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CAPÍTULO I
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO E PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
1.2. Direito Administrativo: conjunto harmônico de normas e princípios jurídicos que regem os órgãos (estrutura), os
agentes (pessoal) e as atividades públicas tendentes a realizar concreta (veja que a atividade legislativa é considerada
como atividade estatal abstrata), direta (a atividade judicial é indireta) e imediatamente os fins desejados pelo Estado (o
Direito Administrativo não diz quais são os fins desejados pelo Estado, pois isto caberá às outras ciências. Ele apenas
disciplina as atividades e os órgãos estatais - ou a eles assemelhados-, visando o eficiente funcionamento da
Administração Pública. Cada Estado, ao se organizar, é que declarará os fins visados e instituirá os Poderes e órgãos
necessários. Assim, a CF cuida da parte estrutural, estática, da anatomia; o Direito Administrativo, da parte funcional,
dinâmica, fisiológica).
1.3. Estado moderno: para atender os seus fins, o Estado moderno realiza atos nos diversos sentidos: administrativo,
legislativo e judiciário. Todos eles se socorrem do Direito Administrativo, vez que referido direito orienta os aspectos
organizacionais, a administração de bens e de seu pessoal, a formalização de atos etc., somente se afastando do
funcionamento estatal/administrativo quando diante das atividades precípuas (principais) do Poder Legislativo (feitura de
leis) e Judiciário (decisões judiciais).
Assim, verifica-se que o Direito Administrativo rege toda e qualquer atividade de administração de qualquer dos Poderes
(Legislativo, Executivo ou Judiciário).
Direito Administrativo
Professor Thales Perrone
2.1. A lei (em sentido amplo, abrangente, é tido como a fonte primária do Direito Administrativo. Abrange as normas
constitucionais, as normas jurídicas administrativas (que se caracterizam como atos normativos da Administração) etc,
vez que referidos atos têm poder normativo coercitivo à sociedade e ao próprio Estado. Assim, a lei é a fonte formal e
primordial do Direito Administrativo.
2.2. A doutrina (exerce de maneira indireta grande influência na elaboração das leis e nas decisões judiciais,
ordenando, assim, o próprio Direito Administrativo. É tida como fonte mediata do Direito, sendo fonte supletiva de
omissões e interpretações da lei).
2.3. A jurisprudência (significa a reiteração de julgamentos em um mesmo sentido. Conforme leciona Edmir Netto de
Araújo, a chamada jurisprudência administrativa não é propriamente fonte da mesma natureza da judiciária, pois não
obriga o aplicador judiciário da lei e nem o particular, embora seja procedimento corrente na Administração sua
observância obrigatória pelos agentes administrativos. A reiteração das decisões administrativas, em interpretação
uniforme feita pelos órgãos consultivos da Administração age indiretamente como fonte).
2.4. Os costumes (exercem grande influência, tendo em vista a deficiência da legislação pátria. Segundo HLM, a prática
administrativa vem suprindo o texto escrito, e, sedimentada na consciência dos administradores e administrados, a praxe
burocrática passa a suprir a lei ou atua como elemento informativo da doutrina. Observe-se que o costume admissível
será aquele secundum legem, ou seja, em conformidade com a lei).
2.5. Alguns autores apresentam outras fontes do Direito Administrativo, tais como: princípios gerais do direito, praxe
administrativa (hábito uniforme e contínuo dos agentes públicos na realização de seus serviços e na interpretação das
normas jurídicas frente a decisão de casos concretos), a analogia, a eqüidade etc.
Para que se possa interpretar o sentido e o alcance das normas/regras contidas no Direito Administrativo,
utilizam-se, analogicamente, as mesmas regras de interpretação do Direito Privado que lhe forem aplicáveis. Contudo, não
se pode esquecer alguns pressupostos inafastáveis, quais sejam:
3.1. Supremacia do interesse público sobre o privado (sendo o bem comum o objetivo da Administração Pública, sempre
que houver conflito entre o interesse do particular e o público, deverá prevalecer o último);
3.2. Presença do atributo da presunção relativa de legitimidade dos atos administrativos (esta presunção de que os atos
administrativos são realizados em conformidade com a lei é relativa, pois ao particular resta a possibilidade de provar
que o ato administrativo foi realizado de maneira ilícita, ou seja, contrária ao ordenamento jurídico). Nós iremos estudar
este assunto mais adiante, no capítulo dos Atos Administrativos.
3.3. Reconhecimento da existência legal da discricionariedade administrativa (o Poder Discricionário terá como limite o
interesse coletivo, dele nunca podendo se afastar, sob pena de a Administração Pública cometer o denominado abuso de
poder). Este assunto será melhor abordado no capítulo dos Poderes Administrativos.
Princípios são os alicerces de uma ciência. São os mandamentos principais. Segundo José dos Santos Carvalho
Filho, princípios administrativos são os postulados fundamentais que inspiram todo o modo de agir da Administração
Pública. Assim, podemos dizer que os princípios administrativos (ou princípios da Administração Pública) são as
diretrizes, as idéias centrais que regem (informam) a atuação da Administração. Todo ato praticado sem a observância de
tais princípios é inválido, ilegal e poderá ser anulado pela Administração ou pelo Poder Judiciário.
Devemos observar que todos os princípios administrativos aplicam-se não apenas ao Poder Executivo, mas,
também, ao Legislativo e ao Judiciário, bem como a todas as esferas de Governo, quais sejam: União, Estados, Distrito
Federal e Municípios.
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● Toda e qualquer atividade administrativa deve ser determinada ou autorizada por lei. Não o sendo, a atividade é ilícita.
Tal princípio tem por origem mais próxima a criação do Estado de Direito (onde o Estado cria as regras e todos devem
obedecê-las, incluindo o próprio Estado). É uma proteção contra o abuso de poder da própria Administração.
● Conforme leciona Maria Sylvia Zanella di Pietro, “...a Administração Pública não pode, por simples ato
administrativo, conceder direitos de qualquer espécie, criar obrigações ou impor vedações aos administrados; para
tanto, ela depende de lei”. Assim, quando vemos a Administração Pública criando obrigações ao particular através de um
ato administrativo, é porque ela está embasada em alguma lei preexistente ao ato administrativo obrigacional.
● Algumas restrições ao princípio da legalidade: a) Medidas Provisórias (são atos expedidos pelo chefe do executivo e
que têm a denominada “força de lei”, que só serão obedecidas pela Administração se editadas nos parâmetros
constitucionais da relevância e urgência. Tais medidas produzem, ao serem editadas, pelo menos dois efeitos: o inovador
da ordem jurídica e o provocador do Congresso Nacional para que este delibere acerca da medida); b) Estado de Sítio e de
Defesa (representam restrições ao princípio da legalidade vez que são instituídos por Decreto Presidencial).
● Através das funções estatais básicas, cria-se a lei (legislação) e, após, a executa (através da Administração). Assim, a
execução da lei pressupõe, necessariamente, a existência prévia dela. Portanto, só se concebe atividade administrativa
diante dos parâmetros instituídos previamente pela lei. Conclui-se, desta forma, que só é legítima a atividade
administrativa que estiver condizente com a lei.
● Cumprir friamente a lei, não significa simplesmente atendê-la. Deve-se observar, também, o “espírito”, a “função
social” da mesma, de forma que ao legal deverá ajuntar-se o honesto, o justo e o conveniente aos interesses sociais. Desse
pensamento, surgiu a teoria da moralidade administrativa.
●A legalidade não se subsume apenas à observância da lei, mas a todo o sistema jurídico.
● Referido princípio não poderá ser afastado em hipótese alguma (nem mesmo em se tratando de atos discricionários).
● Não se pode dizer que há um escalonamento hierárquico entre os princípios. Desta forma, não se pode afirmar que o
princípio da legalidade é mais ou menos importante que os demais princípios abaixo estudados. Assim, não há um
princípio superior e outro inferior, sendo todos igualmente relevantes para a Administração Pública. O que pode vir a
acontecer é o fato de um princípio incidir em grau maior do que os demais, numa determinada situação específica, mas
sem que um deles venha a anular os demais, uma vez que todos devem ser obrigatoriamente observados.
● Em toda atividade desenvolvida pelos agentes públicos, o princípio da legalidade é o que precede todos os demais
princípios.
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● Referido princípio também deverá ser observado pelo particular que se relaciona com a Administração. Assim, por
exemplo, o conluio entre os licitantes diante de uma concorrência, por exemplo, caracteriza ofensa a esse princípio.
● Exemplos de infringência ao princípio: segundo HLM, “tanto infringe a moralidade administrativa o administrador
que, para atuar, foi determinado por fins imorais ou desonestos como aquele que desprezou a ordem institucional e,
embora movido por zelo profissional, invade a esfera reservada a outras funções, ou procura obter mera vantagem para
o patrimônio confiado à sua guarda. Em ambos os casos, os seus atos são infiéis, pois violam o equilíbrio que deve existir
entre todas as funções, ou, embora mantendo ou aumentando o patrimônio gerido, desviam-no do fim institucional, que é
o de concorrer para a criação do bem comum.”
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do Ministério Público, que só farão jus se agir com presteza no exercício da função (desta forma, a eficiência passa a ser
considerada como elemento objetivo de aferição de promoção por merecimento).
● Conforme dispõe o art. 103-A da CF/88, o STF, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, poderá aprovar
súmula que, após publicada, terá efeito vinculante em relação à administração pública direta e indireta, em todas as
esferas. Essa súmula visa evitar interpretações divergentes entre órgãos judiciários ou entre esses e a administração
pública que acarretem grave insegurança jurídica e relevante multiplicação de processos sobre questão idêntica, que
acabam por acarretar ineficiência no serviço público. O mesmo raciocínio podemos dar com relação às súmulas
vinculantes da AGU (Advocacia Geral da União), de observância obrigatória para a Administração Federal (LC 73/93,
art.2º e 17º).
Atenção! Embora os princípios abaixo estudados não estejam expressos no caput do artigo 37 da Constituição
Federal, poderão estar expressos em outras leis, como a 9.784/99 e a 8.666/93. Outros deles não estão explícitos no
artigo 37, mas em outros artigos da própria Constituição, tais como: contraditório e ampla defesa, devido processo
legal, economicidade, probidade etc.
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● Motivação aliunde é aquela que consiste na declaração de concordância com fundamentos de anteriores pareceres,
informações, decisões ou propostas, que, neste caso, serão parte integrante do ato (§1º do art. 50 da Lei 9.784/99).
● É princípio implícito na CF/88 (bem como o da razoabilidade) e explícito na Lei 9.784/99.
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5.8. Princípio da Presunção de Legitimidade (ou da presunção de veracidade ou de legalidade do ato administrativo)
● Presunção de que os atos da Administração são concretizados em conformidade com a lei. Qualquer irregularidade
deverá ser provada pelo particular.
● Referida presunção é relativa (presunção juris tantum), pois cabe prova em contrário. O ônus da prova de que o ato da
Administração não foi realizado em conformidade com os ditames da lei caberá a quem o alega.
5.13. Observações da Lei 8.666/93 (Lei que trata dos Contratos e das Licitações Públicas)
● Traz em seu bojo princípios específicos relacionados às licitações e contratos, que serão estudados juntamente com
referida Lei.
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CAPÍTULO II
PODERES E DEVERES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
1. CONSIDERAÇÕES GERAIS
► Os Poderes são conferidos aos agentes para realizar os objetivos da Administração, vez que em seu nome agem.
► Não se deve confundir “poderes administrativos” com “Poderes Políticos”. Os Poderes Políticos são representados
pelo Executivo, Legislativo e Judiciário, conforme a clássica tripartição de Montesquieu. Estes últimos são orgânicos e
estruturais do Estado, ao passo que os poderes da administração (poderes administrativos) são incidentais e instrumentais.
► Os poderes da Administração constituem instrumentos (prerrogativas de direito público) conferidos à Administração
pelo ordenamento jurídico (lei) para que ela atinja sua finalidade, qual seja, o interesse público.
► Ao mesmo tempo que o ordenamento jurídico confere poderes à Administração, impõe, por outro lado, deveres. Daí
surgem os denominados deveres administrativos.
► Os poderes da Administração são prerrogativas decorrentes, principalmente, do Princípio da Supremacia do Interesse
Público sobre o particular.
► Os poderes da Administração são irrenunciáveis (Princípio da Indisponibilidade) e devem ser obrigatoriamente
exercidos pelos titulares (é o chamado “poder-dever de agir” ou “dever-poder de agir”). Assim, o vocábulo “poder” não
quer dizer “faculdade de agir”, pois a ação será obrigatória, quando necessária, ou por disposição legal.
► Os poderes e deveres do administrador público são os expressos em lei, os impostos pela moral administrativa e os
exigidos pelo interesse da coletividade.
► O agente público, quando despido da função, ou fora do exercício do cargo, não poderá usar da autoridade pública.
► A omissão do servidor na realização de determinado ato poderá configurar-se como conduta ilegal. Mas, nem toda
omissão o será. As omissões tidas como genéricas não são ilegais, como as que ocorrem, por exemplo, quando o
administrador avalia a oportunidade e conveniência em construir um hospital ou uma escola. Já as omissões específicas
serão ilegais, pois decorrem do não cumprimento de determinação legal imposta no prazo fixado. Assim, a omissão
específica de não realizar licitação, quando a lei obrigava a fazê-la, configura uma omissão específica e referida atitude,
por parte da administração, é ilegal.
► O administrador, em diversos atos, age de acordo com as prerrogativas conferidas pelo regime jurídico administrativo.
Este regime garante ao agente o poder de utilizar determinados instrumentos legais, sempre em prol do interesse público,
consubstanciados nos denominados poderes administrativos (ou poderes do administrador público).
► São poderes administrativos: a) vinculado; b) discricionário; c) hierárquico; d) disciplinar e e) regulamentar.
3. PODERES ADMINISTRATIVOS
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Desta forma, suprem-se as omissões do Poder Legislativo, através dos regulamentos de execução. É através do decreto
que o regulamento se exterioriza.
► Referido poder decorre de disposição constitucional e é indelegável a qualquer subordinado. Assim, não há que se
falar em regulamento delegado. Veja que a Constituição permite expressamente a delegação quanto à Lei, como ocorre
com a delegação para elaborar lei, prevista no artigo 68 da CF, que trata das leis delegadas. Porém, quanto aos
regulamentos das leis, ela, a Constituição, nada dispôs.
► A prerrogativa é apenas para complementar a lei (e não alterá-la). Se o Executivo extrapolar do seu poder de
regulamentar a lei, estará agindo com abuso de poder regulamentar, invadindo a competência do Poder Legislativo,
desrespeitando o tradicional princípio da separação dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.
► Dependendo dos destinatários (ou do conteúdo, segundo alguns administrativistas), os decretos classificam-se em:
a) gerais (tem caráter normativo, traçam regras gerais e visam regulamentar as leis). Exemplo 1: a Agência Goiana de
Administração e Negócios Públicos – AGANP - foi criada pela Lei 13.550, de 11/11/1999. Em 19/08/2002, foi
regulamentada pelo Decreto nº. 5.639/02). Exemplo 2: O Regulamento do Imposto de Renda foi exteriorizado
através do Decreto nº. 85.450/80, de lavra do Chefe do Executivo federal (Presidente da República);
b) ou individuais/especiais (com destinatários específicos, individualizados, como nos casos de decreto de nomeação
de agente público). Observação: Aqui não se está falando em lei sendo regulamentada ou em uso do poder
regulamentar.
► Dependendo da abrangência de seus efeitos, podem ser classificados em nacionais e regionais.
► Dependendo das entidades que editam, os decretos podem ser municipais, estaduais, distritais ou federais.
► Compete ao Congresso sustar os atos normativos do Executivo que exorbitem do poder regulamentar (ver o art. 49, V,
da CF/88).
► Apesar de alguns autores admitirem os denominados “decretos autônomos” sobre matéria ainda não disciplinada por
lei, a doutrina majoritária os repudia. São os denominados regulamentos autônomos ou independentes. Os que não
concordam com a sua existência alegam que o art. 84, IV, da CF dispõe que os regulamentos visam a fiel execução da lei
e, também, que o art. 25 do ADCT/CF revogou todos os dispositivos legais que delegassem ao Poder Executivo
competência que era própria do Congresso Nacional. Assim, estes doutrinadores alegam que o regulamento autônomo é
aquele que inova na ordem jurídica, que cria um direito novo (contendo obrigações e restrições sem amparo legal),
estabelecendo normas acerca de matérias ainda não disciplinadas previamente pela lei, não complementando ou
desenvolvendo nenhuma lei prévia, o que é ilegal. O poder legiferante (poder de fazer a lei), oriundo do Legislativo, é
denominado “direto e primário”, onde os atos são classificados como legislativos (e não regulamentares). Já os decretos e
regulamentos autônomos (atos do Executivo) estampariam uma espécie de poder legiferante indireto (poder esse que não
encontra amparo na CF/88). Além disso, não pode o Executivo invadir as denominadas “reservas da lei”, ou seja, regular
matérias que só podem ser disciplinadas por lei através do Poder Legislativo.
Os que defendem a existência e validade dos decretos autônomos afirmam que a Emenda Constitucional nº.
32/2001 autoriza os Chefes do Executivo a tratar de matérias típicas da Administração, devidamente descritas no artigo
84, VI, da CF/88, tais como a organização e funcionamento dela (desde que não implique em aumento de despesa nem na
criação ou extinção de órgãos públicos) e na extinção de cargos ou funções públicas (quando vagos). Para estes
estudiosos, os decretos retirariam seus fundamentos de validade diretamente da Constituição, sendo editados em função
dela e não em função de uma Lei qualquer. Para estes doutrinadores, apenas nas hipóteses acima mencionadas poderá o
Chefe do Executivo expedir decretos autônomos sem a edição prévia de lei que justifique e limite a sua expedição.
Concluindo, verificamos que o fundamento legal do decreto de execução (ou regulamentar) baseia-se no
artigo 84, IV da CF/88, sendo o mesmo (o decreto) indelegável. Já o fundamento legal do decreto autônomo encontra sua
base normativa no mesmo artigo 84, porém, no seu inciso VI, sendo que este (o decreto autônomo) poderá ser delegado
aos Ministros de estado e estampariam o uso do poder normativo conferido à Administração (e não do poder
regulamentar, que é indelegável). Como o parágrafo único do artigo 84 da CF autoriza o Presidente da República a
delegar o exercício de algumas competências descritas no mesmo artigo (84), porém, não menciona expressamente o
inciso IV (que prevê a edição de decretos de execução), conclui-se que, neste último caso, a competência é exclusiva e
insuscetível de ser delegada a outrem.
Temos:
Originários ou primários (são os atos emanados pelo Legislativo, ou seja, as leis). (*1)
►Atos Sua competência tem origem na CF para edição do denominado “direito novo”.
norma
tivos Derivados ou secundários (são os atos oriundos, por excelência, do poder regulamentar, emanados do
Executivo). (*2)
Têm por objetivo a explicação, especificação ou execução da lei, através da edição de normas
complementares à lei.
(*1) Entenda-se lei, em sentido material e formal (ou em sentido restrito e próprio), aquela oriunda do Legislativo. É
denominada de geral e abstrata.
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(*2) Lei, em sentido material apenas (ou em sentido amplo e impróprio) é toda norma editada pelo Poder Executivo
(inclui-se, aqui, o decreto regulamentar).
►São titulares do poder regulamentar: o Presidente da República e, por simetria constitucional, governadores, prefeitos e
interventores.
► O poder regulamentar não pode ser editado contra legem (contrário à lei) ou praeter legem (mais que a lei
regulamentada), mas secundum legem (segundo a lei).
► É possível fixar-se obrigações subsidiárias (ou derivadas), diversas das obrigações primárias (ou originárias) descritas
na lei, desde que as obrigações subsidiárias sejam adequadas a ela e não se configurem na criação do denominado
“direito novo”. O que é ilegal é a exigência de obrigações derivadas impertinentes ou desnecessárias em relação à
obrigação legal, infringindo o princípio da proporcionalidade e o da reserva legal.
► Controle dos atos de regulamentação:
a) Via Congresso Nacional e
b) Via Poder Judiciário (é cabível ao particular ingressar com uma ação denominada “argüição de descumprimento de
preceito fundamental”, porque a mesma abrange a inconstitucionalidade de atos normativos). Além disso, através do
remédio (ação) constitucional do “Mandado de Injunção”, o Judiciário poderá declarar a inércia do órgão ou agente
incumbidos da regulamentação da norma.
► Tratando-se de um poder-dever de agir, não pode a Administração eximir-se de desempenhá-lo quando necessário.
Assim, não se pode falar em mera faculdade de regulamentar a lei. Contudo, podemos verificar a presença intensa do
Poder Discricionário, uma vez que a lei garante certa margem de liberdade ao Chefe do Executivo na edição do conteúdo
normativo. Além disso, nem todas as leis necessitam de regulamentação, mas apenas as leis administrativas que devem ser
executadas pela Administração, excluindo-se, por conseqüência, as leis trabalhistas, processuais, civis, etc., que são
aplicáveis independentemente de qualquer regulamentação.
► Segundo Hely Lopes, “as leis que trazem a recomendação de serem regulamentadas não são exeqüíveis antes da
expedição do decreto regulamentar”. Assim, tais leis, por não serem auto-executáveis, e enquanto não forem
regulamentadas, não produzirão efeitos. Nestes casos, diz-se que o decreto de execução, enquanto não editado pelo
Presidente da República, é condição suspensiva para a execução da lei.
► Os decretos regulamentares (oriundos do poder regulamentar do Chefe do Executivo) são diferentes dos decretos
legislativos (declaração de vontade do Legislativo em matéria de sua competência administrativa, como a escolha de
dirigentes do Banco Central, dos ministros do TCU, da Procuradoria Geral da República, a atos que digam respeito à
organização administrativa do parlamento, dentre outros).
► Segundo Clèmerson Merlin Clève, “a edição de regulamentos (poder regulamentar), as instruções, as circulares, os
regimentos, as ordens de serviço, os estatutos etc constituem-se em atividade normativa secundária exercida pela
Administração, ao passo que as emendas constitucionais, as leis complementares e ordinárias, as leis delegadas, as
medidas provisórias, os decretos legislativos e as resoluções constituem-se em atos normativos primários.
Não há um conceito universalmente válido e preciso para o regulamento. Podemos identificá-lo, contudo,
através do seu caráter geral, impessoal e, em regra, abstrato, além do fato de ser expedido privativamente pelo chefe do
executivo e referente à organização e ação do Estado.
O regulamento visa, somente, esclarecer a lei (que estabelece regras gerais), através de normas
complementares, garantindo, destarte, a sua fiel execução. A lei não consegue prever todos os pormenores e, tão pouco
especifica sua forma de aplicação, tarefa esta deixada a encargo do regulamento. Surgem, assim, as regras de execução
(e não de legislação). Assim, o regulamento é ato subordinado (inferior) e dependente da lei, sendo denominados de
regulamentos executivos.
Outros doutrinadores também entendem a natureza da atividade regulamentar como sendo uma atribuição
originária, de caráter constitucional e que a discricionariedade está na dinâmica da competência, na maneira de se
executar a lei e de dar aplicabilidade à mesma.
O poder regulamentar consubstancia-se na conveniência e oportunidade (poder discricionário) conferida ao
Executivo para disciplinar os comandos legais, buscando dispor internamente acerca da estrutura da Administração ou
pormenorizando o conteúdo de certas matérias.
Pelo regulamento, que se dá através do poder hierárquico conferido ao chefe do executivo, discrimina-se a
conduta, a forma de atuação da Administração, os procedimentos a serem adotados, a determinação dos critérios a
serem utilizados como base ao cumprimento da lei, as regras de conduta a serem adotadas pelos órgãos e agentes etc. O
regulamento conterá, assim, regras orgânicas e processuais destinadas a pôr em execução a lei, visando garantir a
uniformidade e o respeito ao princípio da igualdade, uma vez que evitará que cada Administração aja de acordo com
seus entendimentos e interpretações diante da mesma lei e dos casos concretos.
Não devemos nos esquecer que as leis, sendo genéricas, abstratas, impessoais, deixam uma certa margem de
liberdade para que a Administração as regulamente (poder discricionário), limitando a atuação de seus órgãos e
agentes.
O regulamento (espécie) é um ato administrativo normativo (gênero). Não é lei em sentido formal, mas, sim,
material (o conteúdo/matéria identificam-se com a lei).
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São características do ato administrativo normativo: a) a existência de um comando geral e abstrato emanado
da Administração Pública (normas de conduta) e b) a busca pela observância e explicação da lei. Já a lei (ato normativo
originário) tem a sua gênese no Poder Legislativo, dá-se mediante processo legislativo constitucionalmente previsto e
tem a característica de trazer ao mundo jurídico um jus novum (direito novo), sendo considerada como uma fonte
primária do direito. Apesar de regulamento e lei serem normas, o primeiro não altera o segundo, mas apenas a
desenvolve e a explica, sendo tido (o regulamento) como fonte secundária do direito.
Porém, alguns doutrinadores não concordam com esse entendimento e afirmam que tanto a lei como o
regulamento têm o condão de inovar a ordem jurídica, afinal, se não fosse assim, o regulamento apenas repetiria a lei e
se tornaria inútil.
Outros estudiosos, contudo, afirmam que somente a lei, por iniciativa própria, tem o poder de inovar
originariamente na ordem jurídica, de criar direitos e obrigações e de restringir a liberdade e a propriedade, ao passo
que o regulamento inova, apenas, de forma subordinada à lei, não podendo prescrever penas, estabelecer restrições à
igualdade, à liberdade ou à propriedade, prever tributos (para tanto a CF já dispõe qual o ente político que possui
referida competência), dar organização administrativa às repartições governamentais criando cargos e prescrevendo
novas competências, enfim, impor obrigações de fazer ou deixar de fazer ou restringir direitos sem lei anterior que a
autorize. E veja-se que, pelo princípio constitucional da legalidade, somente seremos obrigados a fazer ou deixar de
fazer alguma coisa em virtude de lei (e não de ato normativo administrativo).
Os direitos e as obrigações então criadas pelos regulamentos dizem respeito, tão-somente, aos subordinados
hierárquicos do editor do ato normativo, qual seja, do chefe do Executivo, que deverão obedecer as suas ordens e
determinações. Portanto, sobre este aspecto, o regulamento revela-se inovador, criando obrigações e deveres aos
subordinados dos chefes do Executivo (órgãos e agentes).
É claro que, indiretamente, os particulares são afetados pelas determinações regulamentares quando devam
tratar com os agentes sujeitos às normas administrativas em tela.
Observe-se que, se o artigo 84, IV, determina que o chefe do Executivo expedirá decretos e regulamentos para
a fiel execução das leis, resta claro que o atual sistema jurídico pátrio admite, tão somente, o denominado regulamento
de execução, que tem a finalidade de promover a fiel execução da lei.
A competência para editar regulamento é outorgada, de forma indelegável, ao chefe do Executivo (§ único do
artigo 84 da CF/88). Se o ato provém de outra autoridade, não mais será tido como regulamento, e sim como ato
normativo diverso daquele.
O regulamento é exteriorizado através do decreto (que o aprova), sendo o instrumento de suprema
manifestação jurídico-normativa do chefe do Executivo. Desta forma, através do decreto (forma), exterioriza-se o
conteúdo (matéria) do regulamento editado. Lembramos que a Portaria não é o instrumento adequado para o
cumprimento deste desiderato.
Será necessária tão somente a ciência dos destinatários através de qualquer meio lícito quando o regulamento
deva produzir efeitos apenas no interior da Administração. Contudo, se os efeitos atingirem terceiros estranhos à
Administração, será necessária a publicação integral do regulamento.
Observe que, em países como a França, a Constituição prevê as matérias que podem ser abordadas
exclusivamente através da atividade regulamentar. O mesmo não ocorre no Brasil.
Pelo princípio da universalidade da lei, todos os campos normativos podem ser disciplinados através da lei. E
ela poderá, se assim desejar o legislador, esgotar toda a matéria, pormenorizando, detalhando, apresentando a sua
forma de aplicação e execução. Portanto, é de se verificar que não é toda lei que necessita de regulamentação para ser
executada. Mas, se o Executivo assim entender, poderá regulamentar toda e qualquer lei.
Quais leis podem ser regulamentadas, tendo em vista que o artigo 84, IV da CF/88 não as previu? Resposta:
pela doutrina majoritária, apenas aquelas cuja aplicação e execução incumbam ao Executivo, ou seja, somente as leis
administrativas (excluindo-se, aqui, as leis privadas que tratam das relações entre os particulares).
O Presidente da República, por óbvio, só poderá regulamentar as leis editadas pelo Congresso Nacional, de
competência da União, sendo-lhe defeso regulamentar leis estaduais (que o serão pelos governadores) e municipais
(prefeitos). Assim, a atribuição regulamentar somente será exercida pelo órgão administrativo a quem compete aplicar a
lei”.
► Sendo lei em sentido material apenas (ato administrativo editado pelo Executivo), o regulamento deverá seguir a
mesma técnica legislativa (ou quase a mesma) adotada para a Lei elaborada pelo Legislativo, ou seja, deverá conter:
preâmbulo, texto, fecho, vigência e publicação. O regulamento estará, também, sujeito a referendo ministerial (conterá,
além da assinatura do Chefe do Executivo, as assinaturas do Ministro da Justiça e, pelo menos, do Ministro que deva
executá-lo). Além disso, o regulamento estará sujeito à nulidade, caso afronte a lei ou a constituição e à revogação, por
critérios de oportunidade e conveniência administrativas.
► Uma Lei, por ter caráter genérico e impessoal, não pode ser atacada via Mandado de Segurança. O regulamento, pelo
mesmo motivo, também não o poderá.
► Com o desaparecimento da lei, desaparece, também, o regulamento.
► O regulamento somente pode explicitar/especificar a lei cuja execução caiba ao Executivo. Desta forma, o Chefe do
Executivo não poderá regulamentar leis privadas, como as civis ou comerciais que dizem respeito às relações entre os
particulares, ou regulamentar leis de outras esferas governamentais.
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► Pela teoria do paralelismo principiológico, Governadores e Prefeitos também têm competência para expedir decretos,
tendo em vista o que determina a Constituição Estadual e a Lei Orgânica do Município, respectivamente.
► Observemos que o poder regulamentar, a se exteriorizar através de regulamentos, é apenas uma das diversas formas
que a Administração possui dentro de sua competência normativa. Assim, dentro de um poder mais abrangente (o
normativo), encontramos o poder regulamentar, que é uma de suas espécies. Por esta razão, há doutrinadores que preferem
utilizar a expressão “poder normativo”, abaixo estudado.
► Segue, abaixo, um exemplo concreto de Lei (elaborada pelo Congresso Nacional – Legislativo) e, logo abaixo, a sua
regulamentação (pelo poder Executivo, através de Decreto):
Presidência da República
Casa Civil
Subchefia para Assuntos Jurídicos
Faço saber que o Congresso Nacional decretou, o Presidente da Câmara dos Deputados no exercício do cargo de
Presidente da República, nos termos do § 2º do artigo 59, da Constituição Federal, sancionou, e eu, José Fragelli,
Presidente do Senado Federal, nos termos do § 5º do artigo 59, da Constituição Federal, promulgo a seguinte
Art. 1º O Presidente da República, terminado o seu mandato, tem direito a utilizar os serviços de quatro servidores,
para segurança e apoio pessoal, bem como a dois veículos oficiais com motoristas, custeadas as despesas com dotações
próprias da Presidência da República. (Redação dada pela Lei nº 8.889, de 21.6.1994)
§ 1o Os quatro servidores e os motoristas de que trata o caput deste artigo, de livre indicação do ex-Presidente da
República, ocuparão cargos em comissão do Grupo-Direção e Assessoramento Superiores - DAS, até o nível 4, ou
gratificações de representação, da estrutura da Presidência da República. (Redação dada pela Lei nº 10.609, de
20.12.2002)
§ 2o Além dos servidores de que trata o caput, os ex-Presidentes da República poderão contar, ainda, com o
assessoramento de dois servidores ocupantes de cargos em comissão do Grupo-Direção e Assessoramento Superiores -
DAS, de nível 5.(Redação dada pela Lei nº 10.609, de 20.12.2002)
Art 2º O Ministério da Justiça responsabilizar-se-á pela segurança dos candidatos à Presidência da República, a partir
da homologação em convenção partidária.
Presidência da República
Casa Civil
Subchefia para Assuntos Jurídicos
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Direito Administrativo
Professor Thales Perrone
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso IV, da Constituição, e
tendo em vista o disposto na Lei no 7.474, de 8 de maio de 1986,
DECRETA:
Art. 1o Findo o mandato do Presidente da República, quem o houver exercido, em caráter permanente, terá direito:
Art. 3o Para atendimento do disposto no art. 1o, a Secretaria de Administração da Casa Civil da Presidência da
República poderá dispor, para cada ex-Presidente, de até oito cargos em comissão do Grupo-Direção e Assessoramento
Superiores - DAS, sendo dois DAS 102.5, dois DAS 102.4, dois DAS 102.2 e dois DAS 102.1.
Art. 4o Os servidores em atividade de segurança e os motoristas de que trata o art. 1o receberão treinamento para se
capacitar, respectivamente, para o exercício da função de segurança pessoal e de condutor de veículo de segurança, pelo
Departamento de Segurança do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República.
Art. 6o Aos servidores de que trata o art. 5o poderá ser disponibilizado, por solicitação do ex-Presidente ou seu
representante, porte de arma institucional do Departamento de Segurança do Gabinete de Segurança Institucional, desde
que cumpridos os seguintes requisitos, além daqueles previstos na Lei no 10.826, de 2003, em seu regulamento e em
portaria do Ministro de Estado Chefe do Gabinete de Segurança Institucional:
I - avaliação que ateste a capacidade técnica e aptidão psicológica para o manuseio de arma de fogo, a ser realizada
pelo Departamento de Segurança do Gabinete de Segurança Institucional;
II - observância dos procedimentos relativos às condições para a utilização da arma institucional, estabelecidos em ato
normativo interno do Gabinete de Segurança Institucional; e
III - que se tratem de pessoas originárias das situações previstas no art. 6o, incisos I, II e V, da Lei no 10.826, de 2003.
Parágrafo único. O porte de arma institucional de que trata o caput terá prazo de validade determinado e, para sua
renovação, deverá ser realizada novamente a avaliação de que trata o inciso I do caput, nos termos de portaria do Ministro
de Estado Chefe do Gabinete de Segurança Institucional.
Art. 7o Durante os períodos de treinamento e avaliação de que tratam os arts. 4o e 6o, o servidor em atividade de
segurança e motorista de ex-Presidente poderá ser substituído temporariamente, mediante solicitação do ex-Presidente ou
seu representante, por agente de segurança do Departamento de Segurança do Gabinete de Segurança Institucional.
Art. 8o O planejamento, a coordenação, o controle e o zelo pela segurança patrimonial e pessoal de ex-Presidente
caberá aos servidores de que trata o art. 1o, conforme estrutura e organização própria estabelecida.
Art. 9o A execução dos atos administrativos internos relacionados com a gestão dos servidores de que trata o art. 1o e
a disponibilidade de dois veículos para o ex-Presidente serão praticadas pela Casa Civil, que arcará com as despesas
decorrentes.
Art. 10. Os candidatos à Presidência da República terão direito a segurança pessoal, exercida por agentes da Polícia
Federal, a partir da homologação da respectiva candidatura em convenção partidária.
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Direito Administrativo
Professor Thales Perrone
Art. 11. O Ministro de Estado da Justiça, no que diz respeito ao art. 10, o Ministro de Estado Chefe do Gabinete de
Segurança Institucional, no que concerne aos arts. 4o, 5o, 6o e 7o, e o Secretário de Administração da Casa Civil, quanto ao
disposto nos arts. 2o e 9o, baixarão as instruções e os atos necessários à execução do disposto neste Decreto.
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Direito Administrativo
Professor Thales Perrone
se estiverem a desempenhar função administrativa (função não precípua), deverão respeitar a hierarquia. Inexiste
hierarquia entre os agentes que exercem FUNÇÃO JURISDICIONAL, por respeito ao princípio da livre convicção do
juiz, ou entre os que exercem função LEGISLATIVA, por respeito ao princípio da partilha das competências
constitucionais (onde o poder legiferante já se encontra delineado na CF). Assim, por exemplo, se uma lei federal dispõe
sobre matéria reservada ao município, não haverá preponderância dela sobre a lei municipal, e a primeira será tida como
inconstitucional.
(*1) – Exemplos: Edição de Medidas Provisórias (CF/88, art. 62); edição de normas gerais e abstratas oriundas de seu
poder regulamentar (art. 84, IV da CF/88) e edição de leis delegadas (art. 68 da CF/88).
(*2) – OBSERVAÇÃO IMPORTANTE: A constituição federal vigente atribui ao Poder Judiciário a função jurisdicional,
na qual suas decisões têm o caráter da definitividade, ou seja, não podem ser questionadas por outro Poder após o trânsito
em julgado delas (não há mais o que se questionar, haja vista não haver mais recursos cabíveis dentro do Judiciário e,
menos ainda, fora dele). Desta forma, tendo em vista que as decisões do Executivo não possuem este atributo da
definitividade, podendo ser questionadas pelo Poder Judiciário, dizemos que a função jurisdicional típica somente é
exercida pelo Judiciário (regra geral) e, excepcionalmente, pelo Legislativo (quando a CF assim o autoriza). Contudo,
certas questões de concursos aludem à possibilidade de todos os poderes exercerem todas as funções. Neste caso, devemos
entender que o Executivo estaria sim exercendo jurisdição, porém, sem definitividade.
(*3) – Exemplo: Quando organiza seus serviços internos (CF/88, art.51, IV e art. 52, XIII).
(*4) – Exemplos: Senado processando e julgando o Presidente da República nos crimes de responsabilidade (CF/88, art.
52, I) ou Senado processando e julgando os Ministros do Supremo Tribunal Federal nos crimes de responsabilidade
(CF/88, art. 52, II).
(*5) – Exemplo: Quando organiza seus serviços (art.96, I, “a”, “b”, “c” e art. 96, II, “a”, “b” etc, todos da CF/88).
(*6) – Exemplo: Elaboração dos Regimentos Internos dos Tribunais (CF/88, art.96, I, “a”)
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Direito Administrativo
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Unidade de direção (resulta automaticamente do escalonamento vertical entre os órgãos, de maneira que independe de
previsão legal específica para ser exercido). Observação: segundo Cretella Júnior, “diz-se que existe unidade de direção
quando as ordens, emanadas dos escalões superiores, são obedecidas por todos os agentes dos escalões inferiores, até a
base da pirâmide, de tal modo que a máquina administrativa funciona de modo harmônico e uniforme, dando a
impressão de uma peça única”.
i) Resolução dos conflitos de competência (positivos, ou seja, quando dois ou mais agentes públicos se consideram
competentes para a realização de determinado serviço público, ou negativos, ou seja, quando dois ou mais agentes
públicos se consideram incompetentes para a prática de determinado serviço público).
► Edmir Netto nos lembra que “o ordenamento jurídico pode determinar que a competência de certo órgão ou agente
inferior a outros na escala hierárquica seja exclusiva e, portanto, não possa ser avocada, como, por exemplo, o
julgamento da habilitação e das propostas pela Comissão Julgadora nas licitações (arts. 43 e 44 da lei n. 8.666/93).
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Direito Administrativo
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► Poder discricionário é a prerrogativa concedida aos agentes de elegerem, entre várias condutas possíveis, a que traduz
maior conveniência e oportunidade para o interesse público.
► São fatores exigidos para a legalidade do exercício do poder discricionário:
a) A conduta escolhida deverá ser adequada à finalidade expressa na lei, sob pena de ser ilegítima;
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Direito Administrativo
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b) Se a autoridade não permite o exame dos fundamentos de fato ou de direito que mobilizaram sua decisão em certas
situações em que seja necessária a sua averiguação, haverá, pelo menos, uma fundada suspeita de utilização abusiva
do poder discricionário e ocorrência de desvio de finalidade;
c) Atualmente, os estudiosos do direito administrativo têm considerado os princípios da RAZOABILIDADE e da
PROPORCIONALIDADE como controladores da discricionariedade. Porém, a exacerbação ilegítima desse tipo de
controle ofende o princípio constitucional da Separação dos Poderes.
► O Poder de polícia surge como fato gerador do tributo “taxa”, na modalidade taxa de polícia.
► Conceito I: Atividade da Administração Pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula
a prática de ato ou a abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos
costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou
autorização do Poder Público, à tranqüilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos
(art. 78 do Código Tributário Nacional).
► Conceito II: Para Caio Tácito, o “poder de polícia é o conjunto de atribuições concedidas à Administração para
disciplinar e restringir, em favor do interesse público, direitos e liberdades individuais”. .
► Conceito III: Para HLM, “poder de polícia é a faculdade de que dispõe a Administração Pública para condicionar e
restringir o uso e gozo de bens, atividades e direitos individuais, em benefício da coletividade ou do próprio Estado”.
► Conceito IV: Para José Cretella Jr., “poder de polícia é a faculdade discricionária da Administração de, dentro da lei,
limitar a liberdade individual em prol do interesse coletivo”.
► Conceito V: Para Celso Antonio Bandeira de Mello, poder de polícia é “a atividade da Administração Pública,
expressa em atos normativos ou concretos, de condicionar, com fundamento em sua supremacia geral e na forma da lei,
a liberdade e a propriedade dos indivíduos, mediante ação ora fiscalizadora, ora preventiva, ora repressiva, impondo
coercitivamente aos particulares um dever de abstenção (non facere) a fim de conformar-lhes os comportamentos aos
interesses sociais consagrados no sistema normativo”.
► A princípio, a competência para o exercício do poder de polícia é da entidade competente para legislar sobre a matéria.
► Quando o Poder Público interfere na órbita do interesse privado para salvaguardar o interesse público, restringindo
direitos individuais, atua no exercício do poder de polícia. Assim, o fundamento do PP é a supremacia do interesse
público sobre o privado.
► Objeto do poder de polícia: sobre todos os bens, direitos, interesses e atividades individuais. Ex.: construção, meio
ambiente, saúde pública, trânsito, poluição etc.
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Direito Administrativo
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► O poder de polícia pode incidir em duas áreas de atuação do Estado: na administrativa (polícia administrativa) e na
judiciária (polícia judiciária).
a) Polícia Ostensiva: Polícia Militar (estadual – art. 144, parágrafo 5º, CF/88) e Polícia Rodoviária Federal (União
– art. 144, parágrafo 3º, CF/88).
b) Polícia Judiciária: Polícia Civil (Estadual – art. 144, parágrafo 4º, CF/88) e Polícia Federal (União – art. 144,
parágrafo 1º, CF/88).
► Álvaro Lazzarini diz que a linha de diferenciação entre as polícias administrativa e a judiciária está na ocorrência ou
não de ilícito penal. Quando a atuação é na área do ilícito puramente administrativo (preventiva ou repressivamente), a
polícia é administrativa. Quando o ilícito penal é praticado, é a polícia judiciária que age.
Gerais
Atributos
Específico
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Direito Administrativo
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a) Presunção de legitimidade: presunção relativa de que o ato administrativo é valido (legal), até que se prove o
contrário.
b) Auto-executoriedade
► É a capacidade de a Administração auto executar as suas próprias decisões sem precisar de autorização de outro Poder
(Judiciário ou Legislativo) para executá-las.
► Exemplo: se uma Van é apreendida, é possível cobrar taxa de liberação do veículo em virtude do exercício do poder de
polícia e do tempo de permanência na garagem competente, mas não é permitido cobrar indiretamente a multa pela
infração de trânsito para liberar o veículo. Caso contrário, a Administração estaria atribuindo a si mesma atividade auto-
executória de cobrança sem o devido respaldo legal. Nada obsta que a lei determine o pagamento da multa como condição
para a prática de outro ato, v.g., como condição para a renovação de licenciamento de veículos ou a exigência de quitação
de tributos para participar de licitação. O que é imprescindível é que referidas hipóteses tenham previsão legal.
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Direito Administrativo
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Direito Administrativo
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5.2. Dever de prestar contas: a prestação pode ser realizada internamente, através dos órgãos escalonados em graus
hierárquicos, ou externamente, através dos Tribunais de Contas competentes. O dever de prestar contas alcança a
administração centralizada ou descentralizada, bem como as pessoas que recebam subvenção governamental, sendo,
portanto, uma obrigação a todos que gerem ou administram dinheiro público. A prestação não se refere, apenas, aos
erários públicos ou à gestão financeira, mas a todos os atos de governo e de administração. Vide o § único do art. 70 da
CF/88.
5.3. Dever de eficiência: É o dever de desempenhar uma boa administração. O agente público deverá agir com presteza,
perfeição e rendimento funcional. A eficiência deverá se dar de forma que o trabalho seja perfeito e que as técnicas
adotadas tenham sido adequadas para atingir os fins propostos. Desta forma, a verificação da eficiência atinge os aspectos
quantitativos e qualitativos do serviço. Verificamos o princípio da eficiência diante de situações como: a) supervisão
ministerial da Administração Direta em relação à Indireta; b) dispensa de servidor estável, com a devida perda do cargo,
por ser ineficiente, após avaliação periódica de desempenho; c) avaliação especial de desempenho, como condição para a
aquisição da estabilidade e etc.
5.4. Poder-dever de agir: O agente público tem o dever de agir sempre que necessário. Seus poderes administrativos,
portanto, são irrenunciáveis. A omissão do agente, diante de situações que exijam alguma conduta, caracteriza abuso de
poder.
CAPÍTULO III
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA
1. NOÇÕES GERAIS
A Forma de Estado é a FEDERAÇÃO.
Há um poder político central e soberano e entidades políticas internas componentes do sistema, às quais são conferidas
competências específicas pela CF.
Há diferenças entre a Federação e a Confederação:
Federação Confederação
Todos os integrantes da federação materializam o Estado e
agem dentro dos limites constitucionais de competência.
Apenas o Estado em si detém soberania. Todos os membros são soberanos.
Os entes integrantes do regime se associam numa união A aliança se forma entre vários Estados soberanos.
indissolúvel, como forma de dar à unidade resultante
preponderância sobre a pluralidade formadora.
A Federação distingue o poder político central dos poderes Há um vínculo frágil e instável.
atribuídos aos entes integrantes.
A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios são: a) Pessoas jurídicas de direito público; b) Pessoas
federativas e c) Representantes de cada compartimento interno do Estado federativo brasileiro. Os Territórios, embora
sendo pessoas jurídicas de direito público, não têm autonomia política e não integram a federação (art. 18, CF/88), sendo,
apenas, pessoas administrativas descentralizadas que integram a União e são reguladas por lei complementar federal.
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Direito Administrativo
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A função administrativa é, dentre todas, a mais ampla. Através dela, o Estado cuida da gestão de seus interesses e os da
coletividade. É vista como residual, ou seja, excluídas a função legislativa e a jurisdicional, todo o restante espelha o
exercício da função administrativa.
A função administrativa é desempenhada em todos os Poderes da U/E/DF e M, abrangendo todos os órgãos que não
estejam voltados ao exercício da legislação ou da jurisdição.
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
1. CONCEITOS
Em sentido objetivo (material ou funcional), administração pública exprime a idéia de atividade, tarefa, ação,
enfim, a própria função administrativa.
Em sentido subjetivo (formal ou orgânico) a Administração Pública representa o universo de órgãos, agentes e
pessoas jurídicas (entidades) incumbidos de realizar as atividades administrativas, visando à satisfação das necessidades
coletivas e segundo os fins desejados pelo Estado. Neste sentido, dá-se realce ao agente ou sujeito da função. Por pessoas
jurídicas (ou administrativas) entendem-se aquelas que exercem suas atividades de maneira descentralizada, tais como as
autarquias, empresas públicas, sociedades de economia mista e fundações públicas (compondo a Administração indireta).
2. PRINCÍPIOS REGEDORES
Os princípios regedores da Administração Pública estão na CF ou fora dela (inseridos nas diversas leis que
tratam da organização dos entes federativos). Os princípios constitucionais (LIMPE) se impõem a todas as esferas
federativas (U/E/DF/M), abrangendo a administração direta e indireta. Quanto à União, seu estatuto organizacional
próprio apresenta cinco princípios norteadores da Administração Federal: planejamento, coordenação, delegação de
competência, controle e descentralização. São esses princípios, especialmente o da descentralização, que fundamentam a
divisão da administração em direta e indireta.
3. ORGANIZAÇÃO
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Direito Administrativo
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Judiciário
3.1.1. Classificação dos Órgãos Públicos: Os órgãos públicos podem ser classificados quanto à posição estatal, estrutura
e atuação funcional. Vejamos:
Superiores:
Características: A) têm poder de direção, controle, decisão, planejamento e comando dos assuntos de sua
competência específica; B) estão sujeitos às regras de hierarquia e subordinação de uma chefia superior; C) não tem
autonomia administrativa ou financeira, pois referida autonomia é atributo dos órgãos independentes e autônomos aos
quais pertencem, mas possuem autonomia técnica na sua área-fim em relação às suas funções específicas. Exemplos:
Gerências, Gabinetes, Secretarias-Gerais, Inspetorias-Gerais, Procuradorias Administrativas e Judiciais, Departamentos,
Coordenadorias e Divisões.
Subalternos:
Características: A) devem obediência ao Poder Hierárquico dos Órgãos mais elevados; B) têm reduzido poder
decisório; C) sua atribuição precípua é a de execução (serviços de rotina, tarefas de formalização de atos administrativos,
cumprimento de decisões superiores e primeiras decisões em casos individuais). Exemplos: Seção de Transporte, Seção
de Pagamento, Setor de Almoxarifado (atividades-meio).
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Direito Administrativo
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Compostos: são os que possuem em sua organização outros órgãos menores, com função principal igual (atividade-
fim realizada desconcentradamente) ou com outras funções auxiliares (atividades-meio). No órgão composto, ocorre o
fenômeno da “desconcentração”, onde o órgão de maior hierarquia envolve os menores e inferiores formando, assim, um
sistema orgânico. As funções são distribuídas a vários centros de competência. O órgão mais alto supervisiona os demais e
os chefes imediatos realizam a fiscalização. Pode-se avocar e rever os atos das unidades inferiores. Ex.: Secretaria de
Educação + órgãos de pessoal + unidades escolares.
Colegiados (ou pluripessoais): a decisão se manifesta conjunta e majoritariamente pela vontade de seus membros.
a) Princípio da Reserva Legal: todas as pessoas da Administração Indireta de qualquer dos Poderes só podem
ser instituídas por lei específica. Daí o art. 37, XIX, dizer que “Somente por lei específica poderá ser criada autarquia e
autorizada a instituição de empresa pública, de sociedade de economia mista e de fundação...” O art. 173, § 1º dispõe
que as empresas públicas e sociedades de economia mista terão como objeto explorar atividade econômica de produção ou
comercialização de bens ou de prestação de serviços. O Mandamento significa que tais entidades só podem ingressar no
mundo jurídico se houver manifestação dos Poderes Legislativo e Executivo no processo de formação da lei instituidora,
cabendo a este último (o Executivo) o poder de iniciativa da lei, por se tratar de matéria de caráter estritamente
organizacional da Administração Pública. O princípio se aplica, também, à hipótese de instituição de pessoas subsidiárias
das empresas públicas e sociedades de economia mista, evitando-se que as entidades primárias instituam, a seu exclusivo
critério, essas pessoas de natureza derivada (subsidiárias), com o risco de ficarem sem qualquer controle e de provocarem
dispêndio ao erário público. Não é necessário, porém, que haja uma lei autorizadora específica para que seja criada cada
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Direito Administrativo
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subsidiária. Nada impede que a lei instituidora da entidade primária, ou lei subseqüente, já preveja a instituição de futuras
subsidiárias (esse é o entendimento do STF).
b) Princípio da Especialidade: aponta para a absoluta necessidade de ser expressamente consignada na lei a
atividade a ser exercida descentralizadamente pela Administração Indireta. Nenhuma dessas entidades pode ser instituída
com finalidades genéricas, sem que se defina na lei o objeto preciso de sua atuação. Somente as pessoas políticas
(U/E/DF/M) têm funções genéricas das mais diversas naturezas.
c) Princípio do Controle: toda pessoa integrante da Administração Indireta é submetida a controle pela
Administração Direta da pessoa política a que é vinculada (e não subordinada). O princípio do controle (ou tutela
administrativa) tem quatro aspectos: 1º) controle político (os dirigentes das entidades da Administração Indireta são
escolhidos pela autoridade da Direta, razão por que os mesmos exercem função de confiança – relação intuitu personae);
2º) controle institucional (obriga a entidade a cumprir os fins para os quais foi criada); 3º) controle administrativo (que
permite a fiscalização dos agentes e das rotinas administrativas da entidade) e 4º) controle financeiro (fiscalização dos
setores financeiro e contábil da entidade).
A forma através da qual os órgãos governamentais exercem o controle pode variar conforme a lei de
organização administrativa federal, estadual, distrital ou municipal. Como regra, tem-se adotado o sistema de controle
através de Ministérios ou de Secretarias. A União adotou essa sistemática, denominando-a de supervisão ministerial:
“todo e qualquer órgão da administração federal, direta ou indireta, está sujeito à supervisão do Ministro de Estado
competente”. O controle funda-se na relação de vinculação (toda pessoa da administração indireta é vinculada a
determinado órgão da respectiva administração direta). Observe-se a distinção entre a relação de vinculação, fixada entre
pessoas e relação de subordinação, apropriada para o controle entre órgãos internos das pessoas administrativas. Assim,
citamos como exemplo de controle o fato de as escolas e universidades ficarem sob o controle do Ministério da Educação
e do Desporto. Pessoas ligadas à área econômica, como o Banco Central, Casa da Moeda e Banco do Brasil são
vinculadas ao Ministério da Fazenda. Hospitais e Fundações de saúde ao Ministério da Saúde etc.
4. AUTARQUIAS
4.1. Conceito I: autarquia é uma entidade criada por lei específica, com personalidade jurídica de direito público,
patrimônio e receita próprios, para executar atividades típicas da Administração Pública de natureza administrativa, que
requeiram, para seu melhor funcionamento, gestão administrativa e financeira descentralizadas.
4.2. Conceito II: Para o professor Bandeira de Mello, as autarquias são “pessoas jurídicas de direito público de
capacidade exclusivamente administrativa”.
4.3. Conceito III: pessoa jurídica de direito público, integrante da Administração Indireta, criada por lei para
desempenhar funções que, despidas de caráter econômico, sejam próprias e típicas do Estado. Exemplos de autarquias
vinculadas à União: INSS, INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), Comissão Nacional de
Energia Nuclear (CNEN), Banco Central do Brasil (BACEN), Comissão de Valores Mobiliários (CVM, vinculada ao
Ministério da Fazenda), IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), DNOCS
(Departamento Nacional de Obras contra Secas), EMBRATUR, SUSEP (Superintendência de Seguros Privados,
vinculada ao Ministério da Fazenda), ANATEL etc. Na esfera estadual, temos a AGANP (Agência Goiana de
Administração e Negócios Públicos – autarquia estadual vinculada à Secretaria de Estado da Fazenda), a AGR (Agência
Goiana de Regulação, Controle e Fiscalização de Serviços Públicos), o IPASGO (Instituto de Previdência e Assistência
dos Servidores do Estado de Goiás, vinculada à Secretaria da Fazenda), a Agência Goiana de Meio Ambiente e Recursos
Hídricos (Agência Ambiental de Goiás, vinculada à Secretaria do Meio Ambiente) etc. Na esfera municipal, encontramos
o MUTIRAMA, a SMT (Superintendência Municipal de Trânsito) e o DERMU (Departamento de Estradas de Rodagem
do Município).
Autarquia e autonomia POLÍTICA têm significados diversos.
A autonomia política indica que alguns entes podem criar sua própria administração e estabelecer sua organização
jurídica. É o que ocorre quanto à U/E/DF e M. O art. 18 da CF emprega o termo “autônomos” quando se refere a tais
entidades políticas. A conotação de autarquia não é de caráter político, mas administrativo. O Estado, quando cria
autarquias, visa a atribuir-lhes funções que merecem ser executadas de forma descentralizada. Daí não poderem as
autarquias criar regras jurídicas de auto-organização, nem terem capacidade política (autonomia política), mas, sim,
autonomia administrativa. Sua função é meramente administrativa. Assim, enquanto a autonomia é o próprio Estado, a
autarquia é apenas, uma pessoa administrativa criada pelo Estado.
4.4. Autarquias institucionais X territoriais: a doutrina distingue as autarquias institucionais das territoriais. As
territoriais correspondem a desmembramentos geográficos em certos países, normalmente com regime unitário, aos quais
o poder central outorga algumas prerrogativas de ordem política e administrativa, permitindo-lhes uma relativa liberdade
de ação. Não chegam a ser verdadeiras autonomias, mas têm a seu cargo algumas funções privativas conferidas pelo
Estado. Esse, aliás, foi o sentido inicial do termo autarquia. Citamos como exemplos os territórios (entes despidos de
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Direito Administrativo
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autonomia, que executam, por delegação, algumas funções próprias de Estado). Porém, as autarquias ditas institucionais
nascem como pessoas jurídicas criadas pelo Estado para tarefas às quais a lei as destinou. Tratam-se de meras pessoas
administrativas.
4.5. Personalidade Jurídica: a CF não dispôs de forma peremptória que as autarquias integram a Administração Indireta.
Foi o Decreto-Lei nº.200/67 (Estatuto da Reforma Administrativa Federal) que ofereceu a conceituação de autarquia,
dispondo claramente que esta entidade era integrante da Administração Indireta: “ serviço autônomo criado por lei, com
personalidade jurídica, patrimônio e receita próprios, para executar atividades típicas da administração pública, que
requeiram, para seu melhor funcionamento, gestão administrativa e financeira descentralizada”. As autarquias são
pessoas jurídicas de direito público (qualificação conformada pelo atual Código Civil, que relacionou as autarquias dentre
as pessoas jurídicas de direito público). Dotadas de função exclusivamente administrativa (o que as coloca em plano
diverso das pessoas integrantes da federação, estas sim, possuidoras de capacidade política), sua personalidade jurídica de
direito público lhes atribui todas as prerrogativas contidas no ordenamento jurídico. Sendo pessoas jurídicas de direito
público, não incidem sobre elas a legislação prevista no Código Civil. A regra de que a existência legal das pessoas
jurídicas começa com a inscrição, no registro próprio, de seus contratos, atos constitutivos ou estatutos, se irradia apenas
sobre as pessoas de direito privado. Para as pessoas jurídicas de direito público, como as autarquias, a regra tem estreita
conexão com o princípio da legalidade, visto que, sendo criadas por lei, têm o início de sua existência no mesmo momento
em que se inicia a vigência da lei criadora. É, portanto, com o início da vigência da lei criadora que tem início a
personalidade jurídica das autarquias.
4.6. Criação e Extinção das Autarquias: a lei que dá origem à autarquia deve ser da iniciativa privativa do Chefe do
Executivo. Para a extinção, é também a lei o instrumento jurídico adequado. Ademais, não poderia ato administrativo dar
por finda a existência de pessoa jurídica instituída por lei, já que se trata de ato de inferior hierarquia (a lei é
hierarquicamente superior ao ato administrativo). Já a organização das autarquias é delineada através de ato
administrativo, normalmente decreto do Chefe do Executivo. No ato de organização, são fixadas as regras atinentes ao
funcionamento da autarquia, aos órgãos componentes e à sua competência administrativa, ao procedimento interno e a
outros aspectos ligados efetivamente à atuação da entidade autárquica. Assim, as autarquias detêm poder de auto-
administração, podendo gerir a si próprias dentro dos limites estabelecidos na lei instituidora.
4.7. Objeto: O Decreto-Lei 200/67 consignou que as autarquias executam atividades típicas da administração pública
(expressão que suscita dúvidas de seu sentido). O legislador teve o escopo de atribuir às autarquias a execução de serviços
públicos de natureza social e de atividades administrativas, com a exclusão dos serviços e atividades de cunho
econômico e mercantil (estes serviços são adequados a outras pessoas administrativas, como as sociedades de economia
mista e as empresas públicas). Citamos, a título de exemplo, autarquias que desenvolvam determinado serviço de
assistência a regiões inóspitas do país ou que prestem serviços médicos.
4.8. Classificação das Autarquias Quanto ao Nível Federativo: as autarquias podem ser federais, estaduais, distritais ou
municipais. Não são admissíveis autarquias interestaduais ou intermunicipais. Se há interesse conjunto de Estados-
membros e de municípios em executar serviços comuns, devem, por si mesmos ou por pessoas descentralizadas, como é o
caso de autarquias, celebrar convênios ou consórcios administrativos, constituindo essa forma de cooperação a gestão
associada (art. 241 da CF), tendo em vista que cada pessoa descentralizada é vinculada apenas ao ente federativo
responsável por sua instituição, e não simultaneamente a várias pessoas administrativas.
4.9. Objetivos
Quanto aos objetivos, as autarquias classificam-se em:
a) Autarquias assistenciais: visam auxiliar a regiões menos desenvolvidas ou a categorias sociais específicas,
minorando as desigualdades regionais e sociais. Ex.: ADENE (Agência de Desenvolvimento do Nordeste), ADA
(Agência de Desenvolvimento da Amazônia) e INCRA (Instituto nacional de Colonização e Reforma Agrária);
b) Autarquias previdenciárias: voltadas para a atividade de previdência social oficial. Ex.: INSS.
c) Autarquias culturais: dirigidas à educação e ao ensino. Ex.: UFRJ.
d) Autarquias profissionais: incumbidas da inscrição de certos profissionais e de fiscalizar sua atividade. Ex.: OAB e
CRM.
e) Autarquias administrativas: que formam a categoria residual, ou seja, daquelas entidades que se destinam às várias
atividades administrativas, inclusive de fiscalização, quando essa atribuição for da pessoa federativa a que estejam
vinculadas. Ex.: INMETRO (Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial), BACEN e
IBAMA.
f) Autarquias de controle: enquadram-se nesta categoria as agências reguladoras.
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a) Autarquias comuns (ou de regime comum): sujeitas a uma disciplina jurídica sem qualquer especificidade;
b) Autarquias especiais (ou de regime especial): são regidas por disciplina específica, cuja característica seria a de
atribuir prerrogativas especiais e diferenciadas a certas autarquias. Seus elementos definidores corresponderiam às
seguintes prerrogativas: 1a ) poder normativo técnico, onde essas autarquias recebem das leis delegação para editar
normas técnicas - não as normas básicas de política legislativa -, mas complementares da lei; 2º) autonomia
decisória, onde os conflitos administrativos, inclusive os que envolvem as entidades sob seu controle, se dirimem na
própria autarquia; 3º) independência administrativa, onde alguns de seus dirigentes têm investidura a termo (são
nomeados para prazo determinado fixado na lei, não ficando os mesmos à mercê de algum critério político do
Ministério supervisor). Assim, têm os dirigentes alguma estabilidade em seus cargos, sobretudo porque são
nomeados pelo Presidente da República, mas sua investidura depende de aprovação do Senado Federal e 4º)
autonomia-econômico-financeira.
4.11. Patrimônio: quanto ao PATRIMÔNIO, observa-se que as autarquias não integram a organização política do Estado,
mas estão a ele vinculadas, ostentando personalidade jurídica de direito público. O art. 98 do Código Civil diz que “São
públicos os bens do domínio nacional pertencentes às pessoas jurídicas de direito público interno...”. Por via de
conseqüência, a natureza dos bens das autarquias é a de bens públicos. Assim, os bens das autarquias são impenhoráveis e
imprescritíveis. Não é livre para o administrador autárquico a sua alienação. É necessário que o mesmo obedeça às regras
legais reguladoras dessa especial atividade administrativa, qual seja, a alienabilidade dos bens públicos.
4.12. Pessoal: quanto ao PESSOAL, de acordo com o antigo art. 39 da CF, as pessoas federativas ficaram com a
obrigação de instituir, no âmbito de sua organização, regime jurídico único para os servidores da Administração Direta,
das autarquias e das fundações públicas. O objetivo foi o de manter planos de carreira idênticos para esses setores. O
regime jurídico único, todavia, foi extinto pela EC 19/98. Desvinculado da Administração Direta, o regime de pessoas das
autarquias poderá este ser o estatutário ou o trabalhista. Tudo dependerá do que a lei do ente federativo dispuser a
respeito.
4.13. Controle Judicial: as autarquias, conquanto dotadas de personalidade jurídica de direito público, praticam atos
administrativos típicos e atos de direito privado. Os atos de direito privado são controlados no Judiciário pelas vias
comuns adotadas na legislação processual. Ex.: se a autarquia adquire área de um particular, o contrato aí celebrado
(compra e venda) será o previsto no Código Civil.
4.14. Foro dos Litígios Judiciais: as autarquias federais (artigo 109, I, CF/88), nos litígios comuns, sendo autoras, rés,
assistentes ou oponentes, têm suas causas na Justiça Federal. A JF é competente, também, para processar e julgar
mandados de segurança contra agentes autárquicos (109, VIII, CF). Há a previsão de foro específico (Justiça Estadual)
para as causas de falência e Justiça do Trabalho nos casos de acidentes de trabalho (art. 114 da CF/88, por força da EC
45/2004). Dependendo da matéria, serão competentes para o julgamento da lide a Justiça Eleitoral e a Justiça do Trabalho.
Quanto às autarquias estaduais e municipais, os processos terão seu curso na Justiça Estadual. Vejamos a questão dos
litígios decorrentes da relação de trabalho: o regime dos servidores autárquicos pode ser o estatutário ou o trabalhista.
Sendo estatutário, o litígio classifica-se como de natureza comum, de modo que eventuais demandas devem ser dirimidas
nos juízos fazendários, os mesmos, aliás, onde tramitam os litígios de natureza estatutária dos servidores da
Administração Direta. Se, ao contrário, o litígio decorrer de contrato de trabalho firmado entre a autarquia e o servidor,
terá ele a natureza de litígio trabalhista, devendo ser solvido na Justiça do Trabalho, seja federal, estadual ou municipal a
autarquia.
4.15. Atos e Contratos: os atos das autarquias são, como regra, típicos atos administrativos. Devem conter todos os
requisitos de validade (competência, finalidade etc.) e são privilegiados pela imperatividade, presunção de legitimidade,
auto-executoriedade e exigibilidade. Sua extinção pode dar-se pela invalidação ou pela revogação. Fora daqueles contratos
típicos do direito privado (compra e venda, permuta, doação etc.), os ajustes firmados por autarquias se caracterizam
como contratos administrativos. Tais contratos regem-se pela Lei 8.666/93.
4.16. Responsabilidade Civil: Dispõe o art. 37, § 6º, da CF, que as pessoas jurídicas de direito público e as de direito
privado prestadoras de serviços públicos respondem pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros.
É a teoria da responsabilidade objetiva do Estado, ou seja, aquela que independe da investigação sobre a culpa na conduta
do agente.
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c) Imprescritibilidade de seus bens: não podem ser adquiridos por terceiros via usucapião. Não só os imóveis, mas
quaisquer bens públicos são imprescritíveis.
d) Prescrição qüinqüenal: dívidas e direitos em favor de terceiros contra autarquias prescrevem em cinco anos.
e) Créditos sujeitos à execução fiscal: os créditos autárquicos são inscritos como dívida ativa.
f) Situações processuais específicas: as autarquias se consideram como fazenda pública. Tem prazo em quádruplo para
contestar e em dobro para recorrer. Estão sujeitas ao duplo grau de jurisdição, só produzindo efeito após confirmação
pelo Tribunal das sentenças proferidas contra autarquias e as que julgarem procedentes embargos à execução de
Dívida Ativa. Inexistirá a prerrogativa quando o valor discutido não exceder a 60 salários mínimos, ou a decisão tiver
fundamento em jurisprudência do plenário do STF ou em súmula de qualquer tribunal superior competente, hipóteses
em que a pessoa pública interessada terá que interpor o respectivo recurso voluntário.
4.18. AGÊNCIAS AUTÁRQUICAS REGULADORAS E EXECUTIVAS: uma das medidas preconizadas pelo
Governo foi a da criação de um grupo especial de autarquias (denominadas de agências). Tais agências visam controlar as
pessoas privadas incumbidas da prestação de serviços públicos, em regra sob a forma de concessão ou permissão, e
também na de intervenção estatal no domínio econômico, quando necessário para evitar abusos neste campo, perpetrados
por pessoas da iniciativa privada. Em função dessa diversidade de objetivos, tais agências autárquicas classificam-se em
duas categorias:
4.18.1. Agências Reguladoras (Lei 9.635/98): Instituído o Plano Nacional de Desestatização, transferiu-se à iniciativa
privada atividades que o Estado exercia de forma dispendiosa e indevida. Uma das formas de transferir referidas
atividades consistiu no processo de privatização, pelo qual se antevia a alienação, às pessoas da iniciativa privada, de
direitos pertencentes ao Governo federal que lhe asseguravam a preponderância nas deliberações sociais e o poder de
eleger a maioria dos administradores da sociedade. O afastamento do Estado, dessas atividades, exigiu a instituição de
órgãos reguladores. Foram então criadas, sob a forma de autarquias (agências autárquicas ou governamentais), as
agências reguladoras (entidades com típica função de controle). Ex.: ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica,
vinculada (e não subordinada) ao Ministério de Minas e Energia, regulamentando e fiscalizando a geração, transmissão e
distribuição de energia elétrica), ANATEL (Agência Nacional de Telecomunicações); ANP (Agência Nacional de
Petróleo, regulamentando e fiscalizando serviços relacionados às atividades petrolíferas desenvolvidas pelo Poder Público
ou seus concessionários), ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária, com o objetivo de proteger a saúde da
população em geral), ANS (controladora das entidades que oferecem planos de saúde), ANA (Agência Nacional das
Águas, tendo como alvo a implementação da política nacional de recursos hídricos e o controle dos usos desses recursos
em águas do domínio da União e vinculada ao Ministério do Meio Ambiente, como entidade federal de implementação da
Política Nacional de Recursos Hídricos), ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), a ANTAq (Agência
Nacional de Transportes Aquaviários, regulando a reestruturação dos transportes aquaviário e terrestre) e a ANCINE
(Agência Nacional de Cinema, para dispor sobre políticas relativas à atividade cinematográfica). A essas autarquias
reguladoras foi atribuída a função principal de controlar a prestação dos serviços públicos e o exercício de atividades
econômicas. Atualmente os servidores das agências reguladoras devem sujeitar-se ao regime estatutário respectivo (na
esfera federal é a Lei 8.112/90). Assim, as agências reguladoras são pessoas jurídicas de direito público interno, criadas
por lei específica, sob a forma de autarquias especiais, integrantes da administração indireta, com o objetivo de
desempenhar atividades típicas de Estado.
Podemos elencar, abaixo, as características das Agências Reguladoras, quais sejam:
São pessoas jurídicas de direito público com capacidade administrativa.
É a outorga da Administração Pública Direta de regimes especiais de atuação a entidades autárquicas.
São instituições muito recentes em nosso ordenamento jurídico.
Possuem natureza jurídica de autarquias de regime especial.
São titulares de poder normativo e disciplinar, como ocorre com a aplicação de multas aos entes particulares.
Não executam o serviço propriamente; apenas fiscalizam.
Têm independência administrativa (estabilidade dos dirigentes: mandato fixo, só podendo ser destituídos por
condenação judicial transitada em julgado, improbidade administrativa ou descumprimento injustificado das políticas
estabelecidas para o setor ou pelo contrato de gestão. A nomeação é realizada pelo Presidente da República, após sabatina
do Senado).
Têm autonomia financeira (renda própria e liberdade de sua aplicação).
Necessidade de concurso público para contratação de pessoal.
Todas as agências reguladoras poderão: celebrar contratos (notadamente os que determinem a prestação dos
serviços do setor competente); determinar a abertura de licitações para formalização dos respectivos contratos; fiscalizar a
execução dos contratos; fixar multas e outras sanções aos concessionários pelo descumprimento de cláusulas contratuais e
resolver conflitos de interesses das concessionárias.
4.18.2 Agências Executivas (Lei 9.649/98, aplicável apenas na esfera federal): As agências executivas se distinguem das
reguladoras, pois não tem como função precípua a de exercer controle sobre particulares prestadores de serviços públicos.
Tais entidades destinam-se a exercer atividade estatal descentralizada. Não se quer dizer que não possam ter, entre suas
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funções, a de fiscalização de pessoas e atividades, mas sim que tal função não constituirá o ponto fundamental de seus
objetivos. Ex: INMETRO (Instituto Nacional de Metrologia, Normatização e Qualidade Industrial), Agência de
Inteligência (ABIN), ADENE (Agência de Desenvolvimento do Nordeste, que tem a função de implementar políticas e
viabilizar instrumentos de desenvolvimento do Nordeste), ADA (Agência de Desenvolvimento da Amazônia) etc. As
entidades devem candidatar-se à qualificação se elas (juntamente com o seu Ministério superior) assim o desejarem.
Podemos encontrar mais algumas características das Agências Executivas, quais sejam:
Se Estados e Municípios quiserem adotar medida semelhante, deverão legislar sobre o assunto.
O Poder Executivo poderá qualificar como agência executiva uma autarquia ou fundação pública (com
personalidade jurídica de direito público ou de direito privado).
As autarquias ou fundações públicas deverão, obrigatoriamente, para se candidatarem à qualificação especial de
agências executivas: 1) Ter um plano estratégico de reestruturação, desenvolvimento e aprimoramento institucional já
concluído ou em andamento, visando aprimorar a qualidade da gestão da instituição, voltada ao aumento da eficiência e à
redução de custos. Esta situação deverá ser provada quando da assinatura do contrato de gestão; 2) Ter celebrado contrato
de gestão com o respectivo Ministério supervisor (ou Secretaria de Estado/Município no nível estadual/municipal), com a
necessária anuência do ex-MARE (Ministério da Reforma do Estado), hoje MPOG (Ministério do Planejamento,
Orçamento e Gestão), estabelecendo objetivos estratégicos e metas a serem atingidas pela pessoa jurídica, bem como os
indicadores que permitirão averiguar o real cumprimento dos compromissos assumidos.
A qualificação como Agência Executiva será feita em ato do Presidente da República (ou do Chefe de Estado),
mediante decreto.
O Poder Executivo editará medidas de organização administrativa específicas para as Agências Executivas,
visando a sua autonomia de gestão, bem como as disponibilidades de recursos orçamentários e financeiros para o
cumprimento dos objetivos e metas definidos nos contratos de gestão, eis que a ampliação da autonomia dessas entidades
lhes garante um melhor gerenciamento dos recursos públicos.
Para compras por dispensa de licitação, o valor é 10% superior ao da Lei 8.666/93.
Para contratação de obras e serviços, o valor é 20% superior ao da Lei 8.666/93.
Não há a criação de nova pessoa jurídica no âmbito da Administração Pública. São apenas prerrogativas
atribuídas às autarquias e fundações. Também não há qualquer alteração nas relações de trabalho dos servidores das
entidades que venham a ser qualificadas como executivas.
Têm prerrogativas apenas temporariamente.
A diferença entre agência reguladora e executiva é que a primeira tem personalidade jurídica de direito público,
sendo autarquia em regime especial encarregada do exercício do poder normativo nas concessões e permissões de serviços
públicos, exercitando o poder inicialmente conferido ao Poder Público, enquanto a Agência Executiva configura um
“rótulo”, ou seja, um atributo dado à autarquia ou fundação, que celebrem contrato de gestão com Órgão da
Administração Direta a que se encontrem vinculadas, para a melhoria da eficiência na prestação de serviços e redução de
custo.
O contrato de gestão é uma espécie de contrato administrativo, pelo qual a Administração direta (contratante)
concede à autarquia ou fundação (Administração Indireta – contratada) maior autonomia gerencial, orçamentária e
financeira, visando o cumprimento de metas fixadas.
- São cláusulas obrigatórias nos contrato de gestão: 1) o prazo de duração do contrato (mínimo de um ano); 2) os
controles e critérios de avaliação de desempenho, direitos, obrigações e responsabilidades dos dirigentes; 3) a
remuneração do pessoal; 4) as metas de desempenho que devem ser atingidas; 5) penalidades a serem aplicadas aos
dirigentes das entidades e 6) termos de ampliação da autonomia gerencial, orçamentária e financeira.
5. EMPRESAS PÚBLICAS E SOCIEDADES DE ECONOMIA MISTA (por serem muito semelhantes, estudaremos
essas entidades dentro de um mesmo item).
Delas se vale o Estado para executar atividade de seu interesse com mais flexibilidade, sem as travas burocráticas das
pessoas de direito público.
5.1. Conceito de Empresas Públicas: são pessoas jurídicas de direito privado, integrantes da Administração Indireta do
Estado, criadas por autorização legal, sob qualquer forma jurídica (societária) adequada a sua natureza (admitida em
direito), para que o Governo exerça atividades gerais de caráter econômico ou, em certas situações, execute a prestação de
serviços públicos. Observemos que toda empresa pública financeira é exploradora de atividades econômicas
(exemplo:Caixa) e não será prestadora de serviços públicos.
5.2. Exemplos de Empresas Públicas: Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT); FINEP (Financiadora de
Estudos e Projetos); Casa da Moeda do Brasil (vinculada ao Ministério da Fazenda); CAIXA (Caixa Econômica Federal,
vinculada ao Ministério da Fazenda); BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social); SERPRO
(Serviço Federal de Processamento de Dados), EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária),
RADIOBRÁS, CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento, empresa pública federal prestadora de serviços públicos
pertinentes ao gerenciamento dos estoques oficiais de alimentos e à política de garantia de preços mínimos, entre outros)
etc.
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5.3. Conceito de Sociedades de Economia Mista: São pessoas jurídicas de direito privado, integrantes da Administração
Indireta do Estado, criadas por autorização legal (instituídas mediante lei autorizadora e registro em órgão próprio), sob a
forma de sociedades anônimas, cujo controle acionário pertença ao Poder Público, tendo por objetivo, como regra, a
exploração de atividades gerais de caráter econômico e, em algumas ocasiões, a prestação de serviços públicos. Assim, as
ações com direito a voto pertencerão, em sua maioria absoluta, à União (se federal) ou à entidade da Administração
indireta.
5.4. Exemplos de S.E.M.: Banco do Brasil S.A.; Banco da Amazônia S.A.; IRB (Instituto de Resseguros do Brasil);
PETROBRAS (Petróleo Brasileiro S.A.), Bancos Estaduais etc.
5.5. Personalidade Jurídica: As Empresas Públicas e as Sociedades de Economia Mista têm personalidade jurídica de
direito privado. Essas pessoas administrativas, tendo personalidade de direito privado, embora sob a direção institucional
do Estado, possibilitam maior versatilidade em sua atuação, quando voltadas para atividades econômicas. O Estado
assemelha-se a um empresário que precisa de celeridade e eficiência para atingir seus objetivos. O fato de terem
personalidade jurídica de direito privado não as coloca no nível de exata igualdade com as pessoas da iniciativa privada,
vez que naquelas é o Estado o grande comandante.
5.6. Criação e Extinção: No aspecto da criação da pessoa, o regime a adotar-se é o de direito privado, ou seja, deve o
Estado providenciar a prática do ato que contenha o estatuto, ou os próprios atos constitutivos da entidade, para que sejam
inscritos no registro próprio, fato que dá início à existência legal da pessoa jurídica, como, aliás, está claro no art. 45 do
Código Civil. Assim, para a criação da entidade, uma vez publicada a lei específica autorizativa da criação dela e,
entrando a mesma em vigor, estará o chefe do Poder Executivo autorizado a editar o ato constitutivo da entidade, via
decreto. Mas, referido decreto constitutivo deverá ser registrado no registro competente, para, a partir daí, tornar-se
constituída a entidade e adquirir sua personalidade jurídica.
A extinção das empresas públicas e das sociedades de economia mista reclama lei autorizadora; o Poder
Executivo, a que são normalmente vinculadas, não tem competência exclusiva para dar fim às entidades. Desta forma,
para a extinção das entidades com personalidade jurídica de direito privado, faz-se necessária a edição de uma lei
específica autorizativa que, entrando em vigor, autoriza o Chefe do Executivo a expedir o decreto de extinção,
promovendo-se a baixa dos seus atos constitutivos no registro competente.
5.7. Subsidiárias: o Estado cria e controla diretamente determinada sociedade de economia mista, denominada de
primária ou sociedade/empresa de primeiro grau. Esta, por sua vez, passa a gerir uma nova sociedade subsidiária
(sociedade ou empresa de segundo grau). Poderia até surgir uma empresa de terceiro grau e assim sucessivamente. Não
fica a sua criação ao livre arbítrio da Administração. Sua criação depende de autorização legislativa, com a participação
efetiva da respectiva Casa Legislativa. A autorização não precisa ser dada para a criação específica de cada entidade. É
legítimo que a lei disciplinadora da entidade primária autorize desde logo a posterior instituição de subsidiárias,
antecipando o objeto a que se destinarão. Ex.: A Lei 9478/97 autorizou a PETROBRAS a instituir subsidiária
(TRANSPETRO) para operar e construir seus dutos, terminais e embarcações para transporte de petróleo e seus derivados.
As subsidiárias também são controladas, embora de forma indireta, pela pessoa federativa que instituiu a entidade
primária. A subsidiária tem apenas o objetivo de se dedicar a um dos segmentos específicos da entidade primária, mas
como esta é quem controla a subsidiária, ao mesmo tempo em que é diretamente controlada pelo Estado, é este, afinal,
quem exerce o controle, direto ou indireto, sobre todas. Nada impede que a entidade primária institua a denominada
subsidiária integral, ou seja, aquela que tem um único acionista. Nesse caso, a única acionista será a sociedade de
primeiro grau instituidora. É viável que a subsidiária integral venha, posteriormente, a ter caráter societário mediante a
admissão de novos acionistas. O que é indispensável é que tais instrumentos tenham previsão legal. Por isto. a Lei
10738/2003 autorizou o Banco do Brasil S.A., sociedade de economia mista primária, a constituir duas subsidiárias
integrais: uma como banco múltiplo para financiamentos destinados a populações de baixa renda e outra como
administradora de consórcios para facilitar o acesso a bens duráveis aos mesmos destinatários. A lei permite a admissão
futura de acionistas.
5.8. Objeto: O objetivo das sociedades de economia mista e das empresas públicas é, basicamente, o desempenho de
atividades de caráter econômico. São elas verdadeiros instrumentos de atuação do Estado no papel de empresário. O
Estado, só excepcionalmente, pode dedicar-se à exploração direta de atividade econômica. Só admite-se essa atividade sob
o impacto de motivos de segurança nacional ou de relevante interesse coletivo. Mesmo a exploração indireta, por
sociedades de economia mista e empresas públicas, há de ter limites, para impedir que essas entidades se introduzam no
mercado com vistas ao regime de competição com as empresas da iniciativa privada. Aliás, é ao particular que cabe,
genericamente, a iniciativa para a exploração de atividades econômicas. Registre-se que não são todos os serviços
públicos que poderão ser exercidos por sociedades de economia mista e empresas públicas, mas somente aqueles que,
mesmo sendo prestados por empresa estatal, poderiam sê-lo pela iniciativa privada. Desse modo, excluem-se aqueles
serviços ditos próprios do Estado, ou seja, aqueles que só o Estado pode executar, como a segurança pública, a prestação
de justiça, a defesa da soberania nacional. O fato é que, no grande universo das sociedades de economia mista e empresas
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públicas, dificilmente se encontrará alguma delas que execute serviço público que não seja superavitário, demonstrando,
por conseguinte, que seu alvo básico é realmente a atividade econômica.
5.9. Regime Jurídico: As sociedades de economia mista e as empresas públicas são, de um lado, pessoas jurídicas de
direito privado e, de outro, pessoas sob o controle do Estado. Nem estão elas sujeitas inteiramente ao regime de direito
privado nem inteiramente ao de direito público. Assim, seu regime tem certa natureza híbrida, já que sofrem o influxo de
normas de direito privado em alguns setores de sua atuação e de normas de direito público em outros. Quando se trata do
exercício em si da atividade econômica, predominam as normas de direito privado. É comum, portanto, a incidência de
normas de Direito Civil ou de Direito Empresarial, reguladoras que são das relações econômicas de direito privado. Aliás,
essa é que deve ser a regra geral, o que se confirma pelo art. 173, §1º, II da CF, que estabelece sua sujeição ao regime
jurídico próprio das empresas privadas quanto a direitos e obrigações civis, comerciais, trabalhistas e tributárias. Não
devem ter privilégios que as beneficiem, sem serem estendidos às empresas privadas, pois isso provocaria desequilíbrio no
setor econômico em que ambas as categorias atuam. Inexistem, pois, privilégios materiais e processuais, como os
atribuídos às autarquias. Por essa razão, o STJ sumulou que prescreve em 20 anos a ação de indenização contra sociedades
de economia mista em caso de responsabilidade civil (a orientação se estende às empresas públicas e às pessoas
governamentais de direito privado). Ao contrário, incidem as normas de direito público naqueles aspectos ligados ao
controle administrativo resultante de sua vinculação à pessoa federativa (citamos como exemplos a autorização legal para
sua instituição; o controle pelo Tribunal de Contas; o controle e a fiscalização do Congresso Nacional; a exigência de
concurso público para ingresso de seus empregados; a previsão de rubrica orçamentária etc).
5.10. Regime Tributário: As empresas públicas e as sociedades de economia mista devem sujeitar-se ao regime jurídico
das empresas privadas, inclusive quanto às obrigações tributárias e não poderão gozar de privilégios fiscais não extensivos
às do setor privado. Na medida em que o Estado as institui, cobrindo-lhes com as vestes do direito privado, deve arcar
com os efeitos tributários normais incidentes sobre as demais empresas privadas. A imunidade e os privilégios fiscais só
se justificam para as pessoas de direito público, estas sim representando o próprio Estado. Tem-se como exceção a
hipótese em que a empresa pública ou sociedade de economia mista executam serviço público monopolizado. A concessão
de privilégio seria aceitável em virtude da inexistência de ameaça ao mercado. Mas, nessa hipótese excepcional, deve o
Poder Público agir com prudência nos privilégios que outorgar, sob pena de desfigurá-la como pessoa de direito privado.
5.11.2. Nas empresas públicas só é admissível que participem do capital pessoas administrativas, independente de seu
nível federativo ou sua natureza jurídica (pública ou privada). Assim, as empresas públicas terão que ser compostas por
pessoas integrantes da Administração Pública. Em conseqüência, estão impedidas de participar do capital as pessoas da
iniciativa privada, sejam elas físicas ou jurídicas. Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo asseveram com maestria que
“não há possibilidade de participação de recursos de particulares na formação do capital das empresas públicas. A lei
permite, porém, desde que a maioria do capital votante de uma empresa pública federal permaneça de propriedade da
União, a participação no capital de outras pessoas jurídicas de direito público interno, bem como de entidades da
Administração Indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios (Decreto-Lei n.200/67, art.5°, II). O
mesmo raciocínio é aplicável às empresas públicas das outras esferas da Federação”. Observe que o controle (a maioria
do capital votante) deverá pertencer à entidade política instituidora da empresa pública (não confundir “maioria do
capital” com “maioria do capital votante”) e que outras entidades políticas e administrativas de qualquer esfera de governo
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poderão participar do restante do capital. Portanto, é plenamente possível haver uma empresa pública federal com 51% do
capital votante em poder da União, 10% em poder de uma Autarquia estadual, 20% em poder do Estado de Goiás, 10%
em poder de uma empresa pública municipal e 9% a uma Sociedade de Economia Mista distrital.
5.12.2. As empresas públicas podem revestir-se de qualquer das formas admitidas em direito (em lei), como a LTDA, SA,
Comandita por ações, etc. Podem ser:
a) Unipessoais, quando o capital pertence exclusivamente à pessoa instituidora. Ex.: a lei que autorizou a criação da
Empresa de Pesquisa Energética – EPE (empresa pública) dispôs que a União é o único titular do capital, possuindo,
portanto, a integralidade do mesmo (100%) e
b) Pluripessoais, quando, além do capital dominante da pessoa criadora se associam recursos de outras pessoas
administrativas.
Atenção! É possível, apenas na esfera federal, a denominada “forma jurídica inédita”, uma vez que compete somente à
União legislar sobre direito comercial (vide artigo 22, I, da CF/88).
5.13.2. As sociedades de economia mista têm suas ações processadas na Justiça Estadual, já que a CF silenciou sobre elas
(vide artigo 109, I). O STF (Súmula 517) só admite o deslocamento para a JF quando a União intervém como assistente
ou oponente. A Súmula 556 do STF assentou que “é competente a Justiça comum para julgar as causas em que é parte
sociedade de economia mista”. No mesmo sentido seguiu a súmula 42 do STJ.
5.14. Patrimônio: Os bens que integram inicialmente o patrimônio das empresas públicas e das sociedades de economia
mista provêm geralmente da pessoa federativa instituidora. Esses bens, enquanto pertenciam a esta última, eram bens
públicos. Quando transferidos às entidades, passam a ser bens privados, sujeitos à sua própria administração (Hely Lopes
Meirelles denomina-os de bens públicos com destinação especial). Sendo privados, não são impenhoráveis, não tem a sua
alienabilidade condicionada etc.
ATENÇÃO! O STF entendia não-recepcionado pela atual CF o art. 12 do DL 509/59, que considerava
impenhoráveis os bens da ECT (Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos), porque empresas públicas que exploram
atividades econômicas devem sujeitar-se ao regime das empresas privadas. Porém, em sessão plenária, a Corte julgou
aplicável o dispositivo tratado em referido decreto.
A administração dos bens, incluindo conservação, proteção e os casos de alienação e oneração é disciplinada
pelos estatutos da entidade. Nada impede, porém, que em determinados casos a lei (até mesmo a lei autorizadora) trace
regras específicas para os bens, limitando o poder de ação dos administradores da empresa. No silêncio da lei, vale o que
estipularem o estatuto da empresa e as resoluções de sua diretoria.
No caso de extinção da entidade, liquidadas as obrigações por ela assumidas em face de terceiros, o patrimônio
será incorporado à pessoa criadora, qualificando-se então como públicos esses bens após a incorporação.
Uma empresa pública exploradora de atividade econômica sujeita-se em grande parte ao regime jurídico próprio
das empresas privadas. Contudo, tem seu patrimônio protegido pelas regras da Lei de Improbidade Administrativa.
5.15. Pessoal: O pessoal das empresas públicas e das sociedades de economia mista se submete ao regime trabalhista
comum. O vínculo jurídico entre os empregados e as pessoas administrativas tem natureza contratual. Esse regime já vem
previsto na CF, quando definiu que se aplicaria àquelas entidades o mesmo regime jurídico aplicável às empresas
privadas, inclusive quanto às obrigações trabalhistas (173, § 1º). Sendo contratual o regime, os litígios decorrentes das
relações de trabalho serão processados na Justiça do Trabalho (114 da CF). O ingresso desses empregados deve ser
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precedido de concurso público (37,II da CF). Para esses empregados não incidem as regras protetivas especiais dos
servidores públicos, v.g. a estabilidade estatutária. Mesmo tendo sido aprovados por concurso, incidem as regras da CLT
que disciplinam a formação e a rescisão do contrato de trabalho. Outras regras se aplicam aos empregados das empresas
públicas e das sociedades de economia mista:
a) não podem acumular seus empregos com cargos ou funções públicas (37, XVII, CF);
b) são equiparados a funcionários públicos para fins penais (327, §1º, CP); e
c) são considerados agentes públicos nas hipóteses de improbidade administrativa (Lei 8.429/92).
5.16. Atos e Contratos: Como regra, os atos praticados por essas entidades são atos jurídicos de direito privado, sendo
submetidos às regras do Direito Civil e Empresarial. Algumas dessas pessoas, porém, exercem atividades delegadas da
respectiva Administração Direta. Assim, os atos jurídicos praticados no exercício da função delegada hão de considerar-se
atos administrativos, suscetíveis de controle através de mandado de segurança e ação popular. Os contratos celebrados por
essas entidades deveriam ser de direito privado, mas a Lei 8.666/93 determinou que as empresas públicas e sociedades de
economia mista, dentre outras pessoas administrativas, ficariam sujeitas ao regime nela instituído, tendo como contratos
administrativos os ajustes firmados pelas entidades. A licitação é obrigatória para as empresas públicas e sociedades de
economia mista.
5.17. Falência e execução (pensamento doutrinário anterior à nova Lei de Falências – Lei 11.101/2005):
5.17.1. A sujeição ao regime falimentar só pode atingir as sociedades de economia mista que exercem atividade
econômica stricto sensu, ou seja, de natureza empresarial, porque estas é que são equiparadas às empresas privadas no que
concerne aos direitos e obrigações civis, comerciais, trabalhistas e tributários. Tratando-se de sociedade de economia
mista que se dedique à prestação de serviços públicos (segundo a doutrina prevalente), a insolvência deve regular-se pelo
direito público. Quanto à execução e penhora dos bens, continuam sendo aplicáveis a todas as sociedades de economia
mista, independentemente da atividade que desempenhem (pois são tidos como bens privados). Sendo pessoas de direito
privado, não são alcançadas pelas prerrogativas de direito público.
5.17.2. Em relação às empresas públicas, o tratamento deve ser o mesmo adotado para as sociedades de economia mista.
Exercendo atividade econômica empresarial, a empresa pública pode ter a falência decretada; se prestar serviço público,
sujeitar-se-á apenas ao processo de execução e penhora de seus bens, tal como disciplinado na Lei Processual Civil. E a
pessoa controladora dessas entidades é subsidiariamente responsável pelas obrigações por elas assumidas.
Observe-se, contudo, que a atual Lei de Falências (Lei 11.101/2005), expressamente determinou em seu art. 2º
que as empresas públicas e sociedades de economia mista não estão sujeitas às suas regras. Desta forma, podemos
concluir que referidas entidades administrativas não podem ter decretada sua falência (sejam elas prestadoras de serviço
público ou exploradoras de atividade econômica). Mas, atenção! A Lei de Falências deixou de mencionar as suas
subsidiárias. Assim, podemos chegar à conclusão de que as mesmas estarão, sim, sujeitas à falência, mas, se prestadoras
de serviço público, não terão seus bens penhorados.
5.18. Responsabilidade Civil: No ordenamento vigente, existem dois planos de responsabilidade civil: a responsabilidade
civil de direito privado, cujas regras se encontram no Código Civil, fundada na teoria da responsabilidade subjetiva, e a
responsabilidade de direito público, prevista no 37, §6º da CF e 43 do CC, que consagra a teoria da responsabilidade
objetiva. Em relação a esta última, dispõe o referido artigo que a ela se submetem as pessoas jurídicas de direito público e
as de direito privado prestadoras de serviços públicos. Se o objeto da atividade for a exploração de atividade econômica
em sentido estrito (tipicamente mercantil e empresarial), a norma constitucional não incidirá (em conseqüência, a
responsabilidade será a subjetiva, regulada pela lei civil). Se, ao contrário, executarem serviços públicos típicos, tais
entidades passam a ficar sob a égide da responsabilidade objetiva prevista na CF. Essa é que nos parece a melhor
interpretação para o art. 37, §6º da CF. Seja qual for a natureza da sociedade de economia mista ou da empresa pública, o
Estado, vale dizer, a pessoa federativa a que estão vinculadas as entidades é sempre responsável subsidiário. Somente se o
patrimônio dessas entidades for insuficiente para solver os débitos, os credores terão o direito de postular os créditos
remanescente através de ação movida contra a pessoa política controladora (há divergências entre os juristas). Diógenes
Gasparini não admite, sequer, a responsabilidade subsidiária.
6. FUNDAÇÕES PÚBLICAS
6.1. Conceito: Entidades dotadas de personalidade jurídica de direito público ou de direito privado, sem fins lucrativos,
criadas em virtude de lei ordinária autorizativa e registro em órgão competente ou por lei ordinária específica, para
desenvolvimento de atividades que não exijam execução por órgãos ou entidades de direito público, com autonomia
administrativa, patrimônio próprio gerido pelos respectivos órgãos de direção e funcionamento custeado por recursos da
União e de outras fontes. Caberá à lei complementar dizer a sua área de atuação (37, XIX, CF).
6.2. Divisão: Podemos considerar, já de início, uma primeira divisão para as fundações:
a) Fundações privadas, instituídas por pessoas da iniciativa privada (particulares); e
b) Fundações públicas, instituídas pelo Estado (essas é que são estudas no Direito Administrativo e no presente capítulo).
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Direito Administrativo
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6.3. Outras denominações dadas às fundações públicas: Fundações instituídas pelo Poder Público (vide artigo 71, II,
CF/88), fundações instituídas e mantidas pelo Poder público, fundações controladas pelo Poder Público (vide artigo 163,
II, CF/88), fundações sob controle estatal (vide artigo 8º, parágrafo 5º, da ADCT - Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias), fundações governamentais (conforme a doutrina) etc.
6.4.2. Corrente Minoritária: defende que, mesmo instituídas pelo Poder Público, as fundações têm sempre personalidade
jurídica de direito privado (Manoel Oliveira Franco Sobrinho, Caio Tácito, Seabra Fagundes, Eros Roberto Grau, Jose dos
Santos Carvalho Filho etc.) e que a Lei 7.596/87 (que acrescentou o art. 5º do Decreto-Lei 200/67 incluindo as fundações
públicas no rol das já pertencentes à Administração Indireta) corrobora neste sentido ao dispor que referidas entidades
“adquirem personalidade jurídica com a inscrição da escritura pública de sua constituição no Registro Civil de Pessoas
Jurídicas...”.
6.5. Característica Fundamental: As fundações públicas não comportam o intuito de obtenção de lucros (rendimentos
que decorrem das atividades de caráter econômico). O lucro somente é compatível com as sociedades civis e comerciais
que visem distribuir rendimentos aos sócios. As fundações terão fins não-lucrativos e, se em sua atividade, houver valores
que ultrapassem os custo de execução, serão tidos como superávit, necessário ao pagamento de novos custos operacionais,
visando melhorar o atendimento aos fins sociais.
6.6. Objeto: Os fins são sempre de caráter social e suas atividades se caracterizam como serviços públicos. Não poderá o
Estado instituir fundações para intervir no domínio econômico e atuar no mesmo plano que os particulares. Para isso,
criará as empresas públicas e as sociedades de economia mista. Suas atividades comuns são: assistência social, médica e
hospitalar, educação e ensino, pesquisa e atividades culturais.
6.7. São Fundações: Fundação Escola de Administração Pública; Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico; Fundação Casa de Rui Barbosa; Fundação Nacional do Índio (FUNAI); Fundação Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE); Fundação Nacional de Saúde (FNS); IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada);
FIOCRUZ, Fundação Biblioteca Nacional (em 1990 foi transformada em fundação de direito público, vinculada ao
Ministério da Cultura) etc.
Obs: JSCF entende que as fundações sob regime de direito privado deverão sujeitar-se, quanto ao objeto, ao que dispõe o
CC e as de direito público ao que dispuser a lei (mesmo que o objeto seja diverso do tratado no diploma civilístico).
6.8.2. Se a fundação for de natureza autárquica (direito público) a regra é a mesma para as autarquias. A própria lei dá
nascimento à entidade (o art. 37, XIX da CF refere-se, então, às fundações de direito privado). A própria lei extinguirá a
fundação (como ocorre com as autarquias).
6.9. Prerrogativas:
6.9.1. As fundações públicas de direito público têm as mesmas prerrogativas que as autarquias.
6.9.2. As fundações públicas com personalidade de direito privado deveriam reger-se, basicamente, pelo Código Civil.
Mas o art. 5º do Decreto-Lei 200/67, embora preveja o registro da escritura pública de constituição da entidade, consignou
que não lhes são aplicáveis as demais disposições do CC concernentes às fundações. Assim, o regime jurídico aplicável
sobre as fundações de direito privado têm caráter híbrido (constituição e registro são regidos pelo Código Civil, e as
demais condições, pela lei respectiva). Não têm privilégios quanto a prazos para contestar e recorrer. Estão sujeitas ao
duplo grau de recurso, só produzindo efeito após confirmada, pelo tribunal competente, a sentença proferida contra as
pessoas federativas e as respectivas autarquias e fundações de direito público.
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Direito Administrativo
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6.10. Privilégios Tributários: Ambas as fundações fazem jus á imunidade relativa aos impostos sobre a renda, o
patrimônio e os serviços federais, estaduais e municipais, pois o art. 150, VI, ”a” é extensivo às fundações instituídas e
mantidas pelo Poder Público.
6.11. Patrimônio
6.11.1. As fundações públicas de direito público têm seu patrimônio como bens públicos.
6.11.2. As fundações públicas de direito privado terão seu patrimônio constituído de bens privados, incumbindo sua
gestão aos órgãos dirigentes da entidade na forma definida no respectivo estatuto. Somente se houver na lei autorizadora
restrições e impedimentos quanto à gestão dos bens fundacionais é que os órgãos dirigentes deverão obedecer. Fora isto, o
poder de gestão é da própria fundação.
6.12. Pessoal
6.12.1. Quanto às fundações públicas de direito público, o regime de pessoal há de ser o que a pessoa federativa tiver
estabelecido através da respectiva legislação, visto acabar a obrigatoriedade do regime jurídico único.
6.12.2. No caso das fundações públicas de direito privado, JSCF entende que o pessoal deverá sujeitar-se ao regime
trabalhista comum (CLT). Sendo de natureza privada, não teria sentido que seus servidores fossem estatutários (com
sistema de cargos e carreiras). Porém, aplicam-se aos empregados dessas fundações as restrições de nível constitucional,
v.g., a vedação à acumulação de cargos e empregos (37, XVII), prévia aprovação em concurso (37, II) etc.
6.13. Controle Institucional: Todas as fundações públicas sujeitam-se a controle pela respectiva Administração Direta,
que se dará sob três prismas:
a) Político, decorrente da relação de confiança entre os órgãos de controle e os dirigentes da fundação controlada (estes
são indicados e nomeados por aqueles);
b) Administrativo, pelo qual a Administração Direta fiscaliza se a fundação está desenvolvendo atividade consoante
com os fins para os quais foi constituída;
c) Financeiro, exercido pelo Tribunal de Contas, tendo a entidade o encargo de oferecer sua prestação de contas para
apreciação por aquele Colegiado.
6.15. Controle Judicial: Sendo fundações governamentais de direito privado, a regra será que pratique atos de natureza
privada, controláveis pelas vias processuais comuns. Mas, se praticar ato no exercício de função delegada, esse ato será
administrativo e sujeito a controle por vias específicas, v.g., mandado de segurança e ação popular.
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6.18. Responsabilidade Civil: A responsabilidade civil objetiva se aplica às duas modalidades de fundação pública. O art.
37, §6º da CF diz que são civilmente responsáveis por atos de seus agentes tanto as pessoas jurídicas de direito público
como as de direito privado prestadoras de serviços públicos. E as fundações são criadas pelo Estado para a execução de
atividades de caráter social e que, obviamente, retratam verdadeiros serviços públicos. A responsabilidade das fundações é
primária e a da pessoa estatal instituidora, subsidiária.
6.19. Diferença Marcante entre Fundações e Autarquias: está na finalidade das mesmas. Enquanto as primeiras
realizam atividades atípicas de Estado, v.g., assistência social, educativa e recreativa (todas de caráter social), além de
pesquisa e estudos técnicos (como as realizadas pelo IPEA e IBGE), os últimos desenvolvem atividades típicas do Estado,
quais sejam, atividades administrativas.
6.20. Capital: embora alguns autores aceitem a participação de capital privado sobre a composição do patrimônio das
fundações públicas, a doutrina majoritária entende que ele é formado com capital exclusivamente público. Contudo,
devemos observar o comentário do professor Gustavo Barchet de que o Cespe aceita a teoria minoritária. Agora, uma vez
instituída a fundação com capital exclusivamente público, segundo a doutrina majoritária, nada obsta que referida
entidade aceite a inserção de capital privado para o custeio de suas atividades institucionais.
8.1. Noções Gerais: a Administração Pública se subdivide em Administração Direta e Indireta. Não obstante, há outras
pessoas que, embora não integrando o sistema da Administração Indireta, cooperam com o governo, prestando serviço de
utilidade pública e se sujeitando ao controle direto ou indireto do Poder Público. Em seu perfil existem aspectos inerentes
ao direito privado e outros que as deixam vinculadas ao Estado. Estamos nos referindo às denominadas entidades
paraestatais. Tais entidades (paraestatais) possuem as seguintes características gerais: a) são pessoas jurídicas; b)
instituídas por particulares; c) têm personalidade jurídica de direito privado; d) não possuem fins lucrativos, embora seus
dirigentes possam ser remunerados; e) não são delegatárias de serviço público, uma vez que não atuam em áreas cuja
titularidade tenha sido conferida pela CF a determinada entidade política; f) desempenham atividades de interesse público
(interesse coletivo); a responsabilidade das paraestatais pelos danos causados ao particular é subjetiva; g) seus dirigentes e
empregados estão sujeitos às penalidades da lei de improbidade administrativa (equiparando-se a agentes públicos)
quando a entidade recebe incentivos do Poder Público e h) geralmente são incentivadas pelo Estado a atuar no contexto da
atividade de fomento. Dentre as atividades de fomento oferecidas pelo Poder Público às entidades paraestatais, citamos:
permissão de uso gratuito de bens públicos independente de licitação, dotação de recursos orçamentários, incentivos
fiscais (como as isenções) e incentivos creditícios (financiamentos com cobrança de juros facilitados).
Citamos como exemplos de paraestatais: OSCIP, Serviços Sociais Autônomos e Organizações Sociais. Mas
podemos destacar, ainda, os partidos políticos, entidades religiosas, ONGs etc.
É relevante destacar que na década de 90, foi elaborado o plano diretor de reforma do Estado na esfera federal,
apresentando como principais diretrizes:
a) a parcial substituição dos controles de procedimento pelos controles de resultado, surgindo, para tanto, figuras
jurídicas como o “contrato de gestão”, “agências executivas” etc.
b) o afastamento do Estado da prestação direta de diversas atividades atípicas de Estado, mas consideradas como
de “interesse coletivo”, com a transferência do exercício de tais serviços à iniciativa privada que atue sem fins lucrativos,
como as Organizações Sociais e as OSCIPs. Por óbvio, se o Estado se afasta da prestação direta da atividade, delegando-a
a iniciativa privada (e fortalecendo-a através de ações de fomento), assume, em contrapartida, o dever de regular e
fiscalizar tal prestação pelos particulares. Surge, então, no cenário administrativo, a figura das “agências reguladoras”.
8.2.São elas:
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Direito Administrativo
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8.2.1. Pessoas de Cooperação Governamental: São entidades que colaboram com o Poder Público a que são vinculadas,
através da execução de alguma atividade caracterizada como serviço de utilidade pública. Alguns as denominam de
serviços sociais autônomos. São pessoas jurídicas de direito privado e não integram a Administração Indireta, sendo
impróprio considerá-las pessoas administrativas. Não há regra que predetermine a forma jurídica dessas pessoas,
podendo ser de categorias jurídicas conhecidas (fundações ou associações) ou ter um delineamento jurídico especial,
insuscetível de perfeito enquadramento naquelas categorias, como, aliás, vem ocorrendo com várias delas. Sua criação
depende de lei autorizadora, embora não tenham sido elas mencionadas no art. 37, XIX da CF/88. Por receberem recursos
oriundos de contribuições pagas compulsoriamente, há necessidade de previsão legal. A sua personalidade jurídica tem
início com a inscrição de seu estatuto no Registro Civil de Pessoas Jurídicas (art. 45 do CC). Os estatutos são delineados
através de regimentos internos, normalmente aprovados por decreto do Chefe do Executivo. Neles, desenha-se a
organização administrativa da entidade, com a referência aos objetivos, órgãos diretivos, competências e normas relativas
aos recursos e à prestação de contas. Essas Pessoas de Cooperação Governamental (Serviços Sociais Autônomos) têm
como objeto uma atividade social que representa a prestação de um serviço de utilidade pública, beneficiando certos
grupamentos sociais ou profissionais, não se revestindo de qualquer conotação econômica (semelhante às fundações).
Não possuem lucro, mas superávit. Podemos distinguir quatro Pessoas tradicionais dessa categoria e os respectivos anos
de seus surgimentos:
a) SESI/43 (Serviço Social da Indústria), destinado à assistência social a empregados do setor industrial;
b) SESC/43 (Serviço Social do Comércio), destinado à assistência social a empregados do setor comercial;
c) SENAI/42 (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), destinado à formação profissional e educação para o
trabalho com vistas à indústria;
d) SENAC/46 (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial), destinado à formação profissional e educação para o
trabalho com vista ao comércio.
Os recursos das Pessoas de Cooperação originam-se de contribuições parafiscais. A CF/88 refere-se a elas no art. 240
(nesse caso pagas pelos empregadores sobre a folha de salários). Esses recurso não provém do erário público, sendo
normalmente arrecadados pelo INSS e repassados diretamente às entidades. Nem por isso deixam de caracterizar-se como
dinheiro público. Essas Pessoas submetem-se ao controle pelo Poder Público, estando vinculadas ao Ministério afim (ex.
SESI, SESC, SENAC e SENAI estão vinculados ao Ministério do Trabalho). Dispõe o Decreto-Lei 200/67 que “as
entidades e organizações em geral, dotadas de personalidade jurídica de direito privado, que recebem contribuições
parafiscais e prestam serviços de interesse público ou social, estão sujeitas à fiscalização do Estado nos termos e
condições estabelecidos na legislação pertinente a cada uma”. As mesmas deverão prestar contas junto ao Tribunal de
Contas respectivo. Essas Pessoas praticam, basicamente, atos de direito privado. Mas, se o ato for decorrente do exercício
de função delegada, será equiparado ao ato administrativo, sujeito a controle por vias especiais (mandando de segurança,
por exemplo). O TCU, em decisão recente, concluiu pela não obrigatoriedade dessas Pessoas de realizar as licitações
dispostas na Lei 8.666/93. O citado estatuto permitiu, porém, a edição de regulamentos próprios, aprovados pela
autoridade competente superior, desde que observados os princípios estabelecidos para o procedimento licitatório. O foro
competente para dirimir litígios será o da Justiça Estadual, pois são Pessoas de direito privado (inclusive para os
mandados de segurança contra ato de agente no exercício de função delegada). Com relação aos privilégios tributários, a
CF estendeu sua benesse, dispondo acerca da imunidade sobre o patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, das
entidades sindicais dos trabalhadores e das instituições de educação e de assistência social sem fins lucrativos. Como as
pessoas de cooperação governamental se dedicam à assistência social e à educação para o trabalho, estão enquadradas
nessa hipótese constitucional de imunidade.
8.2.2. Organizações Colaboradoras (ou Parceiras): Existem outras pessoas privadas, instituídas pelas fórmulas de
direito privado, às quais pode ser atribuído o encargo da prestação de serviços públicos no regime de parceria com a
Administração Pública. Estão vinculadas com o Estado, mas os instrumentos de formalização da parceria têm a natureza
de verdadeiros convênios, o que as coloca como categoria diversa das pessoas de cooperação governamental (estas terão a
sua função definida na lei instituidora, prescindindo de qualquer outro instrumento que formalize o regime de
cooperação). Os regimes de parceria, desenvolvidos mais recentemente, permitem que certas pessoas privadas
colaboradoras adquiram títulos jurídicos especiais, através dos quais recebem a qualificação de organizações sociais (Lei
9.637/98) e organizações da sociedade civil de interesse público (Lei 9.790/99).
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Direito Administrativo
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8.2.2.1. Organizações Sociais: são paraestatais com personalidade jurídica de direito privado. Não têm fins lucrativos e
suas atividades estatutárias são voltadas ao ensino, pesquisa científica, desenvolvimento tecnológico, proteção e
preservação do meio ambiente, cultura e saúde. Ao receber o título de “Organização Social”, a entidade passa a receber
benefícios do Poder Público, v.g., dotações orçamentárias, isenções fiscais, administrar bens e equipamentos do Estado
etc, visando desenvolver atividades de interesse coletivo. Referidas dotações integrarão o Orçamento da União. A
Administração Pública, dessa forma, transfere às Organizações Sociais o exercício de certas atividade que serão melhor
desempenhadas pelo setor privado. Trata-se de uma forma de parceria, com a valorização do “terceiro setor”, ou seja,
serviço de interesse público que não necessite ser prestado pelos órgãos e entidades do Estado. O Contrato de gestão é o
instrumento que permite a parceria entre o Poder Público e a entidade, qualificando-a como Organização Social. Há um
Programa Nacional de Publicização (PNP), cujo objetivo é o de permitir publicização de atividade na área de prestação de
serviços não-exclusivos, onde o Estado já vem atuando simultaneamente com outras organizações privadas, como saúde,
proteção ambiental, cultura e educação. As Organizações Sociais são um modelo de parceria existente entre o poder
Público e a sociedade. O Estado permanecerá fomentando e controlando as atividades publicizadas, cobrando os
resultados pactuados no Contrato de gestão. Os dirigentes das Organizações Sociais assumem grandes responsabilidades
na gestão da instituição, buscando maior eficiência na qualidade dos serviços, a custos reduzidos. As Organizações
Sociais constituem uma nova instituição, mas não uma nova figura jurídica, vez que não pertencem à Administração
Direta ou Indireta. Inserem-se na organização pública não-estatal sob a forma de associações civis sem fins lucrativos. Seu
título de Organização Social dá-se mediante decreto. O Congresso Nacional participará ativamente do processo de
implantação e avaliará o funcionamento das Organizações Sociais, eis que a qualificação dessas entidades, em regra,
deverá ocorrer concomitantemente à extinção de sua congênere pertencente à Administração Pública. É o Congresso quem
extingue a entidade da Administração Pública e transfere a denominação e os símbolos dela à Organização Social
qualificada a absorver suas atividades. As dotações orçamentárias destinadas à execução dos Contratos de Gestão deverão
estar previstas na lei Orçamentária que deverá ser aprovada ou não pelo Congresso nacional. Sendo atividades de direito
privado, poderão contratar pessoal nas condições de mercado, adotar normas próprias para compras, vendas e contratos e
dispor de ampla flexibilidade na execução de seu orçamento. Sendo celetistas os seus funcionários, estarão sujeitos ao
plano de cargos e salários do regulamento interno da entidade. A aquisição de bens é mais rápida, vez que não se
submetem à lei 8.666/93. Veja-se que não há um simples convênio de transferência de recursos, mas um compromisso de
implementação das políticas sociais do Estado através das Organizações Sociais. As O.S não são um negócio privado, mas
instituições públicas (entidades públicas não-estatais) que atuam fora da Administração Pública. O controle do Estado se
dará por meio do chamado “controle por resultados” (resultados estes estabelecidos no Contrato de Gestão). A direção
superior será exercida por um “Conselho de Administração”, com participação de representantes da sociedade e do
Estado. Seus mandatos submeter-se-ão a regras que limitam a recondução e obrigam a renovação periódica dos conselhos.
São O.S: Fundação Roquete Pinto, Associação das Pioneiras Sociais e Laboratório de Luz Síncroton.
9. DESCENTRALIZAÇÃO x DESCONCENTRAÇÃO
Quando as atividades administrativas são prestadas diretamente pela U/E/DF ou M, dizemos que a prestação dos
serviços dá-se de maneira CENTRALIZADA.
Quando as atividades administrativas NÃO são prestadas diretamente pela U/E/DF ou M, mas por sua Administração
Indireta (Autarquias, Empresas Públicas, Sociedades de Economia Mista e Fundações Públicas) ou por seus delegatários
(concessionários ou permissionários), dizemos que a prestação dos serviços dá-se de maneira DESCENTRALIZADA.
A U/E/DF e M poderão prestar DIRETAMENTE suas atividades de maneira CENTRALIZADA e, ao mesmo tempo,
DESCONCENTRADA (cuidado, aluno, pois eu disse “desconcentrada” e não “descentralizada”). Isto acontece (a
desconcentração) quando referidos entes políticos distribuem suas atividades para que sejam executadas através de seus
próprios órgãos. Veja que o serviço, que é centralizado, continua centralizado, porém, desconcentrado. Há uma
distribuição eminentemente interna de competências, haja vista que os ÓRGÃOS pertencerão a uma mesma entidade.
Dizemos, então, que a desconcentração constitui-se em mera técnica administrativa que visa proporcionar maior eficiência
na prestação do serviço. É o que ocorre, por exemplo, com a substituição de um único órgão por dois, com a finalidade de
aprimorar e acelerar a prestação do serviço. Citamos como exemplos o desdobramento do Ministério do Trabalho e da
Previdência Social (órgão único) em dois outros órgãos, sendo um deles o Ministério do Trabalho e o outro o Ministério
da Previdência Social e o desmembramento do Ministério da Educação e Cultura (órgão único) em Ministério da
Educação e Ministério da Cultura.
As autarquias, empresas públicas, sociedades de economia mista e fundações públicas prestarão suas atividades de
maneira DESCENTRALIZADA (pois houve a transferência dos serviços da Administração Direta para as entidades da
Administração Indireta) e, poderão prestá-las, ao mesmo tempo, de maneira DESCONCENTRADA. Isto acontece quando
referidas entidades da Administração Indireta distribuem suas atividades para que sejam executadas através de seus
próprios órgãos. Há uma distribuição interna de competências, haja vista que os ÓRGÃOS pertencerão a uma mesma
entidade.
Pode acontecer do Estado atuar de maneira inversa, restritiva. Isto ocorre quando ele se utiliza da centralização e da
concentração. Quando o Estado retoma a execução do serviço, após tê-lo transferido a outra pessoa, executando-o
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Direito Administrativo
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diretamente, estará se utilizando do instituto da centralização. Quando dois ou mais órgãos internos são agrupados em
apenas um, surge a concentração.
São três as formas (modalidades) tradicionais de descentralização: a) delegação, b) outorga e c) descentralização
territorial. Atualmente vem sendo desenvolvida uma quarta modalidade: a do regime de parceria.
Assim, podemos afirmar que a descentralização envolve sempre duas pessoas, onde uma delas será uma pessoa
jurídica e a outra uma pessoa física ou também jurídica, onde se transfere a titularidade de certa competência ou somente
o exercício dela.
SINOPSES
AUTARQUIAS
Administração Origem Autonomia
Indireta Criadas por lei, via iniciativa Possui autonomia ADMINISTRATIVA.
privativa do Chefe do Executivo (art. Quem possui autonomia política são os entes da
61, § 1º, II, e da CF/88) federação (U/E/DF e M).
Quanto ao Objeto
Autarquias Assistenciais: auxílio a regiões desfavorecidas ou a categorias sociais específicas, minorando as desigualdades
regionais e sociais. Ex: ADENE, ADA, INCRA.
Autarquias Previdenciárias: trata da assistência social. Ex: INSS.
Autarquias Culturais: dirigidas à educação e ensino. Ex: UFRJ.
Autarquias Profissionais: cuida da inscrição de profissionais e fiscalização de suas atividades. Ex: OAB e CRM.
Autarquias Administrativas: formam a categoria residual. Destinam-se às várias atividades administrativas, incluindo a de
fiscalização, quando essa atribuição for da pessoa federativa a que estejam vinculadas. Ex: INMETRO, BACEN, IBAMA.
Autarquias de Controle: são as recém-criadas agências autárquicas reguladoras. Controlam entidades que prestam serviços
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Direito Administrativo
Professor Thales Perrone
públicos ou atuam na área econômica por força de concessões e permissões de serviços públicos. Ex: ANATEL, ANEEL,
ANP.
Patrimônio Pessoal
São bens públicos os integrantes do patrimônio das pessoas O regime de pessoal poderá ser o estatutário
administrativas de direito público. Assim, os bens das autarquias são tidos ou o trabalhista, conforme o que a lei do ente
como bens públicos. federativo dispuser.
Assim sendo, são impenhoráveis, imprescritíveis e a alienação obedecerá
às regras legais.
Prerrogativas Autárquicas
a) Imunidade Tributária: vedação à instituição de impostos sobre o patrimônio, a renda e os serviços, desde que vinculados
às suas finalidades essenciais;
b) Impenhorabilidade de seus bens e rendas: não há penhora como garantia do credor. Há os precatórios judiciais;
c) Imprescritibilidade de seus bens: seus bens não podem ser usucapidos;
d) Prescrição qüinqüenal: dívidas e direitos contra autarquias prescrevem em cinco anos;
e) Créditos sujeitos à Execução Fiscal;
f) Prazo em dobro para recorrer e em quádruplo para contestar;
g) Pagamento das custas judiciais somente ao final, se vencida (art. 27 do CPC);
h) Dispensa de exibição de mandado de seus procuradores em juízo e
i) Não se sujeitam a concurso de credores ou à habilitação de crédito em falência, concordata ou inventário para cobrança
de seus créditos, salvo para estabelecimento de preferência entre as três Fazendas Pública.
AGÊNCIAS REGULADORAS
Função Principal Regime Jurídico
Controlar a prestação dos serviços públicos e o exercício de São autarquias de regime especial. Obs: não são novas
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Direito Administrativo
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Exemplos Prerrogativas
ANEEL, ANATEL, ANP, ANVISA, ANS, ANA, ANTT, a)Razoável independência administrativa em relação ao poder
ANTAQ, ANCINE, AGR (Agência Goiana de Regulação, executivo.
Controle e Fiscalização de Serviços Públicos). Obs: as b)Autonomia financeira.
Casas Severiano Ribeiro (casas de cinema) são c)Celebrar contratos.
fiscalizadas pelo ANCINE. d)Abrir licitações.
Citamos, ainda, o CSPE (Comissão de Serviços Públicos e)Fiscalizar a execução dos contratos.
de Energia do Estado de São Paulo), a ASEP-RJ (Agência f)Fixar multas.
Reguladora de Serviços Públicos Concedidos no Estado g) Resolver conflitos de interesses (decisões com caráter final
do RJ) e a AGERGS (Agência Estadual de Regulação dos na esfera administrativa).
Serviços Públicos Delegados do Rio Grande do Sul). h) Receitas próprias.
i) Criação de comandos sub legem (*1)
j) Definição do valor das tarifas.
Receber denúncias e reclamações.
(*1) – Para a Fundação Carlos Chagas (FCC), as agências reguladoras editam atos normativos da mesma forma que
diversos outros órgãos ou entidades administrativas. Contudo, tais normas se limitam a detalhar os decretos editados pelos
Chefes do Executivo no exercício do Poder Regulamentar deles. Porém, o CESPE/UNB já mostrou posicionamento
contrário, no sentido de que as agências reguladoras teriam, sim, poder normativo propriamente dito para inovar na ordem
jurídica, criando direitos e obrigações para os administrados.
Atividades exercidas pelo Estado de maneira dispendiosa → há um abandono da postura de Estado-empresário, deixando
de assumir a tarefa de produção direta de bens e serviços → privatização (alienação às pessoas da iniciativa privada) das
áreas de telefonia, petroquímica, mineração, eletricidade, transportes e siderurgia (todos sendo serviços públicos
desestatizados) → o Estado cria as Agências Autárquicas (também denominadas de governamentais ou reguladoras),
intensificando, assim, o exercício de suas prerrogativas de intervenção no domínio econômico → controle e fiscalização
das agências reguladoras.
Obs: A atividade regulatória, na verdade, não é exclusiva das agências reguladoras, senão vejamos:
a) O sistema financeiro nacional é regulado pelo BACEN e pelo Conselho Monetário Nacional.
b) O mercado de capitais é regulado pela CVM.
c) A atividade regulatória em sentido amplo é exercida pela Administração Direta e pelo Poder Legislativo.
d) A atividade regulatória não incide, necessariamente, sobre um serviço público ou atividade econômica específicos,
determinados. Outros órgãos, que não exclusivamente as agências reguladoras, também desempenham referida regulação.
Ex: CADE - Conselho Administrativo de Defesa Econômica (órgão de defesa da concorrência), Órgãos de Defesa do
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Direito Administrativo
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AGÊNCIAS EXECUTIVAS
Prazo Observações
Têm prerrogativas apenas temporariamente. Os Contratos A qualificação em Agência Executiva dá-se pelo Chefe do
de Gestão serão celebrados com periodicidade mínima de Executivo.
um ano. A Agência Executiva ganha mais autonomia administrativa.
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Direito Administrativo
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Privilégios Pessoal
No exercício de atividades Regime Trabalhista Comum (art. 173, II, § 1º).
econômicas, predominam as Ingresso via concurso público.
normas de direito privado Não podem acumular seus empregos com cargos ou funções públicas (art. 37, XVII da
(C.Civ. e C.Com.). Não têm CF/88).
privilégios fiscais, salvo se os Cargo Público: Segundo Alexandre de Moraes, “consiste em lugar específico, que possui
mesmos forem estendidos aos denominação própria, instituído na organização do serviço público com um conjunto de
particulares. Têm as mesmas deveres e atribuições individuais, a ser provido e exercido por um titular”.
obrigações civis, comerciais, Função Pública: “Consiste no conjunto de deveres e atribuições cometidos precariamente
trabalhistas e tributárias que os a determinada categoria profissional ou a determinados servidores, para a execução de
particulares (art. 173, § 2º). serviços públicos eventuais. Na hipótese de determinada função ser exercida por quem já
Na prestação de serviços é funcionário, normalmente haverá acréscimo remuneratório.
públicos, para a doutrina, são Emprego Público: “Quando a função pública é exercida sob contrato regido pela CLT,
cabíveis os privilégios fiscais. teremos caracterizada a conceituação de emprego público”. Ex: empregados das E.P e
S.E.M. Observe-se que todo cargo possui funções, porém o inverso não corresponde à
realidade, pois a determinada função pode não corresponder cargo específico.
São equiparados, pelo Código Penal, a funcionários públicos para fins penais (art. 327 do
CP: “Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora
transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública”).
A Lei 8.429/92, em seu art. 1º, os considera agentes públicos, incidindo sobre eles as
sanções impostas em casos de cometimento de improbidade administrativa.
Natureza contratual (art. 173, §1º da CF/88).
Estatuto Jurídico
Lei Ordinária estabelecerá o estatuto jurídico das empresas públicas. As determinações expressas na CF/88 para o estatuto
a ser previsto em lei são:
a) a função social da empresa e formas de fiscalização pelo Estado e sociedade;
b) a sujeição ao regime jurídico próprio das empresas privadas, inclusive quanto aos direitos e obrigações civis,
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Direito Administrativo
Professor Thales Perrone
(*) Observações:
(*1)
a) Sendo bens privados, NÃO são imprescritíveis ou impenhoráveis.
b) A administração dos bens, conservação, proteção e alienação são disciplinadas pelos estatutos da entidade. A lei (ou a
lei autorizadora) pode limitar o poder de ação dos administradores da empresa. No silêncio da lei, valerão os estatutos e
resoluções da diretoria.
c) Enquanto pertencentes à pessoa instituidora da E.P, os bens são públicos. Ao passarem para a Empresa, passam à
natureza de privados.
d) Hely Lopes entende que referidos bens possuem uma destinação especial, podendo ser onerados, utilizados e alienados
de acordo com o disposto no estatuto, independentemente de autorização legislativa especial.
Qualquer cidadão é parte legítima para propor Ação Popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de
entidade de que o Estado participe.
(*2)
a) A lei não cria a entidade, tal como o faz com a autarquia, mas apenas autoriza a criação, que se processa por atos
constitutivos do Executivo e transcrição no Registro Público. Portanto, as empresas públicas e sociedades de economia
mista são criadas por autorização legal (art. 37, XIX, CF/88). Assim, a lei específica autoriza o executivo, por ato próprio
(decreto) a proceder a instituição da pessoa administrativa. O Executivo registrará os estatutos da entidade no registro
competente, memento em que nasce a entidade.
(*3)
a) O Estado, só excepcionalmente, pode dedicar-se à exploração direta de atividade econômica: segurança nacional ou
relevante interesse coletivo (art. 173, caput da CF/88).
b) Não são todos os serviços públicos que poderão ser exercidos pelas empresas públicas, mas somente aqueles que,
mesmo sendo prestados por empresa estatal, poderiam sê-lo pela iniciativa privada.
c) São serviços exclusivos do Estado: segurança pública, prestação de justiça, defesa da soberania nacional, relações
diplomáticas, elaboração legislativa etc. Segundo Marcelo Alexandrino, “a enumeração das atividades consideradas
típicas de Estado não é tarefa possível, pois depende, essencialmente, de posições ideológicas”.
Organizações Sociais
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Direito Administrativo
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Função Recursos
Sem fins lucrativos (descarta-se qualquer aspecto mercantil ou Ao receber o título de OS, a entidade passa a
empresarial), devendo reinvestir os seus excedentes. Aos conselheiros é receber benefícios do poder público, como
vedada remuneração; os dirigentes poderão sê-lo, desde que em dotações orçamentárias.
conformidade com o Contrato e os valores praticados no mercado. As dotações orçamentárias destinadas à
Voltadas ao ensino, pesquisa científica, desenvolvimento tecnológico, execução dos contratos de gestão deverão estar
proteção e preservação do meio ambiente, cultura e saúde. previstas na Lei Orçamentária que deverá ser
A Adm. transfere o exercício de certas atividades que serão melhor aprovada ou não pelo Congresso Nacional.
desempenhadas pelo setor privado (descentralização administrativa). Recebem a permissão de uso de bens públicos
A OS não é delegatária de serviço público, pois não exerce as atividades necessários à consecução de seus objetivos.
em nome do Estado, mas em seu próprio nome (delegatárias = As OS não se sujeitam às regras que regulam a
concessionárias, permissionárias e autorizatárias). gestão do orçamento e finanças da Adm.Púb.
As OS destinam-se a absorver atividades publicizáveis tais como saúde, As OS têm ampla autonomia na execução do
educação, cultura e proteção ambiental, ou seja, aquelas não exclusivas do seu orçamento.
Estado. Obs: fiscalização e polícia são atividades exclusivas do poder Há obrigatoriedade de publicar, anualmente, no
público. Diário Oficial da União, o seu relatório
Cabe às OS implementar as políticas sociais do Estado. financeiro.
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Direito Administrativo
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Exemplos Lei
Fundação Roquete Pinto. Lei nº. 9.637/98.
Associação das Pioneiras Sociais.
Laboratório de Luz Síncroton.
Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (visa estudos e
pesquisas nas áreas de ciência e tecnologia, conforme
Decreto 4.078, de 09/01/2002).
Associação Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (visa
pesquisa tecnológica, desenvolvimento e operação de meios
e serviços de redes avançadas, conforme Decreto 4077, de
09/01/2002).
CAPÍTULO IV
ATOS ADMINISTRATIVOS
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Direito Administrativo
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tempo, que produz a prescrição administrativa. Porém, se o fato não produz qualquer efeito jurídico no campo do Direito
Administrativo, estaremos diante do chamado fato da Administração.
Atenção! Outros doutrinadores preferem adotar a teoria de que o fato jurídico é todo acontecimento, seja humano ou
natural, que acarrete conseqüências jurídicas. Para estes, o fato jurídico subdivide-se em fatos jurídicos em sentido
estrito (acontecimentos da natureza com conseqüências jurídicas, tais como o nascimento, o tempo e a morte) e em atos
jurídicos (atos do homem com conseqüências jurídicas, tais como os contratos). Portanto, podemos concluir que os atos
administrativos são espécies de atos jurídicos.
São Atos da Administração (ou Atos de Administração): é todo ato praticado no exercício da função administrativa.
a) Os atos regidos pelo direito privado, momento em que encontramos uma relação de bilateralidade, de acordo de
vontades. Às vezes a lei exige que o poder público abra mão de sua condição privilegiada e atue em igualdade de
condições com o particular, respeitando as mesmas regras que ele. Assim, são atos regidos pelo direito privado:
doação, permuta, compra, venda, emissão de um cheque, abertura de conta corrente junto ao banco estadual etc.
Além desses exemplos, é de se ressaltar, também, que a lei de licitações e contratos (lei 8.666/93), em seu artigo 63,
parágrafo terceiro, elenca alguns contratos celebrados pela administração que são regidos, predominantemente, pelo
direito privado, tais como os de seguro, financiamento e do da locação de imóvel (em que a Administração é a
locatária). Para o ato da administração ser considerado ATO ADMINISTRATIVO TÍPICO, deverá ser regido pelo
direito público, que apresenta como uma de suas características a unilateralidade.
b) Os atos materiais (ou de mera execução) da Administração: são os atos que não contém manifestação de vontade,
sendo, tão-somente atos de execução de alguma decisão administrativa, gerando alguma utilidade para o
administrado. Estes atos apenas satisfazem a necessidade da Administração ou da sociedade, sem que haja qualquer
interferência nas relações jurídicas. Citamos como exemplos a demolição de uma residência, a execução da atividade
de um taquígrafo, a apreensão de mercadorias estragadas, a realização de um serviço, a dispersão de manifestantes, a
desapropriação de bens privados, a exposição de uma aula pelo professor da rede municipal de ensino, o asfaltamento
de uma rua, uma intervenção odontológica, a limpeza das avenidas, o servidor organizando a sua repartição,
condução de uma viatura pelo servidor da repartição etc. Estes atos sequer podem ser classificados como atos
jurídicos, uma vez que não produzem os denominados efeitos jurídicos próprios dos atos jurídicos. São chamados por
alguns autores de fatos da Administração, justamente por não produzirem efeitos jurídicos no âmbito administrativo.
Se produzissem efeitos jurídicos (se dele se originassem e se extinguissem direitos), tais acontecimentos seriam
denominados de fatos administrativos.
Contudo, para alguns doutrinadores (dentre eles José dos Santos Carvalho Filho), estes eventos naturais que
repercutem no seio da Administração são suficientes para serem denominados de fatos administrativos, não se
levando em consideração a produção ou não de efeitos jurídicos. Assim, para estes últimos, um raio que destrói um
bem público ou a realização de qualquer atividade material no exercício da função administrativa são tidos como
fatos administrativos.
Conclusão: para alguns doutrinadores, a exposição de uma aula por um professor municipal é tida como um fato
da Administração (por configurar a realização de uma atividade material no exercício de uma atividade
administrativa sem produzir quaisquer efeitos jurídico-administrativos), ao passo que, para outros, referida aula é tida
como um fato administrativo (pois, para eles, não é levada em consideração a produção ou não de efeitos jurídicos).
c) Os atos de conhecimento, de opinião, de juízo ou de valor : atos que não contém manifestação de vontade, não
produzindo efeitos jurídicos, tais como os atestados, os votos, os pareceres e as certidões. Comumente chamados de
“atos preparatórios”, não produzem efeitos diretamente por dependerem de outro ou de um conjunto de outros atos.
Porém, são considerados como parte integrante do ato administrativo resultante. Assim, o voto de um membro de um
órgão colegiado não pode ser considerado, por si só, como um ato administrativo, mas a decisão final do colegiado,
sim. O mesmo raciocínio se aplica a um parecer técnico que embasará a decisão de uma autoridade superior. Ele se
integra naquela decisão, sendo que esta última (a decisão final) é que possui a capacidade de produzir os efeitos
jurídicos.
d) Os atos políticos ou de governo (são os atos sujeitos a regime jurídico-constitucional, como ocorre com a iniciativa
de lei pelo Executivo, a sanção, o indulto e o veto presidencial).
e) Os atos normativos da Administração (decretos, portarias, resoluções, regimentos, edição de medida provisória; de
efeitos gerais e abstratos). São os chamados atos atípicos do Poder Executivo. O mesmo se dá quanto aos atos
judiciais praticados por referido poder.
f) Os atos administrativos propriamente ditos. São os chamados atos administrativos típicos, sendo esta a matéria
tratada neste capítulo.
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Direito Administrativo
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Assim, podemos concluir que o ato, para ser considerado como ATO ADMINISTRATIVO, deverá:
a) Exteriorizar uma vontade unilateral da Administração Direta, Indireta ou de quem lhe faça as vezes
(concessionários, permissionários, organizações sociais, serviços sociais autônomos, OSCIPs etc). Esta declaração de
vontade é voltada para a obtenção de determinados efeitos jurídicos definidos em lei.
b) Estar sujeito ao Regime Jurídico Administrativo (também denominado de “regime jurídico de direito
público”). Assim, os atos praticados pelo Estado, ainda que no exercício da função administrativa, mas que estejam
sujeitos ao regime de direito privado, regulados pelas normas civis e comerciais, não são atos administrativos.
c) Produzir efeitos imediatos. Sendo o ato administrativo uma espécie de ato jurídico, ele deverá produzir efeitos
jurídicos. Assim, o ato que não produz estes efeitos, não é ato administrativo. Assim, varrer uma avenida ou dirigir um
veículo oficial não são tidos como atos administrativos, uma vez que não produzem efeitos jurídicos imediatos.
d) Ser passível de controle pelo Poder Judiciário. Lembramos que o ato administrativo não é absolutamente
definitivo, podendo ser anulado pelo Poder Judiciário se estiver inquinado de vícios. Já os atos jurisdicionais,
contrariamente aos atos administrativos, possuem o atributo da definitividade, produzindo a situação denominada “coisa
julgada”, estudada no direito constitucional. Além do controle judiciário, o ato administrativo está sujeito, também, ao
controle parlamentar, isto é, daquele oriundo dos órgãos do poder legislativo.
e) Ser produzido pelo Estado ou por quem detém os poderes atribuídos pelo Estado no exercício da
chamada “função administrativa”. Observemos que o vocábulo “Estado” deve ser entendido não apenas como o Poder
Executivo, mas também o Legislativo ou o Judiciário, pois estes dois últimos Poderes exercem funções administrativas,
através de atos administrativos, tais como a nomeação de servidor ou a realização de uma licitação.
f) Prover de agente (sujeito) competente, a finalidade deverá ser pública e o ato deverá estar revestido de
sua forma legal.
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Direito Administrativo
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outras pessoas jurídicas, por entidades criadas pelo próprio Estado (tais como as entidades da Administração Indireta), ou
mesmo por particulares. O importante é verificar que a fonte, a origem do poder, vem do próprio Estado e sem lei ou
contrato que atribua estes poderes às entidades ou particulares, estes atos não poderão ser praticados por elas.
Tais “elementos de validade” dizem respeito às condições para que se possa considerar o ato administrativo
como tendo sido produzido em conformidade com o ordenamento jurídico e os princípios administrativos.
Por este tópico estaremos analisando a infra-estrutura, a anatomia do ato administrativo.
Todo ato administrativo - (seja ele vinculado ou discricionário) - deve possuir os cinco elementos descritos
abaixo, sob pena de ser considerado nulo.
Veja-se que os elementos dos atos administrativos não são os mesmos elementos do ato jurídico privado, vez
que competência, finalidade, forma, motivo e objeto são elementos dos primeiros, ao passo que apenas “sujeito”, “objeto”
e “forma” são elementos do segundo, ficando evidente a diferença entre atos administrativos propriamente ditos e atos
privados, dentre outras.
Assim, os elementos (ou requisitos) de validade dos atos administrativos são as condições, os pressupostos para
sua produção em conformidade com a lei e os princípios administrativos. São eles:
6.1. Competência
Segundo Maria Sylvia Z. di Pietro, competência pode ser definida como “o conjunto de atribuições das pessoas
jurídicas, órgãos e agentes, fixadas pelo direito positivo”. A mesma autora denomina este elemento de “sujeito”,
afirmando que “sujeito é aquele a quem a lei atribui competência para a prática do ato”. Já Cretella Júnior adota o
vocábulo “agente”. Assim, entende-se a competência como o círculo definido por lei dentro do qual podem os agentes
públicos exercer legitimamente sua atividades, ou seja, como o conjunto de poderes conferidos pela lei aos agentes para
que eles possam desempenhar suas funções e assegurar o interesse público. A competência tem que decorrer de norma
expressa, de lei (vide artigo 61, §1º, II da CF/88 e artigo 25 da ADCT - Ato das Disposições Constitucionais Transitórias).
Não há presunção de competência administrativa. Esta há de originar-se de texto expresso. Assim, a lei é a fonte normal
da competência. É nela que se encontram os limites e a dimensão das atribuições cometidas às pessoas administrativas,
órgãos e agentes públicos. Mas a lei não é a fonte exclusiva da competência administrativa. Para órgãos e agentes de
elevada hierarquia, ou de finalidades específicas, pode a fonte da competência situar-se na própria CF (vide artigos 48, 49,
51, 52, 84 a 87 e 96). Em relação a órgãos de menor hierarquia, pode a competência derivar de normas expressas de atos
administrativos organizacionais. Nesse caso, serão tais atos editados por órgãos cuja competência decorre de lei. Em
outras palavras, a competência primária do órgão tem origem na lei, e a competência dos segmentos internos dele, de
natureza secundária, pode receber definição através de atos organizacionais.
Segundo alguns doutrinadores, a possibilidade conferida ao Presidente da República para dispor mediante
decreto sobre organização e funcionamento da administração federal, quando não implicar aumento de despesa nem
criação ou extinção de órgãos públicos, possibilita ao chefe do executivo federal o direito legal de atribuir competências,
tendo em vista que, quem organiza tem que definir competências. Concluem, assim, que no âmbito federal, as
competências administrativas organizacionais poderão ser definidas por Decreto (vide artigo 84, VI, da CF/88). Na
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Direito Administrativo
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verdade, os que defendem a existência dos “decretos autônomos” baseiam-se, dentre outros argumentos, neste artigo
constitucional visando defender sua tese. No entanto, se a organização administrativa vier a acarretar aumento de
despesas, o tema deverá ser tratado através de lei, de iniciativa do Chefe do Executivo federal.
1ª) Inderrogabilidade, ou seja, a competência de um órgão/agente não pode ser alterada (transacionada) por
mero acordo de vontades entre as partes, haja vista que a competência é conferida pela lei e somente ela poderá alterá-la (e
não através de um ato bilateral celebrado entre agentes públicos). Assim, a inderrogabilidade é tida como uma
característica absoluta; 2ª) Improrrogabilidade, ou seja, se um órgão não tem competência para certa função, não poderá
vir a tê-la supervenientemente, a menos que a antiga norma definidora seja alterada. Marcelo Alexandrino nos explica que
“parte da doutrina menciona a improrrogabilidade como atributo da competência, significando que o fato de um órgão
ou agente incompetente praticar um ato não faz com que ele passe a ser considerado competente, salvo disposição legal
expressa que assim estabeleça. Vale dizer, a competência não se estende automaticamente a órgão ou agente
incompetente pelo simples fato de haver ele praticado o ato ou tomado conhecimento dos fatos que ensejariam a sua
prática”. Ainda, pela improrrogabilidade, os agentes não podem atuar, praticar atos para os quais o ordenamento
jurídico não lhes conferiu competência. Ao contrário da inderrogabilidade, a improrrogabilidade é relativa, uma vez que é
cabível excepcioná-la através dos institutos da delegação e da avocação, momento em que o agente praticará atos
originariamente outorgados a outros. Observe que a inderrogabilidade diz respeito à própria competência (à sua
titularidade), matéria reservada à lei, ao passo que a improrrogabilidade refere-se ao exercício de competências (produção
de atos); 3ª) Decorre sempre de lei; 4a) é de exercício obrigatório para a Administração (pela irrenunciabilidade das
competências, o agente é obrigado a exercer suas competências toda vez que o interesse público assim o requer. Esta
característica não é absoluta, mas relativa, tendo em vista a possibilidade de delegar ou avocar o exercício de
competências. É tida como a principal característica da competência).
5a) É imprescritível, uma vez que o agente não perde a competência com o passar do tempo,utilizando-a ou
não; 6a) Se não houver óbice legal, poderá um agente utilizar-se da delegação de competência para transferir a outro (via
de regra de plano hierárquico inferior) o exercício de funções que originariamente lhe foram atribuídas. Porém, pode a lei
impedir a delegação de competência quando se tratar de funções indelegáveis, exclusivas do agente ou do órgão. A lei
9.784/99, por exemplo, que regula o processo administrativo na Administração federal, veda a delegação em se tratando
de: edição de atos de caráter normativo, decisão de recursos administrativos ou quando as matérias são de competência
exclusiva do órgão ou da autoridade. A mesma lei autoriza a avocação temporária (artigo 15), de competência atribuída
a órgão hierarquicamente inferior, se for em caráter excepcional e por motivos relevantes devidamente justificados.
Mesmo com a delegação, haverá a competência cumulativa entre delegante e delegado. Porém, quando o órgão superior
atrai para si a competência para cumprir determinado ato atribuído a outro (hierarquicamente inferior), ocorre o fenômeno
da avocação. Uma das vantagens da avocação é evitar que haja decisões concorrentes e eventualmente contraditórias. A
avocação é figura excepcional, só justificável ante os pressupostos que a lei estabelecer.
Observe-se que a Lei 9.784/99 dispõe em seu artigo 11º que a competência é irrenunciável e se exerce pelos
órgãos administrativos a que foi atribuída como própria, salvo os casos de delegação e avocação legalmente admitidos.
Com relação à possibilidade de delegar competências, Maria Sylvia argumenta que “embora o dispositivo dê a impressão
de que a delegação somente é possível quando a lei permita, na realidade, o poder de delegar é inerente à organização
hierárquica que caracteriza a Administração Pública”. Para esta autora, a regra é a possibilidade de delegação e a
exceção é a impossibilidade de delegação, que somente ocorrerá em se tratando de competência outorgada com
exclusividade ao agente ou ao órgão. Continuando seu raciocínio, a professora explica que “essa idéia está presente no
artigo 12 da mesma lei, segundo o qual um órgão administrativo e seu titular poderão, se não houver impedimento legal,
delegar parte de sua competência a outros órgãos ou titulares, ainda que estes não lhe sejam hierarquicamente
subordinados, quando for conveniente, em razão de circunstâncias de índole técnica, social, econômica, jurídica ou
territorial”. Acrescentamos, ainda, que a delegação não transfere a competência, mas tão somente o exercício de uma
parcela das atribuições cometidas pela lei ao ente delegante, podendo o primeiro exercer referidas atribuições juntamente
com o ente delegado, em havendo ressalva de exercício da função delegada. Além disso, poderá a delegação ser revogada
pelo delegante, haja vista não se falar em renúncia por parte do primeiro.
Atenção: Não se deve confundir “competência” com “capacidade”, pois são dois institutos jurídicos diferentes.
Competência é a outorga oriunda da constituição ou da lei de certa quantidade de poder conferido a determinado agente,
órgão ou pessoa jurídica. Dentro da competência encontra-se a capacidade para o exercício de determinado ato. Ter
capacidade significa ser titular de direitos e obrigações que possa exercer por si ou por terceiros.
Devemos observar que a atribuição de competência leva em conta os seguintes critérios: a) em razão da matéria
(a competência para atuar fica restrita à matéria delineada pelo ordenamento jurídico, em obediência ao princípio da
especialidade); b) em razão do território (a competência para atuar fica restrita à área ou zona de atuação territorial
delineada pela lei); c) em razão do grau hierárquico (a competência é definida segundo o grau de hierarquia do órgão ou
agente e o maior ou menor grau de complexidade e responsabilidade); d) em razão do tempo (a competência deverá ser
utilizada dentro do prazo estipulado pela lei, como ocorre com os mandados políticos, por exemplo. Pode ocorrer a
proibição de se realizar determinados atos em períodos definidos pela norma, como a nomeação ou exoneração de
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Direito Administrativo
Professor Thales Perrone
servidores em período eleitoral); e) em razão do fracionamento (há uma distribuição de competências por órgãos diversos,
como nos casos de edição de atos complexos, que serão estudados neste capítulo).
Este requisito, ao lado da finalidade e da forma, é inteiramente vinculado para qualquer ato.
6.3. Forma
A forma é o meio pelo qual se exterioriza a vontade. É elemento que integra a própria formação do ato. Sem sua
presença, o ato que vise a produção de efeitos sequer completa o seu ciclo de existência, sendo denominado de ato
imperfeito, conforme estudaremos mais abaixo. Assim, não basta simplesmente a exteriorização da vontade pelo agente
administrativo. Urge que o faça nos termos em que a lei a estabeleceu, para não ficar o ato com vício de legalidade,
suficiente para provocar-lhe a invalidação. No direito privado, vigora o princípio da liberdade das formas. No público,
a regra é a solenidade das formas. Como regra, deve o ato ser escrito, registrado (ou arquivado) e publicado. Não
obstante, admite-se que em situações singulares possa a vontade administrativa manifestar-se através de outros meios,
como é o caso de gestos (de guardas de trânsito), palavras/sinais (atos de polícia de segurança pública, apitos, sirenes) ou
símbolos (placas de trânsito). Esses meios são excepcionais e atendem a situações especiais. Não obstante, é preciso
reconhecer que a análise da adequação da forma à lei exige carga de comedimento e razoabilidade por parte do intérprete.
Em conseqüência, haverá hipóteses em que o vício de forma constitui, em última instância, mera irregularidade sanável,
sem afetar a órbita jurídica de quem quer que seja. Em tais casos não precisará haver anulação, mas simples correção, o
que se pode formalizar pelo instituto da convalidação do ato (vide parte final deste capítulo). Assim, se o ato foi
formalizado por “portaria”, ao invés de sê-lo por “ordem de serviço” como exigia a lei, seria exagero anular o ato, pois
que o erro de denominação não interferiu no conteúdo legítimo do ato. Em outras hipóteses, porém, o vício na forma é
insanável, porque afeta o ato em seu próprio conteúdo. É o caso, por exemplo, de resolução que declare determinado
imóvel como de utilidade pública para fins de desapropriação. Como a lei exige decreto do Chefe do Executivo, aquele
ato tem vício insanável e passível de anulação.
Importante trazer à tona os comentários da professora Maria Sylvia, quando a mesma ensina que “A obediência
à forma não significa, no entanto, que a Administração esteja sujeita a formas rígidas e sacramentais; o que se exige, a
rigor, é que seja adotada, como regra, a forma escrita, para que tudo fique documentado e passível de verificação a todo
o momento. A não ser que a lei preveja expressamente determinada forma (como decreto, resolução, portaria etc.), a
Administração pode praticar o ato pela forma que lhe parecer mais adequada. Normalmente, as formas mais rigorosas
são exigidas quando estejam em jogo direitos dos administrados, como ocorre nos concursos públicos, na licitação, no
processo disciplinar.”
Embora se distinga forma de procedimento, no sentido de que aquela indica apenas a exteriorização da vontade
e este uma seqüência ordenada de atos e atividades, costuma-se caracterizar os defeitos em ambos como vícios de forma.
Este requisito, ao lado da finalidade e da competência, é inteiramente vinculado para qualquer ato.
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Direito Administrativo
Professor Thales Perrone
6.5. Finalidade
Todo ato administrativo deve estar dirigido ao interesse público. Se assim não o for, haverá desvio de finalidade
(ou de poder). Conduta desse tipo ofende, também, os princípios da impessoalidade e da moralidade administrativa. Há
um elo indissociável entre a finalidade e a competência, seja o ato vinculado ou discricionário, pois, quando a lei define a
competência do agente, a ela já vincula a finalidade a ser perseguida pelo agente. Observe-se que há distinção entre
finalidade e objeto. O objeto representa o fim imediato, ou seja, o resultado prático a ser alcançado pela vontade
administrativa. A finalidade, ao contrário, reflete o fim mediato, ou seja, o interesse coletivo. Assim, o objeto é variável
conforme o resultado prático buscado pelo agente e a finalidade é invariável para qualquer espécie de ato, sendo sempre o
interesse público. Desta forma, numa permissão de transporte urbano, o objeto é permitir a alguém tal atividade; numa
licença de construção, o objeto é consentir que alguém edifique; numa admissão, o objeto é autorizar alguém a ingressar
em estabelecimento público. Variável é, pois, o objeto, conforme a espécie do ato. Contudo, a finalidade é a mesma em
todos os casos: o interesse público.
Para Hely Lopes Meirelles, “a finalidade do ato administrativo é aquela que a lei indica explícita ou
implicitamente. Não cabe ao administrador escolher outra, ou substituir a indicada na norma administrativa, ainda que
ambas colimem fins públicos. Neste particular, nada resta para a escolha do administrador, que fica vinculado
integralmente à vontade legislativa”.
Este elemento de validade pode ser entendido em sentido amplo e em sentido estrito. Pelo primeiro sentido
(amplo), podemos afirmar que todo ato administrativo deve visar, sempre, ao interesse público, ao passo que, pelo
segundo sentido (estrito), todo ato administrativo deve visar à sua finalidade específica, prevista expressa ou
implicitamente na lei.
Este requisito, ao lado da competência e da forma, é inteiramente vinculado para qualquer ato.
53
Direito Administrativo
Professor Thales Perrone
Os atos administrativos emanam de agentes dotados de parcela do Poder público. Basta essa razão para que
precisem estar revestidos de cercas características (prerrogativas) que os tornem distintos dos atos privados, regidos pelo
direito civil e comercial. Os atributos (características inerentes aos atos administrativos) diferenciam-se dos requisitos,
que são condições que devem ser observadas para a válida edição do ato. São eles:
7.3. Auto-Executoriedade
Consiste na possibilidade de o ato administrativo ser imediata e diretamente posto em execução pela
Administração, sem intervenção do Poder Judiciário. No âmbito do direito privado, regido pelas leis civis e trabalhistas,
poucas são as situações onde o particular pode executar suas próprias decisões (citamos a título de exemplo que, na
proteção à posse, poderá o possuidor turbado manter-se por sua própria força, contanto que o faça logo – vide o artigo
1210, §1º do Código Civil. São exemplos de execução direta, também, além da legítima defesa, a retenção da bagagem do
hóspede inadimplente junto ao hotel onde o mesmo se encontra hospedado e a poda dos galhos da árvore do vizinho que
estejam invadindo propriedade particular). Porém, no direito público, é admitida a execução ex offício (por
conta/iniciativa própria, de ofício) das decisões administrativas sem intervenção do Judiciário, como, por exemplo, nos
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casos de destruição de alimentos vencidos, demolição de um prédio em ruínas, embargo de obra irregular, interdição de
um estabelecimento comercial, apreensão de mercadorias etc.
Ressalte-se que a auto-executoriedade não é um atributo pertencente a todos os atos da administração, mas sim
aos atos administrativos (excluídos novamente os atos administrativos negociais e enunciativos). A auto-executoriedade se
faz presente quando a mesma é autorizada explícita ou implicitamente em lei ou, em não havendo previsão legal, quando
se tratar de alguma medida urgente que necessite ser auto-executada imediatamente pela Administração sob pena de,
não o fazendo, acarretar um prejuízo maior ao interesse público, como nos casos de demolição de prédio que ameaça cair,
a internação compulsória de indivíduo com doença contagiosa e a dissolução de reunião que ponha em risco a segurança
de coisas ou pessoas. Assim, atos da administração sujeitos ao regime jurídico de direito privado, como o aluguel, a
compra, a venda e a doação, por exemplo, não possuem referido atributo.
O fundamento jurídico deste atributo consubstancia-se na necessidade de garantir com eficiência e rapidez o
interesse coletivo. Assim, o ato vale como a sentença do magistrado, mesmo estando sujeito a controle exógeno (externo)
por parte do Judiciário, tal como ocorre diante da destruição de bens impróprios ao consumo público e da demolição de
construção com riscos de desabamento. Verificada a situação que provoca a execução do ato, a autoridade administrativa
de pronto o executa, ficando, assim, resguardado o interesse público. Em certas situações, o ato administrativo fica
despido desse atributo, o que obriga o Poder Público a recorrer ao Poder Judiciário, como nos casos de cobrança de multa
(quando não quitadas espontaneamente pelo particular) ou desapropriação, que exigem o ajuizamento da competente
ação judicial (observe, no primeiro caso, que a Administração poderá efetuar o lançamento do débito e notificar o
particular a efetuar o pagamento da multa). Os princípios do contraditório e da ampla defesa estabelecem alguns limites ao
princípio da executoriedade, impedindo uma atuação exclusiva do administrador. Ameaças de lesão podem ser impedidas,
por exemplo, através do mandado de segurança, da ação popular e da ação civil pública.
Encontramos este atributo, com muita freqüência, nos atos realizados pela Administração no uso do seu Poder
de Polícia.
Alguns doutrinadores desdobram o atributo da auto-executoriedade em:
a) Exigibilidade, através do qual o Poder Público toma decisões executórias criando obrigação para o particular
sem necessitar ir preliminarmente a juízo.
b) Executoriedade, que corresponde à capacidade da ação ex officio, através da qual a Administração pode
executar diretamente a sua decisão através do uso da força.
A diferença entre a exigibilidade e a executoriedade, que reside unicamente no meio coercitivo, está no fato de que,
na exigibilidade, a Administração utiliza meios indiretos de coação, devidamente descritos na lei, como nos casos de
imposição de multas ou outras penalidades/sanções para o caso de descumprimento do ato pelo particular, a fixação de
locais e horários para o desempenho de atividades ou a exigência de construção de uma calçada. Já a executoriedade
corresponde ao emprego de meios diretos de coerção, pela Administração, ao particular, compelindo-o materialmente a
obedecer ao ato emanado por ela, independentemente mesmo de previsão legal, visando atender, por exemplo, situações
de emergência que ponham em risco a segurança ou a saúde da sociedade, como ocorre nos casos de apreensão de
mercadorias, fechamento de casas noturnas ou de a própria Administração construir a calçada devidamente exigida e não
realizada pelo administrado e mandar-lhe a conta devida. Porém, ressalte-se que ambas as espécies descritas permitem a
auto-executoriedade das decisões, com meios coercitivos próprios, pela Administração, sem necessidade de se socorrer
do Poder Judiciário para tanto.
Por fim, ressalte que, em algumas situações, poderá o ato ser exigível, porém não executável, como nos casos das
multas de trânsito, que podem ser devidamente exigidas pela Administração (através do envio da multa à residência do
particular), mas não podem ser auto-executadas por ela, devendo o Poder Público valer-se das ações judiciais cabíveis
(execução fiscal, por exemplo) para cobrar a dívida (através do Poder Judiciário). O mesmo raciocínio vale quanto às
desapropriações, que podem ser exigidas através de decretos expropriatórios, mas não pode a Administração executar,
por si mesma, a retirada forçada dos moradores da propriedade. Desta forma concluímos que:
a) na exigibilidade, independe de participação do Poder Judiciário e os meios de coação contra o administrado são
indiretos. Esses meios representam a imposição de uma sanção ao particular que estiver desobedecendo a uma norma
legal, porém, não impedem que a lei continue a ser descumprida por ele.
b) a executoriedade é mais gravosa que a exigibilidade, independe do Judiciário e se utiliza de meios diretos de
coação contra o particular.
7.4. Tipicidade
Para Maria Sylvia Z. Di Pietro, “tipicidade é o atributo pelo qual o ato administrativo deve corresponder a
figuras definidas previamente pela lei como aptas a produzir determinados resultados. Para cada finalidade que a
Administração pretende alcançar existe um ato definido em lei”. Desta forma, por este atributo, não poderá a
Administração produzir os denominados “atos inominados”, produzidos através da autonomia própria de vontade, tal
como ocorre nas relações entre os particulares. Desta forma, o particular se encontra protegido contra a prática de atos
totalmente discricionários pela Administração dotados de imperatividade e auto-executoriedade sem que haja, para
tanto, uma previsão legal. A mesma autora salienta que “a tipicidade só existe com relação aos atos unilaterais; não
existe nos contratos porque, com relação a eles, não há imposição de vontade da Administração, que depende sempre da
aceitação do particular; nada impede que as partes convencionem um contrato inominado, desde que atenda melhor ao
interesse público e ao do particular”.
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8. MÉRITO ADMINISTRATIVO
Considera-se mérito administrativo a avaliação da conveniência e da oportunidade relativas ao motivo e ao
objeto do ato discricionário. Em relação ao motivo valoram-se os fatores que o constituem. Quanto ao objeto, o
administrador escolhe o que melhor atende o interesse público. Quanto aos elementos competência, finalidade e forma,
eis que são elementos SEMPRE vinculados em qualquer hipótese, não são passíveis de avaliação desta oportunidade e
conveniência. Observe-se, assim, que não se pode falar em mérito administrativo em se tratando de ato vinculado, haja
vista que o motivo e o objeto do ato já constituirão elementos que o legislador quis expressar.
O agente pode fazer valoração de conduta tanto na discricionariedade quanto na aplicação de conceitos jurídicos
indeterminados (nesse último caso citamos como hipóteses de conceitos jurídicos indeterminados expressões que não
apresentam exatidão em seu sentido, tais como “interesse público”, “ordem pública”, “bons costumes”, “falta grave”).
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denomina de Atos Inexeqüíveis. Assim, um testamento, por exemplo, só produzirá seus efeitos jurídicos após o
falecimento de quem o produziu. Estamos falando de uma “condição suspensiva”. Já a carteira de habilitação para dirigir
produz efeitos até uma data pré-determinada. Neste caso, estamos diante de um “termo”. Se constar no edital de um
concurso público que somente após o pagamento da taxa de inscrição é que se formalizará a inscrição definitiva,
estaremos diante de uma “condição suspensiva”.
Lembramos que, para o professor Hely Lopes Meirelles, ato eficaz é aquele que já se encontra apto a
produzir seus efeitos imediatos, pelo simples fato de estar perfeito, como também aquele ato que dependa de alguma
condição ou termo (são os chamados atos ineficazes para os outros doutrinadores), com a diferença de que o primeiro é
considerado eficaz e exeqüível, ao passo que o último é considerado eficaz, porém, inexeqüível. Contudo, a doutrina
apontada pelo professor Celso Bandeira, acima apresentada, parece estar sendo a mais aceita nos atuais concursos
públicos.
g) Ato Consumado: é o ato administrativo cujos efeitos jurídicos encontram-se exauridos. Torna-se definitivo
e imodificável e não pode mais ser impugnado administrativa ou judicialmente. Se o ato foi praticado com alguma
ilicitude, causando danos a terceiros de boa-fé, poderá ensejar as responsabilidades civis, criminais e administrativas.
Desta forma, a licença para a construção de uma casa tornar-se-á consumada a partir da edificação da mesma e o ato que
tenha deferido férias ao servidor estará exaurido a partir do momento em que ele as tiver gozado. Estes atos não mais
podem ser revogados pela Administração.
h) Ato nulo: é o ato afetado por algum vício insanável, impossível de ser convalidado, e que não gera direitos,
devendo ser anulado pela Administração ou pelo Judiciário com efeito ex tunc (efeito retroativo da decisão).
i) Ato anulável: é o ato afetado por algum vício sanável, passível de ser convalidado, uma vez que a nulidade é
relativa.
j) Ato inexistente: é o ato praticado por um “usurpador da função pública”. É o ato que aparenta ser administrativo, mas
não o é. Com relação ao usurpador da função pública, vide os comentários constantes do item 13.6 (invalidação dos atos
administrativos), abaixo.
9.1. Quanto aos Destinatários: esta classificação se baseia na distinção entre destinatários determinados ou
indeterminados do ato administrativo.
a) Atos Gerais (ou normativos/regulamentares): regulam uma quantidade indeterminada e imprecisa de pessoas
que se encontram na mesma situação jurídica. A finalidade é normativa, assemelhando-se à lei (que é abstrata, impessoal e
genérica). Não há um destinatário determinado, certo. Ex: decretos, regulamentos, regimentos, resoluções,
deliberações, instruções normativas, circulares ordinatórias de serviços, portarias, edital de concurso (quaisquer indivíduos
que preencham os requisitos exigidos no edital podem participar do concurso, uma vez que o ato não foi editado para
destinatários certos, determinados) etc. Se produzirem efeitos externos, necessitam de publicação.
b) Atos Individuais (concretos, especiais ou específicos): seu campo de atuação alcança destinatários certos,
definidos (individualizados ou individualizáveis, específicos). O ato individual pode abranger um ou vários sujeitos, desde
que sejam individualizados. Assim, se for feito apenas um decreto para nomear diversos agentes, na verdade foram
praticados diversos atos individuais com destinatários definidos, de sorte que se houver a invalidação da nomeação de um
deles, os demais não serão atingidos por ela. Se produzirem efeitos externos, necessitam de publicação. Citamos como
exemplos: licença para construção, decreto expropriatório, nomeação de um agente público (decreto de nomeação),
outorgas de licenças, permissões e autorizações etc.
Atenção! No confronto entre um ato administrativo geral e um ato administrativo individual, prevalecerá a
determinação contida no ato geral.
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c) Atos de Expediente: são atos de rotina interna destinados a dar andamento aos documentos e processos, tais
como o recebimento e expedição de papéis, despachos rotineiros, autuação e protocolo (todos sem decisão do mérito
administrativo).
b)Ato complexo: resulta da manifestação de vontade de dois ou mais órgãos independentes (sejam eles
singulares ou colegiados), cujas manifestações homogêneas se fundem, visando formar um único ato. Nenhum dos dois
órgãos, isoladamente, é auto-suficiente para produzir o ato complexo, uma vez que o mesmo só se aperfeiçoa e se
encontra em condições de gerar direitos e obrigações após a integração da vontade final do Poder Público. Por esta razão,
somente se é possível impugnar judicialmente o ato quando todas as manifestações tenham sido expressas, sem as quais o
ato não estará, ainda, perfeito. Assim, a vontade final da Administração impõe a intervenção de órgãos ou agentes
diversos, havendo certa autonomia em cada uma das manifestações.
Ex: concessão de regimes especiais de tributação que dependem de parecer favorável de diferentes ministérios,
como o Ministério da Indústria e Comércio e o Ministério da Fazenda, no caso da isenção relativa a algumas aquisições de
bens de informática. A redução de alíquotas de IPI para alguns refrigerantes depende de aprovação integrada do
Ministério da Agricultura e da Secretaria da Receita Federal, sendo que as manifestações não são simultâneas e sequer
apreciam os mesmos elementos. Também alguns regimes especiais relativos a documentos fiscais somente se aperfeiçoam
com a edição de um ato concessivo da Fazenda Estadual e outro da Receita Federal. Também são exemplos os atos
normativos editados conjuntamente por órgãos diferentes da Administração Federal, como são comuns as Portarias
Conjuntas SRF/PGNF, as Instruções Normativas Conjuntas SRF/STN; nomeação de Ministro do STF, que se dará
mediante indicação e nomeação do Presidente da República e sabatina e aprovação do Senado (art. 101, § único, CF) e a
nomeação do procurador-geral da justiça pelo governador. Nesses casos, fundem-se as vontades distintas em um só ato
administrativo. A prolação do ato exige mais de uma declaração de vontade unitária. Assim, estamos falando de dois ou
mais órgãos, de duas ou mais manifestações autônomas e que se fundem, formando UM ato único (uma vontade final).
A professora Maria Sylvia consigna que as vontades podem resultar de vários órgãos de uma mesma entidade
ou de entidades públicas distintas.
Não se deve confundir o “ato complexo” com o “procedimento administrativo”. O procedimento é caracterizado
por uma seqüência encadeada de atos, pela Administração, visando um objetivo final ou a prática de um ato final, o qual
encerra o procedimento administrativo. Trata-se de uma atividade contínua, e não instantânea. Observe-se que estes atos
intermediários, isoladamente, podem ser objeto de impugnação administrativa ou judicial. O mesmo não acontece com
relação aos atos complexos. Exemplo: o procedimento administrativo de uma licitação é formado por diversos atos
intermediários. O licitante irresignado com o edital, com o julgamento das propostas ou com a homologação do resultado
poderá ingressar, em cada situação, com os recursos cabíveis, se assim o desejar. Enquanto que o ato complexo se
caracteriza pela existência de um único ato, integrado por manifestações homogêneas de vontade de órgãos diversos, o
procedimento é composto por uma série deles. É exemplo de ato complexo, para a Fundação Carlos Chagas, o decreto
assinado pelo presidente da república e referendado pelo Ministro.
c)Atos compostos: não se compõem de vontades autônomas, apesar de serem múltiplas. Resultam da
manifestação da vontade de dois ou mais órgãos (alguns autores preferem defender a tese de que os atos compostos
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resultam da vontade de um órgão apenas), sendo a vontade de um deles apenas instrumental em relação à vontade do
outro, que editará o ato principal. Desta forma, haverá a prática de dois atos: um principal e outro (s) acessório (s). Este
último poderá se pressuposto ou complementar daquele. Há, na verdade, uma só vontade autônoma, pois as demais serão
apenas instrumentais. Ex: autorização que dependa do visto de uma autoridade superior e a dispensa de licitação
devidamente homologada pelo agente superior competente. Assim, atos que dependam de aprovação, parecer, ratificação,
laudo, visto ou homologação são classificados como compostos. Estes atos demandam uma vontade unitária, mas
dependem de verificação, ratificação ou ciência de outro órgão ou agente para operacionalizar-se. Assim, há dois ou mais
órgãos que exteriorizam as suas vontades, sendo uma delas autônoma (principal) e as demais apenas instrumentais
(secundárias), formando uma só vontade autônoma. Atenção! A professora Maria Sylvia Zanela Di Pietro classifica o ato
de nomeação do Procurador Geral da República, mediante aprovação prévia pelo Senado, como típico ato composto e não
complexo. O mesmo raciocínio vale para o ato de nomeação dos Ministros do Supremo Federal.
Não se deve confundir “ato composto” com “procedimento administrativo”, uma vez que o primeiro é
representado pela existência de um ato principal e outro acessório, ao passo que o último (procedimento) caracteriza-se
por uma sucessão ordenada de operações que propiciam uma formação de um ato final objetivado pelo Poder Público. O
procedimento administrativo constitui-se de atos intermediários, preparatórios e autônomos, mas sempre interligados e
que se conjugam para dar conteúdo e formar o ato principal.
Encontramos entre os doutrinadores outra forma de classificação dos atos quanto ao conteúdo:
9.6. Quanto à Executoriedade dos Atos ou modo de execução dos atos (Critério da Executoriedade)
a) Atos auto-executórios: tais atos constituem a regra geral. Têm o atributo de serem postos em imediata
execução pela própria Administração e que não dependem de qualquer autorização prévia de qualquer Poder,
principalmente do Judiciário, ou da concordância de terceiros. Ex: atos de organização administrativa, como as instruções,
portarias, circulares etc.
b) Atos não auto-executórios (não-executórios): nestes casos, o Poder público somente pode executar os atos
por via indireta, pois é necessário se socorrer ao Poder Judiciário. Ex: a multa, depois de aplicada pela Administração,
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somente poderá ser cobrada pela via judicial. Em regra, a aplicação em si da multa é ato classificado como auto
executório. Os efeitos pecuniários que do ato resultam é que não podem ser consumados diretamente pela Administração.
Da mesma forma, é ato não-executório a execução da dívida fiscal.
Apesar das grandes divergências doutrinárias, apresentamos, abaixo, as principais espécies de atos
administrativos:
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competência para editá-los. Entre estes atos e os normativos, os últimos são tidos como hierarquicamente superiores. Ex:
circulares, avisos, instruções, portarias internas, ordens de serviço, ofícios, provimentos e despachos. Conforme
leciona Hely Lopes, “não criam, normalmente, direitos ou obrigações para os administrados, mas geram deveres e
prerrogativas para os agentes administrativos a que se dirigem ... esses atos se prestam também à investidura de
servidores subalternos em suas funções e à transmissão de determinações superiores gerais ou especiais, concernentes
ao serviço e a seus executores”.
10.5.1. Licença
Licença é ato:
► administrativo
► negocial (espécie)
► unilateral
► através dela a Administração exerce o seu poder de polícia fiscalizatório.
► a outorga da licença requer um pedido prévio do interessado. Nunca será concedida ex officio.
► vinculado, pois, atendidas pelo interessado as exigências da lei, o poder público terá o dever de conceder a licença. Se
a concessão de licença for negada, caberá a impetração de mandado de segurança, conforme dispõe o artigo 5º, LXIX da
CF/88.
► há um direito subjetivo do interessado à obtenção da licença, vez que se trata de um ato vinculado da Administração.
► a Administração Pública faculta àquele que preencha os requisitos legais o exercício de uma atividade material ou a
realização de fatos materiais antes vedados ao particular. Não é toda e qualquer atividade que requer um ato de licença da
Administração. Mas, aquela que exige o ato, o interessado somente a exercerá de forma legítima se a obtiver.
► em regra, é um ato definitivo (presunção de definitividade), haja vista que, uma vez tendo o particular cumprido com
todas as exigências legais, não caberá à Administração manifestar-se quanto à oportunidade e conveniência do ato visando
revogá-lo. Porém, quando a própria lei que garante o direito à licença determinar o prazo de eficácia da mesma, o ato
deixará de ser definitivo, passando a ser temporário. Se a lei não o faz, a licença será definitiva, como todo ato vinculado.
► Ex: licenças para dirigir, para o exercício de certa profissão regulamentada em lei, licença de localização de
estabelecimento (alvará de funcionamento) e para a construção de uma residência em terreno próprio (alvará de
construção).
► Em regra, e em respeito ao direito adquirido e ao caráter de ato vinculado, a licença não poderá ser revogada. Exceção
ocorre quanto à licença para construção, que poderá ser revogada enquanto não iniciada a obra licenciada, cabendo
indenização ao particular pelos prejuízos causados pela Administração. O próprio Supremo Tribunal Federal reafirmou
anterior decisão no sentido de que não há ofensa a direito adquirido decisão que, no curso do processo de pedido de
licença de construção, em projeto de licenciamento, estabelece novas regras de ocupação de solo, ressalvando-se ao
prejudicado o direito à indenização nos casos em que haja ocorrido prejuízos (RE nº 212.780-RJ, Rel. Min. Ilmar Galvão,
de 1999).
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10.5.2. Permissão
Permissão é ato:
► administrativo apenas quanto à permissão de utilização privativa de bem público. Veja-se que, segundo a doutrina
tradicional, a permissão em sentido amplo é tida como ato administrativo.
► negocial (espécie)
► unilateral quanto à permissão de utilização privativa de bem público.
► gratuito ou oneroso
► dá-se mediante delegação do Poder Público
► discricionário
► precário (veja-se que o artigo 2º, IV da Lei 8.987/95 atribui expressamente à permissão de serviço público a
característica da precariedade).
► José dos Santos carvalho Filho nos afirma que “como regra, a permissão é ato discricionário e precário, no sentido de
que o administrador pode sopesar critérios administrativos para expedi-la, de um lado, e de outro não será conferido ao
permissionário o direito à continuidade do que foi permitido, de modo que poderá o consentimento ser posteriormente
revogado sem indenização ao prejudicado. Convém observar todavia que este é o sentido clássico do ato de permissão,
mas atualmente existem inúmeras restrições e modificações do instituto no sistema normativo vigente.”
► Ainda dentro do sentido clássico de permissão, verificamos que o particular se utilizava desse instituto quando não
necessitasse alocar grandes quantias financeiras para a prestação do serviço. Desta forma, caso a Administração desejasse
extinguir unilateralmente a permissão, poderia fazê-lo sem causar grandes prejuízos ao permissionário e sem ter de
indenizá-lo por isto. Restava, aí, uma das grandes diferenças entre a permissão e a concessão. Contudo, como visto
acima, a doutrina clássica sofreu inúmeras modificações e hoje o conceito de permissão torna-se bastante confuso ao
estudante de concursos públicos. Como entender que a permissão era (e ainda é) precária se a própria Administração
impõe prazos para ela? Depois, veio a CF/88 e, em seu artigo 175 determinou que as permissões deveriam ser precedidas
de licitação. Se há licitação, há regras pré-estipuladas e, dentre elas, prazos para a prestação dos serviços. É a chamada
permissão condicionada ou qualificada. Por esta razão, autores de peso como Celso Antonio Bandeira de Melo e Maria
Sylvia Zanela Di Pietro entendem que se estivermos diante de uma permissão com prazo estipulado pela Administração, a
mesma deverá ser entendida como concessão. Em seguida, entrou em cena a Lei 8.987/93 que trouxe em seu texto a
obrigatoriedade de se firmar contrato de adesão! Ou seja, estamos diante de um instituto que, classicamente era
considerado como ato administrativo e que passou a ter como características a existência de contrato (que nos remete ao
acordo de vontades, característica esta não condizente com o conceito de atos administrativos típicos) e de licitação
(característica não condizente com a precariedade do ato)! Assim, como entender uma Lei que prevê um contrato
precário e revogável unilateralmente pela Administração?
Mas como toda permissão deve ter estipulado o seu prazo, por não existir em nosso ordenamento jurídico a permissão
eterna, significa dizer que a permissão condicionada deve ser entendida, a meu ver, como uma concessão.
Em sentido amplo, a permissão é ato onde:
a) o Poder Público permite ao particular a utilização, em caráter privativo, de um bem público, através do ato
denominado “permissão de uso de bem público”, atendendo-se ao mesmo tempo aos interesses público e privado.
Observe-se que, na autorização de uso de bem público, o interesse predominante é o do particular, apesar de haver o
interesse público em jogo. Na permissão de uso, há um nivelamento entre o interesse privado e o da Administração, onde
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o primeiro deseja auferir lucros com a utilização privativa do bem, ao passo que o segundo possui algum interesse público
na exploração do mesmo. Citamos como exemplos as permissões concedidas para exploração, por particulares, de
vestiários públicos, de banheiros públicos e de restaurantes turísticos em prédios pertencentes à Administração Pública.
Permissões para instalação de bancas de jornal ou uso de calçadas à frente de bares, lanchonetes e pit-dogs também são
citadas por diversos doutrinadores como exemplos típicos de permissões de uso, embora entendamos que estes últimos
exemplos devam localizar-se melhor dentro das situações de autorização de uso de bem público, por haver um interesse
predominante do particular nestes últimos casos mencionados. Em que pese ser polêmica a discussão quanto à diferença
entre autorização de uso e permissão de uso de bem público, o fato é que ambos caracterizam-se por serem atos
administrativos, unilaterais e, em regra, discricionários e precários. Já a concessão de uso de bem público formaliza-se
através de instrumento contratual administrativo, sendo, portanto, fruto de uma relação bilateral. Da mesma forma que as
autorizações e as permissões, as concessões caracterizam-se, também, pela discricionariedade da Administração, que
analisará os critérios da oportunidade e da conveniência na concessão do uso do bem público.
Sendo um ato intuitu personae, a transferência da permissão de uso de bem público a terceiros dependerá de
consentimento expresso do permitente. Se possível, e havendo mais de um interessado no bem público, a Administração
deverá realizar licitação, a fim de evitar favorecimento de alguém e desrespeito ao princípio da impessoalidade.
b) o Poder Público permite que o particular, pessoa física ou jurídica (conforme determina a Lei 8.987/95),
execute serviço de utilidade pública através do ato denominado “permissão de serviço público”, desde que demonstre
capacidade para seu desempenho e o execute por sua conta e risco.
► embora esteja em jogo o atendimento pela Administração de uma solicitação privada, o interesse predominante deverá
ser o da coletividade.
► Vejamos outro entendimento acerca das permissões para a prestação de serviços públicos: conforme dispõe a Lei
8.987/95, em seu artigo 40, a “permissão” está restringida ao uso de bens públicos, porquanto a permissão de serviços
públicos passou a ter natureza jurídica de contrato administrativo bilateral, de adesão, e resultante de atividade vinculada
da administração, tendo em vista a exigência legal de licitação para a escolha do contratado (esta afirmativa, considerada
verdadeira pela banca examinadora da ESAF, fora retirada da prova para a Aneel / Analista Administrativo / realizada em
16-04-2006).
► Ocorre que a Lei 8.987/95 e a CF/88 (art. 175) determinam que a permissão de serviços públicos deverá ser precedida
de licitação. Havendo licitação, a precariedade do ato de permissão ficará mitigada, vez que o permitente não poderá, a
seu exclusivo juízo, dar fim ao ato, salvo quando houver interesse público justificado.
► A permissão, embora seja, em regra, discricionária, poderá ser condicionada (contratual) a partir do momento em que a
própria Administração estabelece autolimitações quanto a prazo, razões de revogação, garantias aos permissionários etc,
ficando a Administração adstrita às próprias limitações por ela criadas. Assim, o Poder Público poderá revogar livremente
uma permissão de uso de bem público se não tiver estipulado qualquer condição, mas se estipular um prazo mínimo de
permissão por dois anos, não poderá extinguir o ato antecipadamente, sob pena de ter de indenizar o particular pelos
prejuízos causados.
► Observe-se que a clássica permissão de serviço público como ato administrativo não mais subsiste em nosso sistema.
Antigamente, adotavam-se duas modalidades de prestação de serviços públicos: concessão de serviços públicos, com a
natureza jurídica de contrato administrativo e a permissão de serviços públicos, com a natureza de ato administrativo.
Contudo, com o advento da Lei 8.987/95, a permissão de serviços públicos fora recepcionada com a natureza jurídica
contratual, considerando-a contrato de adesão. Desta forma, a antiga postura legal de que a permissão de serviços
públicos dava-se através de ato administrativo foi superada, dando lugar à tese atual retromencionada.
► O certo é que a legislação atual não nos permite diferençar a concessão da permissão de serviços públicos. Até mesmo
o STF, no julgamento da ADIN nº. 1.491-DF decidiu, em apertada maioria, que não mais subsiste diferença conceitual
entre elas.
► Também podemos observar a confusão doutrinária a respeito destes dois institutos – concessão e permissão: a Lei
9.472/97, que dispõe do sistema de telecomunicações, trata a permissão como ato administrativo discricionário e precário
(art.118), contrariando, pois, a configuração prevista na Lei nº. 8.987/95.
► Os atos de permissão de uso de bens públicos não são disciplinados nem pelo artigo 175 da CF e nem pela Lei nº.
8.987/95.
► Assim, temos:
► Segundo Marcelo Alexandrino, “A permissão deferida sob condições, especialmente condições onerosas para o
permissionário, como a obrigação de realizar determinadas obras ou investimentos de interesse predominante da
comunidade, embora não chegue a ter desnaturado seu caráter de precariedade, limita a liberdade da Administração no
tocante à sua revogação”.
► Diógenes Gasparini cita, como exemplos, os atos que transferem ao particular a execução dos serviços de transporte
coletivo, de produção e distribuição de energia elétrica ou os que trespassam o uso privativo de um bem público imóvel
(prédio, terreno) ou móvel (cadeira de rodas) a um particular interessado. Referido autor nos informa que é ato “vinculado
se, em relação ao pedido do particular, a Administração Pública não tem liberdade para decidir... e é ato
“...discricionário se sobre o pedido a Administração ... tem liberdade para decidir”.
► É muito interessante a explicação da professora Maria Sylvia quanto à inclusão das permissões de serviços públicos
nas espécies de atos negociais: para ela, “tradicionalmente, a permissão, como ato unilateral, podia ter por objeto a
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utilização privativa de bem público por particular ou a exploração de serviço público. Contudo, o artigo 175, parágrafo
único, inciso I, da Constituição Federal, permitiu a interpretação de que tanto a concessão como a permissão de serviços
públicos são contratos; e a Lei nº. 8.987/95 (que regula as concessões e permissões de serviços públicos) faz referência à
permissão como contrato de adesão, com o traço da precariedade. Por essa razão, a permissão de serviço público não é
mais incluída no conceito de permissão adotado neste item, que trata apenas dos atos unilaterais da Administração”.
►Segundo Celso Antonio Bandeira de Melo, “a permissão é ato, e não contrato, unilateral e precário, intuito persoane,
através do qual o Poder Público transfere a alguém o desempenho de serviço de sua alçada, proporcionando, à moda do
que faz na concessão, a possibilidade de cobrança de tarifas dos usuários”.
► Quanto à permissão para uso de bem público, não há divergências doutrinárias: trata-se de ato administrativo.
► A práxis (prática) administrativa, tem demonstrado que a Administração utilizou-se do instituto da permissão em
diversos setores que, a rigor, deveriam ser contratados mediante concessão de serviços públicos.
10.5.3. Autorização
Autorização é ato:
►administrativo
►negocial (espécie)
►unilateral
►que caracteriza o exercício do poder de polícia estatal sobre a atividade privada.
►discricionário, onde a Administração aprecia a pretensão do particular em face do interesse público.
►precário (é o mais precário, dentre os atos administrativos, vez que há um maior predomínio do interesse privado ou,
até mesmo, um interesse exclusivo do particular).
►dá-se a autorização pelo fato de a atividade ser perigosa à sociedade
►onde o Poder Público a) faculta (outorga) ao indivíduo o uso de bem público ou particular no seu exclusivo ou
predominante interesse, apesar de haver um certo interesse público em jogo, através de autorização de uso (como nos
casos de fechamento de uma rua para a realização de um evento desportivo), ou b) para que o particular exerça uma
atividade material, como nos casos de autorização para prestar serviços de motorista de táxi ou de van, ou c) para a
prática de ato/atividade que, sem o consentimento estatal, seria proibido ao particular, como nos casos de autorização para
porte de arma de fogo (observe que a Lei de Contravenções Penais utiliza incorretamente o termo “licença”) e d) para que
o Poder Público delegue ao particular a exploração de determinados serviços públicos, a título precário,
discricionariamente, de competência da União e devidamente elencados no artigo 21, XI e XII da CF/88. Os serviços
descritos neste artigo poderão ou não ser delegados ao particular, via autorização (podendo ser, também, através de
concessão ou permissão), tendo em vista o poder discricionário conferido à União.
►Exemplos:
1) Autorização da União quanto à produção e o comércio de material bélico (art. 21 da CF/88).
2) Autorização para porte de arma de fogo (Lei nº. 10.826, de 22/12/2003)
3) Autorização (ou concessão) para pesquisa e lavra de recursos minerais e o aproveitamento dos potenciais de energia
hidráulica (art. 176 da CF/88).
4) Autorização da União para exploração, mediante autorização, concessão ou permissão, dos serviços de
telecomunicações, de radiodifusão sonora e de sons e imagens, os serviços e instalações de energia elétrica e o
aproveitamento energético dos cursos de água, a navegação aérea, aeroespacial e a infra-estrutura aeroportuária, os
serviços de transporte ferroviário e aquaviário entre portos brasileiros e fronteiras nacionais, os serviços de transporte
rodoviário interestadual e internacional de passageiros e os portos marítimos, fluviais e lacustres.
►Cuidado com a Lei 9472/97 !!! Ela trata do sistema de telecomunicações e, em seu artigo 131, §1º, qualifica a
autorização de serviço de telecomunicações como ato vinculado.
► A CF/88 dispõe em seu artigo 22, XXI que compete privativamente à União legislar sobre material bélico. A Lei nº.
10.826, de 22/12/2003, que trata do Estatuto do Desarmamento, atribuiu à Polícia Federal competência administrativa
para expedir o ato de autorização competente para o porte de arma de fogo. Contudo, o artigo 4º, §1º, de referida Lei
condicionou a outorga da autorização à expedição prévia de outro ato de autorização, de competência do SINARM
(Sistema Nacional de Armas – órgão integrante do Ministério da Justiça), para a compra e registro da arma. Observe-se
que o Estatuto do Desarmamento, em seu artigo 22, admite a celebração de convênios entre a União e os Estados ou DF
visando a expedição de autorização para a posse e o porte de arma de fogo. Apesar de o interessado ter de preencher os
requisitos elencados no artigo 10, §1º do Estatuto para a autorização de porte, elementos estes vinculados para a
Administração, o ato, para ela, será discricionário, podendo conceder ou não a autorização (após análise da oportunidade e
conveniência). Isto significa que não há que se falar em direito subjetivo prévio à posse e ao porte de arma de fogo, salvo
nos casos expressamente consignados na lei reguladora em seu artigo 6º. Desta forma, podemos dizer que o direito surge
somente após a expedição do ato de autorização.
►As autorizações, uma vez que são concedidas a título precário, não rendem direito a indenização quando revogadas.
► Conclusão: Segundo Maria Sylvia Zanella di Pietro, a autorização é conceituada como o “ato administrativo
unilateral, discricionário e precário pelo qual a Administração faculta ao particular o uso de bem público (autorização
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Direito Administrativo
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de uso), ou a prestação de serviço público (autorização de serviço público), ou o desempenho de atividade material, ou a
prática de ato que, sem esse consentimento, seriam legalmente proibidos (autorização como ato de polícia)”.
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Direito Administrativo
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10.3.5. Admissão
É ato administrativo vinculado que garante ao particular, se preenchidos os requisitos legais, o direito de receber
o serviço público ofertado em determinados estabelecimentos oficiais, tais como nas universidades, escolas e hospitais
públicos.
10.3.6. Aprovação
Através da Aprovação, que é um ato discricionário, a Administração exerce o controle do ato administrativo,
autorizando a edição do mesmo ou o referendando. Citamos como exemplos: aprovação prévia do Senado para a escolha
de Ministro do Tribunal de Contas, de Governador do Território e do Presidente do BACEN (Banco Central).
10.3.7. Homologação
Através da homologação, a Administração reconhece a legalidade do ato. Dá-se somente após a expedição dele.
É ato unilateral e vinculado. Há, neste caso, a análise exclusiva da legalidade do ato, enquanto que na aprovação
observa-se a conveniência e a oportunidade do mesmo. Citamos, como exemplo, a homologação de procedimento
licitatório, descrita no artigo 43, VI, da Lei de Licitações e Contratos (Lei 8.666/93)
10.3.9. Visto
É ato unilateral onde o administrador atesta a legitimidade formal de outro ato administrativo, tal como o visto
da chefia imediata quanto ao requerimento de férias do servidor subalterno. Através do visto, não se está atestando a
concordância com o conteúdo do requerimento. Pelo visto, o agente superior demonstra que conhece o pedido e que o
controla formalmente. Sendo um ato de conhecimento apenas, não havendo uma manifestação de vontade, é classificado
como “mero ato administrativo” e não “ato administrativo propriamente dito” ou “típico”.
10.3.10. Renúncia
Para Hely Lopes, renúncia é o ato pelo qual o Poder Público extingue unilateralmente um crédito ou um direito
próprio, liberando definitivamente a pessoa obrigada perante a Administração”. Não admite condição e é irreversível,
quando consumada. Depende de lei autorizadora.
ATOS NORMATIVOS
11.1. Decretos
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Direito Administrativo
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Provêm com exclusividade dos Chefes do Executivo. Dependendo do conteúdo, classificam-se em decretos
gerais ou normativos (que têm caráter normativo e traçam regras gerais, tais como o decretos regulamentares ou de
execução, que regulamentam as leis) ou individuais (que possuem destinatários individualizados, específicos, tais como os
decretos que nomeiam ou exoneram servidores). Em regra, o Decreto é normativo e geral, embora possa ser utilizado,
também, como ato individual ou específico.
Sendo ato administrativo, o Decreto se encontra hierarquicamente inferior à Lei (do Legislativo).
Apesar de alguns autores, dentre eles o Hely Lopes Meirelles, defenderem a existência e a validade dos
chamados decretos gerais autônomos ou independentes, desde que referidos decretos não tratem de matérias que somente
por lei podem ser tratadas, o nosso ordenamento pátrio não os previu.
O decreto geral, sendo ato do Chefe do Executivo, que visa regulamentar a lei, dá-se através da expedição de
norma administrativa (ato administrativo). Trata-se, portanto, de atividade de caráter administrativo. José dos Santos
Carvalho Filho ressalta que “deve-se registrar, a bem da verdade, que o caráter administrativo decorre do exame do ato
sob o aspecto orgânico (o órgão de que emana) e formal (processo de criação idêntico aos dos demais atos
administrativos). Não obstante, sob o aspecto material ou substancial, podem os decretos ser considerados como tendo
caráter legislativo ou normativo, eis que projetam normas gerais, abstratas e impessoais”. Deve-se observar que alguns
autores consideram os regulamentos como espécie de ato administrativo. Apesar da CF/88, em seu art. 84, IV, dispor que
compete ao Presidente da República expedir decretos e regulamentos, estes últimos não constituem atos autônomos, pelo
contrário, mostram-se sempre como apêndices de outros atos administrativos (em regra, dos decretos). Por esta razão,
Hely Lopes Meirelles os qualifica como “atos administrativos postos em vigência por decreto”. Apesar disso, projetam-
se dotados de forma própria, pois, se analisados sob o aspecto formal, os regulamentos são atos diversos dos decretos que
os aprovam e acompanham. Portanto, podemos concluir que os regulamentos trazem a lume o conteúdo, a matéria que a
Administração pretende externar, qual seja, a regulamentação das leis. Para tanto, para que o regulamento possa ser
exteriorizado, necessita do revestimento formal: decreto (forma mais comum), resolução, regimento etc.
11.2. Regulamentos
São atos administrativos (e não legislativos), com eficácia externa e em vigência normalmente através de um
Decreto, que os apresenta e aprova. Sendo atos hierarquicamente inferiores à Lei, não podem modificá-la, e sim, explicitá-
la, detalhá-la. Servem para prover sobre minúncias não abrangidas pela norma geral editada pelo Poder Legislativo, sendo
denominados de regulamentos de execução. Tais regulamentos devem ser publicados da mesma forma que as leis por eles
regulamentadas, uma vez que possuem eficácia externa. Observe-se que algumas leis necessitam de regulamentação para
que possam ser executadas, ao passo que outras independem deles, sendo auto-executáveis. De qualquer forma, qualquer
Lei pode ser regulamentada, tendo em vista o poder discricionário da Administração Pública. Tais regulamentos emanam
do poder regulamentar da Administração.
11.4. Regimentos
São atos administrativos. Pertencem à espécie de atos normativos. São internos e têm a finalidade de reger o
funcionamento dos órgãos colegiados e das corporações legislativas. Sendo atos internos, deverão obediência a eles
somente os que devem executar os serviços por eles regulamentados, ficando os particulares isentos desse desiderato.
Conforme leciona Hely Lopes Meirelles, “os atos regulamentares internos (regimentos) constituem modalidade diversa
dos regulamentos externos (... ou de execução) e produzem efeitos mais restritos que estes. Os regulamentos... de
execução disciplinam situações gerais e estabelecem relações jurídicas entre a Administração e os administrados; os
regimentos destinam-se a prover o funcionamento dos órgãos da Administração, atingindo unicamente as pessoas
vinculadas à atividade regimental”. Os regimentos emanam do poder hierárquico da Administração Pública, ou da
capacidade de auto-organização interna das corporações legislativas. Em regra, o regimento é posto em vigência através
de uma resolução do órgão diretivo do colegiado (Presidência ou Mesa). Os regimentos, ao contrário dos regulamentos,
por serem atos internos, podem dispensar a publicação, bastando que os agentes sujeitos às suas regras tomem
conhecimento de seu conteúdo. Contudo, com o fim de resguardar a transparência e a moralidade dos atos administrativos,
é conveniente que tais atos sejam publicados, até porque podem vir a interessar de maneira indireta os administrados.
Por fim, Hely Lopes Meirelles nos ensina que “pelo regimento, comumente, estabelece-se a tramitação interna
dos recursos administrativos e se disciplina o andamento dos papéis no âmbito das repartições. Tratando-se de
regimento de corporações legislativas, seu principal objetivo é regular o funcionamento do Plenário para suas
deliberações e demais atos de economia interna da Câmara. Quanto às relações entre o Poder Público e os cidadãos,
refogem do âmbito regimental, devendo constar de lei ou de decreto regulamentar. Os regimentos se destinam a
disciplinar o funcionamento dos serviços públicos, acrescentando às leis e regulamentos disposições de pormenor e de
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Direito Administrativo
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natureza principalmente prática”. Ex: resoluções do JARI (órgão municipal de Goiânia e que possui direção colegiada).
Sua competência é a de decidir recursos administrativos relativos a multas de trânsito.
11.5. Resoluções
São atos administrativos. Pertencem à espécie de atos normativos e são oriundos dos altos escalões
administrativos (tais como Ministros e Secretários de Estado ou Município ou de algumas pessoas administrativas ligadas
ao governo) ou pelos presidentes de tribunais e colegiados administrativos, excluindo-se os Chefes do Executivo, cuja
competência é a de expedir privativamente os decretos e regulamentos visando a fiel execução deles. A matéria das
resoluções está inserida na competência específica dos agentes administrativos ou pessoas jurídicas responsáveis por sua
expedição. Excepcionalmente admitem-se as resoluções individuais, uma vez que, de regra, são atos gerais. Em uma
escala hierárquica, as resoluções estão abaixo dos regulamentos e dos regimentos. Da mesma forma que os decretos não
podem ferir a lei preexistente a eles, as resoluções não poderão, a seu turno, inovar ou contrariar tais regulamentos e
regimentos, mas tão somente complementá-los e explicitá-los. Seus efeitos podem ser internos ou externos. Não devemos
confundir essas resoluções com aquelas emanadas do Senado ou Congresso Nacional (que não dependem de sanção
presidencial e têm as regras jurídicas de elaboração conforme dispõem o seu Regimento interno ou comum). Essas
resoluções, normalmente, tratam de assuntos de interesse direto das Casas Legislativas. Vide arts. 155, §2º, IV e 68, §2º,
ambos da CF/88.
11.6. Deliberações
São atos administrativos oriundos de órgãos colegiados e possuem finalidade normativa ou decisória. Quando
as deliberações têm finalidade normativa, classificam-se como atos gerais. Se decisórios, são atos individuais, onde os
destinatários desses atos são individualizados, determinados. Quanto à hierarquia, as deliberações normativas são
superiores em relação às deliberações decisórias. Assim, as primeiras nunca poderão ser revogadas pela segunda, mas
somente por outra deliberação normativa. Hely Lopes declara que “as deliberações devem sempre obediência ao
regulamento e ao regimento que houver para a organização e funcionamento do colegiado. Quando expedidas em
conformidade com as normas superiores são vinculantes para a Administração e podem gerar direitos subjetivos para
seus beneficiários”. Assim, as deliberações representam atos simples coletivos, pois têm origem, em regra, de órgãos
colegiados (conselhos, comissões, tribunais administrativos), onde normalmente representam a vontade majoritária de
seus integrantes.
ATOS ORDINATÓRIOS
11.7. Instruções
São atos administrativos ordinatórios consubstanciados no poder hierárquico da Administração, através de
ordens escritas gerais (orientações) aos subordinados, relativas ao modo e forma do desempenho de determinada função,
visando a correta e uniforme execução dos serviços públicos. Servem, portanto, para que o Poder Público organize suas
atividades e seus órgãos. Apesar disso, na prática, muitos desses atos são utilizados com caráter normativo, ostentando
regras gerais e abstratas, contrariando a finalidade originária de tais atos.
11.8. Circulares
São atos administrativos ordinatórios consubstanciados no poder hierárquico da Administração e de efeito
interno. Conforme assevera Hely Lopes, as “circulares são ordens escritas, de caráter uniforme, expedidas a
determinados funcionários ou agentes administrativos incumbidos de certo serviço, ou do desempenho de certas
atribuições em circunstâncias especiais. São atos de menor generalidade que as instruções, embora colimem o mesmo
objetivo: o ordenamento do serviço”. Servem, portanto, para que o Poder Público organize suas atividades e seus órgãos.
Apesar disso, na prática, muitos desses atos são utilizados com caráter normativo, ostentando regras gerais e abstratas,
contrariando a finalidade originária de tais atos.
11.9. Avisos
Os avisos são modalidades de comunicação oficial expedidos exclusivamente pelos Ministros de Estado para as
autoridades que se encontram em idêntica hierarquia, tendo como finalidade o tratamento de assuntos oficiais afetos aos
seus Ministérios.
11.10. Ofícios
Os ofícios são modalidades de comunicação oficial escrita expedidos para e pelas autoridades administrativas.
Tem como finalidade o tratamento de assuntos oficiais pelos órgãos administrativos entre si e os particulares. Os ofícios
são praticamente idênticos aos avisos, sendo que a única diferença entre eles reside no fato de que os avisos são expedidos
exclusivamente pelos Ministros de Estado para as autoridades de mesma hierarquia, enquanto que os ofícios são editados
para e pelas demais autoridades públicas. Segundo Hely Lopes Meirelles, os ofícios são “comunicações escritas que as
autoridades fazem entre si, entre subalternos e superiores e entre Administração e particulares... e tanto podem conter
matéria administrativa como social”.
11.11. Memorandos
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Direito Administrativo
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Os memorandos são atos ordinatórios oficiais internos que se prestam à comunicação entre as unidades
administrativas de um mesmo órgão, que podem estar hierarquicamente em mesmo nível ou não. Tem como característica
principal a rapidez e a simplicidade de procedimentos burocráticos. Os despachos devem ser dados no próprio documento,
formando um procedimento simplificado.
11.12. Portarias
São atos ordinatórios internos, consubstanciados no poder hierárquico da Administração, expedidos por
Ministros e outras autoridades (chefes de órgãos, repartições ou serviços) contendo instruções gerais ou individuais a seus
subordinados acerca da organização e funcionamento dos serviços, além da prática de outros atos de sua competência,
como a abertura de sindicância e processo administrativo. Tais atos não atingem os particulares, haja vista que o poder
hierárquico conferido à Administração Pública não os atinge. Servem, portanto, para que o Poder Público organize suas
atividades e seus órgãos. Citamos como exemplo a portaria que dá exercício ao servidor empossado. Apesar disso, na
prática, muitos desses atos são utilizados com caráter normativo, ostentando regras gerais e abstratas, contrariando a
finalidade originária de tais atos.
Ex: a Portaria n. 5, de 07/02/2002, expedida pelo Chefe da Casa Civil da Presidência da República, aprova o Regimento
Interno do Conselho Nacional de Arquivos.
11.14. Provimentos
São atos oficiais ordinatórios, internos, expedidos pela Corregedoria ou pelos tribunais. Contém determinações e
instruções visando a regularização e uniformização dos serviços, principalmente os da Justiça, com o intuito de evitar
erros e omissões na observância da lei.
11.15. Despachos
São atos administrativos ordinatórios, internos, que emitem alguma decisão acerca dos requerimentos e
processos sujeitos à apreciação da autoridade administrativa competente. Referidos despachos ocorrem em qualquer
Poder (Executivo, Legislativo ou Judiciário), desde que no exercício da função administrativa. Observe que o despacho
denominado de normativo (despacho normativo) é aquele que, embora proferido em um caso individual (concreto), a
autoridade competente determina que seja aplicado nos demais casos idênticos, passando a vigorar, então, como norma
interna da Administração (efeito vinculante).
ATOS ENUNCIATIVOS
11.6. Pareceres
São opiniões, manifestações de órgãos técnicos ou agentes administrativos sob matéria submetida à sua
apreciação. Em havendo a obrigatoriedade de se apresentar o parecer, o mesmo deverá ser juntado aos autos, sob pena de
não o fazendo os mesmos serem considerados nulos. Neste caso, a presença do parecer faz-se necessária, apesar de seu
conteúdo não ser vinculante para a Administração, salvo nos casos em que a lei exija o pronunciamento favorável do
órgão emitente do parecer.
Quando facultativos, os pareceres não estão obrigados à formalização para que o ato seja considerado válido.
Quando a decisão da autoridade competente se limita a aprovar o parecer, fica este integrado naquele como
razão de decidir. Assim, a decisão corresponderá ao motivo do ato. Ao revés, se a decisão for contrária ao parecer, deverá
apresentar as razões que levaram a autoridade a decidir de modo contrário sob pena de ser considerado abuso de poder por
não render ensejo à verificação da legalidade do ato.
O parecer será normativo quando convertido em norma de procedimento interno. O parecer será técnico quando
oriundo de órgão ou agente especializado no assunto. Aqui não prevalece a hierarquia, uma vez que a autoridade
competente deverá acatar o conteúdo do parecer haja vista que não há que se falar em subordinação no campo da técnica.
Assim, se a junta médica oficial do INSS confirmar que o indivíduo encontra-se permanentemente incapacitado para o
trabalho, não poderá o administrador negar-lhe esta incapacidade e deverá conceder a aposentadoria.
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Direito Administrativo
Professor Thales Perrone
vontade, mas tão somente relata os fatos que constam em seus documentos ao interessado. Se autenticadas, possuem o
mesmo valor probante que os documentos originais. A CF/88, em seu artigo 5, XXXIV, “b”, declara que o fornecimento
de certidões independe do pagamento de taxas e deverá ser fornecido ao requerente para defesa de direitos ou
esclarecimento de situações de interesse pessoal. A Administração terá o prazo de 15 dias (se a lei específica para o caso
não dispuser de outro prazo) para expedir o documento, contado do registro do requerimento, que deverá apresentar os
motivos a que se destinam. Citamos como exemplo a Certidão Negativa de Débitos, que comprova a quitação de tributos
junto à Administração Fazendária.
11.9. Apostilas
Apostila é a averbação, feita abaixo dos textos ou no verso de decretos e portarias pessoais (nomeação,
promoção, ascensão, transferência, readaptação, reversão, aproveitamento, reintegração, recondução, remoção,
exoneração, demissão, dispensa, disponibilidade e aposentadoria), para que seja corrigida flagrante inexatidão material do
texto original (erro na grafia de nomes próprios, lapso na especificação de datas, etc.), desde que essa correção não venha
a alterar a substância do ato já publicado.
Tratando-se de erro material em decreto pessoal, a apostila deve ser feita pelo Ministro de Estado que o propôs. Se o
lapso houver ocorrido em portaria pessoal, a correção por apostilamento estará a cargo do Ministro ou Secretário
signatário da portaria. Nos dois casos, a apostila deve sempre ser publicada no Boletim de Serviço ou Boletim Interno
correspondente e, quando se tratar de ato referente a Ministro de Estado, também no Diário Oficial da União.
A finalidade da correção de inexatidões materiais por meio de apostila é evitar que se sobrecarregue o Presidente da
República com a assinatura de atos repetidos, e que se onere a Imprensa Nacional com a republicação de atos.
Fonte: vide manual de redação oficial elaborado pela Presidência da República.
ATOS PUNITIVOS
11.10. Multas
Conforme leciona Hely Lopes, é “toda imposição pecuniária a que se sujeita o administrado a título de
compensação do dano presumido da infração”.
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Direito Administrativo
Professor Thales Perrone
Com o desaparecimento do sujeito beneficiário da vontade administrativa, o ato se extingue. Assim, por
exemplo, com a morte do permissionário de um determinado serviço público, por ser um ato personalíssimo em regra, o
ato será extinto por falta do elemento subjetivo, da mesma forma que a autorização de uma pessoa para o porte de arma se
extinguirá com o óbito dela.
13.4. Caducidade
Segundo JSCF, caducidade significa para o ato “a perda de efeitos jurídicos em virtude de norma jurídica
superveniente contrária àquela que respaldava a prática do ato. O ato, que passa a ficar em antagonismo com a nova
norma, extingue-se”. Para melhor compreensão do tema, vejamos a seguinte situação: a Administração concede a um
particular a prestação de determinado serviço público, haja vista a existência de norma legal autorizativa. Se, após a
formalização do ato de permissão, surgir nova regulamentação acerca da matéria, proibindo ao Poder Público delegar
referido serviço, o ato anterior de permissão extinguir-se-á por caducidade. Também encontramos o fenômeno da
caducidade quando um circo perde antiga permissão para explorar parque de diversões em local doravante proibido, tendo
em vista a edição de uma nova lei de zoneamento no setor.
13.5. Cassação
É forma de extinção volitiva do ato, ou seja, dá-se por manifestação de vontade da Administração, ao passo que
as formas de extinção acima descritas ocorrem independentemente da vontade dela. Ocorre quando o beneficiário do ato
descumpre com as suas obrigações legais ou regulamentares. Observe-se que, para a Administração, a aplicabilidade de
uma sanção legal ao infrator da norma configura-se em ato vinculado, mas isto não quer dizer, necessariamente, que a
Administração deverá impor, em toda e qualquer circunstância, a penalidade máxima, qual seja, a de cassação do ato. De
qualquer sorte, a Administração somente poderá extinguir o ato nas hipóteses previamente determinadas na lei. Além
disso, trata-se de ato punitivo, a partir do momento em que há uma sanção contra o beneficiário que deixou de cumprir as
condições para a subsistência do ato. Assim, a cassação da autorização para o porte de arma, por exemplo, poderá ser
expedida pela Administração caso o beneficiário da mesma seja detido ou abordado em estado de embriaguez ou sob
efeito de substâncias químicas ou alucinógenas, em conformidade com o disposto no artigo 10, § 2º da Lei nº. 10.826/03
(Estatuto do Desarmamento) ou quando da cassação de licença para funcionamento de hotel por haver se transformado em
cassino ou casa de tolerância.
71
Direito Administrativo
Professor Thales Perrone
ou simplesmente praticando ato não previsto na legislação. O crime de abuso de poder está descrito
na Lei 4.898/65.
c) Exercício de função de fato (teoria do funcionário de fato ou teoria do agente público de fato
ou, simplesmente, exercício de fato), onde a agente praticante do ato encontra-se irregularmente
investido no cargo, emprego ou função, porém, sua situação apresenta aparência de legalidade. É
uma situação mais branda, se comparada com a do usurpador da função pública. O exemplo
clássico é o do servidor aposentado compulsoriamente e que continua exercendo as suas
atribuições. É uma situação onde o agente não tem titulação legal para agir como agente público.
Este ato é considerado, pela maioria dos doutrinadores, como válido (se por outro motivo não for
viciado), desde que tenha havido boa-fé do administrado e do agente, em respeito à “teoria da
aparência”, ao princípio da segurança jurídica e à presunção de legitimidade de todos os atos da
Administração. Celso Antonio Bandeira de Melo nos ensina que “invalidada a investidura do
funcionário de fato, nem por isso ficará ele obrigado a repor aos cofres públicos aquilo que
percebeu até então. Isto porque, havendo trabalhado para o Poder Público, se lhe fosse exigida a
devolução dos vencimentos auferidos haveria um enriquecimento sem causa do Estado, o qual,
destarte, se locupletaria com trabalho gratuito.”
Sendo o vício no elemento “competência”, dependendo da situação, o ato poderá se convalidado (vide item 15, abaixo)
ou deverá ser anulado. Assim, vício que diga respeito à matéria ou quando se trate de competência exclusiva de outro
agente, não poderá ser convalidado. Portanto, se o Ministro da Cultura expede uma portaria tratando de assuntos relativos
ao Ministério da Saúde, ou se um Secretário Estadual edita um decreto regulamentar (que é de competência exclusiva do
Chefe do Executivo), referidos atos deverão ser anulados. Ao revés, se o ato tiver sido editado por agente incompetente, e
não sendo o mesmo exclusivo, poderá a Administração convalidá-lo, conforme determina o artigo 54 da lei 9.784/99.
Se o ato for praticado com finalidade diversa daquela expressa na lei, o agente estará praticando abuso de poder,
em sua modalidade desvio de poder (ou desvio de finalidade). Haverá, neste caso, vício de finalidade. O vício de forma,
conforme assevera José dos Santos Carvalho Filho, “provém do ato que inobserva ou omite o meio de exteriorização
exigido para o ato, ou que não atende ao procedimento previsto em lei como necessário à decisão que a Administração
deseja tomar”. Para exemplificar a questão, o renomado autor apresenta a hipótese em que a lei exige a motivação do ato
e o agente não a apresenta ou quando se pune sumariamente o servidor sem que lhe tenham sido proporcionados a ampla
defesa e o contraditório. Ainda em relação aos vícios quanto aos requisitos dos atos administrativos, encontramos o vício
do motivo, que poderá dar-se de três maneiras: a) inexistência de fundamento para o ato; b) fundamento inverídico e c)
fundamento não conexo com o objetivo pretendido pelo Poder Público. Desta forma, se o administrador pratica ato sem
razão, ou se se baseia em fato inexistente ou quando apresenta justificativa não condizente com o objetivo colimado pela
Administração estará agindo com vício de motivo. Por último, o vício de objeto ocorre quando a Administração pratica
ato dotado de conteúdo diverso do que a lei determina ou autoriza. Há vício de objeto quando o mesmo for contrário à lei
ou à moral, se for impossível ou indeterminável. É por esta razão que se houver algum ato administrativo autorizando
menores a comprarem e consumirem bebidas alcoólicas, o mesmo será invalidado, por vício de objeto, da mesma forma
que o ato que aplica sanção mais severa do que a adequada ao caso concreto.
Em havendo vício de legalidade, tanto a Administração Pública editora do ato (ou o órgão hierarquicamente
superior a ela), independente de provocação de terceiros, quanto o Poder Judiciário (mediante provocação do interessado),
estarão legitimados a promover a invalidação (anulação) dele. A Administração utiliza o poder de autotutela. O Judiciário,
o controle denominado exógeno.
A invalidação do ato administrativo opera efeitos ex tunc (efeitos retroativos). A nulidade é contada desde a
edição do ato, retroagindo à origem dele, desfazendo-se todas as relações jurídicas resultantes deste ato declarado nulo.
Porém, no intuito de não prejudicar os direitos dos terceiros que tenham agido com boa-fé e que não tenham contribuído
para a invalidação do ato, seus direitos ficam resguardados da esfera de incidência do desfazimento. Conforme assevera
JSCF, “exemplo clássico é o de um agente coletor de tributos com investidura ilegítima. Invalidada a investidura,
produzindo efeitos em relação ao servidor e à Administração, nem por isso se deixará de validar a quitação obtida por
contribuintes pelo pagamento de impostos feitos àquele servidor”. Por qual motivo os terceiros de boa-fé têm seus direitos
resguardados quanto aos efeitos da anulação do ato irregular? Para encontrar a resposta, basta nos lembrarmos de que
todos os atos administrativos nascem com o atributo da presunção de legitimidade. Desta forma, o agente ilegitimamente
nomeado para um determinado cargo público deverá ter anulada a sua nomeação, ou seja, a sua relação jurídica com o
Poder Público. Porém, não serão anulados os efeitos decorrentes dos atos praticados ilegitimamente por ele no
desempenho de suas atribuições, desde que os destinatários sejam pessoas de boa-fé. Autores como Marcelo Alexandrino
e Vicente Paulo nos lembram que “o ato nulo não gera direitos ou obrigações para as partes, não cria situações jurídicas
definitivas e não admite convalidação. Mas ensinam que “essa regra – o ato nulo não gera efeitos - , porém, há que ser
excepcionada para com os terceiros de boa-fé que tenham sido atingidos pelos efeitos do ato anulado.”
Deve-se observar, contudo, que se o ato é inválido, mas o prazo legal para invalidá-lo já se escoou, o mesmo
deverá permanecer como estava, seja qual for o vício de que esteja inquinado. Estamos falando, aqui, da hipótese de
prescrição (hoje considerada como decadência) do direito de a Administração anular o ato. A doutrina majoritária
entende que a prescrição incide em relação aos atos inválidos e que o prazo para invalidar o ato nulo é de cinco anos
(prescrição qüinqüenal), em conformidade com o que determina o Decreto nº. 20.910/32 e o Decreto-Lei nº. 4.5697/42.
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Da mesma forma, não há que se falar em invalidação quando as conseqüências jurídicas do ato gerarem tal
consolidação fática que a manutenção do ato será mais recomendável por atender ao interesse público do que extingui-lo,
criando maiores agravos à sociedade (teoria do fato consumado). O doutrinador Regis Fernandes de Oliveira apresenta
uma situação onde a administração municipal autoriza, sem poder, a realização de loteamento em determinada área
pertencente ao município. O ato é nulo. Contudo, em vista do ato editado por autoridade competente, diversas famílias
edificaram seus imóveis no local, valorizando-o. Nesta situação, a Administração terá a faculdade de convalidar o ato,
haja vista que a invalidação do mesmo acarretará maiores prejuízos aos moradores do local que tenham agido de boa-fé (e
não com dolo).
Não podemos esquecer, também, que a Lei nº. 9784/99, que trata do processo administrativo federal, trouxe
expressamente em seu texto a obrigatoriedade da Administração Pública obedecer ao princípio da segurança jurídica,
estudado no capítulo um desta apostila. Lembramos que este princípio visa a impedir que situações jurídicas permaneçam
eternamente em grau de instabilidade, criando incertezas aos destinatários dos atos da Administração. Por esta razão,
referida Lei, em seu artigo 54, limitou a ação administrativa de anular seus atos que tenham produzido efeitos favoráveis
aos destinatários no prazo decadencial de cinco anos, contados da data da prática do ato.
A administrativista, Maria Sylvia Z. di Pietro, nos ensina que “diante de determinados casos concretos, pode
acontecer que a manutenção do ato ilegal seja menos prejudicial ao interesse público do que a sua anulação; nesse caso,
pode a Administração deixar que o ato prevaleça, desde que não haja dolo, dele não resulte prejuízo ao erário, nem a
direitos de terceiros; é o que ocorre, por exemplo, com os atos praticados por funcionários “de fato”.
Importante destacar, por último, que ao particular a ser prejudicado pelo ato extintivo, deve ser oportunizado o
direito ao contraditório e à ampla defesa, devidamente mencionados no art. 5º, LV, CF/88, conforme entendimento que
vem se fortalecendo entre os doutrinadores pátrios.
13.7. Revogação
É forma de extinção volitiva do ato, ou seja, dá-se por manifestação de vontade da Administração, mediante
juízo de mérito.
Quando desejar a Administração Pública retirar (extinguir) do mundo jurídico atos administrativos válidos,
legítimos, perfeitos, por terem se tornado inconvenientes, inoportunos ou desnecessários estaremos diante do instituto da
revogação. Observe-se que a revogação somente poderá ser aplicada em se tratando de atos discricionários, por motivos
de interesse público superveniente. Portanto, a revogação é um ato discricionário que incidirá sobre outro ato
discricionário. Será realizada pelo próprio órgão editor do ato ou por seu superior hierárquico e tem o caráter da
definitividade. O poder Judiciário não poderá revogar o ato editado pelo Executivo, mas tão somente quando o ato
administrativo tiver sua origem nele próprio. Mas, aí, o Judiciário estará exercendo a sua função administrativa, e não
judicial, revogando ato administrativo elaborado pelo próprio Tribunal. Assim, está certo dizer que todos os Poderes
políticos (Executivo, Legislativo e Judiciário) de qualquer das esferas administrativas (União, Estados, Distrito Federal ou
Municípios) têm competência para revogar os atos administrativos por eles próprios editados e que o Judiciário jamais
poderá revogar ato administrativo editado por ele quando estiver no exercício de sua função típica jurisdicional.
Na revogação, deverão ser respeitados os direitos adquiridos e operam-se efeitos ex nunc (efeitos pro ativos, ou
seja, da data em diante). Quanto aos efeitos jurídicos já produzidos pelo ato até o momento, os mesmo permanecem
intocáveis.
Observe-se, então, que certos atos são irrevogáveis, pois o poder discricionário para revogá-los não é ilimitado.
São eles: a) os atos consumados (cujos efeitos jurídicos encontram-se exauridos); b) os atos vinculados; c) os atos que
tenham gerado direitos adquiridos, em conformidade com o disposto no artigo 5º, XXXVI, CF/88, tais como àqueles
que tenham concedido aposentadoria ao servidor após ele ter preenchido os requisitos legais exigidos para a sua fruição;
d) os atos integrativos de um procedimento administrativo (observe-se que se opera a preclusão do ato anterior pela
simples prática do ato seguinte). Por esta razão, não se revoga o ato de adjudicação no procedimento licitatório já tendo
havido a assinatura do contrato; e) os atestados, pareceres e certidões (são os denominados meros atos administrativos).
Em regra, a revogação não gera para a Administração o dever de indenizar. Em certas circunstâncias, porém,
isto poderá ocorrer, tal como ocorre com a revogação de uma permissão onerosa antes do prazo determinado.
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“1) Quando os efeitos do ato viciado forem favoráveis ao administrado, a Administração disporá de cinco anos
para anulá-lo, prazo este decadencial. Findo este prazo sem manifestação da Administração, convalidado estará o ato e
definitivos serão os efeitos dele decorrentes, salvo comprovada má-fé (do beneficiário). Trata-se de hipótese de
convalidação tácita.
2) O art. 55 prevê a possibilidade de convalidação expressa, por iniciativa da Administração, quando dos
efeitos do ato não resulte lesão ao interesse público ou a terceiros. A lei expressamente utiliza o termo “defeitos
sanáveis”, para referir-se a tais vícios ”.
Vale lembrar que a Administração poderá convalidar o ato irregular nas hipóteses em que a sua anulação venha
a acarretar maiores prejuízos à coletividade do que a manutenção dele.
Assim, ato praticado com vício no sujeito (competência) possibilita a convalidação se a competência não for
exclusiva (ou indelegável). Vício de incompetência em razão da matéria não admite convalidação. Vícios nos elementos
finalidade e motivo não admitem convalidação. Objeto ilegal também não admite convalidação e vício na forma (se
essencial à validade do ato) também não. Se não for essencial, cabe a convalidação.
CAPÍTULO V
BENS PÚBLICOS
1. INTRODUÇÃO
Segundo Celso Antonio Bandeira de Melo, bens públicos são “todos os bens que pertencem às pessoas
jurídicas de Direito Público, isto é, União, Estados, Distrito Federal, Municípios, respectivas autarquias e fundações de
Direito Público... bem como os que, embora não pertencentes a tais pessoas, estejam afetados à prestação de um serviço
público”. Portanto, para este autor, as pessoas jurídicas de Direito Público pertencentes à Administração Direta (U/E/DF e
M) ou à Administração Indireta (Autarquias e Fundações Públicas com personalidade jurídica de direito público), e as
pessoas jurídicas de Direito Privado, prestadoras de serviços públicos e pertencentes à Administração Indireta, tais como
as empresas públicas, as sociedades de economia mista e as fundações públicas de direito privado, possuem, como
patrimônio, bens públicos.
Contudo, defendendo uma teoria mais restritiva, alguns doutrinadores ensinam que os bens públicos são aqueles
pertencentes - exclusivamente - às pessoas que possuam personalidade jurídica de Direito Público. Desta forma, para
estes, os bens pertencentes às empresas públicas, sociedades de economia mista e fundações públicas de Direito Privado
são privados, mesmo que sejam prestadoras de serviços públicos. Estes doutrinadores encontram respaldo no artigo 98 do
atual Código Civil que, tratando do tema, esclarece que são bens públicos os do domínio nacional, das pessoas jurídicas de
Direito Público interno e são bens particulares todos os demais, seja qual for a pessoa a que pertencerem.
Por último, pautando-se em uma tese mais ampla, verificamos alguns estudiosos que alegam ser públicos
TODOS os bens pertencentes à Administração Direta e Indireta.
Particularmente, ficamos com a teoria de Celso Antonio Bandeira de Melo, primeiramente exposta. Sendo
assim, defendemos a tese de que os bens das empresas estatais (empresas públicas e sociedades de economia mista)
exploradoras de atividades econômicas não são públicos, uma vez que referidas entidades possuem personalidade
jurídica de direito privado. Contudo, as empresas públicas e as sociedades de economia que prestem serviços públicos
terão seus bens caracterizados como públicos, não podendo ser penhorados ou gravados com ônus reais, em respeito ao
princípio da continuidade dos serviços públicos, uma vez que seus bens se encontram afetados à prestação desses serviços
públicos.
Hely Lopes Meirelles considera que os bens pertencentes às empresas públicas e às sociedades de economia
mista são tidos como bens públicos com destinação especial, alegando que “a despeito de serem públicos, dada sua
destinação especial as organizações de personalidade privada e sua administração em moldes particulares, os bens das
empresas estatais prestam-se a oneração como garantia real e sujeitam-se a penhora por dívidas da entidade, como,
também, podem ser alienados na forma estatutária, independentemente de lei autorizativa, se móveis. Os bens imóveis
dependem de lei para sua alienação (Lei 8.666/93, art. 17, I). No mais, regem-se pelas normas de Direito Público,
inclusive quanto à imprescritibilidade por usucapião...”.
2. CLASSIFICAÇÃO DOS BENS PÚBLICOS: observemos que a classificação dos bens públicos é encontrada no
artigo 99 do Código Civil.
a) Quanto à titularidade: dependendo do titular, os bens podem ser federais, estaduais, distritais ou municipais.
b.1) Bens de uso comum do povo (ou do domínio público): Conforme assevera Maria Sylvia Zanella Di Pietro, tais bens
são aqueles que por determinação legal ou por sua própria natureza, possam ser utilizados por todos em igualdade de
condições. Destinam-se, por natureza ou por lei, à utilização geral pela sociedade, independente de autorização específica
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da Administração, tais como as praças, as ruas, as estradas, os praias, os rios, os mares, os lagos etc. Conforme asseveram
Marcelo Alexandrino e Vicente Paula, “esses bens, apesar de destinados à população em geral, estão sujeitos ao poder
de polícia do Estado, consubstanciado na regulamentação, na fiscalização e na aplicação de medidas coercitivas,
visando à conservação da coisa pública e à proteção do usuário”. Referidos bens são inalienáveis enquanto conservarem
a sua qualificação, conforme veremos mais abaixo.
b.2) Bens de uso especial (ou do patrimônio administrativo): são aqueles bens móveis ou imóveis, corpóreos ou
incorpóreos, utilizados pelo Poder Público para a execução de suas atividades, de seus serviços públicos, ou para o
estabelecimento da Administração, visando a consecução de seus fins, tais como os prédios públicos dos três Poderes, os
aeroportos, os teatros, as escolas e universidades públicas, os hospitais, as prefeituras, as terras reservadas aos indígenas,
os mercados, os veículos oficiais, os navios militares, os terrenos destinados aos serviços públicos, os museus, as
bibliotecas, os cemitérios públicos etc. Referidos bens são inalienáveis enquanto conservarem a sua qualificação. Por
terem uma finalidade pública permanente, são denominados de bens patrimoniais indisponíveis. Referidos bens são
afetados a um serviço ou estabelecimento público. Assim, conforme assevera o artigo 99, II do atual Código Civil, são
bens públicos “os de uso especial, tais como edifícios ou terrenos destinados a serviços ou estabelecimento da
administração federal, estadual, territorial ou municipal, inclusive os de suas autarquias”. Os bens não perdem a sua
característica de uso especial se estiverem sendo utilizados por particulares objetivando a prestação de serviços públicos
via delegação.
b.3) Bens dominicais (ou dominiais ou do patrimônio disponível): Pertencem ao Estado como objeto de direito real ou
pessoal de cada uma das entidades de direito público, ou seja, sobre eles a Administração exerce “poderes de
proprietário”. Constituem, portanto, o patrimônio das pessoas jurídicas de Direito Público. O atual Código Civil os define
em seu artigo 99, parágrafo único, como os bens pertencentes às pessoas jurídicas de direito público a que se tenha dado
estrutura de direito privado. Assim, são os que não possuem uma destinação pública específica, definida, nem um fim
administrativo determinado (é o que comumente chamamos de bens desafetados), podendo ser utilizados pela
Administração no intuito de angariar renda. Por exclusão, todos os bens que não se enquadrem nas destinações b.1 e b.2
acima descritas são tidos na classificação de dominicais, tais como as terras devolutas, os terrenos de marinha, os prédios
públicos desativados, a dívida ativa e os móveis inservíveis. Os bens dominicais podem ser alienados, desde que
observadas as exigências da lei (vide artigo 101 do Código Civil em vigor e a lei 8.666/93). São denominados, também,
como bens patrimoniais disponíveis.
Qual é o critério utilizado para se saber em qual das classificações situa-se determinado bem público? Resposta:
é o critério da afetação dos bens. Bem afetado é aquele que possui uma destinação pública específica. Portanto, os bens
de uso comum e de uso especial têm afetação e integram o denominado domínio público do Estado. Já os bens dominicais,
por não se encontrarem afetados, são tidos como bens de domínio privado do Estado. Os bens do domínio público estão
submetidos a regime jurídico especial, enquanto que os do domínio privado encontram-se submetidos a um regime
próximo ao do direito privado.
3. CARACTERÍSTICAS
a) Inalienabilidade: os bens públicos de uso comum do povo e os de uso especial são inalienáveis enquanto conservarem
a sua qualificação, ou seja, enquanto estiverem afetados a alguma destinação pública (vide artigo 100 do Código Civil).
Assim, referidos bens só poderão ser alienados quando estiverem desafetados, passando à categoria dos bens
dominicais. Já os bens dominicais podem ser alienados, desde que observadas as exigências da lei (vide, também, o artigo
101 do CC). Observe-se que a inalienabilidade não é absoluta, sendo absolutamente inalienáveis os bens que não gozam
de valor patrimonial, tais como os rios, mares, lagos etc (denominados de bens de uso comum do povo), classificados
como bens indisponíveis por natureza. Já os bens dominicais são suscetíveis de alienação, desde que obedecidos os
ditames legais exigidos pela Lei 8.666/93 (Lei de licitações e contratos), que exige: demonstração de haver interesse
público na alienação, avaliação prévia, licitação e autorização legislativa (esta última em se tratando de bem imóvel).
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b) Impenhorabilidade: conforme asseveram Marcelo Alexandrino e Vivente Paula, “a penhora é instituto de natureza
constritiva que recai sobre o patrimônio do devedor para propiciar a satisfação do credor na hipótese de não pagamento
da obrigação. O bem penhorado pode ser alienado a terceiros para que o produto da alienação satisfaça o interesse do
credor”. Porém, uma vez que os bens públicos são impenhoráveis, a satisfação dos créditos de terceiros (credores) contra
a Fazenda Pública (Administração devedora) se dará NÃO SOB O REGIME DA PENHORA DOS BENS PÚBLICOS,
mas sob o regime de precatórios, conforme determina o artigo 100 da CF/88. Não há que se falar, assim, em venda de
bens públicos em hasta pública, além do que os mesmos não podem ser gravados com direitos reais de garantia.
c) Imprescritibilidade: Observe-se que nenhum destes bens está sujeito a usucapião, sejam eles de uso comum, especiais
ou dominicais. Não há que se falar, assim, em usucapião, em se tratando de bens públicos móveis ou imóveis (vide artigos
183, parágrafo terceiro, e artigo 191, parágrafo único, ambos da CF/88 e artigo 102 do Código Civil). A jurisprudência
também é pacífica neste assunto, conforme se assevera da súmula 340 do STF que estabelece:“desde a vigência do
Código Civil, os bens dominicais, como os demais bens públicos, não podem ser adquiridos por usucapião”.
d) Não-onerabilidade: não é possível ao devedor oferecer o bem público ao credor como garantia de pagamento em caso
de inadimplemento do devedor, através dos institutos do penhor, da anticrese ou da hipoteca.
a) Terras devolutas: são as terras públicas classificadas como bens dominicais, pois não tem uma destinação específica,
sendo indispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações e construções militares, das vias federais de comunicação e
à preservação ambiental, definidas em lei (vide artigo 20, II da CF/88). Incluem-se entre os bens dos Estados as terras
devolutas não compreendidas entre as da União (vide artigo 26, IV da CF/88).
b) Terrenos de marinha: são bens pertencentes à União, por imperativos de defesa e de segurança nacional (vide artigo
20, VII, da CF/88 e artigo 13 do Código de Águas). São as áreas (faixas de terra) que, banhadas pelas águas do mar ou dos
rios e que sofram a influência das marés, se estendem até a distância de 33 metros para a área terrestre, contados da linha
do preamar médio de 1831. A diferença destes terrenos aos terrenos reservados é que nos primeiros existem as influências
das marés enquanto que os terrenos reservados ficam fora das influências dessas marés. São bens públicos dominicais,
podendo ser explorados pelo Poder Público para a obtenção de renda. O particular pode se utilizar desses terrenos sob o
regime da enfiteuse ou do aforamento, estudados no Direito Civil.
c) Terrenos acrescidos: são aqueles formados, natural ou artificialmente, para o lado do mar ou dos rios e lagoas, em
seguimento aos terrenos de marinha, sendo pertencentes à União.
d) Terrenos reservados (marginais ou ribeirinhos): são os que, banhados pelas correntes navegáveis, fora do alcance
das marés, se estendem até a distância de 15 metros para a parte da terra, contados desde a linha média das enchentes
ordinárias (vide o artigo 14 do Código de Águas). Segundo Celso Antonio Bandeira de Melo, referidos terrenos são bens
públicos livres da influencia das marés numa extensão de 15m contados da linha média das enchentes médias ordinárias.
Os terrenos reservados ficam nas margens dos rios navegáveis, fora das influências das marés e têm esta denominação
porque foram reservados para a servidão pública de trânsito. Segundo o Código de Águas, referidos bens são, em regra, de
propriedade dos Estados quando seguirem o destino dos rios e quando não forem marginais de rios federais nem estejam
na faixa de fronteira. Contudo, esses bens serão da União quando tais terrenos margearem os rios que se situam em terras
do domínio federal. Os terrenos reservados são classificados como bens dominicais, porque a Administração pode utilizá-
los visando a obtenção de renda e podem ser utilizados pelos particulares através da concessão.
e) Terras ocupadas pelos índios: conforme assevera o artigo 231, parágrafo 1°, da CF/88, são terras tradicionalmente
ocupadas pelos índios as por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, às
imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem estar e as necessárias a sua reprodução física
e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições. São pertencentes à União (vide o artigo 20, XI, da CF/88). Por
possuírem destinação específica, classificam-se como bens de uso especial, porque estão afetadas ao uso pelos índios,
sendo inalienáveis e indisponíveis.
f) Plataforma continental: em obediência ao artigo 20, V, da CF/88, referido bem pertence à União.
g) Ilhas: porção de terra cercada de água por todos os lados. Classificam-se em marítimas, fluviais e lacustres,
dependendo de onde se localizam: mar, rios ou lagos. Em regra, classificam-se como bens dominicais ,contudo, poderão
ser classificadas como bens de uso comum do povo, se lhes for dada esta definição específica (afetação).
h) Faixa de fronteira: é a faixa de até 150 km de largura que corre paralelamente à linha divisória terrestre entre o
território nacional e os países estrangeiros e considerada fundamental para manter a segurança do Brasil (vide Lei
6.634/79 e art.20, II, parágrafo segundo da CF/88 ).
i) Águas públicas: as águas públicas são compostas pelos mares, rios e lagos de domínio público (vide Código de Águas -
Decreto 24.643/34). Classificam-se como de uso comum do povo os mares territoriais; as correntes, canais e lagos
navegáveis ou flutuáveis; as correntes de que se façam essas águas; as fontes e reservatórios públicos; as nascentes que,
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por si só, constituem a nascente do rio e os braços das correntes públicas quando influam na navegabilidade ou
flutuabilidade. As demais águas públicas, não classificadas como de uso comum do povo, são tidas a conta de águas
dominicais.
São designadas como águas correntes: rios, riachos e mares.
São águas dormentes: lagoas e lagos.
Segundo o artigo vinte, III, CF, as águas públicas são bens da União se estiverem em terrenos de seu domínio, banhem
mais de um estado ou quando sirvam de limite com outros países, ou, ainda, quando se estendam ou provenham de
território estrangeiro. Nos demais casos, são do Estado (art. 26, I, CF/88).
Nos termos do artigo 20, VIII, CF/88, os potenciais de energia hidráulica são bens do domínio da União.
j) Minas e Jazidas: pertencem à União (vide art. 20, IX, CF/88). Os recursos minerais, inclusive os do subsolo,
constituem os bens dominicais, haja vista que deles se pode realizar exploração econômica.
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5.1. Os bens relacionados no artigo 20 da CF/88 possuem certos critérios ligados à esfera federal, quais sejam:
a) Segurança nacional: incisos II (terras devolutas necessárias à defesa das fronteiras, das fortificações e
construções militares), III, VI e VII.
b) Proteção à economia do país: incisos V, VIII e IX.
c) Interesse público nacional: incisos II (vias federais de comunicação e terras devolutas necessárias à
preservação ambiental), X e XI.
d) A extensão do bem: III (lagos e rios que banhem mais de um Estado).
5.2. O Decreto-Lei n. 9.760/46 dispõe acerca dos bens imóveis da União.
5.3. O rol de bens descritos no artigo 20 e 26 da CF/88 é meramente exemplificativo e não taxativo, ou seja,
pode haver outros bens não elencados nestes artigos constitucionais.
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CAPÍTULO VI
RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO (OU DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA)
1.1. À época do absolutismo europeu, a teoria adotada era a da irresponsabilidade do Estado, onde o rei ou
monarca, considerado como infalível (the king can do no wrong - “o rei não erra”), não poderia ser responsabilizado por
qualquer prejuízo causado aos particulares pelos atos de seus agentes (representantes), ou seja, por aquelas pessoas que
agiam em seu nome. Obviamente que, por tal teoria, se criavam situações injustas. Esta teoria, que na verdade não trata da
responsabilidade, mas da irresponsabilidade do Estado, nunca foi adotada no Brasil.
Anos após, com o advento das Constituições de 1824 e 1891, ainda não se falava expressamente na
responsabilidade do Estado, mas, pelo menos, na de seus agentes. Entretanto, já havia algumas leis infraconstitucionais
(de fora da constituição) se reportando à responsabilidade do Estado, aceitando-a como solidária com as de seus agentes.
1.2. Após, adotou-se a teoria da responsabilidade subjetiva (ou com culpa civil comum do Estado), também
denominada de teoria civilista, através da qual a responsabilidade do Estado se equipara à do particular. Por esta teoria, se
houver dolo do agente (intenção de causar dano) ou culpa (o agente não tem a intenção de causar o dano, mas o mesmo
ocorre, tendo em vista a prática de ato com negligência, imprudência ou imperícia), deverá haver a indenização à vítima.
Tal teoria surgiu com o artigo 15 do antigo Código Civil de 1916, onde o prejudicado (a vítima) deveria demonstrar a
culpa, calcada na conduta dolosa (dolo) ou culposa (culpa) do agente público para que surgisse a obrigação de
indenização do Estado.
1.3. Pela teoria da culpa administrativa (culpa anônima ou culpa do serviço), a responsabilidade do Estado
não se baseia na conduta culposa ou dolosa do agente, acima estudada, mas simplesmente na falta do serviço. Assim, por
esta teoria, não se analisa o elemento culpa (conduta dolosa ou culposa do agente público), e sim um elemento mais
concreto, qual seja, a falta do serviço. Referida culpa poderia recair sobre o agente omisso (quando possível a sua
identificação) ou sobre o serviço, ocorrendo a denominada culpa anônima. A culpa pela prestação do serviço (também
denominada de faute du service) ocorre quando:
a) o serviço não funciona (inexistência do serviço);
b) o serviço funciona mal (mau funcionamento do serviço);
c) o serviço funciona atrasado (morosidade do serviço).
Ao particular lesado cabe provar a ocorrência de uma destas três modalidades (situações) para ter direito à
indenização, sem ter de provar a culpa individual do agente público. Observe que estamos diante de uma teoria subjetiva,
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uma vez que há a necessidade da falta do serviço (omissão) como elemento fundamental para que se configure a
obrigação de indenização do Estado. Portanto, se ocorrer um arrastão (ato de terceiros) dentro de um órgão público, e um
particular sofrer dano, a Administração somente será responsabilizada se o particular provar que houve ausência ou falha
na segurança do prédio. Mas, se o órgão tiver tomado previamente todas as precauções cabíveis no intuito de evitar um ato
desta natureza, e o mesmo ocorre, trata-se de uma situação excepcional, não se podendo responsabilizar o poder público
por ela. Situação semelhante observa-se com relação aos eventos da natureza (denominados de “força maior” por alguns
doutrinadores). Se uma grande chuva causar danos ao particular por ter a Administração deixado de retirar uma árvore
condenada, e a mesma cair sobre o veículo, haverá, sim, responsabilidade do Estado. Assim, podemos verificar que, pela
responsabilidade subjetiva, na modalidade “culpa administrativa”, não há necessidade de que a vítima prove que um
agente público determinado (individualizado) absteve-se de agir. Basta que ela demonstre que uma atuação do Estado era
devida e não ocorreu, ou ocorreu de maneira deficiente, permitido que o dano ocorresse. A omissão é uma conduta
negativa, é um não-fazer e um não-fazer não causa o dano, mas permite que ele venha a ocorrer. Já a ação é uma conduta
positiva e é a ação que causa efetiva e diretamente o dano.
1.4. Por último, veio a teoria da responsabilidade objetiva do estado (ou teoria Publicista). Por ela, há a
obrigação do Estado de indenizar, tendo em vista um comportamento lícito ou ilícito de seus agentes e que tenha causado
dano a vítima. Aqui, não se fala em dolo ou culpa, mas sim na existência de uma relação de causalidade (ou também
denominada de nexo de causalidade) entre a conduta do agente e o dano causado à vítima. Referida teoria surgiu com a
promulgação da CF/46 e vige até hoje. Esta teoria está relacionada à teoria do risco administrativo, uma vez que a atuação
estatal envolve um risco de dano que lhe é inerente no desempenho de suas funções. Podemos encontrar a confirmação da
teoria da responsabilidade objetiva no artigo 37, parágrafo sexto, da atual Constituição Federal, que diz: “As pessoas
jurídicas de direito público e as de direito privado, prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus
agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo
ou culpa”. Assim, aquele que sofreu o dano fica dispensado de ter de comprovar a culpa ou o dolo do agente, bastando,
unicamente, a comprovação do nexo de causalidade. Conforme assevera a doutrina, a responsabilidade objetiva
contempla duas variantes:
1.4.1. Responsabilidade objetiva com base no risco integral, segundo a qual a Administração obriga-se a
indenizar o particular pelos prejuízos causados ainda que não tenha dado causa a eles, não podendo invocar, em seu
benefício, as excludentes ou atenuantes de responsabilidade, abaixo estudadas. Referida teoria não é aplicada em nosso
regime jurídico.
1.4.2. Responsabilidade objetiva com base no risco administrativo, segundo a qual a Administração somente
responde pelos prejuízos que efetivamente tenha causado, podendo invocar em sua defesa as excludentes ou atenuantes de
responsabilidade (culpa exclusiva ou concorrente do particular). Não se exige, aqui, qualquer análise de conduta dolosa
ou culposa do agente ou qualquer verificação de falta de serviço, bastando apenas a comprovação da ação do Estado, do
dano injusto causado ao particular e do nexo de causalidade entre a ação e o dano. Esta é a teoria adotada pela CF/88 em
seu artigo 36, parágrafo sexto, e se refere às ações (e não às omissões) danosas praticadas pelo Estado: “artigo 37,
parágrafo sexto – As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos
responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso
contra o responsável nos casos de dolo ou culpa”. Por esta teoria, verifica-se que o Estado não terá sempre a obrigação
de reparar os danos causados aos particulares por seus agentes, pois se o próprio particular for o culpado pelo dano, não
caberá qualquer responsabilidade para o Estado, pelo contrário, será ele (o Estado) quem deverá ser indenizado pelos
prejuízos suportados do ato ilícito do particular.
Para que seja configurada a responsabilidade objetiva, são necessários os seguintes requisitos:
2.1. A pessoa envolvida deverá ter personalidade jurídica de direito público
(U/E/DF/M/Autarquias/Fundações Públicas com natureza jurídica de direito público) ou personalidade jurídica
de direito privado (Empresa Públicas/Fundações Públicas com natureza jurídica de direito privado e Sociedades
de Economia Mista), mas estas últimas deverão ser prestadoras de serviços públicos (e não exploradoras de
atividades tipicamente econômicas, de produção ou comercialização de bens ou serviços!). Ficam excluídas,
portanto, da responsabilidade objetiva, as pessoas com personalidade jurídica de direito privado que explorem
atividades econômicas (para elas, a responsabilidade é equiparada à das empresas privadas, sendo
denominada de “responsabilidade subjetiva”, ou seja, dependente da demonstração de culpa ou dolo do
agente público), conforme dispõe o artigo 173, parágrafo primeiro, da CF/88 e não o artigo 37, parágrafo sexto,
da Lei Maior (CF). Atenção! Incluem-se nesta responsabilidade (a objetiva) as concessionárias, as
permissionárias e as autorizatárias de serviços públicos.
2.2. Deve haver um dano causado pela AÇÃO do Estado ao particular. Assim, a responsabilidade civil
dependerá da ocorrência de dano ao Erário ou a terceiro causado por uma AÇÃO lícita ou ilícita do agente.
Muita atenção! A omissão ilícita, ou seja, aquela em que o agente deve agir, mas não age, não causa o dano,
mas permite que ele venha a ocorrer. Vejamos: se um ladrão rouba a bolsa de uma senhora, o dano é causado
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Direito Administrativo
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pelo assaltante (e não pelo Estado). Se um policial estiver presenciando o fato e nada fizer (quando deveria),
sendo omisso, ainda assim a vítima foi lesada diretamente pelo ladrão. Não foi o policial quem a roubou! Mas,
se o agente não fosse omisso, poderia ter evitado o dano. Porém, quando a omissão é lícita, não há que se falar
em responsabilidade do Estado. Desta forma, se um varredor de ruas presenciasse o assalto e nada fizesse, ele
teria agido de maneira omissa, mas esta omissão não seria ilegal. A ação de evitar o roubo era possível, mas não
obrigatória por lei. Neste caso, não pode a vítima requerer indenização do Estado em face da omissão lícita do
varredor.
Quando houver uma conduta omissa do Estado, gerada pelo mau funcionamento do serviço, atraso ou não
funcionamento dele, a responsabilidade não será a objetiva, mas a subjetiva na modalidade “culpa administrativa”.
2.3. O dano deverá ter como autoria o Estado, através de seus agentes públicos (agentes políticos, administrativos e
particulares em colaboração com a Administração Pública) no exercício das suas atividades funcionais. Observemos que
não importa, aqui, se o dano foi causado por uma conduta legítima (no exercício legal de sua competência) ou ilegítima
(fora da competência) do agente. Portanto, se o agente público não estiver em exercício e causar dano a terceiros
responderá pessoalmente pelos prejuízos causados ao particular, com base na responsabilidade subjetiva (e não objetiva).
2.4. O agente deverá ter a qualidade de agente público e estar atuando no exercício das suas atribuições. Assim, se
o agente público causa dano a terceiros agindo na condição de particular (e não de agente no desempenho de suas
atividades), responderá pessoal e subjetivamente (responsabilidade subjetiva) por este dano. Procuremos entender: Se um
policial dispara tiros contra um assaltante, ele estará agindo na qualidade de agente público, mesmo que já tenha encerrado
seu expediente. Se algum terceiro vier a ser ferido durante o acontecimento, deverá o Estado ressarci-lo pelos prejuízos
suportados. Porém, se este mesmo policial se desentender com algum vizinho e, por vingança, dispara contra ele alguns
tiros, levando-o a morte, terá agido na condição de simples particular (e não como agente público!). Nesta última
situação, portanto, não há que se falar em responsabilidade civil do Estado em relação à família da vítima, posto que o
policial não agiu na qualidade de agente público.
Em que momento o agente estará agindo na qualidade, na condição, de agente público? Respondemos:
a) Quando ele estiver no exercício efetivo de suas funções. Assim, se um policial mata um inocente ou se um
varredor de ruas destrói uma vidraça, em ambos os casos tais agentes estarão atuando na qualidade de agente
públicos.
b) Quando o agente, embora não esteja no exercício de suas funções, causa dano a terceiros em razão da
presença de alguma prerrogativa funcional. A prerrogativa funcional se caracteriza como qualquer direito,
vantagem ou privilégio de que o agente se utilize pelo simples fato de ser agente público. Vejamos um
exemplo: um auditor, valendo-se de suas prerrogativas funcionais, desloca-se para sua residência utilizando-
se de uma viatura oficial. Se, no caminho, vier a causar dano a alguém, o Estado será responsabilizado pelos
prejuízos causados pelo agente.
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Direito Administrativo
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1. Força Maior: ocorre diante de um acontecimento imprevisível e estranho à vontade das partes, como as
tempestades, terremotos, queda de raio etc. Não havendo um nexo de causalidade entre os danos ocorridos ao
particular e o comportamento da Administração, não há que se falar em responsabilidade do Estado, salvo se,
aliado ao acontecimento imprevisto, tiver havido alguma omissão do Estado, como nos casos de enchentes
agravadas pela falta de limpeza dos bueiros e das galerias fluviais. Em havendo omissão quanto ao dever que
competia à Administração, haverá, sim, o dever de indenização, mas nestes casos a mesma se dará com base na
denominada responsabilidade subjetiva.
2. Culpa da Vítima: Se houver culpa exclusiva da vítima, não há que se falar em responsabilidade do Estado.
Portanto, se um pedestre resolve se atirar na frente de um veículo oficial em movimento, não haverá obrigação
da Administração em ressarcir eventuais prejuízos causados à pretensa vítima. Entretanto, se houver
responsabilidade tanto do Estado quanto do particular (culpa concorrente), a responsabilidade será repartida à
proporção da culpa de cada um deles. Diz-se, então, que a responsabilidade do Estado será atenuada, mitigada.
4. AÇÃO DE REGRESSO
O Estado poderá ingressar com uma ação judicial contra o agente público causador do dano injusto ao particular,
visando repor ao erário o valor gasto com o pagamento das indenizações à vítima. Para tanto, poderá se utilizar da Ação
de Regresso (ação regressiva de ressarcimento), desde que a condenação do Estado já tenha transitado em julgado e haja a
caracterização do dolo ou da culpa do agente, pois, neste caso, a responsabilidade do servidor, perante a Administração,
será sempre subjetiva. Observe que a ação de regresso é imprescritível, conforme determina o artigo 37, parágrafo
quinto da CF/88. Embora não seja mais possível à Administração, após o decurso de certo prazo, impor sanções de
natureza penal ou administrativa ao agente causador do dano injusto ao particular, o mesmo não se aplica à
responsabilidade civil dele (do agente) em indenizar a Administração pelo valor pago à título de indenização (ao
particular). Desta forma, a responsabilidade civil (e não a penal ou administrativa) do agente público subsiste frente ao
tempo, podendo ser exigido o pagamento a qualquer momento - pelo Estado - em face do seu agente público, mesmo após
a extinção de seu vínculo administrativo-funcional. Além disso, ressalte-se que é possível serem responsabilizados os
sucessores do agente falecido (causador do dano) até o limite do valor do patrimônio transferido. É importante que se
diga, também, que a Lei 4.619/65 estabelece, em seus artigos 1º e 2º, normas sobre a ação regressiva da União contra seus
agentes públicos federais, a ser ajuizada pelo Procurador da República em 60 dias da data em que transitar em julgado a
condenação imposta à Fazenda Pública, sob pena de falta funcional.
8. DA RESPONSABILIDADE DO AGENTE
A responsabilidade dos agentes públicos quanto aos atos danosos causados ao particular é regressiva e
subjetiva. É regressiva porque, primeiro, o Estado indeniza a vítima pelos prejuízos causados pelo agente para, somente
depois, ingressar com a ação judicial cabível (ação de regresso) contra o efetivo agente causador do dano. É subjetiva
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porque o agente só indenizará o Estado pelos prejuízos que tenha causado no caso de ter agido com dolo ou culpa
devidamente provados pela Administração.
Não devemos nos esquecer que o servidor poderá responder civil, penal e administrativamente pelo exercício
irregular das suas atribuições, conforme o caso em concreto, ao passo que a responsabilidade do Estado será sempre de
natureza civil.
A responsabilidade civil decorre de ato omissivo (omissão) ou comissivo (ação), doloso ou culposo, que resulte
prejuízo ao erário ou a terceiros. A obrigação de reparar o dano estende-se aos sucessores e contra eles será executada,
até o limite do valor da herança recebida.
A responsabilidade penal (criminal) abrange crimes e contravenções imputadas ao servidor, nessa qualidade (ou
seja, no exercício de suas funções). Os prazos de prescrição previstos na lei penal aplicam-se às infrações disciplinares
capituladas como crime. Assim, se servidor cometer infração administrativa que configure também infração penal, não
será punido administrativamente se ocorrer a prescrição penal, a exemplo do emprego irregular de dinheiros públicos que,
no estatuto, é infração punível com demissão cujo prazo prescricional é de 5 anos (art. 132, VIII, c/c artigo 142, I, do
Estatuto). No entanto, se aplica o prazo de prescrição da lei penal, que é menor.
A responsabilidade administrativa do agente resulta de ato comissivo ou omissivo, doloso ou culposo, praticado
no desempenho do cargo ou função, em que ele transgrida alguma norma legal ou regulamentar.
As sanções civis, penais e administrativas poderão cumular-se, sendo, em regra, independentes entre si.
Assim, tais sanções poderão ser aplicadas de forma cumulativa tendo em vista a prática de um mesmo fato.
Exemplo: se um policial pratica ato abusivo, violando a integridade física de alguém, responderá na esfera
administrativa (podendo ser demitido ou suspenso), na esfera civil (tendo de indenizar a Administração no curso
de uma ação regressiva, acima estudada) e na esfera penal (sofrendo alguma pena restritiva de liberdade).
Uma vez que as instâncias civil, penal e administrativa são independentes entre si, pode ocorrer do agente
ser absolvido na esfera penal (por ausência de provas, por exemplo) e vir a ser condenado nas demais. Exemplo: se
não se conseguir provar as lesões corporais praticadas pelo policial, na situação acima descrita, ele será absolvido
criminalmente, mas, mesmo assim, poderá ser condenado pelo ato administrativo abusivo, devendo reparar,
também, civilmente, o dano injusto causado à vítima.
Vejamos a primeira hipótese: imaginemos que o agente seja condenado criminalmente pelo mesmo fato
apurado nas esferas administrativa e civil. A sentença penal já transitou em julgado, ou seja, já não cabe qualquer
recurso contra a decisão judicial. Por conseqüência, será reconhecida, também, nestas duas esferas, a
responsabilidade civil e administrativa do agente. Por quê? Porque a instrução probatória, ou seja, a fase em que se
comprova a real ocorrência do fato delituoso, na instância criminal, é mais abrangente, constituindo uma certeza
jurídica da responsabilidade do réu. Devemos observar, também, que, em regra, a imputação de um crime a um
agente pressupõe a prática de uma conduta dolosa dele, enquanto que nas esferas administrativa e civil o ato ilícito
poderá dar-se por ato culposo (negligência, imprudência ou imperícia) ou doloso.
Analisemos, agora, a segunda situação: se a decisão penal definitiva absolver o agente público por
negativa do fato, alegando que o mesmo sequer ocorreu, ou absolvê-lo por negativa de autoria, confirmando que
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Direito Administrativo
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o fato ocorreu, mas o agente não foi o autor dele, haverá a vinculação nas demais esferas, quais sejam, a civil e a
administrativa. Nestes casos, o agente deverá ser absolvido, também, em referidas áreas.
Mas, atenção! A absolvição penal, para vincular as demais esferas (civil e administrativa), deverá dar-se
por negativa de autoria e não por ausência ou insuficiência de provas (ou por qualquer outro motivo) para
condenar o agente público. Neste último caso (ausência de provas), ele poderá estar imune à sanção penal, mas,
mesmo assim, poderá ser responsabilizado civil e administrativamente. Vejamos um exemplo: um motorista da
prefeitura provoca danos injustos no veículo de um particular, tendo agido com imprudência (culpa). Nesta
hipótese, resta configurada a sua responsabilidade civil e administrativa diante do Estado. De repente, por um
acesso de raiva, o agente público desce do veículo e causa, dolosamente, lesões corporais à vítima. Aqui,
configura-se a hipótese de punibilidade penal. Mas, se na ação judicial movida pela vítima, não restar comprovada a
conduta dolosa praticada pelo agente (restando configurada a sua absolvição por ausência ou insuficiência de provas
para condená-lo), o mesmo não poderá ser punido criminalmente, mas o poderá nas demais esferas.
Vejamos um segundo exemplo elucidativo: um agente público é acusado penalmente por ter causado, de
maneira dolosa, danos à Administração. Mas, por ausência de provas, ele foi inocentado, pois não se comprovou a
existência do dolo (intenção de causar o dano). E então? Ele também deverá ser inocentado nas esferas
administrativa e civil? Não necessariamente, pois a prática culposa (sem intenção) de danos à Administração poderá
ocasionar a aplicação de sanções nestas demais esferas.
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É importante observarmos que, independente de a atitude do juiz ter causado dano culposo ou doloso, o Estado,
em momento algum, será responsabilizado (somente o juiz, pessoalmente, em sendo o ato doloso). Para ele (o Estado),
com relação aos atos judiciais, adota-se a teoria da irresponsabilidade estatal.
b) Conforme determina o artigo 5º, LXXV, da CF/88, “o Estado indenizará o condenado por erro judiciário,
assim como o que ficar preso além do tempo fixado na sentença”. Uma vez que a sentença penal acarreta, em regra, o
cerceamento da liberdade do indivíduo (prisão), sendo mais gravosa que a sentença cível, deve ser adotada a teoria da
responsabilidade objetiva do Estado sempre que o indivíduo for condenado (exclusivamente na esfera penal)
erroneamente ou ficar preso por período superior ao determinado na decisão judicial, independente do agente público
(magistrado, delegado, policial, carcereiro etc.) ter agido com culpa ou dolo. Podemos afirmar que a matéria não é
pacífica entre os doutrinadores e que o STF decidiu, recentemente, pela responsabilidade objetiva (ou seja, independente
de dolo ou culpa do magistrado) em se tratando do artigo acima mencionado (vide decisão da Primeira Turma no
julgamento do RE 505.393, relator Ministro Sepúlveda Pertence, ocorrido em 26.06.2007).
E quando o réu, tendo sido decretada a sua prisão preventiva, provar, ao final, a sua inocência? Terá direito à
indenização? Não. O STF assim já se pronunciou: “O decreto judicial de prisão preventiva, quando suficientemente
fundamentado e obediente aos pressupostos que o autorizam, não se confunde com o erro judiciário a que alude o inc.
LXXV do art. 5º da Constituição da República, mesmo que o réu ao final do processo venha a ser absolvido ou tenha sua
sentença condenatória reformada na instância superior” (vide RE 429.518/SC, rel. Min, Carlos Velloso, 17.08.2004).
Se o Estado está responsável pela guarda de pessoas ou coisas, zelando pela sua integridade física e moral, sua
responsabilidade será objetiva. Vejamos: se um presidiário vem a ser ferido na cadeia, independentemente de ter havido
qualquer participação direta do agente prisional (espancamento) ou a omissão dele (falta de segurança) no dever de
proteger devidamente o detento, terá o Estado a responsabilidade objetiva sobre o caso, salvo se ocorrer caso fortuito ou
força maior (excludentes de responsabilidade do Estado, caracterizados por um evento extraordinário e imprevisível, com
força irresistível, que por si só gera o dano). O mesmo raciocínio vale para os alunos de uma escola pública, aos
internados em hospital municipal ou às mercadorias detidas em depósito público.
CAPÍTULO VII
LEI 9.784/99
PROCESSO ADMINISTRATIVO FEDERAL
“Vejamos, abaixo, a Lei 9.784/99, com alguns comentários pertinentes devidamente acompanhados de algumas
questões de concursos públicos”.
CAPÍTULO I
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 1o Esta Lei estabelece normas básicas sobre o processo administrativo no âmbito da Administração
Federal direta e indireta, visando, em especial, à proteção dos direitos dos administrados e ao melhor
cumprimento dos fins da Administração.
Qual o objeto (ou conteúdo) da Lei 9.784/99? Referida Lei dispõe sobre normas básicas referentes ao processo
administrativo.
O artigo 1º ainda determina quais são as pessoas que devem obedecer aos seus ditames. São elas: a
Administração Federal Direta (União e seus órgãos federais) e a Administração Federal Indireta (Autarquias, Empresas
Públicas, Sociedades de Economia Mista e Fundações Públicas, todas federais). Devemos acrescentar, ainda, os órgãos
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nomeados no parágrafo primeiro deste artigo, quais sejam, os Poderes Legislativo e Judiciário, desde que no exercício
das suas funções atípicas administrativas.
A finalidade da Lei 9.784/99 é a proteção dos direitos dos administrados e ao melhor cumprimento dos fins da
Administração.
§ 1o Os preceitos desta Lei também se aplicam aos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário da União,
quando no desempenho de função administrativa.
Art. 2o A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalidade, finalidade,
motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica,
interesse público e eficiência.
Parágrafo único. Nos processos administrativos serão observados, entre outros, os critérios de:
Critérios são padrões a serem observados pelas autoridades nos processos administrativos.
A Lei 9.784/99 trata, através de normas básicas, do processo administrativo. Referida Lei deverá ser obedecida
pela Administração Federal Direita e Indireta, e, também, pelos Poderes Legislativo e Judiciário no exercício de suas
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funções administrativas. A finalidade da Lei 9.784/99 é a de proteger, em especial, os direitos dos administrados e
garantir o cumprimento dos fins buscados pela Administração.
Embora a Lei em comento estabeleça regras básicas de observância uniforme no seio da Administração, isto
não quer dizer que as demais legislações federais específicas pertinentes a processos administrativos especiais, tais como
as referentes às licitações públicas, ao processo administrativo fiscal ou ao processo administrativo disciplinar (todos
regidos por leis próprias) estejam revogadas por ela. Para tanto, basta que se dê uma olhada no artigo 69 da Lei
9.784/99, que verificaremos que “os processos administrativos específicos continuarão a reger-se por lei própria,
aplicando-se-lhes apenas subsidiariamente os preceitos desta Lei”. Aplicação subsidiária significa dizer que,
primeiramente, devemos obedecer à lei específica. Porém, se, e somente se, a lei específica for omissa, aí sim, utilizar-se-
ão os artigos dispostos na Lei 9.784/99.
CAPÍTULO II
DOS DIREITOS DOS ADMINISTRADOS
Art. 3o O administrado tem os seguintes direitos perante a Administração, sem prejuízo de outros que lhe
sejam assegurados
O artigo 3º apresenta situações exemplificativas (são apenas alguns exemplos de direitos) e não taxativas (se
fossem taxativas, os direitos pertencentes aos administrados seriam única e exclusivamente os apresentados nos incisos I
a IV). Assim, podem existir outros direitos aos administrados que não estejam expressos neste artigo.
I - ser tratado com respeito pelas autoridades e servidores, que deverão facilitar o exercício de seus
direitos e o cumprimento de suas obrigações;
II - ter ciência da tramitação dos processos administrativos em que tenha a condição de interessado, ter
vista dos autos, obter cópias de documentos neles contidos e conhecer as decisões proferidas;
III - formular alegações e apresentar documentos antes da decisão, os quais serão objeto de consideração
pelo órgão competente;
IV - fazer-se assistir, facultativamente, por advogado, salvo quando obrigatória a representação, por
força de lei.
CAPÍTULO III
DOS DEVERES DO ADMINISTRADO
Art. 4o São deveres do administrado perante a Administração, sem prejuízo de outros previstos em ato
normativo:
I - expor os fatos conforme a verdade;
II - proceder com lealdade, urbanidade e boa-fé;
III - não agir de modo temerário;
Segundo o dicionário, temerário é ser imprudente, perigoso, atrevido, precipitado, sem fundamento, sem base...
IV - prestar as informações que lhe forem solicitadas e colaborar para o esclarecimento dos fatos.
CAPÍTULO IV
DO INÍCIO DO PROCESSO
Art. 6o O requerimento inicial do interessado, salvo casos em que for admitida solicitação oral, deve ser
formulado por escrito e conter os seguintes dados:
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CAPÍTULO V
DOS INTERESSADOS
Interesses Difusos: São aqueles interesses indivisíveis, cujos titulares são pessoas indeterminadas ou indetermináveis.
Ex: direito à paz e à segurança pública, ao meio ambiente etc. Ex II: a ação que vise impedir a poluição de um rio, pois o
direito ao meio ambiente saudável é direito de todas as pessoas indeterminadamente.
Interesses Coletivos: Correspondem aos interesses de natureza indivisível de que seja titular um grupo, categoria ou
classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação, um vínculo jurídico. Ex: seria direito
coletivo o de ingressar com uma ação que visasse impedir o desrespeito à observância do quinto constitucional na
composição dos Tribunais em detrimento da classe de advogados ou dos Membros do Ministério Público. Nesta situação,
é impossível a um advogado ou a um membro do Ministério Público ingressar individualmente com uma ação judicial,
pois o direito é indivisível, devendo a ação competente ser pleiteada pelo órgão representativo da categoria.
Art. 10. São capazes, para fins de processo administrativo, os maiores de dezoito anos, ressalvada
previsão especial em ato normativo próprio.
CAPÍTULO VI
DA COMPETÊNCIA
Art. 11. A competência é irrenunciável e se exerce pelos órgãos administrativos a que foi atribuída como
própria, salvo os casos de delegação e avocação legalmente admitidos.
Art. 12. Um órgão administrativo e seu titular poderão, se não houver impedimento legal, delegar parte
da sua competência a outros órgãos ou titulares, ainda que estes não lhe sejam hierarquicamente
subordinados, quando for conveniente, em razão de circunstâncias de índole técnica, social, econômica,
jurídica ou territorial.
Parágrafo único. O disposto no caput deste artigo aplica-se à delegação de competência dos órgãos
colegiados aos respectivos presidentes.
Art. 13. Não podem ser objeto de delegação:
I - a edição de atos de caráter normativo;
II - a decisão de recursos administrativos;
III - as matérias de competência exclusiva do órgão ou autoridade.
Art. 14. O ato de delegação e sua revogação deverão ser publicados no meio oficial.
§ 1o O ato de delegação especificará as matérias e poderes transferidos, os limites da atuação do delegado,
a duração e os objetivos da delegação e o recurso cabível, podendo conter ressalva de exercício da
atribuição delegada.
§ 2o O ato de delegação é revogável a qualquer tempo pela autoridade delegante.
§ 3o As decisões adotadas por delegação devem mencionar explicitamente esta qualidade e considerar-se-
ão editadas pelo delegado.
Art. 15. Será permitida, em caráter excepcional e por motivos relevantes devidamente justificados, a
avocação temporária de competência atribuída a órgão hierarquicamente inferior.
Art. 16. Os órgãos e entidades administrativas divulgarão publicamente os locais das respectivas sedes e,
quando conveniente, a unidade fundacional competente em matéria de interesse especial.
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Art. 17. Inexistindo competência legal específica, o processo administrativo deverá ser iniciado perante a
autoridade de menor grau hierárquico para decidir.
2. DA COMPETÊNCIA
Uma das características da competência é a sua irrenunciabilidade, sendo que a mesma deverá ser exercida
pelo órgão administrativo a que foi atribuída como própria. A exceção, quanto ao exercício da competência, ocorre nos
casos de delegação e avocação, legalmente admitidas.
Se inexistir lei dispondo quem é o agente competente para dar início ao processo administrativo em relação à
determinada matéria, o processo deverá ser iniciado perante a autoridade de menor grau hierárquico para decidir,
conforme determina o artigo 17 da Lei 9.784/99.
Através da leitura do artigo 12 da Lei 9.784/99, verificamos que a delegação de parte da competência
(delegação parcial) de um órgão administrativo a outro (ainda que entre eles não haja hierarquia ou subordinação) é
possível, desde que não haja proibição legal e desde que a mesma seja conveniente para a Administração, por motivos de
ordem técnica, social, econômica, jurídica ou territorial. Portanto, a delegação independe de lei autorizativa para que se
configure.
Observe que a delegação de competências poderá dar-se entre órgãos que não sejam hierarquicamente
subordinados. Desta forma, há uma considerável ampliação das possibilidades de delegação fora da estrutura
hierárquica na esfera federal, conforme determina a Lei 9.784/99 em seu artigo 12. Neste caso, não há uma ordem, um
comando que imponha a delegação de um órgão a outro. Mas, se a delegação se der entre órgãos ligados a uma cadeia
hierárquica, aí sim, haverá uma imposição do ente delegante e o dever de aceitar a delegação unilateralmente imposta
por ele (dever de obediência do subordinado quanto às ordens superiores).
A lei é expressa ao apresentar situações administrativas em que é proibida a delegação, quais sejam: I - a
edição de atos de caráter normativo; II - a decisão de recursos administrativos e III - as matérias de competência
exclusiva do órgão ou autoridade (artigo 13). Fique muito atento a estas situações, pois são constantemente cobradas
nas provas de concursos públicos!
Lembramos que o ato de delegação poderá ser revogado a qualquer tempo pela autoridade delegante. Desta
forma, tanto o ato de delegação quanto o de revogação deverão ser publicados no meio de comunicação oficial utilizado
pela Administração.
a) as matérias transferidas;
b) os poderes transferidos;
c) os limites da atuação do delegado;
d) a duração (prazo) da delegação;
e) os objetivos (finalidades) da delegação;
f) o recurso cabível e
g) a ressalva (ou não) de exercício da atribuição delegada. A delegação poderá dar-se com ou sem reserva de
poderes. Na delegação “com reserva de poderes” a Administração delegante faz a ressalva de que permanecerá com
poderes para praticar os atos que foram delegados. Por outro lado, a delegação “sem reserva de poderes” impede que o
ente delegante pratique os atos objeto da delegação enquanto permanecer eficaz a delegação.
Por fim, o ato praticado no exercício da competência delegada terá como autoria o próprio ente delegado, ou
seja, o que recebeu a delegação, sendo, portanto, o responsável pelos atos praticados no exercício desta função. Assim,
poderá o eventual prejudicado ingressar com a ação de mandado de segurança contra o ato abusivo praticado pelo
agente no exercício das atribuições delegadas. Portanto, ao agente que delega a competência, não há que se falar em
responsabilidade pelos atos danosos do agente delegado (RDA, 96:77), haja vista que este último não age em nome do
delegante, e sim, em seu próprio nome.
2.2. DA AVOCAÇÃO
A Lei 9.784/99, em seu artigo 15, permite a avocação de competência atribuída a órgão hierarquicamente
inferior, que se dará:
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CAPÍTULO VII
DOS IMPEDIMENTOS E DA SUSPEIÇÃO
CAPÍTULO VIII
DA FORMA, TEMPO E LUGAR DOS ATOS DO PROCESSO
Art. 22. Os atos do processo administrativo não dependem de forma determinada senão quando a lei
expressamente a exigir.
§ 1o Os atos do processo devem ser produzidos por escrito, em vernáculo, com a data e o local de sua
realização e a assinatura da autoridade responsável.
§ 2o Salvo imposição legal, o reconhecimento de firma somente será exigido quando houver dúvida de
autenticidade.
§ 3o A autenticação de documentos exigidos em cópia poderá ser feita pelo órgão administrativo.
§ 4o O processo deverá ter suas páginas numeradas seqüencialmente e rubricadas.
Art. 23. Os atos do processo devem realizar-se em dias úteis, no horário normal de funcionamento da
repartição na qual tramitar o processo.
Parágrafo único. Serão concluídos depois do horário normal os atos já iniciados, cujo adiamento
prejudique o curso regular do procedimento ou cause dano ao interessado ou à Administração.
Art. 24. Inexistindo disposição específica, os atos do órgão ou autoridade responsável pelo processo e dos
administrados que dele participem devem ser praticados no prazo de cinco dias, salvo motivo de força
maior.
Parágrafo único. O prazo previsto neste artigo pode ser dilatado até o dobro, mediante comprovada
justificação.
Art. 25. Os atos do processo devem realizar-se preferencialmente na sede do órgão, cientificando-se o
interessado se outro for o local de realização.
CAPÍTULO IX
DA COMUNICAÇÃO DOS ATOS
Art. 26. O órgão competente perante o qual tramita o processo administrativo determinará a intimação
do interessado para ciência de decisão ou a efetivação de diligências.
§ 1o A intimação deverá conter:
I - identificação do intimado e nome do órgão ou entidade administrativa;
II - finalidade da intimação;
III - data, hora e local em que deve comparecer;
IV - se o intimado deve comparecer pessoalmente, ou fazer-se representar;
V - informação da continuidade do processo independentemente do seu comparecimento;
VI - indicação dos fatos e fundamentos legais pertinentes.
§ 2o A intimação observará a antecedência mínima de três dias úteis quanto à data de comparecimento.
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§ 3o A intimação pode ser efetuada por ciência no processo, por via postal com aviso de recebimento, por
telegrama ou outro meio que assegure a certeza da ciência do interessado.
§ 4o No caso de interessados indeterminados, desconhecidos ou com domicílio indefinido, a intimação deve
ser efetuada por meio de publicação oficial.
§ 5o As intimações serão nulas quando feitas sem observância das prescrições legais, mas o
comparecimento do administrado supre sua falta ou irregularidade.
Art. 27. O desatendimento da intimação não importa o reconhecimento da verdade dos fatos, nem a
renúncia a direito pelo administrado.
Parágrafo único. No prosseguimento do processo, será garantido direito de ampla defesa ao interessado.
Art. 28. Devem ser objeto de intimação os atos do processo que resultem para o interessado em imposição
de deveres, ônus, sanções ou restrição ao exercício de direitos e atividades e os atos de outra natureza, de
seu interesse.
CAPÍTULO X
DA INSTRUÇÃO
Art. 29. As atividades de instrução destinadas a averiguar e comprovar os dados necessários à tomada de
decisão realizam-se de ofício ou mediante impulsão do órgão responsável pelo processo, sem prejuízo do
direito dos interessados de propor atuações probatórias.
§ 1o O órgão competente para a instrução fará constar dos autos os dados necessários à decisão do
processo.
§ 2o Os atos de instrução que exijam a atuação dos interessados devem realizar-se do modo menos oneroso
para estes.
Art. 30. São inadmissíveis no processo administrativo as provas obtidas por meios ilícitos.
Art. 31. Quando a matéria do processo envolver assunto de interesse geral, o órgão competente poderá,
mediante despacho motivado, abrir período de consulta pública para manifestação de terceiros, antes da
decisão do pedido, se não houver prejuízo para a parte interessada.
§ 1o A abertura da consulta pública será objeto de divulgação pelos meios oficiais, a fim de que pessoas
físicas ou jurídicas possam examinar os autos, fixando-se prazo para oferecimento de alegações escritas.
§ 2o O comparecimento à consulta pública não confere, por si, a condição de interessado do processo, mas
confere o direito de obter da Administração resposta fundamentada, que poderá ser comum a todas as
alegações substancialmente iguais.
Art. 32. Antes da tomada de decisão, a juízo da autoridade, diante da relevância da questão, poderá ser
realizada audiência pública para debates sobre a matéria do processo.
Art. 33. Os órgãos e entidades administrativas, em matéria relevante, poderão estabelecer outros meios de
participação de administrados, diretamente ou por meio de organizações e associações legalmente
reconhecidas.
Art. 34. Os resultados da consulta e audiência pública e de outros meios de participação de administrados
deverão ser apresentados com a indicação do procedimento adotado.
Art. 35. Quando necessária à instrução do processo, a audiência de outros órgãos ou entidades
administrativas poderá ser realizada em reunião conjunta, com a participação de titulares ou
representantes dos órgãos competentes, lavrando-se a respectiva ata, a ser juntada aos autos.
Art. 36. Cabe ao interessado a prova dos fatos que tenha alegado, sem prejuízo do dever atribuído ao
órgão competente para a instrução e do disposto no art. 37 desta Lei.
Art. 37. Quando o interessado declarar que fatos e dados estão registrados em documentos existentes na
própria Administração responsável pelo processo ou em outro órgão administrativo, o órgão competente
para a instrução proverá, de ofício, à obtenção dos documentos ou das respectivas cópias.
Art. 38. O interessado poderá, na fase instrutória e antes da tomada da decisão, juntar documentos e
pareceres, requerer diligências e perícias, bem como aduzir alegações referentes à matéria objeto do
processo.
§ 1o Os elementos probatórios deverão ser considerados na motivação do relatório e da decisão.
§ 2o Somente poderão ser recusadas, mediante decisão fundamentada, as provas propostas pelos
interessados quando sejam ilícitas, impertinentes, desnecessárias ou protelatórias.
Art. 39. Quando for necessária a prestação de informações ou a apresentação de provas pelos interessados
ou terceiros, serão expedidas intimações para esse fim, mencionando-se data, prazo, forma e condições de
atendimento.
Parágrafo único. Não sendo atendida a intimação, poderá o órgão competente, se entender relevante a
matéria, suprir de ofício a omissão, não se eximindo de proferir a decisão.
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Direito Administrativo
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Art. 40. Quando dados, atuações ou documentos solicitados ao interessado forem necessários à apreciação
de pedido formulado, o não atendimento no prazo fixado pela Administração para a respectiva
apresentação implicará arquivamento do processo.
Art. 41. Os interessados serão intimados de prova ou diligência ordenada, com antecedência mínima de
três dias úteis, mencionando-se data, hora e local de realização.
Art. 42. Quando deva ser obrigatoriamente ouvido um órgão consultivo, o parecer deverá ser emitido no
prazo máximo de quinze dias, salvo norma especial ou comprovada necessidade de maior prazo.
§ 1o Se um parecer obrigatório e vinculante deixar de ser emitido no prazo fixado, o processo não terá
seguimento até a respectiva apresentação, responsabilizando-se quem der causa ao atraso.
§ 2o Se um parecer obrigatório e não vinculante deixar de ser emitido no prazo fixado, o processo poderá
ter prosseguimento e ser decidido com sua dispensa, sem prejuízo da responsabilidade de quem se omitiu
no atendimento.
Art. 43. Quando por disposição de ato normativo devam ser previamente obtidos laudos técnicos de
órgãos administrativos e estes não cumprirem o encargo no prazo assinalado, o órgão responsável pela
instrução deverá solicitar laudo técnico de outro órgão dotado de qualificação e capacidade técnica
equivalentes.
Art. 44. Encerrada a instrução, o interessado terá o direito de manifestar-se no prazo máximo de dez dias,
salvo se outro prazo for legalmente fixado.
Art. 45. Em caso de risco iminente, a Administração Pública poderá motivadamente adotar providências
acauteladoras sem a prévia manifestação do interessado.
Art. 46. Os interessados têm direito à vista do processo e a obter certidões ou cópias reprográficas dos
dados e documentos que o integram, ressalvados os dados e documentos de terceiros protegidos por sigilo
ou pelo direito à privacidade, à honra e à imagem.
Art. 47. O órgão de instrução que não for competente para emitir a decisão final elaborará relatório
indicando o pedido inicial, o conteúdo das fases do procedimento e formulará proposta de decisão,
objetivamente justificada, encaminhando o processo à autoridade competente.
CAPÍTULO XI
DO DEVER DE DECIDIR
Art. 48. A Administração tem o dever de explicitamente emitir decisão nos processos administrativos e
sobre solicitações ou reclamações, em matéria de sua competência.
Art. 49. Concluída a instrução de processo administrativo, a Administração tem o prazo de até trinta dias
para decidir, salvo prorrogação por igual período expressamente motivada.
CAPÍTULO XII
DA MOTIVAÇÃO
Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação dos fatos e dos fundamentos
jurídicos, quando:
I - neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses;
II - imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções;
III - decidam processos administrativos de concurso ou seleção pública;
IV - dispensem ou declarem a inexigibilidade de processo licitatório;
V - decidam recursos administrativos;
VI - decorram de reexame de ofício;
VII - deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a questão ou discrepem de pareceres, laudos,
propostas e relatórios oficiais;
VIII - importem anulação, revogação, suspensão ou convalidação de ato administrativo.
§ 1o A motivação deve ser explícita, clara e congruente, podendo consistir em declaração de concordância
com fundamentos de anteriores pareceres, informações, decisões ou propostas, que, neste caso, serão
parte integrante do ato.
§ 2o Na solução de vários assuntos da mesma natureza, pode ser utilizado meio mecânico que reproduza
os fundamentos das decisões, desde que não prejudique direito ou garantia dos interessados.
§ 3o A motivação das decisões de órgãos colegiados e comissões ou de decisões orais constará da respectiva
ata ou de termo escrito.
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Direito Administrativo
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A motivação de um ato administrativo é a justificativa expressa, escrita, dos motivos que levaram a
Administração Pública à prática do ato. Em outras palavras, é a exposição, por escrito, dos motivos de fato e de direito
que culminaram na prática do ato administrativo.
Observemos que o artigo 50 da Lei 9.784/99 traz expressamente as circunstâncias em que é obrigatória a
motivação do ato administrativo, sugerindo, assim, que os demais atos praticados pela Administração estão dispensados
dela. Vejamos:
“Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos
quando:
I – neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses;
II – imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções;
III – decidam processos administrativos de concurso ou seleção pública;
IV – dispensem ou declarem a inexigibilidade de processo licitatório;
V – decidam recursos administrativos;
VI – decorram de reexame de ofício;
VII – deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a questão ou discrepem de pareceres, laudos, propostas e
relatórios oficiais;
VIII – “importem anulação, revogação, suspensão ou convalidação de ato administrativo.”
O fato é que a edição deste artigo não proíbe a Administração de motivar outros atos que não estejam
expressos nele, tais como os atos “ampliativos de direitos”, os que reconhecem um direito do particular ou aumentam a
abrangência de um direito já reconhecido. Contudo, não podemos nos esquecer de que a maioria dos doutrinadores
defendem, ainda, a tese de que todos os atos vinculados praticados pela Administração devem ser motivados. Com
relação aos atos discricionários, se a lei for omissa quanto à obrigatoriedade de motivação, entendem os estudiosos do
ramo que, da mesma forma que os atos vinculados, também devem ser motivados. Apesar deste posicionamento da
doutrina, o artigo 50 da Lei 9.784/99 inovou, pelo menos na esfera federal, apresentando expressamente as hipóteses que
devem ser motivadas, independente de os atos serem vinculados ou discricionários, levando em consideração a
importância deles.
Art. 51. O interessado poderá, mediante manifestação escrita, desistir total ou parcialmente do pedido
formulado ou, ainda, renunciar a direitos disponíveis.
§ 1o Havendo vários interessados, a desistência ou renúncia atinge somente quem a tenha formulado.
§ 2o A desistência ou renúncia do interessado, conforme o caso, não prejudica o prosseguimento do
processo, se a Administração considerar que o interesse público assim o exige.
Art. 52. O órgão competente poderá declarar extinto o processo quando exaurida sua finalidade ou o
objeto da decisão se tornar impossível, inútil ou prejudicado por fato superveniente.
CAPÍTULO XIV
DA ANULAÇÃO, REVOGAÇÃO E CONVALIDAÇÃO
Art. 53. A Administração deve anular seus próprios atos, quando eivados de vício de legalidade, e pode
revogá-los por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos.
Art. 54. O direito da Administração de anular os atos administrativos de que decorram efeitos favoráveis
para os destinatários decai em cinco anos, contados da data em que foram praticados, salvo comprovada
má-fé.
§ 1o No caso de efeitos patrimoniais contínuos, o prazo de decadência contar-se-á da percepção do
primeiro pagamento.
§ 2o Considera-se exercício do direito de anular qualquer medida de autoridade administrativa que
importe impugnação à validade do ato.
Art. 55. Em decisão na qual se evidencie não acarretarem lesão ao interesse público nem prejuízo a
terceiros, os atos que apresentarem defeitos sanáveis poderão ser convalidados pela própria
Administração.
4. Da Convalidação
Convalidação (ou sanatória) é a correção de um ato administrativo eivado de vícios passíveis de correção
(haja vista que tais vícios não são graves), com eficácia retroativa (ex tunc). Nestes casos, o ato é denominado de “ato
anulável”. Lembramos que o ato não passível de convalidação (por conter vício grave) é tido como “nulo” (e não
anulável).
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Direito Administrativo
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Mas o ato portador de defeitos sanáveis (passível de correção) somente poderá ser convalidado expressamente
se não houver prejuízo ao interesse público ou a terceiros.
Conforme dispõem os doutrinadores, são sanáveis os atos com:
a) vício no elemento “competência”, quando não-exclusiva do órgão ou da autoridade e
b) vício no elemento “forma”, quando não essencial à validade do ato.
O prazo legal para a Administração anular seus atos irregulares, independente do vício que apresentam, é de
cinco anos. Após este período, que a doutrina e a própria lei 9.784/99 denominam de decadencial, não poderá mais o ato
ser anulado e diz-se ter havido a convalidação tácita. Ressalva se faz quando o particular tiver agido com má-fé, haja
vista que, nestas situações, deverá a Administração anular o ato (mesmo após o período retro mencionado).
Resumindo, verificamos o seguinte:
a) Os atos benéficos aos administrados (salvo comprovada má-fé de sua parte), mas com
irregularidades insanáveis, deverão ser anulados pela Administração. Mas se esta, dentro do
prazo de cinco anos, assim não proceder, ocorrerá a denominada convalidação tácita
(subentendida) e o ato não mais poderá ser anulado, estando definitivamente assegurados os
direitos dele decorrentes. O que não pode ocorrer nesta situação é a convalidação expressa, uma
vez que o defeito do ato é grave, insanável;
b) Os atos portadores de defeitos sanáveis podem (discricionariamente) ser convalidados
expressamente pela Administração desde que tal medida não resulte em lesão ao interesse público
ou a terceiros (convalidação expressa). Se tais atos não forem anulados e nem convalidados
expressamente, subentende-se que foram convalidados tacitamente (convalidação tácita).
c) Em verdade, na convalidação tácita, não importa se o defeito do ato administrativo é sanável ou
não. Depois de transcorrido o prazo decadencial de cinco anos, a Administração Pública não
mais poderá anulá-lo, salvo se comprovada má-fé do beneficiário do ato.
CAPÍTULO XV
DO RECURSO ADMINISTRATIVO E DA REVISÃO
Art. 56. Das decisões administrativas cabe recurso, em face de razões de legalidade e de mérito.
§ 1o O recurso será dirigido à autoridade que proferiu a decisão, a qual, se não a reconsiderar no prazo de
cinco dias, o encaminhará à autoridade superior.
§ 2o Salvo exigência legal, a interposição de recurso administrativo independe de caução.
§ 3o Se o recorrente alegar que a decisão administrativa contraria enunciado da súmula vinculante,
caberá à autoridade prolatora da decisão impugnada, se não a reconsiderar, explicitar, antes de
encaminhar o recurso à autoridade superior, as razões da aplicabilidade ou inaplicabilidade da súmula,
conforme o caso. (Incluído pela Lei nº 11.417, de 2006).
Art. 57 O recurso administrativo tramitará no máximo por três instâncias administrativas, salvo
disposição legal diversa.
Se a lei, em seu artigo 57, determina que haverá, no máximo (salvo disposição legal em contrário), três
instâncias recursais, isto significa que, em regra, o processo como um todo tramitará por, no máximo, quatro instâncias
(a inicial e mais três recursais).
III - aqueles cujos direitos ou interesses forem indiretamente afetados pela decisão recorrida;
Quanto ao inciso II, é de se notar que, mesmo não sendo o particular uma das “partes” do processo, poderá
ingressar com recurso administrativo caso a decisão venha a afetar indiretamente um direito ou interesse dele; direito
este que sequer estava sendo discutido no processo administrativo. Citamos como exemplo o fato da Administração
revogar ato de permissão para instalar um restaurante turístico em uma determinada área pública. O particular, dono do
estabelecimento, que teve a permissão revogada, poderá interpor recurso administrativo. Um fornecedor de bebidas, que
mantinha contrato em vigor com o permissionário (titular do direito), por se sentir prejudicado, também terá
legitimidade para recorrer da decisão da Administração, uma vez que a decisão afeta indiretamente os interesses dele.
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§ 1o Quando a lei não fixar prazo diferente, o recurso administrativo deverá ser decidido no prazo
máximo de trinta dias, a partir do recebimento dos autos pelo órgão competente.
§ 2o O prazo mencionado no parágrafo anterior poderá ser prorrogado por igual período, ante
justificativa explícita.
Art. 60. O recurso interpõe-se por meio de requerimento no qual o recorrente deverá expor os
fundamentos do pedido de reexame, podendo juntar os documentos que julgar convenientes.
Art. 61. Salvo disposição legal em contrário, o recurso não tem efeito suspensivo.
Se o recurso contra a decisão administrativa não tiver efeito suspensivo, então a decisão recorrida pelo particular, uma
vez prolatada pela Administração, já se encontra apta a produzir seus normais efeitos. Porém, se o recurso tiver efeito
suspensivo, a decisão administrativa terá seus efeitos suspensos até a decisão do recurso. Enquanto isto, não há que se
falar em decisão produzindo efeitos. Assim, com base no dispositivo legal estudado, vimos que, como regra geral, os
recursos administrativos não possuem efeito suspensivo, salvo se houver lei em contrário tratando do tema ou se ficar
caracterizada a circunstância descrita no parágrafo único abaixo citado.
Parágrafo único. Havendo justo receio de prejuízo de difícil ou incerta reparação decorrente da execução,
a autoridade recorrida ou a imediatamente superior poderá, de ofício ou a pedido, dar efeito suspensivo
ao recurso.
A Administração poderá, por iniciativa própria (de ofício), dar efeito suspensivo ao recurso. O recorrente (particular que
ingressou com o recurso) também poderá requerê-lo.
Lembremos que a Administração possui o Poder Hierárquico, o que faz com que as decisões prolatadas por uma
autoridade possam ser revogadas ou anuladas pela autoridade hierarquicamente superior a ela (autotutela da
Administração).
Art. 62. Interposto o recurso, o órgão competente para dele conhecer deverá intimar os demais
interessados para que, no prazo de cinco dias úteis, apresentem alegações.
Art. 63. O recurso não será conhecido quando interposto:
I - fora do prazo;
II - perante órgão incompetente;
III - por quem não seja legitimado;
IV - após exaurida a esfera administrativa.
Quando o recorrente satisfaz todas as exigências procedimentais para ingressar com um recurso administrativo, dizemos
que ele cumpriu com os requisitos ou pressupostos de admissibilidade do recurso. Desta forma, a Administração
conhecerá do recurso e prolatará a sua decisão. Contudo, os incisos I a IV do artigo 63 descrevem situações que,
ocorrendo, ensejam o não conhecimento do recurso. Assim, o recurso sequer será julgado pela Administração.
§ 1o Na hipótese do inciso II, será indicada ao recorrente a autoridade competente, sendo-lhe devolvido o
prazo para recurso.
§ 2o O não conhecimento do recurso não impede a Administração de rever de ofício o ato ilegal, desde que
não ocorrida preclusão administrativa.
Por este dispositivo legal, mesmo que o recurso interposto pelo particular não seja recebido, por não ter preenchido os
requisitos de admissibilidade dele, poderá a Administração rever, por iniciativa própria (de ofício), o ato que apresente
vício de legalidade. Mas, para rever o ato, não poderá ter ocorrido a preclusão administrativa, ou seja, o encerramento
das vias administrativas.
Art. 64. O órgão competente para decidir o recurso poderá confirmar, modificar, anular ou revogar, total
ou parcialmente, a decisão recorrida, se a matéria for de sua competência.
Parágrafo único. Se da aplicação do disposto neste artigo puder decorrer gravame à situação do
recorrente, este deverá ser cientificado para que formule suas alegações antes da decisão.
Art. 64-A. Se o recorrente alegar violação de enunciado da súmula vinculante, o órgão competente para
decidir o recurso explicitará as razões da aplicabilidade ou inaplicabilidade da súmula, conforme o caso.
(Incluído pela Lei nº 11.417, de 2006).
Art. 64-B. Acolhida pelo Supremo Tribunal Federal a reclamação fundada em violação de enunciado da
súmula vinculante, dar-se-á ciência à autoridade prolatora e ao órgão competente para o julgamento do
recurso, que deverão adequar as futuras decisões administrativas em casos semelhantes, sob pena de
responsabilização pessoal nas esferas cível, administrativa e penal. (Incluído pela Lei nº 11.417, de 2006).
Art. 65. Os processos administrativos de que resultem sanções poderão ser revistos, a qualquer tempo, a
pedido ou de ofício, quando surgirem fatos novos ou circunstâncias relevantes suscetíveis de justificar a
inadequação da sanção aplicada.
Parágrafo único. Da revisão do processo não poderá resultar agravamento da sanção.
CAPÍTULO XVI
DOS PRAZOS
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Direito Administrativo
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Art. 66. Os prazos começam a correr a partir da data da cientificação oficial, excluindo-se da contagem o
dia do começo e incluindo-se o do vencimento.
§ 1o Considera-se prorrogado o prazo até o primeiro dia útil seguinte se o vencimento cair em dia em que
não houver expediente ou este for encerrado antes da hora normal.
§ 2o Os prazos expressos em dias contam-se de modo contínuo.
§ 3o Os prazos fixados em meses ou anos contam-se de data a data. Se no mês do vencimento não houver o
dia equivalente àquele do início do prazo, tem-se como termo o último dia do mês.
Art. 67. Salvo motivo de força maior devidamente comprovado, os prazos processuais não se suspendem.
CAPÍTULO XVII
DAS SANÇÕES
Art. 68. As sanções, a serem aplicadas por autoridade competente, terão natureza pecuniária ou
consistirão em obrigação de fazer ou de não fazer, assegurado sempre o direito de defesa.
CAPÍTULO XVIII
DAS DISPOSIÇÕES FINAIS
Art. 69. Os processos administrativos específicos continuarão a reger-se por lei própria, aplicando-se-lhes
apenas subsidiariamente os preceitos desta Lei.
Art. 70. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília 29 de janeiro de 1999; 178o da Independência e 111o da República.
CAPÍTULO VIII
LEI 8.429/92
(LEI DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA)
1. Introdução
Diz o artigo 37, parágrafo quarto, da CF/88 que “os atos de improbidade administrativa importarão a
suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na
forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível”. Posteriormente, regulamentando o artigo 37
acima exposto, foi editada a Lei 8.429/92, que dispõe sobre os atos de improbidade administrativa praticados por agente
público (servidor ou não) contra o Poder Público, nas três esferas de governo: federal, estadual ou municipal.
3.1. Kiyoshi Harada nos trás o conceito de improbidade administrativa, como sendo “aquele praticado por
agente público, contrário às normas da moral, à lei e aos bons costumes, ou seja, aquele ato que indica falta de honradez
e de retidão de conduta no modo de proceder perante a Administração pública direta, indireta, ou fundacional, nas três
esferas políticas”.
3.2. Para Alexandre de Moraes, os atos de improbidade administrativa “são aqueles que, possuindo natureza
civil e devidamente tipificados em lei federal, ferem direta ou indiretamente os princípios constitucionais e legais da
administração pública, independentemente de importarem enriquecimento ilícito ou de causarem prejuízo material ao
erário público”.
Comentários do professor: Atenção! Embora a Lei em estudo disponha, em seu preâmbulo, que seu conteúdo trata das
sanções aplicáveis aos agentes que tenham enriquecido ilicitamente no exercício de mandato, cargo, emprego ou função
pública, podemos verificar, mais abaixo, que os atos de improbidade são classificados em três espécies, a saber: a) os
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Direito Administrativo
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que dão ensejo a enriquecimento ilícito; b) os que geram prejuízo ao erário e c) os que atentam contra os princípios da
Administração pública.
4.2. Quem poderá vir a ser considerado como autor de ato de improbidade administrativa? Diz a Lei:
Qualquer agente público seja ele servidor ou não.
Comentários do professor: Na verdade, devemos observar que a lei de improbidade administrativa tem como
destinatários todos os agentes públicos (independente de qual for a vinculação que os mesmos têm com o Poder
Público), bem como os que, não sendo agentes públicos, induzam ou concorram para as condutas de improbidade ou
delas se beneficiem, direta ou indiretamente. Neste último caso, verificamos que um particular pode cometer ato de
improbidade administrativa, desde que haja a presença de um agente público na perpetração do ilícito e ele tenha
induzido ou concorrido na prática do ato de improbidade.Caso contrário, se o ilícito causador de dano à Administração
for praticado pelo particular sem a concorrência de um agente público, não há que se falar na prática de um ato de
improbidade descrito na Lei 8.429/92, mas tão-somente na prática de um ato ilícito danoso ao Poder Pùblico. Por óbvio,
não haverá para o particular a perda da função pública, por estar ausente tal requisito.
4.3. O ato de improbidade se dará contra quem, ou seja, quem poderá ser a pessoa lesada com o ato de
improbidade administrativa praticado pelo agente público? Diz a Lei: a administração direta, indireta ou fundacional
de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, de Território, de empresa
incorporada ao patrimônio público ou de entidade para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com
mais de cinqüenta por cento do patrimônio ou da receita anual. Estão também sujeitos às penalidades desta lei os atos de
improbidade praticados contra o patrimônio de entidade que receba subvenção, benefício ou incentivo, fiscal ou creditício,
de órgão público bem como daquelas para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com menos de
cinqüenta por cento do patrimônio ou da receita anual, limitando-se, nestes casos, a sanção patrimonial à repercussão do
ilícito sobre a contribuição dos cofres públicos.
4.4. Quem podemos considerar como agentes públicos para os efeitos desta lei? Diz a Lei: reputa-se agente
público, para os efeitos desta lei, todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição,
nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou
função nas entidades mencionadas na pergunta anterior.
Comentários do professor: Segundo alguns doutrinadores, os agentes públicos podem ser classificados em:
a) agentes políticos: são os componentes do Governo nos seus primeiros escalões, investidos em cargos, funções,
mandatos ou comissões, possuindo funções de direção e orientação delineadas na CF/88. Portanto, suas
atribuições são oriundas diretamente da Constituição. Normalmente suas funções são de caráter transitório.
Em regra, sua investidura se dá por eleição, nomeação, delegação ou designação, sem necessidade de
concurso público, que lhes confere (a investidura) o direito a um mandato eletivo, não se sujeitando às regras
comuns, ou seja, aos regimes jurídicos funcionais aplicáveis aos servidores e empregados públicos em geral, e
sim, às regras estabelecidas pela própria Constituição. Desta forma, não se lhes aplica a Lei 8.112/90, mas
basicamente as prerrogativas constantes no Direito Constitucional. São exemplos: Chefes do Executivo
(presidente, governadores e prefeitos); Ministros, Secretários Estaduais, Secretários Municipais e Distritais
(todos auxiliares dos Chefes do Executivo) e os Parlamentares (membros do Poder Legislativo: Senadores,
Deputados Federais/Estaduais/Distritais e Vereadores). Quanto aos parlamentares, temos a dizer que seus
suplentes não são considerados agentes públicos enquanto não estiverem no exercício da função pública. É de
se verificar, também, que os agentes políticos não são hierarquizados entre si, exercendo suas atribuições com
independência funcional. Exceção ocorre quanto aos auxiliares diretos dos Chefes do Executivo, tais como os
Ministros de Estado e Secretários Estaduais e Municipais, haja vista serem diretamente subordinados aos seus
respectivos Chefes.
Atenção! Hely Lopes Meirelles acresce, ainda, a esta classificação, os Magistrados (desde os que atuam na
Primeira Instância Judiciária até os Ministros dos Tribunais Superiores e do STF), os membros do Ministério
Público Federal ou Estadual e os Ministros e Conselheiros dos Tribunais de Contas. Mas, diga-se de
passagem, este último raciocínio não é aceito por alguns doutrinadores de renome, tais como Celso Antonio
Bandeira de Mello, Maria Sylvia Di Pietro, Celso Antonio Bandeira de Mello e José dos Santos Carvalho
Filho. Aliás, este último acrescenta em sua obra que “o que caracteriza o agente político não é o só fato de
serem mencionados na Constituição, mas sim o de exercerem efetivamente (e não eventualmente) função
política, de governo e administração, de comando e, sobretudo, de fixação das estratégias de ação, ou seja, aos
agentes políticos é que cabe realmente traçar os destinos do país.” Seguindo este raciocínio, observamos que
os magistrados, por exemplo, não interferem diretamente nos objetivos políticos da nação. Contudo, diversas
provas de concursos públicos acatam a doutrina defendida por Hely Lopes Meirelles, sendo que a mesma é
aceita, também, pelo Supremo Tribunal Federal.
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b) Agentes Particulares Colaboradores com o Poder Público: embora sejam particulares, são requisitados para
a execução de certas funções especiais qualificadas como públicas, haja vista a existência de um vínculo
jurídico os ligando ao Estado. Desta forma, desempenham um múnus público (dever de cidadania). Suas
funções são transitórias e, em regra, não remuneradas. Em compensação, recebem benefícios colaterais, como
o apostilamento da situação nos prontuários funcionais ou a concessão de um período de descanso remunerado
após o desempenho das tarefas. Ex: jurados, mesários nas eleições, comissários de menores voluntários, os
titulares de ofícios de notas e de registro não oficializados (art. 236 da CF/88) e os concessionários e
permissionários de serviços públicos. Podemos acrescentar, ainda, segundo alguns doutrinadores, os
recrutados para o serviço militar obrigatório e os contratados por locação civil de serviços (como um
advogado de notório saber. Os agentes honoríficos, delegados e credenciados, segundo a classificação adotada
pelo professor Hely Lopes Meirelles enquadram-se nesta categoria (agentes particulares colaboradores com o
Poder Pùblico), adotada por outros doutrinadores.
c) Servidores Estatais: é a categoria que engloba o maior número de integrantes. Alguns autores preferem utilizar
a expressão “agentes administrativos”, e outros, a de “funcionários públicos” (esta última expressão foi
banida pela atual Constituição). Integram a Administração Direta e Indireta. Possuem, em regra, vínculo
permanente de trabalho. Atuam mediante subordinação (hierarquia) no desempenho de suas atividades
funcionais e recebimento de remuneração pelas atividades executadas (vencimentos, para os servidores, e
salário para os trabalhadores da iniciativa privada). Segundo Celso Antonio Bandeira de Mello, os agentes
estatais compreendem: a) os servidores titulares de cargos públicos na Administração Direta, autárquica e
fundacional de direito público, b) os servidores empregados da Administração Direta e de todas as entidades
da Administração Indireta, e c) os contratados temporariamente para atender à necessidade transitória de
excepcional interesse público;
Mas, muita Atenção ! segundo a classificação adotada pelo professor Hely Lopes Meirelles, muito cobrada em
concursos públicos, os agentes públicos compõem-se de cinco grupos/espécies a saber:
b) Agentes Administrativos: esta classificação é constituída por todos aqueles que exercem um cargo, emprego
ou função pública, com vínculo empregatício junto ao Poder Público (ou seja, exercem suas funções a título de
profissão), com subordinação hierárquica e mediante remuneração (portanto, não atuam de forma gratuita),
exercendo as atribuições a eles cometidas pela lei. Os agentes administrativos estão sujeitos à hierarquia
funcional do órgão ou entidade a qual desempenham suas atribuições. Integram os quadros da Administração
Direta e Indireta. Incluem-se nesta classificação os servidores públicos (titulares de cargos efetivos ou em
comissão), os empregados públicos e os contratados temporários (em virtude de necessidade excepcional de
interesse público).
b.1. Servidores Públicos: são agentes administrativos. Ocupam cargos efetivos (mediante aprovação em
concurso público) ou em comissão (livre nomeação e exoneração). Estão sujeitos ao regime estatutário, de
natureza eminentemente legal, e passível de alteração unilateral, desde que respeitados os direitos adquiridos do
servidor. Integram a Administração Direta, suas autarquias e fundações públicas com personalidade jurídica de
direito público. Os servidores ocupantes de cargo efetivo podem adquirir a estabilidade.
b.2. Empregados Públicos: são agentes administrativos. Necessitam de aprovação em concurso público. Ocupam
permanentemente um emprego público. Encontram-se regrados pela CLT. Seu vínculo com a Administração
tem caráter contratual, não sendo passível de alteração unilateral. Integram a Administração Direta e Indireta
(ressalvadas as funções típicas de Estado). Atenção! A atual Constituição não adotou a expressão “funcionário
público”, motivo pelo qual referido vocábulo encontra-se em franco desuso, salvo, ainda, no âmbito do direito
penal. Assim, a expressão funcionário público, no Direito Penal, deve ser entendida como agente público no
Direito Administrativo, devendo cada uma ser utilizada em suas respectivas áreas jurídicas.
c) Agentes Honoríficos: são agentes públicos. Através de requisição, designação ou nomeação prestam serviços
públicos relevantes. Desempenham suas tarefas a título de múnus público, ou seja, no cumprimento de um dever
de cidadania. Em regra, não há vínculo profissional com o Estado e seu trabalho é não-remunerado. Mas esta
regra não é absoluta, uma vez que os conscritos, por exemplo, possuem relação de emprego com o Estado e são
remunerados pelo exercício de suas atividades. Da mesma forma, os membros dos Conselhos Tutelares são
atualmente remunerados em diversos Estados brasileiros. Para fins penais, são tidos como funcionários
públicos. Ex: mesários, jurados, membros de conselhos em geral e os conscritos (os que estão prestando o
serviço militar obrigatório).
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Direito Administrativo
Professor Thales Perrone
d) Agentes Delegados: são agentes públicos. Compõe esta espécie os particulares que prestam atividades,
serviços públicos ou executam obras em seu próprio nome e por sua conta e risco (portanto, não são tidos como
agentes administrativos, uma vez que não há subordinação entre eles e Poder Público). Assim, enquanto que os
demais agentes atuam em nome do Poder Público, os delegados – e somente eles - agem em seu próprio nome.
Em regra, tais agentes desempenham suas tarefas mediante delegação do Estado. Ex: tradutores, intérpretes,
leiloeiros públicos, autorizatários, permissionários e concessionários de serviços públicos.
e) Agentes Credenciados: são agentes públicos. Compõe esta espécie os convocados ou convidados a fim de
representar o Poder Público em determinada solenidade ou para desempenhar alguma tarefa específica. Não têm
vínculo profissional com o Estado. O que os diferencia dos agentes honoríficos está no fato de, em regra, serem
remunerados pelo exercício de suas atividades. Para fins penais, são tidos como funcionários públicos. Ex:
agente convocado para representar o país numa solenidade internacional ou o convite endereçado a um notório
advogado para pertencer a uma comissão responsável pela elaboração de um projeto de lei.
4.5. As disposições da lei de improbidade poderão alcançar, também, outras pessoas que não sejam
classificadas como agentes públicos? Diz a Lei: as disposições desta lei são aplicáveis, no que couber, àqueles que,
mesmo não sendo agentes públicos, induzam ou concorram para a prática do ato de improbidade administrativa ou dele se
beneficiem sob qualquer forma direta ou indireta.
Comentários do professor: Caso o terceiro (que não é agente público) seja beneficiado com a ação ilícita de outrem,
incorrerá nas disposições previstas na lei de improbidade administrativa.
Verifica-se, assim, que a Lei de Improbidade não exige que o agente seja servidor público, prevendo taxativamente que
não se exigirá tal condição para aplicação das disposições nela previstas.
Portanto, mesmo que um particular não induza ou concorra com o agente público para a prática de um ato de
improbidade, ele estará sujeito às disposições da Lei 8.429/92 sempre que se beneficiar (direta ou indiretamente), de um
ato de improbidade praticado pelo agente público. Exemplo: se o pai de um agente ímprobo recebe de presente um
automóvel, deverá devolvê-lo ao Poder Público.
4.6. Quais princípios expressos pela lei de improbidade devem ser observados por todos os agentes
públicos de qualquer nível ou hierarquia? Diz a Lei: Legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade.
Comentários do professor: embora a lei de improbidade administrativa não tenha trazido expressamente os demais
princípios que a administração deve obediência (eficiência, motivação, proporcionalidade, razoabilidade etc.), ela
deverá respeitá-los.
4.7. Em quais situações dar-se-á o integral ressarcimento do dano (lesão) causado ao patrimônio público?
Diz a Lei: nos casos de ação ou omissão, dolosa ou culposa, do agente público ou de terceiro.
4.8. Em havendo enriquecimento ilícito, qual será a conseqüência? Diz a Lei: O agente público ou terceiro
beneficiário perderão os bens e valores acrescidos indevidamente ao seu patrimônio.
4.9. Em quais situações deverá a autoridade administrativa responsável pelo inquérito representar ao
Ministério Público para a indisponibilidade dos bens do indiciado que assegurem o integral ressarcimento do dano,
ou sobre o acréscimo patrimonial resultante do enriquecimento ilícito? Diz a Lei: Quando o ato de improbidade
causar lesão ao patrimônio público ou ensejar enriquecimento ilícito.
4.10. Os sucessores daquele que causar lesão ao patrimônio público ou se enriquecer ilicitamente também
estarão sujeitos às cominações da lei 8.429/92? Diz a Lei: Sim, porém se responsabilizarão somente até o limite do
valor da herança deixada pelo falecido.
Comentários do professor: esta é uma regra geral de responsabilidade aplicável aos herdeiros e legatários do
“de cujus” (falecido) que enriqueceu ilicitamente ou causou dano ao erário (quando em vida), por ato doloso ou culposo,
e que vem expressa, também, na Lei 8.429/92 em seu artigo 8º.
4.11. Cite as espécies de atos de improbidade administrativa: a) os que importam enriquecimento ilícito; b)
os que causam prejuízo ao erário e c) os que atentam contra os princípios da Administração Pública.
4.12. Quando o ato de improbidade administrativa importa enriquecimento ilícito? Quando o agente
público ou terceiro:
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Direito Administrativo
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a) auferir qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do exercício de cargo, mandato, função,
emprego ou atividade nas entidades mencionadas no art. 1º da Lei 8.429/92;
Comentários do professor: Citamos como exemplos de vantagens patrimoniais indevidas o ato de receber quaisquer
títulos ou documentos representativos de valor, tais como títulos da dívida pública, ações, cheques, notas promissórias
etc; obter empréstimos ou adquirir ações ou cotas de sociedades por preço inferior ao real praticado no mercado, ou
utilizar serviços, locar móveis ou imóveis, transporte ou hospedagens gratuitos.
b) receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem móvel ou imóvel, ou qualquer outra vantagem econômica, direta ou
indireta, a título de comissão, percentagem, gratificação ou presente de quem tenha interesse, direto ou indireto, que possa
ser atingido ou amparado por ação ou omissão decorrente das atribuições do agente público;
c) perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem móvel ou
imóvel, ou a contratação de serviços pelas entidades referidas no art. 1° da Lei 8.429/92 por preço superior ao valor de
mercado;
d) perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para facilitar a alienação, permuta ou locação de bem público ou
o fornecimento de serviço por ente estatal por preço inferior ao valor de mercado;
e) utilizar, em obra ou serviço particular, veículos, máquinas, equipamentos ou material de qualquer natureza, de
propriedade ou à disposição de qualquer das entidades mencionadas no art. 1° da Lei 8.429/92, bem como o trabalho de
servidores públicos, empregados ou terceiros contratados por essas entidades;
f) receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indireta, para tolerar a exploração ou a prática de
jogos de azar, de lenocínio, de narcotráfico, de contrabando, de usura ou de qualquer outra atividade ilícita, ou aceitar
promessa de tal vantagem;
g) receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indireta, para fazer declaração falsa sobre medição ou
avaliação em obras públicas ou qualquer outro serviço, ou sobre quantidade, peso, medida, qualidade ou característica de
mercadorias ou bens fornecidos a qualquer das entidades mencionadas no art. 1º da lei 8.429/92;
h) adquirir, para si ou para outrem, no exercício de mandato, cargo, emprego ou função pública, bens de qualquer
natureza cujo valor seja desproporcional à evolução do patrimônio ou à renda do agente público;
i) aceitar emprego, comissão ou exercer atividade de consultoria ou assessoramento para pessoa física ou jurídica que
tenha interesse suscetível de ser atingido ou amparado por ação ou omissão decorrente das atribuições do agente público,
durante a atividade;
j) perceber vantagem econômica para intermediar a liberação ou aplicação de verba pública de qualquer natureza;
l) receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indiretamente, para omitir ato de ofício, providência
ou declaração a que esteja obrigado;
m) incorporar, por qualquer forma, ao seu patrimônio bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo
patrimonial das entidades mencionadas no art. 1° da Lei 8.429/92;
n) usar, em proveito próprio, bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades
mencionadas no art. 1° da Lei 8.429/92.
a) qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação,
malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º desta lei, e notadamente:
b) facilitar ou concorrer por qualquer forma para a incorporação ao patrimônio particular, de pessoa física ou
jurídica, de bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta
lei;
c) permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica privada utilize bens, rendas, verbas ou valores
integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta lei, sem a observância das formalidades
legais ou regulamentares aplicáveis à espécie;
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Direito Administrativo
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d) doar à pessoa física ou jurídica bem como ao ente despersonalizado, ainda que de fins educativos ou
assistências, bens, rendas, verbas ou valores do patrimônio de qualquer das entidades mencionadas no art. 1º desta lei, sem
observância das formalidades legais e regulamentares aplicáveis à espécie;
e) permitir ou facilitar a alienação, permuta ou locação de bem integrante do patrimônio de qualquer das
entidades referidas no art. 1º desta lei, ou ainda a prestação de serviço por parte delas, por preço inferior ao de mercado;
f) permitir ou facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem ou serviço por preço superior ao de mercado;
g) realizar operação financeira sem observância das normas legais e regulamentares ou aceitar garantia
insuficiente ou inidônea;
h) conceder benefício administrativo ou fiscal sem a observância das formalidades legais ou regulamentares
aplicáveis à espécie;
l) agir negligentemente na arrecadação de tributo ou renda, bem como no que diz respeito à conservação do
patrimônio público;
m) liberar verba pública sem a estrita observância das normas pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua
aplicação irregular;
o) permitir que se utilize, em obra ou serviço particular, veículos, máquinas, equipamentos ou material de
qualquer natureza, de propriedade ou à disposição de qualquer das entidades mencionadas no art. 1° desta lei, bem como o
trabalho de servidor público, empregados ou terceiros contratados por essas entidades;
p) celebrar contrato ou outro instrumento que tenha por objeto a prestação de serviços públicos por meio da
gestão associada sem observar as formalidades previstas na lei; (Incluído pela Lei nº 11.107, de 2005);
q) celebrar contrato de rateio de consórcio público sem suficiente e prévia dotação orçamentária, ou sem
observar as formalidades previstas na lei. (Incluído pela Lei nº 11.107, de 2005)
a) qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às
instituições, e notadamente;
b) praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso daquele previsto, na regra de
competência;
d) revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão das atribuições e que deva permanecer em segredo;
h) revelar ou permitir que chegue ao conhecimento de terceiro, antes da respectiva divulgação oficial, teor de
medida política ou econômica capaz de afetar o preço de mercadoria, bem ou serviço.
CAPÍTULO III
Das Penas
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4.15. O responsável pelo ato de improbidade administrativa estará sujeito às cominações (penalidades)
descritas na Lei 8.429-92. Mas, além destas cominações, poderá ele estar sujeito, ainda, às sanções penais, civis ou
administrativas previstas na legislação específica? Diz a Lei: sim, conforme determina o artigo 12 da Lei 8.429/92.
Comentários do professor: Conforme nos ensina Marcelo Figueiredo em sua obra, Probidade Administrativa, “A
responsabilidade penal decorre da prática de crimes funcionais previstos no Código Penal. A responsabilidade civil
decorre da prática ou omissão, dolosa ou culposa, de atos de servidores causadores de um dano patrimonial à
Administração. Por fim, a responsabilidade administrativa advém do descumprimento de regras da administração, da
violação de normas funcionais, do irregular desempenho da função pública”. E continua o renomado autor: “A ação de
improbidade é ação de natureza civil, de rito ordinário, e tem por escopo fundamental identificar e punir atos de
improbidade... Permite a ação de improbidade identificar o agente, classificar a conduta e puni-lo com ressarcimento do
patrimônio público, se for o caso. A Lei de Improbidade, recorde-se, não é norma penal, adotada a visão clássica de
privação de liberdade. Restringe direitos políticos, bloqueia bens e direitos, atinge o patrimônio, o crédito e o regular
desenvolvimento da atividade da pessoa ou da empresa.”
Não devemos nos esquecer de que a CF/88 faz referência, em seu artigo 37, parágrafo quarto, às seguintes
penalidades: suspensão dos direitos políticos, perda da função pública, indisponibilidade dos bens e ressarcimento ao
erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.
4.16. Qual será a cominação (pena) imposta pela Lei 8.429/92 quando o ato de improbidade
administrativa tiver importado enriquecimento ilícito? Diz a Lei: Perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao
patrimônio, ressarcimento integral do dano, quando houver, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de
oito a dez anos, pagamento de multa civil de até três vezes o valor do acréscimo patrimonial e proibição de contratar com
o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por
intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de dez anos.
4.17. Qual será a cominação (pena) imposta pela Lei 8.429/92 quando o ato de improbidade
administrativa tiver importado prejuízo (lesão) ao erário? Diz a Lei: Ressarcimento integral do dano, perda dos bens
ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta circunstância, perda da função pública, suspensão dos
direitos políticos de cinco a oito anos, pagamento de multa civil de até duas vezes o valor do dano e proibição de contratar
com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por
intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos.
4.18. Qual será a cominação (pena) imposta pela Lei 8.429/92 quando o ato de improbidade
administrativa tiver importado atentado contra os princípios da administração pública? Diz a Lei: Ressarcimento
integral do dano, se houver, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de três a cinco anos, pagamento de
multa civil de até cem vezes o valor da remuneração percebida pelo agente e proibição de contratar com o Poder Público
ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa
jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de três anos.
Comentários do professor: podemos visualizar esta parte da matéria através da seguinte tabela:
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4.19. Qual critério adotará o juiz para fixar as penas previstas na Lei 8.429/92 acima estudadas? Diz a
Lei: Na fixação das penas previstas na Lei 8.429/92 o juiz levará em conta a extensão do dano causado, assim como o
proveito patrimonial obtido pelo agente.
CAPÍTULO IV
Da Declaração de Bens
4.20. Visando obedecer às determinações da Lei de Improbidade, como deve proceder a Administração
Pública diante dos atos de posse e de exercício de seus agentes públicos? Diz a Lei: a posse e o exercício de agente
público ficam condicionados à apresentação de declaração dos bens e valores que compõem o seu patrimônio privado, a
fim de ser arquivada no serviço de pessoal competente.
4.21. Quais informações devem constar da declaração de bens e valores apresentada pelo agente público?
Diz a Lei: a declaração compreenderá imóveis, móveis, semoventes, dinheiro, títulos, ações, e qualquer outra espécie de
bens e valores patrimoniais, localizados no País ou no exterior, e, quando for o caso, abrangerá os bens e valores
patrimoniais do cônjuge ou companheiro, dos filhos e de outras pessoas que vivam sob a dependência econômica do
declarante, excluídos apenas os objetos e utensílios de uso doméstico.
4.22. Com qual periodicidade deve ser apresentada a declaração de bens e valores pelo agente público?
Diz a Lei: a declaração de bens será anualmente atualizada e na data em que o agente público deixar o exercício do
mandato, cargo, emprego ou função.
4.23. Qual é a penalidade aplicada pela Administração caso o agente público apresente declaração falsa
ou se recuse a prestá-la dentro do prazo determinado? Diz a Lei: o agente público será punido com a pena de
demissão, a bem do serviço público, sem prejuízo de outras sanções cabíveis. Observação: o agente público (declarante),
se assim o desejar, poderá entregar cópia da declaração anual de bens apresentada à Delegacia da Receita Federal, com as
necessárias atualizações, para suprir a exigência contida no caput e no § 2° deste artigo .
CAPÍTULO V
Do Procedimento Administrativo e do Processo Judicial
4.24. Quais são as pessoas com capacidade para representar à autoridade administrativa competente para
que seja instaurada investigação destinada a apurar a prática de ato de improbidade? Diz a Lei: Qualquer pessoa.
4.25. De que forma se dará a representação? Diz a Lei: a representação se dará na forma escrita ou oral
(mas, neste último caso, a representação será reduzida a termo) e deverá ser assinada.
4.27. Pode a autoridade administrativa competente rejeitar a representação? Sim, se a representação não
contiver as formalidades acima requeridas. Porém, ressalte-se que a rejeição não impede a representação ao Ministério
Público.
4.28. A rejeição da representação deverá ser motivada? Sim. A autoridade administrativa deverá apresentar
despacho fundamentado justificando o porquê da rejeição da representação.
OBS: Atendidos os requisitos da representação, a autoridade determinará a imediata apuração dos fatos que, em se
tratando de servidores federais, será processada na forma prevista nos arts. 148 a 182 da Lei nº 8.112, de 11 de
dezembro de 1990 e, em se tratando de servidor militar, de acordo com os respectivos regulamentos disciplinares.
4.30. Como deverá agir a comissão em havendo fundados indícios de responsabilidade? A comissão
representará ao Ministério Público ou à procuradoria do órgão para que requeira ao juízo competente a decretação do
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seqüestro dos bens do agente ou terceiro que tenha enriquecido ilicitamente ou causado dano ao patrimônio público. O
pedido de seqüestro será processado de acordo com o disposto nos arts. 822 e 825 do Código de Processo Civil.
OBS: Quando for o caso, o pedido incluirá a investigação, o exame e o bloqueio de bens, contas bancárias e aplicações
financeiras mantidas pelo indiciado no exterior, nos termos da lei e dos tratados internacionais.
A ação principal, que terá o rito ordinário, será proposta pelo Ministério Público ou pela pessoa jurídica interessada,
dentro de trinta dias da efetivação da medida cautelar.
§ 2º A Fazenda Pública, quando for o caso, promoverá as ações necessárias à complementação do ressarcimento do
patrimônio público.
§ 3o No caso de a ação principal ter sido proposta pelo Ministério Público, aplica-se, no que couber, o disposto no §
3 do art. 6o da Lei no 4.717, de 29 de junho de 1965.
o
§ 4º O Ministério Público, se não intervir no processo como parte, atuará obrigatoriamente, como fiscal da lei, sob
pena de nulidade.
Art. 18. A sentença que julgar procedente ação civil de reparação de dano ou decretar a perda dos bens havidos
ilicitamente determinará o pagamento ou a reversão dos bens, conforme o caso, em favor da pessoa jurídica prejudicada
pelo ilícito.
CAPÍTULO VI
Das Disposições Penais
Qual é a penalidade para aquele que apresenta uma representação por ato de improbidade contra agente público
ou terceiro beneficiário, quando o autor da denúncia o sabe inocente? Constitui crime, punível com a detenção de seis
a dez meses e multa. Além da sanção penal, o denunciante está sujeito a indenizar o denunciado pelos danos materiais,
morais ou à imagem que houver provocado.
Comentários do professor: Conforme dispõe a súmula 37 do STJ, “são cumuláveis as indenizações por dano material e
dano moral oriundos do mesmo fato”.
Em qual momento poderá o agente público perder a função pública e ter seus direitos políticos suspensos? Somente
após o trânsito em julgado da sentença (decisão) condenatória na ação de improbidade.
Como poderá atuar a autoridade judicial ou administrativa competente diante da instrução processual? Quaisquer
destas autoridades poderão determinar o afastamento do agente público do exercício do cargo, emprego ou função, sem
prejuízo da remuneração, quando a medida se fizer necessária à instrução processual.
Atenção! A aplicação das sanções previstas na Lei de Improbidade independe da efetiva ocorrência de dano ao
patrimônio público ou da aprovação ou rejeição das contas pelo órgão de controle interno ou pelo Tribunal ou Conselho
de Contas.
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Direito Administrativo
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Atenção! Para apurar qualquer ilícito previsto na Lei de Improbidade Administrativa, o Ministério Público, de ofício, a
requerimento de autoridade administrativa ou mediante representação formulada de acordo com o disposto no art. 14 da
Lei, poderá requisitar a instauração de inquérito policial ou procedimento administrativo.
CAPÍTULO VII
Da Prescrição
Qual é o prazo prescricional para interpor as ações destinadas a levar a efeito as sanções previstas na lei de
improbidade?
a) até cinco anos após o término do exercício de mandato, de cargo em comissão ou de função de confiança ou,
b) dentro do prazo prescricional previsto em lei específica, para faltas disciplinares puníveis com demissão a bem do
serviço público, nos casos de exercício de cargo efetivo ou emprego.
Comentários do professor:
Prescrição administrativa corresponde à não possibilidade da Administração ingressar com uma ação, em virtude da sua
própria inércia durante certo lapso de tempo.
Conforme determina o artigo 142 da Lei 8.112/90, aplicável exclusivamente aos servidores civis da esfera federal, a ação
disciplinar prescreverá em:
I – cinco anos, quanto às infrações puníveis com demissão, cassação de aposentadoria ou disponibilidade e destituição
de cargo em comissão;
Podemos observar que a lei de improbidade se utiliza da expressão genérica - “dentro do prazo prescricional
previsto em lei específica” – haja vista que os Estados e Municípios terão, cada um, seus prazos prescricionais próprios,
devidamente determinados em seus estatutos e leis locais.
CAPÍTULO VIII
Das Disposições Finais
Quando entrou a Lei de Improbidade em vigor? Na data de sua publicação, qual seja, em 02/06/92.
CAPÍTULO IX
SERVIÇOS PÚBLICOS
I – SENTIDOS
a) Sentido Subjetivo: por este sentido, leva-se em conta os órgãos do Estado, responsáveis pela execução das
atividades. Assim, são serviços públicos: o INSS, o INCRA, o IBAMA etc.
b) Sentido Objetivo: leva-se em conta a atividade em si prestada pelo Estado. Não importa, neste sentido, quem
executa a atividade. Há três correntes, a saber:
b.1) 1ª Corrente: Baseia-se no critério orgânico, segundo o qual o serviço público é o prestado por órgão
público, ou seja, pelo próprio Estado.
Qual é o erro desta teoria? Há diversas atividades públicas não restritas apenas ao Estado, mas também
delegadas a particulares.
b.2.) 2ª Corrente: Baseia-se no critério formal, segundo o qual será serviço público o disciplinado por regime de
direito público. O erro nesta teoria está no fato de que as pessoas privadas, como as empresas públicas e as
sociedades de economia mista, sujeitas ao regime jurídico de direito privado, também prestam serviços públicos.
b.3.) 3ª Corrente: Baseia-se no critério material, segundo o qual será serviço público o que atender direta e
essencialmente a comunidade. O erro nesta teoria reside no fato de que algumas atividades não atendem
diretamente os indivíduos, mas sim, indiretamente. Algumas vezes a atividade é secundária, mas nem por isto
menos relevante à comunidade.
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Direito Administrativo
Professor Thales Perrone
As três correntes isoladas são insuficientes para que possamos conceituar serviços públicos sob uma ótica
mais moderna. Assim, todas elas devem ser consideradas para fins de formar um conceito moderno de serviço
público.
Segundo Hely Lopes Meirelles, “serviço público é todo aquele prestado pela Administração ou por seus
delegatários, sob normas e controles estatais, para satisfazer necessidades essenciais ou secundárias da coletividade, ou
simples conveniências do Estado”.
Maria Sylvia Z. di Pietro considera serviço público como “toda atividade material que a lei atribui ao Estado
para que exerça diretamente ou por meio de seus delegados, com o objetivo de satisfazer concretamente às necessidades
coletivas, sob regime jurídico total ou parcialmente de direito público”.
Para José dos Santos Carvalho Filho, é serviço público “toda atividade prestada elo Estado ou por seus
delegados, basicamente sob regime de direito público, com vistas à satisfação de necessidades essenciais e secundárias
da coletividade”.
Celso Antonio Bandeira de Mello conceitua serviço público como “toda atividade de oferecimento de
utilidade ou comodidade material fruível diretamente pelos administrados, prestado pelo Estado ou por quem lhe faça as
vezes, sob um regime jurídico de direito público – consagrador de prerrogativas e sujeições – instituído pelo Estado em
favor dos interesses que houver definido como próprios do sistema normativo”.
III – CARACTERÍSTICAS
a) Os serviços públicos são criados e regulamentados pelo Poder Público, a quem incumbe a fiscalização e a
prestação (art. 175 da CF/88 ). A delegação da prestação não descaracteriza o serviço como público.
b) Os serviços públicos são prestados visando os interesses coletivos primários (ou essenciais), que
correspondem ao atendimento das demandas principais da coletividade, ou dos interesses coletivos
secundários (ou não essenciais). Observe-se, assim, que a essencialidade ou não da prestação do serviço
público não é o fator que determina se o serviço será delegável ou não, vez que há serviços públicos
essenciais que poderão ser delegados a particulares, mediante controle e fiscalização da Administração
delegante.
c) O serviço público se submete ao regime jurídico de direito público, total ou parcialmente. Neste último
caso, será predominante o regime público. Exemplos: normas que impõem a fiscalização dos serviços;
supremacia do Estado quanto à execução dos serviços; prestação de contas etc. Assim, posto de saúde
municipal presta serviço público, ao passo que uma entidade religiosa prestadora dos mesmos serviços,
não.
Não há um consenso doutrinário ou jurisprudencial (decisões judiciais) quanto às classificações para os serviços
públicos. Abaixo, apresentamos a classificação adotada pelo professor José dos Santos Carvalho Filho:
a) Serviços delegáveis: são os que, por sua natureza, ou por disposição legal, possam ser executados pelo
Estado ou por particulares colaboradores. Exemplos: transporte coletivo, energia elétrica e serviços de
telefonia.
b) Serviços indelegáveis: São os que só podem ser prestados pelo Estado diretamente. Exemplos: defesa
nacional; segurança interna; fiscalização de atividades etc. Assim, tais serviços são inerentes ao Poder
Público centralizado e às entidades autárquicas e fundacionais, não podendo ser transferidos a particulares,
para segurança do próprio Estado. Observamos que os serviços ditos essenciais não são necessariamente
indelegáveis, pois podem vir a ser delegados pelo titular dos mesmos.
c) Serviços Administrativos: são os executados pelo Estado para compor melhor sua organização. Exemplo:
edição da imprensa oficial.
d) Serviços de utilidade pública: são os que se destinam diretamente aos indivíduos para sua fruição direta.
Exemplos: energia domiciliar; gás residencial; ensino; atendimento em postos médicos, etc.
e) Serviços Coletivos/Gerais (ou uti universi): são os prestados a agrupamentos indeterminados ou
indetermináveis de indivíduos, não sendo possível à Administração identificar separadamente os
beneficiários do serviço ou mensurar a parcela utilizada por cada um deles. Exemplo: pavimentação de
ruas; iluminação pública; implantação do serviço de abastecimento de água, limpeza urbana, conservação
de logradouros públicos, policiamento urbano, garantia da segurança nacional etc. A remuneração destes
serviços dá-se através do pagamento de impostos.
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Direito Administrativo
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Segue, abaixo, a classificação apresentada pelos professores Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo:
a) Serviços propriamente estatais (ou serviços típicos de Estado): segurança nacional, segurança pública,
serviços judiciais, serviços prestados pela Defensoria Pública etc.
b) Serviços de Utilidade Pública: são serviços que, embora públicos, podem ser prestados por entidades de direito
privado, ou mesmo por particulares, através da delegação. Dentre os serviços não propriamente estatais,
podemos subdividi-los em:
b.1.) serviços que seriam apenas de utilidade pública: neste grupo, encontramos os serviços ditos
prescindíveis, pelo menos teoricamente, tais como: serviço postal, de fornecimento de energia elétrica, educação
etc.
b.2.) serviços essenciais ao interesse público: neste grupo, encontramos os serviços absolutamente
imprescindíveis à coletividade, tais como: abastecimento de água e de esgoto sanitário, coleta de lixo, saúde etc.
Vejamos, agora, a classificação dos serviços públicos quanto à sua natureza, apresentada pelo STF (Supremo Tribunal
Federal) no julgamento do RE 89.876 (Relator Ministro Moreira Alves):
a) Serviços públicos propriamente estatais: são os serviços em que o Estado atua no exercício de sua
soberania, sendo indelegáveis e remunerados necessariamente através de taxas. Exemplo: serviço
judiciário.
b) Serviços públicos essenciais ao interesse público: são os serviços prestados no interesse da comunidade,
sendo, também, remunerados por taxa, que incidirá sobre a utilização efetiva ou potencial dos serviços,
desde que, nesta última hipótese, a lei os defina como de utilização compulsória. Ex: coleta domiciliar de
lixo.
c) Serviços públicos não essenciais: em regra são delegáveis e podem ser remunerados através de preço
público (tarifas). Ex: serviço postal, telefônico, telegráfico, energia elétrica residencial, gás etc.
V - TITULARIDADE
5. Competência
As três esferas de nossa federação têm competência para prestar serviços públicos, conforme determina a
Constituição Federal. Assim, as competências da União encontram-se descritas no artigo 21. As dos Estados (também
chamadas de competências remanescentes), no artigo 25, parágrafo primeiro e as competências dos Municípios
encontram-se arroladas no artigo 30. Lembramos que ao DF cabe a prestação dos serviços públicos da competência dos
Estados e, cumulativamente, dos Municípios, conforme dispõe o artigo 32, parágrafo primeiro, do texto constitucional.
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Direito Administrativo
Professor Thales Perrone
a) Serviços Privativos: são os atribuídos a apenas uma das esferas da federação. Exemplos: União (artigo 21,
VII, X, XXII, que trata da emissão de moedas, do serviço postal e da polícia marítima e aérea). Estados (artigo 25,
parágrafo segundo, que trata da distribuição de gás canalizado). Municípios (artigo 30, III e V, que trata da arrecadação de
tributos municipais e do transporte coletivo intramunicipal).
b) Serviços Comuns (competência comum): são os que podem ser prestados por mais de uma pessoa
federativa. Ex: serviços de saúde pública (art.23, II), promoção de programas de construção de moradias (art. 23, IX),
proteção do meio ambiente (art. 23, VI), preservação das florestas, fauna e flora (art. 23, VII) etc.
Quanto aos serviços de fornecimento de água e saneamento urbano, os mesmos eram prestados, anteriormente à
atual Constituição, pelos Estados, através de sua Administração Indireta Estadual (autarquias, empresas públicas e
sociedades de economia mista). No entendimento de José dos Santos Carvalho Filho, a competência privativa para tais
serviços é atualmente dos Municípios, tendo em vista o que determinam os artigos 30, I (assuntos de interesse local) e V
(organização e prestação dos serviços públicos de interesse local).
5.1. Regulamentação
A regulamentação dos serviços públicos cabe ao Poder Público, indiferentemente se é ele quem o presta
diretamente (execução direta) ou não (execução indireta). Para que sejam executados, os serviços públicos devem ser
normatizados através de decretos e outros atos regulamentares.
5.2. Controle/Fiscalização
Ao titular do serviço cabe o controle/fiscalização do mesmo, que será interno (quando a aferição se voltar aos
órgãos e entidades da Administração que prestam o serviço) ou externo (quando a Administração fiscaliza os particulares
delegatários prestadores do serviço). É o que determina o artigo 3º da Lei 8.987/95: “as concessões e permissões sujeitar-
se-ão à fiscalização pelo poder concedente responsável pela delegação, com a cooperação dos usuários”. Os usuários,
portanto, também poderão cooperar com o Poder Público na fiscalização dos serviços públicos prestados. Por este motivo
o artigo 22 da lei retro mencionada dispõe que qualquer pessoa tem o direito de obter certidões sobre atos, contratos,
decisões ou pareceres relativos à licitação ou às próprias concessões e permissões de serviços públicos. Não nos
esqueçamos de que compete, também, ao Poder Judiciário, a apreciação de qualquer lesão ou ameaça a direito.
Considera-se adequado o serviço público que satisfaça as exigências legais, as normas pertinentes e os
respectivos contratos. Assim, como requisitos mínimos para que o serviço seja considerado adequado, é necessária a
obediência aos seguintes princípios (condições):
a) Princípio da Generalidade (ou princípio da igualdade dos usuários): os serviços públicos devem ser
prestados com a maior amplitude possível, beneficiando-se, assim, o maior número possível de
administrados. Tais serviços devem ser prestados sem discriminação entre os usuários, quando tenham
estes as mesmas condições técnicas e jurídicas para a sua fruição, respeitando-se, por conseqüência, os
princípios da isonomia e da impessoalidade. Desta forma, se o serviço de telefonia residencial se encontra
disponível em uma determinada avenida de Goiânia, todos os moradores que se localizam nesta área terão
direito a usufruir do serviço, desde que atendam às exigências legais para usufruir do serviço.
b) Princípio da Continuidade (ou da Permanência): os serviços públicos não devem sofrer interrupção. Sua
prestação deve ser contínua. Mas eles podem ser suspensos. Segundo alguns doutrinadores, podemos nos
deparar com as seguintes situações:
b.1.) O usuário dos serviços deixa de observar os requisitos técnicos para a prestação: neste caso, enquanto
perdurar tal situação, o Poder Público poderá suspender a prestação do serviço. Exemplo: imaginemos que
uma residência tenha o seu poste residencial de energia danificado em virtude de um acidente
automobilístico. Após o concerto do poste, o usuário readquire o direito de ver o serviço restabelecido;
b.2.) Quando o usuário deixa de pagar por um serviço facultativo: neste caso, o Poder Pùblico poderá
suspender a prestação do serviço (o que guarda coerência com a facultatividade em sua obtenção).
b.3.) Quando o usuário deixa de pagar por um serviço compulsório: não será permitida a suspensão do
serviço, haja vista que o Estado o impôs coercitivamente. Além disso, o Poder Público possui meios
próprios visando a cobrança forçada das taxas não adimplidas (não quitadas), tais como as execuções
fiscais.
b.4.) Emergência: o serviço poderá ser suspenso, independentemente de aviso prévio.
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Segundo o professor José dos Santos Carvalho Filho, “a doutrina tem consignado que os serviços
públicos específicos e divisíveis podem ser remunerados por taxa ou preço (do qual a tarifa é uma das
modalidades). No primeiro caso, os serviços são prestados pelo Estado investido de seu ius imperii, sendo
inerentes à sua soberania, de forma que não podem ser transferidos ao particular, pois que, afinal, visam
apenas a cobrir os custos da execução (ex.: taxa de incêndio ou taxa judiciária); no segundo, a
remuneração tem natureza contratual, e os serviços, que possibilitam a obtenção de lucros, podem ser
delegados a particulares, e o próprio Estado, quando os executa, despe-se de sua potestade, atuando como
particular (tarifas de transportes, de energia elétrica, de uso de linha telefônica ou, com algumas
divergências, de consumo de água).”
E quanto à água? Hely Lopes Meirelles entende que o abastecimento de água não pode ser suspenso
em caso de inadimplemento do usuário, haja vista ser imposto pelo Poder Público e remunerado por taxa,
havendo decisões judiciais neste sentido. Vejamos: “O fornecimento de água, por se tratar de serviço
público fundamental, não pode ser suspenso pelo atraso do pagamento das respectivas tarifas, já que o
Poder Pùblico dispõe dos meios cabíveis para a cobrança dos débitos dos usuários (REsp 201.112-SC, 1ª
Turma, 20/04/99).” Observemos que o REsp n. 782.270-MG da 1ª Turma, julgado em 18/10/2005,
considerou ser “taxa” a remuneração do serviço, ainda que prestado por concessionária.
Porém, não devemos nos esquecer que, cada vez mais, o serviço de abastecimento de água tem sido
delegado a particulares (concessionárias), sendo pago, portanto, através de “tarifas” e passível de
suspensão por inadimplência do usuário. O próprio STF já decidiu que a remuneração do serviço de água
se caracteriza como preço público (tarifa), não possuindo natureza tributária e podendo, assim, ser fixado
por Decreto do Chefe do Poder Executivo (vide RE-Agr 201. 630-DF, DJ de 2/8/2002).
Devido à controvérsia, há doutrinador que ensina que o serviço de água deve ser cobrado através de
preço público (tarifa), mas que, em tese, pode ser cobrado via “taxa”.
Mas, como agir diante do Código de Defesa do Consumidor, que exige em seu artigo 22 a
continuidade dos serviços essenciais? O STJ, por sua 2ª Turma, entendeu que a norma que prevalece no
caso é a expressa no artigo 6º, parágrafo terceiro, da Lei n. 8.987/95 (que trata das concessões e permissões
de serviços públicos) e não o artigo 22 do Código de Defesa do Consumidor. Por tal lei, as concessionárias
podem, sim, suspender a prestação do serviço no caso de não adimplência do usuário (vide Resp
n.337.965-MG, 2ª Turma, julg. em 2/9/2003 e Resp n. 363.943-MG, 1ª Seção, de 12/11/2003).
Qual é a conclusão que podemos tirar de toda esta confusão doutrinária (se é que podemos tirar
alguma)? A posição, razoavelmente pacificada na doutrina, é a de que o Estado somente poderá
suspender a prestação do serviço de abastecimento de água quando o mesmo for remunerado por preço
público (tarifa), independente de o serviço ser compulsório ou não, ou seja, imposto ou não pelo Poder
Público.
E quando o usuário inadimplente for o Poder Público? Há decisões judiciais no sentido que, mesmo
sendo pago por tarifas, é inadmissível a suspensão do serviço, senão vejamos: “a concessionária dos
serviços de energia elétrica não pode interromper o fornecimento aos prédios públicos, mesmo que o
município esteja em débito, sobrelevando o interesse público ao da empresa” (vide decisão do TJ-MG,
ApCív n.110.283/9, 4ª CCív, publicada no Diário Oficial em 10/3/99). Mas é importante que se diga que a
suspensão do serviço poderá atingir certos órgãos não essenciais, tais como ginásio de esportes e
bibliotecas municipais. Já as escolas e hospitais, por exemplo, não.
c) Princípio da Eficiência: O artigo 175 da CF/88, em seu inciso IV, exige a manutenção de um serviço
adequado por parte daquele que o presta. Para tanto, deverá haver a atualização do serviço mediante a
implantação de novos processos tecnológicos e a constante avaliação por parte dos usuários do serviço a
fim de averiguar a eficiência na prestação do mesmo.
d) Princípio da Modicidade: cobrança de preços módicos, para que todos os usuários tenham condições de
utilizar os serviços prestados, uma vez que o lucro não é objetivo da função administrativa. Assim, a
remuneração do serviço será razoável, sendo proibida a obtenção de lucros extraordinários. Lembramos que
os contratos poderão prever mecanismos de revisão das tarifas, a fim de manter-se o equilíbrio econômico
financeiro deles.
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f) Segurança
g) Cortesia na prestação
h) Generalidade: o atendimento deve ser assegurado a todos que se localizem na área abrangida pelo serviço,
desde que atendam aos requisitos legais e regulamentares. Além disso, deve-se assegurar atendimento
abrangente ao mercado sem exclusão das populações de baixa renda e das áreas de baixa densidade
populacional (inclusive as rurais), como determina o artigo 3º, IV, da Lei 9.074/95.
Os serviços públicos podem ser gratuitos ou remunerados. Os gratuitos têm natureza predominantemente
social, tais como: assistência médica, educação, apoio a coletividades carentes etc.
Para os serviços ditos remunerados, o usuário deverá pagar:
a) taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos
específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos a sua disposição (artigo 145, II, CF/88). Quando o
serviço é imposto pelo Poder Público, será ele remunerado através de taxas, como nos casos de taxa de
prevenção de incêndio e coleta individual de lixo. Neste último caso, devemos observar que o serviço de coleta
de lixo extraordinário, destinado a pessoas físicas ou jurídicas produtoras de quantidades anormais de resíduos,
poderá ser delegado a concessionários, mediante a cobrança de tarifas pela prestação do serviço. Advirta-se,
ainda, que o pagamento da taxa é devido mesmo quando o serviço não é utilizado pelo particular, uma vez que
basta, apenas, à Administração, colocar o serviço à disposição do usuário. Porém, uma vez que o serviço
remunerado por taxa tem a característica de ser imposto ao administrado, não poderá o Estado suspendê-lo em
caso de inadimplência dele, podendo, para tanto, se utilizar das ações judiciais cabíveis, como a Execução
fiscal, por exemplo. José dos Santos Carvalho Filho nos adverte que “a cobrança só é legítima se o serviço
público, prestado ou disponibilizado ao usuário for específico e divisível. Será específico, quando tiver linhas
próprias de identificação, e divisível, quando o usuário receber parcelas individualizadas do serviço”. Pela
razão acima exposta, podemos verificar que o serviço de iluminação pública e o de varredura das vias públicas
não podem ser cobrados através de taxas, tendo em vista a generalidade e a indiscriminação dos serviços.
b) tarifas: já os serviços facultativos serão remunerados através da cobrança de tarifas. Assim, poderá o usuário se
utilizar deles ou não. A doutrina considera que, nestas ocasiões, o Estado ou seus delegatários estão executando
serviços econômicos (industriais ou comerciais), tais como transportes urbanos, energia elétrica, TV a cabo etc
e que poderão ser suspensos em caso de inadimplência do usuário.
c) Outros tributos: Por último, devemos observar que os serviços públicos poderão, também, ser remunerados
por outras espécies de tributos, como os impostos (para a execução de serviços gerais do Estado) ou
contribuições de melhoria (pelas obras públicas que valorizam o imóvel do particular).
a) Execução direta: ocorre quando o serviço é prestado pela própria Administração Direta, através de seus
órgãos (Ministérios, Secretarias Estaduais e Municipais, Delegacias e Coordenadorias etc.). São estes
órgãos os formadores da denominada “administração centralizada”. Aqui, fala-se em “serviços
centralizados”.
b) Execução Indireta: ocorre quando os serviços são prestados por entidades diversas das pessoas
federativas. Desta forma, ocorre a transferência da prestação do serviço, pelo Estado, a outras pessoas.
Aqui, fala-se em serviços “descentralizados”.
IX – EXECUÇÃO INDIRETA
Descentralização: ocorre quando há transferência de execução de atividade Estatal (da Administração Direta) a outra
pessoa integrante da Administração (Administração Indireta) ou não (através da delegação a particulares, por meio de
celebração de contratos de concessão e permissão de serviços públicos). Conforme assevera José dos Santos Carvalho
Filho, “pode considerar-se também execução indireta aquela que decorre de contratação com terceiros por parte da
pessoa incumbida da prestação do serviço. Exemplo: sociedade de economia mista quando contrata com outras empresas
para executar o serviço de manutenção de redes elétricas”.
a) Por outorga: dá-se através de lei. Por ela é admitida a descentralização do serviço e autorizada a criação de
pessoa administrativa (autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista ou fundação pública) com a
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finalidade de executá-lo. Essa pessoa administrativa pertencerá ao quadro da Administração indireta (ou
descentralizada).
b) Por delegação: é a transferência de serviços públicos a “particulares em colaboração com o Estado”, tais como
os concessionários e os permissionários. A delegação dá-se através de contrato administrativo (em relação às
concessões) e de contratos de adesão (em relação aos permissionários).
X – DESESTATIZAÇÃO
Com referência ao Programa Nacional de Desestatização (Lei n. 9.491/97), alguns aspectos merecem
destaque. Vejamos:
Cumpre ressaltar, primeiramente, que a Lei anterior (Lei n. 8.031/90), já revogada pela Lei 9.491/97, utilizava a
expressão “privatização”, o que causava interpretações jurídicas equivocados. Hoje, com o advento da Lei 9.491/97, o
legislador optou pela utilização do termo “desestatização”.
Com a desestatização, ou seja, com a retirada do Estado de certo setor de atividades, será possível permitir a
retomada de investimentos nas empresas e atividades que vierem a ser transferidas à iniciativa privada (vide art. 1º, III),
propiciando o fortalecimento do mercado de capitais pela oferta de valores mobiliários e a reestruturação do setor privado
para aumentar sua competitividade e modernizar sua infra-estrutura (vide artigo 1, VI e IV).
Com o objetivo de cumprir com os fins almejados pelo Programa de Desestatização, podemos nos perguntar: quais
áreas poderão ser submetidas à desestatização? O artigo 2º da Lei 9.491/97 nos responde a indagação, afirmando que
poderão submeter-se à desestatização:
a) as empresas, incluídas as instituições financeiras, controladas direta ou indiretamente pela União;
b) as empresas criadas pelo setor privado que, por qualquer razão, passaram ao controle da União;
c) os serviços públicos objeto de concessão, permissão ou autorização e
d) as instituições financeiras públicas estaduais que tenham sofrido desapropriação de ações de seu capital social.
E o artigo 4º, I a VI, nos apresenta as formas pelas quais poderão se processar as desestatizações, quais sejam:
Como nos ensina o professor José dos Santos Carvalho Filho, “o Estado, depois de abraçar, por vários anos, a
execução de muitas atividades empresariais e serviços públicos, com os quais sempre teve gastos infindáveis e pouca
eficiência quanto aos resultados, resolveu imprimir nova estratégia governamental: seu afastamento e a transferência
das atividades e serviços para sociedades e grupos empresariais”. Mas, advirta-se, no que se refere aos serviços públicos,
o Estado continuou sendo o titular dos mesmos, apenas transferindo a execução dos serviços através da delegação.
Uma vez que a execução dos serviços fora delegada a particulares, o Estado fez surgir no cenário governamental as
agências autárquicas reguladoras (ou agências governamentais), cujo papel principal é o de controlar as empresas privadas
prestadoras de serviços públicos.
XI – GESTÃO ASSOCIADA
O regime adotado na CF/88 é o federativo. Caracteriza-se pelos círculos especiais de competência outorgados às
entidades federativas. Para que os serviços públicos privativos ou concorrentes sejam executados com maior celeridade e
eficiência, é necessário que se estabeleçam mecanismos de vinculação entre os entes federativos. Para tanto, a CF previu
na reforma administrativa, através da emenda constitucional n. 19/98, a gestão associada na prestação de serviços
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Direito Administrativo
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públicos. Esta associação, portanto, se dará entre pessoas exclusivamente da Administração Pública. Referida gestão será
implementada, através de lei, por convênios de cooperação e consórcios administrativos, cujos signatários serão a
União, os Estados, o DF e os Municípios. Devemos nos lembrar que os “convênios de cooperação” e os “consórcios
públicos” são espécies do gênero convênios administrativos. Ambos visam a associação entre pessoas para alcançar o
interesse público. Alguns doutrinadores defendem a tese de que os consórcios públicos são formados por pessoas de
mesmo nível, enquanto que, nos convênios administrativos, elas são distintas. O certo é que tanto os convênios quanto os
consórcios indicam formas de atuação conjunta, formando a gestão associada. Assim, se o serviço é federal, a União
deverá geri-lo ou controlá-lo por si ou por Estados-membros e Municípios, se assim for melhor.
Pode, também, o Estado, executar os serviços públicos através dos denominados regimes de parceria, que se
caracteriza pela aliança entre o Poder Pùblico e entidades privadas, via delegação. Por este regime, a parceria do Estado é
formalizada com pessoas de direito privado e da iniciativa privada, ou seja, aquelas que não sofrem ingerência estatal em
sua estrutura orgânica. Assim, são pessoas privadas que desempenham função pública, sendo denominadas de entidades
do terceiro setor. Tais pessoas não integram a Administração Direta ou Indireta, compondo um agrupamento de entidades
responsáveis por novas formas de prestação de serviços públicos. Com relação aos regimes de parceria, podemos destacar
três grupos:
a) Regime de convênios administrativos: aqui, as regras que demarcam os direitos e os deveres das partes
contratantes (Administração e entidade privada) são estipuladas através da assinatura de convênios
administrativos. O objetivo de tal convênio é o de alcançar resultados de interesses comuns. Exemplo desta
situação ocorre quando a União firma convênio administrativo com fundações instituídas por particulares
das indústrias automobilísticas, com o objetivo de garantir o avanço tecnológico da indústria nacional no
setor.
b) Regime dos contratos de gestão (Organizações Sociais): o Estado viu-se na necessidade de ampliar ainda
mais a descentralização na prestação dos serviços públicos, o que fez com que ele adotasse o denominado
Programa Nacional de Publicização, instituído através da Lei 9.637/98. Por este programa, algumas
atividades de cunho social, hoje exercidas por pessoas e órgãos administrativos de direito público, poderão
ser posteriormente absorvidas por pessoas de direito privado – as Organizações Sociais - (vide artigo 20 da
lei retro citada), extinguindo-se, por conseqüência, àqueles órgãos e pessoas de direito público. As
Organizações Sociais não representam nova categoria de pessoas jurídicas. Trata-se, apenas, de uma
qualificação especial concedida por lei, (mediante uso do poder discricionário do Ministério competente
para supervisionar ou regular a área de atividade correspondente ao objeto social da entidade) a
determinadas entidades privadas que atendam às exigências nela especificadas. Tais entidades parceiras, no
desempenho de suas atividades de interesse público, devem: 1) ter personalidade jurídica de direito
privado; 2) não ter fins lucrativos e 3) destinar-se ao ensino, à cultura, à pesquisa científica, à saúde, ao
desenvolvimento tecnológico e à preservação do meio ambiente (vide artigo 1º da Lei 9.637/98). Uma vez
recebendo o status de Organização Social, poderá a entidade: a) receber recursos orçamentários; b) usar
bens públicos através da permissão de uso; c) ser beneficiada através da cessão especial de servidores
públicos, com ônus do pagamento dos vencimentos devidos para o governo. Para habilitar-se como
Organização Social, é necessário que sejam cumpridos diversos requisitos, dentre eles: 1) definição do
objeto social da entidade; 2) finalidade não lucrativa; 3) proibição de distribuição de bens ou parcelas do
patrimônio líquido; 4) publicação anual no Diário Oficial da União de relatório financeiro; 5) constituição
de um Conselho de Administração com representantes do Poder Público e de entidade da sociedade civil e
membros eleitos dentre associados de associação civil e outros eleitos com notória capacidade profissional
e reconhecida idoneidade moral, etc. E o que pode acontecer à Organização Social se ela descumprir com
as cláusulas pactuadas no contrato de gestão? Ela sofrerá: 1º) a desqualificação de seu título mediante
processo administrativo em que lhe seja assegurado o contraditório e a ampla defesa; 2º) reversão dos bens
usados sob permissão; 3º) devolução dos recursos alocados à entidade etc.
Quando se fala em contrato, supõe-se a existência de uma contraposição de interesses entre as partes
signatárias do mesmo. Uma vez que não há esta contraposição de interesses entre o Estado e a Organização Social, o
vocábulo jurídico correto deveria ser “convênio”, uma vez que, neste, há objetivos de interesses comuns (e não opostos)
entre as partes.
Em se tratando da Lei 8.666/93, José dos Santos Carvalho Filho nos ensina que, “em virtude do
caráter específico de tais contratos, nos quais há verdadeira cooperação entre as partes no que toca ao interesse público
a ser perseguido, descartando-se qualquer aspecto mercantil ou empresarial, a lei prevê hipótese de dispensa de
licitação, admitindo, em conseqüência, a contratação direta com a organização social”.
Com relação aos recursos financeiros recebidos pela organização social, compete ao Poder Público
examinar-lhe as contas, comunicando imediatamente ao Tribunal de Contas competente qualquer irregularidade, sob pena
de responsabilização do agente fiscalizador. Em havendo malversação dos bens ou recursos públicos, deverá, ainda, a
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Por último, devemos observar que lei 9.637/98 é de observância obrigatória apenas para a União.
Portanto, incide unicamente sobre os serviços públicos federais. Porém, nada impede que as demais pessoas federativas
(estados, DF e municípios) criem suas formas legais próprias de descentralização de serviços públicos.
c) Gestão por colaboração (Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público): deste regime
participam as entidades da iniciativa privada, usualmente representativas dos diversos segmentos da
sociedade civil. Suas ações são de utilidade pública. Há uma delegação do Estado a tais entidades,
constituindo-se em forma de descentralização de serviços. O instituto é regulado pela Lei 9.790/99,
devidamente regulamentado pelo Decreto n. 3.100/99. As OSCIPS não constituem nova categoria de
pessoa jurídica. Apenas ostentam uma específica qualificação jurídica e têm como características: a) a
personalidade jurídica de direito privado; b) sem fins lucrativos. Conforme dispõe o artigo 3º, I a XII, seus
objetivos são: 1) promoção da educação, da saúde, da cultura, da assistência social e da segurança alimentar
e nutricional; 2) proteção e defesa do meio ambiente; 3) promoção e desenvolvimento econômico e social,
incluindo o combate à pobreza; 4)experimentação de novos modelos socioprodutivos; 5) promoção de
valores universais (ética, paz, cidadania, direitos humanos, democracia e, também, a promoção de
assistência jurídica complementar); 6) promoção do voluntariado e 7) estudos, pesquisas, desenvolvimento
de tecnologias alternativas, divulgação de informações e conhecimentos concernentes a todos os objetivos
citados.
A lei exige como requisitos para a qualificação de OSCIP: I- observância aos princípios do LIMPE,
economicidade, aos princípios básicos da contabilidade, publicidade de relatórios de atividades e sujeição a
auditorias externas independentes.
O requerimento da qualificação é protocolado no Ministério da Justiça, que terá competência para
expedir o certificado de qualificação.
Não poderão requerer a qualificação como OSCIP: a) sociedades comerciais, inclusive as que
comercializam planos de saúde e as cooperativas; b) organizações creditícias relacionadas com o sistema
financeiro; c) entidades de representação de classe e sindical; d) instituições partidárias; d) entidades
religiosas; e) hospitais e escolas sem gratuidade; f) pessoas, inclusive fundações, instituídas pelo Poder
Público e g) Organizações Sociais.
As OSCIP podem cooperar com o Poder Público de três maneiras: 1ª) pela execução direta de projetos,
programas e planos de ação; 2ª) através da entrega de recursos humanos, físicos ou financeiros e 3ª) através
da prestação de atividades de apoio a outras entidades sem fins lucrativos.
Os direitos e obrigações entre a OSCIP e o Poder Público estarão consignados no termo de parceria.
Citamos como diferenças principais entre as Organizações Sociais e a OSCIP: a) nas Organizações
Sociais exige-se a participação de agentes do Poder Público na estrutura da entidade, mais precisamente
nos Conselhos de Administração. Nas OSCIP, não. B) Nas Organizações Sociais a formalização da parceria
dá-se através da assinatura de contrato de gestão. Na OSCIP, o instrumento jurídico utilizado é o termo de
parceria. C) As linhas da disciplina jurídica das Organizações Sociais as colocam um pouco mais atreladas
ao Poder Público dos que as OSCIP.
Os direitos dos usuários dos serviços públicos encontram-se descritos no artigo 7º da Lei 8.987/95, quais sejam:
Dentre as obrigações do usuário, a Lei 8.987/95 estabelece a de “contribuir para a permanência das boas
condições dos bens públicos através dos quais lhes são prestados os serviços”.
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FIM DA APOSTILA
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