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UNIVERSIDADE DE ÉVORA

DISCIPLINA DE ECOLOGIA DA PRODUÇÃO


AGRO-PECUÁRIA

AQUACULTURA: SISTEMA DE
PRODUÇÃO ANIMAL EM
EQUILÍBRIO COM O MEIO
AMBIENTE

Ricardo Silva nº 12489


Eng. Zootécnica

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Índice

Introdução 1
1. O que é a aquacultura 2
2. A aquacultura no Mundo 4
3. Panorama nacional 6
4. Tipos de aquacultura 8
5. Tipo de viveiros 9
6. Poluição 11
7. Desperdícios da aquacultura e a sua determinação 13
7.1. Poluição química 18
7.2. Poluentes inorgânicos 19
7.3. Poluentes orgânicos 20
7.3.1. Hidrocarbonetos e substâncias tensio-activas 21
7.3.2. Pesticidas 21
7.4. Substâncias organo-metálicas 22
8. Métodos e sistemas de vigilância 23
8.1. Compostos orgânicos 23
8.2. Contaminação inorgânica 24
9. Fenómenos anóxicos 24
10 Bloom fitoplanctónico 25
Conclusão 27
Bibliografia 29

ÉVORA

2002/2003

2
INTRODUÇÃO
O presente trabalho insere-se na disciplina de Ecologia da Produção Agro-
Pecuária, disciplina do 9º semestre da licenciatura em Engenharia Zootécnica.
O tema do trabalho debruça-se sobre uma área da produção animal que
tem conseguido uma evolução assinalável nos últimos tempos, e que se
posiciona como essencial no futuro, de modo a fazer face, por um lado ao
crescente aumento demográfico a nível mundial e, por outro, à diminuição dos
bancos de pesca um pouco por todo o mundo.
Neste trabalho é feita uma descrição sumária da aquacultura no mundo e
em Portugal, assim como dos factores de poluição que a partir das explorações
píscicolas põem em causa a qualidade da água, não só dos efluentes como
também da água em que ocorre todo o processo produtivo.
Também é feita a descrição dos principais fenómenos que se observam
normalmente em explorações aquícolas devido à acção da poluição.

1
1. O QUE É A AQUACULTURA?
A aquacultura (ou aquicultura), cobre todas as actividades significativas
para o estudo e controlo do ecossistema aquático, com o propósito de uma
produção animal ou vegetal útil ao Homem.
Actualmente assiste-se a um agravamento da poluição marinha e da
sobrepesca, ambos consequência de um aumento demográfico incontrolado.
Também fenómenos de variação climática global afectam gravemente a pesca,
conduzindo ao colapso de alguns mananciais. Tanto os estoques de peixes
como os de crustáceos e moluscos estão em declínio. A FAO (1997) avaliou 17
práticas pesqueiras em todo o mundo e concluiu que 4 estão comercialmente
destruídas e 9 estão em sério risco.
Apesar deste quadro nada favorável, a produção mundial total de peixes,
crustáceos, moluscos e plantas aquáticas, produzidas pela aquacultura, atingiu
120,7 milhões de toneladas (Rana, 1997). Estas estatísticas demonstram
também que a taxa anual de crescimento da aquacultura nos últimos anos
aumentou de aproximadamente 5% em 1990-1991 para cerca de 14% em
1994-1995. Este crescimento é devido, em grande parte, pelo desenvolvimento
da aquacultura na China que continua como líder mundial neste sector com
uma taxa de crescimento anual de 13,6%.
A aquacultura surge assim como uma actividade de expansão obrigatória,
tendo já hoje uma elevada capacidade de produção em espaços reduzidos. No
entanto, esta expansão terá de ter em conta os potenciais de poluição que este
tipo de actividade produtiva apresenta. Além disso, há que encarar os avanços
possíveis em função da capacidade de sustentação do meio, para que se
possa efectuar sem qualquer agravamento das alterações ambientais já
existentes. Estas alterações introduzidas por várias indústrias previamente
instaladas e pelos efluentes urbanos não tratados, são tidas igualmente como
um sério obstáculo ao desenvolvimento da própria aquacultura.
A produção aquícola fornece um suprimento aceitável, substituindo
pescado e plantas provenientes dos estoques naturais. No entanto, levando em
consideração que as áreas disponíveis para cultivo não podem ser
grandemente aumentadas, torna-se evidente que para aumentar a
produtividade nos cultivos e abastecer a crescente procura mundial, existe a

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necessidade de um avanço nos métodos de produção actualmente utilizados e
da introdução de novas tecnologias.

Gráfico 1: Consumo de peixe per capita em 1998 (INE)

Os sistemas de aquacultura a serem instalados devem ser sustentáveis em


termos da sua utilização, do tipo de alimento a consumir, dos controlos
sanitários a fazer e do tipo de alevins a utilizar. Em suma, a tecnologia, tanto do
ponto de vista biológico como do ponto de vista dos sistemas de produção,
deve procurar a maior eficiência, com o mínimo de impacto sobre o meio.
Embora a aquacultura seja uma actividade extremamente interessante e
com grandes potencialidades, existe ainda uma enorme lacuna no
conhecimento deste tipo de produção animal.
Em Portugal o panorama é idêntico, e tal facto resulta fundamentalmente,
de uma não cooperação com o ensino, investigação científica, formação
profissional e apoio laboratorial adequados. Por outro lado, a falta de
divulgação e interesse por esta actividade, permite que a gestão das
aquaculturas existentes seja feita um pouco à margem da lei, verificando-se a

3
aplicação de substâncias proibidas devido aos seus efeitos secundários e
prejudiciais para o peixe e homem.
A cultura intensiva e semi-intensiva de peixes marinhos está a aumentar
rapidamente no Sul da Europa, nomeadamente em Portugal. Este
desenvolvimento deve ser levado a cabo de forma ambientalmente correcta por
várias razões importantes: para preservar a necessária qualidade da água e a
estabilidade do ecossistema, manter o equilíbrio entre as diferentes actividades
que fazem uso da zona costeira e garantir o sucesso da própria maricultura.
Para poder mitigar o seu possível impacto, deve-se ser capaz de o avaliar
apropriadamente, em especial no que concerne aos efeitos do principal input
exógeno, o alimento artificial.
É importante notar que a preocupação ambiental está por exemplo já bem
estabelecida no Norte da Europa e que a investigação consistente do impacto
da maricultura acompanhou o desenvolvimento da produção de salmão. Foram
alcançados resultados importantes: melhoria das rações para peixes
conduzindo a uma redução dos desperdícios, introdução de antibióticos mais
eficientes e menos remanescentes, redução da quantidade de antibióticos
utilizada mantendo simultaneamente uma produção elevada, métodos naturais
de controlo de parasitas, etc. No nosso país a este nível ainda não se põem
estes problemas de maneira premente, dada a produção aquícola ainda não
ocupar um lugar importante na indústria piscícola.

2. A AQUACULTURA NO MUNDO
A ideia de cultivar em águas continentais e no mar não é recente: achados
arqueológicos de tanques de armazenamento da era pré-histórica foram
encontrados no Hawai, enquanto que o 1º tratado de piscicultura atribuído a
Fan-Li (China), data de 475 antes de Cristo. O domínio completo de todo o
ciclo de criação foi atingido muito cedo no caso de dois peixes de água doce: o
da carpa é conhecido desde a Idade Média e o da truta desde o século XIX.
Na actualidade a aquacultura tem uma função na estratégia de
repovoamento dos bancos de peixe. Devido ao sistema de pesca sem qualquer
preocupação pelas reservas mundiais, que a curto prazo se esgotarão, a única
saída possível para restabelecer os volumes de pescado nos mares será a

4
redução das quotas de pesca associada ao repovoamento. Após engorda
efectuada a nível dos sistemas aquícolas, os juvenis são depositados no seu
meio natural, sendo a sua recaptura efectuada pelos pescadores. O caso mais
espectacular é o do repovoamento do salmão efectuado pelos japoneses,
canadianos e americanos no Oceano Pacifico. Também são alvo de
repovoamento espécies mais sedentárias como é o caso do esturjão na
Europa, da dourada e do camarão no Japão, e em menor grau do lavagante
em França.

Produção 1994 1995 1996 1997 1998 1999


(milhões de toneladas)
Em Terra
Captura 6.7 7.2 7.4 7.5 8.0 8.2
Aquacultura 12.1 14.1 16.0 17.6 18.7 19.8
Total 18.8 21.4 23.4 25.1 26.7 28.0
No Mar
Captura 84.7 84.3 86.0 86.1 78.3 84.1
Aquacultura 8.7 10.5 10.9 11.2 12.1 13.1
Total 93.4 94.8 96.9 97.3 90.4 97.2
Total captura 91.4 91.6 93.5 93.6 86.3 92.3
Total aquacultura 20.8 24.6 26.8 28.8 30.9 32.9
Total pescas no 112.3 116.1 120.3 122.4 117.2 125.2
mundo
Utilização
Consumo Humano 79.8 86.5 90.7 93.9 93.3 92.6
Rações e Óleo 32.5 29.6 29.6 28.5 23.9 30.4
População (biliões) 5.6 5.7 5.7 5.8 5.9 6.0
Fornecimento per 14.3 15.3 15.8 16.1 15.8 15.4
capita de peixe (kg)
Tabela 1: Produção e utilização das pescas no mundo (FAO)

No Sul da Europa a cultura intensiva de peixes marinhos é uma actividade


muito mais recente. Presentemente são produzidas três espécies principais:
robalo, dourada e rodovalho. No nosso país têm sido as duas primeiras
espécies as que têm apresentado uma evolução da produção mais
significativa. As condições ambientais são muito distintas das conhecidas para

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a cultura de salmão no norte da Europa: a intensidade luminosa, a
transparência, a temperatura e a salinidade são mais elevadas. Além disso, a
zona costeira está mais densamente ocupada no Sul da Europa aparecendo
conflitos de espaço com outras actividades do sector terciário para a área
costeira. Geralmente a baixa dispersão e as elevadas temperaturas de Verão
também constituem pontos fracos para a aquacultura em relação ao ambiente,
mas estes parâmetros ainda não foram realmente investigados.

Gráfico 2: Produção da aquacultura no mundo m 1998 (INE)

3. PANORAMA NACIONAL
Considerando Portugal Continental, a actividade aquícola pratica-se nas
águas doces, salgadas e salobras. Foi nas águas doces e especialmente
através da cultura da truta, que a produção de espécies piscícolas em cativeiro,
evoluíu no sentido da monocultura e do regime intensivo, nomeadamente a
partir de 1962, com a publicação do regulamento de pesca nas águas
interiores. Actualmente, a prática da aquacultura em Portugal, compreende
diversas variantes, desde a simples policultura extensiva de engorda de alevins
e juvenis em áreas delimitadas e em condições próximas das do meio natural,
até à aquacultura intensiva ou industrial, feita em tanques ou em gaiolas

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flutuante, em que a engorda dos alevins é efectuada através de alimentos
naturais ou de rações.
O sector caracteriza-se por um ainda pequeno volume de produção,
devido à predominância de explorações artesanais e pelo regime de produção
extensivo. Por outro lado, a tradicional apetência do nosso povo para o
consumo de pescado em fresco tem feito com que as actividades que dominam
a aquacultura estejam ligadas aos bivalves e moluscos e principalmente para
exportação.
Os regimes extensivos têm sido impostos pelas autoridades
responsáveis pelo ambiente em áreas protegidas, com a alegação de que as
rações comerciais poderiam contribuir para elevar os níveis de poluição.
Em Portugal, a aquacultura em águas continentais é hoje,
fundamentalmente, a cultura de trutas (sobretudo a truta arco-iris) e a cultura
de enguias, principalmente de enguia europeia (Anguilla anguilla).
A truta arco-íris (Oncorhynchus mykiss) é cultivada em água doce, entre
nós, desde 1890. Inicialmente foi cultivada para o povoamento de lagos e de
rios, visando sobretudo a pesca desportiva. Mais tarde passou também a ser
cultivada para o consumo, tendo sido construída em 1968 a primeira
piscicultura privada, em Paredes de Coura. Esta unidade mantém-se, ainda
hoje, não só como a maior truticultura, mas também, como a maior piscicultura
industrial do país (500-600 ton/ano).
Além da truticultura e da anguicultura acima referidas, no nosso país
também se pratica a cultura do robalo (Dicentrarchus labrax) e da dourada
(Sparus aurata).
Outras culturas têm sido objecto de crescente interesse em Portugal,
como é o caso do linguado (Solea senegalensis), assim como sparídeos, como
o pargo (Pagrus pagrus) e o sargo (Diplodus spp.).
Quanto à moluscicultura, baseada quase exclusivamente na produção
da ameijoa boa (Ruditapes decussatus), continua a ser produzida nos moldes
tradicionais em parques localizados na Ria Formosa, sendo a sua produção
afectada sobretudo pela poluição de origem antropogénica durante o período
de Verão. Se por um lado o sector da moluscicultura pouco tem evoluido, o da
ostricultura foi revitalizado com a implantação, na zona de Sagres, de um
empreendimento de engorda de Crassostrea gigas.

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4. TIPOS DE AQUACULTURA
Basicamente existem três tipos de produção:

Intensiva: É feita em tanques em que a circulação da água é constante,


e onde se fazem duas renovações totais da água por hora. Permite elevado
stock (número de peixes por m2), a alimentação é artificial é o tipo de produção
que está mais sujeito a resíduos medicamentosos.
Caracteriza-se pela utilização de densidades de cargas elevadas,
existindo um elevado índice de controlo, onde todos os parâmetros de
produção encontram-se sob observação permanente. Os animais são
alimentados exclusivamente com alimento artificial.
Para aumentar o rendimento de crescimento recorre-se frequentemente
a metodologias de maneio avançadas, como calibragens e amostragens
sucessivas. A tecnologia de reprodução e crescimento têm uma atenção
especial, sendo o controlo do ciclo elevado podendo chegar-se à
independência total das condições naturais e à progressiva melhoria genética
da população.
É muito comum na Dinamarca para a produção de truta e na Ásia para a
produção de camarão.
Tem sido alvo de preocupação em ambos os casos pela qualidade dos
seus efluentes, que causam impactos muito localizados e substanciais nos
lagos e áreas costeiras em que são descarregados.
No entanto, estima-se (Anon, 1996) que a aquacultura em jaula
(extensiva) produz mais desperdícios por unidade de peixe produzido, do que a
aquacultura em tanques (intensiva), entrando estes produtos directamente no
meio sem perspectivas de serem tratados. Os desperdícios libertados para o
meio aquático constituem o maior impacto destas aquaculturas como sendo:
restos de alimentos, fezes mucosas e escamas do peixe, que tendem a
sedimentar-se no fundo, resíduos metabólicos solúveis, como o CO2 e urina,
produtos farmacêuticos e outros químicos usados

Semi – intensiva: É feita em tanques de terra. Permite uma densidade


de stock intermédia entre a produção intensiva e extensiva. A alimentação é

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natural, ou seja, o alimento é trazido pelas marés, mas, a partir de um ano de
idade, a alimentação natural é suplementada por alimentação artificial.

Extensiva: É feita junto ao mar em tanques de terra. A renovação da


água é feita consoante as marés. A alimentação é natural, e é trazida pelas
marés. Permite um stock menor.
É o tipo de cultura mais primitivo. Aproveita as condições naturais
disponíveis e o controle do sistema de produção é quase inexistente. Neste tipo
de cultura a espécie que se deseja cultivar é capturada no meio natural, na
forma juvenil ou larvar, ou entra de forma passiva nos tanques utilizados. De
seguida realiza-se a fase de engorda, recorrendo a alimentos existentes no
meio natural. No final desta fase esvaziam-se os tanques e/ou captura-se as
espécies cultivadas.
Este sistema origina duas vias de poluição: dejectos fecais e
desperdícios alimentares, que se acumulam num sedimento orgânico,
afectando a qualidade da água e consequentemente toda a comunidade.
É um método que quando aplicado por exemplo a mexilhão ou a algas,
resulta numa remoção equilibrada dos nutrientes, pelo que não se observam
fenómenos de eutrofização do meio. Apresenta contudo alguns impactos, mas
que se reduzem a reduções de biomassa de fitoplâcton. Isto significa que
sendo meios em que se estabelecem cadeias tróficas equilibradas, um défice
de alimento para o zooplâcton, com consequências para a cultura de bivalves.
Trabalhos desenvolvidos sugerem que seria necessário a intensificação da
cultura para se começarem a produzir efeitos negativos a nível da fauna.
Observam-se ainda aumentos de amónia e fósforo dissolvidos na coluna de
água, aumento da produção primária através da estimulação da reciclagem de
nutrientes, directamente através da amónia ou outras excreções solúveis, ou
indirectamente através da remineralização das fezes ou da matéria orgânica

5. TIPOS DE VIVEIROS
Este considerando tem a sua importância, devido à exposição ás
diversas fontes de poluição de que os sistemas de aquicultura são alvo. Na
maricultura podemos encontrar:

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- Tanques de água salgada;
- Gaiolas;
- Vedações ("eclosures"): praticadas sobretudo ao longo das costas,
constituídas por redes.

Na aquacultura de água doce:

- Águas naturais como lagos, ribeiras.


- Tanques ou outros dispositivos artificiais;
- Gaiolas.

As regras para os sistemas de produção e regimes de exploração das


unidades de cultivo das diferentes espécies, estão definidas pela respectiva
legislação (Decreto de lei nº 261/89 de Agosto), que estabelece os princípios
orientadores da actividade das culturas marinhas e salobras, bem como das
explorações em água doce ou continentais. No diploma acima mencionado,
estão definidos os dois sistemas de produção praticados: a monocultura,
sistema em que se cultiva no mesmo espaço físico apenas uma espécie. E a
policultura, no qual se cria mais de uma espécie.
Ainda no mesmo diploma, são igualmente definidos os regimes de
exploração prevalecentes: o regime de cultura extensivo, em que o alimento é
exclusivamente natural e o regime de cultura intensivo que é
predominantemente artificial e o semi-intensivo, no qual se adiciona ao
alimento natural um suplemento artificial.
A descrição sobre a qualidade da água, os meios utilizados para obter
uma qualidade de água apropriada para a produção aquícola de acordo com os
regulamentos comunitários está regida pelo decreto de lei 74/90 de 7 de Março,
que transpõe para o direito interno as directivas 78/659/CEE e 79/923/CEE.
Estão aí definidas as várias categorias de águas em função dos seus usos
específicos, sendo classificadas em conquícolas, piscícolas ou interiores.
Neste processo estão envolvidas entidades com competência e
atribuições diversas, para a emissão de documentos essenciais à classificação

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e à aplicação de programas de redução da poluição, à realização de controlos
periódicos e finalmente ao acompanhamento de programas em curso

6. POLUIÇÃO
O impacto da aquacultura no meio ambiente pode manifestar-se em
várias perspectivas. O aspecto mais estudado é o efeito poluidor dos produtos
desperdiçados durante o processo produtivo. No entanto, existe também
impacto a nível visual, conflitos com outras formas de utilização dos recursos
naturais renováveis (turismo, pesca), introdução de espécies exóticas e
alterações genéticas dos estoques selvagens.
Em relação à qualidade da água esta, depende da sua capacidade de
integrar os resíduos urbanos, industriais e agrícolas nos grandes ciclos
biogeoquímicos (carbono, azoto, fósforo, silício, etc.). Quando os resíduos
estão em quantidades demasiado elevadas para poderem ser assimilados, os
equilíbrios fundamentais dos ecossistemas são perturbados e fala-se então em
alteração ou de poluição.
A poluição pode resultar de um fenómeno crónico ou acidental, tendo
consequentemente um carácter durável ou temporário.
Por outro lado, pode não existir qualquer fonte de poluição e no entanto
a água pode apresentar matérias tóxicas que são geradas ao nível do próprio
ambiente do viveiro. Nesta situação há que considerar como possíveis factores
indutores e considerar os objectivos de qualidade de uma água apropriada ao
cultivo
Regra geral, precauções são tomadas para proteger as explorações
aquícolas contra os efeitos das poluições crónicas, optando-se pela escolha de
locais afastados dos centros urbanos e industriais, sendo no entanto difícil de
prever o impacto dos resíduos acidentais.
Qualquer que seja a sua origem, os poluentes actuam sobre as
explorações aquícolas de três formas distintas:

Modificação das características hidrobiológicas da água:


(temperatura, oxigénio dissolvido, teor em sais nutritivos), favorecendo os
fenómenos distróficos (proliferação de algas, águas coradas- "bloom

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fitoplanctónico") ou anóxicos , pondo em risco a sobrevivência das espécies
exploradas.

Acção tóxica directa de substâncias biocidas: conduzindo a


perturbações fisiológicas graves ou a mortalidade massiva.

Contaminação dos tecidos animais: por biotoxinas, microorganismos


patogénicos e diversas substâncias químicasque tornam estes recursos
impróprios para consumo humano.

Os critérios de qualidade de uma água apropriada são mal conhecidos,


mesmo para os salmonídeos. Com efeito, as capacidades de aclimatação dos
animais (que permitem aceitar os limiares mais elevados) e os efeitos de
sinergia entre os poluentes (que baixam os limiares de tolerância a um
determinado poluente) são na maioria das vezes desconhecidos. Os critérios
de qualidade de qualidade considerados para as espécies que vivem no meio
natural são de aplicação delicada
Um determinado local raramente oferece uma água com todas as
características ideais para a espécie em criação. Certos inconvenientes podem
ser ultrapassados através de meios técnicos. A implementação de um sistema
aquícola numa zona poluída pode ser considerada, tendo em conta as
vantagens que podem representar a proximidade de um centro urbano
(comercialização), de uma central eléctrica (água aquecida) ou de uma
barragem (regulação do débito).
O tratamento da água relativamente ao cloro e aos metais pesados
raramente é possível, tendo em conta o seu custo. A solução consiste em
dispor de uma instalação que permita isolar o sistema de criação dos aportes
exteriores e o tratamento da poluição interna, que é previsível e tratável a um
custo razoavelmente económico.
As características que são geralmente consideradas para avaliar o
potencial aquícola de uma água são:

-oxigénio dissolvido;
-amoníaco;

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-nitritos,
-nitratos;
-pH;
-CO2;
-alcalinidade;
-dureza;
-matérias em suspensão;
-matéria orgânica.

É necessário controlar os parâmetros fisícos-químicos da água,


principalmente quando se procede à reciclagem das águas de cultivo. A FAO
estimou como valores limites toleráveis para o cultivo de peixe, crustáceos e
moluscos:

- oxigénio dissolvido : > 5mg/L para os salmonídeos;


- amoníaco : 0,1 mg/ HH3-N/L;
- nitritos : 0,1 mg/NO2-N/L;
- nitratos : <100mg/NO3-N/L.

7. DESPERDÍCIOS DA AQUACULTURA E A SUA


DETERMINAÇÃO

O principal efeito da aquacultura é provocar o aumento dos níveis de


nutrientes nas águas naturais. Estes nutrientes derivam de partículas sólidas e
perdas dissolvidas geradas durante o processo de produção. As
consequências destes desperdícios no ambiente aquático são: deplecção
(esgotamento) do oxigénio, eutrofização, e alteração estrutural da comunidade
biótica. Beveris (1994) refere que os impactos da aquacultura são raramente
positivos, por vezes neutros, mas na maior parte negativos, sendo este grau
variável. Os impactos vão resultar em alterações nos níveis de fitoplâcton, na
actividade heterófica e na qualidade de sedimentos.
A prática da aquacultura leva a “outputs” que incluem não só os produtos
cultivados, mas igualmente desperdícios (efluentes): estes incluem alimento

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não ingerido, fezes e urina. Estes “outputs” consistem em sólidos orgânicos e
inorgânicos, dissolvidos, como o azoto e o fósforo (Beverdige et al., 1984).
As concentrações de efluentes variam com a unidade de produção,
sendo factores determinantes: o tipo de cultivo (em jaulas ou em tanques), a
intensidade do regime, espécies cultivadas, condições naturais do ambiente
receptor, tipo de alimentação e quantidade de água utilizada.
Para se fazer o estudo do impacto da actividade piscícola, estimam-se os
“inputs” de matéria orgânica, consideram-se de entre os micronutrientes
presentes os que são considerados com maior potencial poluidor e faz-se a sua
determinação. Para tal, estima-se:
- a percentagem de nutrientes que é incorporada;
- a percentagem de perdas em nutrientes não ingeridos, fezes e outra
matéria excretada.

Do alimento que é ingerido, parte dele é indigestivel sendo excretado sem


ser degradado. A outra parte é absorvida pelo corpo e usada no processo
metabólico para o crescimento tecidular. Este processo origina perdas de
azoto, que é libertado para a água sob a forma dissolvida de amónia.
As aquaculturas de sistema intensivo (p.ex. jaulas flutuantes) constituem
uma fonte continua de material alóctone para o meio, o qual, numa perspectiva
de médio a longo prazo alterará as qualidades fisico-químicas da água, dos
sedimentos e estrutura trófica da comunidade biótica (Alves, 1992).
Os desperdícios por processos de transformação vários, irão induzir
alterações no meio, que na generalidade dos estudos se considera ser: o
aumento dos teores de azoto e fósforo, de material particular em suspensão,
de carência química e biológica do oxigénio na água, diminuição do O2
dissolvido e aumento da matéria orgânica e nutrientes no sedimento e
alterações na sua estrutura.
O azoto e o fósforo são os nutrientes dissolvidos que originam maiores
preocupações ambientais nas suas várias formas químicas. Estes são
importantes nutrientes para as plantas aquáticas provocando a sua
proliferação, constituindo um desequilíbrio.
Mais concretamente, as repercussões da presença destes compostos
seriam:

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Impacto na coluna de água: em águas marinhas o fenómeno de
hipernutrificação (por incorporação de azoto e fósforo no fitoplâncton) não
atinge valores apreciáveis dados os efeitos de diluição em volumes de água
que são apreciáveis e as suas taxas de renovação. Observam-se contudo
aumentos de amónia ou de oxigénio dissolvido muito localizados e de curta
duração dentro ou imediatamente à volta das jaulas. Consequentemente, existe
pouca evidência de fenómenos de eutrofização, excepto em locais
relativamente fechados como são os casos das baías. Pode-se dizer, no
entanto, que numa perspectiva mais alargada, é notório que a aquacultura
costeira contribui significativamente para os níveis de nutrientes na águas. Este
fenómeno em meios mais fechados, geralmente dulceaquícolas leva à
eutrofização do meio e “blooms” de algas.

Impacto no sedimento: são produzidos 300 a 1000 Kg de sólidos por


tonelada de produção de peixe, caindo a maior parte para o fundo
imediatamente por baixo e à volta das jaulas, onde se decompõe. Destacam-se
três zonas bênticas com características diferentes: 1-zona anóxica, com
sedimentos enriquecidos por carbono, azoto e fósforo, mas completamente
desprovido de macrobentos e com produção de sulfobactérias que colonizam a
superfície, devido a emanação de gases do fundo; 2-zona orgânica, designada
oportunista, geralmente restrita a 30 m das jaulas, mas extensível a 200 m, em
casos de hidrografia específica ou em unidades de cultivo mal geridas. Nesta
zona a diversidade de organismos macrobênticos é baixa, embora se
encontrem elevadas densidades de espécies oportunistas; 3-zona que se
estende para além desta, onde a diversidade e riquezas específicas retomam
os valores normais.
O obstáculo mais sério para o desenvolvimento e utilização de sistemas de
reciclagem de águas resíduais ao nível das aquículturas é a repercussão que
os poluentes poderão ter na saúde pública.
Em Portugal não temos experiência de problemas relacionados com a
poluição de efluentes. Todas as zonas que permitem a aquacultura são zonas
protegidas e qualquer aspecto prejudicial para a sobrevivência dos peixes e
saúde pública é eliminado logo de início. A renovação da água é realizada a

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partir de efluentes sempre a montante, quando se trata de rios, ou então pela
simples movimentação das marés, quando as instalações estão localizadas em
estuários ou lagos que têm uma comunicação natural com o mar.
Nos últimos anos têm vindo a ser feitos grandes esforços de investigação
no sentido de diminuir o impacto da exploração intensiva de peixes sobre o
meio ambiente circundante, nomeadamente através da optimização e
estratégias de utilização das dietas. A optimização da utilização da fracção
proteica baixando de forma acentuada a excreção de amónia, a selecção e
avaliação cuidada das matérias-primas disponíveis e a melhoria significativa da
utilização e disponibilidade do fósforo são áreas fundamentais a consolidar.
Dada a exploração quase exclusiva de espécies de peixes carnívoras, os
alimentos para essas espécies exigem teores elevados em proteína de elevado
valor biológico, habitualmente fornecida pelas farinhas de peixe. Os sólidos em
suspensão de resíduos de alimentos e fezes, as perdas azotadas branquiais e
as elevadas quantidades de fósforo, são os tipos de poluição mais
preocupantes provocados pelas pisciculturas.
Basicamente, um quarto do azoto da ração consumida é incorporado pelo
peixe. Os restantes três quartos são libertados para o mar, na sua maior parte
como compostos dissolvidos (principalmente amónia). Este número é diferente
no que diz respeito ao fósforo, onde apenas um quinto é retido pelos animais,
sendo o resto evacuado principalmente como matéria particulada. O
melhoramento nutricional é uma forma de alterar estes números de uma
maneira ambientalmente mais aceitável. O alimento não consumido,
desperdiçado para o ambiente, representa uma proporção pouco conhecida,
geralmente avaliada aproximadamente em cerca de 15-20 % do total
distribuído.
Em condições normais, o impacto hidrológico na coluna de água não é fácil
de identificar, por causa da renovação de água necessária para a cultura dos
peixes. "Blooms" de plâncton são ocasionalmente comunicados em locais
fechados.
As matérias em suspensão são veiculadas pelas partículas alimentares
não ingeridas pelos peixes, podendo representar até 9 % nos alimentos
granulados (Kaushik, 1990), e pelos dejectos de origem fecal (alimentos não
digeridos ou parcialmente digeridos). As partículas sólidas em suspensão,

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geralmente imputáveis ao alimento, podem representar 50 % do total da
poluição em aquacultura (Bergheim et al., 1991).
De uma maneira geral, as proteínas alimentares são bem digeridas pela
truta (digestibilidade superior a 80 %). Este facto está relacionado com o
desenvolvimento precoce nos teleósteos do equipamento enzimático
necessário à degradação proteica (Kaushik, 1992a). No entanto, a qualidade
das matérias-primas utilizadas (composição em aminoácidos essenciais,
factores anti-nutricionais, granulometria, etc.), condiciona a sua utilização
digestiva (De La Higuera e Cadernete, 1987; Kaushik, 1992).
A digestibilidade da gordura (animal e vegetal) é também geralmente
elevada nos peixes (valores superiores a 90 %). Pelo contrário, a
digestibilidade da fracção glucídica apresenta uma grande variabilidade
nasdiferentes espécies de peixes (Singh e Nose, 1967; Guillaume, 1986;
Cowey, 1988). A fraca actividade amilásica intestinal e a indigestibilidade da
celulose em muitas espécies de peixes, originam um aumento dos dejectos
fecais quando se utilizam matérias-primas vegetais em teores elevados
(Kaushik, 1992).
No passado, muitos dos problemas verificados na alimentação dos peixes
estavam relacionados com uma fraca qualidade física dos alimentos, imputável
por sua vez a oscilações da qualidade das farinhas e óleos de peixe utilizados,
e a processos de fabrico e práticas de alimentação inadequados. O facto da
transferência de nutrientes da dieta para os peixes ser via meio aquático,
acarreta problemas diferentes das práticas tradicionais de alimentação animal.
Alimentos desintegrados e não ingeridos poluem a água, causam stress
devido a deplecções em oxigénio, influenciando o teor em matéria orgânica que
afectam o crescimento e estado sanitário dos peixes (Cho, 1990). A perda de
alimento devida a uma má gestão da alimentação (tabelas inadequadas,
frequência e número de refeições), são factores que influenciam
significativamente o aumento dos dejectos piscícolas (Kaushik, 1992a).
Os peixes são animais que excretam os metabolitos resultantes do
catabolismo proteico essencialmente sob a forma de amoníaco (70-90 %), ao
contrário dos animais terrestres que o fazem sob a forma de ureia ou ácido
úrico. Esta particularidade e o seu modo de vida aquático, permite aos peixes
desembaraçarem-se eficazmente dos produtos do metabolismo azotado com

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uma utilização da proteína para fins energéticos mais ou menos eficiente. A
maior percentagem de dejectos azotados solúveis é excretada pelas brânquias.

7.1. POLUIÇÃO QUÍMICA

A maioria dos químicos usados na aquacultura são para tratamento e


prevenção de doenças, apesar de também serem usados agentes de limpeza.
Os produtos mais comuns dividem em três classes:

- Desinfectantes tópicos, são usados para o tratamento de parasitas,


bactérias, protozoários e fungos;
- Organofosfatos;
- Antimicrobianos (tetraciclinas, aminoglosósidos, agentes antibacterianos
sintécticos entre outros)

As preocupações ambientas do uso de químicos no ambiente aquático


devem-se à toxicidade destes componentes, ao desenvolvimento de
resistências aos componentes pelos organismos patogénicos, o uso profiláctico
de medicamentos e período de tempo em que estes químicos se mantém
activos no ambiente.
A importância dos poluentes químicos sobre os organismos aquáticos
depende das suas propriedades ecotoxicológicas:

Biodegradabilidade: limita a persistência do poluente no meio, portanto


os seus efeitos físico-químicos e biológicos, favorecendo a sua integração nos
ciclos biogeoquímicos.

Bioacumulação: caracteriza a capacidade do poluente ser armazenado


nos tecidos animais e contaminar os ecossistemas através das cadeias
alimentares. É definida pelo factor de acumulação, que representa a relação
entre os teores no organismo e na água.

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Toxicidade: define os limiares a partir dos quais as funções biológicas
são perturbadas; a toxicidade aguda é determinada pela concentração que
conduz a 50% de mortalidade numa população experimental (CL50) exposta ao
poluente durante 48 ou 96 horas (CL50,48 ou CL50,96).

7.2. POLUENTES INORGÂNICOS


São essencialmente os elementos metálicos pesados, mercúrio,
chumbo, cádmio, assim como os oligo-elementos tais como o cobre, zinco,
selénio, que fazem parte de metaloproteínas e enzimas. Os que têm impacto
imediato ao nível da saúde pública são o mercúrio, chumbo, cádmio, arsénico e
selénio. São introduzidos na água pela erosão dos solos, esgotos industriais e
a sua toxicidade depende da sua forma química.
O envenenamento humano pelo mercúrio devido à ingestão de peixe
contaminado é do conhecimento público. O caso mais grave ocorreu na região
de Minimata no Japão. O peixe e marisco ficaram susceptíveis aos elevados
níveis de mercúrio orgânico da água, objecto de descarga de metilmercúrio
(organo-mercurial), efectuada por uma fábrica de plásticos. Entre as centenas
de pessoas envenenadas, 41 morreram e 19 crianças nasceram com mal
formações, filhas de mães afectadas. As águas continham de 1 a 10 ppb de
mercúrio. No alto mar os níveis típicos de Hg são da ordem dos 0.13 a 0.15
ppb. O mercúrio na sua forma orgânica é estável no organismo dos animais. O
mercúrio orgânico é suficientemente móvel num animal para passar qualquer
mecanismo de excreção. Os compostos de mercúrio orgânico concentram-se
mais nas células sanguíneas do que no plasma, e também em vários órgãos,
principalmente cérebro, fígado e rim.
O cádmio está quimicamente relacionado com o zinco e pode substituí-lo
nos sistemas biológicos. Os dois mecanismos principais de envenenamento
pelo cádmio são através da inalação de fumos e poeiras contendo óxido de
cádmio e através de ingestão de alimentos contaminados. No último caso, a
resposta primária dá-se ao nível dos rins.
A longo prazo a exposição a pequenas concentrações culmina com o
aparecimento de falha renal (disfunção tubular renal) . Outras manifestações de

19
casos mais graves são anemia, disfunção hepática, descalcificação óssea
(osteomalácia).
Um grave episódio de envenenamento pelo cádmio ocorreu no Japão na
região do rio Jitsu. Elevadas concentrações de cádmio foram encontradas na
água, peixe e arroz. As manifestações clínicas observadas foram dor à mínima
pressão sobre os ossos, deformação óssea e fracturas múltiplas. Esta forma de
envenenamento pelo cádmio ficou conhecida por doença de "Itai-Itai".
O chumbo actua no ser humano, principalmente como um inibidor
enzimático. Diminuí a síntese do heme, o que conduz a um decréscimo do
número, semi-vida e função das hemácias. O quadro clínico será de anemia
microcítica. Outros efeitos crónicos incluem lesão renal (nefrite crónica), lesões
cerebrais e dos nervos periféricos. Todos estes efeitos iniciam-se a níveis
sanguíneos maiores do que 0.5 ppb, no entanto abaixo deste limiar podem
ocorrer lesões cerebrais ligeiras e efeitos teratogénicos. Na natureza o chumbo
não está presente nos compostos orgânicos. Não se move tão rapidamente
para os sistemas biológicos, como acontece com o mercúrio. A absorção
através do tracto intestinal é da ordem dos 10%. Existe também um mecanismo
de excreção, pelo que o nível não aumenta tão dramaticamente com contínua
exposição a doses baixas. O efeito de inibição enzimática não parece
apresentar um limiar, indicando a existência de uma reserva enzimática. Isto
permite ao organismo "aceitar" uma determinada quantidade de chumbo sem
que sintomas sejam detectados.

7.3. POLUENTES ORGÂNICOS

A poluição orgânica é devida a diversas substâncias entre as quais


figuram os hidrocarbonetos petrolíferos, as moléculas tensio-activas utilizadas
nas limpezas, os diversos biocidas utilizados nos tratamentos intensivos contra
predadores (pesticidas). São caracterizadas por um uso extensivo, semi-vidas
relativamente longas no meio ambiente e potencial risco para as aquículturas e
consumidores. Os efeitos mais graves de poluição orgânica estão relacionados
relacionados com a deplecção de oxigénio, sendo o cálculo da necessidade
biológica de oxigénio utilizada para medir a gravidade da poluição

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7.3.1. HIDROCARBONETOS E SUBSTÂNCIAS TENSIO-

ACTIVAS

Constituem uma vasta classe de produtos, alguns dos quais são


constituintes normais dos tecidos como o fitano (C20H42), pristano (C18 H38)
ou o esqualeno (C30H50). Dissolvidos ou dispersos sob a forma de emulsões,
os resíduos dos hidrocarbonetos petrolíferos são ingeridos pelos organismos
aquáticos e participam no seu metabolismo lipídico. Fracas concentrações (0.1
a 1 mg/ l) são susceptíveis de conferir um gosto e odor desagradáveis ao
peixe. Admite-se, na generalidade que a toxicidade cresce no sentido
parafinas, olefinas e derivados aromáticos.
Ao baixarem a tensão superficial da água, os tensio-activos solubilizam as
gorduras e diminuem os teores de oxigénio. De modo geral, os peixes são mais
sensíveis à presença de tensio-activos do que os crustáceos e moluscos,
sendo os derivados iónicos mais tóxicos que os não-iónicos.

7.3.2. PESTICIDAS

Representam entre 300 a 400 substâncias tóxicas activas utilizadas em


mais de 2000 formulações, para luta contra predadores de culturas. Os
insecticidas clorados ( DDT, aldrina, dieldrina, heptacloro) foram gradualmente
sendo substítuidos por compostos menos persistentes e mais eficazes
relativamente a determinado predador , favorecendo assim as aplicações
localizadas, menos devastadoras para a flora e a fauna adjacentes.

Entre as classes de pesticidas, encontramos diversas funções químicas:

- Insecticidas: organoclorados, organofosforados;


- Acaricidas: carbinóis, sulfonas e sulfonatos;

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- Fungicidas: carbamatos e tiocarbamatos, derivados do benzeno e do
fenol;
- Herbicidas: carbamato, tiocarbamatos, ácidos fenoxiacéticos, triazinas,
compostos de amónio quaternários.

Entre os pesticidas, os organoclorados são os que apresentam maiores


problemas para o ambiente. Estes (principalmente o DDT e os seus
metabólitos, mas também a aldrina e a dieldrina), e os hidrocarbonetos
halogenados, são altamente solúveis em lipídos e fracamente solúveis na
água, facto que lhes concede um coeficiente de partição elevado nas gorduras
nos organismos aquáticos.
Os herbicídas e pesticidas organofosforados têm de modo geral uma
semi-vida curta para poderem ser transmitidos a um sistema de aquacultura, no
entanto se estiverem presentes em concentrações elevadas podem constituir
um risco para a saúde e para o sucesso do cultivo.
Os pesticidas de síntese actuam bloqueando os principais mecanismos
bioquímicos, tais como fosforilação oxidativa, actividade colinesterásica
(insecticidas), fotossíntese (herbícidas).

7.4. COMPOSTOS ORGANO-METÁLICOS

Formados por ligação do arsénico, mercúrio, chumbo e o estanho a


agrupamentos alifáticos e aromáticos de numerosos compostos, alguns dos
quais produzidos industrialmente e utilizados para diversos fins: biocidas
(organo-mercurais e organo- estânicos), carborantes ( organo-plúmbicos ),etc..
À excepção dos compostos arseniados, todos os organo-metálicos são
mais tóxicos para os organismos aquáticos do que os metais de que derivam
podem também ser biossintetizadas por microorganismos dos sedimentos.
Os organo-mercuriais são representados principalmente pelo
fenilmercúrio, outrora utilizado como pesticida agrícola, e pelo metilmercúrio.
Este último,constitui a forma mais frequente de mercúrio orgânico sendo, como
já foi focado anteriormente, fortemente tóxico para os organismos aquáticos.

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As bactérias do sedimento têm um papel importante no ciclo do mercúrio,
solubilizando-o sob a forma Hg2+ que é posteriormente metilada e acumulada
nas cadeias alimentares.
Os organo-estânicos, particularmente os tributiletanos, foram objecto de
utilização intensiva para a protecção das quilhas dos barcos contra a sujidade
biológica. O TBT libertado é fortemente tóxico.

8. MÉTODOS E SISTEMAS DE VIGILÂNCIA

Em geral, os requisitos para a realização da análise de determinada


amostra são a simplicidade, reprodutibilidade, celeridade e sensibilidade. O
processo de análise deverá ser simples de modo a não requerer grande perícia
técnica. Na medida em que o ideal é que a amostra seja recolhida antes do
produto chegar ao mercado, é exigida velocidade na análise. Reprodutibilidade
é importante, pois eventuais medidas legais a tomar serão baseadas nos
resultados.

8.1 COMPOSTOS ORGÂNICOS

É particularmente difícil vigiar o nível dos compostos orgânicos, devido à


sua grande variedade e correspondente diversidade nas respostas aos
diversos métodos de análise. O procedimento normal é submeter-se as
amostras a um processo de "screening" (frenagem) para identificar os grupos
de compostos, antes de se efectuarem os testes específicos, os quais
requerem equipamento relativamente sofisticado. Nos hidrocarbonetos, o
método mais específico é a detecção à chama de hidrogénio ligada à
cromatografia liquído-gás. A nível de pesticidas utiliza-se a cromatografia
liquído-gás equipada com detector de electrões.

23
8.2. CONTAMINAÇÃO INORGÂNICA

A seguir às preocupações com a saúde pública, o aspecto que coloca


maior cuidado é o efeito que a contaminação terá na produção do sistema
aquícola. Poderá ir desde a mudança na palatibilidade do produto até uma
mortalidade massiva. Quase todos os compostos inorgânicos terão um grau de
toxicidade, se presentes em concentrações suficientemente elevadas.
Evidentemente, o aquicultor terá preocupações acrescentadas se a sua
instalação estiver localizada a jusante de uma mina ou indústria química,
necessitando neste caso, de se proteger de eventuais descargas, efectuando
um cuidadoso estudo antes de começar a operar nessa área.
Os limites estabelecidos pela FAO são restrições cada vez mais
apertadas aos limites permitidos serão levadas a cabo em todos os casos de
contaminação.
Alguns dos métodos para análise de metais aplicáveis em aquacultura
são:
- Análise da absorção atómica;
- Espectroscopia de emissão;
- Análise de activação neutrónica.

9. FENÓMENOS ANÓXICOS

Consiste na retirada de oxigénio dissolvido na água, sendo causada por:


respiração de um número elevado de animais em produção, e pelo acréscimo
de respiração microbiana nos sedimentos e na coluna de água resultantes no
aumento do carbono orgânico do sistema.
Resultam de um saldo deficitário em oxigénio: entre os gases dissolvidos
o O2 é o que desempenha o papel mais importante para a qualidade biótica da
água de cultivo. O O2 introduzido na água pela fotossíntese fitoplanctónica e
pelas trocas entre a superfície da água e a atmosfera é insuficiente para
compensar as necessidades respiratórias e a degradação oxidativa dos
compostos azotados, fosforados e das matérias orgânicas carbonadas.

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A sua solubilidade na água é limitada, atingindo um valor máximo
denominado taxa de saturação, que depende inversamente da temperatura e
da salinidade.
Para se determinar este consumo, utilizam-se métodos de medição
directa da concentração de oxigénio na coluna de água (para os animais da
cultura) e a medição do consumo de oxigénio por respiração microbiana
através de cálculo das necessidades de oxigénio biológico. A concentração de
oxigénio inicial e final é determinada, e a diferença entre os dois resultados
indica-nos as propriedades de consumo de oxigénio relativas da água. Este
parâmetro depende da actividade metabólica das bactérias, da quantidade de
matéria orgânica presente e da actividade das algas e do zooplâncton.

10. BLOOM FITOPLANCTÓNICO

Certas condições do meio, tais como os teores de sais nutritivos


elevado, fraca agitação das águas e forte insolação, encontradas sobretudo na
Primavera, são favoráveis à multiplicação rápida do fitoplâncton. Estas
eflorescências conhecidas com o nome de "bloom fitoplanctònico", podem
conduzir à formação de elevadas densidades celulares (milhões de células/ L),
que conferem a sua coloração pigmentar à água (vermelha amarela, verde,
branca...).
A elevação da temperatura das águas conduz ao aumento do
metabolismo dos organismos aquáticos, portanto das suas necessidades
energéticas.
Estas últimas são satisfeitas quer pela matéria orgânica particulada
presente no meio natural, quer pelos aportes nutricionais adaptadas
qualitativamente e quantitativamente no caso dos sistemas de criação em meio
controlado. A matéria particulada é particularmente formada pelo fitoplâncton
vegetal, o qual constitui o alimento preferencial dos moluscos filtradores.
O fitoplâncton não se encontra de forma constante ao longo de todo o
ano, necessitando de condições climáticas favoráveis para se desenvolver das
quais a temperatura da água tem um papel determinante. As necessidades

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energéticas e a reprodução de numerosas espécies aquáticas são satisfeitas
pela biomassa fitoplanctónica. A produção vegetal resultante da fotossíntese,
apresenta-se sob duas formas: algas uniceluleres planctónicas de alguns micra
de dimensão e algas benticas consumíveis pelos herbívoros. Este fitoplâncton
constitui o alimento para o zooplâncton, o qual é por sua vez consumido pelos
peixes.
Os sais minerais em solução e as matérias orgânicas constituem as
reservas de azoto, fósforo e de silício indispensáveis ao desenvolvimento do
fitoplâncton. A sua carência é sobretudo limitante para o cultivo em mar aberto,
sem aporte de alimento.
A erosão dos solos, os resíduos urbanos e agrìcolas e a decomposição
da matéria orgânica detritica representam as principais vias de introdução de
do N e do P no meio marinho. Quando as quantidades introduzidas são muito
elevadas provocam uma "explosão" do crescimento vegetal, fitoplâncton e
algas, a qual gera nos ecossistemas costeiros graves desequilíbrios
designados pelo nome de eutrofização. Pelo que os sais minerais são
parâmetros muito importantes para avaliar o funcionamento destes
ecossistemas.

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CONCLUSÃO

A aquacultura devido aos aspectos de maneio da exploração e fixação


num determinado local possui vantagens ao nível do grande controlo exercido
em termos da qualidade do produto final. Estas vantagens advêm do controlo
das dietas, condições de culturas, possivelmente sobre algumas variavéis
ambientais e a capacidade de planear o calendário do processo da pré e pós
colheita. Esta calendarização das operações e a uniformidade dos "outputs"
permitirá às autoridades competentes exercerem um grau de controlo mais
elevado sobre os sistemas de aquacultura, quando comparado com a pesca.
Os riscos para a saúde pública de um sistema aquícola que utiliza águas
residuais são muito reais e devem ser considerados com maior preocupação e
cuidado em termos de vigilância e inspecção pelas autoridades sanitárias.
Tendo-se o cuidado de estabelecer estudos vocacionados a fornecer
informação detalhada dos possíveis efeitos que podem resultar para o
consumidor e vida aquática adjacente, não esquecendo dados sobre qual o
destino dos afluentes e dos organismos cultivados em caso da sua
contaminação e morte massiva.
Fezes, alimentos não digeridos e urinas da aquacultura intensiva em
jaulas, podem causar alterações ou reduções na biodiversividade,
principalmente de forma indirecta, através de reduções na diversidade de
habitat. Como resultado final, tem-se uma simplificação das cadeias tróficas e
uma redução da eficiência de reciclagem de energia e nutrientes.

A dinamização da aquacultura em Portugal, em particular da cultura de


animais aquáticos, é um imperativo nacional para obviar a redução das actuais
capturas e acorrer à bem conhecida apetência da população portuguesa pelos
produtos de origem aquática. Actualmente, o volume de produção da
aquacultura é representado na sua maior parte por ostras e outros bivalves
destinados à exportação.
Apesar de muitos dos inconvenientes da aquacultura, das ameaças devido
à poluição, uma rentabilidade por vezes problemática, vários autores estimam
que a produção aquícola poderá igualar, no início do século XX, os valores da

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pesca. Segundo Nash (1987), a projecção de dados relativamente ao ano
2000, tendo em conta os critérios económicos dos países produtores (e após
indicadores do Banco Mundial), mostra que a produção deverá atingir 22
milhões de toneladas, o dobro da produção de 1984. A aquacultura que
representa 13% da produção do pescado actual, passará a 25% em tonelagem.

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BIBLIOGRAFIA

- Beveridge, M.; Stewart, A.; “Cage culture: limitations in lakes and


reservoirs”; Inland fishery enhancements; FAO, Fisheries technical paper 374;
1998.
- Gomes, E.; Rema, P.; “Desenvolvimento da aquacultura como um
sistema de produção animal em equilíbrio com o meio ambiente”; Revista
Portuguesa de Zootecnia; Vila Real; 1996
- Jones, A.; “Environmental managemente of aquaculture effluent.
Development of biological indicators and biological filters’’; University of
Queensland, Australia; 1998
- Midlen, A.; Redding, T.; “Environmental management for aquaculture”;
Kluwer Academic Publishers; London; 1998.
- www.oceest.pt
- www.fao.com

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