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Prevê a lei processual diversos ë
adequadas à resolução eficaz dos
conflitos de interesses em função da diversidade das providências judiciárias permitidas pelo
sistema de justiça pública.
O art.º 4.º consagra uma classificação (ë ë ) das diversas espécies de acções
consoante o seu
. Assim, as acções são ou * (n.º 1).
ïë quando o autor pede ao tribunal que declare a existência ou inexistência
de um direito ou de um facto jurídico (
), que condene o réu
prestação de uma coisa ou de um facto a que o autor tem direito ( ) ou
que altere a esfera jurídica das partes em conformidade com um direito potestativo do autor
( ë ëë ) - n.º 2 alíneas a), b) e c).
ë quando visam a reparação material (reintegração) de um direito violado, no
pressuposto da sua existência (n.º 3).
As
ë podem, pois, ser de simples apreciação, de condenação e
constitutivas (n.º 2). Contudo, a uma mesma relação jurídica substantiva podem corresponder,
consoante o efeito processual pretendido, um qualquer dos desses três tipos de acções.
Assim, uma relativa a um contrato-promessa pode dar origem a
uma ë ëë de execução específica (art.º 830.º do CC), a uma
ë ë da validade do negócio (art.º 4.º, n.º 1, al. a)) ou a uma
por incumprimento (art.º 798.º do CC).
Também uma
ë
pode dar origem a uma ë ëë
de divórcio (art.ºs 1778.º a 1786.º do CC), a uma
ë(art.º 4.º, n.º 2, al. a)) ou a uma (autónoma) a intentar pelo
cônjuge lesado para reparação dos danos causados ao outro, nos termos gerais da
responsabilidade civil (art.º 1792.º, n.º 1, do CC); ou mesmo, tratando-se de pedido de divórcio
baseado no fundamento da al. b) do art.º 1781.º (alteração grave das faculdades mentais do
outro cônjuge por tempo superior a um ano), a um pedido de indemnização por danos não
patrimoniais causados ao outro cônjuge pela dissolução do casamento, pedido este a enxertar
na própria acção de divórcio (art.º 1792.º do CC).
""
+
As acções de simples apreciação (os ë
ëdo direito anglo-saxónico)
são aquelas em que o autor, reagindo contra uma ë ëë , visa «obter
unicamente a declaração da existência ( ë ) ou de inexistência (
ë ) de um direito ou de um facto» (art.º 4.º, n.º 1, al. a)).
Perante uma situação tornada duvidosa ou posta em crise (resultante de um facto ou
ocorrência externa) que o impede de beneficiar do pleno efeito útil normalmente
proporcionado pela relação jurídica material, ou lhe cause um dano patrimonial ou moral
apreciável, o autor (sujeito de direitos) pretende munir-se de uma simples
declaração/reconhecimento (dotada da vinculatividade própria das decisões judiciais) da
existência ou inexistência de um direito (próprio ou de outrem, res-pectivamente) ou de um
facto jurídico. No primeiro dizem-se de
(
) ë ; no
segundo, de
(
) ë .
Como exemplos clássicos podem citar-se os seguintes:
No campo dos ë ( ë ):
- um proprietário vem reclamar do tribunal a declaração da inexistência de
uma servidão de trânsito que o proprietário vizinho (sem chegar a fazer passagem
sobre o seu prédio) se arroga em público contra ele (acção negatória de servidão, a
qual será de condenação se a pretendida servidão chegou a ser exercitada);
- um proprietário pretende a declaração judicial da existência de um seu
direito, impugnado por um terceiro (não possuidor desse prédio, nem por qualquer
forma perturbador ou ameaçador da posse do requerente);
- sabendo que o dono de certo prédio rústico se propõe vendê-lo, o
proprietário vizinho fez correr nas imediações a informação de que é titular de um
crédito hipotecário sobre o mesmo, podendo o dono do imóvel, em tal situação, entrar
em juízo com uma acção (de simples apreciação ou mera declaração negativa) para
que se declare a inexistência desse ónus;
- o autor pretende ser declarado o verdadeiro proprietário de determinada
coisa contra alguém que vem questionando nas redondezas uma tal qualidade jurídica
ou que seja declarado que o réu não é proprietário de certa coisa que ele, autor,
possui;
No âmbito dos ë ë( ë
):
- o portador de um título de crédito, arguido de falsidade por algum dos seus
vários subscritores, vem a juízo requerer a declaração da autenticidade do mesmo;
- o autor pretende que seja declarado não haver celebrado com o réu um
determinado contrato de empreitada, que o réu afirma ter tido lugar;
- o autor pretende seja declarado que determinado contrato, que celebrou, é
nulo ou, pelo contrário, válido;
- ou ainda que certo documento, que o réu afirma ter sido por ele, autor,
assinado, na realidade o não foi, ou que a sua assinatura foi aposta em outro texto,
seguidamente falsificado;
No campo dos ë
:
- alguém a quem outrem atribui certa relação (natural) de paternidade ou
maternidade, pretende a declaração da inexistência dessa relação;
- alguém que seja acusado falsamente por outrem de não cumprir as (suas)
obrigações inerentes à sua responsabilidade parental pretende seja declarada a
falsidade dessa declaração;
No âmbito da ëë
o autor de uma obra literária ou artística, cuja autoria seja publicamente
posta em dúvida por certa casa editora ou por uma dada galeria de arte, vem a juízo
solicitar se declare dever ser-lhe reconhecida tal autoria;
No campo dos ë (direito ao bom nome e honra
pessoal, ao crédito público ou à idoneidade comercial):
- outrem lança dúvidas ou faz afirmações desabonatórias contra um cidadão
que, sentido-se lesado ou ameaçado de lesão de algum desses desses seus direitos,
vem solicitar ao tribunal que declare que tais afirmações não são verdadeiras.
Outros exemplos:
- a acção destinada a obter a anulação do casamento ou a obter o divórcio ou a
separação dos cônjuges (art.ºs 1631.º, 1779.º e 1794.º do CC) ;
- a acção destinada a constituir uma servidão de passagem em benefício de um prédio
encravado, não acordando as partes nos termos em que haveriam de constituí-la
voluntariamente (art.º 1550.º do CC);
- a acção visando a constituição, mudança ou a cessação de uma servidão (art.ºs
1547.º e ss, 1568.º, 1569.º e 1570.º do CC);
- a acção para a fixação de uma pensão de alimentos (art.ºs 2003.º e ss do CC);
- a acção de execução específica de contrato-promessa (art.º 830.º do CC);
- a acção para o exercício do direito de preferência (art.º 1380.º do CC);
- a acção de despejo (art.º 14.º do NRAU);
- a acção de investigação de paternidade (art.º 1869.º do CC);
- a acção de impugnação de perfillhação (art.º 1859.º do CC);
- a impugnação pauliana (art.º 610.º e ss);
- a acção de divisão de coisa comum (art.º 1052.º);
- a acção de anulação de deliberação social (art.º 59.º do CSC), etc.
,,1 + -!
No elenco legal dos processos especiais incluem-se, também, os chamados processos
de ë! . São de jurisdição voluntária os processos regulados no livro III, título
IV, cap. XVII, do CPC (art.º 1409.º e ss).
Distinguem-se os de ë! dos
de ë ë #
Nos processos de ë , encontra-se suscitado
conflito de
interesses entre as partes (credor e devedor, proprietário e possuidor, locador e locatário,
etc.), submetido ao escrutínio do tribunal em função de critérios e princípios próprios do
direito substantivo. Neles o tribunal é chamado a exercer a função (jurisdicional) própria dos
" ! ditando a ëque emerge do direito material aplicável (
)#
Nos processos de ë! há um ë
ë
ë
ëë (acerca de cuja protecção podem formar-se posições ou perspectivas entre si
dissonantes) e que ao juiz cumpre regular nos termos
ë(como v.g. no de
ëë
ë
de ë
ëetc.)4. Esta jurisdição pressupõe que um ou mais interesses
particulares se encontrem em ë
"
que, sem constituirem um litígio
(propriamente dito), justificam a respectiva regulação por via jurisdicional. Não subjaz, em
princípio, a tais situações um real ͞conflito͟ de interesses a compor através da exercitação do
ë . Assim, por exemplo, nas providências relativas aos filhos, na falta de acordo
entre os respectivos progenitores, cumpre ao juiz decidir de harmonia com os interesses do
menor e só dos dele (art.ºs 2.º e 180.º, n.º 1, da OTM).
A distinção (entre jurisdição voluntária e jurisdição contenciosa) resulta, assim, não
propriamente da existência ou não de ë , mas da existência ou não de um ë em
sentido técnico.
Alguma similaridade pode detectar-se com os procedimentos suscitados pelos
interessados junto das entidades registrais e notariais, com vista a «certificar, determinar ou
esclarecer, por via documental», uma dada «regulamentação de interesses, produto da
autonomia da vontade». Mas o certo é que o notário ou o conservador «se ocupam de
ë
ë ë(celebração, perante o notário, pelos
respectivos contraentes, da escritura pública de compra e venda de um dado imóvel ou
efectivação, perante o conservador do registo predial, da inscrição registral desse acto
translativo), ao passo que o tribunal se ocupa de ë
"
».
De ter presente que o Dec.-Lei n.º 272/2001, de 13 de Outubro, entrado em vigor em 1
de Janeiro de 2002, «ex-vi» do seu art.º 22, ë
ë$
ë" ë
ë ëë
ë
ë! ë
- atribuição de alimentos a filhos maiores e
da casa de morada de família, privação e autorização de apelidos de actual ou anterior cônjuge
e conversão da separação em divórcio e, bem assim, a decisão, pelo conservador do registo
civil, dos processos de reconciliação de cônjuges separados - processos estes aos quais não
corresponde, por natureza, uma situação de litígio. Na senda, de resto, da atribuição da
competência decisória respeitante à separação e divórcio por mútuo consentimento operada
já em 1995, passando também a ser deferida a essa autoridade registral a decisão dos
divórcios por mútuo consentimento em que existam filhos menores, cujos interesses são
objecto de regulação com base na participação activa do Ministério Público (conf. preâmbulo
do diploma). Competência essa que, para os procedimentos elencados no respectivo art.º 12.º,
é ë ,/ ë, , como por ex. os relativos à reconciliação
dos cônjuges separados (n.º 1, al. a)), à separação e divórcio por mútuo consentimento (com
excepção dos casos resultantes de acordo obtido no âmbito de processo de separação ou
divórcio por mútuo consentimento) - n.º 1, al. b)) - e à declaração de dispensa do prazo
internupcial - n.º 1 al. c)). Já para os ë ë
ë ë, tais como a venda (pelo respectivo representante - pai ou tutor) de bens
pertencentes a menor (n.º 1, al. b)) e, bem assim, a outras providências relativas a
suprimentos, autorizações e confirmações relativas a incapazes e ausentes -, a
ë$
0 ë -. , com observância do procedimento regulado nos art.º s 2.º a
4.º desse mesmo diploma.
O procedimento regulado na Secção I, do capítulo III desse mesmo diploma aplicando-
se, em princípio, aos pedidos de alimentos devidos a menores, atribuição da casa de morada
de família, privação de uso dos apelidos do outro cônjuge, autorização do uso de apelidos do
ex-cônjuge e conversão de separação judicial de pessoas e bens em divórcio (art.º 5.º, n.º 1,
alíneas a), b), c), d) e e) respectivamente), não se aplica, contudo, às pretensões referidas nas
alíneas a) a d) «que sejam
com outros pedidos no âmbito da mesma acção judicial,
ou constituam incidente ou dependência de acção pendente», circunstâncias em que
continuam a ser tramitadas nos termos previstos no CPC.
E porque se visa, em tal tipo de processos, a prossecução de ë não
organizados num típico conflito judicial, há quem seja levado a concluir que o tribunal exerce
aqui, não propriamente uma em sentido técnico, como no processo
contencioso, mas antes uma função tipicamente administrativa. Por isso se fala (ZAOBINI), a
este respeito, de
ë . ë 4. Destrinça nem sempre fácil de
fazer, dada a sua estreita conexão com a ë ë da distinção entre a ë
e a ë
ëë . A este propósito se diz que, face à necessidade de
dar cumprimento/execução a determinados comandos legais, os "
agem com maior $ , enquanto que os "
ëë agem
com maior ë 5#E daí o afirmar-se também não constituir, em bom rigor,
a jurisdição voluntária uma verdadeira jurisdição, só a jurisdição contenciosa constituindo uma
jurisdição em sentido próprio, em virtude de só a esta poder subjazer uma genuína
ë entre as partes.
São princípios fundamentais aplicáveis aos processos de jurisdição voluntária os
seguintes:
a)- ë" no domínio da instrução do processo (art.º 1409.º,
contraposto ao dispositivo no campo da alegação - art.º 664.º);
b)-
ë ë ë ë
(art.º1410.º), diversamente do disposto no art.º 659.º, n.º 2, ͞in fine͟;
c)-
(r
) ou providências de jurisdição
voluntária (art.º 1411.º, n.º 1), em contraste com a inalterabilidade das decisões de jurisdição
contenciosa (art.º 666.º)6;
d)-
1
2 3ë das
proferidas segundo critérios de conveniência ou oportunidade, que não sejam de mera
legalidade (art.º 1411.º, n.º 2, em confronto com o disposto no art.º 678.º).