Para saber como lidar com a Smurfete, o pequeno Smurf se dirigia
ao Grande Smurf, porque o Grande Smurf era o mais sábio da aldeia azul e Gargamel-URSS nos espreitava. O pequeno Smurf de hoje é um nerd que acredita saber muito mais que todos os professores de sua escola. Não pergunta nadinha aos sábios, com seus conhecimentos insuficientes e distorcidos do tempo do Epa. O novo oráculo não está em templos ou localizado nas cercanias do Nepal ou Marrakesh: está no ar, aqui, ao alcance da mão e da Internet grátis. É o Google, que anda comprando terras no Brasil, lucrando a rodo com sua fidelidade ao novo deus: o Mercado, cujos sacerdotes são os banqueiros. As catedrais são as bolsas de valores, os fiéis são os 5% de bilionários do mundo e os descrentes são os 95% que ficam aqui ralando para pagar dívidas e seus juros. O padre era o guru. Depois vieram os indianos. Pastores, com sua laranjada envenenada e sacolinhas. Hoje, a Internet grátis desvenda os mistérios: como se pronuncia “obeso”? É “obêso”, como diz o cara da TV, ou “obéso”, como diz a professora na escola? O Aurélio não ensina, mas o Google, o novo oráculo multifuncional, resolve a parada: a professora está certa, o cara da TV está errado. E então o nerd sentencia: “É obéso, pô!” Quem ousará contestar esse pretensioso Billy Gates terceiro-mundista? É o oráculo Google que dá de presente ao pequeno smurf-nerd seu novo guru: Mr. Lester Brown. Presta atenção ao que o cara diz: o chinês vende gadgets aos americanos e enche o bolso de dinheiro e quando ele resolver importar comida é esse dinheiro que vai importá-la dos EUA, cujo povo vai passar o quê, mesmo, auditório? Passar fome ou pagar caríssimo pelo pão de cada dia. Para não passar fome, terão que abandonar uma competição industrial que jamais vão vencer, pois a China faz melhor e mais barato, e cavoucar a terra para plantar alguma coisa. Mas quando dobrarem a produção agrícola, o que vai acontecer com a água? Vai faltar, pois a agricultura consome água pra mais de metro cúbico (80% de toda a água retirada). A grande estupidez dos sujeitos que governam o mundo é achar que manipulando preços ou pondo um preço-limite nos produtos agrícolas vão revogar a lei da gravidade e da oferta e procura, como quis aquele vereador suburbano crente no seu poder legislativo.
Babaquinha que não parar a poluição vai ferrar o mundo, pois os
preços dos alimentos vão disparar, diz o nerd, de joelhos ante o guru Mr. Brown. O imbecil que não entende o desastre do efeito estufa e da temperatura global vai entender quando pagar a conta do supermercado: a alimentação ficará caríssima. Nerds são assim, à lá NNRM: eles são eles, o resto é tudo idiota, imbecil, insciente, por aí. Os ricos, como têm mais dinheiro, vão conseguir comer, até o ponto em que os pobres, aqueles que ralam na tarefa produtiva direta, vão morrer à míngua, esgotados de tanto trabalhar, e robôs baratinhos entrarão em seu lugar. Wall-E! Manter gente viva será um desperdício de energia. Gente come, tem vontades, e quando a barriga ronca se mete a fazer revoluções, essa gentalha. Mas então já nos ferramos, Mr. Brown? Não necessariamente, pequeno nerd-smurf-gafanhoto: “Temos que ter esperança e nos unir”.