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DO SÉCULO XX
Uma introdução ao gênero
Ciro Flamarion Cardoso
1998
2
ÍNDICE:
Página:
Preâmbulo 3
Conclusão 87
Bibliografia básica 89
3
Preâmbulo
que não foram lançadas no Brasil para VCR. Isto traz - também em função do fato de
eu ter vivido fora de meu país entre outubro de 1967 e fevereiro de 1979 - o problema
de ignorar com freqüência como determinado texto, filme ou série televisiva chamou-
se em português. Quando não o pude averiguar, simplesmente traduzi o título: em tais
casos, os títulos traduzidos de obras em qualquer veículo foram grafados entre aspas.
Naquelas ocasiões em que pude verificar com certeza os títulos de fato atribuídos às
obras em português, escrevi-os em itálico, da mesma forma que os títulos na língua
original.
Diga-se de passagem que, sobretudo nos últimos anos, paralelamente a
legendas de filmes e traduções de textos literários aparecerem com excessiva
freqüência num português cada vez mais errado e serem crescentemente infiéis ao
original que se pretende traduzir, este deve ser um dos países do mundo onde se
inventam títulos mais tolos para obras estrangeiras - quando, por razões
mercadológicas ou por ignorância, não se deixa, simplesmente, o título estrangeiro
sem traduzir, em especial no caso dos filmes. Também acontece que se acredite ter
traduzido mas, ao não se saber de verdade a língua original, a tradução seja
simplesmente um erro primário: é assim, por exemplo, que, ao estar o original em
francês, um “professor de música” pode virar um “mestre da música”; ou, o que em
inglês significava um “rapaz”, tornar-se em português um “jovem homem”... Um dos
erros favoritos nas dublagens de filmes é transformar actually em inglês em
atualmente em português. É verdade que barbaridades assim às vezes abrem caminho,
sobretudo no caso de textos escritos traduzidos, a um exercício divertido: tentar
adivinhar, pelo erro cometido, qual seria o original. Por exemplo, ao ler-se “a polícia
buscou as premissas”, inferir que se tratava de “a polícia revistou o edifício”
(searched the premises). Há exceções, sem dúvida: acabo de ler, por exemplo, em
reedição (a publicação original é de 1985), uma excelente tradução de Henry James...
por Fernando Sabino!
5
3
NOUGIER, Louis-René. Guide de la préhistoire. Paris: Hachette, 1977, p. 6.
8
denominação de ficção científica, que nada tem a ver tematicamente com a ciência,
em especial fantasias do tipo “espada e feitiçaria”. Mas afirma:
“Quando eu falo de ficção científica, quero dizer uma ficção em que
algum elemento de ciência ou tecnologia futura é tão integral à narrativa, que
esta entraria em colapso se o elemento científico ou tecnológico fosse
removido.”4
patronos” habituais, Verne e Wells, Aldiss valoriza como antepassada Mary Shelley, a
autora, em 1818, de Frankenstein. Na verdade, para Aldiss, a ficção científica seria
um ramo novo suscitado na tradição da história de horror pela Revolução Industrial e
pelos avanços científicos, desde o início do século XIX. Outro autor britânico, Brian
Stableford, escreve a respeito numa veia similar.
A década de 1970 assistiu a um interesse acadêmico pela ficção científica
bem maior do que anteriormente. Como para ensinar algo é preciso saber do que se
trata, proliferaram definições e tratados a respeito. Uma das visões mais influentes foi
a do iugoslavo Darko Suvin, para quem a ficção científica une e faz interagir
necessariamente um aspecto cognitivo (ou seja, a busca de uma explicação racional) e
um “estranhamento” - sendo este último termo uma adaptação do alemão
Verfremdungseffekt, expressão usada em 1948 por Bertold Brecht para referir-se a um
tipo de representação que, no tocante a um dado tema, faz com que o público o
perceba como algo ao mesmo tempo reconhecível e estranho (insólito).
O método específico utilizado para obter tal estranhamento na ficção
científica é o da ampliação dos elementos intervenientes: tempo, espaço, tamanho
(neste caso, o infinitamente grande ou o infinitamente pequeno têm o mesmo efeito),
indivíduos que na realidade representam espécies, intensificação de sensações e
expressões, exotismo, busca de paradoxos, poderes extraordinários, entre outros, são,
todos, elementos de tal método, convergindo numa “estética do sensacional”. Isto,
aliás, constituiu um dos fatores conducentes a que, no passado, o gênero fosse
relegado à cultura popular, considerado como subcultura.
Semelhante, até certo ponto, à opinião de Suvin é a insistência de
universitários franceses como Louis-Vincent Thomas e Jacques Goimard nos aspectos
míticos da ficção científica. Esta tendência foi criticada por um escritor e crítico norte-
americano da área, James Blish, ao dizer que, sendo o mito estático e final em seu
objetivo, teria um espírito contrário ao da ficção científica, que parte do princípio de
que a mudança é contínua. No entanto, isto mostra unicamente a ignorância de Blish
acerca das construções míticas, que, enquanto permaneçam vivas numa cultura,
conhecem múltiplas variantes no espaço e no tempo, nada tendo de ahistóricas.
Thomas encara a ficção científica como a alternativa mítica possível numa
era racionalista e científica:
“Numa perspectiva dessacralizada e aparentemente lúdica - da qual a
mensagem não fica excluída -, a ficção científica ocupa no imaginário de hoje a
posição que o relato mítico ocupava no imaginário de ontem: em ambos os
casos, trata-se de resolver pela fabulação uma situação fora do comum que não
poderia ser resolvida na realidade. Com a restrição de que o romance de ficção
científica se desenrola numa atmosfera de credibilidade relativa, sua hipótese
10
6
GOIMARD, Jacques. “Une définition, une définition de la définition, et ainsi de suite”. Cinéma d’au-
jourd’hui. Nova série, n o 7, primavera de 1976, pp. 11-20 (a citação é da pág. 20). Trata-se de um nú-
mero especial sobre o cinema de ficção científica.
13
1. A proto-ficção científica
Em sua vida privada, Verne foi um burguês próspero desde a época de seu
apogeu literário, participando da administração local de Nantes, praticando o iatismo
(desde criança tivera enorme fascinação pelo mar).
Se Verne foi um burguês, Herbert George Wells pertencia à pequena
burguesia inglesa (era filho de um lojista que faliu, sua mãe voltando, então, à função
de governanta). Depois de uma temporada malsucedida como aprendiz de um
mercador de tecidos, Wells, em 1883, tornou-se ao mesmo tempo aluno e professor da
Midhurst Grammar School. A seguir, com uma bolsa de estudos, formou-se na
Normal School of Science de Londres, onde um de seus professores - de enorme
influência em suas idéias - foi o evolucionista T. H. Huxley. Possuía, portanto, uma
sólida base científica.
Foi na década de 1890 que Wells começou a publicar contos que podem ser
considerados de ficção científica. Seu primeiro “romance científico”, A máquina do
tempo (em português às vezes intitulado A máquina de explorar o tempo), é de 1895.
Nos anos seguintes surgiriam, em rápida sucessão, seus outros romances mais
influentes: A ilha do Dr. Moreau (1896), O homem invisível (1897), A guerra dos
mundos (1898), Quando o adormecido desperta (1899: revisto em 1910) e Os
primeiros homens na Lua (1901). Estes livros inauguraram (ou reinauguraram e
modificaram em profundidade) temáticas duravelmente praticadas pela ficção
científica posterior: distopia futura ou situada em outro mundo (a Lua), darwinismo
biológico e social, seres voluntariamente modificados por experimentos biológicos,
invisibilidade, invasão extraterrrestre, monstros tentaculares alienígenas, suspensão da
vida, uma personagem messiânica do presente atuando num futuro distópico...
A influência de Wells sobre seus sucessores vai além das temáticas: consiste
também no equilíbrio que conseguiu estabelecer entre especulação abstrata e
descrição de circunstâncias e caracteres concretos, bem como entre a especulação
científica e a sociológica. Stanislaw Lem, romancista e ensaísta polonês de ficção
científica, afirmou que o grande feito de Wells em sua primeira fase foi “examinar a
totalidade da espécie humana numa situação extrema” (Lem pensava sobretudo n’A
guerra dos mundos).7
Politicamente, Wells era um socialista moderado. Nunca aceitou o socialismo
proletário: acreditava que a justiça social poderia ser imposta por uma intelectualidade
benevolente. Em 1906 tentou assumir o controle de uma agremiação de socialistas
moderados, a Sociedade Fabiana, em que ingressara em 1903, mas falhou e a ela
deixou de pertencer em 1908.
7
LEM, Stanislaw. Microworlds. Writings on science fiction and fantasy. San Diego/New York:
Harcourt Brace Jovanovich, 1984, p. 13.
17
Não deve ser por acaso que a última fase de Verne e a primeira de Wells
estivessem marcadas por uma forte carga distópica: isto reflete o fin de siècle, com
sua erosão das certezas do século XIX. No caso de Wells, vivo até 1946, a uma
primeira fase marcada pela distopia sucederia outra claramente utópica; mas ele
retomaria, mais tarde, uma posição pessimista.
8
CONKLIN, Groff (org.). The science fiction galaxy. New York: Permabooks, 1950, p. IX.
21
Naquele ano, o monopólio virtual de Astounding Science Fiction nos Estados Unidos
como a revista por excelência do ramo, com um prestígio bem acima do de Amazing
Stories, foi desafiado com o surgimento de Galaxy Science Fiction, periódico que
duraria até 1980.
Data também do imediato pós-guerra o predomínio visível, nesse campo, dos
escritores que, bem posteriormente, Isaac Asimov chamaria de “os sobreviventes” -
autores que produziram por décadas obras de sucesso: o próprio Asimov, Robert
Heinlein, Fritz Leiber, Frederik Pohl, o britânico Arthur C. Clarke, Poul Anderson. A
eles seria preciso somar outros que emergiram para o êxito na mesma época, mas cuja
produção se interrompeu depois por uma vida breve ou por outras razões: Cyril
Kornbluth (morto em 1958), A. E. van Vogt, Alfred Bester, por exemplo; os que se
tornaram eminentes a partir dos anos 50 e continuam ativos, como Ray Bradbury; e,
ainda, escritores mais antigos, como Jack Williamson, Clifford D. Simak e L. Sprague
de Camp, que continuaram escrevendo até a década de 1990.
Conklin previu, com acerto, o boom editorial da ficção científica em forma
de livro, além da expansão nunca vista das vendas de revistas especializadas no
gênero. Estas últimas, porém, começaram a declinar já na década seguinte, ao
contrário do que aconteceu com as publicações em forma de livro.
A ficção científica embarcou, com outros gêneros de literatura popular, na
revolução editorial e de marketing associada, nos Estados Unidos e logo em outros
países, ao livro - de bolso ou em outro formato - desprovido de capa dura, barato,
publicado em grande quantidade para um mercado maciço, objeto de grandes
campanhas publicitárias e promocionais, embora, em muitos casos, os livros saíssem
previamente em edição de capa dura. De início, esta explosão editorial dos livros se
fez reimprimindo material que aparecera anteriormente nas revistas. De fato, até o fim
do período agora abordado, a regra, mais do que a exceção, foi que os relatos de
ficção científica fossem publicados primeiro em forma seriada, em revistas, só depois
em livros. Grandes editoras - Doubleday, Simon and Schuster, depois Ace Books e
Ballantine, entre outras - começaram a tirar do mercado as pequenas, que haviam
iniciado o boom editorial. Outrossim, na década de 1960 as revistas de ficção
científica começavam a ser seriamente abaladas em suas finanças pela concorrência
dos livros.
Uma evolução similar ocorreu na Inglaterra, com algum atraso no tocante à
qualidade das obras publicadas em formato de bolso ou sem capa dura, de nível
bastante baixo até o final da década de 1950; ali também, gigantes como Weidenfeld
& Nicolson investiram pioneira e pesadamente no setor. Autores como John
Wyndham (1903-1969) - que, no entanto, escrevia havia muito, com sucesso
moderado, usando vários pseudônimos - e John Christopher (1922- ) emergiram para
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Mundial, era de euforia pela derrota do nazismo e seus aliados, novas preocupações
estavam emergindo não muito mais tarde.
Os anos 1955-1965, em retrospectiva, parecem ser o limiar de uma época
diferente: foram os anos em que iniciaram sua expansão a pílula anticoncepcional, o
transporte comercial em aviões a jato, os computadores; em que a enorme influência
dos meios de comunicação de massa se tornou mais perceptível. Nos Estados Unidos,
pela primeira vez se percebeu que os trabalhadores dos setores primário (agricultura e
atividades extrativas) e secundário (indústrias de transformação) da economia estavam
sendo superados em número pelos do setor terciário (aqueles ligados ao comércio, aos
serviços e à gestão), ao mesmo tempo que se manifestava grande preocupação com
um crescimento urbano que não parecia conhecer limites e com seus efeitos perversos,
em reação aos quais o movimento em direção aos novos subúrbios de classe média
tornara-se já muito forte.
Em suma, transformações radicais nas vivências do século XX, percebidas
primeiro nos Estados Unidos, não demoraram a ter efeitos sobre as temáticas da
ficção científica que, como subsetor da cultura de massa, é muito sensível às
preocupações socialmente predominantes. Isto foi notado em diversas análises. Isaac
Asimov, por exemplo, percebeu três etapas sucessivas no gênero: ficção científica
com domínio da aventura (1926-1938), com acento tecnológico (1939-1950) e de
tônica sociológica (depois de 1950). Uma visão diferente é a de John Clute: em 1942,
predominavam na ficção científica as narrativas de impérios; em 1952, as que
salientavam a hybris ou soberba, prenúncio da queda; em 1962, as que focalizavam o
solipsismo, aparecendo o mundo real como algo cuja existência dependia do eu
individual. Note-se, porém, que o período que ora estudamos tinha características
mistas. Ainda era muito forte então, nos Estados Unidos e alhures, a ficção científica
hard e triunfalista; mas começavam a surgir tendências menos otimistas, em parte
influenciadas em seus inícios pelo movimento beat, que terminariam por confluir, no
final da década de 1960, na new wave, fase prenunciada no cinema, desde 1965, por
um filme francês: Alphaville, dirigido por Jean-Luc Godard.
Por dominante que seja a ficção científica norte-americana, entendida como
um subsetor da cultura popular ou de massa profundamente marcado pelo marketing,
por mais que tenha repercussões indubitáveis no mundo todo, mesmo nos Estados
Unidos, com maior razão em outros países, seria uma simplificação limitar o gênero a
tal aspecto. Escritores como o britânico George Orwell (1903-1950), o autor de 1984
(1949), o polonês Stanislaw Lem (1921- ) - cuja melhor fase é provavelmente a que
se estende de 1956 a 1968 (por exemplo: Soláris, de 1961) -, os irmãos russos Arkady
e Boris Strugatsky (1925-1991 e 1931- ), o norte-americano George R. Stewart
(1895-1980), com o seu Earth abides (“A Terra permanece”, 1949), nada tiveram a
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ver com o mundo, subcultura ou como se quiser chamar, gerado primeiro na era das
revistas pulp; produziram, no entanto, algumas das melhores narrativas de ficção
científica do período que acabamos de focalizar.
7. Cyberpunk (1982- )
Pode-se dizer que a consciência de uma fase diferente na ficção científica foi
evidenciada primeiro pelo cinema: Blade runner, o caçador de andróides (1982), de
Ridley Scott, constituiu-se no primeiro produto cultural que chamou a atenção para
isso. No filme, o futuro próximo, representado por ruas repletas de passantes sob uma
chuva constante, pelo contraste de elementos de alta tecnologia e da publicidade
vistosa - japonesa e relativa à vida nos mundos em processo de colonização, por
exemplo - com a pobreza, a ruína e o lixo, traduzia-se em imagens que tiveram um
poderoso impacto, independentemente dos defeitos (narrativos e outros) do próprio
filme. Outro diretor muito influente na criação da imagem cyberpunk foi - no domínio
do horror com eventuais elementos de ficção científica - David Cronenberg;
Videodrome, a síndrome do vídeo (1982) é emblemático do cyberpunk e suas
temáticas: metamorfoses corporais, sexo como fator de destruição, impacto intrusivo e
devastador dos meios de comunicação de massa na vida dos indivíduos.
O período em questão, posterior a 1980, viu chegar o auge mercadológico da
ficção científica, marcado entre outras coisas pelo entrecruzamento dos veículos ou
meios de expressão. Filmagens de romances (modificando-os em forma extrema
muitas vezes), romances derivados de roteiros de filmes, séries de TV engendrando
histórias em quadrinhos, romances ou filmes, além de outras possibilidades, não eram
propriamente uma novidade, vinham sobretudo da década de 1950; mas, agora,
intensificaram-se muito. A partir da década de 1980, o gênero tornou-se um
verdadeiro pesadelo para os que tentassem compilar bibliografias e catálogos, devido
a tais influências cruzadas entre setores. Sem mencionar que filmes e séries de TV
engendram, além de livros, revistas e fotonovelas, também bonecos, maquetes,
camisetas e outros objetos cujo marketing envolve milhões de dólares.
O termo cyberpunk parece ter sido cunhado em 1983 por Bruce Bethke, num
conto homônimo. O editor e escritor Gardner Dozois dele se apossou
entusiasticamente para caracterizar uma tendência que enxergava nos escritos de
Bruce Sterling, William Gibson e Lewis Shiner, por exemplo. Na denominação, o
elemento cyber remete a cibernética e punk foi tomado à terminologia roqueira dos
anos 70. Aplica-se a relatos marcados por elementos temáticos bem definidos: um
futuro quase sempre próximo, dominado por grandes corporações capitalistas, seja na
Terra, seja no espaço, globais mais do que nacionais, as quais controlam redes
27
60, então use-se uma linguagem realmente artificial e afetada: o resultado será
o cyberpunk.”9
9
Apud CLUTE, John e NICHOLLS, Peter (orgs.). The encyclopedia of science fiction. New York:
St. Martin’s Griffin, 1995, p. 289.
29
1. História em quadrinhos
10
SHUTT, Craig. “Código”. Wizard. 8, março de 1997, p. 48-51.
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posteriormente para durar até 1992. Mesmo na ausência de algo semelhante ao código
norte-americano de 1954, as aventuras de Dan Dare se caracterizavam não só por
evitarem temas ousados como o sexo, mas até mesmo pela escassez de personagens
femininas. Eram, entretanto, muito bem-desenhadas. Desenvolviam temas espaciais e
épicos, com conotação militar. Arthur C. Clarke foi consultor da série durante o
primeiro semestre de existência da mesma.
Nestas últimas décadas, em especial a partir da segunda metade da década de
1970, mudanças consideráveis na linguagem e nos temas chegaram ao mundo dos
quadrinhos - incluindo os de ficção científica - por uma enorme influência das formas
da narrativa cinematográfica e também, o que trataremos de detalhar a seguir, pela
junção de tradições da própria história em quadrinhos até então separadas ou
paralelas.
O sexo chegaria à história em quadrinhos de ficção científica através da série
francesa Barbarella, de Jean-Claude Forest, iniciada em 1962 na revista V. Magazine.
As aventuras espaciais - numa paródia da space opera das revistas do tipo pulp dos
anos 1930 e 1940 - e acima de tudo eróticas da pouco vestida heroína fizeram escola
dentro e fora da França (neste último país, os censores a perseguiram bastante).
Filmada por Roger Vadim em 1967, Barbarella influenciou em forma duradoura a
temática da ficção científica em quadrinhos para adultos. Mas o influxo assim iniciado
não foi unicamente temático: significou também o início de uma confluência de duas
das grandes tradições da história em quadrinhos neste século - a anglo-saxônia e a
franco-belga - em termos de ficção científica. Em tal sentido, foi ainda mais
importante a difusão da estética e do estilo da revista francesa Métal Hurlant (1975-
1987) fora de seu país de origem. A revista, em que atuaram artistas de peso,
incluindo Forest, que antes criara Barbarella, e sobretudo Moebius (Jean Giraud), foi
influente ao ponto de suscitar similares nos Estados Unidos (Heavy Metal: 1977- ),
Itália, Holanda e Espanha. Além de inspirar tipos de ilustração e de disposição dos
quadrinhos na página diferentes dos anteriormente existentes nos quadrinhos de ficção
científica, enfatizou tematicamente o erotismo, o horror, o grotesco e o épico.
Moebius, desde 1985 residente na Califórnia, atuou em áreas variadas além da que
aqui nos interessa: foi, por exemplo, contratado em diversas ocasiões para elaborar o
design de filmes importantes de ficção científica (como Alien, o oitavo passageiro, de
Ridley Scott, em 1979), aos quais levou uma tradição de desenho proveniente da linha
franco-belga de histórias em quadrinhos.
Paralelamente, ou talvez um pouco mais tarde, outra influência que se estava
generalizando, em especial no enorme mercado norte-americano, era a da história em
quadrinhos japonesa - sendo o Japão, por sua vez, um país com um imenso mercado
próprio para os quadrinhos e uma tradição específica de desenho e diagramação.
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2. Cinema
Fonte: HARDY, Phil (org.). Science fiction. Woodstock (New York): The Overlook Press, 1995.
Coleção “The Overlook film encyclopedia”.
Roger Vadim. Todos estes eram filmes para adultos, de um nível impossível de achar
nos Estados Unidos na mesma época. Boa qualidade aparecia mais, no cinema norte-
americano, em produções que só marginalmente podiam adscrever-se à ficção
científica, embora dela incluíssem vários elementos: é o caso dos filmes fortemente
distópicos e conspiratórios de John Frankenheimer - Sob o domínio do mal (The
Manchurian candidate: 1962), Sete dias de maio (Seven days in May: 1964) -, de Os
pássaros (The birds: 1963) de Alfred Hitchcock ou do Dr. Fantástico (Doctor
Strangelove, or how I learned to stop worrying and love the bomb: 1964) de Stanley
Kubrick. Tais obras pareciam indicar que os monstros fossem provenientes pelo
menos em boa parte de dentro, não de fora dos Estados Unidos - ou, mais em geral, do
mundo ocidental, com sua cultura característica e seus valores agora postos em
dúvida. Na Grã-Bretanha, aspectos da ficção científica foram incluídos em filmes de
suspense de enorme sucesso, os da série cujo protagonista era o agente 007, James
Bond.
Podemos considerar 1968 como um momento de especial importância no
cinema de ficção científica dos Estados Unidos: foi o ano de 2001: uma odisséia no
espaço (2001 - a space odyssey) , de Stanley Kubrick, O planeta dos macacos (Planet
of the apes), de Franklyn J. Schaffner, e A noite dos mortos-vivos (Night of the living
dead), de George A. Romero. Os dois primeiros pertenciam ao gênero; o último, só
marginalmente: mas os três tiveram um efeito muito forte nas temáticas e na
linguagem cinematográfica da ficção científica posterior. Uma ficção científica quase
sempre distópica e decididamente para adultos, numa fase de crescente perda de
confiança no sistema norte-americano, na ciência como valor positivo e na civilização
ocidental.
Na década de 1970, as tendências que pesavam acima de tudo sobre a
indústria cinematográfica tinham a ver com custos de produção crescentes ao ponto de
tornar-se astronômicos, ao passo que ocorria uma retração do público; isto significava
que menos filmes eram produzidos. Já na década anterior, dera-se o retorno dos
grandes estúdios e dos grandes orçamentos ao cinema de ficção científica. Agora
estes, no tocante ao gênero que nos ocupa, apostavam de preferência nos efeitos
especiais, como também acontecia, paralelamente, nos filmes então populares que
enfocavam desastres (incêndios, terremotos, acidentes aéreos...). O cinema
configurado como grande espetáculo parecia o único capaz de competir com a telinha
da TV. Não faltam exemplos de filmes em que os efeitos especiais primavam - e de
longe - sobre as qualidades de narrativa, ou quaisquer outras (Rollerball: os
gladiadores do futuro - Rollerball, 1975; Fuga do século 23 - Logan’s run, 1976). E
há, obviamente, exceções positivas, como Laranja mecânica (A clockwork orange:
1971), de Stanley Kubrick, o desigual mas inovador O homem que caiu na Terra (The
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man who fell to earth: 1976), de Nicolas Roeg, ou o magnífico filme soviético Soláris
(Solaris: 1971), de Andrei Tarkovsky.
A aposta nos efeitos especiais e no grande espetáculo culminou no que
muitos acham ser o segundo grande boom do gênero, inaugurado pelo sucesso
financeiro de Guerra nas estrelas (Star wars: 1977) e Contatos imediatos do terceiro
grau (Close encounters of the third kind: 1977), passando por Alien: o oitavo
passageiro (Alien: 1979), Blade runner: o caçador de andróides (Blade runner: 1982)
e E.T, o extraterrestre (E.T., the extraterrestrial: 1982), para estender-se até a
atualidade, embora com flutuações às vezes violentas, função, entre outros fatores, de
uma história complicada dos grandes estúdios cinematográficos e do controle
capitalista sobre os mesmos.
Este segundo boom contém elementos bastante variados, às vezes
contraditórios, num cinema de ficção científica, no conjunto, altamente comercial.
Uma volta do otimismo, numa onda escapista (até mesmo desembocando em filmes
bem-comportados “para toda a família”) e às vezes encharcada de sentimentalismo
açucarado e boçal. Uma visão mais distópica do que nunca do futuro próximo,
lançando a tendência chamada cyberpunk. Uma continuação da exploração comercial
do sexo na ficção científica, algo presente desde Barbarella. Uma fase fortemente
conservadora dos estúdios, conduzindo-os a querer repetir os sucessos com
continuações quase sempre lamentáveis, ou através de refilmagens de êxitos do
passado raramente bem-sucedidas; e limitadora da inventividade, sendo a aposta
habitual principalmente nos efeitos especiais - a que o computador trouxe uma
renovação de meios e uma qualidade sem precedentes na década de 1990 -, na
violência, no sexo, na reiteração incansável das mesmas fórmulas visuais ou
narrativas e no emprego de atores famosos. Mais inventivas costumam ser as
produções independentes, fora dos grandes estúdios (as do primeiro David
Cronenberg, por exemplo).
3. Rádio
Na “era de ouro” do rádio nos Estados Unidos - 1930-1950 -, era bem mais
freqüente a presença de elementos de ficção científica em dramatizações de outros
gêneros (horror, aventura, mundos perdidos) do que, propriamente, de ficção
científica no sentido exato do termo. Um exemplo disto foram os programas
produzidos por Carlton E. Morse, em São Francisco (Califórnia), desde 1929.
Antes de ser um seriado destinado às matinês cinematográficas infantis, Buck
Rogers no século XXV foi um seriado de rádio, iniciado em 1932, baseando-se na
história em quadrinhos publicada em jornais; vinculou-se principalmente ao trabalho
do produtor Jack Johnstone. Com freqüência, os episódios tinham mais de autêntica
41
4. Televisão
anos, dos atores que desempenharam o papel foi racionalizada com a afirmação de o
Dr. Who ser capaz, de vez em quando, de regenerar o seu corpo, adquirindo por tal
razão nova fisionomia. Embora, como Jornada nas estrelas, esta série apresente pelo
menos um monstro por episódio, e mesmo que ela tenha ido buscar nas revistas pulp
uma multidão de idéias e roteiros, sua inteligência e humor são bem superiores. Os
monstros de maior popularidade foram os Daleks, criaturas malignas, instaladas no
interior de robôs e decididas a acabar com os humanos. A série - cujo auge de
popularidade deu-se na década de 1970 - desembocou em dois filmes para o cinema e
mesmo numa outra série de TV em 14 episódios, em 1986 (The trial of a time lord:
“O julgamento de um senhor do tempo”).
Os esforços televisivos na área da ficção científica são bem mais respeitáveis
no Reino Unido do que nos Estados Unidos; mas em ambos os casos, numa trajetória
que já se aproxima de meio século de duração, o gênero, no conjunto, não tem dado
bons resultados na TV, sendo, nela, de nível médio muito inferior ao da literatura,
mesmo ao do cinema. Aliás, filmes de sucesso geraram séries ou minisséries de
televisão, sobretudo nos Estados Unidos, só para naufragar melancolicamente na
rotina, na política medíocre de grupos fechados (quase sempre os mesmos diretores e
escritores), também em controles e pressões que estrangulam a televisão como veículo
inteligente e criativo.
É verdade, no entanto, que a profissionalização e a qualidade técnica,
incluindo a dos efeitos especiais, melhoraram muitíssimo ao longo dos anos. A
fórmula da década de 1990, nos Estados Unidos, parece ter apostado em substituir a
ênfase no monstro de cada episódio por uma insistência no dilema moral de cada
episódio, além de aderir ao “politicamente correto” e ao multiculturalismo pós-
moderno. Tem em comum com as fórmulas que a precederam uma robusta afirmação
do individualismo burguês como valor máximo, mesmo se temperado pelo espírito de
equipe.
Com o desenvolvimento dos filmes de longa metragem feitos para a TV e
sobretudo, mais recentemente, para a TV a cabo - refiro-me em especial a filmes que
não tivessem a pretensão de ser pilotos servindo ao lançamento de séries -, algumas
coisas mais interessantes puderam surgir. Um bom exemplo é o filme Protótipo 2-VR
(Prototype: 1983), dirigido por David Greene para a TVM. Além de contar com um
ator de excelente nível, Christopher Plummer, no papel do cientista-inventor, trata-se
de uma retomada inteligente, em termos da criação de um robô-andróide, do tema de
Frankenstein e sua criatura, tema este que, desde 1818, já teve tempo de transformar-
se num mito moderno e num paradigma referencial.
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1. Em busca de um contexto
Não é tão difícil elaborar, empiricamente, uma lista dos temas freqüentados
pela narrativa de ficção científica em seus principais veículos (romances e contos,
cinema, história em quadrinhos, rádio, TV). Para citar um exemplo brasileiro, o
filósofo Raul Fiker, ele mesmo autor de contos de ficção científica, escolheu fazê-lo
usando um método simples: basear-se no índice de uma enciclopédia organizada
tematicamente. Assim procedendo, listou as temáticas seguintes: 1) viagens em naves
interplanetárias e interestelares; 2) exploração e colonização de outros mundos; 3)
guerras e armamentos fantásticos; 4) antecipação, futuros e passados alternativos; 5)
utopias e distopias; 6) cataclismas e apocalipses; 7) mundos perdidos e mundos
paralelos; 8) viagens no tempo; 9) tecnologia e artefatos; 10) cidades e culturas; 11)
robôs e andróides; 12) computadores; 13) mutantes; 14) poderes extra-sensoriais. 11
A lista, como qualquer outra que se fizesse, é discutível em suas inclusões e
exclusões, bem como em sua organização interna. Será desejável, por exemplo,
discutir robôs e andróides por um lado, computadores por outro, em lugar de reuni-los
sob a temática maior das inteligências artificiais, em função de um substrato
arquetípico comum que inclui tanto mitos antigos, como o de Pigmalião, quanto
modernos, como o de Frankenstein e sua criatura? É perfeitamente possível, no
entanto, a partir daquele rol, abordar descritivamente o assunto dos temas do gênero
de maneira ordenada e didática. Fiker, aliás, tem o cuidado de mostrar que os temas se
mesclam, também que podem degenerar em clichês ou estereótipos; e tenta tirar de
sua análise uma conclusão acerca da ideologia predominante na ficção científica (com
a qual não estou de acordo, mas isto é outra questão).
Quero, aqui, expor o contexto que me parece o mais adequado para pôr em
perspectiva as temáticas da ficção científica. Em minha opinião, tal contexto, relativo
à visão de mundo contemporânea, organiza-se numa oposição polar - variável no
tempo quanto aos detalhes de seus conteúdos - em que cada um dos pólos pode dar
lugar a posições diferentes ou mesmo opostas de parte dos autores de ficção científica
nos diferentes veículos em que ela se expressa; se bem que, numa análise detalhada,
que não vou empreender, seria possível distinguir em tais veículos variações quanto a
isso. O primeiro pólo poderia ser chamado de ultrapassagem dos limites; o segundo,
de limites apesar de tudo.
11
FIKER, Raul. Ficção científica. Ficção, ciência ou uma épica da época? Porto Alegre: L & PM,
1985, pp. 44-45. A enciclopédia utilizada foi: ASH, Brian (org.). The visual encyclopedia of science
fiction. London: Pan, 1977.
47
aparecem como indagações que devem ser situadas no bojo de um tempo natural e
social reinterpretado.
As mesmas influências deram lugar, igualmente, a tentações
pseudocientíficas, como o darwinismo social ou a teoria do “macaco assassino”, que
funcionaram como tentativas de achar uma caução natural (biológica, genética) ao
imperialismo, à territorialidade e à agressão bélica. As teorias pseudocientíficas
resultantes influenciaram as temáticas da ficção científica, talvez tanto quanto a
ciência autêntica.
Por fim, se o tempo sofria mudanças, a antropologia contemporânea
reformulou o espaço mediante o reconhecimento da alteridade cultural, da
multiplicidade das culturas e do direito delas a serem diferentes umas das outras.
Empiricamente, isto já havia sido constatado, com tremendas repercussões e num
quadro de muito menor tolerância para com a diferença, desde as grandes navegações
e a colonização da América. Os estudos antropológicos, já neste século, acabaram,
porém, por desembocar na idéia de que a percepção do “outro” não se refere
unicamente às culturas exóticas, estende-se ao próprio mundo ocidental.
No contexto de um movimento negro altamente militante, em especial nos
Estados Unidos e na África do Sul, da descolonização e do ingresso à ONU dos novos
países independentes da África, da Ásia, da Oceania e do Caribe, do acesso crescente
das mulheres ao mercado de trabalho e de suas reivindicações de igualdade de direitos
e oportunidades em dimensões desconhecidas no passado, da chamada “revolução
sexual”, configuraram-se teorias que podem ser sintetizadas na noção de uma “culpa
do Ocidente”. Retomaram, em novo contexto, a história da colonização, moderna
tanto quanto contemporânea, vista como história de massacres, confiscos e opressões;
e, no seio da própria sociedade ocidental, em função de outras opressões e
discriminações, serviram de embasamento (entre outros) a movimentos como o
feminismo, o ecologismo, a liberação sexual.
***
No mundo da ficção científica, tanto quanto em geral, os dois pólos
sintetizados acima são vividos segundo posições variadas, quando não simetricamente
opostas. Assim, o que chamamos de “ultrapassagem dos limites”, em qualquer de suas
modalidades, pode ser encarado como um mal, a ciência como uma blasfêmia, a
modernidade - ou a urbanização acelerada, ou as máquinas - como desumanização
pela destruição dos “verdadeiros” valores etc. Ou, pelo contrário, pode constituir a
base de uma visão positiva e conquistadora que pretenda ampliar mais ainda,
ficcionalmente, aquela ultrapassagem.
Os limites até agora intransponíveis da velocidade da luz ou da
irreversibilidade do tempo, por sua vez, serão eventualmente aceitos; ou, pelo
contrário, contornados ficcionalmente pelo recurso ao que, como vimos, Amis chama
de “pseudociência” e “pseudotecnologia”: invenção fictícia de mecanismos baseados
num hipotético hiperespaço, ou de uma máquina do tempo. O fato de que não se
descobriu, até agora, vida - ou, mais especificamente, vida inteligente - fora deste
planeta pode ser o último reduto dos religiosos fundamentalistas, de cientistas
tradicionalistas e de romancistas conservadores; ou, pelo contrário, pode ser
ficcionalmente negado através da imaginação de como seriam extraterrestres
inteligentes ou suas eventuais relações com os seres humanos da Terra.
Certas fases na história da ficção científica como gênero podem ser mais
favoráveis às opções mais ousadas, outras, às mais conservadoras, como se verá ao
tratar de temáticas específicas.
Uma pergunta passível de formulação é a seguinte: por que, acossada em um
a um de seus redutos a partir do século XVII sobretudo, persiste a posição que teima
em pretender fazer da humanidade algo único ou especial, resultante de um ato
criador separado, alvo do cuidado específico e exclusivo da(s) divindade(s)? A tese
em questão parece consolar aqueles que não aprenderam a lidar com a mortalidade
individual, sua ou de seres queridos, e que têm medo de um universo indiferente aos
humanos, onde o único sentido possível seja aquele construído individual e
socialmente: onde, portanto, os homens não possam contar com uma ajuda externa,
proveniente de um ser (ou de seres) transcendente(s) ou superior(es).
Seria simplista, entretanto, querer ver, nas posturas conservadoras, somente,
ou mesmo predominantemente, aspectos religiosos; pois há pessoas religiosas que
conseguiram perfeitamente transcender as posturas reacionárias e, por outro lado,
posições conservadoras aparecem também em contextos que nada têm a ver com
religião. Por exemplo, elas caracterizam os que acham um absurdo gastar-se tanto
51
dinheiro com a exploração do sistema solar ou, em geral, com programas espaciais.
Também neste caso, seus argumentos são forçados a mudar com o tempo.
Os satélites artificiais não começaram a ser lançados, em 1957, para servir às
telecomunicações; mas, hoje em dia, servem-nas o tempo todo, bem como à
espionagem militar e ao levantamento dos recursos terrestres ainda inexplorados, por
exemplo. Assim, os que na atualidade querem atacar as atividades espaciais farão
habitualmente a diferença: sim aos satélites e aos seus lançamentos por ônibus
espaciais e pelos foguetes Arianne; não à exploração da Lua, de Marte ou de outros
mundos. Contra tal exploração esgrimirão, como os conservadores de todas as épocas,
argumentos mentirosos e obscurantistas. Por exemplo, pretendendo ser muito
reduzido o que de fato se vem a conhecer com essa atividade, ou serem duvidosas as
vantagens que a humanidade dela poderia esperar.
Um dos argumentos favoritos a respeito é que, num mundo com tantos
problemas sociais quanto o nosso, seja errado desviar recursos para o espaço. Como
se fosse possível acreditar, considerando-se os sistemas vigentes de tomada de
decisões nos países dotados de programas espaciais importantes, que o dinheiro
destinado ao programa espacial, se deixasse de ser aplicado desta forma, viesse a ser
destinado a programas sociais ou à assim chamada “ajuda externa”, em especial nos
seus aspectos não-militares!
Sendo minha intenção redigir um livro introdutório e, não, um tratado,
querendo ao mesmo tempo efetuar, quanto às temáticas da ficção científica, análises e,
não, descrições somente, fiz algumas escolhas. Vou me referir a quatro das temáticas
em questão. Duas têm a ver com especulações acerca do tempo, do espaço e das
sociedades humanas. As outras, com problemáticas envolvendo inteligências não-
humanas ou só parcialmente humanas.
2. Utopias e distopias
Utopia é, como se sabe, termo cunhado por Thomas More em 1516, num
texto escrito em latim (só apareceria em inglês em 1551): tratava-se de uma ilha
imaginária cujo nome remete a “nenhum lugar”, à negação de um lugar concreto,
palpável.
A questão que se formula primeiro é a possibilidade, ou não, de generalizar o
termo e o conceito de utopia, em especial, no que nos interessa, projetando-o em
períodos anteriores ou posteriores ao renascentista e, mesmo, no que é ainda o futuro
para nós. Na opinião do medievalista Hilário Franco Jr. : [a] “palavra [utopia indica]
toda sociedade idealizada, concebida como evasão do concreto ou como proposta de
mudanças nele. Portanto, concebida como literatura e/ou como ideologia”. 12 Se
12
FRANCO JR., Hilário. As utopias medievais. São Paulo: Brasiliense, 1992, p. 11.
52
solitário que vivia segundo os preceitos do regime uma vida pouco atraente, tentando
libertar-se com uma namorada: ambos acabam presos, torturados e ganhos de volta
para o sistema.
De tremendo impacto como livro, a história funcionou mal em suas duas
adaptações cinematográficas, dirigidas por Michael Anderson (1956) e por Michael
Radford (1984). Na medida em que os aspectos intelectuais do romance não poderiam
ser detalhados no cinema, os filmes se concentraram mais na intriga amorosa e no
quadro emocional, com resultados melodramáticos e medíocres. A versão filmada em
1984, ao ser bastante fiel, no conjunto, ao texto de Orwell, acaba remetendo o enredo
a um universo paralelo, já que o espectador sabe tratar-se de projeção passada de um
futuro que não foi.
Se na primeira metade do século as sociedades distópicas são sempre outras
em relação à do autor - a par dos livros resumidos, houve bom número de distopias
abertamente anti-soviéticas, antinazistas, etc. -, nota-se uma mudança a partir
sobretudo da década de 1960, mesmo havendo já prenúncios de peso na década de
1950, com Os mercadores do espaço, de 1953, romance escrito por Cyril Kornbluth e
Frederik Pohl em que as agências publicitárias dominam o mundo a favor de um
capitalismo consumista; e, acima de tudo, com o famoso Fahrenheit 451 de Ray
Bradbury, de 1953 igualmente. Nos países ocidentais tanto quanto nos socialistas -
nestes últimos, agora enfraquecendo-se a ficção científica utópica -, as angústias se
referem doravante a medos incrustados na própria sociedade do autor, ou na época em
geral, provocados por coisas como: superpopulação, perigo ecológico, controle e
desumanização crescente das pessoas pelos meios de comunicação de massa,
terrorismo.
Tal corrente distópica expressou-se na literatura e, de maneira bem mais
eficaz do que no passado, no cinema e nas histórias em quadrinhos também; foi
menos efetiva na TV, muito controlada e asseptizada. A descrição concentra-se quase
sempre num futuro próximo, situado só algumas décadas ou um século à frente, o que
mostra a presença de um forte pessimismo a respeito de nossa própria época:
aparentemente, nada de muito bom pode nascer dela. A onda distópica estende-se, por
meio do cyberpunk, até estes últimos anos do século XX. No mundo ocidental, uma
das mais poderosas distopias foi Laranja mecânica, de Anthony Burgess (1962),
estupendamente filmada por Stanley Kubrick em 1971. Entre as do Leste europeu,
destacam-se alguns romances de Stanislaw Lem - como Memórias encontradas numa
banheira, de 1973, acerca da paranóia da Guerra Fria, e o cômico mas poderoso
Congresso futurológico, de 1971 -, bem como a maioria das obras maduras dos
irmãos soviéticos Arkady e Boris Strugatsky, aquelas escritas após 1960.
58
No caso do programa espacial, o papel da ficção científica parece ter sido, não o
de prever no sentido exato da palavra mas, sim, o de criar um ambiente favorável a
respeito, uma expectativa, junto aos cientistas e ao público, sem a qual seria
impensável que o governo pudesse gastar somas tão extraordinárias em tal programa
como o fez nos Estados Unidos e na União Soviética durante vários anos, mesmo se
considerarmos também os fatores estratégicos envolvidos na corrida espacial.
Nos séculos XIX e XX, os seres humanos podiam verificar por si mesmos o
ritmo acelerado da mudança histórica, posto que no transcurso de uma vida muitas
coisas se transformavam até tornar-se irreconhecíveis. Daí a idéia, sem a qual a ficção
científica como gênero não seria possível, de que o presente não é igual ao passado,
nem o futuro será igual ao presente. Na verdade, um corte radical com o passado
tornou-se cada vez mais evidente em matéria de ciência e tecnologia. Diz, por
exemplo, Carlo Cipolla:
“... os agrônomos dos séculos XV e XVI podiam ainda referir-se
usualmente aos tratados escritos pelos romanos. As idéias de Hipócrates e
Galeno continuavam representando bem, no século XVIII, as bases da medicina
oficial, dois séculos após a rebelião de Paracelso. Quando Maquiavel
planejava um exército para sua época, não achava absurdo referir-se à
constituição romana. Quando Catarina II da Rússia fez transportar da
Finlândia até São Petersburgo uma grande pedra para construir um
monumento à memória de Pedro, o Grande, no final do século XVIII, o método
de transporte foi o mesmo utilizado milênios antes pelos egípcios para construir
suas pirâmides. (...) Uma continuidade básica caracterizava o mundo pré-
industrial, apesar de grandes ascensões e quedas como as do Império Romano,
do Islã medieval ou das dinastias chinesas. (...) Entre 1750 e 1850, esta
continuidade se rompeu. Se, em meados do século XIX, um general estudasse a
organização do exército romano, ou se um médico estudasse Hipócrates e
Galeno, ou um agrônomo, Columela, fazia-o unicamente como exercício
acadêmico cujo único interesse era histórico. (...) Em 1850 o passado não era
somente passado: estava morto.”14
Esta ruptura pode ser vivida como exaltação ou como uma perda que provoca
a nostalgia dos tempos anteriores, mais simples, talvez mais humanos, seja isto o que
for. E, no contexto da nova convicção de que o futuro por sua vez será distinto, a
ficção científica, se não pode de fato prevê-lo, trata de imaginá-lo - em especial,
projetando os receios de que certas variáveis que o autor enxerga como negativas
possam crescer fora de qualquer proporção. A literatura ficcional extrapola com o
objetivo de avisar ou prevenir; na maioria dos casos, descreve-se exatamente aquilo
que se deseja não aconteça.
Até este ponto de nossas considerações, porém, a trama mesma do tempo
ficou fora das cogitações: as coisas mudam, mas o tempo, parâmetro ou dimensão
14
CIPOLLA, Carlo. “Introduction”. In: ____ (org.). The Fontana economic history of Europe. 3. The
industrial revolution. London: Collins/Fontana, 1973, pp. 7-21 (a citação é das pp. 8-9).
60
do tempo”, dirigem o devir humano de séculos numerosos (mas não de todos eles),
através das manipulações de uma espécie de engenharia social e temporal baseada no
uso da máquina do tempo. Como é habitual na ficção asimoviana, os detalhes
sociológicos faltam e a descrição das diferentes temporalidades é superficial e
reducionista: cada século aparece como algo homogêneo e monolítico, o que é
inverossímil.
Em Os guardiães do tempo (1961), Poul Anderson reuniu quatro contos
longos em que o protagonista, Manse Everard, um homem do século XX, é recrutado
pela Patrulha do Tempo e vive aventuras nas antigas Grécia e Cartago, entre outras
exóticas temporalidades. O pioneiro nesta área ficcional foi Jack Williamson, ao
imaginar em 1938, no contexto da ficção pulp, a guerra entre mundos e
temporalidades alternativas (The legion of time, “A legião do tempo”, obra publicada
em forma de livro em 1961). Em Lest darkness fall (“Para que não caiam as trevas”,
1941), L. Sprague de Camp imaginou um norte-americano transportado para a
Antigüidade tardia por um meio impossível - um raio que caiu quando visitava o
Panteon, em Roma -, o qual envida esforços para impedir que venha a Idade Média,
por exemplo inventando a imprensa para que a cultura intelectual continue circulando.
No cinema, se A máquina do tempo (The time machine: 1960), de George
Pal, é decepcionante como tentativa de ilustrar o clássico de Wells, houve muitos
filmes que enfocaram melhor as viagens temporais, como Je t’aime, je t’aime (“Eu te
amo, eu te amo”: 1967), de Alain Resnais, com excelente roteiro do escritor de ficção
científica Jacques Sternberg em colaboração com Resnais; ou, numa veia mais
satírica, Um século em 43 minutos (Time after time, 1979), de Nicholas Meyer, em
que H. G. Wells é o protagonista que viaja à São Francisco (Califórnia) de 1979
perseguindo Jack, o Estripador, ambos usando uma máquina do tempo inventada por
Wells. Filmes que se referem mais diretamente a uma tentativa deliberada de mudar o
tempo mediante viagens ao passado (que é o presente dos espectadores) são
muitíssimos. Por exemplo: O exterminador do futuro (The Terminator; Terminator 2:
Judgment day) I e II , dirigidos por James Cameron em 1984 e em 1991. Um caso
curioso é o de Fugindo do futuro (Timescape, 1991), de David Twohy, em que
pessoas de um futuro pacífico e tedioso viajam ao passado, incluindo o nosso
presente, para assistir como turistas, sem intervir, a grandes catástrofes mortíferas.
A suspensão da vida pela criogenia, isto é, por supercongelamento, é usada
na ficção científica em diversas situações hipotéticas: para esperar que a medicina
descubra o tratamento adequado para um dado mal; para superar dificuldades de vôos
espaciais muito longos, diminuindo, por exemplo, as rações consumidas durante parte
da viagem, ou tornando possíveis viagens às estrelas, caso se aceite o limite absoluto
da relatividade quanto às velocidades. Em conjunto com outras formas fictícias de
62
vida suspensa, serve também para um efeito usado com alguma freqüência: a
irrupção, no mundo de hoje - ou seja, no presente do escritor ou do diretor do filme,
ou do escritor do episódio de um seriado de TV -, de uma pessoa de um passado
remoto ou recente; ou, num processo análogo, a irrupção de alguém de hoje no futuro
próximo ou distante. Em ambos os casos, a intenção pode ser puramente descritiva -
do passado, do presente ou do futuro -, ou pode tratar-se de um enredo que envolva
tentativas de mudar a época em que irrompe o adormecido. A criogenia tem alguma
base real: a Sociedade Criogênica da Califórnia começou a congelar pessoas recém-
falecidas em 1967; em 1981, uma interrupção de eletricidade descongelou vários dos
cadáveres, propiciando uma série de processos nos tribunais.
Na literatura, este elemento narrativo começou explicando a vida suspensa
por meio de processos “acidentais” de congelamento ou algum outro modo de sono,
catalepsia ou hibernação, como por exemplo em The frozen pirate (“O pirata
congelado”, 1887), de W. Clark Russell, em que o despertar se dava no presente do
escritor, ou em Dix mille ans dans un bloc de glace (“Dez mil anos num bloco de
gelo”, 1898), de Louis Boussenard, em que um homem do fim do século passado era
assim projetado no futuro distante. No século XX, predominaram os meios
pseudocientíficos de suspensão da animação, embora no cinema da década de 1950
ainda aparecessem monstros liberados do gelo ártico por explosões atômicas e que
reviviam então. Por outro lado, em nosso século outros problemas vinculados à
própria suspensão hipotética da vida foram ficcionalmente considerados: roubo de
órgãos de vítimas indefesas para transplante - por exemplo em Coma (1977), de
Robin Cook, filmado por Michael Crichton em 1978 -, problemas econômicos e éticos
ligados à superpopulação e à ecologia quando se tratasse de despertar os que foram
congelados. Assim, os casos em que ocorre uma intervenção no presente ou no futuro
da parte daqueles cuja vida foi suspensa por certo tempo constituem somente uma
possibilidade entre muitas.
É bastante freqüente, em especial no cinema, o uso de um artifício desse tipo
no relato para expor questões que têm a ver com o amor e outros aspectos emocionais,
como em Eternamente jovem (Forever young: 1992), dirigido por Steve Miner, ou em
Passaporte para o futuro (Late for dinner: 1991), cujo diretor é W. D. Richter. Um
exemplo literário de considerável repercussão, em especial sobre contos das revistas
pulp, no tocante à tentativa de uma personagem no sentido de intervir num tempo
diferente do seu próprio, é a história de Hierânia, mulher de uma civilização
desaparecida há milhões de anos, cuja vida fora suspensa por meios científicos, a qual
desperta na Austrália do século XX, logo planejando mudanças radicais no mundo
que encontra: trata-se do romance A esfera de ouro (Out of the silence, 1925), de Erle
63
Cox, provavelmente influenciado por When the world shook (“Quando a Terra
tremeu”, 1919), de Henry Rider Haggard, relato inspirado pelo mito da Atlântida.
Por último, a hipótese dos mundos paralelos ou alternativos, defasados
temporalmente entre si, permite também o contato entre temporalidades diferentes,
com a eventual tentativa de influir no tempo. Citamos já, em outro contexto, um
exemplo soviético: Viagem por três mundos, obra da década de 1970 de Alexander e
Serguei Abramov. Mas o exemplo literário mais famoso é provavelmente O homem
do castelo alto (The man in the high castle: 1962), de Philip K. Dick: num mundo
alternativo, a Alemanha nazista e o Japão ganharam a guerra e dividiram entre si os
Estados Unidos; uma das personagens aprende (através do I-Ching!) que em outro
mundo - que, no entanto, não é o nosso - os Aliados é que venceram. No cinema,
podemos citar, entre os filmes mais recentes numa ordem de idéias similar, Projeto
Filadélfia II (The Philadelphia experiment II: 1993), de Stephen Cornwell: enquanto
Projeto Filadélfia I era uma história de pessoas projetadas no futuro, neste caso se
trata de alguém que se vê transportar a uma versão dos Estados Unidos controlada por
um governo totalitário, onde se alia aos rebeldes locais.
4. Inteligências artificiais
podem aparecer marcados por uma carga negativa de origem religiosa e conduzir à
noção de que as infrações humanas ao domínio de Deus levam à queda, à destruição.
Outrossim, não é só a religião que pode originar uma reação negativa. Já os
românticos se rebelaram contra a destruição dos laços coletivos e das “verdadeiras”
qualidades humanas pelo mundo novo, crescentemente urbanizado - nas cidades, as
relações humanas se perdem no anonimato - e cada vez mais dependente das
máquinas, que estava sendo criado pelo avanço da revolução industrial. Os fatores
encarados como desumanizadores e malignos se faziam, aliás, mais presentes a cada
fase de tal revolução.
Já no século XIX era claro o temor das conseqüências de tais processos.
Dostoievsky, por exemplo, via em 1864 o homem como ser programado (se
quisermos usar um termo atual) pelos avanços no conhecimento das leis da natureza,
tornando-se algo análogo a uma tecla de piano ou ao tubo de um órgão. Encarava com
horror um mundo em que as responsabilidades desaparecem em nome da
matematização: a vida se torna fácil, tudo estando previsto como em tábua de
logaritmos, mas num mundo assim já não há feitos ou aventuras.
No século XX, tais temores só fizeram acentuar-se. Foram primeiro as
aplicações do taylorismo e do fordismo, a maximização da eficiência (prefigurando a
moderna ergonomia) e a linha de montagem, em que os operários individuais se
pareciam a engrenagens limitadas e alienadas. Foi a seguir a descoberta das
programações sociais dos comportamentos e o medo da desumanização e da perda de
autonomia pelo gênero de vida - aquilo que os franceses chamam de
métro/boulot/dodo, isto é, metrô ou outros transportes coletivos/trabalho/sono como
resumo da vida da maioria das pessoas, a não ser nas férias, que ocupam somente uma
pequena parte do ano -, pelo consumismo, pela publicidade, pelos meios de
comunicação de massa. Num contexto assim, um robô pode ser metáfora ficcional em
mais de um sentido: os homens se parecem crescentemente a máquinas; e as máquinas
podem voltar-se contra os seus criadores ou, simplesmente, como máquinas que são,
os robôs podem ser malignos.
Note-se que o surgimento, em 1947, do termo cibernética, da lavra de Norbert
Wiener, só fez fortalecer tal linha de pensamento. O autor, num livro publicado no
ano seguinte, o usou para designar o estudo dos sistemas complexos que possam
regular seu próprio desempenho, sua própria função - em suma, seu output - à base de
dados recebidos acerca de tal desempenho ou função (input); o que é o mesmo que
falar de sistemas dotados de retroalimentação. Um homem ou um animal
exemplificam um sistema desses; mas também um computador ou outro tipo qualquer
de máquina em que exista a retroalimentação (feedback). A partir daí, existia uma
base teórica para considerar irrelevante, pelo menos em certos níveis de enfoque, a
66
15
MAC GOWAN, Roger A. e ORDWAY III, Frederick I. Intelligence in the universe. Englewood
Cliffs (New Jersey): Prentice-Hall, 1966, pp. 219, 234.
67
16
LEM, Stanislaw. Memoirs of a space traveller. Further reminiscences of Ijon Tichy. Trad. de J. Stern
e M. Swiecicka-Ziemianek. San Diego/New York: Harcourt Brace Jovanovich, 1983, p. 50.
17
LEM, Stanislaw. The futurological congress. Trad. de Michael Kandel. London: Futura, 1977, pp.
84, 86.
69
baseada no romance Cyborg, de 1972, cujo autor é Martin Caidin; e A mulher biônica
(The bionic woman: 1976-1978). Aparecem também, ficcionalmente, seres humanos
modificados por engenharia genética, ou por alguma outra forma de biotecnologia,
para adaptá-los a certas funções e ambientes: por exemplo, em Maelstrom, de Paul
Preuss, um romance claramente cyberpunk de 1988.
Os robôs têm ilustres antepassados nos autômatas construídos na
Antigüidade por sábios gregos como Filão de Bizâncio (século III a.C.). Muito tempo
depois, no início do século XIX, houve outra vez máquinas que imitavam a forma e
alguns dos movimentos dos humanos, dotadas de mecanismo de relojoaria, o que
levou a uma moda literária incipiente dos autômatas desse tipo, por exemplo a
Olímpia de um dos contos de E. T. A. Hoffmann (1816). Já então, como em muitos
outros escritos do século passado, o seu papel era sinistro e ameaçador, mesmo se às
vezes isto fosse temperado por elementos cômicos. Note-se, porém, que nestes casos
temos somente a aparência de vida e inteligência.
Os sentimentos dos autores de contos das revistas pulp foram ambivalentes.
Se alguns robôs constituíam servidores leais de seus criadores e até podiam ser
vítimas de perseguições dos humanos, outros pretendiam dominar o mundo ou
praticar atos igualmente repreensíveis: desejar a filha de seu criador, por exemplo,
num conto escrito em 1931 por Abner J. Gelula, detalhe que poderia também ser
interpretado como metáfora do receio diante de relações sexuais inter-raciais. Um
robô muito superior aos humanos, mas altruísta, aparece em um conto de Harry Bates
em 1940: tendo a humanidade se tornado excessivamente dependente de seus
serviços, despede-se e a abandona. A explosão das bombas atômicas dos Estados
Unidos no Japão, em 1945, inaugurou novo período de inclinação antitecnológica,
trazendo à ficção científica outra fase de ambigüidade em relação aos robôs, até fins
da década de 1950. Mas, entrementes, dera-se decisiva intervenção de Asimov nessa
temática.
Considera-se efetivamente como um marco, no concernente aos robôs da
literatura de ficção científica, a obra de Isaac Asimov. Em discussões com John W.
Campbell Jr., ele criou a partir de 1940 a noção pseudocientífica de um “cérebro
positrônico” para seus robôs e, em função de sua programação, as “três leis da
robótica”: 1) “um robô não pode fazer dano a um ser humano ou, por sua inação,
permitir que um humano sofra”; 2) “um robô deve obedecer às ordens a ele dadas
pelos seres humanos, exceto quando tais ordens entrarem em conflito com a primeira
lei”; 3) “um robô deve proteger sua própria existência, na medida em que tal proteção
não infringir a primeira ou a segunda lei”. Na ficção de Asimov, comportamentos
estranhos dos robôs se devem a conseqüências inesperadas de conflitos na
programação, causados por contradições ligadas às leis. O autor criou até mesmo uma
70
acreditar nos discos voadores; senti que chegara exatamente a tempo de salvá-
lo desse destino horrível.”18
18
CLARKE, Arthur C. The lost worlds of 2001. The ultimate log of the ultimate trip. New York: New
American Library, 1972, p. 29.
74
imunológicas que neutralizassem a ação dos seres microscópicos que abundam neste
mundo.
Seja como for, a linha aberta por Wells, a dos alienígenas que vêm do espaço
exterior para atacar-nos, existe até hoje - veja-se o filme Independence day, de 1996 -
e, durante várias décadas, foi a que predominou. O ataque não foi sempre o da guerra
aberta. Além desta última, foram variantes dele, entre outras: o artefato humano que
traz do espaço um vírus letal (O enigma de Andrômeda, romance de Michael Crichton
de 1969, filmado por Robert Wise em 1971; a idéia já tivera um memorável
antecedente no filme britânico The Quatermass Xperiment: the creeping unknown, “O
experimento de Quatermass: o desconhecido rastejante”, de 1955, dirigido por Val
Guest); a nave alienígena que, pairando sobre uma aldeia inglesa, adormece os
habitantes, verificando-se depois que todas as mulheres do lugar ficaram grávidas,
dando à luz crianças desprovidas de emoções e dotadas de poderes especiais, coisa
que, descobre-se, também acontecera ao mesmo tempo em outros pontos do planeta
(A aldeia dos malditos, de John Wyndham, 1957; filme de Wolf Rilla, 1960); vegetais
vindos do espaço crescem na Terra, desenvolvendo grandes vagens que tomam a
forma de seres humanos adormecidos e os substituem por cópias perfeitas: estas retêm
as recordações daqueles que substituem, mas não as emoções (Invasores de corpos, de
Jack Finney, 1955, filmado por Don Siegel em 1956, Vampiros de almas; e por Philip
Kauffman em 1978: Invasores de corpos); uma cabeça com um corpo atrofiado e
mãos de três dedos, dentro de uma redoma de vidro - marciano que reproduz idéias
então difundidas na ficção científica quanto ao aspecto que adquirirão os homens do
longínquo futuro -, comanda um bando de andróides invasores e transforma a
população de uma pequena cidade norte-americana em zumbis sob controle telepático
(Invasores de Marte, filme dirigido por William Cameron Menzies em 1953,
refilmado lamentavelmente em 1986 sob a direção de Tobe Hooper); no planeta
Marte, uma civilização de mulheres acaba com os varões e então, com problemas para
reproduzir-se, manda à Terra uma emissária vestida de couro e acompanhada de um
robô gigantesco para recrutar reprodutores sadios, usando métodos no mínimo hostis
(filme britânico Devil girl from Mars, “Garota diabólica de Marte”, de 1954, dirigido
por David Macdonald, baseado numa peça de teatro); um asteróide, tripulado no
passado por seres que depois se descobre estarem mortos há muito, agora sob controle
de um computador, aproxima-se da Terra e envia discos voadores que combatem os
humanos (Il pianetta degli uomini spenti, “O planeta dos homens mortos”, filme
italiano dirigido por Anthony Dawson, aliás Antonio Margheriti, em 1961). Esta lista
está muito longe de esgotar as possibilidades, tendo sido a imaginação a respeito
extremamente fértil e variada.
75
(“Aqueles que escutam”, 1972), de James E. Gunn, em que, após muitas décadas de
tentativas, chega a mensagem de uma civilização já desaparecida, por ter a sua estrela
(Capella) se tornado uma gigante vermelha; e Contato (1985), de Carl Sagan, filmado
recentemente numa forma bastante diferente da do livro, em que uma mensagem
cósmica com indicações acerca de como construir um artefato provoca grandes
intrigas políticas e tem repercussões existenciais e religiosas.
Note-se que a questão da busca de inteligências extraterrestres (designada em
inglês como SETI: Search for extraterrestrial intelligence) foi combatida como inútil
por alguns, como perigosa por outros: estaríamos atraindo possíveis invasores... Do
ponto de vista ficcional, foi de outro ângulo que Stanislaw Lem, em A voz do dono, de
1968, se pronunciou a respeito. No romance, uma mensagem é recebida e estabelece-
se nos Estados Unidos um projeto secreto para lidar com o assunto. No entanto,
embora até mesmo se chegue a confeccionar uma substância segundo o que se
entende como instruções contidas na mensagem, no final das contas constata-se que a
verdadeira comunicação entre seres radicalmente diferentes é impossível. Mas não
teríamos aí, de fato, um reflexo, na ficção científica, das angústias da época a respeito
da solidão inevitável, da incomunicabilidade dos seres, mesmo neste planeta,
problema muito ventilado pelo existencialismo do segundo pós-guerra e ilustrado pela
nouvelle vague do cinema francês, bem como pelo nouveau roman, francês também?
A partir da década de 1960 sobretudo, em literatura, e do final da década
seguinte no cinema, os extraterrestres que visitavam ficcionalmente este planeta
tornaram-se menos hostis. Refletindo a chamada revolução sexual, desde então
começaram, mesmo, a entrar em “relações adultas e significativas” com humanos:
assim ocorreu, por exemplo, no romance Those who watch (“Aqueles que observam”,
1967), de Robert Silverberg; e no filme Starman, o homem das estrelas (1984),
dirigido por John Carpenter. É verdade que, em ambos os casos, tiveram de assumir
um corpo humano para que a experiência pudesse ser tentada. Autores houve, no
entanto, que não acharam ser isto necessário. Outros alienígenas sofreram horrores
devido à xenofobia e à intolerância dos seres humanos, como O homem que caiu na
Terra, no romance de Walter Tevis (1963; filmado por Nicolas Roeg em 1976: neste
filme, David Bowie tornou-se um dos mais críveis extraterrestres do cinema).
Terminada a Guerra do Vietnã, em tempos de distensão da Guerra Fria, de
conversações Oeste-Leste para tentar limitar os arsenais de mísseis nucleares
intercontinentais, o clima tornou-se mais favorável do que no passado a que visitantes
simpáticos viessem ter conosco: o mais famoso foi E.T., o extraterrestre (filme de
Steven Spielberg, 1982), que, com os angelicais e frágeis alienígenas que aparecem no
final de Contatos imediatos do terceiro grau (também de Spielberg, 1977), inaugurou
um clichê visual do que seria o extraterrestre “bom”.
77
19
Para uma interpretação deste tipo de Arquivo X, ver: PIRAS, Pierine. “Fascinations pour un
nouveau mysticisme”. Le Monde Diplomatique (Paris). Agosto de 1997, p. 18.
20
KAUFFMANN, Stanley. “Lost in the stars”. In: AGEL, Jerome (org.). The making of Kubrick’s
2001. New York: New American Library, 1970, pp. 223-226 (a citação é da p. 226).
78
Claro está, porém, que, como cultura popular que é, a ficção científica
raramente se eleva a tais alturas metafísicas. Lem provavelmente esteve influenciado,
em passagens como a citada, por idéias do tipo das de Ernst Cassirer: o homem se
enredou tanto em seus próprios símbolos culturais que, quando pensa que dialoga com
o mundo, no fundo só está monologando consigo mesmo. O universo se transforma
em espelho gigantesco. Entretanto, examinando o tipo de reconstituição ficcional de
outros mundos e seus habitantes que predominou por décadas, seria fácil dar razão ao
argumento do autor polonês.
Um caso extremo poderia ser o ciclo do Império Galáctico de Trantor,
elaborado por Isaac Asimov entre 1942 e 1953. Nossa galáxia foi inteiramente
colonizada por seres humanos, que não encontraram outra espécie inteligente. Os
planetas descritos são, aliás, meras extrapolações reducionistas de aspectos parciais da
Terra: Trantor é inteiramente urbanizado e tem funções só burocráticas, há mundos
que são unicamente agrícolas, outros se dedicam ao comércio em forma exclusiva,
Kalgan é um mundo que provê somente atividades de lazer, Terminus é um oásis
tecnológico numa periferia galáctica neofeudal. É verdade que, em outras obras, o
autor se dedicou a descrever cosmologias e seres realmente extraterrestres.
No cinema, com freqüência os alienígenas têm aspecto humano ou, no
mínimo, motivações humanas. Podem, mesmo, repetir ou prenunciar a história deste
planeta: assim acontece em Rocketship X-M (“Foguete espacial X-M”:1950), filme de
Kurt Neumann em que “mutantes” cegos, cuja aparência é de todo humana, habitam
um planeta Marte onde a civilização foi destruída por uma guerra atômica.
É certo que, literariamente, o ciclo trantoriano de Asimov é muito superior ao
romantismo pulp e àquele do Marte de Edgar Rice Burroughs, onde o terrestre John
Carter conhecia aventuras incríveis entre monstros - alguns deles simpáticos, outros
21
LEM, Stanislaw. Soláris. Trad. de Inês Busse. Lisboa: Europa-América, 1983, p. 67.
79
terríveis - e belas princesas. A space opera da era pulp, ligada a nomes como E. E.
“Doc” Smith, Edmond Hamilton, Jack Williamson, entre vários outros, caracterizava-
se por planetas que eram paráfrases do nosso com alguns toques de exotismo,
alienígenas monstruosos (ou estranhos mas positivamente retratados, quando aliados),
humanos arrogantes e imperialistas, batalhas espaciais em astronaves cada vez
maiores e usando armas cada vez mais terríveis. Um certo ar de fronteira e faroeste
caracterizava muitas dessas narrativas. A onda de “capa, espada e astronave” se
prolongou nos seriados produzidos para as matinês de cinema na década de 1930, por
exemplo os de Flash Gordon. A Lua como típico faroeste aparece tardiamente, no
cinema, no filme britânico Moon zero two (“Lua zero dois”), de Roy Ward Baker
(1970). Algo do espírito da space opera das revistas pulp e dos seriados
cinematográficos seria depois recuperado em obras literárias nostálgicas e,
cinematograficamente, na trilogia de George Lucas (Guerra nas estrelas, 1977; O
Império contra-ataca, 1980; O retorno do Jedi, 1983).
Elemento simetricamente oposto a esse cosmo radicalmente “humanizado”
seria a descrição de alienígenas em seus ambientes, sem qualquer presença de gente
da Terra, ou a ela semelhante. Isto existiu, mas não com freqüência, por ser difícil
conseguir uma identificação do leitor com um mundo de fato “outro”, totalmente
estranho à humanidade. Um exemplo das obras que funcionaram melhor em tal
sentido é The crucible of time (“O cadinho do tempo”, 1983), do inglês John Brunner,
uma epopéia inteiramente alienígena que cobre, num período extremamente longo, a
história de uma espécie que nada tem de humana e conquista uma civilização
tecnológica em moldes nada terrestres.
Um caso à parte é o de Marte. Uma imagem poderosa a respeito gerou-se
com a teoria do astrônomo amador Percival Lowell, exposta em especial num livro de
1908. O planeta vermelho era nele descrito como um mundo agonizante de desertos,
com a pouca água disponível, proveniente do degelo polar, sendo distribuída pelos
marcianos através do seu bombeamento para que circulasse num sistema de canais.
Desde então, a ficção científica abundou em aventuras marcianas dentro desse
cenário. Mesmo Ray Bradbury - numa época em que boa parte do mito se tornara já
de impossível sustentação diante das descobertas astronômicas acerca de Marte -, em
suas Crônicas marcianas (coleção de 1950), ajudou a prolongar a vida do clichê
marciano. Vida que ultrapassou até mesmo o efeito das sondas não-tripuladas que, nas
décadas de 1960 e 1970, provaram cabalmente que aquilo imaginado por Lowell não
passava de total fantasia: nem isto cortou de todo o fluxo de romances marcianos
ambientados num mundo vetusto e agonizante com seus canais.
Apareceram desde então, sem dúvida, ficções marcianas mais realistas. E a
noção de um Marte menos hostil do que o mostrado pelas sondas foi transferida seja
80
para o passado (The valley where time stood still, “O vale onde o tempo parou”, 1974,
de Lin Carter), seja para o processo tecnológico (e biológico) de sua transformação
em algo semelhante à Terra. No último caso, trata-se do conceito conhecido como
terraforming (em português traduzido habitualmente pelo horrível “terraformização”),
aplicado também a outros mundos como solução tanto não-ficcional quanto ficcional
para a futura colonização de um sistema solar que a exploração por sondas vem
mostrando sistematicamente ter características inóspitas para os humanos. No caso de
Marte, o melhor desenvolvimento da idéia na ficção está na série marciana de Kim
Stanley Robinson, cuja publicação foi iniciada em 1992, acerca da colonização do
planeta - anteriormente desabitado - por seres humanos.
Em todo caso, já na década de 1930 ecologias extraterrestres mais críveis
começavam a aparecer. O pioneiro no ramo foi o romancista Stanley G. Weinbaum.
Na mesma década, também Olaf Stapledon usou a imaginação para descrever mundos
coerentes em seus ecossistemas, mas distintos deste, embora sem grande detalhe. Foi
a preocupação difundida com a ecologia, típica da época iniciada na década de 1960,
que levou às melhores descrições de sistemas ecológicos alienígenas, em mundos
partilhados por humanos e extraterrestres inteligentes, ou habitados só por humanos: o
mais famoso é provavelmente o planeta Arrákis no romance Duna (1965), de Frank
Herbert, iniciador de uma série muito popular. Tal romance foi filmado em forma
desapontadora - apesar de conter o filme muitas imagens portentosas e memoráveis -
por David Lynch, em 1984. Há outro mundo extraterrestre notável, mas em relação ao
qual é impossível falar em ecossistema, já que o único ser vivo, gigantesco, seria o
próprio oceano do planeta, não estando o oceano em questão formado por matéria
comprovadamente orgânica: trata-se de Soláris, no romance homônimo de Stanislaw
Lem (1961), uma das parábolas do autor acerca da impossibilidade de uma
comunicação plena entre seres radicalmente diferentes.
Desde a década anterior, numa tendência confirmada após 1960, a
colonização humana de outros mundos começou a ser vista como tarefa bem mais
árdua do que antes se imaginava; também, como algo contestável eticamente. Era a
época da descolonização e do anticolonialismo, do movimento norte-americano e na
África do Sul pelos direitos civis dos negros, do feminismo cada vez mais militante
em suma, aquela em que se tornou forte a crença numa “culpa do Ocidente”. Na
ficção científica, os efeitos disto foram dos mais fecundos. Arthur Clarke, por
exemplo, já na década de 1950 imaginara os próprios colonos humanos da Lua e de
Marte revoltando-se contra uma administração metropolitana terrestre injusta ou
inadequada, o que também aparecia nas obras de outros autores.
Na etapa seguinte do gênero, porém, a ênfase - influenciada em especial
pelas atrocidades da Guerra do Vietnã - foi na interferência culpada, colonialista,
81
maior inserção internacional. Também no subgênero soft é que atua com maior
freqüência Roberto Schima.
Minha impressão pessoal é que o impulso iniciado em meados da década de
1985 manteve-se relativamente vigoroso por dez anos, perdendo força a seguir. Se for
assim, confirma-se que a presença entre nós da ficção científica entendida como
produção nacional é ainda instável e mesmo um tanto errática, pelas razões já
indicadas.
86
Conclusão
22
BURGESS, Anthony. “O romance”. In: FADIMAN, Clifton (org.). O tesouro da Enciclopédia
Britânica. Trad. de Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1994, pp. 9-29
(a citação é da p. 29).
88
Bibliografia básica:
(Inclui todas as obras de referência citadas no texto ou utilizadas ao redigi-lo. Não
inclui as obras ficcionais nele mencionadas.)
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