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Revista O Globo, 10/10/2010

Em 1988, ficou célebre a foto do traficante Brasileirinho, de 13 anos, atirando para o alto com
sua metralhadora, na Rocinha. O Bope foi à luta e, no dia seguinte, era um tenente que repetia
o gesto. À época, André Batista pensou: “Tenho que ser um desses heróis.” Conseguiu. Aos 37
anos, ex-capitão do Bope, major da PM, um dos mais preparados policiais do Rio, ele é
formado em direito na PUC, tem duas pós em segurança pública (na UFRJ e na UFF) e faz MBA
em gerenciamento de projetos. “Por causa do filme ‘Tropa de elite’, o Bope ficou em
evidência. As pessoas queriam ajudar, mas não sabiam como. Por isso, inauguramos um
escritório de projetos no Bope. Hoje, só com projetos você convence uma autoridade a
gastar.” Deu tão certo que, quando o comandante-geral Mário Sérgio Duarte estendeu o
escritório de gerenciamento de projetos para a PM toda, ele deixou o Bope para chefiar o
setor. “Os projetos das Olimpíadas para a polícia são de reestruturação total.” Batista foi o
negociador do sequestro do ônibus 174, inspirou o André Matias de “Tropa de elite” e
escreveu com Luiz Eduardo Soares e Rodrigo Pimentel “Elite da tropa”. Agora, com os dois e o
delegado Cláudio Ferraz, ele lança “Elite da tropa 2”. O alvo é a milícia, que “faz do tráfico um
braço dela e se enraíza na política”.

André Teixeira

REVISTA O GLOBO: O que mudou no Bope após o filme “Tropa de elite” e o livro “Elite da
tropa”?

ANDRÉ BATISTA: O filme e o livro despertaram a curiosidade em relação ao que havia por trás
da eficiência daqueles homens de preto. O então comandante, coronel Pinheiro Neto,
aproveitou para mostrar que a tropa era muito mais do que o filme. O Bope se
profissionalizou, deu um salto de qualidade. O tema que mais interessa ao fluminense hoje é a
pacificação, e o Bope vai voltar todas as baterias para isso. Não por acaso o embrião das UPPs
é a favela Tavares Bastos (sede do Bope). O soldado do Bope, após usar a força máxima, vê
que não dá para usá-la sem tentar antes outras ferramentas: aproximação com a comunidade,
informação, inteligência.

Que projetos a PM está preparando?

Você não faz uma Olimpíada com uma polícia de Terceiro Mundo. Vem aí o COE, Centro de
Operações Especiais, na Maré, na porta de entrada da cidade. Ali, todas as unidades especiais,
inclusive o Bope, vão se estabelecer para atuar em conjunto nas operações. O Batalhão de
Policiamento em Áreas Turísticas (BPTur) vai ser reestruturado e deve se instalar no porto. Ele
precisa de câmeras de monitoramento da cidade, que não temos. Graças a um convênio com a
Faetec, os policiais estão aprendendo inglês. Outro projeto é o batalhão-padrão, pois os
batalhões convencionais estão caindo aos pedaços. Algumas unidades serão demolidas, e
outras totalmente reestruturadas. Eles serão mais integrados à população e vão se financiar.
Terão quadras poliesportivas e praças, aproveitarão a água da chuva e a luz solar, e estarão
abertos a pequenas lojas e bancos.

Ao escrever “Elite da tropa”, você foi chamado de traidor por alguns colegas. Por que fez o
livro?
Resolvi correr o risco porque vivi uma época no Bope (1996 a 2001) em que pedíamos muito e
não recebíamos nada. No 174, eu sabia o que fazer, mas não conseguimos salvar a vida da
menina (Geísa Firmo Gonçalves). Faltavam equipamentos. Os fuzis de precisão tinham lunetas
mofadas. E não tínhamos um grupo armado treinado para entrar e matar o sequestrador.
Naquele momento, foi a falência completa.

Você inspirou Matias, vivido pelo ator André Ramiro...

Mostraram-me alguns atores: “Esse aí é o cara que vai interpretar você.” Eu pensava: “Não
tem nada a ver.” Quando me apresentaram o Ramiro, pensei: “Esse cara é parecido comigo.”
E, do nada, dei um tapão na cara dele. Era um teste. Eu disse: “E aí, vai fazer o quê, vai me
devolver o tapa? Já passei por coisa muito pior, se você vai me interpretar, meu amigo,
aguenta.” Ele aguentou. Depois descobri que ele era quarto dan em taekwondo. Que risco eu
corri. (Risos.)

E como eram os embates com seus colegas de PUC?

Os alunos acreditavam que as teorias filosóficas e jurídicas iam resolver o problema de todo
mundo. Já tiro e morte eram iminentes para mim. Eles não sabiam o que era Bope. “Ah,
Ibope?” Faltava uma certa dose de realidade a eles. Eu dizia de sacanagem: “Ontem prendi no
morro 15 usuários, deixa eu ver se é algum de vocês.” Eles diziam: “Uma maconhazinha não
faz diferença.” E eu: “Uma maconhazinha é a munição que você está comprando para o cara.”
Achavam que o consumo recreativo era dissociado do crime, enquanto o traficante falava:
“Estou aqui graças aos narizes nervosos.”

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