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MARGINALIDADE, POBREZA E EXCLUSÃO SOCIAL : UMA QUESTÃO

HISTÓRICA

Roberto Jarry Richardson (*)

RESUMO
O presente trabalho é uma tentativa de resgatar o significado do conceito de
marginalidade, pobreza e exclusão, percorrendo a sua evolução e
características históricas. Mais especificamente, procura-se mostrar que o
conceito de exclusão social, faz referência aos mesmos problemas que a
noção de marginalidade fazia nas primeira décadas do século XX : a
desintegração social e a discriminação de pessoas e grupos, produto do modo
de produção capitalista, com uma diferencia importante, é um conceito
relacional adequado ao estudo das mudanças econômicas e sociais do mundo
ocidental neste século.

Conceitos chaves: marginalidade, pobreza ,exclusãosocial

1. Considerações preliminares

Existe uma abundante e crescente bibliografia relacionada com o


conceito de exclusão social. Alguns autores iniciam seus trabalhos supondo
que o leitor potencial, conhece as características do conceito. Outros,
introduzem suas publicações oferecendo algum tipo de definição do mesmo.
Muitos, dedicam várias páginas e considerações tentando descobrir qual é o
conteúdo mais preciso, advertindo que o significado do conceito depende de
muitos fatores e contextos sociais. Cabe destacar, que sendo o conceito um
termo de uso comum, que pode ser utilizado para explicar uma variedade de
situações, é necessário delimitá-lo, tentando eliminar dele os elementos
estranhos à ciência, particularmente, às ciências sociais, facilitando assim, a
formulação de políticas públicas destinadas a enfrentar suas causas e efeitos.
Para J. F.Tezanos (1999), o conceito exclusão social tem-se popularizado nos
ambientes sociais e políticos, antes de se consolidar como uma teoria
sistemática... A prática cotidiana está na frente da conceituação acadêmica,
agora, é necessário restabelecer o equilíbrio para impulsionar o
desenvolvimento da investigação.
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O tema está presente nos planos dos governos, na mídia, no discurso


político e acadêmico. O conceito de exclusão social passou a formar parte do
cotidiano de todos os países. De acordo com Mariângela Wanderley (2003),
não é só um fenômeno que atinge os países mais pobres. Pelo contrário faz
referência ao destino de exclusão da grande maioria da população mundial,
seja pelas condições impostas pelo mundo do trabalho ou por situações
provocadas por modelos e estruturas econômicas que criam desigualdas
absurdas na qualidade de vida das diversas sociedades.

Assim, o trabalho tem como objetivo apresentar a evolução das


principais idéias sobre o conceito de “exclusão social”, a partir de inícios do
século XX e aprofundar a análise das características básicas, atualmente,
atribuídas a esse termo, mostrando seu caráter universal e polêmico.

Historicamente, os pobres da terra (mendigos, pedintes, errantes e


outros), moraram em espaços sociais, e passaram séculos constituindo um
universo de estigmatizados. No entanto, a partir dos anos 90, surge um novo
conceito – a exclusão – protagonista de um intenso debate acadêmico e
político. De acordo com Paugman ( 1996: 14):

se na atualidade, a maioria dos problemas sociais


são aprehendidos atravês deste conceito, é preciso
ver alí,o resultado da degradação do mercado de
trabalho, particularmente intensa no início da
década, e também a evolução das representações e
das categorias de análise.

Busso e Gorbán (2003) fazem uma reflexão extremamente interessante


dos processos de mudança social na Argentina, analisando a rua (“la calle”)
como espaço de trabalho de catadores de lixo e feirantes. Sem dúvida suas
ideais se aplicam ao Brasil, América Latina e, também, o que não acontecia
no passado, aos países hegemônicos.

Concordando com as autoras mencionadas, as transformações que


caracterizaram o mundo de trabalho capitalista, na década de 90, com a
aplicação do modelo econômico neoliberal, configuraram uma situação
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marcada pela expulsão das pessoas do mercado de trabalho, seja pela


extinção dos postos ocupados, ou por ajustes na estrutura das empresas e
fábricas. Essa situação levou a que um número cada vez maior de
trabalhadores veja reduzidas suas possíveis fontes de renda. Nesse contexto,
a rua foi um dos poucos espaços desse mercado que abriu suas portas aos
desempregados, como mais uma trincheira desde donde poder resistir à
incontrolável queda na miséria e na marginalidade.

Assim, as ruas, além de integrar os itinerários ou caminhos que


conduzem de um lugar a outro, se transformam em um local de trabalho, as
vezes, regulamentados por medidas legais (normas para a colheita do lixo),
onde interagem tensões, conflitos, relações de poder e as identidades sociais
são redefinidas.Seguindo as idéias de Gorbán (2005), a rua é o espaço para se
dirigir a algum lugar, para o encontro com outra pessoa, para o passeio e para
conversar com muitos. Também é o espaço que sempre temos a mão, que é de
todos, que podemos usar, sujar, e até gritar. No entanto, nos últimos anos,e
cada vez maior o numero de pessoas para as quais a rua é um “lugar”, e
particularmente, um lugar de trabalho, onde se compartilham histórias, relações
e identidades. Em outra palavras, a rua é o espaço que excluídos acharam
possível para prover os recursos necessários para garantir o sustento da sua
vida e da sua família. Isso, quaisquer um de nós, pode constar.

Assim, o espaço da rua, o espaço físico transforma-se em um espaço


social onde se desenvolve uma multiplicidade de relações e processos.
Vendedores ambulantes, catadores de lixo e outros, a partir do trabalho, fazem
da rua o seu lugar de vida. Sua aparição, através de discurso e da ação
(Arendt, 2005) no espaço público, lhes permite ser vistos por outros,
apresentar-se e ser representados.
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2. Bases históricas do fenômeno

O conceito exclusão social tem sido amplamente utilizado nos diversos


paises, particularmente, na Europa a partir de la década de 80.

Considerando a crescente abrangência do fenômeno, a luta contra a


exclusão social tem se convertido em um dos grandes desafios que devem
enfrentar as sociedades ocidentais. A exclusão social evoluiu junto com as
mudanças produzidas nas diversas sociedades pela aplicação, na década de
90, do modelo capitalista neoliberal, extremamente prejudiciais para a grande
maioria da população mundial. Hoje, não podemos identificá-la com o que
tradicionalmente foi chamado de “pobreza”, nem, apenas, considerá-la um
problema de raízes econômicas. A exclusão constitui uma realidade complexa,
multifacetada que tem por trás emaranhado de condicionamentos, causas e
conseqüências (Consejería de Bienestar Social y Sanidad de Melilla, Espanha.
2007).

Como uma primeira aproximação, concordo com Saunders e Tsumori


(2002) do Instituto de Estudos Independentes de Londres, Inglaterra. Segundo
esses autores um novo conceito, "exclusão social", está substituindo um mais
antigo e tradicional, a idéia de pobreza. O termo exclusão social pode significar
qualquer coisa e se aplicar a quase todos. No entanto, diferente de pobreza,
sempre implica causa. Se identificamos pessoas como socialmente excluídas,
estamos pressupondo que não devem ser responsabilizadas pela sua
condição. A exclusão é algo que acontece às pessoas. São em certa medida
vítimas, em um sentido que o conceito de pobreza não pode tratar. São outros
os responsáveis. Alguém foi responsável pela estrutura econômica de
desemprego, pela discriminação racial, pela discriminação da mulher, dos
velhos e das pessoas com deficiência.

Como têm evoluído as idéias sobre exclusão social? No seu livro


“Teorias da Exclusão” Martine Xiberras (1993), parte da constituição de três
conjuntos de teorias, simultaneamente cronológicas e temáticas, nos
proporcionar um modelo explicativo do fenômeno da exclusão. Esta autora
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inicia seu estudo a partir dos denominados “pais fundadores" da sociologia:


Durkheim, Simmel e Max Weber. Estes sociólogos adotaram como objeto de
estudo a questão da coesão social. O fundamento de suas teorias consistia
em que o equilíbrio social e a coesão dos agregados humanos dependem de
duas grandes variáveis: a coesão das relações sociais, ou a natureza do laço
social, e a coerência das representações coletivas, ou a natureza do laço moral

Embora estes autores não tenham abordado diretamente o fenômeno


da exclusão, todavia indicaram pistas importantes, particularmente, para quem
defende a idéia de exclusão como problema de coesão social.

Para Caetano (2007) Émile Durkheim apresenta as categorias de


solidariedade mecânica e de solidariedade orgânica, para compreender as
formas do laço social horizontal, que liga os homens em coletividade e
possibilita tecer relações de solidariedade. Durkheim analisa, sobretudo a
influência da consciência coletiva sobre a natureza do laço social. A partir da
abordagem do termo solidariedade que possibilita vincular os homens entre si,
coloca em evidência a forma como o laço social se desfaz, quando não é
diretamente substituída por outras representações coletivas adequadas, a partir
de uma modelização.

Émile Durkheim, acadêmico francês ( 1858 – 1917),considerado o pai


da sociologia, um dos melhores teóricos da coesão social. Por outro lado, é
também considerado o pai da sociologia positivista, ou seja, uma sociologia
metódica, que toma como modelo de análise o rigor das ciências exatas do
século XX: a física, a biologia, a medicina. Este autor vai estudar as formas de
solidariedade, na perspectiva de descrever as formas de agrupamentos assim
como, a lei de funcionamento da sociedade. Apresentando duas formas de
solidariedade. Na solidariedade mecânica ou natural, descreve o laço social
existente nas sociedades tradicionais ou primitivas, a partir dos agrupamentos
estáveis e restritos, onde os indivíduos são intermutáveis porque se
assemelham, simultaneamente, do ponto de vista da sua função no grupo e da
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identidade das suas representações. Este tipo de solidariedade expressa-se de


forma natural ou mecânica, a partir do contato ou proximidades entre os seres
humanos. (XIBERRAS, 1993, p.44).

A solidariedade orgânica é específica das sociedades modernas,


consiste na idéia de que a divisão do trabalho opera uma diferenciação cada
vez maior das tarefas e das profissões entre os indivíduos. Segundo o
pensamento de Durkheim, nessas sociedades, os homens assumem funções
diferentes, mas todas constituem indispensáveis à vida social. Este autor
analisa o funcionamento da sociedade similar ao funcionamento do corpo
humano. Embora cada parte do corpo desempenhe funções diferentes, todas
são importantes. Desse modo, as pessoas embora ocupem posições desiguais
na sociedade, devem cumprir bem o seu papel, independente da sua função,
ou lugar, para obtenção do equilíbrio social. A pessoa que não entra nesse
equilíbrio é considerada desviada da sociedade, uma pessoa desajustada.
(XIBERRAS, 1993).

Para Durkheim, a evolução histórica da humanidade tem possibilitado a


passagem do primeiro tipo de solidariedade para o segundo. Para este autor, a
solidariedade que é alcançada a partir de uma consciência coletiva, possibilita
aos indivíduos incorporem uma imagem a partir sentimentos e convicções
comum a uma determinada sociedade. Esta consciência coletiva se expressa
em forma de idéias, valores e sentimentos. Portanto, a força e o grau de
intensidade desta consciência coletiva, varia de acordo com a força ou o grau
de coesão desses indivíduos de um para com o outro. (MIGUEL, 2003, p.25).
Nesse contexto, “la ‘anomia’ implica la desagregación de los valores y ausência
de referencias a nivel del tejido de las relaciones humanas. Resulta de la falte
de adhesión a los valores que se hallan em el plano de las representaciones”.
Desse modo, Durkheim, refere-se e se preocupa com a questão das
“sociopatías”, diferenciando as pessoas normais da patológica. Portanto, as
patologias, assim como as anomalias seriam resultados da falta de
solidariedade existente nas sociedades modernas.(MIGUEL, 2003, . Assim, nas
sociedades modernas, a partir da fragilização dos espaços sociais de
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integração, tais como família, trabalho, religião, etc, e a progressiva


individualização, a categoria “anomia”, vai expressar a figura principal da
exclusão em Durkheim.

Segundo ESCOREL (1999, p.61), a anomia representa

...no plano das representações, a desagregação dos


valores e a ausência de referencias, e, no plano das
relações sociais, indica a desagregação do tecido social e
a falta de adesão aos valores. A anomia descreve um
mecanismo de exclusão macro e microssocial que atinge
facilmente a desagregação da ordem social pela morte do
ser humano: o suicídio anomico. Anomia contém a idéia
de morte, individual depois coletiva”.

Georg Simmel, sociólogo alemão da segunda metade do século XIX,


aborda nesses mesmos vínculos, as modalidades das relações de alteridade.
Entretanto, este pensador tenta esclarecê-la a partir dos conceitos de
proximidade e distância e da categoria do “estrangeiro”: o laço social global na
sua forma microssocial, na interação entre os homens. Max Weber se interessa
particularmente pelo laço político, definido como aquele que liga os agentes
sociais às autoridades que os submete. O autor analisa a natureza dos
vínculos sociais verticais: o que liga os homens às representações coletivas às
quais aceitam submeter-se e que constituem, de fato, valores comuns a todos.
Nesse aspecto, essas teorias têm em comum o objeto de estudo “o desvio”
(grupos excluídos) enquanto uma categoria da população. Nesse caso, a
exclusão é definida pelo “excesso”, no sentido de que o fenômeno se expande
materialmente nos processos de urbanização. (XIBERRAS, 1993).

A sociologia desenvolvida por Simmel, analisa fundamentalmente à


interação, ou seja, a relação de reciprocidade que ligam os indivíduos entre si.
Portanto, para ele, a consistência da coesão social, se dá, sobretudo, na
interação, na relação com o outro. Simmel analisa essa deficiência nas
representações coletivas na ralação com o outro, se dá a partir da alteridade,
no modo de pensar a diferença (proximidade/distância), fazendo uso da figura
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do estrangeiro. Como referência, ele analisa a Cidade Antiga, identifica o


estrangeiro no interior (escravo) e o estrangeiro no exterior (o bárbaro). Com o
bárbaro não existe uma relação, “a relação é uma não relação, é a distância
máxima, um não reconhecimento de qualquer similitude, sequer a mais geral, a
da humanidade”. Simmel define o vinculo social da modernidade como
excludente por natureza. Assim, no contexto das diferenças, as interações são
de estranhamento e hostilidade. (ESCOREL, 1999, p.61).“A barbárie. Na
Grécia Antiga, os Bárbaros são considerados como estrangeiros que não
pertencem ao grupo. A relação é uma não-relação, porque a relação de
semelhança geral (aqui a sua humanidade) lhes é recusada. É um caso de
distancia máxima” (XIBERRAS, 1993, p.68).

Max Weber, economista e sociólogo alemão (1864 – 1920) apresenta


uma terceira perspectiva no âmbito dos pais criadores da sociologia,
centrando-se nos aspectos constitutivos da sociedade (política, economia,
direito, religião, etc.)Trata-se da sociologia compreensiva Ele define como
objeto da sociologia “a atividade social”, que vai além do fato social, apresenta
“a idéia de um movimento, que o agente social pode imprimir no socius que o
rodeia”. (XIBERRAS, 1993, p.76). Segundo este autor, existe três tipos de
dominação legitima: a dominação tradicional, a carismática e a legal. Weber se
opõe fundamentalmente a Durkheim quando vai estudar o espírito do
capitalismo. Enquanto para Weber o capitalismo consiste num sistema de
representação coletivo, para Durkheim, o capitalismo é, sobretudo uma
representação em nível do individual. O indivíduo é que se conduz diretamente
a anomia. Portanto, Max Weber, centra seus estudos no objetivo de
compreender as razões que levam os indivíduos aceitar a subordinação,

...legitimando su accionar es que los indivíduos logram


tarnsformar la disciplina em adhesión. Es asi que, em la
trama social de la modernidade, los sujeitos legitiman su
subordinación com relación a uma estructura material –
economia- y/o espiritual – religión-, em tanto se considera
que quedar por fuera de esta legitimación econômica y/o
religiosa implica quedar por fuera también de la
legitimación social, generándose implicitamente
relaciones de exclusión social para aquellos que no logran
tal letigimación. (MIGUEZ, 2003, p.27).
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Enfim, os três pensadores que vivem na mesma época, considerados


os pais da sociologia preocupam-se essencialmente com os mecanismos de
coesão social das sociedades modernas. Não estudam as populações
excluídas, entretanto, esboçam formas e processos de exclusão próprios da
modernidade. Portanto, o conceito de anomia consiste a figura principal de
mecanismo de exclusão neste contexto. O conceito de desvio é herdeiro do
pensamento de Durkheim e Simmel. Este conceito emerge a volta do conceito
de anomia, a partir do seguinte argumento: quando a densidade social
aumenta, a densidade moral decresce. (XIBERRAS, 1993,p.95).

Nesse sentido, a questão central desse primeiro grupo de teóricos,


denominados criadores das “teorias da sociologia clássica”, constitui a
problemática interrogativa do porquê e o como os seres humanos viveram em
conjunto. Estes autores se esforçaram para demonstrar os mecanismos da
ordem social e global, assim como da composição do laço social na sociedade
moderna. (XIBERRAS, 1993). Nesse contexto, a sociologia vai se debruçar
sobre a exclusão enquanto um tema da moral, um problema do indivíduo,
combatendo os desajustes sociais e morais, para garantir o bom
funcionamento do sistema capitalista.

Margarita Lozar , socióloga da Universidad Complutense de Espanha,


no seu trabalho Marginación y Pobreza ( 2002) faz uma excelente síntese da
evolução do conceito de exclusão social, a partir de pensadores do século XIX.
Segundo Lozar, com a publicação, em 1928, no American Journal of Sociology,
do artigo de Roberto Park, Migração humana e homem marginal (Human
Migration and Marginal Man), entre em cena um conceito que terá uma grande
importância para estudar alguns fenômenos característicos da sociedade
moderna. No entanto a autora adverte, desde o primeiro momento, só através
de uma intenso processo de extensão e dispersão semântica pôde chegar a ter
as conotações atuais.
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Park estava, particularmente, preocupado das doutrinas que tentam


explicar, a partir de uma causa dominante, as diferencias culturais que existem
entre raças e povos. De Montesquie deriva a escola que procura explicar tais
diferenças a partir das características climáticas e do contexto físico. José
Arthur, o conde Gobineau, no seu Ensaio sobre a desigualdade da raça
humana (Essai sur l'inégalité des races humaines), de 1853-5, considerada a
bíblia do racismo moderno,considera que as diferenças culturais se explicam
por características inatas das raças, transmitidas por herança biológica.
Gobineau, afirmava que a raça branca era superior às outras, e os arianos,
identificados como os louros de descendência germânica, eram superiores aos
demais brancos.

Sem embargo, a Park lhe resulta mais atrativa, por referir-se a uma
grande diversidade de fatos e permitir a explicação de um maior número de
situações, o que ele denomina “teoria catastrófica da civilização” que teria suas
origens no pensamento de Hume, na Inglaterra e Turgot, na França. Segundo
tal teoria, mais importante que as raças e a manutenção de suas
características, é o contraste, fusão, incluso o antagonismo entre elas.

Nesse contexto, Park incorpora o fenômeno dos movimentos


migratórios, à análise das guerras e revoluções. Para ele, a emigração tem
importância especial e não deve ser estudada apenas no seus aspectos
superficiais e externos que fazem referência às mudanças na moral e nos
costumes, mas deve ser tratada, também, nos seus aspectos subjetivos.

Assim, será necessário prestar atenção às mudanças que a emigração


produz nos tipos de personalidade. Quando a organização da sociedade
tradicional se rompe (perde a coesão) como resultado do contato e choque
com uma nova cultura invasora, podemos afirmar que o efeito é a emancipação
do individuo. Libertam-se as energias que estavam controladas pelos costumes
e tradições. Em certa forma, a pessoa converte-se em estrangeiro e
cosmopolita, a secularização passa a ocupar o lugar da antiga mentalidade
sagrada.
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Seguindo as idéais de Lozar (op. cit), nesta primeira elaboração do


conceito de “homem marginal” podem-se destacar os seguintes aspectos:
trata-se de um individuo que, como conseqüência da emigração encontra-se
entre dois raças, povos e/ou culturas, emancipado em relação à sua e livre
frente à nova, portanto, em uma situação de relativa independência, que pode
estimular o surgimento de respostas inovadoras. Alguns anos mais tarde, Park
afirma que o típico homem marginal é aquele que possui uma herança racial
misturada.

Na introdução do livro de E.V. Stonequist, O Homem Marginal (The


Marginal Man), publicado em 1937, dedicado à análise do conceito de Park.
Este último, faz por primeira vez, e da maior importância menção aos efeitos
desorganizadores da marginalidade. O homem marginal, é aquele que o
destino condenou a viver em duas sociedades e em duas culturas, não só
diferentes, mas antagônicas.

Stonequist, caracteriza quatro tipos pessoa marginal: o emigrante


estrangeiro, o emigrante de segunda geração, o judeu emancipado do gueto e
o mestiço. Além desses, menciona outros tipos de marginalidade, o
desclassificado, o emigrante do campo para a cidade e a mulher que assume
novos papeis na sociedade. Mas, concentra sua análise, nos primeiros quatro.

Nos anos seguintes à publicação do livro de Stonequist, os


pesquisadores centraram seus estudos na segunda geração de emigrantes.
Diversos fatos, favoreceram esta escolha: o índice relativamente alto de
criminalidade, a desorganização social e o aumento dos problemas emocionais
dos indivíduos. Alem disso, os estudos procuravam mostrar que a
marginalidade não está intrinsecamente relacionada a questões étnicas e
raciais. Golovensky (apud. Lozar (2002 ) , critica as conotações avaliativas da
marginalidade e o fato que o conceito se aplique apenas a grupos étnicos,
quando em nas sociedades modernas existem muitos outros tipos de homens
nessa condição.
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De acordo com Miguel (2003) na primeira metade do século XX, uma


equipe de sociólogo integrante da Universidade de Chicago, renova a
problemática da sociologia, ao estudar diretamente as formas de
decomposição social e os grupos definidos como anônimos. Portanto, teve-se
início os estudos sobre as possíveis formas de decomposição da questão
social, fundamentado pela teoria denominada da ecologia humana da coesão
do laço social, objetivando a recomposição desses laços sociais
(Universidade de Chicago, anos 20-30). Os autores vinculados a este tempo e
a esta Teoria, concebem a cidade como um organismo natural, na qual se
agregam a organização material e a organização moral. Desse modo, a
interação de ambas as organizações implica a adaptação de uma a outra
organização. A concepção que sustenta esta teoria se fundamenta da idéia de
que qualquer agregado humano naturalmente se organiza material e
espiritualmente, enquanto uma condição da preservação do equilíbrio da
humanidade.

Desse modo, a Escola de Chicago estuda desde os anos 30, a questão


da densidade moral nas grandes metrópoles industriais. Os estudos analisam
os mecanismos que conduzem a desagregação moral e à desagregação do
tecido social e provocam a exclusão material e moral do gueto. Analisam como
os guetos, enquanto um espaço social recompõe, à sua maneira, um laço
social parcial de tipo comunitário. (XIBERRAS, 1993, p.96).

E, posteriormente, tem-se a partir dos anos 60, a corrente do


interacionismo simbólico, que vai estudar as formas de exclusão simbólica, nos
Estados Unidos da América, através de estudos sobre as perspectivas e o
objeto da criminologia americana e retoma as idéias da Escola de Chicago.
Esses pesquisadores vão demonstrar que o crime ou a delinqüência, não são
os únicos fatores sociais sancionados pela sociedade, estendendo toda uma
categoria de práticas sociais, a exemplo o alcoolismo, as doenças mentais, que
acarretam também uma forma de sanção pela sociedade instituída. Nesse
contexto têm-se os estudos de Becker: Outsiders (1963), de Goffman: Stigmate
(1961), David Matza, Delinquency and drif (1964). Nesse sentido, as categorias
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do “desvio” (Becker) e de “estigma” (Goffman), muito tem servido de substrato


teórico para análise do fenômeno da exclusão em contextos urbanos e
metropolitanos. Estes autores vão demonstrar que as minorias forjam também
formas de resistência e proteção, aos processos de exclusão de ordem
simbólica. (XIBERRAS, 1993).

David Riesman em Individualism Reconsidered and Other Essays(1954)


lamenta, que nessa época e, particularmente, nos Estados Unidos de Norte
América, a atitude sociológica seja de desagrado e de nostalgia em relação à
marginalidade, considerando apenas seus aspectos negativos, esquecendo
que nos sistemas sociais do passado existiam desarraigados. A condição de
marginalidade seria sinônimo de alienação.

No seu livro, The Lonely Crowd (publicado no Brasil em 1995, “A


Multidão Solitária”) Riesman, deixa claro que o sentimento de solidão, produto
de emigração, pode expandir a aspiração de ser diferente, o que não existia em
épocas anteriores.

Na atualidade, os pesquisadores tem substituído o conceito de


marginalidade, pelo conceito de pobreza e, particularmente, de exclusão social,
mais abrangente e relacional.

No entanto, seguindo as idéias de Lozar, foi necessário uma mudança


semântica importante para chegar aos atuais significados do conceito. Não
deixa de ser significativo que o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa define
marginalidade, como “posição marginal em relação a uma forma social”;
marginalização, como, “efeito de marginalizar”, e, marginalizar como “impedir a
integração ou participação de (alguém) em um grupo, no meio social, na vida
pública etc”. Por último, de acordo com esse Dicionário, a locução “à margem”
é utilizada para indicar que alguém não tem participação em algum assunto.
Assim, essas definições supõem a existência de dois mundos, e que a
separação ou distanciamento de um deles, se produz por ação do outro,
deixando-o em uma situação desfavorável.
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3. O conceito de marginalidade em América Latina.

Para Mario Theodoro( 2002), pesquisador do Instituto de Pesquisa


Econômica Aplicada (IPEA) em contraposição à ideologia keynesiana da
CEPAL do Estado planificador e desenvolvimentista ( industrialização integral
por meio de planejamento e de decidido apoio estatal) capaz de reverter o
subdesenvolvimento, a chamada Teoria da Dependência viria, já nos anos
1960, recolocar sob novas bases toda essa problemática.

Segundo essa abordagem, de cunho estruturalista, o


subdesenvolvimento não seria apenas um problema de relação entre centro e
periferia, mas principalmente no que diz respeito às relações entre as classes
sociais internamente ao país. Para Kowarick,(1977,p. 65) “...é uma teoria que
abrange fatores macroestruturais, tanto políticos e econômicos,como
sociológicos e culturais, a partir dos quais se analisa a trajetória histórica das
sociedades periféricas tendo em vista suas relações com os países centrais”.

A idéia de marginalidade urbana é resgatada pelos teóricos da


Dependência na explicação da pobreza e da miséria nas grandes cidades do
continente. Com efeito, o subemprego, tido como um dos principais elementos
constitutivos de uma economia subdesenvolvida, estaria associado à idéia de
marginalidade e seria visto agora não mais como um fenômeno passageiro
e/ou fortuito. Ao contrário, seria, antes, o produto mais imediato e perene do
processo de modernização via industrialização (Theodoro, 2002).

O subdesenvolvimento seria a essência do crescimento econômico


“dependente”; a marginalidade urbana, sua expressão mais concreta. O
subemprego como resultado último desse processo “vicioso” – como a própria
marginalidade e o subdesenvolvimento – só encontraria uma reversão se
houvesse perspectivas de mudanças estruturais na sociedade.

Para Theodoro (op.cit), a principal contribuição do enfoque da


dependência/marginalidade parece residir na contextualização do
subdesenvolvimento dentro de um arcabouço explicativa mais amplo, onde a
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dimensão econômica aparece como importante – e mesmo primordial - mas


não como a única. Fatores ligados à conformação social, à formação histórica e
mesmo cultural apareciam como constitutivos. A fronteira entre o
subdesenvolvimento e o desenvolvimento não poderia ser transposta apenas
pela adoção de um conjunto de políticas tecnicamente adequadas. A questão
passava a ser vista como algo mais abrangente e estrutural. Introduzia-se
assim uma perspectiva histórica e social que ultrapassava a visão técnica e
economicista do problema do subdesenvolvimento.

Os dois enfoques da CEPAL e o da teoria da marginalidade –


coexistiram, ainda que com uma certa margem de conflito, durante a década de
1960 e início dos anos 1970, cada qual proliferando em um espaço bem
definido. O pensamento cepalino continuava a nortear as diretrizes da política
desenvolvimentista utilizada pelos governos latinoamericanos, enquanto que a
marginalidade ganhava espaço na discussão acadêmica. Nos anos 1970,
porém, as estatísticas recém-publicadas mostraram que mais de uma década
de crescimento vivenciada pelos países da região não haviam se traduzido em
uma reversão do quadro de subemprego.Ao contrário, mesmo países que
experimentaram um elevado grau de crescimento econômico no período – caso
do Brasil – teimavam em exibir largos contingentes da força de trabalho
subempregada (Hoffmann, 1980 e Jatobá, 1989). De algum modo, o que
preconizava a teoria cepalina não encontrara eco na realidade vigente, pelo
menos no que se referia ao mercado de trabalho.

Para Aníbal Quijano (apud Maiolino e Mancebo, 2005), um dos mais


destacados estudiosos da marginalidade, a palavra [marginalidade] introduziu-
se em nosso meio como referência a certos problemas surgidos no processo
de urbanização posterior à Segunda Guerra Mundial, como conseqüência do
estabelecimento de núcleos de populações recentes e de características sub-
standard na periferia do corpo urbano tradicional da maior parte das cidades
latinoamericanas. ... Como, precisamente, esses povoamentos se levantaram,
em regra geral, nas bordas ou margens do corpo urbano tradicional das
cidades, o mais fácil era denominá-los “bairros marginais” e seus habitantes,
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“populações marginais”. ... O problema que estes grupamentos encerravam se


constitui uno problema das “populações marginais

Assim, para Maiolino e Mancebo, Quijano circunscreve de forma clara


não apenas a origem do termo marginal, mas também sua vinculação à
questão do crescimento acelerado e desigual das grandes cidades, ocorrido,
sobretudo,a partir da década de 1950. Ressaltando que moradias precárias
não se encontravam apenas nas áreas marginais, mas também eram
localizáveis nos setores mais centrais e tradicionais das cidades. Além disso,
não era unicamente a moradia ou a habitação como tais que se encontravam
em precariedade, mas todo o conjunto de ‘serviços comunais’ (água, esgoto,
luz elétrica, transportes) de certas áreas da cidade

Em geral, a teoria da marginalidade pretendeu explicar a existência de


uma parcela de trabalhadores urbanos que, na América Latina, não se
integrava aos setores modernos da economia. Tratava-se basicamente dos
trabalhadores autônomos, ambulantes, prestadores de serviços, atividades
domésticas. Eles constituíam um “massa marginal” (Nun) ou “mão-de-obra
marginalizada” (Quijano). O conceito de exército industrial de reservas (Marx)
não daria mais para dar conta desse setor. O contingente de desempregados
existiria para suprir as fases de expansão do capital e para pressionar para
baixo os salários. Nun e Quijano consideram que os “trabalhadores marginais”
não servem para os setores hegemônicos da economia – não funcionam mais
como reserva, são “excedentes”. Nas palavras de Hobsbawn “ Não se pode
dizer que este elemento funcione como um ‘exercito industrial de reserva’ no
sentido clássico,... Pode ser dito que uma proporção do excedente de trabalho
é irrelevante para a economia, “marginal”. (apud Caetano, 2007, p.58).

Nesse contexto, a teoria da marginalidade vai servir para explicar um


fenômeno tipicamente latino-americano, próprio do capitalismo dependente ou
periférico. Seguindo as colocações de Lesbaupin (2001), poderia servir para
explicar o surgimento de um setor que não consegue se integrar no
desenvolvimento capitalista – ou que é expulso do setor dinâmico da economia.
17

O “marginalizado” assemelha-se ao termo utilizado por Marx de


“lumpenproletariado”. Marx não contemplava este setor no conjunto da classe
trabalhadora, reconhecido nesse contexto como os pobres, mendigos,
vagabundos, criminosos, prostitutas. Nesse contexto, Marx, falava que na
França pairavam cerca de 5 milhões que eram oficialmente reconhecidos como
aqueles que pairavam à margem da existência, e sejam do campo ou da
cidade, “tem seus casebres no próprio campo, seja continuamente abandonado
no campo pelas cidades e as cidades pelo campo, com seus trapos e crianças.
(LESBAUPIN, 2001, p.31).

Portanto, quanto ao conceito de “exército industrial de reserva”, Marx o


elaborava em O Capital, sobre o processo de acumulação do capital. Segundo
Marx o capital cresce sempre e que a força de trabalho absorvida por ele
também cresce, mas em proporções constantemente decrescente. Sobra,
portanto, sempre uma parte da população operária desempregada. Essa
superpopulação relativa constitui um contingente disponível para os mementos
de expansão do capital. Portanto, o exército de reserva exerce pressão sobre o
exercito operário em atividade, refreando as suas exigências, sobretudo para
manter os salários controlados. Assim, Marx também vai falar de uma
população “os últimos despojos” dessa superpopulação os que se refugiam na
órbita do pauperismo. Essa massa cresce nas épocas de crise: as viúvas, os
órfãos, idosos, deficientes, inaptos ao trabalho, como também pessoas
capacitadas para o trabalho e que ficaram de fora (LESBAUPIN, 2001).

Para Kowarick (apud. LAVINAS, 2002) nesse momento a marginalidade


é reconhecida como inerente ao sistema capitalista e, sobretudo, às
sociedades dependentes que, ao adotarem o modelo da substituição de
importações, dão lugar à constituição de um mercado de trabalho dual,
formado por dois setores independentes. A pobreza é retratada pela expansão
dos excedentes populacionais, pelos grupos marginais que não encontram
trabalho no setor formal e moderno da economia e que costumam viver nas
favelas.De novo, a pobreza é entendida como uma forma de exclusão: não
pertencer à nova classe trabalhadora portadora do projeto de modernidade
social.
18

Segundo Lavinas (2002), duas idéias-força - marginalidade e dualidade -


intimamente ligadas à dinâmica do mercado de trabalho nas sociedades
periféricas, vão, assim, informar o debate sobre pobreza no Brasil e também na
América Latina, sob a influência do pensamento cepalino (uma industrialização
tardia e fortemente excludente, marginalizadora, como propôs a teoria da
dependência). Tal matriz vai permanecer até meados da década de 70. Nela,
os pobres são aqueles que permanecem no mercado informal, onde
predominam os setores tradicionais e atrasados, à margem do setor moderno
da economia e que, por isso mesmo, não conseguem romper com a cultura
da pobreza e adotar os novos valores urbanos-industriais das sociedades
capitalistas desenvolvidas.

Oliveira (apud, Lavinas 2002), critica essa posição demonstrando que a


exclusão não era dada pela forma inadequada, disfuncional da integração
produtiva dos trabalhadores, mas pela sua exclusão dos “ganhos da produção”,
dos frutos do crescimento econômico:

“[…] a expansão capitalista da economia brasileira


aprofundou no pós-64 a exclusão que já era uma
característica que vinha se firmando sobre as outras e,
mais que isso, tornou a exclusão um elemento vital de
seu dinamismo” ( Lavinas, p:42).

Segundo Alexsandro da Silva (2003) a teoria da marginalidade foi uma


reação ao modelo da modernização que preconizava uma mudança no modelo
capitalista tradicional, ou melhor, uma modernização no âmbito da produção. A
idéia dominante era a de que na medida em que o ritmo da urbanização se
acentuava devido à intensificação das migrações internas, as populações
migrantes passaram a se localizar na periferia ou nas áreas decadentes das
grandes metrópoles, dando origem ao que se chamou de bairros marginais
(KOWARICK, 1981).
19

O foco das análises residia sobre os “espaços de pobreza”, periferias,


favelas, e como se estruturavam em face do capitalismo, decorrentes da rápida
urbanização. O “conteúdo programático” da Marginalidade pode ser resumido
em pontos como: (a) marginais seriam espaços de pobreza, caracterizados
pela precariedade dos meios de subsistência e habitabilidade (como as
favelas); (b) tais espaços seriam homogêneos, do ponto de vista social e
cultural; (c) a população possuiria indivíduos problemáticos, com
desorganização e pouca adaptabilidade a “cultura dominante”, entre outros
aspectos (KOWARICK, 1981).

Seguindo Da Silva (op.cit.) a teoria da marginalidad enfatizava os


aspectos macroestruturais, tendo como categoria principal a acumulação
capitalista. Achava-se, nesse momento, que o desenvolvimento seguia estágios
e que os países do terceiro mundo poderiam conseguir alcançar o pleno
desenvolvimento. O problema era, então, dualizado entre o tradicional e o
moderno.

O Centro de Desenvolvimento Econômico e Social da América Latina


(DESAL)(*), criado na década de 60, no Chile, teve uma grande
importância no combate da marginalidade no continente, manteve estreito
contato com o governo de John Kennedy dos EUA e com a Aliança para o
Progresso, órgão criado por esse país para colaborar com o trabalhão
assistencial dos governos de AL. O DESAL passou a defender a intervenção
do Estado na questão relativa à marginalidade com o argumento de que ela
afetava todas as esferas da vida social, nos seus aspectos econômicos,
sociais, culturais e políticos, incapacitando, inclusive os próprios marginais
de se integrarem. A morte do Presidente Kennedy e o conservadorismo do seu
sucessor, o compromisso que essa instituição tinha com os diversos governos
do continente americano, o aumento da pobreza e os mínimos efeitos das
poucas medidas tomadas para enfrentar a marginalidade, contribuíram para o
fim do DESAL em inícios da década de 70.

Em geral, o avanço do capitalismo, a deterioração crescente das condições de


vida da maioria da população da América Latina e dos paises “em
20

desenvolvimento” e, a falta de clareza das propostas dos defensores da teoria


da marginalidade, levaram ela a perder espaço para a pobreza.

Podemos afirmar que O Mito da Marginalidade de Janice Perlman, publicado


em 1977, foi o funeral da teoria de marginalidade. A autora coloca que toda a
construção teórica da marginalidade na tentativa de criar um “outro mundo”, à
parte da sociedade (como as favelas cariocas), não era adequado na medida
em que a exclusão é também um aspecto constituinte e necessário à cidade
capitalista, tendo nesta seu papel integrador. Utilizando como objeto de
estudo a remoção de favelas no Rio de Janeiro, Perlman conclui que os pobres
estariam integrados ao sistema econômico e social que se reproduz para toda
a sociedade, possuindo uma função específica neste sistema:

A marginalidade é um mito, e também a


descrição de uma realidade social. Na
qualidade de um mito, serve de fundamento
para crenças pessoais e interesses da
sociedade; suas profundas raízes no espírito
dos indivíduos não se deixarão abalar por
qualquer análise teórica. Na qualidade de
descrição de uma realidade social, refere-se
a um conjunto de problemas específicos que
precisam ser abordados desde um ponto de
vista teórico diferente, a fim de que seja
corretamente compreendida (PERLMAN,
1977,p.285).

_______________________________________

(*) O DESAL assessorou o governo democrata-cristão chileno de Frei, no


período de 1964 a 1970. A criação desse órgão esteve estreitamente vinculada
ao avanço experimentado pelos partidos democratas cristão na Europa do pós-
guerra, particularmente na Alemanha Ocidental e na Itália.
21

Em geral, a Teoria da Marginalidade foi um momento extremamente


importante para América Latina, ao igual que a Teoria de Dependência. Um
momento de transição entre as teorias que dividiam o mundo em grupos
“numéricos”: Primeiro, Segundo, Terceiro, etc. e as novas abordagens ligadas
aos efeitos desastrosos do capitalismo neoliberal e da “globalização”.
Lamentavelmente, na atualidade, o conceito de marginalidade, marginal e
outros, está muito relacionado com violência e delinqüência.

4. A noção de pobreza

Considero que uma das caracterizações mais importantes do conceito


de pobreza foi feita pelo Programa Global Estratégias e Técnicas contra a
Exclusão Social e a Pobreza (STEP) da Organização Internacional do Trabalho
(OIT) que intervém em duas áreas temáticas interdependentes: a extensão da
protecção social aos excluídos e as estratégias integradas de inclusão social.

Farei a análise à luz do relatório A luta contra a pobreza e a exclusão


social em Portugal. Experiências do programa nacional de luta contra a
pobreza, publicado pelo Organização Internacional do Trabalho, Programa
Estratégias e Técnicas contra a Exclusão Social e a Pobreza, em Genebra,
2003

Para o STEP (2003) , durante muito tempo, a pobreza foi considerada


uma «anomalia» na evolução normal de uma sociedade moderna. Por
tanto,não necessitava de intervenções por parte da sociedade no seu todo, o
através do Estado, nem de teorias específicas.

Tinha-se como certo que o crescimento econômico associado (e muitas


vezes confundido) com a idéia de desenvolvimento, teria como conseqüência
inevitável a redução da pobreza, pelas maiores oportunidades de emprego,
consumo e riqueza criadas.

Nesse sentido, a pobreza era vista do ponto de vista econômico, como


uma ausência de riqueza, com as conseqüentes privações. Isso podia ser
22

resolvido pelo crescimento econômico ou, pontualmente, por ações


compensatórias de tipo assistencialista (aos mais pobres).

Segundo STEP (op. cit), acreditava-se que os países “ricos” estavam


livres desse «problema», ou que, pelo menos, estava sob controle, como
conseqüência dos seus processos de desenvolvimento. Assim, a pobreza era
marca “registrada” dos países subdesenvolvidos.

Infelizmente, esse é um dos maiores flagelos estruturais dos países em


desenvolvimento, chegando a níveis desumanos e trágicos de privação e
miséria em uma grande parte da população mundial. Mas, na década de 70 e
80, de acordo com as autoridades das organizações internacionais e dos
governos dos países hegemônicos, se os países “pobres” imitassem os (bons)
exemplos dos países mais ricos, a pobreza, também, deixaria de ser um
problema.

As últimas décadas (sobretudo desde meados da década de 80 até


hoje) vieram contudo desmentir, de forma alarmante, essa pretensão dos
países “desenvolvidos”

Em geral, o conceito de pobreza foi, durante muito tempo, associado a


insuficiência de rendimentos e/ou de consumo (bem-estar material), tendo
evoluído, nas últimas décadas, em função das suas nefastas manifestações
nas sociedades contemporâneas.

Nesse sentido, segundo o Banco Mundial (2001) podem-se considerar


cinco grandes perspectivas, agrupadas em duas categorias.

4.1 Privação fisiológica

Neste caso privilegia-se a abordagem das condições materiais da vida,


segundo duas perspectivas diferentes:
23

4.1.1. Abordagem centrada no rendimento e no consumo

É a perspectiva mais tradicional das organizações internacionais,


relacionada com a chamada política econômica de bem-estar, em que se
define uma linha de pobreza, em termos absolutos ou relativos, segundo
um determinado nível de rendimento e/ou consumo, sendo pobres os
que se encontram abaixo de uma linha de pobreza .

4.1.2. Abordagem centrada nas necessidades humanas básicas

Neste caso, considera-se um certo nível de necessidades básicas


relativas à alimentação, vestuário, abrigo, água potável, saneamento básico e
educação, como mínimo necessário para prevenir doenças, desnutrição e
analfabetismo.

Esta perspectiva foi sobretudo desenvolvida nos anos 70 e permitiu, em


relação à anterior, alargar o leque das necessidades básicas consideradas no
conceito de bem-estar. Representante importante desta corrente foi Paul
Streeten, fundador e presidente do Conselho de Desenvolvimento Mundial,
consultor do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e
da UNESCO. Particularmente importante é o seu trabalho com Sahid Burki e
colaboradores: First Things First. Meeting Basic Human Needs in the
Developing Countries publicado em 1981 pela Oxford University Press

4.2 Privação social

Esta lógica enfatiza a natureza social da pobreza, com a conseqüente


degradação das relações sociais. Podemos identificar três abordagens
diferentes neste grupo:

4.2.1 Abordagem centrada no conceito de pobreza humana.


24

Desenvolvida pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento


(PNUD), no final da década de 90, com base, fundamental, nos trabalhos do
indiano Amarthya Sen um dos fundadores do Instituto Mundial de Pesquisa em
Economia do Desenvolvimento (Universidade da ONU)., prêmio Nobel de
Economia em 1998, pelas suas contribuições para a teoria da decisão social, e
do Estado de Bem-estar. No seu artigo, Poor, relatively speaking , em
Resources, Values and Development, publicado na Inglaterra pela Oxford:
Basil Blackwell em 1984, utiliza como referência para tratar a pobreza, os
conceitos de capacidades (o que podemos fazer) e funções (o que fazemos).

Nesse sentido, segundo o STEP (op.cit), a pobreza é a incapacidade de


desenvolver uma vida longa, saudável e criativa e de usufruir de um nível
decente de vida, com liberdade, dignidade, respeito por si próprio e respeito
dos outros.

4.2.2. Abordagem centrada nas consequências ao nível da exclusão


social.

Adotada sobretudo pelo Instituto Internacional de Estudos Laborais, da


Organização Internacional do Trabalho, com base às idéias do sociólogo inglês
Peter Townsend (1985), para quem a pobreza deve ser vista essencialmente
como a não disponibilidade dos recursos necessários para fazer face às
condições de vida e de conforto genericamente difundidas (padrão de vida
dominante) e participar nas atividades sociais e culturais da sociedade a que se
pertence.

Para o STEP, o conceito de pobreza associa-se assim à discussão dos


conceitos de cidadania de integração social.

4.2.3. Abordagem participativa

Para os defensores desta abordagem, o International Institute for


Environment and Development (Instituto Internacional para o Meio-ambiente e
o Desenvolvimento (IIED), em inícios da década de 90, a questão fundamental
25

não era o conteúdo do conceito mas quem o define, propondo-se, para esse
efeito, a participação ativa dos próprios pobres.
Nesse sentido, a pobreza começa pela não participação, pelo que os
aspectos mais relevantes, segundo esta abordagem, serão necessariamente a
falta de dignidade, de auto-estima, de segurança e de justiça, que impedem a
participação, para além do acesso à saúde e a uma vida social, mais do que a
um rendimento.

Assim, de acordo com a descrição do STEP, nos últimos anos, o


conceito de pobreza tem vindo portanto a alargar-se, centrando-se atualmente
na ausência de recursos, considerados estes numa perspectiva
multidimensional, ou seja, incluindo os de natureza econômica, social, cultural,
política e ambiental.

Nessa linha situa-se já a definição de pobreza adotada na Europa, por


decisão do Conselho da União Econômica Européia, de 19 de Dezembro de
1984:

“Por pobres devem entender-se as pessoas, famílias e grupos de


pessoas cujos recursos (materiais, culturais e sociais) são tão limitados que os
excluem do nível de vida minimamente aceitável do Estado-membro onde
residem”

Por outro lado, a pobreza pode ser considerada em termos relativos ou


absolutos, consoante se defina o limiar de pobreza com referência ao padrão
de vida dominante na sociedade ou sem essa referência, respectivamente.
Para o STEP, também é comum utilizar um segundo modelo de análise dos
conceitos de pobreza, associado à forma como é identificada a população
pobre. Têm-se assim os conceitos subjetivos, quando a avaliação que um
indivíduo faz das suas condições de vida face à pobreza é integrada no
processo de identificação (caso da abordagem participativa), ou os conceitos
objetivos, quando tal avaliação não é considerada.
26

Entretanto, a globalização, para além de outros fatores, está na origem


do aparecimento de novas formas de manifestação do fenômeno da pobreza,
que também afeta as economias hegemônicas. Esta nova pobreza não se
restringe à escassez de recursos materiais, podendo traduzir-se pela não
participação no padrão de vida dominante devido a fatores como a
escolaridade, a idade, o desconhecimento das novas tecnologias e a falta de
integração no vasto mundo da informação cibernética.

É neste contexto mais amplo que o conceito de exclusão social tem vindo
a ganhar importância, relativamente à definição de pobreza.

4.3 Algumas características da pobreza ?

Fassin (1996) com o objetivo de analisar os pressupostos contidos na


noção de pobreza construiu, em termos muito gerais, três figuras que, mesmo
que não se refiram exatamente à pobreza, a circundam, podem explica-la.
Termos como exclusão, marginalização e “underclass”, são produtos de
tradições teóricas distintas e realidades sociais expecíficas; o certo é que os
três termos não podem ser considerados em nenhum momento como
sinônimos, ainda que, aparentemente, esquadrinhem os espaços e
grupossociais bem similares. Na França, por exemplo, o termo exclusão tem
sido amplamente usado referindo-se ao que se vem chamando de questão
social, enquanto nos Estados Unidos, o mais usado para estudar a pobreza é o
de “underclass”; finalmente, na América Latina, predomina a palavra
marginalização.

Exclusão é um conceito fortemente ligado às literaturas política e


acadêmica francesas. Na França, os excluídos são habitantes dos bairros
pobres, reprovados no sistema escolar, os desempregados há longo tempo, a
população que não tem acesso à assistência social e médica. Em cada caso é
possível ler o princípio em que se apóia o diagnóstico da exclusão: “é a
existência de duas populações distribuídas de um lado e outro de uma linha
simbólica - a fronteira da cidade, o padrão escolar, o contrato de trabalho, a
seguridade ou a assistência social. O espaço social é, portanto, descontínuo,
27

comum ‘dentro’ onde se acham os indivíduos integrados e um ‘fora’ onde vivem


as pessoas excluídas” (FASSIN, apud BOTELLO, 2006 p. 133)

O termo underclass tem uma história de mais de trinta anos nos


Estados Unidos e, semelhante ao conceito de exclusão, possui origem política
mais que acadêmica. Geralmente, atribui-se a Gunnar Myrdal a criação do
termo, com o objetivo de designar uma classe desprivilegiada de
desempregados, sem perspectiva de emprego e subempregados, vítimas da
própria dinâmica do sistema econômico (Gans, 1996). Sem uma definição
precisa, underclass designa, na década de 1970, os grupos sociais mais
desfavorecidos: com menor mobilidade social, vivendo em desemprego e
desqualificados para atender às exigências do mercado de trabalho. Os críticos
do conceito, particularmente, Gans e Wilson, advertem para que não se
atribuam as causas de uma condição social a um comportamento individual ou
de grupo (Botello,2006).

O conceito de marginalização ou marginalidade – analisado em


páginas anteriores - oferece uma imagem da urbanização que apresenta um
“centro” e uma “periferia” de uma cidade, onde a dotação de serviços urbanos –
transporte, água, esgoto, energia elétrica - delineiam a fronteira entre um e
outro. Da mesma forma, na esfera econômica, a relação “centro/periferia”
dependerá da pessoa estar ou não inserida no mercado formal de trabalho. O
conceito de marginalização apresenta, na maior parte das vezes, três variáveis:
inserção de certos grupos sociais no mercado de trabalho, sua posição
espacial no meio urbano, assim como seu ambiente cultural; contudo, a
complexidade do modelo pode tornar impossível uma análise detalhada e mais
específica, uma vez que seus críticos afirmaram que os marginalizados não
são um grupo sociologicamente identificável (Botello, 2006).

Na acepção mais imediata e generalizada, defendida por Amarthya Sen,


pobreza significa falta de renda ou pouca renda. Para a autora, uma definição
mais criteriosa define pobreza como um estado de carência, de privação, que
pode colocar em risco a própria condição humana. Ser pobre é ter, portanto,
sua humanidade ameaçada, seja pela não satisfação de necessidades básicas
28

(fisiológicas e outras), seja pela incapacidade de mobilizar esforços e meios em


prol da satisfação de tais necessidades. “O fato ‘pobreza’, qualquer que seja
seu grau ou definição, é sempre assimilado ao ‘problema’ da pobreza, seja no
plano ideológico e moral, seja no plano político e econômico”.(DESTREMEAU
B. E SALAMA P.,2002, P.108).

Segundo Max-Neef, Elizanlde e Hopenhayan, as necessidades humanas


constituem um sistema composto por dois grandes grupos: (i) as necessidades
existenciais que dizem respeito ao ser, ao ter, ao fazer e ao interagir ; e (ii) as
necessidades axiológicas, que tratam da subsistência, da proteção, do afeto,
da compreensão, da participação, da criação, do ócio, da identidade e da
libertade. Esse sistema dispensa uma dicotomia entre o que é fundamental e o
que não é, pois todas essas necessidades mostram-se essenciais e devem ser
garantidas em quantidade suficiente (LAVINAS, 2002).

Concordando com Lavinas, tal concepção questiona a caracterização da


pobreza vigente na Inglaterra, assentada num elenco hierarquizado de
prioridades, a começar pelo direito à susbsistência. Como identifica Townsend,
a vertente nutricionista (Rowntree, 1918), na busca de elementos que possam
definir o que é pobreza, vai estabelecer que pobre é todo aquele que não se
beneficia de um padrão de subsistência mínimo, baseado na ingestão diária de
um requerimento calórico dado. Portanto, inicialmente, pobreza e fome são
quase sinônimos e se confundem na identificação de quem é pobre. Nesse
enfoque, as necessidades humanas aparecem limitadas às necessidades da
sobrevivência física – comer, vestir-se - desconsiderando o social. Esse é ainda
hoje o enfoque que prevalece na definição da pobreza absoluta ou da
indigência : um padrão de vida aquém do que é exigido para assegurar a mera
subsistência ou sobrevivência.

Para Estivill (2003).Townsend, nos seus estudos sobre a pobreza na


Grã-Bretanha e à escala internacional, estabeleceu em torno do termo de
privação, não só uma lista de bens e de serviços necessários como também
em relação ao nível de vida da sociedade. Nesse estudo do sociólogo inglês
merece destaque a importância de compreender as necessidades, não só nos
29

países ricos, mas especialmente, nos países de terceiro mundo. De tal modo,
que na década de 1990, começam a manifestarem-se novos fenômenos que
exigem novos conceitos para identificá-los. Os termos “marginal” e “nova
pobreza” vão ser os dois mais utilizados no contexto europeu.

Por sua vez, Serge Pauman (2003) , renomeado sociólogo francês da


atualidade, considera que existem duas formas de compreensão do conceito
de pobreza: a teoria da “cultura da pobreza” de Oscar Lewis, e a tese da
pobreza “estrutural”. A cultura da pobreza é ao mesmo tempo uma adaptação e
uma reação dos pobres à sua posição marginal em uma sociedade de classes
estratificada, extremamente individualizada e capitalista.

Para esse autor, os teóricos da pobreza estrutural contestam a idéia de


uma cultura específica de pobreza, ou seja, a explicação da reprodução da
desigualdade social por causas internas, representadas por deficiências
individuais transmitidas de geração para geração. Nesse sentido, propõem que
se leve em consideração as pressões estruturais. Pois, se os excluídos são
afastados temporariamente ou definitivamente do mercado de trabalho e das
instituições oficiais, isso não ocorre porque eles se desinteressam pelos
valores da sociedade em geral. Entretanto, são as suas perspectivas diante da
perda do emprego, da ausência de uma renda estável, de qualificação
profissional, que se vêem em condições desiguais de acessar os benefícios
sociais e econômicos da sociedade. Ao contrário, estão condenados a viver por
mais ou menos tempo em um contexto cultural no limite da exclusão social.
(PAUGAM, 2003).

O pesquisador espanhol José Felix Tezanos (1999) afirma que, na


atualidade, os processos de exclusão nos colocam na perspectiva de uma
problemática social própria das sociedades pós-industriais . A noção de
pobreza poderia situar-se no marco das sociedades industriais ou tradicionais.
30

A partir desses posicionamentos podem-se estabelecer as seguintes


diferenças:

Quadro 1- Diferenças entre as noções de pobreza e exclusão social

Aspectos de
Pobreza Exclusão social
diferenciação
Situação É um estado É um processo
Caráter básico Pessoal Estrutural
Sujeitos afetados Indivíduos Grupos sociais
Basicamente Multidimensional (aspectos
Dimensões unidimensional laborais,econômicos, sociais,
(Carências econômicas) culturais)
Sociedades industriais Sociedades pós-industrais e/ou
Âmbito histórico
(ou tradicionais) tecnológicas avançadas
Enfoque analítico
Sociologia do desvio Sociologia do conflito
aplicado
Variáveis
Culturais e econômicas Laborais
fundamentais
Tendências sociais
Pauperização Dualismo social
associadas
Riscos agregados Marginalização social Crise dos vínculos sociais
Dimensões pessoais Fracasso, passividade Desafiliação, ressentimento
Evolução Residual, estática Em expansão. Dinâmica
Distâncias sociais Acima - abaixo Dentro-fora
Variáveis ideológico- Liberalismo não
Neoliberalismo desregulador
políticas que influem assistencial

Fonte: J.F. Tezanos (1999): “Tendencias de dualización y exclusión social en las


sociedades avanzadas. Un marco para el análisis”, Sistema, Madrid, p.32.
31

No final dos oitenta, na América Latina, na Europa e no mundo tudo,


aqueles que viviam à margem desaparecem das páginas dos jornais e das
preocupações da ordem pública, enquanto aumentam as capas com aqueles
que vão sendo vítimas das conseqüências da crise econômica e, muito
especialmente, da reestruturação do processo produtivo. Essa nova realidade
atinge as populações que nunca pensaram vir a ser afetada pela precariedade.
Assim, a “nova pobreza” é muito bem representada pelos trabalhadores
qualificados expulsos do seu trabalho devido às reconversões industriais e às
alterações tecnológicas. Observa-se alguns pequenos empresários,
comerciantes, artesãos e profissionais sem possibilidade de adaptação,
pessoas, especialmente mulheres, que tendo responsabilidades familiares não
podem obter trabalho ou que o perdem, pessoas que se endividam para além
das suas posses. Não se trata de inaptos para o trabalho e sem relações
sociais. Estes grupos compõem um setor social com dificuldades relacionadas
com o emprego e com os seus salários. Dessa forma, os termos da nova
pobreza vão encontrar um certo eco na Espanha (Candel, F., 1988), na
Inglaterra (Room, G., 1990), na França (Paugam, S., 1991), e na Itália
(Saraceno, C., 1990), constituindo objeto de debates transnacionais,
(ESTIVILL, 2003, p.13).

Cabe destacar o resgate que Lavinas (op. cit) do pensamento de Georg


Simmel, que intelectuais como Serge Paugam, , consideram o fundador da
“sociologia da pobreza”. Cabe destacar que Simmel, no início do século XX,
define pobre como todo aquele que é assistido. Os pobres, enquanto categoria
social, não são aqueles que sofrem de déficits ou privações específicas, mas
os que recebem assistência ou deveriam recebê-la, em conformidade com as
regras sociais existentes. Por isso mesmo, a pobreza não pode ser definida
como um estado quantitativo em si mesmo, mas tão-somente a partir da reação
social que resulta dessa situação específica.
32

Para a autora, cabem três observações sobre o pensamento de Simmel


em relação a sua definição do que é ser pobre.

A primeira é derivada da compreensão de que a pobreza é uma


construção social, pois é enunciada como uma categoria específica, que
responde a critérios de identificação. Segundo Lavinas (op cit) tratar da
pobreza implica discutir métodos e formas de identificá-la, analisá-la, medi-la
ou estimá-la. Constata-se, aqui, uma convergência evidente entre Simmel e os
primeiros estudiosos engajados nesse processo de identificação (economistas
e estatísticos ingleses) que, através de pesquisas de orçamento familiar junto
às camadas pobres, tentaram estabelecer uma definição de pobreza. Simmel
caracteriza o pobre como aquele que não tem meios de atender às
necessidades impostas pela natureza, quais sejam alimentação, vestuário e
moradia.

A segunda observação diz respeito ao aspecto relacional da definição de


Simmel, pois a pobreza, ao pressupor uma “reação da sociedade”, expressa a
existência de uma relação de interdependência, a existência de vínculos,
entre aqueles designados como pobres e os demais. Logo, os pobres não são
aqueles que se encontram excluídos da sociedade ou à sua margem, mas os
que, fazendo parte desse todo orgânico, são contemplados por medidas
assistenciais. Nesse sentido, continua Lavinas, dar assistência ao pobre ou
combater a pobreza aparece como um fator de equilíbrio e de coesão social,
que atua em prol da comunidade como um todo. Em lugar de se constituir num
fator contra o risco (seguro), a assistência é entendida como um mecanismo de
proteção da sociedade em benefício próprio (redução do risco dos não pobres
frente aos pobres). Na visão simmeliana, a pobreza deve ser combatida em
prol da prosperidade pública

Um terceiro aspecto a ser enfatizado refere-se à natureza dessa relação,


mediada por direitos e deveres. É um dever da sociedade combater a
pobreza e um direito dos pobres receber assistência. Mas esse direito é
limitado, tal como a responsabilidade social de assistir. Assim, o que está em
33

jogo é a definição ótima de um mínimo necessário à manutenção dessa relação


em condições aceitáveis, pois conceder mais do que o mínimo seria ética e
moralmente indesejável, indo além do que implica o dever de assistir. Por outro
lado, não assegurar o mínimo poderia ameaçar a estrutura social. Direitos e
deveres são, assim, regulados, em torno a um mínimo, que varia segundo o
modelo de solidariedade nacional e de harmonia social. Nesse modelo de
solidariedade, a assistência é um dever da comunidade e um direito do pobre.

Segundo Lavinas, a definição simmeliana de pobreza, pelo viés da


assistência, o enfoque das necessidades básicas insatisfeitas e a concepção
de Amarthya Sem, onde ser pobre é ter sido destituído das condições de agir
em prol da obtenção de um nível aceitável de bem-estar, resumem três
importantes correntes do pensamento contemporâneo em relação à pobreza.

Para concluir a análise da evolução desse conceito, considero


importante a contribuição de Hélène Thomas (1997), cientista social francesa,
na periodização no tratamento da pobreza pelos pensadores europeus. De
acordo com Lavinas, a autora identifica três grandes correntes. Na década de
60, predomina, o conceito de necessidades insatisfeitas que pressupõe a
definição de um padrão mínimo de condições de vida. A carência é, assim,
instituída como direito. Vivem na pobreza absoluta ou na indigência todos
aqueles cujo padrão de consumo situa-se abaixo do mínimo vital em razão do
seu déficit de renda. Para calcular qual a renda adequada em função do
tamanho das famílias, estabelece-se uma escala de equivalências.

Nos anos 70, o conceito de pobreza relativa passa a figurar como medida
para identificar qual a « posição social » do pobre vis-a-vis o padrão médio de
consumo da população como um todo. É pobre relativamente ao conjunto da
população quem se situa abaixo desse padrão médio de consumo, tanto na
renda, quanto no acesso a bens e serviços. Passa-se de uma abordagem
centrada exclusivamente na renda para um enfoque mais amplo, o da falta de
recursos. A pobreza (a intensidade da pobreza) passa a ser calculada com
base numa medida de desigualdade (LAVINAS, 2002).
34

Thomas destaca que a Comunidade Econômica Européia (CEE) , introduz


já ao final dos anos 70 a categoria dos excluídos, em torno da qual vai-se
reconfigurar o debate teórico e metodológico sobre pobreza a partir da década
de 80. De acordo com Thomas, surge uma nova categoria, uma
“metacategoria”, a exclusão.

Em geral, concordando com Lavinas, com a caracterização feita pelo


STEP/OIT, e com a periodização de Thomas, essas concepções estão
relacionadas com a orientação e formulação das políticas públicas para
enfrentar a pobreza, tanto na Europa, quanto na América Latina.

4.4 Da pobreza à exclusão.

De acordo com Farmacki e Ward ( 2007) , em um sentido bíblico o


primeiro exemplo de exclusão é a expulsão de Adam e Eva do Paraíso.Até
esse momento, ambos formavam parte do Éden , com os mesmos direitos e
responsabilidades. Posteriormente,,tribos e grupos de indivíduos se juntaram
pra assegurar a sobrevivência de uma comunidade. No entanto, não existia
muito contanto entre comunidades vizinhas. Mais tarde, esses grupos se
transformaram em nações e impérios. Já na época dos gregos, Platão
distinguia entre agricultores, artesões e cidadãos, estabelecendo uma
hierarquia social; os filósofos, os cidadãos, artesões, e, totalmente excluídos,
os escravos e as mulheres –não deveriam ter direitos políticos e sociais.

Na Idade Média e entre os séculos XII e XIX, os excluídos eram pessoas


consideradas indesejáveis pela Igreja: criminosos, pobres, algumas ocupações
(mercadores), mulheres, portadores de deficiências, etc. Nessa época
percebemos a exploração dos excluídos por parte da sociedade .Avançando na
história, com a revolução industrial desenvolve-se o capitalismo e a exploração
do proletariado. Já no século passado surgem as corporações multinacionais
com o objetivo de aumentar lucros às custas dos empregados e do meio
ambiente (Farmacki e Ward , 2007).
35

Em princípio, o estado de exclusão é velho como a humanidade e


refere-se a processos de segregação justificados sob diferentes motivações.
Por questões religiosas, tem sido explicada a segregação milenar dos parias na
Índia e, mais recentemente,dos católicos na Irlanda, por questões de saúde,
tem sido explicada a segregação dos leprosos na Antigüidade e dos aidéticos
na modernidade. Por questões políticas tem sido explicado o,ostracismo entre
os gregos e o exílio dos subversivos modernos; por questões econômicas, tem
sido explicada a segregação dos vagabundos na sociedade inglesa do século
XVIII e dos “não-empregáveis” na sociedade contemporânea globalizada, estes
últimos colocados como objetos privilegiados de estudos sobre processos de
exclusão (RIBEIRO, 1999)

De acordo com Fretigné(1999), um dos primeiros pensadores a falar dos


excluídos, a partir dos anos 1980, com a persistência dos efeitos da crise do
petróleo, com as transformações no processo produtivo devidas às inovações
tecnológicas,registrou-se uma distorção entre os níveis de oferta ede procura
por trabalho. Os primeiros programas de formação e as tentativas de
flexibilização da legislação trabalhista, criadas para enfrentar esse
problema,não impediram o crescimento do desemprego. A variável econômica
assumiu, então, uma posição explicativa central, porque a situação de
desemprego e/ouas formas atípicas de emprego alteravam negativa-mente os
salários. A nova pobreza corresponderia,assim, a uma população cuja
participação na vida econômica e social seria conjunturalmente aleatória.

O termo exclusão social começou a ser utilizado na França, na década


de 60, como forma de fazer referência, de um modo impreciso, a problemas de
pobreza. A partir da década de 80, os países europeus vem observando um
aumento do número de pessoas que se encontram em situação precária , uma
“nova pobreza” o quarto mundo – o terceiro mundo dentro do primeiro. Essa
nova pobreza se caracteriza pelo desemprego estrutural, concentração de
população nas periferias das grandes cidades, falta de emprego,
particularmente para pessoas, problemas migratórios, falta de moradia, etc.
36

Assim, a nova pobreza não se restringe à escassez de recursos


materiais. Mais que isso, expressa a falta de participação no padrão de vida
dominante, devido a fatores como a escolaridade, a idade, o domínio das
novas tecnologias e a integração no vasto mundo da informação cibernética.

A maioria dos autores estudados considera o livro de René Lenoir (1974)


como a primeira obra a adotar o termo exclusão. Fretigné (1999) e Paugam
(1996), porém, apontam obras anteriores ao Os excluídos, um fran-cês em
cada dez. Esse último autor lembra ainda que o termo “excluídos” – usado no
título – estaria mais ligado a imperativos promocionais da edição do que a uma
clarificação conceitual, podendo ser entendido como o primeiro exemplo da
ocorrência de um termo“guarda-chuva”. Escorel (1999) lembra que o título do
livro teria sido escolhido pelo editor por causa do sucesso de Foucault em seus
estudos sobre a história da loucura. Feitas essas considerações, a ordem de
aparecimento da expressão seria, segundo Fretigné (1999), a que se segue:
a: 1960 – Les dividendes du progrès, de Pierre Massé.
b: 1965 – L’exclusion sociale, de Jean Kanfler.
c: 1974 – Les exclus: un français sur dix, de René Lenoir.

Lenoir (1974) se aproxima do uso contemporâneo da noção de exclusão;


trata da exclusão mais como inadaptação social; interessa-se principalmente
pelo handicap físico e mental, pelas pessoas idosas e outros inadaptados,
como delinqüentes, fugitivos, prostitutas, marginais; entretanto desvia-se de
determinações unilateralmente psicologizantes, e esta exclusão seria um
fenômeno irredutivelmente social; as origens do problema encontrar-se-iam na
própria organização social, não se tratando de pobreza individual, mas de
disfunção social. Urbanização incontrolada produtora de segregações sociais e
raciais, distanciamento geográfico crescente que enfraquece as solidariedades
familiares, êxodo rural, inadaptação do sistema escolar, perenidade e
crescimento das desigualdades de renda, de acesso aos cuidados, enfim,
todos esses fatores seriam características das sociedades modernas,
apontadas pelo autor como responsáveis e produtoras de exclusão (Zioni,
2006).
37

Fassin (1996) com “ La Patetización del mundo”, refere-se à nova


realidade mundial com o aumeno das desigualdades sociais em diversos
países, sobretudo com o surgimento de novas formas de pobrezas nas
sociedades ricas. Para este autor, este fenômeno denominada de “Patetização
do mundo”, repercute em todas as esferas da humanidade.

O autor fala do processo de “patetización” do mundo global e desigual.


Esta perspectiva não implica uma visão teleológica determinista da realidade.
“Describo um cambio em la manera de considerar el mundo y sus
desigualdades, especialmente frente la vida y a la muerte”. (FASSIN, 1996,
p.11). Estuda as mudanças que estão ocorrendo no contexto atual do
capitalismo globalizado, enfatizando os processos atuais de desigualdades
sociais, e como as pessoas, a sociedade se coloca diante de temas tão
“profundo e significativo”, a exemplo a vida e a morte.

Galeano usa a expressão “a cidade como cárcere”, para descrever a

vida moderna nas grandes metrópoles:

Quem não está preso à necessidade, está preso ao medo.


Quem tem alguma coisa por pouco que seja, vive sob estado
de ameaça, condenado ao pânico do próximo assalto. Quem
tem muito, vive trancado nas fortalezas da segurança. Os
grandes edifícios e condomínios residenciais são castelos
feudais da era eletrônica. (...) Há grandes grades elevadiças,
altas muralhas, torres de vigilância e guardas armados (...) Na
civilização do capitalismo selvagem, o direito à propriedade é
mais importante que o direito à vida. As pessoas valem menos
que as coisas (GALEANO, 1992:74).

Segundo Paugam (1996), no final do século XX a França, assim como


outros países ocidentais enfrentaram a chamada “nova pobreza”, representado
pela degradação do mercado de trabalho, o crescimento dos empregos
instáveis e assim como o crescimento do desemprego prolongado – estrutural,
como também o enfraquecimento dos vínculos sociais, representado,
sobretudo pelo crescimento das separações conjugais e o declínio da
solidariedade de classes e de proximidade. A nova pobreza é constituída,
38

portanto, não das pessoas componentes do chamado Quarto Mundo, mas das
pessoas que nunca vivenciaram condições de carência material em toda sua
vida.

Com o desemprego em longa duração, centenas de milhares


de operários, de empregados do comércio ou da indústria, e
mesmo de executivos, perderam, de um dia para o outro e por
longo tempo, os vínculos que mantinham com o mercado de
trabalho. Esse distanciamento fez-se acompanhar, para muitos
deles, por um afastamento da vida social, uma crise de
identidade, problemas de saúde (depressão) e, em alguns
casos, por uma ruptura familiar (PAUGAM, 2003, p.31).

Para Paugam (1996), que reconhece a banalização do termo pelo uso


abusivo, deve-se considerar que o paradigma da exclusão apresenta como
ponto positivo o fato de que,por meio dele, “nossa sociedade toma consciência
dela mesma e de suas disfunções, procurando, às vezes de maneira
desordenada, soluçõepara esse mal que a transpassa.”(p.15).

Em relação ao pauperismo e a exclusão social, caracterizaria a entrada


na sociedade industrial, antes das conquistas sociais e das regularizações
estatais; a exclusão, hoje, representaria a crise estrutural dos fundamentos
desta sociedade, depois de décadas em que se imaginou que a miséria teria
desaparecido. Ambos os termos remeteriam a situações precárias de trabalho,
à ausência de qualificação, ao desemprego e à incerteza sobre o futuro,mas a
similitude não seria total porque, enquanto o primeiro seria explicado pela
situação de barbárie do início da industrialização, a noção de exclusão seria
entendida atualmente como um processo de afastamento de populações
menos qualificadas. O que ambas as noções compartilhariam seria o fato de
acentuarem o risco de perturbação para a sociedade como um todo, apelando,
portanto, às reformas sociais (Zioni, 2006)

A exclusão social, então, não seria um fenômeno marginal que diria


respeito a grupos definidos como subproletariado, mas sim um processo que
39

afetaria, de acordo com as estatísticas, um número cada vez maior depessoas

e que, portanto, exigiria uma filosofia de ação.

É neste contexto mais amplo que o conceito de exclusão social tem


vindo a ganhar importância, relativamente à definição de pobreza. A exclusão
social significa fundamentalmente desintegração social a diferentes níveis:
económico, social, cultural, ambiental e político.

O conceito “exclusão” tem o mérito de ampliar a compreensão de


problemas que fazem parte das relações sociais no modo de produção
capitalista, mas que não podem ser explicados tão-somente pela expropriação
da terra ou pela apropriação do produto do trabalho, dos meios de produção e
de sobrevivência. A nova questão social que dá evidência aos excluídos dos
benefícios da riqueza produzida socialmente também inclui, no debate, a
opressão, a discriminação e a dominação, exigindo um tratamento teórico-
prático adequado, tendo por base as relações sociais de exploração/
expropriação, próprias do modo de produção capitalista (RIBEIRO, 1999)

A exclusão social é portanto, um conceito mais abrangente do que a


noção de pobreza, traduzindo-se pela ausência de vários tipos de poder:
econômico, de decisão, de influência e de participação na vida da comunidade,
como exercício pleno dos direitos e deveres de cidadão. Tem, por outro lado,
um forte caráter relacional, considerando-se que as relações sociais são uma
componente fundamental do bem-estar das populações.

O sociólogo francês Robert Castel, tem se tornado uma referência


obrigatória para o debate acerca da categoria exclusão social. Seus estudos
tem estabelecido uma matriz teórica sobre o processo histórico da
conformação e transformação do vínculo salarial, das “metamorfoses da
questão social”, do mesmo modo como as políticas foram utilizadas na França
desde a Idade Média até os dias atuais. Castel (2005), faz uma análise da
questão social centrada na crise da sociedade salarial. Observa em seus
estudos, a emergência da relação contratual e os que dela eram excluídos até
40

a atualidade em que a vulnerabilidade dos pobres trabalhadores e


desempregados se expressa não só no aumento da exclusão do emprego, mas
também pela precarização das relações contratuais, das formas de
sociabilidade perversas e de um panorama que passa pelo desmonte do
Estado de bem-estar social.

Na sua obra As Metamorfoses da Questão Social (CASTEL,2005),


afirma que na atualidade tem-se uma “nova questão social”, que tem a mesma
amplitude que o pauperismo na primeira metade do século XIX. Pois, ao se
impor às leis do mercado ao conjunto da sociedade, dar-se um processo de
destruição da forma específica de regulação social, mediada pelo Estado, que
se institui no novo século. Dessa forma, o trabalho de Castel nos possibilita
compreender as novas facetas da exclusão presentes na sociedade francesa.
Embora, o foco do autor seja o cenário francês, muitos elementos são úteis
para indagarmos a respeito da presença da “precariedade do emprego” e
“desfiliação social” no cenário mundial.

Nessa perspectiva, a nova questão social está na centralidade do


trabalho. Se o desemprego é a face mais visível e mais dramática dessa
realidade, a nova questão social não se reduz a isso. Ela envolve três
manifestações: primeiramente, a de “desestabilização dos estáveis”, em
segundo lugar, a “instalação da precariedade”. Em terceiro lugar, tem-se um
déficit crescente de postos de trabalhos face aos que estão dispostos a
trabalhar. Realidade que tende a produzir um contingente cada vez maior de
“trabalhadores sem trabalho”, de “inúteis ao trabalho”, “excedente”.

O núcleo da questão social hoje seria, pois, novamente, a


existência de “inúteis para o mundo”, de supranumerários e,
em torno deles, de uma nebulosa de situações marcadas pela
instabilidade e pela incerteza do amanhã que atestam o
crescimento de uma vulnerabilidade de massa. Paradoxo, se
as relações do homem com o trabalho forem consideradas no
interior de um longo período. Foram necessários séculos de
sacrifícios, de sofrimentos e de exercícios da coerção – a força
da legislação e dos regulamentos, a coerção da necessidade e
também da fome - para fixar o trabalhador em sua tarefa e nela
conservá-lo através de um leque de vantagens “sociais” que
vão qualificar um status constitutivo da identidade social. É no
momento em que a “civilização do trabalho” parece impor-se
41

definitivamente sob a hegemonia da condição de assalariado


que o edifício racha, repondo na ordem do dia a velha
obsessão popular de ter que viver “com o que ganha em cada
dia”. Não se trata, entretanto, de um infortúnio, mas, sim, de
uma completa metamorfose que se apresenta hoje, de forma
inédita, a questão tem que fazer face a vulnerabilidade de após
proteções. (CASTEL, p. 593).

Dessa forma, podemos afirmar que o fenômeno da exclusão da


atualidade se manifesta com uma nova faceta, uma nova expressão da
metamorfose da questão social, além disso, insuficientemente pesquisada e
que exige a premência de estudos teóricos e empíricos para subsidiar o
entendimento do tema. A exclusão propõe uma nova forma de problematização
da questão social e, conseqüentemente, do seu tratamento, que precisa de
categorias práticas para definir as políticas públicas e as respectivas ações
sociais. Dessa forma, corre o risco de ter mais um conceito funcional às
justificativas de políticas públicas compensatórias, como foi o caso da
marginalidade e do fracasso escolar das camadas populares e como está
sendo, na atualidade, o conceito de renda mínima.

Castel versa sobre a emergência das relações contratuais de trabalho –


e os que dela foram excluídos, como os vagabundos, os desempregados, os
pobres e outros, ao longo da constituição da sociedade burguesa. Através da
reconstituição histórica do sistema de proteção social, chega ao período atual,
em que a vulnerabilidade de pobres, trabalhadores, desempregados, se
expressa no aumento da exclusão do emprego, mas também na precarização
das relações contratuais, nas formas de sociabilidade perversas e em um
panorama onde tudo passa também pelo desmonte do Estado de Bem Estar
Social. Com relação ao termo exclusão, Castel prefere usar a terminologia
desfiliação, abordando processos contemporâneos como desestabilização dos
estáveis, situação de precariedade, déficit de lugares a serem ocupados na
estrutura social.

Assim, a desfiliação caracterizaria um processo de,ruptura da,coesão s


ocial, processo esse que atinge um número considerável de pessoas
particularmente frágeis. O que poderia distinguir o “pobre antigo” do
42

“supranumerário” (indivíduos que foram descartados por questões conjunturais) 


de hoje, seria o fato de que o primeiro encontrava refúgio em associações
filantrópicas, já que não ameaçava a ordem social. Ele era somente desprovido
de valor para a sociedade que se modernizava. Na atualidade, as novas formas
de “invalidação social” são produzidas pela desestabilização dos mecanismos
de regulação,o que faz com que o processo de desfiliação seja encarado como
onipresente.

Segundo Castel, a exclusão contemporânea é diferente das formas


existentes anteriormente de discriminação ou mesmo de segregação, pois cria
indivíduos inteiramente desnecessários ao mundo laboral, aludindo não haver
mais possibilidades de inserção.Nessa perspectiva, a sociedade salarial gerou
nesta acepção de exclusão, um tipo inédito de segurança: uma segurança
pautada no trabalho, e não somente à propriedade. Deste modo, os excluídos
não são mais residuais nem temporários, mas contingentes populacionais que
não encontram lugar no mercado. São os “inúteis para o mundo”. Assim, na
França, a fragilização das proteções historicamente conquistadas no mundo do
trabalho elucidaria a vulnerabilidade das massas e, no limite, a chamada
“exclusão” . A zona de vulnerabilidade alimenta as turbulências que fragilizam
as situações conquistadas e desfazem os estatutos assegurados... A
vulnerabilidade é um vagalhão secular que marcou a condição popular co o
selo da incerteza e, mais amiúde, com o do infortúnio”. (CASTEL, 2005, p.27).

Considerando os eixos de trabalho e inserção relacional que se


associam de forma dinâmica, o autor propõe a utilização de zonas de coesão
social para a explicação das formas de existência social. Neste sentido, o
cruzamento entre os eixos, possibilita que o sujeito se localize em quatro zonas
de existência social que têm em seus extremos a expulsão do
emprego/isolamento social e a estabilidade no emprego/inserção relacional
forte. As zonas, nomeadas pelo autor são: integração, vulnerabilidade,
assistência e desfiliação. Conceitualmente, na zona de integração
encontramos os indivíduos que associam trabalho estável com inserção
relacional sólida em grupos familiares e sociais. No outro extremo, na zona de
43

desfiliação encontramos a ausência de participação em qualquer atividade


produtiva e o isolamento social. Em um ponto intermediário, a zona de
vulnerabilidade caracteriza-se pela precariedade do trabalho e a fragilidade
dos suportes de proximidade. Além disso, encontramos a zona de assistência
que se configura como uma zona “de dependência segurada e integrada” .
Nesta zona estão os indivíduos que associam o não trabalho, por incapacidade
de trabalhar (idosos, deficientes, crianças) com forte inserção social, providas
por mecanismos assistenciais. ( GONTIJO, 2006)

De acordo com esta concepção, os indivíduos oscilam entre uma zona


e outra através de um processo em que tem um peso importante sua relação
com o mercado de trabalho. As rupturas são compensadas pelas redes de
proteção social, tais como a família, instituições de solidariedade comunitária,
assim, a concepção de exclusão - inserção se gesta diante de um contexto de
redefinição das políticas públicas, diante dos mecanismos de proteção social
através do emprego e seguros sociais. Tem-se nesse sentido as políticas
Revenu Minimum d’Insertion francesa surgidas no final dos anos 80 e início dos
anos 90 em alguns países europeus. (CASTEL, 2005; PAUGAM, 1993).

Assim, podemos constatar que pelos autores mencionados, a exclusão


social deve passar pela analise da questão social. A sua origem e
consolidação estão associadas às grandes transformações econômicas do fim
do século XX, e às suas trágicas conseqüências que agora atingem, também,
aos paises hegemônicos europeus. Aos poucos, os governos desses países
perceberam que os níveis de pobreza não eram insignificantes, o crescimento
do desemprego, a precarização do trabalho, cresce constantemente em
economias quase estagnadas. A exclusão social continuará dominando o
cenário político e acadêmico no mundo todo.

5.1 A exclusão social na América Latina


44

São vários os autores latino-americanos que se destacam na discussão da


exclusão social. Nesta oportunidade farei referência às importantes
contribuições do especialista chileno Fernando Robles e de pesquisador
argentino Juan Carlos Tedesco.

Robles(2000), pesquisador chileno da Universidad de Concepción,


estabelece uma interessante tipologia de exclusão social, semelhante em
alguns aspectos às idéias de Pierre Bourdieu sobre a “inclusão na exclusão”.
O autor toma em consideração a capacidade de integração do individuo ou
grupo à sociedade concreta onde vive, o risco de ser excluído e o y tipo de
construção de sua identidade.

Segundo Robles, é uma condição necessária para o desenvolvimento do


capitalismo na periferia, o empleo precário e a mão-de-obra não organizada,
barata e sempre disponível. Logicamente, isto leva a repensar a relação entre
setor formal da economia ( os incluídos) e o setor informal (dos excluídos).
Para ele, esta forma de exclusão se denominaria "exclusão primária”. No
entanto, paralelamente à diferenciação funcional das sociedades que delimita
os contornos da exclusão/inclusão primária, pode se obervar que funcionam
pequenas e grandes redes de inclusão (secundária) – semelhantes às redes
sociais e ao capital social. Estas são redes de favores, de venda de
vantagens, intercâmbio de influências, atividades parasitárias, cujo recurso
básico radica no conhecimento de alguém e o intercâmbio de favores e ações
que supõem relações cara a cara. Essas formas de inclusão geram seus
próprios mecanismos de exclusão. Assim, “exclusão secundária” seria o não
acesso a redes de influência.

Em relação à tipologia, no primeiro tipo, denominado “inclusão na


inclusão”, usualmente chamado de integração ao sistema social. Não existe
exclusão primária ou secundária. Podemos supor que os que estão nessa
situação “podem aceder a tudo”. O risco é baixo. Caso característico é a
chamada “classe alta” da sociedade: não por sua renda, mas por sua rede de
conexões sociais, construídas não apenas no mundo de suas atividades
45

econômicas, também nos bairros de moradia, nos clubes que freqüentam, nas
redes de amigos forjadas nas instituições que estudaram, etc. Encontram-se
muito protegidos de qualquer risco.

O segundo tipo corresponde à situação de “exclusão na inclusão”. É o


setor da sociedade onde se tem acesso ao emprego formal, educação , saúde,
recreação, remuneração aceitável, etc., mas, não inclue redes de favores
influências e reciprocidades de conveniência. É um setor de contradições, onde
se configuram instituições ( por exemplo, sindicatos) ou redes que tentam
controlar políticas ou ações econômicas que poderiam excluí-los. Mas,
também, lutam para neutralizar ou conter a exclusão que supõem as redes de
influência dos que pertencem ao primeiro grupo.

O terceiro tipo corresponde à “inclusão dentro da exclusão”. Onde, a


pesar de não ter acesso a muitos dos sistemas básicos de bem-estar social,
existe acesso a redes de interação e auto-ajuda que, as vezes, configuram um
verdadeiro sistema alternativo. As redes de apoio nas vizinhas, redes de
gênero, de amizade ou estritamente solidárias, formam um tecido que permite
compensar, de alguma forma, a exclusão primária. Este setor tem acesso a um
trabalho informal, instável e precário, com permanente incertezas em entrada e
saída de fontes de remuneração, de serviços de utilidade pública. È o setor
majoritário das sociedades latino-americanas.

Por último, encontramos um quarto grupo de “excluídos na exclusão” ,


que corresponde àqueles que se encontram em uma situação limite ou nas
instituições , chamadas, totais, tais como, cárceres, instituições psiquiátricas,
asilos de anciãos e, a situações de exclusão voluntária. Este grupo não é
majoritário, na realidade , pode ter poucos, mas, existe. Tem setores da
sociedade que podem estar muito próximo a essas situações. Não devemos
esquecé-los.

Outra contribuição muito importante na discussão da exclusão social na


América Latina, são os trabalhos reaizados por Juan Carlos Tedesco, Diretor
do Instituto Internacional de Planificación de la Educación, Filial da Unesco–
46

Buenos Aires/Argentina. Para ele, as transformações na organização do


trabalho estão provocando não só o aumento nos níveis de desigualdade como
a aparição de um novo fenômeno social: a exclusão da participação no ciclo
produtivo. Nesse sentido, os estudos sobre as possibilidades oferecidas pelas
novas formas de organização do trabalho indicam que elas poderiam incorporar
de maneira estável só uma minoria de trabalhadores, para os quais haveria
garantias de segurança no emprego em troca de uma identificação total com a
empresa e com suas exigências de reconversão permanente. Para o resto, em
compensação, seriam criadas condições de extrema precariedade, expressas
por formas tais como contratos temporários, trabalhos interinos, trabalhos de
tempo parcial e, no extremo destas situações, o desemprego (Tedesco, 2002)

Com a exclusão do trabalho, se produz uma exclusão social mais geral


ou, como prefere dizer Castel (1995), uma "desfiliação" em relação às
instâncias sociais mais significativas. Assim, o fenômeno da exclusão social
provoca, deste ponto de vista, uma modificação fundamental na estrutura da
sociedade.

Segundo Tedesco(2002) a partir desse enfoque, estaríamos vivendo um


momento de transição:

a.- de uma sociedade vertical, baseada em relações sociais de exploração


entre os que ocupam posições superiores, em face dos que ocupam as
posições inferiores;

b.- a uma sociedade horizontal, em que o importante não é tanto a hierarquia


como a distância em relação ao centro da sociedade.

A exclusão tende, dessa maneira, a substituir a relação de exploração.


A comparação entre ambos os modelos de relações permite notar que os
vínculos entre exploradores e explorados são completamente diferentes dos
que se estabelecem entre incluídos e excluídos. Exploradores e explorados
pertencem à mesma esfera econômica e social, já que os explorados são
necessários para manter o sistema. A tomada de consciência da exploração
pode provocar, além disso, uma reação de mobilização coletiva e de conflito
47

organizado pelas instituições representativas dos explorados, como os


sindicatos, os partidos políticos etc.

A exclusão, em compensação, não implica relação, mas sim divórcio. A


tomada de consciência da exclusão não gera uma reação organizada de
mobilização. Na exclusão não há grupo contestador, nem objeto preciso de
reivindicação, nem instrumentos concretos para impô-la. A exclusão é uma
ruptura (Castel, 1995, p.147).

Em síntese, o conceito de exclusão proporciona uma base de análise da


precarização social que está menos centrada na situação econômica ou
financeira e, que é capaz de explorar causas históricas, regionais, étnicas e
outras. Nesse sentido, exige uma base analítica multidisciplinar que inclua
diversas ciências sociais para procurar saber quem são os excluídos, de quê
são excluídos e por quê são excluídos. Como já foi colocado por Saunders e
Tsumori (2007), o conceito de exclusão implica causas. A exclusão é algo que
acontece às pessoas ou grupos. Eles não são responsáveis, em certa medida
são vítimas. Outros foram os responsáveis pela estrutura econômica de
desemprego, pela discriminação racial, pela discriminação da mulher, dos
velhos e das pessoas com deficiência. Já os conhecemos, agora temos que
agir para mudar a situação.

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48

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