação adequada das pequenas aglomerações
e não estejam em contradição com a teoria geral que estabelece que se deixe em evidência nas
intervenções a marca de nosso tempo. O esforço para identificar, encorajar, manter em vigor e
reforçar no espírito das comunidades o prestígio e o valor do uso de tais materiais e técnicas,
justamente onde eles existem, é urgente. Recomenda-se encorajar a competência artesanal da
construção através de premiações.
Que os governantes dos países latino-americanos considerem a alocação de créditos sociais
para dar conta da aquisição, manutenção, conservação e restauração de moradias nas
pequenas aglomerações e pequenas cidades, como meio prático de conservar o patrimônio
monumental e os recursos para a habitação. Com esse objetivo devem ser revistas as normas
de crédito para que considerem como objeto de crédito hipotecário as construções realizadas
com técnicas e materiais vernaculares.
Que as escolas de arquitetura criem e favoreçam mestrados e doutorados em restauração e
levem substancialmente em conta nos programas de base dos estudos os valores do
patrimônio arquitetônico e urbano, os problemas de conservação e de restauração e o
conhecimento da arquitetura vernacular, bem como as técnicas tradicionais de construção, de
maneira que seus diplomados sejam capazes de se transformar em profissionais úteis às
comunidades necessitadas.
Que é útil que os estabelecimentos de ensino e sociedades de arquitetos organizem comissões
de preservação do patrimônio arquitetônico capazes de promover maior consciência da
responsabilidade que lhes cabe no que diz respeito à conservação das pequenas aglomerações,
de compilar e difundir as informações relativas a esse problema e de prestar acompanhamento
aos programas e estudos desse gênero.
Que os representantes dos países da região empreendam os maiores esforços, já que seus
governos não os têm feito, e aprovem o protocolo da Convenção para o Patrimônio Mundial
da UNESCO (16 de novembro de 1972) como um meio de receberem a assistência técnica e o
apoio dos organismos internacionais.
Declaração do México
México, 1982
O mundo tem sofrido profundas transformações nos últimos anos. Os avanços da ciência e da
técnica têm modificado o lugar do homem no mundo e a natureza de suas relações sociais. A
educação e a cultura, cujo significado e alcance têm se ampliado consideravelmente, são
essenciais para um verdadeiro desenvolvimento do indivíduo e da sociedade.
Em nossos dias, não obstante o acréscimo das possibilidades de diálogo, a comunidade das
nações enfrenta também sérias dificuldades econômicas, a desigualdade entre as nações é
crescente, múltiplos conflitos e graves tensões ameaçam a paz e a segurança.
Por tal razão, hoje é mais urgente que nunca estreitar a colaboração entre as nações, garantir o
respeito ao direito dos demais e assegurar o exercício das liberdades fundamentais do homem
e dos povos, e do seu direito à autodeterminação. Mais do que nunca é urgente erigir na mente
de cada indivíduo estes baluartes da paz que, como afirma a constituição da UNESCO, podem
constituir-se principalmente através da educação, da ciência e da cultura.
Assim, ao expressar a sua esperança na convergência final dos objetivos culturais e espirituais
da humanidade, a conferência concorda em que, no seu sentido mais amplo, a cultura pode ser
considerada atualmente como o conjunto dos traços distintivos espirituais, materiais,
intelectuais e afetivos que caracterizam uma sociedade e um grupo social. Ela engloba, além
das artes e das letras, os modos de vida, os direitos fundamentais do ser humano, os sistemas
de valores, as tradições e as crenças. Concorda também que a cultura dá ao homem a
capacidade de refletir sobre si mesmo. É ela que faz de nós seres especificamente humanos,
racionais, críticos, e eticamente comprometidos. Através dela discernimos os valores e
efetuamos opções. Através dela o homem se expressa, toma consciência de si mesmo, se
reconhece como um projeto inacabado, põe em questão as suas próprias realizações, procura
incansavelmente novas significações e cria obras que o transcendem.
Por conseguinte, a conferência afirma solenemente os seguintes princípios que devem reger as
políticas culturais:
Identidade Cultural
O universal não pode ser postulado em abstrato por nenhuma cultura em particular, surge da
experiência de todos os povos do mundo, cada um dos quais afirma a sua identidade.
Identidade cultural e diversidade cultural são indissociáveis.
As peculiaridades culturais não dificultam, mas favorecem a comunhão dos valores universais
que unem os povos. Por isso, constitui a essência mesma do pluralismo cultural o
reconhecimento de múltiplas identidades culturais onde coexistirem diversas tradições.
Tudo isso reclama políticas culturais que protejam, estimulem e enriqueçam a identidade e o
patrimônio cultural de cada povo, além de estabelecerem o mais absoluto respeito e apreço
pelas minorias culturais e pelas outras culturas do mundo. A humanidade empobrece quando
se ignora ou se destrói a cultura de um grupo determinado.
Há que reconhecer a igualdade e dignidade de todas as culturas, assim como o direito de cada
povo e de cada comunidade cultural a afirmar e preservar sua identidade cultural, e a exigir
respeito a ela.
Um número cada vez maior de mulheres e homens desejam um mundo melhor. Não só
perseguem a satisfação de suas necessidades fundamentais, mas o desenvolvimento do ser
humano, seu bem-estar e sua possibilidade de convivência solidária com todos os povos. Seu
objetivo não é a produção, o lucro ou o consumo per se, mas a sua plena realização individual
e coletiva e a preservação da natureza.
Cultura e Democracia
A Declaração Universal dos Direitos Humanos estabelece, no seu artigo 27, que toda pessoa
tem direito a tomar parte livremente na vida cultural comunidade, a gozar das artes e a
participai- do progresso científico e dos benefícios que dele resultem. Os Estados devem
tomar as medidas necessária para alcançar este objetivo.
A cultura procede da comunidade inteira e a ela deve retornar. Não pode se privilégio da elite
nem quanto a sua produção, nem quanto a seus benefícios. democracia cultural supõe a mais
ampla participação do indivíduo e d sociedade no processo de criação de bens culturais, na
tomada de decisões que concernem à vida cultural e na sua difusão e fruição.
Trata-se, sobretudo, de abrir novos pontos de entrosamento com a democracia pela via da
igualdade de oportunidades nos campos da educação e da cultura.
Qualquer povo tem o direito e o dever de defender e preservar o patrimônio cultural, já que as
sociedades se reconhecem a si mesmas através dos valores em que encontram fontes de
inspiração criadora.
Princípio fundamental das relações culturais entre os povos é a restituição a seus países de
origem das obras que lhes foram subtraídas ilicitamente. Os instrumentos, acordos e relações
internacionais existentes poderiam ser reforçados para aumentar sua eficácia a esse respeito.
A educação é o meio por excelência para transmitir os valores culturais nacionais e universais,
e deve procurar a assimilação dos conhecimentos científicos e técnicos sem detrimento das
capacidades e valores dos povos.
Requer-se atualmente uma educação integral e inovadora que não só informe e transmita, mas
que forme e renove, que permita aos educandos tomar consciência da realidade do seu tempo
e do seu meio, que favoreça o florescimento da personalidade, que forme na autodisciplina, no
respeito aos demais e na solidariedade social e internacional; uma educação que capacite para
a organização e para a produtividade, para a produção de bens e serviços realmente
necessários, que inspire a renovação e estimule a criatividade.
Uma circulação livre e uma difusão mais ampla e melhor equilibrada da informação, das
idéias e dos conhecimentos, que constituem alguns dos princípios de uma nova ordem
mundial da informação e da comunicação, supõem o direito de todas as nações não só de
receber mas também de transmitir conteúdos culturais, educativos, científicos e tecnológicos.
Os avanços tecnológicos dos últimos anos têm dado lugar à expansão das indústrias culturais.
Tais indústrias, qualquer que seja a sua organização, desempenham um papel importante na
difusão de bens culturais. Nas suas atividades internacionais, no entanto, ignoram muitas
vezes os valores tradicionais da sociedade e suscitam expectativas e aspirações que não
respondem às necessidades efetivas do seu desenvolvimento. Por outra parte, a ausência de
indústrias culturais nacionais, sobretudo nos países em via de desenvolvimento, pode ser fonte
de dependência cultural e origem de alienação.
Uma cooperação mais ampla e uma compreensão cultural sub-regional, regional, inter-
regional e internacional são pressupostos importantes para obter um clima de respeito,
confiança, diálogo e paz entre as nações. Tal clima não poderá ser alcançado plenamente sem
que sejam reduzidos e eliminados os conflitos e tensões atuais, detida a corrida armamentista
e conseguido o desarmamento.
A conferência reafirma que o valor educativo e cultural é essencial nos esforços para instaurar
uma nova ordem econômica internacional.
UNESCO
Num mundo convulsionado por diferenças que põem em perigo os valores culturais das
civilizações, os Estados Membros e a Secretaria da Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura devem multiplicar os esforços destinados a preservar tais
valores e a aprofundar sua ação em benefício do desenvolvimento da humanidade. Uma paz
duradoura deve ser estabelecida para assegurar a própria existência da cultura humana.
Frente a essa situação, os objetivos da UNESCO, tal como são definidos na sua constituição,
adquirem uma importância capital.
A Conferência Mundial sobre Políticas Culturais faz um apelo à UNESCO para que prossiga
e reforce sua ação de aproximação cultural entre os povos e as nações e continue
desempenhando a nobre tarefa de contribuir para que os homens, ultrapassando as suas
diferenças, realizem o antigo sonho da fraternidade universal.
A comunidade internacional reunida nesta conferência considera seu o lema de Benito Juarez:
"Entre os indivíduos, como entre as nações, o respeito ao direito alheio é a paz".
Carta de Washington
Washington, 1986
Preâmbulo e definições:
Para ser eficaz, a salvaguarda das cidades e bairros históricos deve ser parte essencial de uma
política coerente de desenvolvimento econômico e social, e ser considerada no planejamento
físico territorial e nos planos urbanos em todos os seus níveis.
Métodos e instrumentos
O planejamento da salvaguarda das cidades e bairros históricos deve ser precedido de estudos
multidisciplinares. O plano de salvaguarda deve compreender uma análise dos dados,
particularmente arqueológicos, históricos, arquitetônicos, técnicos, sociológicos e econômicos
e deve definir as principais orientações e modalidades de ações a serem empreendidas no
plano jurídico, administrativo e financeiro. O plano de salvaguarda deverá empenhar-se para
definir uma articulação harmoniosa entre os bairros históricos e o conjunto da cidade. O plano
de salvaguarda deve determinar as edificações ou grupos de edificações que devam ser
particularmente protegidos, os que devam ser conservados em certas condições e os que, em
circunstâncias excepcionais, possam ser demolidos. Antes de qualquer intervenção, as
condições existentes na área deverão ser rigorosamente documentadas. O plano deveria contar
com a adesão dos habitantes.
A conservação das cidades e bairros históricos implica a manutenção permanente das áreas
edificadas.
As novas funções devem ser compatíveis com o caráter, a vocação e a estrutura das cidades
históricas. A adaptação da cidade histórica à vida contemporânea requer cuidadosas
instalações das redes de infra-estrutura e equipamento dos serviços públicos.
A melhoria do habitat deve ser um dos objetivos fundamentais da salvaguarda.
No caso de ser necessário efetuar transformações dos imóveis ou construir novos, todo o
acréscimo deverá respeitar a organização espacial existente, especialmente seu parcelamento,
volume e escala, nos termos em que o impõem a qualidade e o valor do conjunto de
construções existentes. A introdução de elementos de caráter contemporâneo, desde que não
perturbe a harmonia do conjunto, pode contribuir para o seu enriquecimento.
A circulação de veículos deve ser estritamente regulamentada no interior das cidades e dos
bairros históricos; as áreas de estacionamento deverão ser planejadas de maneira que não
degradem seu aspecto nem o do seu entorno.
Devem ser adotadas nas cidades históricas medidas preventivas contra as catástrofes naturais
e contra todos os danos (notadamente, as poluições e as vibrações), não só para assegurar a
salvaguarda do seu patrimônio, como também para a segurança e o bem-estar de seus
habitantes. Os meios empregados para prevenir ou reparar os efeitos das calamidades devem
adaptar-se ao caráter específico dos bens a salvaguardar.
Carta de Petrópolis
Petrópolis, 1987
Entende-se como sítio histórico urbano o espaço que concentra testemunhos do fazer cultural
da cidade em suas diversas manifestações. Esse sítio histórico urbano deve ser entendido em
seu sentido operacional de área crítica, e não por oposição a espaços não-históricos da cidade,
já que toda cidade é um organismo histórico.
O sítio histórico urbano – SHU – é parte integrante de um contexto amplo que comporta as
paisagens natural e construída, assim como a vivência de seus habitantes num espaço de
valores produzidos no passado e no presente, em processo dinâmico de transformação,
devendo os novos espaços urbanos ser entendidos na sua dimensão de testemunhos
ambientais em formação.
Sendo a polifuncionalidade uma característica do SHU, a sua preservação não deve dar-se à
custa de exclusividade de usos, nem mesmo daqueles ditos culturais, devendo,
necessariamente, abrigar os universos de trabalho e do cotidiano, onde se manifestam as
verdadeiras expressões de uma sociedade heterogênea e plural. Guardando essa
heterogeneidade, deve a moradia construir-se na função primordial do espaço edificado, haja
vista a flagrante carência habitacional brasileira. Desta forma, especial atenção deve ser dada
à permanência no SHU das populações residentes e das atividades tradicionais, desde que
compatíveis com a sua ambiência.
A proteção legal do SHU far-se-á através de diferentes tipos de instrumentos, tais como:
tombamento, inventário, normas urbanísticas, isenções e incentivos, declaração de interesse
cultural e desapropriação.
Na diversificação dos instrumentos de proteção, considera-se essencial a predominância do
valor social da propriedade urbana sobre a sua condição de mercadoria.
Publicado no Caderno de Documentos n.º 3 – "Cartas Patrimoniais"-
Ministério da Cultura
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN
Brasília, 1995
Carta de Cabo Frio
de outubro de 1989
No dia 6 de outubro do ano de 1989, o Comitê Brasileiro do ICOMOS reuniu em Cabo Frio,
mui formosa paragem e mui prodigioso sítio da costa sul do Brasil, conhecedores de
arqueologia, arquitetura, botânica, navegação, história, engenharia e outros saberes,
originários de todas as partes do Brasil e de outras terras da América, como Argentina,
Bolívia, Costa Rica, México, Paraguai e Peru, para, juntando-se às comemorações dos 500
anos da vinda de Colombo América e homenageando o navegador Américo Vespúcio, que em
1503 aqui esteve, escrever esta carta, que terá o nome Carta de Cabo Frio.
A história do planeta Terra, pode ser lida através das múltiplas manifestações da natureza. Ao
identificá-las e interpretar-lhes o valor, o homem atribui a esses testemunhos significação
cultural.
A defesa da identidade cultural far-se-á através do resgate das formas de convívio harmônico
com seu ambiente.
Sendo a identidade cultural a razão maior e a base da existência das nações, é imprescindível
a ação do Estado nas suas várias instâncias e a participação da comunidade na valorização e
defesa de seus bens naturais e culturais.
Carta do Rio
de junho de 1992
Princípio 1
Princípio 2
De acordo com a Carta das Nações Unidas e os princípios do direito internacional, os Estados
têm o direito soberano de aproveitar seus próprios recursos segundo suas peculiaridades
políticas, ambientais e de desenvolvimento, e a responsabilidade de zelar por que as
atividades realizadas dentro de sua jurisdição, ou sob seu controle, não causem danos ao meio
ambiente de outros Estados ou de zonas que estejam fora dos limites da jurisdição nacional.
Princípio 3
O direito ao desenvolvimento deve exercer-se de forma tal que responda eqüitativamente às
necessidades de desenvolvimento e de proteção à integridade do sistema ambiental das
gerações presentes e futuras.
Princípio 4
Princípio 5
Princípio 6
Princípio 7
Princípio 8
Para alcançar o desenvolvimento sustentável e uma melhor qualidade de vida para todas as
pessoas, os Estados deveriam reduzir e eliminar as modalidades de produção e consumo
insustentável e fomentar apropriadas políticas demográficas.
Princípio 9
Princípio 10
O melhor modo de tratar as questões ambientais da participação de todos os cidadãos
interessados no nível correspondente. No plano nacional, qualquer pessoa deverá ter acesso
adequado à informação sobre o meio ambiente de que disponham as autoridades públicas,
inclusive a informação sobre os materiais e as atividades que ocasionem perigo a suas
comunidades, assim como a oportunidade de participar nos processos de adoção de decisões.
Os Estados deverão facilitar e incentivar a sensibilização e a participação da população,
colocando a informação à disposição de todos. Deverá ser proporcionado acesso efetivo aos
procedimentos judiciais e administrativos, entre os quais o ressarcimento de danos e os
recursos pertinentes.
Princípio11
Os estados deverão promulgar leis eficazes sobre o meio ambiente. As normas, os objetivos
de planejamento e as prioridades ambientais deveriam refletir o contexto ambiental e de
desenvolvimento a que se aplicam. As normas utilizadas por alguns países podem resultar
inadequadas e representar um custo social e econômico injustificado para outros,
particularmente para os países em desenvolvimento.
Princípio 12
Princípio 13
Princípio 14
Princípio 14
Os Estados deveriam cooperar efetivamente para desestimular ou evitar a realocação e a
transferência para outros Estados de quaisquer atividades e substâncias que causem
degradação ambiental grave ou se considerem nocivas para a saúde humana.
Princípio 15
Princípio 16
Princípio 17
Princípio 18
Os Estados deverão notificar imediatamente aos outros Estados os desastres naturais e outras
situações de emergência que possam produzir efeitos nocivos súbitos no meio ambiente
desses Estados. A comunidade internacional deverá fazer todo o possível para ajudar os
Estados afetados.
Princípio 19
Princípio 20
Princípio 21
Deveriam ser mobilizados a criatividade, os ideais e o valor dos jovens do mundo para forjar
uma aliança mundial orientada a obter o desenvolvimento sustentável e a assegurar um futuro
melhor para todos.
Princípio 22
Princípio 23
Devem ser protegidos os meio ambiente e os recursos naturais dos povos submetidos a
opressão, dominação e ocupação.
Princípio 24
Princípio 25
Princípio 26
Princípio 27
O plenário, considerando:
Propõe e recomenda
Pelo repúdio a qualquer tipo de medida que venha a reduzir a capacidade operacional do
IPHAN, já bastante defasada em relação às suas atribuições legais e administrativas, inclusive
no que concerne a extinção de cargos efetivos, comissionados e funções, e o conseqüente
desligamento de servidores não estáveis.
Pela garantia de sobrevivência do IPHAN e de todas as suas conquistas nas áreas de
identificação, documentação, proteção, preservação e promoção do patrimônio cultural
brasileiro.
Pelo reconhecimento das atividades exercidas pelo IPHAN como função típica de Estado,
através da criação de uma carreira especial.
Pela manutenção dos benefícios previstos na Lei de Incentivo à Cultura, que estimulam a
parceria entre Estado e sociedade na tarefa de preservar e promover o patrimônio cultural
brasileiro.
O Presidente da República:
Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte lei:
Parágrafo único - A propriedade da superfície, regida pelo direito comum, não inclui a das
jazidas arqueológicas ou pré-históricas, nem a dos objetos nela incorporados na forma do art.
161 da mesma Constituição.
Artigo 4° - Toda pessoa, natural ou jurídica, que, na data da publicação desta Lei, já estiver
procedendo, para fins econômicos ou outros, à exploração de jazidas arqueológicas ou pré-
históricas, deverá comunicar à Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, dentro
de sessenta (60) dias, sob pena de multa de Cr$ 10.000,00 a Cr$ 50.000,00 (dez mil a
cinqüenta mil cruzeiros), o exercício dessa atividade, para efeito de exame, registro,
fiscalização e salvaguarda do interesse da ciência.
Artigo 5° - Qualquer ato que importe na destruição ou mutilação dos monumentos a que se
refere o art. 2° desta Lei será considerado crime contra o Patrimônio Nacional e, como tal,
punível de acordo com o disposto nas leis penais.
CAPÍTULO II
Das Escavações Arqueológicas realizadas por particulares
Parágrafo único - Estando em condomínio a área em que se localiza a jazida, somente poderá
requerer a permissão o administrador ou cabecel, eleito na forma do Código Civil.
Artigo 10° - A permissão terá por título uma portaria do Ministro da Educação e Cultura, que
será transcrita em livro próprio da Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e na
qual ficarão estabelecidas as condições a serem observadas ao desenvolvimento das
escavações e estudos.
Artigo 11° - Desde que as escavações e estudos devam ser realizados em terreno que não
pertença ao requerente, deverá ser anexado ao seu pedido o consentimento escrito do
proprietário do terreno ou de quem esteja em uso e gozo desse direito.
Artigo 12° - O Ministério da Educação e Cultura poderá cassar a permissão concedida, uma
vez que:
Parágrafo único - Em qualquer dos casos acima enumerados, o permissionário não terá direito
a indenização alguma pela despesas que tiver efetuado.
CAPÍTULO III
Das Escavações Arqueológicas realizadas por Instituições Científicas Especializadas da
União, dos Estados e dos Municípios
Artigo 13° - A União, bem como os Estados e Municípios mediante autorização federal,
poderão proceder a escavações e pesquisas, no interesse da Arqueologia e da Pré-história em
terrenos de propriedade particular, com exceção das áreas muradas que envolvam construções
domiciliares.
Parágrafo único - À falta de acordo amigável com o proprietário da área onde se situar a
jazida, será esta declarada de utilidade pública e autorizada a sua ocupação pelo período
necessário à execução dos estudos, nos termos do art. 36 do Decreto-lei n° 3.365, de 21 de
junho de 1941.
Artigo 14° - No caso de ocupação temporária do terreno, para realização de escavações nas
jazidas declaradas de utilidade pública, deverá ser lavrado um auto, antes do início dos
estudos, no qual se descreva o aspecto exato do local.
Parágrafo 1° - Terminados os estudos, o local deverá ser restabelecido, sempre que possível,
na sua feição primitiva.
Parágrafo 2° - Em caso de as escavações produzirem a destruição de um relevo qualquer, essa
obrigação só terá cabimento quando se comprovar que, desse aspecto particular do terreno,
resultavam incontestáveis vantagens para o proprietário.
Artigo 16° - Nenhum órgão da administração federal, dos Estados ou dos Municípios, mesmo
no caso do art. 28 desta Lei, poderá realizar escavações arqueológicas ou pré-históricas, sem
prévia comunicação à Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, para fins de
registro no cadastro de jazidas arqueológicas.
CAPÍTULO IV
Das Descobertas Fortuitas
CAPÍTULO V
Da remessa, para o exterior, de objetos de interesse Arqueológico ou Pré-histórico, Histórico,
Numismático ou Artístico.
Parágrafo único - O objeto apreendido, razão deste artigo, será entregue à Diretoria do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
CAPÍTULO VI
Disposições Gerais
Artigo 22° - O aproveitamento econômico das jazidas, objeto desta Lei, poderá ser realizado
na forma e nas condições prescritas pelo Código de Minas, uma vez concluída a sua
exploração científica, mediante parecer favorável da Diretoria do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional ou do órgão oficial autorizado.
Parágrafo único - De todas as jazidas será preservada, sempre que possível ou conveniente,
uma parte significativa, a ser protegida pelos meios convenientes, como blocos testemunhos.
Artigo 24° - Nenhuma autorização de pesquisa ou de lavra para jazidas de calcário de concha,
que possua as características de monumentos arqueológicos ou pré-históricos, poderá ser
concedida sem audiência prévia da Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
Artigo 25° - A realização de escavações arqueológicas ou pré-históricas, com infringência de
qualquer dos dispositivos desta Lei, dará lugar à multa de Cr$ 5.000,00 (cinco mil cruzeiros) a
Cr$ 50.000,00 (cinqüenta mil cruzeiros), sem prejuízo de sumária apreensão e conseqüente
perda, para o Patrimônio Nacional, de todo o material e equipamento existente no local.
Artigo 26° - Para melhor execução da presente Lei, a Diretoria do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional poderá solicitar a colaboração de órgãos federais, estaduais, municipais,
bem como de instituições que tenham entre seus objetivos específicos o estudo e a defesa dos
monumentos arqueológicos e pré-históricos.
Parágrafo único - No caso deste artigo, o produto das multas aplicadas e apreensões de
material legalmente feitas reverterá em benefício do serviço estadual, organizado para a
preservação e estudo desses monumentos.
Artigo 29° - Aos infratores desta Lei serão aplicadas as sanções dos artigos 163 a 167 do
Código Penal, conforme o caso, sem prejuízo de outras penalidades cabíveis.
Artigo 30° - O poder Executivo baixará, no prazo de 120 dias, a partir da vigência desta Lei, a
regulamentação que for julgada necessária à sua fiel execução.
Artigo 31° - Esta lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em
contrário.
Jânio Quadros
Brigido Tinoco
Oscar Pedroso Horta
Clemente Mariani
João Agripino
Decreto-lei n° 25
de 30 de novembro de 1937
O Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil, usando da atribuição que lhe
confere o art. 180 da Constituição, decreta:
CAPÍTULO I
Do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
Artigo 1º - Constitui o patrimônio histórico e artístico nacional o conjunto dos bens móveis e
imóveis existentes no País e cuja conservação seja de interesse público, quer por sua
vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor
arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico.
Artigo 2º - A presente lei se aplica às coisas pertencentes às pessoas naturais, bem como às
pessoas jurídicas de direito privado e de direito público interno.
Parágrafo único: As obras mencionadas nas alíneas 4 e 5 terão guia de licença para livre
trânsito, fornecida pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
CAPÍTULO II
Do Tombamento
Artigo 5º - O tombamento dos bens pertencentes à União, aos Estados e aos Municípios se
fará de ofício por ordem do Diretor do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional,
mas deverá ser notificado à entidade a quem pertencer, ou sob cuja guarda estiver a coisa
tombada, a fim de produzir os necessários efeitos.
1º) O Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, por seu órgão competente,
notificará o proprietário para anuir ao tombamento, dentro do prazo de quinze dias, a contar
do recebimento da notificação, ou para, se o quiser impugnar, oferecer dentro do mesmo
prazo as razões de sua impugnação;
2º) no caso de não haver impugnação dentro do prazo assinado, que é fatal, o diretor do
Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional mandará por simples despacho que
proceda à inscrição da coisa no competente Livro do Tombo;
3º) se a impugnação for oferecida dentro do prazo assinado, far-se-á vista da mesma, dentro
de outros quinze dias fatais, ao órgão de que houver emanado a iniciativa do tombamento, a
fim de sustentá-la. Em seguida, independentemente de custas, será o processo remetido ao
Conselho Consultivo do Serviço do Patrimônio Histórico Nacional, que proferirá decisão a
respeito, dentro do prazo de sessenta dias, a contar do seu recebimento. Dessa decisão não
caberá recurso.
Artigo 10º - O tombamento dos bens, a que se refere o art. 6º desta lei, será considerado
provisório ou definitivo, conforme esteja o respectivo processo iniciado pela notificação ou
concluído pela inscrição dos referidos bens no competente Livro do Tombo.
Parágrafo único - Para todos os efeitos, salvo a disposição do art. 13 desta lei, o tombamento
provisório se equipará ao definitivo.
CAPÍTULO III
Dos efeitos do tombamento
Artigo 11 - As coisas tombadas, que pertençam à União, aos Estados ou aos Municípios,
inalienáveis por natureza, só poderão ser transferidas de uma à outra das referidas entidades.
Parágrafo único. Feita a transferência, dela deve o adquirente dar imediato conhecimento ao
Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
Artigo 13 - O tombamento definitivo dos bens de propriedade particular será, por iniciativa do
órgão competente do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, transcrito para os
devidos efeitos em livro a cargo dos oficiais do registro de imóveis e averbado ao lado da
transcrição do domínio.
§ 1º - No caso de transferência de propriedade dos bens de que trata este artigo, deverá o
adquirente, dentro do prazo de trinta dias, sob pena de multa de dez por centro sobre o
respectivo valor, fazê-la constar do registro, ainda que se trate de transmissão judicial ou
causa mortis.
§ 2º - Na hipótese de deslocação de tais bens, deverá o proprietário, dentro do mesmo prazo e
sob pena da mesma multa, inscrevê-los no registro do lugar para que tiveram sido deslocados.
§ 3º - A transferência deve ser comunicada pelo adquirente, e a deslocação pelo proprietário,
ao Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, dentro do mesmo prazo e sob a
mesma pena.
Artigo 14 - A coisa tombada não poderá sair do País, senão por curto prazo, sem transferência
de domínio e para fim de intercâmbio cultural, a juízo do Conselho Consultivo do Serviço do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
Artigo 15 - Tentada, a não ser no caso previsto no artigo anterior, a exportação para fora do
País, da coisa tombada, será esta seqüestrada pela União ou pelo Estado em que se encontrar.
Parágrafo único: Tratando-se de bens pertencentes à União, aos Estados ou aos Municípios, a
autoridade responsável pela infração do presente artigo incorrerá pessoalmente na multa.
Artigo 19 - O proprietário de coisa tombada, que não dispuser de recursos para proceder às
obras de conservação e reparação que a mesma requerer, levará ao conhecimento do Serviço
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e necessidade das mencionadas obras, sob pena
de multa correspondente ao dobro da importância em que for avaliado o dano sofrido pela
mesma coisa.
Artigo 21 - Os atentados cometidos contra os bens de que trata o art. 1º desta lei são
equiparados aos cometidos contra o patrimônio nacional.
CAPÍTULO IV
Do direito de preferência
§ 1º - Tal alienação não será permitida sem que previamente sejam os bens oferecidos, pelo
mesmo preço, à União, bem como ao Estado e ao Município em que se encontrarem. O
proprietário deverá notificar os titulares do direito de preferência a usá-lo, dentro de trinta
dias, sob pena de perdê-lo.
§ 2º - É nula a alienação realizada com violação do disposto no parágrafo anterior, ficando
qualquer dos titulares do direito de preferência habilitado a seqüestrar a coisa e a impor a
multa de vinte por cento do seu valor ao transmitente e ao adquirente, que serão por ela
solidariamente responsáveis. A nulidade será pronunciada, na forma da lei, pelo juiz que
conceder o sequestro, o qual só será levantado depois de paga a multa e se qualquer dos
titulares do direito de preferência não tiver adquirido a coisa no prazo de trinta dias.
§ 3º - O direito de preferência não inibe o proprietário de gravar livremente a coisa tombada,
de penhor, anticrese ou hipoteca.
§ 4º - Nenhuma venda judicial de bens tombados se poderá realizar sem que, previamente, os
titulares do direito de preferência sejam disso notificados judicialmente, não podendo os
editais de praça ser expedidos, sob pena de nulidade, antes de feita a notificação.
§ 5º - Aos titulares do direito de preferência assistirá o direito de remissão, se dela não
lançarem mão, até a assinatura do auto de arrematação ou até a sentença de adjudicação, as
pessoas que, na forma da lei, tiverem a faculdade de remir.
§ 6º - O direito de remissão por parte da União, bem como do Estado e do Município em que
os bens se encontrarem, poderá ser exercido, dentro de cinco dias a partir da assinatura do
auto de arrematação ou da sentença de adjudicação, não se podendo extrair a carta enquanto
não se esgotar este prazo, salvo se o arrematante ou o adjudicante for qualquer dos titulares do
direito de preferência.
CAPÍTULO V
Disposições gerais
Artigo 27 - Sempre que os agentes de leilões tiverem de vender objetos de natureza idêntica à
dos mencionados no artigo anterior, deverão apresentar a respectiva relação ao órgão
competente do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, sob pena de incidirem
na multa de cinqüenta por cento sobre o valor dos objetos vendidos.
Artigo 28 - Nenhum objeto de natureza idêntica à dos referidos no art. 26 desta lei poderá ser
posto à venda pelos comerciantes ou agentes de leilões, sem que tenha sido previamente
autenticado pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, ou por perito em que o
mesmo se louvar, sob pena de multa de cinqüenta por cento sobre o valor atribuído ao objeto.
Parágrafo único - Só terão prioridade sobre o privilégio a que se refere este artigo os créditos
inscritos no registro competente antes do tombamento da coisa pelo Serviço Nacional do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
Getúlio Vargas
Gustavo Capanema
INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E
ARTÍSTICO NACIONAL
Dispõe sobre a acessibilidade aos bens culturais imóveis acautelados em nível federal, e
outras categorias, conforme especifica.
1.2. Para efeito desta Instrução Normativa são adotadas as seguintes definições:
a) Acautelamento: forma de proteção que incide sobre o bem cultural, regida por norma legal
específica - Decreto-lei no 25, de 30 de novembro de 1937, que cria o instituto do
tombamento ou, no caso dos monumentos arqueológicos ou pré-históricos, pela Lei 3.924, de
26 de julho de 1961.
b) Bem cultural: elemento que por sua existência e característica possua significação cultural
para a sociedade - valor artístico, histórico, arqueológico, paisagístico, etnográfico - seja
individualmente ou em conjunto.
c) Bens culturais imóveis acautelados em nível federal: bens imóveis caracterizados por
edificações e/ou sítios dotados de valor artístico, histórico, arqueológico, paisagístico,
etnográfico, localizados em áreas urbanas ou rurais, legalmente protegidos pelo Iphan, cuja
proteção se dê em caráter individual ou coletivo, podendo compreender também o seu entorno
ou vizinhança, com o objetivo de assegurar a visibilidade e a ambiência do bem ou do
conjunto, se for o caso.
d) Preservação: conjunto de ações que visam garantir a permanência dos bens culturais.
I) barreiras arquitetônicas urbanísticas: as existentes nas vias públicas e nos espaços de uso
público;
III) barreiras nas comunicações: qualquer entrave ou obstáculo que dificulte ou impossibilite a
expressão ou o recebimento de mensagens por intermédio dos meios ou sistemas de
comunicação, sejam ou não de massa;
l) Desenho universal: solução que visa atender simultaneamente maior variedade de pessoas
com diferentes características antropométricas e sensoriais, de forma autônoma, segura e
confortável.
m) Rota acessível: interligação ou percurso contínuo e sistêmico entre os elementos que
compõem a acessibilidade, compreendendo os espaços internos e externos às edificações, os
serviços e fluxos da rede urbana.
n) Ajuda técnica: qualquer elemento que facilite a autonomia pessoal ou possibilite o acesso e
o uso de meio físico.
b) Os bens culturais imóveis acautelados em nível federal serão adaptados gradualmente, com
base nesta Instrução Normativa, em ações propostas pelo Iphan, por seus respectivos
Departamentos, Superintendências e Unidades, respeitando-se a disponibilidade orçamentária,
os níveis de intervenção estabelecidos pelos responsáveis para cada imóvel, a ordem de
relevância cultural e de afluxo de visitantes, bem como a densidade populacional da área no
caso de sítios históricos urbanos.
a) Imóveis de uso privado - por força da legislação federal, estadual ou municipal; por
iniciativa espontânea do proprietário na promoção de soluções em acessibilidade; pela
substituição do uso privado por outro uso ou atividade que implique no cumprimento de
determinações legais referentes às condições de acessibilidade.
1.3.3. O imóvel não acautelado em nível federal, porém destinado ao uso público ou coletivo,
no qual estiver integrado bem escultórico ou pictórico tombado pelo Iphan sujeita-se, no que
couber, a esta Instrução Normativa, quando da realização de obras de construção, reforma ou
ampliação, conforme a LF 10.098/2000.
1.4. Nos casos previstos para aplicação desta Instrução Normativa, a adoção de soluções em
acessibilidade dependerá de apresentação prévia de projeto pelo interessado, para análise e
aprovação do Iphan.
2.2. Identificar, reunir e difundir informações destinadas a reduzir ou eliminar barreiras para
promoção da acessibilidade aos bens culturais imóveis acautelados em nível federal,
utilizando fontes diversas, tais como pesquisas ergonômicas, investigações sobre materiais,
técnicas e equipamentos, legislação, normas e regulamentos, manuais e ajudas técnicas,
inclusive através de intercâmbio internacional.
2.4. Dar ampla divulgação à presente Instrução Normativa, a fim de estimular iniciativas
adequadas de intervenção nos bens culturais imóveis acautelados em nível federal, e demais
categorias quando couber, para que, sob a aprovação ou orientação do Iphan, incorporem
soluções em acessibilidade segundo os preceitos do desenho universal e rota acessível,
observada em cada caso a compatibilidade com as características do bem e seu entorno.
2.7. Atuar em conjunto com os agentes públicos e realizar parcerias com os agentes privados e
a sociedade organizada, visando:
2.8. Informar aos agentes de interesse, tais como instituições universitárias, organizações de
profissionais, órgãos públicos e concessionários, entre outros, que estejam diretamente afetos
ao tema da preservação do patrimônio histórico e cultural ou que nele venham a interferir,
sobre a ação do Iphan na adoção de soluções para acessibilidade aos bens culturais imóveis
acautelados em nível federal.
2.9. Informar ao público em geral sobre as condições de acessibilidade dos bens culturais
imóveis acautelados em nível federal, assim como dos demais bens culturais imóveis, de
propriedade ou sob a responsabilidade do Iphan.
3.3. Os elementos e as ajudas técnicas para promover a acessibilidade devem ser incorporados
ao espaço de forma a estimular a integração entre as pessoas portadoras de deficiência ou com
mobilidade reduzida e os demais usuários, oferecendo comodidade para todos, segundo os
preceitos de desenho universal e rota acessível.
d) Informar-se sobre os bens culturais e seus acervos, por meio dos diversos dispositivos e
linguagens de comunicação, tais como: escrita, simbólica, braile, sonora e multimídia,
colocadas à disposição em salas de recepção acessíveis ou em casa de visitantes adaptadas.
e) Nos casos em que os estudos indicarem áreas ou elementos em que seja inviável ou restrita
a adaptação, interagir com o espaço e o acervo, ainda que de maneira virtual, através de
informação visual, auditiva ou tátil, bem como pela oferta, em ambientes apropriados, de
alternativas como mapas, maquetes, peças de acervo originais ou cópias, entre outras que
permitam ao portador de deficiência utilizar suas habilidades de modo a vivenciar a
experiência da forma mais integral possível.
3.8. Em bens culturais imóveis acautelados em nível federal, de uso público ou coletivo, e
demais categorias quando couber, deverão ser mantidas à disposição das pessoas portadoras
de deficiência ou com mobilidade reduzida, ajudas técnicas, como cadeiras de rodas, além de
pessoal treinado para a sua recepção, como parte do conjunto de soluções em acessibilidade.
4.1. A articulação das Unidades do Iphan com instituições governamentais dos Estados e
Municípios, com o objetivo de compatibilizar procedimentos e dirimir dúvidas ou conflitos,
decorrentes de imposições legais cumulativas em acessibilidade e incidentes sobre os bens
imóveis acautelados em nível federal.
4.2. A incorporação das condições estabelecidas nesta Instrução Normativa aos programas e
projetos apoiados financeiramente, por intermédio ou diretamente pelo Iphan, a partir da
definição dos procedimentos necessários em cada situação.
4.3. Promover os trâmites necessários para a adoção desta Instrução Normativa como parte
integrante dos programas instituídos no âmbito do Ministério da Cultura, nas situações em
que a análise e aprovação de projetos sejam de responsabilidade do Iphan como entidade
vinculada, notadamente em relação às seguintes categorias de imóveis:
6. Novos padrões ou critérios definidos pela legislação federal ou norma específica da ABNT,
integrarão automaticamente o conjunto de referências básicas desta Instrução Normativa.
Arquitetura e a Cidade...
Mario Botta "O fato triste é que a arquitetura está se tornando
cada vez mais pobre, mais homogeneizada, fazendo
com que os grandes centros urbanos percam sua
identidade e assim morram um pouco. A grande
poluição não é a dos carros, mas a da arquitetura da
má qualidade, resultante da especulação imobiliária.
Penso, no entanto, que a cidade é um lugar
extraordinário, a imagem física da história. A cidade é
nossa mãe".
Das Necessidades Primordiais do homem...
Mario Botta "A finalidade de cada ato de criação é encontrar a
riqueza do passado, a arquitetura precisa falar do
grande passado. Espero que haja uma arcaicidade do
futuro e que as obras de arquitetura sejam como um
tótem, que falem das necessidades primordiais do
homem".
O Edifício...
Mario Botta "Quando eu faço um prédio, eu também construo um
pedaço da cidade. Penso que a arquitetura moderna
deva assumir a responsabilidade: construir um lugar
único e irrepetível. É necessário agir contra a
banalização moderna, construindo um prédio com
uma identidade forte".
A Relação com a cidade...
Mario Botta "A arquitetura não é um instrumento para se construir
em um lugar, mas um instrumento para construir esse
lugar. A relação com a cidade é muito mais forte que
o prédio em si".
Refúgio...
Mario Botta "Quando faço uma casa, o que me interessa é
transmitir uma sensação de refúgio, de caverna
primitiva, onde o homem encontre sua intimidade e
sua memória".
Arquétipo...
Mario Botta "Nas minhas casas, procuro inserir uma série de
valores e uma organização do espaço que contenha
elementos arquetípicos como a caverna, por exemplo,
a habitação primordial do homem".
Três Níveis...
Mario Botta "As minhas casas, quase todas são em três níveis
porque preciso da terra como espaço de transição
entre o externo e o interno; do primeiro andar para
permitir a visão da paisagem, a identificação com a
cultura do lugar; e do segundo andar para a interação
com o céu, para que eu possa dormir com a luz,
comunicar com o cosmos".
A Crise do Moderno...
Mario Botta "... proponho um modelo alternativo à crise do
moderno, à banalização do moderno. Quando
projetamos um edifício devemos Ter em mente que
nosso cliente é a história".
O Lugar...
Mario Botta "O lugar é um dos parâmetros fundamentais do
projeto: cada solução tem o seu lugar, único,
irrepetível. Todo projeto de arquitetura transforma o
lugar de uma condição de natureza em uma condição
de cultura".
A Cidade...
Mario Botta " A cidade é o território mais importante porque há
mais presença humana, mais contradições, memória,
história. Ela é para o arquiteto o mesmo que o museu
para o artista, o lugar de confronto; a riqueza da
cidade é a sua estratificação, sua tensão, sua
acumulação histórica".
Continuidade...
Mario Botta "Não se pode nem é justo inventar em uma noite toda
a arquitetura, porque ela é um fato de continuidade,
de crescimento
A Cidade e seus espaços...
Lawrence Halprin Cidade, mais do que a construção, é representada
pela paisagem dos seus espaços abertos."
O Lote...
José Garcia Lamas "O edifício não pode ser desligado do lote ou da
superfície de solo que ocupa. O lote não é apenas
uma porção cadastral: é também a gênese e
fundamento do edificado."
O Monumento...
José Garcia Lamas "... construção, obra de arquitetura ou escultura
destinada a transmitir à posteridade a recordação de
um grande homem ou feito; ou obra de arquitetura
considerável pela sua dimensão ou magnificência..."
A Rua...
Silvio Soares Macedo "A rua modelo da cidade brasileira, é a rua-jardim.
Deriva dos velhos bulevares no início do século e
para o qual se voltaram os barões do café e da elite
do império. São vias largas, com calçadas
ajardinadas e arborizadas..."
Monotonia...
Marcia Menneh "A monotonia é característica combatida em todas as
fases do projeto, que busca maior identidade em cada
espaço projetado, através do desenho de uma
paisagem rica e diversificada. Para isso, utiliza-se do
projeto cuidadoso dos edifícios e espaços livres."
O desenho...
Silvio Soares Macedo "O desenho mostra a limitação da norma, que aberta
no tocante à variedade de usos, é formalista e
direcionista na busca de um padrão de assentamento
dos novos volumes construídos. O resultado é este,
um tecido urbano, cujas normalizações são
particularizadas, ao prédio e a rua, com um resultado
morfológico simplório, espacialmente discutível e que
pouco a pouco se mostra carente de novas
disposições, normas e formas de arranjo mais
flexíveis em relação as conformações espaciais
possíveis e de abertura em relação a questão do meio
urbano preexistente."
As três matérias primas do Urbanismo...
Carta de Atenas "... O sol, a vegetação e o espaço são as três
matérias primas do Urbanismo".
O Sol...
Carta de Atenas "Introduzir o Sol (nas habitações) é o novo e mais
imperioso dever do arquiteto.
As quatro funções...
Carta de Atenas "... As chaves do Urbanismo estão nas quatro
funções: habitar, trabalhar, recrear-se (nas horas
livres), circular".
Arquitetura e Cidade...
Carta de Atenas "A Arquitetura preside os destinos da cidade".
O Individual e o Coletivo...
Carta de Atenas "Justapostos ao econômico, ao social e ao político, os
valores de ordem psicológica e fisiológica próprios ao
ser humano introduzem no debate preocupações de
ordem individual e de ordem coletiva. A vida só se
desenvolve na medida em que são conciliados os
dois princípios contraditórios que regem a
personalidade humana: o individual e o coletivo."
A História...
Carta de Atenas "A história está escrita no traçado e na arquitetura das
cidades".
Densidade...
Carta de Atenas "Densidades razoáveis devem ser impostas, de
acordo com as formas de habitação postas pela
própria natureza do terreno."
Insolação...
Carta de Atenas "Um número mínimo de horas de insolação deve ser
fixado para cada moradia".
O Verde...
Carta de Atenas "As construções elevadas erguidas a grande distância
uma das outras devem liberar o solo para amplas
superfícies verdes".
Escala Humana...
Carta de Atenas "Para o arquiteto, ocupado aqui com as tarefas do
Urbanismo, o instrumento de medida será a escala
humana".
Forma...
Alexander D'arcy Thompson "A forma é um diagrama de forças".
Função...
Sir Edwin Lutyens "A Arquitetura começa onde termina a função".
Forma e Função...
Fred e Barbro Thompson "A polêmica ocidental sobre se a forma segue a
função ou a função segue a forma é impossível. No
Oriente, função e forma são uma e mesma coisa. A
forma é a combinação de espaço e função e quando
a função e o espaço mudam, muda também a forma
que portanto, nunca é fixa, mas temporal."
Significado...
Frederick S. Pearls "O significado não existe: é um processo criativo, um
desempenho no aqui e agora".
Significado...
Julien Greimas "É extremamente difícil falar do significado e dizer
qualquer coisa de sensato".
A casa...
Paul Éluard "Quando as cumeeiras de nosso céu se juntarem
Minha casa terá um telhado."