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Avaliação Psicológica no
Tratamento Implantodôntico
Silvana Alba Scortegagna
Micheline Sandini Trentin
Maria Salete Sandini Linden
Miriam Lago Magro
João Paulo De Carli
Marcos Eugênio de Bittencourt
Montalverne Bossardi
Fernando Furtado Antunes de Freitas
Lucas Villaça Zogheilo
Desde os primórdios da humanidade houve tentativas no sentido de desenvolver e criar um meio de substituir dentes
perdidos com elementos artificiais, incluindo diversos tipos de materiais. Implantes dentais são na atualidade uma excelente
alternativa para repor os dentes ausentes nas arcadas dentárias (Morgan e Speratti, 2010). Embora as estatísticas apontem um
aumento substancial na busca desta modalidade de tratamento e estudos revelem que a inserção de implantes apresentam taxas de
sucesso acima de 90% e taxas superiores a 97% em próteses, tais índices são uma expectativa média e não podem ser utilizadas para
todas as regiões da boca (Misch, 2000).
Assim, ainda que os índices de sucesso denotem uma boa garantia para a indicação de implantes, existe nesses
procedimentos certa quantidade de imponderabilidade. Isso decorre mesmo diante das taxas promissoras do implante e do
desconforto da cirurgia que se revela muito inferior ao benefício de possuir uma prótese fixa especificamente, porque não se pode
prever um sucesso absoluto.
Nesse sentido, observa-se que parte dos insucessos tem como problemática o encaminhamento de pacientes que não são
exatamente candidatos para implantes. Desse modo, configura-se um dos objetivos da avaliação pré-implante determinar quais
pacientes poderão apresentar melhores condições de obter êxito e de reabilitação follow-up. Some patients will be poor responders
to surgical intervention regardless of how successful the procedure may be.Alguns pacientes podem apresentar importantes
dificuldades na realização da intervenção cirúrgica, independentemente do quanto bem sucedido o procedimento possa vir a ser.
Others may have a better outcome if they have first received appropriate behavioral medicine treatments which make them more
proactive in their recovery and subsequent rehabilitation. Outros podem denotar a necessidade de tratamentos prévios para torná-
los mais pró-ativos na recuperação e posterior reabilitação. Some patients may first need help in identifying and eliminating issues
in their lives that will interfere with their recovery Igualmente, pode-se perceber que para alguns pacientes a busca de auxílio
psicoterapêutico para elaborar problemas pessoais e familiares torna-se fundamental tanto para o desenvolvimento do tratamento
implantodôntico quanto para sua recuperação.
Levando-se em consideração a complexidade dos pacientes atendidos em ambientes médicos e odontológicos, a
psicologia na saúde vem ganhando espaço e importância em âmbitos multi e interdisciplinares (Capitao, Scortegagna e Baptista,
2005). Para os autores, isso decorre da necessidade de melhor compreender os vários fenômenos relacionados à saúde e à doença
que muitas vezes são elucidados por meio da realização de avaliação psicológica. Como resultado, tem-se obtido melhores
condições para prevenir processos que venham dificultar a melhora do paciente, como também meios para orientar as intervenções
mais apropriadas.
Para melhor circunscrever as metas e procedimentos da avaliação psicológica em ambientes de saúde, Belar e Deardorff
(1995) relatam que os principais objetivos devem atender aos domínios biológicos, cognitivos, afetivos e comportamentais. De
forma simplificada, se entende que na avaliação para implantes se deve investigar os seguintes fatores:
a) biológicos - natureza, localização, freqüência dos sintomas, tipos de tratamento realizados e resultados obtidos;
b) cognitivos – compreensão do paciente a respeito do processo, a necessidade de be active in self-care;participar ativamente do
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tratamento; •degree of understanding the need to make changes in usual methods of approaching life that may exacerbate pain
problems;a necessidade de fazer mudanças em estilos de vida que podem agravar os problemas da dor; avaliar as crenças e modelos
explicativos sobre o implante; a capacidade de o paciente fazer opções quanto aos custos/benefícios de tratamentos e as
expectativas quanto às intervenções; •degree of understanding the need to
c) afetivos - sentimentos do paciente quanto à doença ou disfunção, ao tratamento, as suas limitações, e o histórico de variações de
humor;
d) comportamentais - reações do paciente, as expressões faciais, os sinais de ansiedade, agressividade; os hábitos de risco ou
protetivos.
É interessante notar que essas informações são de utilidade na avaliação dos pacientes candidatos a procedimentos de
implante e sobre como eles podem responder a reabilitação em longo prazo. Desse modo, a avaliação psicológica pré-implante é
projetada para auxiliar o cirurgião, o paciente e a família na tomada de decisões apropriadas diante das opções de tratamento,
dependendo das necessidades específicas do paciente. It focuses on the patient, personality style response patterns, personal life
issues, issues that might result in setbacks, and other factors that are important to improved outcomes.
Para além das questões mais facilmente observáveis, impõem-se outras, de caráter singular e de fundamental importância.
Assim, não se pode deixar de enfatizar que os processos avaliativos devem dirigir-se à singularidade do paciente. Nesse sentido,
busca-se na avaliação psicológica conhecer a história do paciente e as relações estabelecidas, essenciais em seu desenvolvimento e
na formação de sua personalidade. É por meio delas que as concepções de vida, morte, saúde e doença, dor, se atualizam. Assim,
torna-se essencial avaliar como os procedimentos cirúrgicos incidem no corpo e na mente não como duas entidades que se
relacionam, mas como duas expressões de uma mesma substância.
quanto mais se avança nas faixas etárias, maiores os índices de pessoas edentadas, associando o envelhecimento com a necessidade
do uso de próteses totais (Avarenga e Souza, 2006; Schoichet et al., 2010). Entretanto, esse procedimento pode comprometer a
capacidade de mastigação, incidir na perda de apetite, em dificuldades na fonação, o que leva, conseqüentemente, a alterações
emocionais e sociais (Seger, 2002; Torres, 2003).
Nesse contexto, entre as alterações emocionais percebe-se que os pacientes ao se verem no espelho edentados,
confrontam-se com esta parte do corpo, na boca, que lhes falta, a de um corpo fragmentado da infância (Inoue et al., 2006). Assim,
os sentimentos de despedaçamento de sua autoimagem, já inscrita em seu próprio corpo, podem provocar a emergência de
inúmeros sintomas que necessitam serem significados? Entre estes, tristeza, depressão, isolamento, baixa autoestima, que podem
levar ao adoecimento. Além disso, dificuldades importantes emergem em outros contextos, no social e afetivo, pacientes
acometidos por alterações faciais sofrem, freqüentemente, de privações em sua capacidade de expressão e, com isso, prejuízos no
sentimento de pertença ao grupo.
Se por um lado, a confrontação com a falta de uma parte do corpo, em pacientes edentados, coincide com a vivência de um
corpo fragmentado e frágil da infância, por outro lado, a presença de elementos estranhos na face/boca também pode suscitar
alterações na imagem corporal. Desse modo, a inclusão de pinos de titânio, de raízes artificiais implantadas na maxila e mandíbula,
por meio de uma pequena cirurgia, pode acarretar transtornos psicológicos. Em tais circunstâncias observa-se que a dificuldade em
elaborar o sofrimento acarretado pela perda de um dente natural pode ser um dos motivos subjacentes que impedem a satisfação
obtida com a recuperação funcional estética, mesmo que esta, atualmente, seja tão valorizada.
Observa-se que a preocupação com a aparência tornou-se um fator relevante nas relações humanas. Os padrões estéticos
associam beleza e sucesso por meio de rostos e corpos bem delineados, em perfeita harmonia, nos quais se destacam boca, lábios,
sorrisos amplos e dentes claros e alinhados (Faria, 2003). Assim, diversos estudos (Carvalho, 2001; Marchini et al., 2001;
Damasceno et al., 2002) salientaram que tratamentos ortocirúrgicos com a utilização de próteses totais, com boa adaptação e
conseqüente mudança na aparência, contribui para elevar a autoestima demonstrando que a estética no contexto psicossocial possui
relação direta com a autoimagem e a autoestima.
O estudo de Inoue et al. (2006) pode auxiliar a exemplificar as mudanças na autoestima relatadas pelos pacientes. As autoras
investigaram os resultados obtidos com o tratamento de três pacientes edentados, entre 47 e 80 anos de idade. Nas narrativas das
entrevistas, que focalizaram as histórias de vida e os sentimentos antes e depois da colocação das próteses totais, pode-se observar a
satisfação dos pacientes com o tratamento realizado. “Eu acreditei. Psicologicamente fez bem ao meu ego. Eu rejuvenesci e estou
vivendo. Antes estava adormecida. Agora eu me olho no espelho”(...) “Mudei a minha saúde, a minha digestão e o meu modo de ser
e de falar. Eu não tenho mais medo, vergonha de falar, de rir” (...) “Agora eu tenho satisfação de conversar com as pessoas, de fazer
amizade, de rir principalmente. Não sou mais inibido de rir e conversar.”
Embora pareça demasiado promissor alcançar esses resultados, pesquisas para estabelecer perguntas e avaliar a eûciência
protética nem sempre são válidas pela diûculdade em estabelecer parâmetros mensuráveis e reprodutíveis. Cirurgiões-dentistas e
pacientes podem discordar no que se constitui uma prótese de sucesso. Em muitos casos, não é a prótese que causa a insatisfação e
sim a perda dos dentes é que leva a problemas psicológicos e de personalidade e, quando não resolvidos, tendem a dificultar o
processo e o resultado da intervenção. Dessa forma, relatos de ansiedade, dor e desconforto podem estar associados a outros
problemas.
causa da ansiedade odontológica e responsável pela maior parte dos casos de pacientes que evitam o tratamento odontológico
(Peters, 1980). Para Aberastury (1972/1999), a ansiedade diante do odontólogo deriva de vários fatores relacionados com o
significado inconsciente que adquirem a boca e os dentes para o indivíduo e com a transferência ao cirurgião-dentista das
ansiedades correspondentes ao vínculo do bebê com seus pais e às vivências experienciadas no processo evolutivo.
Aproximadamente aos seis meses de idade, com a erupção dos dentes, ocorre uma importante alteração na relação mãe-
bebê, quando o bebê é levado a abandonar o vínculo oral com a mãe. A ruptura do vínculo bi-pessoal, por meio de desmame, mitiga
o vínculo mais íntimo perdido com o nascimento e impulsiona a busca de outra forma de união com a genitora. Esse período
mobiliza também ansiedades de separação vividas pelas mães dos bebês em dois momentos distintos: referentes às suas próprias
mães e as de seu filho.
Assim sendo, no primeiro período da vida as peças dentárias representam o vínculo com os pais, porém as ansiedades que
surgem na primeira dentição são mais toleráveis, pois essas peças serão substituídas, enquanto que no adolescente ou adulto
incrementam-se a angústia, pois os dentes permanentes representam uma perda definitiva. O aparecimento dos dentes permanentes
coincide com o período de latência, período preparatório da definição sexual que se dará na puberdade. Significativamente, os
terceiros molares, cujo aparecimento varia em cada indivíduo, determinam o período de maturação sexual e afetiva, que raramente
ocorre antes da puberdade (Aberstury, 1996).
Os dentes decíduos, que são substituídos, simbolizam o vínculo com os pais; por isso, perdê-los ou tratá-los reativa todas
as situações das quais os dentes são representantes simbólicos. Diferentemente, os dentes permanentes expõem a uma perda
definitiva, representando inconscientemente o que não se pode substituir e, portanto, simbolizam a evolução do indivíduo, seu ciclo
de vida, a latência que é seguida pela puberdade, adolescência, idade adulta até a morte. Assim, é mais fácil o manejo da ansiedade
do tratamento odontológico em crianças pequenas do que em adultos ou adolescentes (Aberastury, 1972/1999).
Sem condições de espaço e tempo para um aprofundamento, o que se procura esboçar é que o desenvolvimento humano é
permeado por vivências que podem resultar em inscrições traumáticas não unicamente em razão de seu valor absoluto, mas devido
ao impacto singular que confere a cada sujeito. Segundo, Jeammet, Reynaud e Consoli, (2000) se pode melhor conhecer as
interferências entre as características de personalidade, o sintoma ou a disfunção, obtendo respostas sobre: como o paciente reage
ao problema? Como ele se insere em sua história? Como ele o qualifica? Em que momento de vida está o paciente? Quais as suas
expectativas?
Mesmo que de maneira breve, não se pode deixar de demonstrar a importância desses aspectos que permeiam as relações
transferenciais e contratransferenciais no atendimento odontológico. Em relação ao paciente, torna-se crucial verificar que
aspectos mobilizam a transferência, se são os positivos ou os negativos. Na transferência positiva o paciente atribui ao dentista
sentimentos de confiança, idealização, até propriedades onipotentes. Na transferência negativa ocorre o transporte de sentimentos
de desconfiança, inveja, irritação, raiva. Para que se possa atingir sucesso, torna-se fundamental o estabelecimento da transferência
positiva já que a negativa promove a emergência de complicações inesperadas, inclusive o fracasso no tratamento.
Se por um lado as indagações sobre o paciente são importantes, não menos importantes são aquelas dirigidas ao
profissional. Por meio delas é possível esclarecer o que o paciente desperta no cirurgião-dentista, que sentimentos faz surgir na
relação profissional-paciente. Consequentemente, entender o tipo de vínculo estabelecido contribui para auxiliar
significativamente a compreensão do paciente e a relação profissional.
Considerações finais
Diante do exposto, percebe-se que é de fundamen-tal importância para o profissional compreender o paciente como um
todo, suas características, suas potencialidades e limitações, suas condições fisiológicas e psicológicas. A perda dos dentes é fator
desencadeante de sentimentos de desamparo e diminuição da autoestima. Sendo assim, preservar, manter e tratar os dentes não
apenas é importante para essa área em especifico, mas sobretudo para promover a integridade humana.
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