Sei sulla pagina 1di 41

OS FUNERAIS DO COELHO BRANCO – Nenê Altro

CAPÍTULO UM.
Café e necrofilia, o defunto nunca esfria.

Opiniões.
As pessoas estão cheias delas.
E eu estou cheio delas.
Delas e das pessoas.
(...)
Aqui se escreve um testamento.
Aqui se faz aqui se paga.
Aqui se nega um juramento.
Aqui se nasce aqui se mata.
(...)
Já eu.
Eu não.
Eu não quero e não sei.
E já nem quero saber.
(...)
Só sei que pulso.
Pulso e sangro.
Não sei mais nada.
Nem sei se quero.

***

Era só um dia igual.


Ele abriu os olhos.
Sentiu o vazio.
Boneco do posto.
Cheio de vento.
Ele coçou a cabeça.
Cabelo ensebado.
Ele sente preguiça.
Preguiça da vida.
Era uma vez uma história.
Daquelas sem a mínima graça.
Sem porquinho, sem carneiro, sem pato feio.
Daquelas que você cansou de ouvir.
E cansou de viver.
No silêncio os subtítulos são dispensáveis.
E o filme é ridículo.
Ator podre.
Tradução medíocre do título original para o português.
Cenários que não se encaixam.
Era só um dia igual.

***

Segui pela rua da quitanda.


Suja.
Cachorro magro e velho na porta.
E eu odeio pombo.
Símbolo da paz.
Nunca estou em paz.
Penso em um monge budista com o rabo entupido de anfetamina.
Ele também odiaria pombo.
E usaria cinta liga.
Nirvana o caralho.
Passo aqui todo dia.
Cheira mal.
Deve ser o cachorro.
Café puro.
O pombo da quitanda cisca no chão do bar.
Rato com asa.
Agindo feito galinha.
O tiozinho no outro lado do balcão olha pra mim.
Nove e meia da manhã.
Deve ser sua terceira pinga já.
Tá em conserva.
Moribundo no formol.
Por isso não morre.
Por isso todo dia está alí.
Deve ser ele que fede.
Calendário de cerveja com mulher peituda.
Tão bonita que deve ser um saco.
Não tenho saco pra mulher assim.
Sorriso branco.
Peito e cerveja.
TPM, dívida, reclamação.
O Photoshop denuncia seu espírito.
Prefiro o cachorro, o pombo e o tiozinho.
E olha que eu odeio pombo.
No meu café não tem mulher peituda.
Mas tem um reflexo escuro.
Que eu queria esquecer.

***

Quando eu era criança tinha uma mulher velha que jogava um palito de fósforo aceso no
café e via o futuro na mancha que fazia quando o palito apagava.
Sempre me levavam lá pra tirar quebrante.
Ficava nessa mesma rua aqui da quitanda.
Acho.
Tipo mais lá pra baixo.
Uma vez eu tomei um fora na escola e chorei em casa.
Minha mãe achou que era quebrante.
A velha jogou o fósforo.
Falou que era amor.
No dia seguinte foi a mesma merda.
Botei a culpa na velha.
Depois com o tempo descobri que o problema era o café.
Porque café não tem nada a ver com amor.
Café desce rasgando e te deixa ligado.
Amor não.
Amor é tipo leite.
Tem prazo de validade curto e azeda muito rápido.
E longa vida tem conservante.
Uma mentira embalada.
Só parece seguro porque está em uma caixinha.
Depois que abre é igual a qualquer outro.
Não sei como chorei por aquela ridícula da escola.
Ela era horrível.
Amor é tipo isso, derivado de leite com embalagem bonita na geladeira do mercado.
Você quer muito, as vezes fica doente de vontade, mas depois que bebe vê que nem foi
tudo aquilo.
E sem as embalagens, no fundo, danone, queijo, manteiga... é tudo a mesma merda.
Fica lá em você boiando até sumir.
Teu corpo absorve o bom.
E o ruim vai embora.

***

Caulfield era rico.


Ou coisa que o valha.
Nunca vagou pelo Brás.
Nunca sentiu o verdadeiro tédio, cinco da tarde, no Domingo, na Av. São João.
Nunca andou a noite na Luz.
Nem escutou mendigo pedindo no trem.
Ou pegou fila do Bradesco.
Mas Caulfield desaparecia.
Antes de chegar do outro lado da rua.
Filho da puta.
Desaparecia.
Maldito.
Morro de inveja.

***
Nesse livro não tem aventura.
Eu sempre volto pra casa.
Sento no sofá.
Coloco um disco pra tocar.
Olho pra TV desligada.
Nesse livro não tem herói.
Não tem mensagem.
E ninguém é salvo.
Na banca tem Jornal de Esportes.
Odeio esportes.
São cerca de cento e cinqüenta passos da banca até minha sala.
Sabia também quantos paralelepípedos davam, mas esqueci.
Nesse livro não tem romance.
Só um dia igual.
Que nunca acaba.

***

O intervalo é a hora em que você vive.


E quando você vive geralmente desiste.
É por isso que nunca te deixam parar.
Até nos filmes os intervalos são entupidos.
Cheios de produtos pra comprar.
Coisas pra engolir.
Gente pra querer.
Música bonita.
Felicidade.
O intervalo é a hora em que você sabe.
E quando sabe geralmente para.
É por isso que nunca respirou.
Só colocou ar pra dentro e pra fora.
O intervalo não é coisa de deus.
Porque deus tem controle remoto.
Mais de duzentos canais.
Incluindo os de putaria.
E você só uma tela preta.
Em que imagina sua vida
Sem poder mudar de canal.
Nem parar.

***

Bruce Lee era o dono da quitanda.


E nem era o primeiro.
O pai dele também era Bruce Lee, eu lembro.
E esse aí fumava maconha atrás do laboratório da escola.
Hoje o pai dele tá jogado num asilo.
Falaram que tava gagá, que tinha dado nome pros repolhos e se recusava a vender eles.
Dizia que eram seus amigos.
Velho zoado.
Ganhou apelido de Seu Repolho.
Aí o outro virou Bruce Lee.
Reparei que o cachorro nunca entra na quitanda.
Deve ter nojo.
Ele nunca limpa em cima da quitanda, por isso aquela porra vive cheia de pombo.
O pombo vem, pousa na minha janela.
Aí o pombo sabe.
O pombo vai e volta pro Bruce.
O Bruce fuma cebolinha.
Aí o Bruce sabe.
Se eu vejo o Bruce o Bruce me vê.
Quando olha pra cá sei que olha pra mim.
Me disseram uma vez que não tem coisa pior do que ter pena de uma pessoa...
Por isso não tenho pena dele.
Vai morrer que nem o pai.
Amigo de repolho.
Por isso não tenho pena de mim.
Quero mais é que se foda.
Eu, ele e todos seus repolhos.Eu, ele e seu pombal imundo.

***

Eu bebo.
Dizem que o álcool dificulta a cicatrização.
Por isso tenho marcas.
E sinto as feridas abertas.
(...)
Também já tive fratura exposta.
Carne aberta e nervos.
Vermelho por dentro... as bordas do corte escurecem rápido.
Você só sabe mesmo do que é feito depois que vê.
(...)
Outro nome.
Outra ofensa.
Outro tapa.
O mesmo inferno.
(...)
Ando até a janela.
O cachorro ainda está lá.
Aposto que fede.
Fede quando late no buraco do tatu.

***
O telefone toca.
Ela pergunta como estou.
Disse que ficou sabendo por uma amiga.
Eu não digo nada.
Ela diz que se eu precisar de alguma coisa...
A TV desligada.
Enquanto isso Matador e Mata A. Dor...
Ela fala que quer me ver bem.
Que é pra eu animar.
Ela faz piada.
Deve também fritar panqueca, fazer escova e andar de monociclo.
Tudo ao mesmo tempo se for preciso.
Café e necrofilia.
O defunto nunca esfria.
O filme nunca para.
Mas odeio muito quando repete.

***

Uma vez meu quarto pegou fogo.


Eu estava no berço.
Lembro bem pouco.
Tinha um Mickey azul de borracha que ficou preto.
Lembrança pro futuro.
A cortina em chamas.
Queria lembrar mais.
Ou reconstituir um dia, quem sabe.
O telefone toca.
Tudo bem mãe.
Ela me viu nascer.
Diz que ficou sabendo pela amiga da vizinha da minha tia, ou algo assim.
Mais uma vez meu filho.
É... mais uma vez.
O Grande Irmão te vigia.
Eu preciso mudar de bairro.
Crônicas de Palomar.
Pergunto pra ela da velha do palito de fósforo.
Ela diz que não sabe do que eu estou falando.
Diz que eu preciso me cuidar.
Tudo bem.
Ela me viu nascer.
Perguntei do incêndio no meu quarto.
Ela perguntou se eu tenho dormido bem.
Maldito Caulfield.

***
Levanta do sofá.
Olha pela janela.
Olha pro fim da rua.
Ninguém vai aparecer.
Nada vai acontecer.
Ainda assim olha.
Volta.
Senta.
Pensa.
Levanta.
Janela.
Ninguém.
Nunca.
Pensa.
Esquece.
Deseja.
Envelhece.
Nesse livro ninguém é salvo.

***

Paixão inútil.
Também tive lá minhas feministas.
Mas não ficaram famosas.
Meu muro é a TV desligada onde contemplo o vazio.
O idiota da família.
Morreu cego e sem pulmão.
Não vejo adiante.
Nunca respirei.
Somos iguais.
Eu não sei como vou morrer.
E hoje tanto faz.

***

Assustei com o barulho da porta.


Quase caí do sofá.
Ela chegou e jogou as coisas na mesa.
Tinha levado por engano.
Disse que era o melhor a fazer.
Eu não dizia nada.
Perguntou se eu a amava.
Pensei na teoria do café e do leite.
Ela devolveu umas fotos.
Disse que separou.
Um pouco pra cada.
Mandou eu ver como estava feliz nelas.
Pensei em toda aquela gente bonita nos comerciais.
Na teoria do intervalo.
Disse que não era justo.
Disse pra eu falar alguma coisa.
A TV desligada.
Ela foi a última.
Tinha que ser.
Acende o fósforo e joga no copo.
Ela devolve a chave.
Me xinga.
Vai embora.
Ela usava uma camiseta preta.
No ombro dela tinha uma sujeira.
Uma pena.
Pena de pombo.

***

O cachorro levanta.
Desiste.
Senta.
Existe.
O velho bebe.
Esquece.
Some.
O pombo vem.
Vai.
Suja.
Bruce estica o braço.
Pega uma cenoura.
Tenho nojo de cenoura.
Desde que aquele ator de novela.
Enfiou uma no cu.

***

Nesse momento ele percebe que a simetria já não diz nada.


Nesse livro não há saída.
Sonha com um coelho com as quatro patas cortadas.
Pra garantir que não vai ter sorte de maneira alguma.
Quatro é par.
O rabo conta?
Então um é ímpar.
Neste momento então ele deve ser o único coelho no planeta nessa situação.
Ímpar.
Anda coelho anda.
Aproveita teu hype.
Anda logo.
Acaba.

***

Essa apareceu do nada.


Soube porque todo mundo já sabe.
O defunto nunca esfria.
Não deu desculpa nenhuma.
Ponto.
Me beijou.
Tirou a blusa.
Me jogou na cama.
Dois pontos.
Me falou palavrão.
Me deu tapa na cara.
Me fez esquecer dos pombos.
Três pontos.
Na TV desligada uma criança em seu velotrol pedala como se todo tempo do mundo
estivesse a sua frente.
Sensação de eternidade.
De que nada importa.
Só o barulho do velotrol descendo as ladeiras.
Quando não é preciso pedalar.
Só deixar seguir.
Ela levantou.
Não fala nada.
Arrumou o cabelo.
Por favor, não fala nada.
Perguntou se eu lembrava como a gente tinha sido feliz.
Porque?
Alguém me explica porque elas sempre estragam tudo no final.
A TV encerra sua programação.
Eles estão aqui Carol Anne.
Eu nunca fui feliz.
Nunca gostei de leite.
Nunca respirei.
E agora estou puto porque lembrei dos repolhos.
Ela me xinga.
Deja vu.
Acende o palito.
Joga no café.

***

Desci a Rua Augusta.


Não sei porque vim.
As pessoas sorriem.
As mesas na calçada.
As putas sorriem.
Mas sorriem com sinceridade.
Te dão um sorriso esperando tua grana.
Não pescando felicidade na sarjeta.
Um conhaque.
Na mesa ao lado uma roda.
Um filho da puta com um violão.
Pedindo o dragão emprestado a São Jorge.
É um novo tipo de hippie.
Mais limpo, mais patético, mais medíocre.
E o bobo alegre se sente no Olympia.
A menina bate palmas.
Dá trela pro retardado e ele acredita que é artista.
Ela fez a sobrancelha torta.
A raiz do cabelo denuncia a chapinha.
É tudo uma farsa.
Minhoca bonita com anzol dentro.
Te beija e fura tua boca.
Quer felicidade.
Quer intervalo.
Quer a caixinha do longa vida.
Não conseguiu seguir a carreira de modelo e paquita.
E agora o desgraçado canta que quer ser um peixe.
Outro conhaque.
Eles chegam e sentam.
Estão felizes.
Me dizem estar preocupados.
Na verdade nem se importam.
Outra vez?
É, outra vez.
Quando você vai parar?
Eu não sei.
Ele diz que quer me ajudar a arrumar um emprego.
Não preciso de mais morte.
Ela fala de uma amiga.
Eu já fiquei com ela.
Ele sabe.
Finge que não se importa.
Mas odeia.
Odeia que o passado exista.
Odeia que eu já tenha visto ela pelada.
Me oferece um emprego.
Olho pra rua.
A puta sorri.
Conhaque.
A puta é sincera.
A felicidade é estética.
Casal de novela.
A menina bate palmas.
Amaldiçoo o inventor do violão.
Ele diz que é meu amigo.
Ela sabe que eu lembro.
Até os pombos sabem.
Eles sabem de tudo.

***

Acho que quando eu era criança essa calçada tinha carpete.


Ou isso foi num sonho.
Não importa.
Eu tinha passos menores, os quarteirões eram maiores... e eu não bebia.
Minha avó me ensinava modos.
Eu amava brinquedos.
Tinha amigos imaginários.
E não bebia.
Tinha medo de deus.
Não imaginava que ele era o Juca Chaves.
Nem que eu fazia parte de sua piada mais infeliz.
Porque no princípio a felicidade é tão concreta que tem peso, gosto e cor.
Lembra cereja.
No princípio as mulheres são meninas e brincam igual a gente.
Depois se fez a Luz, o Bom Retiro e o Bexiga.
Se fez a noite, o fim de semana e a busca.
Surgiram a casa, a janela, o velho, o cachorro, Bruce Lee e seus pombos.
O vazio.
E no sétimo dia Juca Chaves riu... até morrer.

***

Não sei porque liguei.


O que você quer?
Não sei.
Tá fodido né?
Ela sabe.
Só me procura quando tá fodido.
Todo mundo sabe.
Você é um filho da puta.
Não sei porque liguei.
Porque você não some?
Maldito Caulfield.
Você sabe que eu vou né?
Subtítulos dispensáveis.
É... você sabe.
Todo mundo sabe.

***

É um hotel simples.
Ele observa ela descansar.
Conhece esse corpo como a palma de sua mão.
Esse cheiro.
Sabe o que ela quer.
O que ela sente.
Como gosta.
Como goza.
E ainda assim, silêncio.
Ele levanta.
Janela de prédio é outra coisa.
Arouche.
Esse lugar é imundo.
Esse lugar lhe pertence.
Ele pertence ao lugar.
Ela acorda.
Ela sabe.
Não entende.
Contém a lágrima.
Tudo bem.
Ele não sabe.
Mas entende.
Dorme um pouco escutando ela falar.
Nesse quarto não tem TV.
Acende o palito e joga no copo.
É tudo uma grande piada.
E o diabo é o Costinha.

***

No Cambuci é sempre Domingo.


É tipo a Vila Ré só que mais cinza.
Uma vez umas trinta crianças passaram por mim com um boneco.
Amarraram naquele poste.
E malharam.
O boneco foi feito pelas mães delas.
Com carinho e dedicação.
Tinha um nome.
Tinha um propósito.
Teve início e teve fim.
Desde então eu me pego aqui nesse bar.
Nesse bairro em que eu não conheço ninguém.
Bebendo sentado na calçada.
Olhando para aquele mesmo poste.
Esperando a colheita maldita.
E o sentido desse livro sem personagens.

***

Coloco um disco pra tocar.


Pego minha agenda.
Penso Sid e Nancy.
O telefone é mais rápido.
O ser precede a existência.
Penso Manson e Tate.
Sim eu sei que dia é hoje.
Pra mim é sempre Domingo a tarde.
E o cachorro não se move.
(...)
Se essa rua, se essa rua fosse minha.
Eu mandava, eu mandava apedrejar.
Cada pombo, cada Bruce, cada velho.
Só pra ver o cachorro levantar.
(...)
Anda coelho anda.

***

Não entendi o porque do presente.


Não tô doente.
Não é meu aniversário.
Ela fala que quer me ver bem.
O defunto nem volta mais pra geladeira.
Resolveu ficar e esperar o que vai dar.
Eu vou sair.
Você andou bebendo.
Andei, sentei, pensei e tudo mais.
Tudo bebendo.
Ela não merece.
Que ela?
Eu quero mais é que ela se foda.
Que ela case com o Bruce Lee e tenha um casal de repolhos.
Fica aqui comigo?
Não, eu vou sair e você vai embora.
Você tá afundando.
Não, não tô.
Pensei Hy Brasil.
Você não me quer.
Não te vejo faz um ano.
Não sei nem porque veio.
Não entendi o presente.
Você lembra como a gente foi feliz?
Se somasse o que pensam todas elas sobre minha felicidade, minha vida seria a
Disneylândia.
Não quero te tratar assim, mas me deixa ir.
Você vai atrás dela.
Que ela?
Porque mulher pensa sempre assim, como técnico de futebol?
Se uma sai outra tem que entrar em campo.
O defunto pede pênalti.
Deixa eu trancar a porta.
Pensei nela no monociclo, fritando panqueca e fazendo escova.
Não é culpa dela.
Coitada.
Ela quer felicidade.
Só que eu sei que isso não existe.
E que, caso o placebo que procura exista, definitivamente, não mora aqui.
Ela chora baixinho.
Me sinto mal.
Como elas conseguem fazer isso?
Pergunto o que foi.
Ela diz que cortou a mão.
Cortou mesmo.
Nos cacos de vidro do teu quintal.
Está cheio deles.
Ah é, eu quebro copos.
Lembrei que ela sempre chorava e o quanto isso me irritava.
Ela pede pra eu me cuidar.
A cada vez que percebo, Juca Chaves fica mais sem graça.
Nunca abri aquele presente.
Ficou lá com as cartas... que eu nunca li.

CAPÍTULO DOIS
A sua vida é um outdoor que ninguém entende.

Amanheceu com gosto de angústia.


Cheiro de vômito.
Você acreditaria se eu dissesse que não sei?
O pior não é sentir não lembrar de nada, é sentir que eu estava, apesar de tudo, me sentindo
bem.
O pior é o barulho dos carros na avenida, motores, buzinas.
Toda essa caralha.
(...)
Pessoas.
O pior é lembrar das pessoas.
De seus olhares.
Seus mundos.
Suas expressões catatônicas de "tenho um sentido".
(...)
"Guarda-te de ofereceres os teus holocaustos em qualquer lugar que vires."
(...)
Tudo seca Buk, tudo seca...

***

Coloquei a mesa.
Servi dois pratos.
Não há ninguém ali.
(...)
Eu sei.
Tudo bem.
(...)
Esquentei no microondas dois pedaços de pizza.
Palmito e lágrimas.
Um pra você e outro pra mim.
Enchi duas taças de vinho barato.
Brindei e o segundo copo tombou na mesa.
Escorre e pinga em minha sombra.
Não havia ninguém ali.
(...)
Eu sei.
Tudo bem.

***

O telefone toca.
Jogo pela janela.
Cansei de tocar fogo nos móveis.
Cansei de quebrar copos no quintal.
Cansei de toda essa porra.
A campainha toca.
Atiro a cadeira.
Não era ela.
Nenhuma delas.
Era a palavra do Senhor.
Jucas Chaves Delivery.
Cada um tem o que merece.
Mas no final é só o Costinha.
No final é só o inferno e mais nada.
(...)
Me divirto com piadas sobre minhas próprias desgraças.
Adeus Sofia.
Vou embora dessa merda.

***

É um hotel sujo.
É uma frase parecida.
Quatro semanas adiantas e uma lista de recomendações.
Não vai se matar aqui não né garoto?
Garoto...
Deja vu de eu mesmo.
Não, não vou, só quero paz.
Todo mundo que vem aqui como você acaba fazendo besteira.
Não, não vou.
O corredor da morte.
Faxineiras com caras de impressões digitais.
Penso na capa do Brigada do Ódio.
Abro a janela.
Quinze andares.
Estou acima dos pombos, acima das câmaras, acima de deus.
Um cuspe ao acaso.
Espero anoitecer.

***

Entre dois arranha céus amarrei uma linha fina.


O vento corta meus cabelos e faz-me, hoje, trapezista.
E entre estrelas que observam e carros que transitam,
Escolho aquelas que mais brilham.

***

Entre a Luz e Júlio Prestes, Al Capone é pedinte.


Desce macio e reanima.
E tudo é sujo.
Não importa o quanto a prefeitura limpe.
A sujeira faz parte.
É tudo feito de sujeira.
Paredes amareladas nos bares.
Tiozinho servindo pinga com a mão cheia de casca.
Bêbados rindo sem os dentes.
Putas com celulite.
Pastelaria de chinês com gordura nos bancos.
Caldo de cana com mosca.
Churrasco grego.
Carrosel de mosca.
Na verdade é mosca pra tudo que é lado.
Quando os pombos saem, a cena é delas.
Pra elas é sempre meio dia, gordura no ar e coxinha velha.
Tudo é sujo.
Imundo.
E se não fosse eu não teria vindo pra cá.
Porque me sinto imundo.
Sujo de eu mesmo até as orelhas.
E, ainda assim, caminho.
(...)
Sinto que já vi este lugar.
Sinto que já estive aqui não faz muito tempo.
E que caminhamos tanto em vão...

***

Duas da manhã me pedem pra sair.


Retruco que é um bar.
Afirmam que é Terça-feira.
Que diabo de resposta é essa?
"É Terça-feira".
Aceito se aceitarem me vender uma garrafa.
Qualquer coisa pra se livrarem de mim.
Caminho em direção ao centro.
Rio Branco.
A noite as pessoas parecem menos medíocres em seus propósitos.
Barzinho com mesas na calçada.
E é Terça-feira.
Não pode sentar com a garrafa.
Tá, Juca não gosta de mim, mas Murphy, esse sim, me odeia.
Viro o que consigo.
Peço uma dose.
Pego meu caderno.
(...)
Porque a noite os pombos dormem.
E eu respiro.
(...)
A conta.
O troco.
A dose.
Lista das coisas que queria esquecer.
Foda-se a velha, agora sou eu quem joga o fósforo.
A conta em chamas.
As pessoas não entendem
E eu quero é que se foda.

***
E se eu disser que eu nunca sei mesmo a direção?
E se eu disser que toda vez que eu achei que ia acertar eu na verdade só arrisquei?
Você ainda ia querer?
Diz.
Eu seria ainda o que sou para você?
E se eu disser que eu nunca soube nada de minha vida, que eu sempre deixei tudo passar
por mim e as vezes ia, as vezes não ia, dependendo do gosto do café.
Você ia querer?
Será que ia mesmo?
Minha vida é correr contra os carrinhos na montanha russa esperando vencer o impossível e
não ser levado outra vez para trás.
Você entende?
Ainda assim quer?
Pensa...
Eu não sei nada.
Só sei ser assim.
Eu sequer me entendo.
Nunca consegui brincar de ter certeza.
Nunca consegui 100% de não dúvida.
Ainda?
Ninguém esqueceu a sombra em meu quarto.
Ainda assim eu fugi.
Ninguém passou com pressa por mim.
Ainda assim segui... e caí no buraco da árvore.
Eu sempre fui...
Sempre passei...
Sempre acreditei em minhas próprias estórias.
E nunca dormi.
Sempre vi tudo chacoalhar meus cabelos e me deixei levar.
É isso?
Nunca morei em uma só casa.
Nunca fiquei em um só plano.
E é sempre o gosto do café.
Nada concreto.
Nenhuma teoria.
Nenhum cálculo.
Só correr contra a brisa pra sentir o gosto da chuva na boca.
Nunca cresci.
Agora perdi o trem.
E ele não pára mais pra mim.
E se eu dissesse que também não quero que ele pare.
Você ia querer?
Será que ia mesmo?
Eu mesmo nunca sei...

***
Num hotel em que as pessoas alugam quartos por 13 reais pra trepar por uma hora tem
sempre uma Bíblia no criado mudo.
Essa tem jeito de ser antiga, com páginas rasgadas, grudadas, cheias de manchas, cheirando
a bebida barata, porra e tudo mais.
"Não trarás o salário da prostituta nem o aluguel do sodomita para a casa do Senhor teu
Deus por qualquer voto, porque uma e outra coisa são igualmente abomináveis ao Senhor
teu Deus."
Definitivamente lugar errado, hora errada.
Pessoa errada.
Arrisco um telefonema.
Enquanto desenho pregos na cabeça da minha foto do RG ela me manda pro inferno.
Agora é tarde pra me mandar pra lá..
Arrisco outro.
Ganho um filho da puta.
Onde e quando?
A essa hora?
Esquece.
Tá, eu vou.
Na TV só pega o cinco.
Mais uma dose.
Ela chega.
Me diz de uma vez o que você quer de mim.
Me diz antes.
Eu não quero nada.
Nunca vou querer.
E sempre digo.
Mesmo sem você pedir.
E sempre ganho outro filho da puta.
E esse cheiro que me faz sentir em casa.
Gosto mais do cheiro que das perguntas.
E ligo mesmo sabendo que amanhecer vai ser uma bosta.
(...)
Me beija com tanta força quanto me odeia.
Me enche de marcas.
Por isso ligo.
(...)
E no papel que me limpo tem uma frase escrita.
"E enlouquecerás pelo que hás de ver com os teus olhos."
Faz sentido.

***

Solidão mundana.
Maldição eterna.
Por todas as vezes em que tentei gritar
com a língua presa entre os dentes.
E fiz promessas de sol
para iludir a sombra.
Porque é conforto sim, ainda que placebo.
É auxílio.
E é certo que a mão que segura o corpo
à beira do penhasco
guarda mil segredos
embora seja fato,
Tenha apenas cinco dedos

***

Nem foi por isso que eu vim aqui.


Mas eu tentei "pretend to".
Talvez fosse mais simples deixar passar pelo corpo como uma voz cortada de conversa
alheia no meio da multidão.
Mas não é.
Absorve pela pele, anda no sangue, queima a alma.
É uma merda.
E nunca vai ser diferente.
A sua vida é um outdoor que ninguém entende.
Todo mundo olha, mas ninguém percebe que tem muito mais ali que cola velha e papel
fedido desfigurado pelo tempo.
E caminhar tem sido cada vez mais complexo de peneira nessa cidade.
Tudo passa e só o podre fica preso em você.
Um dia entope... aí eu quero ver.
A verdade é que, engolir mosca no vento é algo desprezível e eu não entendo como tem
gente que faz disso um ofício na vida.
Trabalhar para ter a perna da mosca morta entre seus dentes no fim do dia.
Nojento.
E são dezenas.
Moscas católicas-apostólicas-romanas, moscas malufistas, moscas neo liberais...
E vem tudo pra sua boca, pro seu dente, pra sua peneira.
É por isso que o Urtigão tinha uma espingarda.
Ninguém vinha vender Sentinela de manhã pra ele.
Sei lá.
Às vezes penso que o café desce e o amargo fica.
Só às vezes...
Só penso...

***

Alice esqueceu a blusa.


Conto de fadas errado.
Príncipe errado.
Tudo errado.
Didi na TV.
O culpado de toda uma geração de pessoas incovenientes existir.
Ele que ensinou essas pessoas que elas devem achar ter o direito de interagir com quem só
quer ficar quieto.
De fazer piada com todo mundo sem pensar se a vida das outras pessoas querem sua
presença.
Odeio muito.
Ele e toda geração "da poltrona".
(...)
Primeiro round, espelho.
Segundo round, estômago.
Terceiro round, memória.
(...)
Acendo um cigarro.
Queria saber o que fazer hoje, ter um sentido qualquer pra me arrastar até o fim do dia.
Mudo a TV pro canal com chiado.
Carol Anne...
Muito melhor.
Na lâmpada uma fita isolante pendurada e cheia de poeira me lembra de como vim parar
aqui.
No espelho um arranhão em meu pescoço.
Keep Cooler pela metade no criado mudo.
É Carol Anne... essa noite eu fui uma puta. 6 fev Felipe

***

Então surgiu a luz... e com ela a sombra.


Surgiu a dor... e com ela o alívio.
Para cada sensação, uma de igual valor e força em forma inversa.
(...)
E, em meio a isso, também surgiu a corda bamba e o trapézio.
E é aqui que se enxerga a equação em que todos estamos dispostos.
(...)
Alguns estão na ponta da vara onde há dor e sombras.
Outros na outra com a luz e o alívio.
E outros se equilibram... e são odiados por aqueles que estão em qualquer uma das pontas.
(...)
Para os que se equilibram a virtude é a sabedoria.
Para os que são equilibrados, a fatalidade é a fé.
E, para aqueles que conseguem enxergar a roupa nova do imperador, viver na corda bamba,
em qualquer parte da equação, não faz realmente a mínima diferença.

***

Poltergeist.
Não deixo mais no cinco.
Prefiro o chiado.
(...)
Então Carol Anne decidiu quebrar o espelho.
Alice estava lá por décadas.
Decidiu mostrar o retrado de Dorian Gray para ela, que por tanto tempo só viu o avesso.
E gargalhou a observá-la virar pó.
(...)
A maldade reina no coração de Carol Anne
E já não há dúvidas.
Agora ninguém mais conta histórias.
E ela torce o pescoço das bonecas.
(...)
Unilateral mundo de Carol Anne.

***

Acordo com ela perguntando alguma coisa enquanto veste a camiseta.


Ela diz que não presto atenção.
Não presto.
Eu sei.
Me pergunta de quem é a blusa no banheiro.
Diz que eu não presto.
Como eu disse, já sabia.
Me pergunta se o hotel não se importa com a sujeira.
Quem vai limpar o quarto de Gregor Samsa?
Me pergunta se eu sei que dia é hoje.
Penso que nem sei como ela apareceu aqui.
Me pergunta se quero ser feliz.
Tento pronunciar uma ofensa.
Tampa minha boca.
Pergunto se quero que ela vá embora.
Demoro muito pra responder.
(...)
E ela fica.

***

A história da minha vida se resume em piadas sem graças que eu tento esquecer.
Imagem e semelhança?
Mais um motivo pra não gostar de você.
(...)
Pelo menos Saturno comia os filhos e não ficava fazendo eles de palhaços.
Bah.
(...)
Eu sou o problema eterno de Jack.
Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá e eu não tenho uma metralhadora.
(...)
Eu gosto mesmo é do Ozzy... ele comeu morcego.
***

Parou e não disse nada.


Não leio mente.
Não mente.
(...)
Fica olhando pra mim feito um vaso.
Flor morta.
Não faz fotossíntese.
(...)
Você respira.
Por que não levanta e me beija?
Me dá um tapa.
Me joga na sarjeta.
Me corta de vidro.
Só não me olha como se estivesse olhando o nada.
(...)
Eu quero o veneno do sangue.
A sujeira da alma.
O prego nos dedos.
(...)
Vida.
Ódio.
Paixão.
(...)
Amor só é vida se não for pintura.
Pintura fica ali.
Quem quer compra.
Mas só olha.
(...)
Eu quero língua.
Quero mão.
Abraço.
Gemido.
(...)
Não me olha feito vaso.
Sei que é flor.
(...)
Flor é vida.
Vaso só serve pra jogar na TV.

***

Minha mão pisca rosa e amarela com as luzes.


Minha bebida tem nomes refletidos em néon.
Uma menina na mesa ao lado olha os carros passarem como se esperasse um milagre.
Ela sempre está nessa mesa.
Sempre olhando os carros.
Um velho coloca uma nota de dez na máquina de apostas.
Um cachorro velho pára e senta a meu lado.
(...)
Em toda minha vida atiraram em minhas costas...
E todas as vezes eu voltei para tomar os tiros.
(...)
Eu lembro.
Percebo.
E desabo.

***

Eu?
Eu sempre acabo no cuspe com sangue.
Sempre assim.
Cabeça abaixada.
Baba bêbada.
Saliva vermelha na pia branca.
E não reflete.
Saca?
Nem pensa.
Só escorre.
(...)
Se reflete, reflete o nada.
Não enxerga nada.
Só o nada.
(...)
Olhar do inferno.
Corpo maldito.
Se queimar não faz fumaça.
Nem gelo.
(...)
Pensa.
Esquece.
Pensa.
Não.
Pensa.
Grita.
(...)
Bom dia, odeio passarinho na janela.
Bom dia, odeio sol na planta.
Bom dia, odeio saber que o ódio passa.
E eu fico aqui.
Com o bom dia.
Passado.
Nada.
(...)
Menina boazinha vai pro céu, tirar pó de corredor e limpar pena de anjo sem pau.
Menina ruim sangra.
Mas vive.
(...)
E ciclope não fica vesgo.
É fato.

***

Funciona em dois níveis.


O corpo está nadando.
Dentro de um liqüidificador.
Primeiro não sabe como entrou ali.
E, ás vezes, esquece que aquilo é um liqüidificador.
E tudo gira.
É tudo uma festa... um jogo no qual esquecer te faz ficar na superfície.
Rodando feliz... orgasmo deixando a água te levar.
Mas quando se lembra da hélice.
O instinto é mais forte.
O corpo nada para o fundo.
(...)
E aí é um só nível.
É só amanhecer com gosto de bolor na boca.
Como a gente vê a vida depois do orgasmo.
(...)
Esse é o testamento de Jack.
Quer ler coisa bonita com mensagem então vai ler os livros do "mago" e não a minha
coleção de cacos de copos.
Caminho Suave, 5:7-9.
Porque somos muitos.

***

Te localiza por teus dentes...


Sabe Winston, é diferente para cada um.
E depois do campo... Caulfield não te espera.
(...)
Triste Winston.
No seu caso são ratos.
Devoram a alma.
(...)
Olha pela a janela.
O boneco do posto Sartre continua dançando sem luz.
Só o vento por dentro... só o vento.
(...)
Pobre Winston.
Pobres ratos.
Pobre ciclo.

***

Carol Anne e sua dúvida.


Come os vermes ou vomita?
Fingir de morta ou brincar pra sempre?
Nunca sabe o que fazer, pobre Carol Anne...
(...)
Olha.
Fecha.
Olha.
Pensa.
Fecha.
Olha.
Pensa.
Morre.
(...)
Regan e seu torcicolo.
Nunca consegue dormir.
Pobre Regan não tem mais alma.
E já não mora mais aqui.

***

Ela diz que eu não ligo.


Eu vim aqui procurando paz.
Ela diz que eu fiz promessas.
Eu nunca disse uma palavra.
Ela diz que cansou.
Eu olho para a TV fora de sintonia.
Ela diz que vai embora.
Eu gosto mesmo é do Ozzy.
(...)
O jipe do padre furou o pneu.
Derrapou.
Bateu.
Morreu.
Se fodeu.
(...)
Antes ele do que eu.

***

Sol queima a alma.


Bom dia.
Abre a janela.
Olha em volta.
(...)
Tá cheio de poeira.
O chão.
A vida.
Alergia.
(...)
Sapo caíu da festa no céu.
Onde eu andei?
Quem morou aqui?
Cadê meu café?
(...)
Fecha.
Olha.
Fecha.
Olha.
Fecha.
Merda.
(...)
Bom dia.
Eu sou o gosto seco de Jack.
Lava o rosto.
Encanto ainda rima com enquanto.
Sempre vai rimar.
(...)
Príncipe de cu é rola.
O pulso ainda afasta os pontos.
Sapos...
Nação de sapos.

***

Eu sou um estilete sem cabo.


Quer pegar, pega.
Só que não entro nem saio da vida de ninguém sem deixar marcas.
Marcas boas ou ruins.
Mas marcas.
(...)
Lâmina cada dia mais afiada.
Quer segurança?
Vai brincar com cotonete.
Eu não nasci pra isso.
Eu curto pulso, sangue, intensidade.
Bebo anti-socialmente.
E tenho tatuagens feias feitas com motor de boneca e agulha de costura por amigos nos
anos 80.
Caveiras toscas.
Marcas de uma época.
Lembranças de quem sou.
Do que sou.
Do que nasci pra ser.
E foda-se.
(...)
Foda-se mesmo.
Eu sou uma máquina de ferimentos.
Quer beijar?
Vai ser intenso.
Quer brincar?
Só não fala que eu não avisei.
(...)
Eu sou o olho necrosado de Jack.
E coço ele com minhas lâminas.

CAPÍTULO TRÊS
A arte não comove.

E todo dia começa de novo.


Dá a partida.
Não sei bem como.
Mas sempre funcionava.
Meu carro era velho, tipo,
daqueles que quando eu arrumava uma coisa
ele quebrava outra.
Fiquei pensando se vou ser pra sempre assim.
Que nem aquele carro tosco.
Ir andando pra ver até onde agüenta.
Até quebrar alguma coisa.
E arrumar.
Pra depois quebrar outra.
Carro zoado saca?
Com trinta e dois anos.
E trinta e dois dentes.
Rodado pra caralho.
Mas com gasolina no tanque.
E vontade de estrada.
Sem seguro.
Sem cinto de segurança.
Cheio de multas.
Sempre com lugar no banco.
Espelho que não deixa ver o que passou.
Milhares de nomes atropelados nos pneus.
Velocidade.
Perseguição tipo de filme fake.
Bambeando na pista.
Amortecedor no compasso dos faróis.
E dos pisca-piscas.
Apaga a luz.
Abaixa a cabeça.
Esquece o volante.
E pisa fundo.
Na estrada em que o sentido não importa.
Na real, só importa ir.
E eu sempre vou, saca?
Sempre dou a partida.
E sumo de vista.

***

Começa com um pedido de desculpas.


Sim, caro caríssimo, a presença triunfante do vírus da derrota...
As desculpas.
Mas, que esta seja a última, ou pelo menos a que valha.
(...)
E após um longo tempo em silêncio é impossível que imagines quantos gafanhotos guardei
na garganta...
quantas vezes assisti em silêncio contemplares meus erros.
E ah sim, foram erros.
Mas erros muito bem sucedidos, convenhamos.
E errar é uma arte, caro caríssimo.
Para alguns uma frivolidade da inconseqüencia, para outros, filosofia de vida.
E foram senhores erros... embora não o suficiente.
Óbvio.
Nunca o é.
Abençoado seja.

***

Como recompor cacos sem cortar as mãos?


Como caminhar em frente se cada passo significa a impressão do peso do mundo e o
esmagamento do que pode existir de bom... pra qualquer lado em que se pense ir.
Do outro lado do espelho, o dragão ainda palita Alice de seus dentes.
E eu?
Eu sei que está lá, mesmo não podendo ver.
Mas sei...
E agora que sei, sei que não vi quando poderia ter visto.
E sei que não só o reflexo reside ali, mas parte de mim... também entre os dentes.

***
Amanheceu na Rua Direita.
Pombos.
Ergueu a porta do bar.
Primeiro cliente.
Não, eu não durmo.
Não, eu não tenho vergonha de estar sujo.
Não, eu não pretendo mudar de vida.
(...)
Café.
Conhaque.
Café.
As pessoas passam.
Os pombos voam.
Pra onde eu vou agora?
O que fazer da vida Nancy Boy?
(...)
Eu ligo.
Diz que no final da tarde.
Deito num colchão fedendo a umidade.
João Dias.
3 reais o prato feito.
15 reais a pernoite.
Maldito Caulfield.

***

Para se errar com classe o erro deve ser magnânimo, pois afinal, até para o erro existem
expectativas... você sabe.
E como existem!
E ah, caro caríssimo, quem dera eu cometer o mais perfeito dos erros.
Ganhar no inverso da loteria.
Mover montanhas.
Quem dera eu ser o Maomé da falha, o Zeus do fracasso, o Alah do equívoco.
Seria estrela que vive no escuro sem brilhar, e aí sim minha loucura seria a mais sábia entre
os homens.
(...)
Caro caríssimo, quem me dera ser tão capaz quanto as pragas que cospes em meu nome, e
pelas quais agradeço.
Sim, manche meu sangue que dele respirarão as flores que avivarão teus olhos.
A flor de Lótus não nasce de meu passo, mas sim o espinho.
Buda morava na casa ao lado, não aqui...
Aqui reside o nada, caro caríssimo.
O que, para muitos, não é nem um pouco bom.
(...)
Não há mais limites e tampouco bom senso.
Não há mais sorrisos com zero porcento de cáries.
Só o absoluto, incontrolável e irremediável nada.
Tranque as janelas.
A poesia não enche o tanque.
Nunca encheu.
Era um placebo.
Sempre foi.
A arte não comove.

***

São trinta e dois passos.


Não é difícil.
Vai logo.
Falta pouco agora.
"Feel it closing in" é?
Patético...
Pensou que era simples?
Não, não.
Nunca sem marcas.
Nunca sem cicatrizes.
Nunca sem essas correntes.
E na outra ponta de cada uma delas está um peso que você tenta esquecer.
E não tem chave.
Vão ficar pra sempre em seus calcanhares.
Não estão presos na carne.
Estão nos ossos.
Tá difícil?
São só trinta e dois.
De acordo com as pesquisas a média final são sessenta.
Então são trinta e dois ou faltam vinte e oito?
Contagem regressiva?
Você escolhe.
Tanto faz na verdade.
Quando você corta a boca sangra.
Quando você desloca o ombro dói pra caralho.
Deu pra sacar?
Dói pra caralho.
Tudo.
As correntes, as ampulhetas, os trinta e dois.

***

Meia noite na estrada


eu pego meu carro,
abaixo a cabeça
e espero a morte.
(...)
Meia noite na estrada
Jean Paul Sartre
se torna um inseto
no vidro do carro.
(...)
Meia noite na estrada
atropelo Nietzsche
como se fosse
um cachorro velho.

***

Alice dá as costas.
Nem sei porque as vezes falo certas coisas.
Me sinto aquele garoto que não tem nada o que fazer e atira tijolos na Dutra por cima das
passarelas, só pra ver se provoca algum tipo de acidente envolvendo pessoas que
desconhece.
Bizarro modo de alterar o curso da história.
Alice volta e me xinga.
Diz que fez planos.
Mas eu... eu só vivi.
O que os amigos vão dizer...
Eu sou um estilete sem cabo.
Você não era assim...
Mãe, Gregor está rastejando pra fora do quarto.
(...)
Outro dia estava filosofando bêbado com um amigo e cheguei a conclusão de que a CIA
colocava ácido nas papinhas de algumas crianças.
Assim elas viajavam pro resto da vida.
O caminho da colher à boca era colorido, e nele sempre a Barbie conseguia o Ken que
queria.
Porque era linda.
Amor da mamãe.
Alice narcoléptica.
Tudo culpa da CIA.
Alice era culpa da CIA e do ácido nas papinhas.
E eu tenho um copo vazio.
E um saco de Jó.

***

O que me impede, caro caríssimo?


Nada.
Eis a sua resposta.
Eis minha declaração de independência.
(...)
Não nasci para flores eternas.
Não nasci para acumular sorrisos de conveniências nem tapinhas nas costas.
Por isso poupe-se, caro caríssimo.
(...)
Porque aqui, só o triunfo da incoveniência.

***

Eu nunca paro.
Nunca fico quieto.
Sou uma pessoa absolutamente atormentada.
E, por isso, as vezes, não me suporto.
(...)
Sim... eles estão aqui Carol Anne.
Nesse hotel que nem o cinco pega.
(...)
O fato é que nunca consegui entender porque a gente não supera certas coisas.
Ninguém em sã consciência estaria em um hotel imundo do centro, sentindo cheiro de mofo
e ouvindo filosofia teletubbie sobre relacionamentos fúteis.
Mas é a sina.
É o preço a pagar por sermos filhos de uma lógica incompleta que defende criadores sem
criação.
Galinha sem ovo.
Juca, meu amigo imaginário.
(...)
Vai com deus, meu filho.
Não tia, só tenho dinheiro pra pagar a minha diária.
E não, não dou minha bebida pro santo.
(...)
Nesse hotel em que Carol Anne me protege, hoje amo esta Alice como se nossa respiração
dependesse do mesmo compasso.
Bonito...
Sério... acho mesmo.
Mas hoje eu queria uma Regan, com sua boca suja e seu cuspe na minha cara.
Juro que eu queria.

***

Olho no asfalto.
Pigarro na garganta.
Seria considerável se não fosse tão cinza.
De canto do olho, de costas para o mundo.
Minha vida resume-se a uma montanha russa de descasos.
Já disse isso né?
Apago o cigarro.
Nada faz sentido.
Sequer lembro o dia em que tudo passou a ser desse jeito.
Mas os passos vacilam e embriagada seja a questão.
Não me cabe a clemência, a passividade à vida sem paixão.
Nem que seja paixão pela queda.
Nem que seja paixão pelo nada.
O próprio Nietzsche morreu cedo.
Ele e seu bigode muito feio.
Nada disso me tira a vontade de assustas as pombas na calçada quando quase 6 as padarias
abrem e eu passei a encarnar 24 horas tudo o que mais amo.
"I will give you even my body, Spiritwalker".
Foda-se.
É, foda-se a boa postura, o bom caminho, a boa virtude.
Eu sou o avesso de eu mesmo e meus olhos queimam em descrenças.
Odeio a vizinhança.
Odeio a cidade quando desperta.
Penso Taxi Driver.
Tem muito mais sujeira nas pessoas do que nas calçadas.
As pessoas não deviam ter nojo das baratas, pelo menos elas são o que são.
Jás as baratas...
O café abençoa as blasfêmias.
Puro, "dusty" e nunca com o gosto que você quer que ele esteja.
Maldito seja aquele que inventou as escadas.

***

É um bar perdido, tipo aqueles bonitinhos, da parte boa do Bexiga.


Mas na verdade é perto da Sé.
Portanto imundo.
Um Drink No Inferno.
Entrei ensopado.
Pendurei a jaqueta.
Um whisky.
O garçom sorri.
Me chama de senhor.
A teoria do intervalo.
Por um momento desejei mais estar em um bar daqueles podres da Armênia do que
qualquer outra coisa no planeta.
Sinto muito mais sinceridade na sujeira explícita.
Vai entender...
Nunca tive vocação para bom menino politicamente correto.
Nunca consegui escapar de estar envolvido em todo tipo de problema possível.
Nunca consegui ter uma vida calma e sempre fiz merda.
E, na real, demorou até pra entender que eu gosto de fazer merda.
Porque, se você pensar direito, se todo mundo fizesse tudo certinho, nunca nada ia ter
mudado na vida de ninguém.
Admirável Mundo Novo.
E, de boa, eu já me decepcionei o suficiente com as pessoas pra me importar com o que elas
pensam ou não sobre o que sobra de minha vida.
Já fui utópico e idealista o suficiente pra abastecer quarenta anos adiante.
Agora me reservo o direito à descrença.
É estranho pensar assim.
Muita coisa perdeu o sentido pra mim.
E essa perda não foi nada suave.
Enfim...
A gente cresce com a idéia de que tem que acreditar em alguma coisa mas não imagina que
a maior certeza de nossas vidas é que essa coisa, qualquer que seja ela, vai ser arrancada da
gente sem piedade.
E é assim que a gente se torna adulto.
Perdendo os sonhos.
E só o que resta pra gente, nesse sentido, é o intervalo.
Fora isso, seguir em frente causando o maior estrago possível.

***

Nesse livro não tem história.


Só um corpo parado.
Olhando pela janela.
Com inveja dos pombos quando eles somem de vista.
Nesse livro não tem fim.
Ninguém é salvo.
E falta alguma coisa.
Sempre falta.
Alice suspira.
Me sinto mal.
(...)
Tadinha...
(...)
Deito e abraço seu corpo quente.
O cheiro que tanto adoro.
Ela pergunta o que eu tenho.
Na verdade eu não sei.
Porque nesse livro não tem nada pra mim.

***

Eu vivo no limite, caro caríssimo.


E não me vejo vivendo de outra forma.
Eu subi a montanha e não vi nada.
Nada.
Se preferiria continuar escalando sem chegar ao topo?
Talvez... talvez o entretenimento da escalada me distraísse o suficiente para não pensar nas
dores.
Só que o topo, caro caríssimo, o topo é só dor.
E descer é muito pior porque se conhece o caminho.
E eu sei muitíssimo bem o que há lá embaixo porque vim de lá.
Então sei como tudo vai terminar.
Então decidi pela mudança de sintonia.
Não entendo mais sua língua.
Não entendo sequer a minha.
Talvez decifrar tais hieróglifos facilite a queda.
Anestesia geral, caro caríssimo.
Uma vez provada não desejarás outra coisa.
Eu declaro estado total de anestesia geral, caro caríssimo.
Em minha vida, em meus passos, em meus pensamentos.
E este nada que tem em mãos, caro caríssimo, é o raio-x de uma vida esfaqueada pelas
coleções de tampinhas de garrafas e injúrias.

***

No meu doce mar de pecados, reside um sorriso sarcástico.


Em meu sorriso sarcástico guardo todo um mar de pecados.
Na minha boca amaldiçoada reservo um sem fim de pragas.
E entre minha pragas cultivadas, um sem fim de maldições.
(...)
É pegar ou largar.
Porque a vida imita a carne... sangra, seca e arde.

***

Ele saíu e não entendeu nada.


Era o inferno, e ele uma cadela velha.
E bêbada.
E repetia seu nome para lembrar quem era.
Ou para tirar outros da cabeça.
Só que ele estava errado.
E sujo.
Vomitado.
E deu tapas na cara clamando sabe-se lá o que.
Repetindo seu nome.
Lamentando existência.
No escuro vexame pediu pra lhe darem um tiro.
Nessas horas nunca se encontra quem o odeie o suficiente.
Porque quando as luzes rodam, os olhos param.
E diálogos fluem, todos se calam.
Quem sou eu?
Outro tapa na cara.
Você tá bêbado, filho da puta.
Só pode estar.
Ou está doido.
Ou os dois.
Alguém levanta pela gola.
Na ladeira escura e imunda.
Cara, é você?
Não, juro que não.
Ou sim.
Depende do dia.
Me deixa aqui.
Vai ficar bem?
Claro que sim.
Virou a esquina.
Mais um tapa na cara.
Acordou e virou barata?
Não.
Acordou e virou cadela...
Velha.
Suja.
Bêbada.
Com três cabeças.
E vai passar o resto dos dias.
Guardando a porta do inferno.

***

Alice me fala de Alice.


Digo que não entendo.
E é verdade.
Não entendo mesmo.
Deve ser culpa da CIA e das papinhas.
Digo que ela me deixou.
Ela passa a mão em meus cabelos.
Diz que sempre me quis bem.
O defunto nunca esfria.
Acende o palito e joga no copo.

***

De uma máquina podre encostada no canto da padaria vem um som de telejogo.


Máquina de hipnotizar velho.
Tem por toda a cidade.
Acompanho de longe.
Na tela a roleta gira.
3000.
Dobra.
Outra dose.
1000.
Repete.
Abraço de Alice.
5000.
Age como se nada tivesse acontecido.
Dobra.
Dose.
Será que não entende que não é com mais impulso que se pára a roleta?
3000.
Engole outra nota.
Sussurra em meu ouvido.
Outro jogo.
Russo.
Dose.
Olha nos meus olhos.
Sala 101.
Ha!!!
Snake Eyes!!!
Eu não estou pedindo perdão.
Perde tudo, Winston.
Isso!!!
Não quero 3000, 5000, 1000, dobra porra nenhuma nem nenhuma caralha dessas.
Jogo o velho pro lado.
Pulo em cima da máquina e grito.
Perde tudo!!!
Por favor!!!

***

Eu me lembro dos dias em que o sangue nos lábios não cicatrizava as palavras.
Mas não há de ser nada...
Confie em seus passos.
A esperança é a única que morre

***

Reprises malditas.
Hotel imundo.
Alice.
(...)
Abro a janela.
Cuspo nos pombos.
Ah, Av. São João... o verdadeiro tédio.
O ciclo se fecha.
(...)
No prédio em frente uma mulher pendura uma calça pela janela.
Penso Joelma.
Na calçada uma menina desfila com seu cabelo ruim e com o passo típico daquelas que
ficam felizes se ganham buzinadas da geração "da poltrona".
Os carros enfileiram.
Os motoboys costuram.
Os copos esvaziam.
Os pombos observam.
E tudo seca, Buk...
(...)
Não sei que dia é hoje, nem da semana nem do mês.
Não sei que horas são.
E eu sempre nado para o fundo.
De Alice em Alice.
Um palhaço para Juca Chaves.
(...)
A disputar com abutres em fúria a carne a cair em sua benção,
que já se faz um banquete de vermes, não importa qual deles vençam,
se arrastam víboras sedentas pelo sangue do mal original,
quando fez-se nascer outra guerra, sob a sombra do poeta enforcado.
(...)
É pegar ou largar.
Porque a carne imita a vida... suja, curta e perdida
(...)
Caro caríssimo...
Vai tomar no cu.

***

Talvez a resposta esteja perdida entre a razão e a inocência.


Talvez a resposta seja vazia como o olhar seco entre os lírios.
Talvez a resposta não exista.
(...)
É, talvez todo esse tempo de busca tenha servido apenas para preencher a falta de sentido
em abrir portas que sempre levam aos mesmos quartos estéreis.
Talvez usemos a resposta para fugir da certeza de que não há nada além disso... nada além
da busca...
Nada além das misérias que se contam entre os olhos que se prendem frente ao espelho.

***

Uma vizinha me olha através da cortina.


Recolho as contas amontoadas no portão.
Outra abre a janela.
Quatro da manhã.
De volta à Palomar.
Eu preciso mudar de bairro.
(...)
Abri a porta de casa.
Cheira pior que o hotel.
Os pratos na pia tem um algodão doce verde.
Cortaram a luz.
Lavo o último copo sobrevivente.
Desce macio e reanima.
Sempre.
Sento no sofá.
Esvazio os bolsos.
Dezenas de guardanapos e flyers com frases que anotei pra lembrar de esquecer.
Nick observa.
"Brother, my cup is empty".
Amanhece.
Olho pelo vidro.
Abrem o bar.
O velho entra.
O cachorro sai.
E eu finalmente entendo...
(...)
Uma risada curta e nervosa.
Meus olhos coçam.
Tem um recado embaixo da porta.
Ela diz pra eu ligar.
(...)
Desculpa vida.
Essa alma vadia é mais forte que eu.
3358-41...

***

Nesse livro não existe vida, caro caríssimo.


Se aprendi algo nessa trilha é que todos somos culpados.
Sem exceções.
Eu sou culpado, você é culpado, Whitman é culpado, Thoreau é culpado, Rimbaud é
culpado e até o retardado do Bukowski é culpado.
Alice, Regam, Carol Anne... todas elas.
E, nesse jogo de culpas, eu dou o primeiro passo, caro caríssimo, porque o peso é demais, e
quero respirar sem peso, pelo menos mais uma vez...
Estes são meus diários, caro caríssimo.
Espero que os ame... ou que os odeie do fundo da alma.
(...)
Acende o fósforo... joga no copo.

***

Sangue nos olhos, na boca, no tato.


Suor e paixão.
Beijo com gosto de vida.
(...)
Um segundo só é válido quando é pleno.
Senão é mentira.
Senão é morto.
Senão é imperfeito.
(...)
Não agarro desejos com dedos mas com dentes.
Não faço meus dias segredos mas transparentes.
Passividade é doença.
Conseqüência é muralha.
Utopia é placebo.
(...)
E dane-se seu exército de palavras miseráveis.
Porque bem sei, tuas garras são de seda.
E saibas tu, tua sombra não me assusta.
Porque a lua... a lua é minha.

Potrebbero piacerti anche