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ARTIGO ARTICLE
Violência: um problema global de saúde pública *

Violence: a global public health problem *

Linda L. Dahlberg 1
Etienne G. Krug 1

Abstract This article is a version of the Introduction Resumo Este artigo é uma versão do que foi publi-
to the World Report on Violence and Health, published cado no Informe Mundial sobre Violência e Saúde, da
by the World Health Organization (WHO). It presents Organização Mundial de Saúde (OMS), como intro-
a general description about this phenomenon and dução ao tema. Apresenta uma descrição geral da
points some basic questions: concepts and definitions problemática e a posição da OMS. Nele, os autores se
about the theme; the state of knowledge about it; dedicam a responder algumas questões básicas: o
nature and typology on violence; proposal of a quanti- estado do conhecimento sobre o assunto; os con-
tative and qualitative approach of an ecological model; ceitos e definições com os quais a OMS trabalha; a
responsibilities and functions of the public health natureza e a tipologia sobre violência; as formas de
sector and its potentiality to prevent and reduce vio- abordagem quantitativa e qualitativa em um
lence in the world; the responsibilities of the nations modelo ecológico; o lugar e o papel da saúde públi-
and the policy makers in a intersetorial point of ca e sua potencialidade com vistas a contribuir
view; difficulties and obstacles for actuation and para prevenir e diminuir a violência no mundo; as
challenges for the health sector. responsabilidades das nações e dos gestores em
Key words Violence and health, World Report on todos os níveis; os obstáculos para atuação e os
Violence and Health, External causes desafios para o setor.
* Capítulo extraído com Palavras-chave Violência e saúde, Informe
autorização do autor do
Relatório Mundial sobre
Mundial sobre Violência e Saúde, Causas externas
Violência e Saúde. OMS,
Organização Mundial de
Saúde. Genebra: OMS; 2002.
Version of the Introduction
to the World Report on
Violence and Health
(WHO): Geneve: WHO,
2002, authorized by the
authors.

1 Division of Violence
Prevention, National Center
for Injury Prevention and
Control, Centers for Disease
Control and Prevention,
WHO. Atlanta GA.
ldahlberg@cdc.gov
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Dahlberg, L. L. & Krug, E. G.

Introdução médicos, pesquisadores e sistemas da saúde


pública têm se dedicado à tarefa de compreender
A violência, provavelmente, sempre fez parte da as raízes da violência e à sua prevenção.
experiência humana. Seu impacto pode ser A violência pode ser evitada, e suas conse-
mundialmente verificado de várias formas. A qüências, reduzidas, da mesma forma que a saúde
cada ano mais de um milhão de pessoas perdem pública conseguiu prevenir e reduzir, em todo o
a vida, e muitas mais sofrem ferimentos não fa- mundo, as complicações relacionadas à gravidez,
tais resultantes de auto-agressões, de agressões aos ferimentos em locais de trabalho, às doenças
interpessoais ou de violência coletiva. Em geral, contagiosas e enfermidades causadas por alimen-
estima-se que a violência seja uma das principais tos e água contaminados.
causas de morte de pessoas entre 15 e 44 anos em Os fatores responsáveis por reações violentas,
todo o mundo. quer sejam derivados de atitudes e comportamen-
Embora seja difícil ter estimativas precisas, o tos ou de condições sociais, econômicas, políticas
custo da violência para o mundo se traduz em e culturais mais amplas, podem ser modificados.
bilhões de dólares de despesas anuais com cuida- É possível prevenir a violência. Esta afirmação
dos de saúde, acrescidos de outros bilhões rela- não é um artigo de fé, mas baseada em evidências
tivos às economias dos países, em termos de dias constatadas a partir de exemplos de sucesso em
não trabalhados, imposição e cumprimento da todo o mundo, desde ações individuais e comu-
lei e investimentos perdidos. nitárias de pequena escala até políticas nacionais
O custo humano de dor e sofrimento, natu- e iniciativas do legislativo.
ralmente, não pode ser calculado e é, na verdade,
quase invisível. Embora a tecnologia tenha tor-
nado certos tipos de violência – terrorismo, guer- Qual pode ser a contribuição da saúde pública?
ras, rebeliões e tumultos civis – diariamente
visíveis para as audiências televisivas, um número Por definição, a saúde pública não trata de
maior de atos violentos ocorre sem ser visto nos pacientes individuais. Ela se concentra em enfer-
lares, locais de trabalho e mesmo em instituições midades, condições e problemas que afetam a
sociais e médicas destinadas ao cuidado do saúde e tem por objetivo fornecer o maior bene-
público. Muitas das vítimas são muito jovens, fra- fício para o maior número de pessoas. Isto não
cas ou doentes para se protegerem. Outras, por quer dizer que a saúde pública não se interesse
convenções ou pressões sociais, são forçadas a pelo cuidado dos indivíduos. Sua preocupação é
guardar silêncio sobre suas experiências. prevenir problemas de saúde e levar segurança e
Da mesma forma que seus impactos, algumas cuidados às populações na sua totalidade.
causas da violência são facilmente constatadas. A abordagem da saúde pública a qualquer
Outras estão profundamente enraizadas no teci- problema é interdisciplinar e com base científi-
do social, cultural e econômico da vida humana. ca1. Ela se baseia em conhecimentos de diversas
Pesquisas recentes sugerem que, enquanto fatores áreas, como a medicina, a epidemiologia, a soci-
biológicos e vários fatores individuais explicam a ologia, a psicologia, a criminologia, a educação e
predisposição para a agressão, com freqüência a economia. Tal embasamento permitiu que a
tais fatores interagem com fatores familiares, saúde pública fosse inovadora e sensível a um
comunitários, culturais ou outros fatores exter- amplo espectro de enfermidades, doenças e males
nos, criando situações em que a violência pode em todo o mundo.
ocorrer. A abordagem da saúde pública também colo-
Embora a violência tenha estado sempre ca ênfase na ação coletiva. Com freqüência tem sido
presente, a humanidade não deve aceitá-la como comprovado que esforços coletivos provenientes
um aspecto inevitável da condição humana. de setores diversos, como saúde, educação, serviço
Juntamente com a violência, sempre houve sis- social, justiça e políticas, são necessários para
temas religiosos, filosóficos, legais e comunitários solucionar aquilo que usualmente é considerado
que foram desenvolvidos a fim de preveni-la ou um problema unicamente médico. Cada setor
limitá-la. Nenhum deles foi completamente efi- desempenha um papel importante na solução do
caz, mas todos deram contribuições a esse traço problema, e, coletivamente, as várias abordagens
definidor da civilização. têm o potencial de produzir reduções relevantes da
Desde a década de 1980, a área da saúde violência.
pública tem desempenhado um crescente papel A abordagem da saúde pública à violência
positivo a esse respeito. Um grande número de está baseada nos requisitos rigorosos do método
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científico. Ao deslocar-se do problema para a atos violentos mais óbvios de execução propria-
solução, ela apresenta quatro etapas importantes: mente dita. Assim, o conceito de "uso de força
1) examinar o maior número possível de física ou poder" deve incluir negligência e todos
conhecimentos básicos sobre todos os aspectos os tipos de abuso físico, sexual e psicológico, bem
da violência e unir sistematicamente dados sobre como o suicídio e outros atos auto-infligidos.
a extensão, o objetivo, as características e as con- Esta definição cobre uma ampla gama de
seqüências da violência a nível local, nacional e resultados, incluindo injúria psicológica, pri-
internacional; vação e desenvolvimento precário. Ela reflete um
2) investigar por que a violência ocorre, isto é, crescente reconhecimento entre pesquisadores da
realizar pesquisas para determinar causas e fa- necessidade de incluir a violência que não pro-
tores correlatos da violência; os fatores que au- duza necessariamente sofrimento ou morte, mas
mentam ou diminuem o risco de violência; os que, apesar disso, impõe um peso substancial em
fatores passíveis de serem modificados por inter- indivíduos, famílias, comunidades e sistemas de
médio de intervenções; saúde em todo o mundo. Muitas formas de vio-
3) usando a informação acima, explorar for- lência contra mulheres, crianças e idosos, por
mas de prevenção da violência, planejando, execu- exemplo, podem resultar em problemas físicos,
tando, monitorando e avaliando as intervenções; psicológicos e sociais que não representam neces-
4) levando a cabo, em cenários diversos, as sariamente ferimentos, incapacidade ou morte.
intervenções que parecem promissoras, disseminan- Tais conseqüências podem ser imediatas ou
do amplamente a informação, bem como determi- latentes e durar por anos após o ato abusivo ini-
nando o custo e a eficácia dos programas. cial. Assim, definir as conseqüências somente em
A saúde pública caracteriza-se, sobretudo, por termos de ferimento ou morte limita a com-
sua ênfase em prevenção. Mais do que simples- preensão total da violência em indivíduos, nas
mente aceitar ou reagir à violência, seu ponto de comunidades e na sociedade em geral.
partida reside na forte convicção de que o com- Um dos aspectos mais complexos da definição
portamento violento e suas conseqüências podem é a questão da intencionalidade. Devem-se obser-
ser prevenidos e evitados. var dois pontos importantes em relação a isto.
Primeiro, mesmo que se distinga a violência de
atos não intencionais que produzem ferimentos, a
Definição de violência intenção de usar força em determinado ato não
significa necessariamente que houve intenção de
Toda análise abrangente da violência deve causar dano. Na verdade, pode haver enorme dis-
começar pela definição de suas várias formas, de paridade entre comportamento intencional e
modo a facilitar a sua medição científica. É pos- conseqüência intencional. O agressor pode come-
sível definir a violência de muitas maneiras. A ter um ato intencional que, sob critério objetivo,
Organização Mundial da Saúde (OMS) define a pode ser considerado perigoso e, possivelmente,
violência2 como o uso de força física ou poder, ter resultados adversos para a saúde, mas não
em ameaça ou na prática, contra si próprio, outra percebê-lo assim.
pessoa ou contra um grupo ou comunidade que Vejamos alguns exemplos: Dois jovens podem
resulte ou possa resultar em sofrimento, morte, se envolver em uma luta física.Ao usar o punho con-
dano psicológico, desenvolvimento prejudicado tra a cabeça do oponente ou uma arma na briga, o
ou privação. jovem certamente aumenta o risco de ferimento
A definição dada pela OMS associa inten- sério ou mesmo morte, embora nenhuma das alter-
cionalidade com a realização do ato, indepen- nativas tenha sido a sua intenção. Um pai ou mãe
dentemente do resultado produzido. São excluí- pode sacudir vigorosamente um bebê que chora com
dos da definição os incidentes não intencionais, a intenção de acalmá-lo. Esta ação, todavia, pode
tais como a maioria dos ferimentos no trânsito e causar-lhe um dano cerebral.A força foi usada, mas
queimaduras em incêndio. sem a intenção de causar dano físico.
A inclusão da palavra "poder", completando a Em relação à intencionalidade, deve-se dis-
frase "uso de força física", amplia a natureza de tinguir a intenção de ferir e a intenção de "usar
um ato violento e expande o conceito usual de violência". A violência, segundo Walters & Parke3,
violência para incluir os atos que resultam de é culturalmente determinada. Há pessoas que
uma relação de poder, incluindo ameaças e querem ferir outras, mas segundo sua formação
intimidação. O "uso de poder" também leva a cultural e crenças, não consideram seus atos vio-
incluir a negligência ou atos de omissão, além dos lentos. Contudo, a OMS define violência na medi-
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Dahlberg, L. L. & Krug, E. G.

da em que ela diz respeito à saúde ou ao bem-estar lência na comunidade – violência entre indivídu-
dos indivíduos. Alguns comportamentos, como os sem relação pessoal, que podem ou não se
bater na esposa, podem ser visto por certas pes- conhecerem. Geralmente ocorre fora dos lares.
soas como práticas culturais aceitáveis, mas são O primeiro grupo inclui formas de violência
considerados atos violentos com importantes tais como abuso infantil, violência entre par-
efeitos na saúde do indivíduo. ceiros íntimos e maus-tratos de idosos. O segun-
Outros aspectos da violência são incluídos na do grupo inclui violência da juventude, atos
definição, embora não se encontrem explicitados. variados de violência, estupro ou ataque sexual
Por exemplo, a definição implicitamente inclui por desconhecidos e violência em instituições
todos os atos de violência, quer sejam públicos ou como escolas, locais de trabalho, prisões e asilos.
privados, quer sejam reativos (em resposta a fatos – Violência coletiva acha-se subdividida em
anteriores, como uma provocação) ou anteci- violência social, política e econômica. Diferente-
patórios (ou instrumentais para resultados au- mente das outras duas grandes categorias, as
tomáticos4), ou mesmo criminosos ou não. Cada subcategorias da violência coletiva sugerem pos-
um desses aspectos é importante para a com- síveis motivos para a violência cometida por
preensão da violência e para o planejamento de grandes grupos ou por países. A violência cole-
programas preventivos. tiva cometida com o fim de realizar um plano
específico de ação social inclui, por exemplo,
crimes carregados de ódio, praticados por gru-
Tipologia da violência pos organizados, atos terroristas e violência de
hordas. A violência política inclui a guerra e con-
Em sua resolução WHA49.25 de 1996, em que flitos violentos a ela relacionados, violência do
declarava a violência como um importante proble- estado e atos semelhantes praticados por grandes
ma de saúde pública, a Assembléia Mundial da grupos. A violência econômica inclui ataques de
Saúde convocou a OMS para desenvolver uma grandes grupos motivados pelo lucro econômico,
tipologia da violência que caracterizasse os tais como ataques realizados com o propósito de
diferentes tipos de violência e os elos que os desintegrar a atividade econômica, impedindo o
conectavam. Há poucas tipologias existentes, e acesso aos serviços essenciais, ou criando divisão
nenhuma é muito abrangente5. A tipologia aqui e fragmentação econômica. É certo que os atos
proposta divide a violência em três amplas cate- praticados por grandes grupos podem ter moti-
gorias, segundo as características daqueles que vação múltipla.
cometem o ato violento: a) violência autodirigi-
da; b) violência interpessoal; c) violência coletiva.
A categorização inicial estabelece uma diferença A natureza dos atos violentos
entre a violência que uma pessoa inflige a si
mesma, a violência infligida por outro indiví- O gráfico 1 ilustra a natureza dos atos vio-
duo ou por um pequeno grupo de indivíduos e lentos, que pode ser: 1) física; 2) sexual; 3) psi-
a violência infligida por grupos maiores, como cológica; 4) relacionada à privação ou ao aban-
estados, grupos políticos organizados, grupos dono. A série horizontal na ilustração 1.1 indi-
de milícia e organizações terroristas. ca quem é atingido, e a vertical descreve como
Estas três categorias amplas são ainda subdi- a vítima é atingida.
vididas, a fim de melhor refletir tipos mais Esses quatro tipos de atos violentos ocorrem
específicos de violência. em cada uma das grandes categorias e suas sub-
– Violência auto-infligida é subdividida em categorias descritas acima, com exceção da vio-
comportamento suicida e agressão auto-infligida. lência auto-infligida. Por exemplo, a violência
O primeiro inclui pensamentos suicidas, tentati- contra crianças praticada nos lares pode incluir
vas de suicídio – também chamadas em alguns abuso físico, sexual e psicológico, como também
países de "para-suicídios" ou "auto-injúrias abandono. A violência na comunidade pode in-
deliberadas" – e suicídios propriamente ditos. A cluir ataques físicos entre jovens, violência sexual
auto-agressão inclui atos como a automutilação. em locais de trabalho e abandono de idosos por
– Violência interpessoal divide-se em duas longo tempo em instituições. A violência política
subcategorias: 1) violência de família e de par- inclui estupros em conflitos e guerra física e psi-
ceiros íntimos – isto é, violência principalmente cológica.
entre membros da família ou entre parceiros Esta tipologia, embora imperfeita e não uni-
íntimos, que ocorre usualmente nos lares; 2) vio- versalmente aceita, fornece uma estrutura útil
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Gráfico 1
Tipologia da violência.

Violência

Autodirigida Interpessoal Coletiva

Comportamento Auto- Família/Parceiro Comunidade Social Política Econômica


suicída abuso

Criança Parceiro Idoso Conhecido Estranho

Natureza da violência Física Sexual Psicológica Privação ou


abandono

para a compreensão dos tipos complexos de vio- vítimas e agressores violentos; 3) conhecimentos
lência praticada em todo o mundo, assim como da eficácia dos programas de prevenção da vio-
a violência na vida cotidiana de indivíduos, lência. Alguns tipos de dados e fontes acham-se
famílias e comunidades. Ela também supera as descritos na tabela 1.
muitas limitações de outras tipologias, na me- Pode-se ter indicação da extensão da violência
dida em que capta a natureza dos atos violentos, total em uma comunidade ou país por intermédio
a relevância do cenário, a relação entre agente e dos dados de fatalidades ocorridas, especialmente
vítima e, no caso da violência coletiva, as pos- de homicídios, como também de suicídios e mortes
síveis motivações para a violência. Todavia, tanto em situação de guerra. Quando comparados a
na pesquisa como na prática, as linhas divisórias estatísticas de outros tipos de morte, tais dados são
dos diferentes tipos de violência nem sempre são indicadores eficazes do ônus das injúrias rela-
claras. cionadas à violência. Tais dados também podem ser
usados para monitorar alterações da violência fatal,
A medição da violência e seus impactos identificando grupos e comunidades com alto risco
de violência e fazendo comparações no interior
Para propósitos variados são necessários dos países ou entre eles.
diferentes tipos de dados, a saber: 1) descrição Os números relativos à mortalidade, contudo,
do volume e impacto da violência; 2) compreen- são apenas um dos tipos possíveis de dados que
são dos fatores que aumentam o risco de haver descrevem o volume do problema. Como os efeitos
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Dahlberg, L. L. & Krug, E. G.

Tabela 1
Tipos de dados e fontes potenciais para a coleta de informação.

Tipos de dados Fontes de dados Exemplos de informação coletada

Mortalidade Certidão de óbito, estatísticas vitais, registros Características do morto, causa da


médicos, legistas ou relatórios mortuários morte, local, hora, tipo de morte

Morbidez e outros dados Hospital, clínica ou outros registros médicos Doenças, ferimentos, informação de
de saúde saúde física, mental ou reprodutiva

Auto-relatório Levantamentos, estudos especiais, grupos Atitudes, crenças, comportamentos,


especiais, mídia práticas culturais, vitimização e
agressão, exposição à violência no lar
ou comunidade

Comunidade Registros da população, registros do Número e densidade populacional,


governo local, outros registros níveis de renda e educação, taxa de
institucionais desemprego, taxa de divórcio

Crime Registros policiais, registros judiciais, Tipo de agressão, características do


laboratórios criminais agressor, relação entre vítima e
agressor, circunstâncias do fato

Econômico Programa, registros de instituição ou Despesas com saúde, habitação ou


agência, estudos especiais serviços sociais, custos de tratamento
de ferimentos relacionados à violência,
uso de serviços

Políticas do governo Registros do governo ou do legislativo Leis, políticas e práticas institucionais


ou legislativo

não fatais são muito mais comuns do que os fatais, informação incluem-se: indivíduos, registros de
e como certos tipos de violência não são total- agências e instituições; programas locais; registros
mente representados nos dados de mortalidade, comunitários e governamentais; levantamentos
são necessários outros tipos de informação. Tais a partir da população; e outros como estudos
informações podem ajudar a compreender as cir- especiais.
cunstâncias relativas a incidentes específicos, Embora não faça parte da tabela 1, quase todas
como também a descrever todo o impacto da vio- as fontes incluem informações demográficas bási-
lência na saúde de indivíduos e comunidades. cas, como idade e sexo do indivíduo. Algumas
Esses tipos de dados incluem: dados relativos a fontes, tais como registros médicos, policiais, cer-
doenças, danos e demais condições de saúde; tidões de óbito e relatórios mortuários, incluem
dados auto-relatados sobre atitudes, crenças, com- informações específicas da ação violenta. Dados
portamentos, práticas culturais, ações contra víti- de departamentos de emergência, por exemplo,
mas e exposição à violência; dados da comunidade podem fornecer informações sobre a natureza de
sobre características da população, níveis de renda, uma agressão, como foi feita, onde e quando ocor-
educação e desemprego; dados criminais relativos reu. Os dados coletados pela polícia podem
às circunstâncias das ocorrências e agressores vio- incluir informações sobre a relação entre vítima e
lentos; dados econômicos relativos aos custos de agressor, se havia uma arma e outras circunstân-
tratamento e serviços sociais; dados indicando o cias relacionadas com a agressão.
peso econômico sobre os sistemas de saúde e pos- Levantamentos e estudos especiais podem
sível economia obtida nos programas de pre- fornecer informações detalhadas sobre a vítima
venção; dados sobre política e legislação. ou o agressor, sua origem e história de vida, ati-
Entre as fontes potenciais de vários tipos de tudes, comportamento e possível participação
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Tabela 2
Estimativa global de mortes relacionadas com violência – 2000.

Tipo de violência Númeroa Taxa p/ pop. de 100.000b Proporção do total (%)

Homicídio 520.000 8.8 31.3

Suicídio 815.000 14.5 49.1

Relacionados c/ guerra 310.000 5.2 18.6

Totalc 1.659.000 28.8 100.0

Países de renda baixa a média 1.510.000 32.1 91.1


Países de renda alta 149.000 14.4 8.9

Fonte: Projeto Carga Global de Doença OMS para 2000, Versão 1 (ver anexo estatístico).
a Arredondado para 1.000 mais próximo.
b Idade estandardizada.
c Inclui 14.000 mortes com ferimento intencional resultantes de intervenção legal.

anterior em atos de violência. Tais fontes também populosas ou muito remotas. Na maioria dos
podem revelar ações violentas não registradas na países, os dados sistemáticos de resultados não
polícia ou outras agências. Por exemplo, um levan- fatais não se acham disponíveis, embora estejam
tamento de moradias na África do Sul revelou que sendo desenvolvidos sistemas para a coleta de
entre 50% e 80% das vítimas de violência haviam dados. Recentemente, tem sido publicado um
recebido tratamento médico de ferimentos resul- bom número de documentos fornecendo orien-
tantes de violência sem terem relatado o incidente tação para medir diferentes tipos de violência em
à polícia6 . Em outro estudo, realizado nos Estados cenários variáveis 8-14.
Unidos, 46% das vítimas que procuraram trata- Mesmo quando os dados existem, a qualidade
mento de emergência não haviam registrado o fato da informação pode ser inadequada para objetivos
na polícia. de pesquisa e para identificar estratégias de pre-
São extremamente variáveis os graus de venção. Como as agências e instituições contam
disponibilidade, qualidade e utilidade das diferentes com registros para propósitos próprios e seguem
fontes de dados para que os tipos de violência pos- procedimentos internos específicos na elaboração
sam ser comparados no interior dos países e entre de registros, seus dados podem ser incompletos ou
eles. Mundialmente falando, os países encontram- não oferecer o tipo de informação necessária para
se em estágios bastante diferentes quanto à sua uma compreensão adequada da violência.
capacidade de coleta de dados7. Dados originários de instituições dedicadas
Dentre todas as fontes, os dados sobre mor- ao cuidado da saúde, por exemplo, são coletados
talidade são os mais amplamente coletados e os com a intenção de fornecer um ótimo trata-
mais disponíveis. Muitos países mantêm registros mento para o paciente. O registro médico pode
de nascimento e morte, dispondo também de conter informações sobre o diagnóstico, o dano
uma contabilidade básica de homicídios e suicí- e seu possível tratamento, mas não oferecerá as
dios. Entretanto, nem sempre é possível calcular circunstâncias da agressão. Tais dados podem
essa contabilidade básica, uma vez que os dados também ser confidenciais e não disponíveis para
populacionais não estão sempre disponíveis nem pesquisa. Os levantamentos, por outro lado, con-
são confiáveis. Isso é verdadeiro especialmente têm informações mais detalhadas sobre a pessoa,
onde a população encontra-se em fluxo – em sua vida e envolvimento em violência. Contudo,
áreas, por exemplo, de conflitos ou de grupos elas são limitadas, na medida em que pessoa con-
populacionais em movimento contínuo – ou, seguir se lembrar dos fatos e admitir ter se en-
ainda, onde é difícil fazer a contagem da popu- volvido em determinadas ocorrências. Tudo isto
lação, como é o caso das áreas extremamente vai também depender da maneira como as pergun-
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Dahlberg, L. L. & Krug, E. G.

tas são feitas e por quem, como também quando, com a idade de 8,8 para uma população de 100
onde e como se realiza a entrevista. mil. (Tabela 2). Correspondem a homens 77%
Associar dados de várias fontes é um dos de todos os homicídios, o que representa taxas
problemas mais complexos na pesquisa da violên- mais do que três vezes mais altas do que entre
cia. Dados sobre violência geralmente vêm de as das mulheres – 13,6 e 4, respectivamente,
uma variedade de organizações que agem inde- para 100 mil (Tabela 3). Os números mais altos
pendentemente umas das outras. Assim, dados de homicídios no mundo são encontrados nos
obtidos por intermédio de médicos ou legistas homens de 15 a 29 anos (19,4 em 100 mil),
geralmente não podem ser unidos a dados que seguidos de perto por homens de 30 a 44 anos
tiveram a polícia como fonte. Por outro lado, há (18,7 em 100 mil). Os suicídios em todo o
total falta de uniformidade no modo como os mundo tiraram a vida de cerca de 815 mil pessoas
dados da violência são reunidos, o que torna em 2000, em uma taxa geral relacionada à idade
muito difícil a comparação de dados entre comu- de 14,5 para 100 mil (Tabela 2). Mais de 60% de
nidades e nações. todos os suicídios foram de homens, e mais da
Embora este aspecto esteja fora do objetivo da metade na faixa etária de 15 a 44 anos. Tanto para
nossa discussão, alguns problemas na obtenção homens quanto para mulheres as taxas de suicí-
dos dados devem ser mencionados. Eles dizem dio aumentam com a idade e são as mais altas
respeito a: 1) a dificuldade de desenvolver medi- entre os 60 anos ou mais (Tabela 3). Porém, as
das que sejam relevantes e específicas de grupos taxas de suicídio são mais altas entre os homens
de subpopulação e contextos culturais específi- do que entre as mulheres (18,9 em 100 mil, com-
cos8, 9, 11, 14; 2) criar protocolos adequados para parado a 10,6 em 100 mil). Isto se verifica espe-
proteger o anonimato das vítimas e garantir sua cialmente em grupos mais velhos: em todo o
segurança15; 3) uma série de outras considerações mundo, as taxas de suicídio entre os de 60 anos
associadas à pesquisa da violência. ou mais são duas vezes mais altas do que os
índices entre mulheres da mesma idade (44,9 em
100 mil, comparado a 22,1 em 100 mil).
Uma visão geral do conhecimento atual

A prevenção da violência, segundo o enfoque da A mortalidade em relação ao nível


saúde pública, começa com uma descrição das de renda e à região do país
proporções e do impacto do problema. Aqui se
descreve o que é atualmente conhecido sobre os Os números referentes a morte violenta variam de
padrões globais de violência, fazendo uso das acordo com os níveis de renda do país. Em 2000,
informações compiladas na base de dados sobre o número de mortes violentas em países de baixa
mortalidade da OMS e da Versão I do projeto e média rendas foi de 32,1 em população de 100
para 2000 da Carga Global de Doenças da OMS, mil, mais de duas vezes maior do que o índice em
bem como de levantamentos e estudos especiais países de alta renda (14,4 em 100 mil) (Tabela 2).
sobre violência. Há também consideráveis diferenças regionais
Em 2000, estima-se que cerca de 1,6 milhão em números de morte violenta. Tais diferenças
de pessoas em todo o mundo morreram de vio- são evidentes, por exemplo, entre as regiões aten-
lência auto-infligida, interpessoal ou coletiva, em didas pela OMS. Na África e nas Américas, a taxa
uma taxa geral relacionada à idade de 28.8 anos de homicídios é quase três vezes maior do que a
para uma população de 100.000 (Tabela 2). de suicídios.
A grande maioria dessas mortes ocorreu em Contudo, na Europa e no Sudeste da Ásia, as
países de baixa e média rendas. Menos de 10% de taxas de suicídio são mais do que o dobro das taxas
todas as mortes ocorreram em países de renda de homicídios (19,1 em 100 mil, comparadas a 8,4
alta. Quase a metade desses 1,6 milhão de mortes em 100 mil na Europa, e 12,0 em 100 mil, com-
por causa violenta foi de suicídios; quase um paradas a 5,8 no Sudeste asiático), enquanto na
terço foi de homicídios; e cerca de um quinto foi região do Pacífico Oriental as taxas de suicídio são
causado por guerra. quase seis vezes maiores do que as de homicídios
Como muitos outros problemas de saúde (20,8 em 100 mil, comparadas a 3,4 em 100 mil).
no mundo, a violência não está distribuída Dentro de uma mesma região, também há
igualmente por grupos divididos por sexo ou grandes diferenças entre os países. A taxa registra-
idade. Em 2000, a estimativa foi de 500 mil da de homicídios de homens na Colômbia, por
homicídios para uma taxa geral relacionado exemplo, foi de 146,5 em 100 mil, enquanto as
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Ciência & Saúde Coletiva, 11(Sup): 1163-1178, 2007


Tabela 3
Estimativa global das taxas de homicídios e suicídios por faixa etária, 2000.

Faixa etária (idade) Taxa de homicídio Taxa de suicídio


(por população de 100.000) (por população de 100.000)
Sexo masculino Sexo feminino Sexo masculino Sexo feminino

0-4 5.8 4.8 0.0 0.0


5-14 2.1 2.0 1.7 2.0
15-29 19.4 4.4 15.6 12.2
30-44 18.7 4.3 21.5 12.4
45-59 14.8 4.5 28.4 12.6
60 13.6 4.0 18.9 22.1
Totala 13.6 4.0 18.9 10.6

Fonte: Projeto OMS Global Burden of Disease para 2000. Versão 1. (Ver estatística em anexo)
a Estandardizado por idade.

taxas correspondentes em Cuba e no México o mundo que registrou ter sido atacada sexual-
foram de 12,6 e 32,3 em 100 mil, respectiva- mente (inclusive as vítimas de tentativa de assalto)
mente16. Também se verificam grandes diferenças variava de 15,3%, em Toronto (Canadá), a 21,7%,
entre as populações urbana e rural, entre grupos em Leo'n (Nicarágua), e 25%, em uma província
ricos e pobres e entre diferentes grupos raciais e do Zimbabwe21-25. Entre adolescentes do sexo mas-
étnicos. Nos Estados Unidos, em 1999, por culino em escolas secundárias, a porcentagem dos
exemplo, jovens afro-americanos de 15 a 24 que registraram ter participado de briga física no
anos tiveram uma taxa de homicídios (38,6 em ano passado variou de 22%, na Suécia, e 44%, nos
100 mil) duas vezes mais alta do que a de seus Estados Unidos, a 76%, em Jerusalém26-28.
correspondentes hispânicos (17,3 em 100 mil) e Um ponto importante a ser observado aqui é que
mais de 12 vezes maior do que a taxa de cau- esses dados são geralmente baseados em registros
casianos e não hispânicos (3,1 em 100 mil)17. dos próprios protagonistas. É difícil avaliar se eles
Os números acima referentes à mortalidade estão super-estimando ou subestimando o ver-
certamente subestimam o verdadeiro efeito da vio- dadeiro grau dos assaltos físicos e sexuais nesses
lência. Em todas as partes do mundo, as mortes grupos. É certo que, nos países com forte pressão
representam a ponta do iceberg quando se fala de cultural para manter a violência escondida "debaixo
violência. Ataques físicos e sexuais ocorrem a cada do tapete", ou simplesmente para aceitá-la como
dia, embora não se disponha de estimativas "natural", a violência não fatal possivelmente não
nacionais e internacionais. Nem todas as agressões será totalmente relatada. As vítimas podem se
provocam ferimentos que, por sua seriedade, exi- recusar a discutir experiências violentas não
jam atenção médica, e mesmo as que têm conse- somente por vergonha ou tabu, mas por medo.
qüências graves nem sempre são registradas, já que Reconhecer ter participado de certas ações violen-
os sistemas de vigilância para registro e compilação tas, como o estupro, pode resultar em morte em cer-
das agressões são ainda inexistentes em muitos tos países. Em certas culturas, a preservação da
países ou ainda estão em fase de implantação. honra familiar é um motivo tradicional para matar
Muito do que se sabe sobre a violência não fatal as mulheres que tenham sido estupradas (assim
tem origem em levantamentos e estudos especiais chamada "morte de honra").
de diferentes grupos da população. Por exemplo,
em levantamentos nacionais, a porcentagem de
mulheres que registrou ter sido fisicamente agredi- O custo da violência
da por um parceiro variava de 10%, no Paraguai e
nas Filipinas, a 22,1%, nos Estados Unidos, 29%, A violência custa às nações valores humanos e
no Canadá, e 34,4%, no Egito18-21. A proporção de econômicos, extraindo das economias mundiais a
mulheres de diversas cidades e províncias em todo cada ano muitos bilhões de dólares em tratamen-
1172
Dahlberg, L. L. & Krug, E. G.

tos de saúde, gastos legais, ausência do trabalho e contribuem substancialmente para o aumento
produtividade perdida. Nos Estados Unidos, um do orçamento anual de tratamentos de saúde.
estudo de 1992 avaliou o custo anual direto e indi- Uma vez que geralmente não se conta com es-
reto de ferimentos com arma de fogo em US$ 126 timativas nacionais de custo referentes a outros
bilhões. Ferimentos com objetos cortantes – facas, problemas de saúde, como depressão, fumo,
punhais, etc – custaram mais US$ 51 bilhões29. abuso de álcool e droga, gravidez não desejada,
Um estudo de 1996 na província canadense de vírus de imunodeficiência humana/síndrome de
New Brunswick apontou o custo médio total por imunodeficiência adquirida (HIV/Aids), outras
suicídio em mais de US$ 849.000. doenças sexualmente transmissíveis e outras in-
Os custos totais diretos e indiretos, incluin- fecções (as quais foram ligadas à violência em es-
do serviços de tratamento de saúde, autópsias, tudos de pequena escala)32-37, ainda não é possível
investigação policial e produtividade perdida calcular o significado econômico global desses
resultando em morte prematura, chegaram a problemas na sua relação com a violência.
quase US$ 80 milhões30.
O alto custo da violência não é específico dos
Estados Unidos e Canadá. Entre 1996 e 1997, o Ban- Examinando as raízes da violência:
co Interamericano de Desenvolvimento patrocinou um modelo ecológico
estudos sobre a proporção e o impacto econômi-
co da violência em seis países latino-americanos31. Não há um fator único que explique por que
Cada estudo examinou as despesas resultantes da alguns indivíduos se comportam violentamente
violência, incluindo serviços de saúde, cumpri- com outros ou por que a violência é mais comum
mento da lei e serviços judiciais, bem como per- em algumas comunidades do que em outras. A
das intangíveis e perdas por transferência de bens. violência é o resultado da complexa interação dos
Expresso como uma porcentagem do produto fatores individuais, relacionais, sociais, culturais e
interno bruto (PIB) em 1997, o custo das despe- ambientais. Compreender como esses fatores estão
sas de tratamentos de saúde causados pela violên- relacionados com a violência é um dos passos
cia foi de 1,9% do PIB, no Brasil, 5%, na Colômbia, importantes na abordagem da saúde pública para
4,3%, em El Salvados, 1,3%, no México, 1,5%, no a prevenção da violência.
Peru, e 0,3%, na Venezuela. Este relatório apresenta um modelo ecológico
É difícil calcular o impacto exato de todos os que ajuda a compreender a natureza multifacetada
tipos de violência sobre os sistemas de saúde ou da violência. Introduzido inicialmente no fim da
seus efeitos na produtividade econômica em todo década de 197038, 39, este modelo foi inicialmente
o mundo. A evidência existente indica que as víti- aplicado aos casos de abuso infantil e subseqüente-
mas de violência doméstica e sexual têm mais mente à violência juvenil40, 41. Mais recentemente,
problemas de saúde, custos significativamente os pesquisadores o têm usado para compreender a
mais altos de tratamento de saúde e consultas violência do parceiro íntimo42, 43 e abuso de
mais freqüentes aos atendimentos de emergên- idosos44, 45. O modelo explora a relação entre os
cia durante toda a sua vida do que os que não fatores individuais e contextuais e considera a vio-
sofreram tais abusos. O mesmo sucede com víti- lência como produto dos múltiplos níveis de
mas de abuso e abandono infantil. Tais despesas influência sobre o comportamento (Figura 1).

Figura 1
Modelo ecológico para compreender a violência.

Sociedade Comunidade Relações Indivíduo


1173

Ciência & Saúde Coletiva, 11(Sup): 1163-1178, 2007


O primeiro nível do modelo ecológico procu- O quarto e último nível do modelo ecológico
ra identificar tanto os fatores biológicos como os examina os fatores mais significativos da sociedade
da história pessoal que um indivíduo traz para o que influenciam as taxas de violência. Aqui, estão
seu comportamento. Além dos fatores biológicos aqueles fatores que criam um clima aceitável para
e demográficos, são levados em consideração a violência, aqueles que diminuem as inibições
fatores como a impulsividade, o baixo nível edu- contra ela e aqueles que criam e sustentam di-
cacional, abuso de substância química e história visões entre diferentes segmentos da sociedade ou
passada de agressão e abuso. Em resumo, este tensões entre grupos ou países diferentes. Estão
nível do modelo ecológico focaliza as característi- entre os fatores significativos da sociedade: 1) nor-
cas do indivíduo que aumentam a probabilidade mas culturais que sustentam a violência como
de ele ser vítima ou agressor. forma aceitável para resolver conflitos; 2) atitudes
O segundo nível do modelo ecológico explora que consideram o suicídio como uma questão de
como as relações sociais próximas – por exemplo, escolha individual em vez de um ato de violência
relações com companheiros, parceiros íntimos e evitável; 3) normas que dão prioridade aos direitos
membros da família – aumentam o risco de dos pais sobre o bem-estar da criança; 4) normas
vitimização ou agressão violenta. Em casos de que fixam o domínio masculino sobre as mulheres
agressão de parceiros e de maus tratos a crianças, e crianças; 5) normas que apóiam o uso excessivo
por exemplo, a interação quase cotidiana em da força pela polícia contra os cidadãos; 6) normas
domicílio comum com um agressor pode aumen- que apóiam o conflito político.
tar a oportunidade de ataques violentos. Como os Estão também incluídos entre os fatores rele-
indivíduos estão ligados numa relação contínua, é vantes da sociedade as políticas de saúde, educa-
provável, nestes casos, que a vítima seja atacada cionais, econômicas e sociais que mantêm altos
repetidamente pelo agressor46. No caso de violên- níveis de desigualdade econômica ou social entre
cia interpessoal entre jovens, a pesquisa demonstra grupos.
que os estes provavelmente se envolvem em ativi- A proposta ecológica enfatiza as múltiplas
dades negativas quando tais comportamentos são causas da violência e a interação dos fatores de
aprovados e encorajados pelos amigos47, 48. Os risco que operam no interior da família e dos
companheiros, os parceiros íntimos e os membros contextos mais amplos da comunidade, como o
da família têm o potencial de moldar o comporta- contexto social, cultural e econômico. Colocado
mento do indivíduo e o âmbito de sua experiência. em um contexto de desenvolvimento, o modelo
O terceiro nível do modelo ecológico exami- ecológico mostra como a violência pode ser
na os contextos comunitários nos quais estão causada por diferentes fatores em etapas diver-
inseridas as relações sociais, tais como escolas, sas da vida.
locais de trabalho e bairros, e procura identificar Embora alguns fatores de risco talvez sejam
as características dos cenários associados ao fato específicos de certos tipos de violência, os vários
de serem vítimas ou agressores. Um alto nível de tipos de violência, em geral, têm fatores de risco
mobilidade residencial (em que as pessoas não comuns. Normas culturais predominantes: po-
permanecem por muito tempo numa mesma breza, isolamento social e fatores como abuso de
residência, mas se mudam com freqüência), álcool, de drogas e acesso a armas de fogo são fa-
heterogeneidade (população altamente diversifi- tores de risco de mais de um tipo de violência.
cada, com pouco do adesivo social que mantém Como resultado, não é raro que alguns indiví-
as comunidades unidas) e alta densidade popu- duos incluídos em situação de risco experi-
lacional são exemplos daquelas características, e mentem mais de um tipo de violência. Mulheres
cada uma delas tem sido associada à violência. em risco de violência física da parte de parceiros
Do mesmo modo, comunidades envolvidas íntimos, por exemplo, também se encontram em
com tráfico de drogas, alto nível de desemprego risco de violência sexual18.
ou isolamento social generalizado (locais onde É também comum perceber associações
as pessoas não conhecem seus vizinhos ou não entre diferentes tipos de violência. A pesquisa
se envolvem com a comunidade) têm mais demonstrou que a exposição à violência no lar é
probabilidade de viver experiências violentas. A associada ao fato de vir a ser vítima ou agressor um
pesquisa da violência demonstra que as oportu- adolescente ou adulto49. A experiência de rejeição,
nidades para que ela ocorra são maiores em abandono ou indiferença pelos pais coloca as cri-
alguns contextos do que em outros – por exem- anças em maior risco de comportamento agressivo
plo, em áreas de pobreza ou deterioração física, e anti-social, inclusive de comportamento abusivo
ou onde há escasso apoio institucional. quando adultos50-52. Foram encontradas associ-
1174
Dahlberg, L. L. & Krug, E. G.

ações entre o comportamento suicida e diversos baseiam, cada vez mais, em uma definição de
tipos de violência como maus tratos infantis53, 54, violência que tem seu foco no grupo-alvo de
violência por parceiro íntimo33, 55, agressão sexual53 interesse. Tal definição agrupa as intervenções da
e abuso de idosos56, 57. No Sri Lanka , demonstrou- seguinte forma59:
se que as taxas de suicídio diminuíram durante a – Intervenções universais – abordagens dire-
guerra e aumentaram novamente quando o confli- cionadas a grupos ou à população em geral sem
to violento terminou58. Em muitos países que pas- considerar o risco individual; são exemplos disto
saram por conflitos violentos, as taxas de violência os programas de prevenção de violência entregues
interpessoal permaneceram altas mesmo após ces- a todos os estudantes de uma escola ou a crianças
sarem os momentos de hostilidade – entre outras de determinada idade e em campanhas nos meios
razões, devido tanto ao modo como a violência de comunicação de uma comunidade;
havia se tornado socialmente aceitável quanto à – Intervenções selecionadas – abordagens dire-
disponibilidade de armas. cionadas a pessoas consideradas em alto risco de
As associações entre a violência e os fatores violência (expostas a um ou mais fatores de risco);
individuais e os contextos mais amplos sociais, – Intervenções indicadas – abordagens dire-
culturais e econômicos sugerem que direcionan- cionadas a pessoas que já demonstraram compor-
do os fatores de risco por intermédio dos diversos tamento violento; isto é, tratamento para agres-
níveis do modelo ecológico é possível contribuir sores de violência doméstica.
para a redução de mais de um tipo de violência. Até agora, tanto em países industrializados
como em países em desenvolvimento, os esforços
têm se concentrado nas reações secundárias e ter-
Como prevenir a violência? ciárias à violência. É compreensível que a priori-
dade seja freqüentemente dada às conseqüências
Os dois primeiros passos do modelo da saúde imediatas da violência, apoiando as vítimas e
pública fornecem informações relevantes sobre punindo os agressores. Tais ações, embora sejam
as populações que necessitam de intervenções importantes e necessitem de fortalecimento, de-
preventivas, assim como sobre os fatores de risco veriam ser acompanhadas de um maior investi-
e de proteção que precisam ser examinados. mento em prevenção primária. Uma resposta
Colocar em prática tal conhecimento é o objeti- abrangente à violência deve não só proteger e
vo central da saúde pública. apoiar as vítimas da violência, mas também pro-
As intervenções da saúde pública são tradicional- mover a não-violência, reduzir as agressões vio-
mente caracterizadas em três níveis de prevenção: lentas e mudar as circunstâncias e as condições
– Prevenção primária – abordagens que pre- que favorecem a explosão de violência.
tendem prevenir a violência antes que ela ocorra; Sendo a violência um problema multifaceta-
– Prevenção secundária – abordagens cen- do com raízes biológicas, psicológicas, sociais e
tradas nas reações mais imediatas à violência, ambientais, ela deve ser enfrentada em níveis
como cuidados médicos, serviços de emergência diferentes ao mesmo tempo. O modelo ecológi-
ou tratamento de doenças sexualmente trans- co tem uma dupla utilidade a esse respeito: cada
missíveis após um estupro; nível no modelo representa um grau de risco e
– Prevenção terciária – abordagens que pode ser visto como ponto-chave para inter-
focalizam os cuidados prolongados após a vio- venção.
lência, como reabilitação e reintegração e Ao lidar com a violência em uma série de
esforços para diminuir o trauma ou reduzir a níveis, sugere-se que se examine:
deficiência prolongada ligada à violência. – Analisar os fatores de risco individuais e
Estes três níveis de prevenção são definidos tomar medidas para modificar os comportamen-
pelo seu aspecto temporal, isto é, se a prevenção se tos individuais de risco;
faz antes da ocorrência da violência, imediata- – Influenciar as relações individuais próxi-
mente depois dela ou, ainda, a longo prazo. mas e criar ambientes familiares sadios, assim
Embora, tradicionalmente, sejam aplicados às como fornecer ajuda profissional e apoio para
vítimas da violência e em instalações para cuida- famílias desintegradas;
dos da saúde, os esforços de prevenção secundária – Monitorar espaços públicos, como escolas,
e terciária são também considerados relevantes locais de trabalho e bairros, e tomar medidas para
em relação ao agressor, sendo usados em proces- enfrentar problemas que possam levar à violência;
sos judiciais contra a violência. – Analisar a desigualdade de gênero e atitudes
Pesquisadores da prevenção da violência se e práticas culturais diferentes;
1175

Ciência & Saúde Coletiva, 11(Sup): 1163-1178, 2007


– Analisar os fatores abrangentes culturais, so- O sucesso prolongado de prevenção da vio-
ciais e econômicos que contribuem para a violên- lência, cada vez mais, dependerá de abordagens
cia e tomar medidas para mudá-los, incluindo abrangentes em todos os níveis.
metas que diminuam a distância entre ricos e po- Nas comunidades, os parceiros podem incluir
bres e assegurem acesso eqüitativo a bens, serviços pessoas dedicadas a cuidados de saúde, polícia,
e oportunidades. educadores, trabalhadores de serviço social, fun-
Uma regra geral básica para a abordagem da cionários públicos e autoridades do governo. Há
violência da saúde pública é que todos os esforços, muito que pode ser feito a fim de promover a pre-
pequenos ou grandes, devem ser rigorosamente venção da violência. Programas-piloto em peque-
avaliados. O registro das reações existentes e o en- na escala e projetos de pesquisa podem fornecer
corajamento de uma avaliação estritamente cien- idéias a serem desenvolvidas e, talvez, também
tífica das intervenções em cenários diferentes são sejam importantes para que uma série de par-
úteis e valiosos para todos. São particularmente ceiros se acostume a trabalhar junta. Organizações
necessários para os pesquisadores que tentam in- como grupos de trabalho ou comissões que, jun-
dicar as reações mais eficazes à violência e as es- tas, planejam os diferentes setores e mantêm con-
tratégias que possivelmente seriam relevantes. tactos formais e informais são essenciais para o
Reunir todas as evidências e experiências exis- sucesso desse tipo de colaboração.
tentes também representa uma parte significativa Grupos de parceiros multissetoriais são ex-
do processo, na medida em que garante aos ele- tremamente úteis nacional e regionalmente. Uma
mentos decisórios que algo pode ser feito. Ainda variedade de ministérios governamentais, e não
mais importante é o fato de fornecer-lhes uma apenas os relativos ao cumprimento da lei,
orientação valiosa sobre quais ações poderiam re- serviço social e de saúde, podem dar con-
duzir a violência. tribuições importantes à prevenção da violência.
Uma pesquisa rigorosa leva tempo para pro- Os ministérios da educação são obviamente par-
duzir resultados. O impulso de investir apenas em ceiros, dada a importância de intervenção nas es-
abordagens comprovadas não deve ser obstáculo colas. Os ministérios do trabalho podem fazer
para apoiar ações novas e promissoras. Aborda- muito para reduzir a violência nos locais de tra-
gens promissoras são aquelas que foram avaliadas, balho, especialmente em colaboração com sindi-
mas ainda exigem ser mais fortemente testadas em catos e empregadores. Os ministérios de defesa,
uma variedade de cenários e diferentes grupos positivamente, podem formar atitudes para com
populacionais. a violência de inúmeros jovens sob seu controle,
É também sábio ampliar o leque e testar uma encorajando a disciplina, promovendo códigos
variedade de programas, como também aproveitar de honra e imprimindo uma forte percepção da
as iniciativas e idéias das comunidades locais. A qualidade letal das armas de fogo. Os líderes e or-
violência é um problema demasiadamente sério ganizações religiosas exercem um papel em seu
para que as ações da saúde pública sejam adiadas, trabalho pastoral e, em certos casos, oferecendo-
enquanto se espera por um conhecimento perfeito. se para intermediar problemas específicos.
Em diversas partes do mundo, a especifici- Como tem sido visto, por exemplo, na reação
dade cultural e a tradição são, às vezes, dadas internacional à Aids e no socorro em situações de
como justificativas para práticas sociais particu- desastres, a cooperação e a troca de informação
lares perpetuadoras da violência. A opressão das entre organizações podem produzir benefícios
mulheres é um dos exemplos mais amplamente globais significativos, da mesma forma que parce-
citados, mas há ainda muitos outros. rias nacionais e locais. A OMS tem claramente um
As normas culturais devem ser tratadas com importante papel global a desempenhar nessa
a maior sensibilidade e respeito em todas as ações área, como agência das Nações Unidas respon-
de prevenção – com sensibilidade, devido ao sável pela saúde. Outras agências internacionais,
apego freqüentemente apaixonado das pessoas contudo, também têm muito o que oferecer em
pelas suas tradições, e com respeito porque a cul- suas áreas especializadas. Para citar apenas algu-
tura é, com freqüência, uma fonte de proteção mas, temos: o Alto Comissariado das Nações
contra a violência. A experiência tem demonstra- Unidas para Direitos Humanos (em relação aos
do a importância de se realizarem consultas ante- direitos humanos), o Escritório do Alto Comis-
cipadas e simultâneas a líderes religiosos, grupos sariado das Nações Unidas para Refugiados (refu-
leigos e figuras proeminentes da comunidade, giados), o Fundo das Nações Unidas para
como curandeiros tradicionais, quando se proje- Crianças (bem-estar infantil), o Fundo de Desen-
tam e se põem em prática os programas. volvimento das Nações Unidas para Mulheres e o
1176
Dahlberg, L. L. & Krug, E. G.

Fundo das Nações Unidas para a População lência é uma questão extremamente emocional, e
(saúde da mulher), o Desenvolvimento de Pro- muitos países relutam em tomar iniciativas que
grama das Nações Unidas (desenvolvimento hu- desafiam atitudes e práticas há muito estabeleci-
mano), o Instituto de Pesquisa Inter-regional de das. É necessário uma grande dose de coragem
Justiça e Crime (crime) e o Banco Mundial (fi- política para tentar implementar novas aborda-
nanças e governo). Uma variedade de doadores gens em áreas como controle e segurança pública.
internacionais, programas bilaterais, organizações Em todos esses três problemas há um papel
não-governamentais e organizações religiosas já forte a ser desempenhado pelas autoridades da
estão participando de atividades de prevenção da saúde pública, instituições acadêmicas, organi-
violência em todo o mundo. zações não-governamentais e organizações in-
A questão que se coloca é: se a violência pode ternacionais na missão de ajudar os governos a
ser prevenida, por que não há mais ações para aumentar seu conhecimento e sua confiança em
preveni-la, especialmente em âmbito nacional, intervenções exeqüíveis. Uma parte desse papel é
estadual ou local? de defesa e apoio, usando a educação e a infor-
O principal obstáculo é simplesmente a ausên- mação com base científica. A outra parte é como
cia de conhecimento. Para muitos em posições parceiro ou consultor, ajudando a desenvolver
decisórias, a idéia de que a violência é um proble- políticas e planos ou executando intervenções.
ma de saúde pública é nova e contrária à crença
de que a violência é um problema criminal. Este
é o caso especialmente das formas menos visíveis Conclusão
de violência, como o abuso de crianças, mulheres
e idosos. A noção de que a violência pode ser pre- A saúde pública se interessa pela saúde e bem-
venida é também nova e questionável para os que estar das populações como um todo.
ocupam posições decisórias. Para muitas autori- A violência impõe uma carga pesada no bem-
dades, uma sociedade sem violência é inatingível; estar da população. O objetivo da saúde pública é
um nível "aceitável" de violência, especialmente criar comunidades seguras e sadias em todo o
nas ruas onde mora o povo, parece muito mais mundo. A prioridade maior, atualmente, consiste
realista. Paradoxalmente, para outros, o inverso é em persuadir todos os diversos setores - a nível
verdadeiro: como muito da violência fica escon- global, nacional e comunitário – a se comprome-
dida, distante ou esporádica, a paz e a segurança ter com tal objetivo. As autoridades da saúde
lhes parece o estado predominante. Da mesma pública podem fazer muito para estabelecer
forma que o ar puro é considerado o normal até planos e políticas nacionais para prevenir a vio-
que o céu se encha de nevoeiro e fumaça, a vio- lência, realizando parcerias entre os vários setores
lência só será enfrentada quando ela chegar à e assegurando dotação de recursos para as ações
nossa porta. Então não é surpreendente que as preventivas.
soluções mais inovadoras tenham vindo da comu- Embora a liderança da saúde pública não pre-
nidade e dos níveis locais do governo, exatamente cise e não possa dirigir todas as ações para pre-
daqueles que, cotidianamente, se acham mais venir e reagir à violência, as autoridades e líderes
próximos do problema. Uma segunda questão têm um papel relevante nesse âmbito. Os dados
relaciona-se com a possibilidade de execução das existentes no acervo da saúde pública e outras
políticas destinadas a enfrentar o problema. Um agências, as visões e a compreensão obtidas por
número limitado de autoridades tem percebido a intermédio do método científico e a dedicação no
evidência de que muitas formas de violência sentido de encontrar respostas verdadeiras são
podem ser prevenidas. Um grande número delas contribuições importantes que a área da saúde
acha que as únicas que funcionam são as aborda- pública faz às reações globais contra a violência.
gens tradicionais do sistema de justiça criminal.
Tal ponto de vista não tem consciência da exten-
são da violência na sociedade. O sistema judiciário
concentra a atenção em certas formas altamente
visíveis da violência, especialmente a violência
juvenil, não dando muita importância a outros
tipos, tais como a violência de parceiros íntimos
e a agressão a crianças e idosos, casos em que a Colaboradores
justiça criminal é menos atenta e menos eficiente. LL Dahlberg e EG Krug participaram igualmente na
Um terceiro problema é a determinação. A vio- elaboração do artigo.
1177

Ciência & Saúde Coletiva, 11(Sup): 1163-1178, 2007


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Artigo apresentado em 30/03/2006

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