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Em 1988, ficou célebre a foto do traficante Brasileirinho, de 13 anos, atirando para o alto com
sua metralhadora, na Rocinha. O Bope foi à luta e, no dia seguinte, era um tenente que repetia
o gesto. À época, André Batista pensou: “Tenho que ser um desses heróis.” Conseguiu. Aos 37
anos, ex-capitão do Bope, major da PM, um dos mais preparados policiais do Rio, ele é
formado em direito na PUC, tem duas pós em segurança pública (na UFRJ e na UFF) e faz MBA
em gerenciamento de projetos. “Por causa do filme ‘Tropa de elite’, o Bope ficou em
evidência. As pessoas queriam ajudar, mas não sabiam como. Por isso, inauguramos um
escritório de projetos no Bope. Hoje, só com projetos você convence uma autoridade a
gastar.” Deu tão certo que, quando o comandante-geral Mário Sérgio Duarte estendeu o
escritório de gerenciamento de projetos para a PM toda, ele deixou o Bope para chefiar o
setor. “Os projetos das Olimpíadas para a polícia são de reestruturação total.” Batista foi o
negociador do sequestro do ônibus 174, inspirou o André Matias de “Tropa de elite” e
escreveu com Luiz Eduardo Soares e Rodrigo Pimentel “Elite da tropa”. Agora, com os dois e o
delegado Cláudio Ferraz, ele lança “Elite da tropa 2”. O alvo é a milícia, que “faz do tráfico um
braço dela e se enraíza na política”.
André Teixeira
REVISTA O GLOBO: O que mudou no Bope após o filme “Tropa de elite” e o livro “Elite da
tropa”?
ANDRÉ BATISTA: O filme e o livro despertaram a curiosidade em relação ao que havia por trás
da eficiência daqueles homens de preto. O então comandante, coronel Pinheiro Neto,
aproveitou para mostrar que a tropa era muito mais do que o filme. O Bope se
profissionalizou, deu um salto de qualidade. O tema que mais interessa ao fluminense hoje é a
pacificação, e o Bope vai voltar todas as baterias para isso. Não por acaso o embrião das UPPs
é a favela Tavares Bastos (sede do Bope). O soldado do Bope, após usar a força máxima, vê
que não dá para usá-la sem tentar antes outras ferramentas: aproximação com a comunidade,
informação, inteligência.
Você não faz uma Olimpíada com uma polícia de Terceiro Mundo. Vem aí o COE, Centro de
Operações Especiais, na Maré, na porta de entrada da cidade. Ali, todas as unidades especiais,
inclusive o Bope, vão se estabelecer para atuar em conjunto nas operações. O Batalhão de
Policiamento em Áreas Turísticas (BPTur) vai ser reestruturado e deve se instalar no porto. Ele
precisa de câmeras de monitoramento da cidade, que não temos. Graças a um convênio com a
Faetec, os policiais estão aprendendo inglês. Outro projeto é o batalhão-padrão, pois os
batalhões convencionais estão caindo aos pedaços. Algumas unidades serão demolidas, e
outras totalmente reestruturadas. Eles serão mais integrados à população e vão se financiar.
Terão quadras poliesportivas e praças, aproveitarão a água da chuva e a luz solar, e estarão
abertos a pequenas lojas e bancos.
Ao escrever “Elite da tropa”, você foi chamado de traidor por alguns colegas. Por que fez o
livro?
Resolvi correr o risco porque vivi uma época no Bope (1996 a 2001) em que pedíamos muito e
não recebíamos nada. No 174, eu sabia o que fazer, mas não conseguimos salvar a vida da
menina (Geísa Firmo Gonçalves). Faltavam equipamentos. Os fuzis de precisão tinham lunetas
mofadas. E não tínhamos um grupo armado treinado para entrar e matar o sequestrador.
Naquele momento, foi a falência completa.
Mostraram-me alguns atores: “Esse aí é o cara que vai interpretar você.” Eu pensava: “Não
tem nada a ver.” Quando me apresentaram o Ramiro, pensei: “Esse cara é parecido comigo.”
E, do nada, dei um tapão na cara dele. Era um teste. Eu disse: “E aí, vai fazer o quê, vai me
devolver o tapa? Já passei por coisa muito pior, se você vai me interpretar, meu amigo,
aguenta.” Ele aguentou. Depois descobri que ele era quarto dan em taekwondo. Que risco eu
corri. (Risos.)
Os alunos acreditavam que as teorias filosóficas e jurídicas iam resolver o problema de todo
mundo. Já tiro e morte eram iminentes para mim. Eles não sabiam o que era Bope. “Ah,
Ibope?” Faltava uma certa dose de realidade a eles. Eu dizia de sacanagem: “Ontem prendi no
morro 15 usuários, deixa eu ver se é algum de vocês.” Eles diziam: “Uma maconhazinha não
faz diferença.” E eu: “Uma maconhazinha é a munição que você está comprando para o cara.”
Achavam que o consumo recreativo era dissociado do crime, enquanto o traficante falava:
“Estou aqui graças aos narizes nervosos.”