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INSTRUÇÕES PARA ELABORAÇÃO DE UM

PARECER JURÍDICO

ROGÉRIO ROBERTO GONÇALVES DE ABREU


JUIZ FEDERAL NA PARAÍBA. EX-PROMOTOR DE JUSTIÇA DO MINISTÉRIO PÚBLICO DA PARAÍBA.
PROFESSOR DO CENTRO UNIVERSITÁRIO DE JOÃO PESSOA (UNIPÊ/PB). MESTRE EM DIREITO
ECONÔMICO PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA (UFPB). ESPECIALISTA EM DIREITO FISCAL
E TRIBUTÁRIO PELA UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES (UCAM/RJ).
APRESENTAÇÃO

Elaborei o presente trabalho no ano de 2008 para um curso sobre a


elaboração de pareceres jurídicos em matéria de direito administrativo. Tratava-se,
na verdade, de um módulo em um curso preparatório para candidatos ao cargo de
promotor de justiça do Ministério Público da Paraíba, sob a responsabilidade da
Fundação Escola Superior do Ministério Público da Paraíba (FESMIP/PB).

Diante disso, um aviso a você, leitor: não espere encontrar nessas páginas
um verdadeiro manual da elaboração de pareceres jurídicos. Um manual de
verdade traria uma incursão bem maior na doutrina sobre o assunto, exemplos
aprofundados, proposições de questões, doutrina e jurisprudência importantes,
além de diversos exemplos a serem seguidos. Um manual seria um trabalho de
muito maior amplitude e profundidade que essa simples apostila.

Com esse aviso, registro que as considerações seguintes são apenas o


resultado de minhas experiências como promotor de justiça (MP/PB) e como
auxiliar de auditoria de contas públicas (TCE/PB), atividades em que atuava
elaborando pareceres jurídicos, trabalho que sempre me agradou muito. Não é
bastante, mas acredito que, com essas poucas linhas, possa colaborar de alguma
maneira para que outros venham a atingir o “Olimpo do concurseiro”: o sonhado
cargo público.

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INTRODUÇÃO

O parecer é uma peça técnica através da qual o parecerista se manifesta


sobre determinado assunto que se lhe submeta, apresentando uma conclusão.
Tem lugar nas mais diversas áreas do conhecimento, não se restringindo à área
jurídica. Promotores de justiça atuando como fiscais da lei têm no parecer jurídico
um frequente instrumento de trabalho. Daqui para frente, tratarei especificamente
da elaboração do parecer jurídico pelo promotor de justiça, deixando claro que,
formalmente, as recomendações abaixo servem à elaboração de qualquer parecer.

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1. PARTES INTEGRANTES DO PARECER

Em regra, os pareceres jurídicos seguem um mesmo formato de


apresentação. Suas partes fundamentais são a identificação, o relatório, a
fundamentação, a conclusão e a autenticação.

1.1 IDENTIFICAÇÃO

Nesse lugar, o promotor de justiça identifica as partes envolvidas, a


demanda proposta, o órgão perante o qual tramita o feito etc. Começa já no
cabeçalho (as duas primeiras linhas no exemplo abaixo), pois ali podemos ver que
o parecer foi emitido por um membro do Ministério Público do Estado da
Paraíba, precisamente em atuação na Primeira Promotoria de Fazenda Pública
da Capital. Em seguida, podemos identificar as partes (autor, réu, litisconsortes
etc.), qual a natureza do feito e o juízo a que foi distribuída a demanda.

Eis um exemplo:

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DA PARAÍBA


PRIMEIRA PROMOTORIA DE FAZENDA PÚBLICA DA CAPITAL

PROCESSO N. 1234/2008
NATUREZA: Ação de improbidade administrativa
JUÍZO: 1ª vara de Fazenda Pública da Capital
AUTOR: O Estado da Paraíba
RÉU: Sanseverino da Silva

PARECER

Notem que, antes mesmo de começá-lo, já sabemos quem é o autor do


parecer (o promotor de justiça da Primeira Promotoria de Fazenda Pública da
Capital do Estado da Paraíba), qual a demanda proposta (uma ação de
improbidade administrativa que tomou o número 1234/2008), o juízo perante o qual

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tramita o feito (a 1ª vara da Fazenda Pública da Capital) e, finalmente, as partes
que litigam (Estado da Paraíba vs. Sanseverino da Silva).

Por sua simplicidade, pode até não estar tão visível, mas nessa parte do
parecer está um dos pontos mais importantes da peça: a identificação da
competência.

Nos concursos, nem sempre a competência do juiz ou a atribuição do


Ministério Público é claramente apontada no enunciado. Normalmente, não é o
que ocorre, devendo o candidato vencer seu primeiro obstáculo realmente
importante desde o cabeçalho ou da identificação, individualizando e apontando
corretamente a competência.

Imaginem que se tratasse de um parecer em processo criminal. O


enunciado diz que houve um latrocínio em Recife/PE para a subtração de um
veículo utilizado no sequestro de uma adolescente em Campina Grande/PB, que
foi levada para o cativeiro em João Pessoa/PB, ocorrendo o pedido de resgate a
seus pais em Natal/RN. Diz ainda o enunciado que, antes de ser pago o resgate, a
vítima é estuprada e morta, sendo seu corpo levado para Santa Rita/PB e
enterrado em um terreno baldio. O enunciado se encerra dizendo que, iniciada a
ação penal, a defesa dos acusados faz uma série de requerimentos e alegações,
vindo o juiz a remeter o processo, em seguida, ao MP para oferecer seu parecer
(esse caso prático é baseado na prova prática do concurso do MP/PB/1998).

Seu primeiro grande desafio, portanto, será identificar adequadamente a


competência para que seu cabeçalho possa ser corretamente formulado.
Interessa, pois, identificar desde cedo que a resolução da questão sobre
competência jurisdicional é um dos pontos que o examinador preparou com todo
cuidado para testar seu conhecimento jurídico. Ele, o examinador, vai
imediatamente buscar no cabeçalho de sua peça a resposta a essa primeira mini-
questão.

1.2 RELATÓRIO

O relatório é a parte em que o promotor de justiça conta a história do


processo. Serve para que ele demonstre ter total conhecimento do assunto sobre
que estará se manifestando, permitindo às partes questionar se o promotor

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realmente analisou todas as questões importantes. Normalmente, o relatório do
promotor é conciso, deixando para concentrar suas forças na fundamentação.

Um relatório realmente completo tem que fazer constar os pedidos


deduzidos pela parte autora e seus principais fundamentos, as questões
preliminares e prejudiciais alegadas pela defesa e sua conclusão quanto ao mérito
(improcedência, procedência parcial etc.), os incidentes processuais, os atos e
decisões judiciais mais importantes praticados ao longo do feito, referências à
produção de provas e, por fim, os argumentos trazidos pelas partes em suas
alegações finais.

Eis um exemplo:

1. RELATÓRIO
Tratam os presentes autos de AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
promovida pelo ESTADO DA PARAÍBA em face de SANSEVERINO DA SILVA, já
devidamente qualificado, imputando-lhe a peça inicial a prática de condutas supostamente
descritas nos arts. 9º a 11 da Lei n. 8.429/92, motivo pelo qual requer a aplicação das
sanções previstas no art. 12 da mesma lei.
Consta da inicial (f.) o seguinte: o réu, servidor público federal dos quadros da
Secretaria da Receita Federal, exerceu a função de Diretor-Superintendente da autarquia
estadual paraibana ENCOVA [nome fictício], cargo de livre nomeação e exoneração do
Governador do Estado, exercendo a referida função de janeiro de 2000 a dezembro de
2004.
Nos meses de março a agosto do ano de 2001, o réu teria autorizado a realização
da construção de uma nova sede em dez etapas, contratando com dez empresas distintas
sua realização, todas com dispensa de licitação motivada pelo reduzido valor (art. 24, I, da
Lei n. 8.666/93). Cada contrato teria sido celebrado por valor inferior ao teto dispensável.
No momento da liberação dos valores contratados, o réu ainda teria cobrado dos
empresários uma comissão de 5% (cinco por cento), a ser depositada em sua conta
pessoal.
Com esses fundamentos, requereu o autor a condenação do réu pela prática de
improbidade administrativa fundada nos artigos 9º, 10 e 11 da Lei n. 8.429/92, pedindo a
aplicação de todas as sanções previstas no art. 12.
Intimado, o réu não apresentou defesa preliminar.
O juiz decidiu receber a demanda (f.), determinado a citação do réu para contestar.
O réu contestou o pedido (f.), alegando:
a) Preliminar de incompetência da justiça estadual para julgá-lo por improbidade
administrativa, considerando sua situação de servidor público federal, requerendo a
declinação da competência para a justiça federal;
b) Preliminar de ilegitimidade ativa do Estado da Paraíba, alegando que a
autarquia ENCOVA é dotada de personalidade própria, de modo que caberia a ela propor
a ação, inclusive por conta de seus virtuais reflexos patrimoniais;

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c) Prejudicial de prescrição, uma vez que os fatos ocorreram entre março e agosto
de 2001 e, como a ação fora ajuizada precisamente em setembro de 2007, já teriam
decorrido os cinco anos previstos em lei para o prazo de prescrição;
d) No mérito, alegou que não houve qualquer lesão ao erário, tendo os preços
contratados atendido rigorosamente os valores de mercado, estando até mesmo abaixo
em alguns casos. Por outro lado, a obra teria sido totalmente concluída e entregue. Por
esses motivos, suas contas teriam sido inteiramente aprovadas pelo Tribunal de Contas da
Paraíba. Quanto à alegação da cobrança de comissão, negou peremptoriamente que tal
tenha ocorrido. Pediu, assim, a improcedência do pedido.
Com sua defesa, o réu apresentou cópia do processo de exame de sua prestação
de contas ao TCE/PB, inclusive relatórios de auditoria, confirmando a alegação de
aprovação de contas, plena execução e entrega da obra, bem como total compatibilidade
dos preços contratados com os preços de mercado.
Intimado para impugnar a contestação, o autor apresentou sua peça de forma
intempestiva, conforme certidão de f., tendo o MM Juiz do feito determinado seu
desentranhamento (f.).
Determinada a realização de perícia em engenharia, apresentou-se o laudo de
exame pericial (f.), confirmando as conclusões da auditoria do TCE sobre a realização da
obra e a compatibilidade dos preços contratados com o mercado.
Em audiência de instrução e julgamento (f.), foram ouvidos os empreiteiros
contratados, os quais negaram o fato de que se lhes teria sido exigida a comissão de 5%
(cinco por cento) sobre os pagamentos.
Em razões finais, as partes reiteraram suas alegações iniciais. O autor pediu a
condenação do réu como incurso nos arts. 9º, 10 e 11 da Lei n. 8.429/92, com a aplicação
de todas as sanções constantes do art. 12. A defesa reiterou suas questões preliminares e
pediu, quanto ao mérito, a improcedência do pedido.
Remetidos os autos ao MP.
PASSA A OPINAR.

Aos candidatos, uma mensagem: não se assustem com um relatório


grande. Na verdade, a maioria dos concursos em que se deva elaborar um
parecer ou uma sentença – por falta de tempo (de prova) ou de espaço (na folha
de resposta) – dispensa a elaboração do relatório. Assim, o candidato tem mais
tempo para desenvolver sua fundamentação, oportunidade em que demonstrará
todo seu conhecimento jurídico.

O relatório acima apresentado é um exemplo do que se pode encontrar na


prova, não para que o candidato o redija, mas para que, partindo dele (que já se
considera o relatório do parecer), construa a fundamentação e a conclusão.

Em outras palavras, caro leitor, sua redação na prova começa


imediatamente após o “PASSA A OPINAR”.

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1.3 FUNDAMENTAÇÃO

No espaço reservado à fundamentação, o promotor de justiça deve discutir


todas as questões jurídicas relevantes para o deslinde da causa, sejam
processuais, sejam de puro mérito, suscitadas ou não pelas partes (essas últimas,
normalmente, de ordem pública).

Assim, se preliminares e prejudiciais são suscitadas, deve o promotor de


justiça resolvê-las antes de entrar na discussão do objeto da lide. Penso que seja
interessante examiná-las segundo uma ordem lógica de prioridade e, quando
possível (respeitando essa ordem lógica), na mesma sequência apresentada na
defesa. Esse pequeno detalhe tem a virtude de permitir uma rápida e segura
conferência do que se examina no parecer com o que se apresentou na
contestação (conforme o relatório).

Ao examinar o mérito, o promotor de justiça deve analisar todas as


questões de fato e de direito apresentadas pelas partes, confrontando a prova
produzida e resolvendo cada um dos pontos controvertidos da lide.

É preciso atentar para o fato de que a fundamentação deverá embasar


completamente a conclusão a ser apresentada na parte seguinte do parecer. É
óbvio que, em determinados casos, certas questões ficam prejudicadas, não
devendo ser aprofundadas. Ainda assim, é interessante deixar clara e
expressamente registrado no parecer que tais questões ficaram prejudicadas e
que, em razão disso, o parecerista sobre elas não se manifestará.

O candidato ao cargo de promotor de justiça (e de todas as carreiras para


as quais deva compor um parecer no respectivo concurso) deve “enxergar” essa
prova prática de uma forma bem peculiar: como uma sucessão de mini-questões
colocadas pelo examinador.

DICA IMPORTANTE: Ao fazer a leitura da prova, é importante identificar


cada uma das mini-questões a resolver, anotando-as em seguida numa das folhas
de rascunho. Após uma segunda (ou terceira) leitura do relatório (ou seja, da
questão proposta pela prova), garantindo-se de que todas as mini-questões foram
identificadas, deve-se passar a resolvê-las nessa mesma folha, indicando os
fundamentos de fato e de direito, inclusive apontando o dispositivo legal cabível,
tudo de forma clara, objetiva e resumida. Ao terminar esse trabalho preparatório, o

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candidato/parecerista terá em mãos todos os itens do que será dentro em pouco a
fundamentação de seu parecer.

Em provas práticas mais complexas, é normal que a petição inicial traga


pedidos procedentes e improcedentes, embasados em mais de uma causa de
pedir. Da mesma forma, a defesa frequentemente traz questões preliminares e
prejudiciais, bem como defesas substanciais diretas e indiretas contra o mérito. Se
for possível, os examinadores ainda farão inserir um ou mais incidentes (uma ação
cautelar, um pedido de intervenção de terceiros ou mesmo uma reconvenção).

O primeiro contato com o enunciado da prova é normalmente um misto de


choque, medo e frustração. Isso acontece porque tendemos a ver apenas o todo.
Para facilitar nossa vida, devemos converter o monstrengo em pequenos
monstrinhos. Em outras palavras, o grande problema (o parecer em si) deverá ser
mentalmente convertido pelo candidato em mini-questões, as quais serão todas
respondidas individualmente antes mesmo de começar a rabiscar o parecer.

Quando começar a elaborar a peça processual, o futuro promotor de justiça


já terá em suas mãos tudo mastigado e respondido, seja sobre o processo, seja
sobre o mérito da causa. Nada deverá ficar para ser resolvido no meio do caminho,
ou seja, no curso da redação de seu parecer, digamos, “oficial” (aquele que será
corrigido por seu examinador).

No caso do exemplo que estamos desenvolvendo, eis uma proposta de


fundamentação para o parecer:

2. FUNDAMENTAÇÃO
2.1 Preliminar de incompetência da justiça estadual
Alegou a defesa que o réu, embora tenha exercido a função de Diretor-
Superintendente de uma autarquia estadual, seria realmente um servidor público federal
efetivo. Como uma das reprimendas contidas na Lei n. 8.429/92 é a perda do cargo,
apenas um juiz federal poderia determiná-la em relação a um servidor federal. Em razão
disso, alegou que a justiça estadual não seria competente para julgar o feito.
Não concordo com a preliminar.
O ato de improbidade imputado na inicial foi praticado pelo réu na condição de
Diretor-Superintendente de uma autarquia estadual e, portanto, como autoridade estadual.
O eventual dano causado pela conduta teria sido suportado pela administração indireta
estadual e os princípios eventualmente desrespeitados assim o teriam sido em relação à
administração estadual.

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Da mesma forma, o argumento de que a perda do cargo teria que ser determinada
por autoridade federal não procede, pois a União não é parte na demanda. A perda do
cargo, se determinada, seria mera conseqüência da prática de atos de improbidade como
tal reconhecidos pela justiça estadual, exatamente como ocorreria em caso de
condenação criminal por crime que não seja da competência da justiça federal: teríamos a
determinação de perda de cargo na administração pública federal emanada de juiz
estadual com competência criminal.
Deve ser, portanto, rejeitada a preliminar.
2.2 Preliminar de ilegitimidade ativa do Estado da Paraíba
Argumentou a defesa que o Estado da Paraíba não teria legitimidade ativa para
promover ação de improbidade administrativa contra o demandado, pois tal legitimação
caberia à própria autarquia, entidade dotada de personalidade jurídica e patrimônio
próprios.
Ocorre que a Lei n. 8.429/92, ao tratar da legitimação ativa, estabelece que
compete a propositura da ação ao “Ministério Público ou à pessoa jurídica interessada”
(art. 17, caput). Não se pode negar que a pessoa jurídica estatal que compõe a
administração direta tenha interesse na causa, pois os alegados atos de improbidade
teriam sido praticados contra entidade de sua administração indireta.
O interesse, portanto, é indiscutível, motivo pelo qual deve ser rejeitada a
preliminar.
2.3 Prejudicial de prescrição
Alegou a defesa que a pretensão estaria prescrita, uma vez que entre a data dos
fatos imputados e a propositura da demanda já teriam decorrido 5 (cinco) anos,
consumindo-se completamente o prazo prescricional.
O art. 23, inciso I, da Lei n. 8.429/92, contudo, estabelece que o curso do prazo
prescricional de 5 (cinco) anos só começa a correr a partir do momento em que o agente
se desvincular do cargo em comissão ou da função de confiança ocupada. Esse seria,
portanto, o “termo a quo” do curso do prazo prescricional.
No caso dos autos, o réu esteve na função de Diretor-Superintendente da
ENCOVA até dezembro de 2004. Tendo sido a demanda proposta em setembro de 2007,
conclui-se que ainda não havia decorrido o prazo prescricional.
Deve, igualmente, ser rejeitada a prejudicial de prescrição.
2.4 Mérito
A parte autora imputa ao réu, na condição de Diretor-Superintendente da autarquia
estadual ENCOVA, a conduta de haver dividido a construção de uma nova sede em dez
partes, contratando cada uma delas com dispensa de licitação, incidindo no que a doutrina
chama de “fracionamento de despesa”. Acrescenta que o valor global da obra tornaria
indispensável a realização do processo licitatório que, assim, teria sido fraudulentamente
dispensado pelo demandado. Além disso, no momento da liberação dos pagamentos, o
réu ainda teria exigido dos empresários o pagamento de uma “comissão” em dinheiro.
Por tudo isso, diz a autora que o réu teria praticado atos de improbidade
administrativa previstos nos arts. 9º, 10 e 11 da Lei n. 8.429/92, devendo-se aplicar-lhe
todas as sanções previstas no art. 12 da mesma lei.
A defesa sustenta, basicamente, os seguintes pontos principais: a) ausência de
dano ao erário, uma vez que a obra fora totalmente concluída e os preços praticados
foram comprovados como compatíveis com os valores de mercado; b) aprovação de suas
contas pelo Tribunal de Contas do Estado; c) a inexistência do fato de haver solicitado ou
exigido qualquer comissão para a liberação dos pagamentos.
Observa-se dos autos ter ficado devidamente comprovado (não tendo sido sequer
contestado pela defesa) que o réu, Diretor-Superintendente da ENCOVA, em 2001,

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realizou dez contratos com empreiteiras diferentes para “etapas” da construção de uma
nova sede da autarquia. Todos os contratos foram celebrados com dispensa de licitação,
todos com valores sutilmente inferiores ao teto dispensável, conforme art. 23, I, c/c 24, I,
ambos da Lei n. 8.666/93. Tudo isso está documentalmente provado nos autos (f.).
No que concerne à alegação de que o réu teria exigido uma comissão dos
empreiteiros para a liberação dos valores a eles devidos, entendo que nada disso ficou
provado. As testemunhas, supostas vítimas do fato, negaram totalmente a ocorrência do
evento e nenhum único documento foi apresentado pela autora que comprovasse sua
alegação. Assiste razão à defesa nesse ponto.
Melhor sorte, contudo, não tem no que diz respeito ao fracionamento da despesa.
Os contratos foram realizados com dispensa de licitação em razão de o valor ser
discretamente inferior ao limite do art. 24, I, da Lei de Licitações e Contratos
Administrativos. Esse mesmo dispositivo, contudo, veda o “fracionamento de despesas” ao
proibir a dispensa nos casos em que a despesa se refira a partes de uma mesma obra ou
serviço, ou mesmo obras e serviços da mesma natureza que possam ser realizados
conjunta e concomitantemente. Nesse caso, é preciso apurar-se o valor total, utilizando-se
a modalidade licitatória correspondente nos termos do art. 23.
Sendo assim, ao dividir a obra total (e seu valor) em dez partes, o réu fracionou
indevidamente a despesa e dispensou fraudulentamente a licitação. Assim, violou os
princípios constitucionais gerais da impessoalidade e finalidade, da legalidade, da
moralidade e da isonomia, bem como o princípio administrativo específico da exigência do
processo licitatório. Tal conduta se enquadra com perfeição no “caput” do art. 11 da Lei n.
8.429/92, constituindo ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da
Administração Pública.
De acordo com os elementos de prova sobre os preços contratados, comprovou-se
que os primeiros estavam compatíveis com os valores de mercado e, em alguns casos, até
mesmo inferiores. Já quanto à efetiva realização e entrega da obra, comprovou-se
igualmente que a empreitada foi levada a termo, devidamente entregue e recebida. Em
razão disso, conclui-se que nem houve lesão ao erário, nem enriquecimento ilícito de
qualquer dos intervenientes. Tanto assim que a prestação de contas foi devidamente
aprovada pelo TCE/PB.
Ocorre que esses fatos não descaracterizam a prática de ato administrativo. De
acordo com o art. 21, incisos I e II, da Lei n. 8.429/92, a aplicação das sanções previstas
na lei independe da “efetiva ocorrência de lesão ao erário” ou da “aprovação ou rejeição
das contas” pelo órgão de controle interno ou externo competente. Além do mais, o ato de
improbidade acima reconhecido atenta contra os princípios, não necessariamente
causando lesão ao erário ou gerando enriquecimento ilícito. A ausência da lesão ou do
enriquecimento, contudo, afasta completamente o pretendido enquadramento do fato nos
arts. 9º e 10 da Lei n. 8.429/92.
Pode-se concluir, dessa forma, que a conduta praticada pelo réu de provada nos
autos constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra princípios da
Administração Pública, enquadrando-se no art. 11, “caput”, da Lei n. 8.429/92, devendo
ser julgado procedente o pedido contido na inicial.
Quanto às sanções a serem aplicadas, é de se observar que não cabe condenação
em indenização, pois não houve prova de dano ao erário. Quanto às demais reprimendas
do art. 12, todas devem ser aplicadas: perda da função pública federal, suspensão dos
direitos políticos, multa civil e proibição de contratar com os poderes públicos e de receber
benefícios e incentivos fiscais, uma vez que plenamente compatíveis com o fato em si e
com as finalidades da própria lei.

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A fundamentação ficou grande demais? Não para um parecer normal. Eu
diria até que ficou bem concisa, pois não há registro de doutrina ou jurisprudência,
o que normalmente é encontrado em pareceres mais bem elaborados. Contudo,
concordo que esteja mais extenso do que permitem alguns concursos,
considerando a limitação de páginas ou linhas e a necessidade de responder a
alguns quesitos.

Por esse motivo, eis uma dica: seja conciso e objetivo. Ser conciso e
objetivo não tem nada a ver com ser lacônico. É possível dizer tudo que foi dito ali
em no máximo quarenta e cinco linhas.

Vamos ver?

PASSA A OPINAR.
Em primeiro lugar, devem ser rejeitadas as duas preliminares. Embora servidor
público federal, o réu agiu na condição de agente público estadual, exercendo poderes
conferidos pelo Estado. Confirmada a veracidade dos fatos alegados, o erário lesado e os
princípios administrativos afetados tocariam a administração estadual. O argumento do réu
de que somente poderia perder o cargo por decisão de juiz federal não convence. Se
assim fosse, decisão de juiz estadual criminal não produziria o efeito da perda do cargo
nos casos previstos no CP. Quanto à legitimidade ativa do Estado da Paraíba, não há
qualquer dúvida: trata-se do ente criador da autarquia, recebendo diretamente da Lei n.
8.429/92, como “pessoa jurídica interessada”, a legitimação para agir.
Da mesma forma, deve ser rejeitada a prejudicial de prescrição. Nos termos do art.
23, I, da Lei n. 8.429/92, o prazo prescricional começa a correr da data do desligamento do
cargo comissionado ou da função de confiança que, no caso dos autos, ocorreu apenas
em dezembro de 2004. Entre esta data e a propositura da ação não decorreram cinco
anos, motivo pelo qual não ocorreu a prescrição.
Quanto ao mérito, revela-se parcialmente procedente o pedido.
Comprovou-se nos autos que o réu, diretor-superintendente da autarquia estadual
ALCOVA, dividiu a realização das obras para construção de um edifício-sede em dez
partes, contratando com dez empresas diversas, dispensando as respectivas licitações
com base no baixo valor do contrato (art. 24, I, Lei n. 8.666/93). O próprio réu não
contestou esse fato.
Ocorre que o citado dispositivo proíbe a dispensa com esse fundamento nos casos
em que a despesa se refira a obra ou serviço único, ou a obras e serviços que possam ser
executados no mesmo lugar de forma conjunta e concomitante. Impede, assim, o
“fracionamento de despesa” quando o valor global exigir a realização da licitação nos
termos do art. 23 da Lei n. 8.666/93.
Ao fracionar a obra, contratando as partes com dispensa de licitação, o réu
dispensou indevidamente o processo de licitação e violou, a um só tempo, os princípios
constitucionais da legalidade, impessoalidade, finalidade, moralidade e isonomia, bem
como o princípio específico da licitação pública, tolhendo de outros empresários a chance
de competir pelo contrato.

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A acusação de que o réu teria exigido uma comissão dos empresários para a
liberação dos pagamentos não foi comprovada. As testemunhas, supostas vítimas da
“extorsão”, negaram o fato e não há no processo qualquer elemento de prova nesse
sentido.
Comprovou-se que os preços contratados eram compatíveis com os de mercado e
que a obra foi concluída e entregue. Isso afasta o enquadramento do fato como
improbidade administrativa que causa dano ao erário e enriquecimento ilícito (arts. 9º e 10
da Lei n. 8.429/92). Tendo sido pago o preço justo e recebida a obra, realmente não houve
lesão ao erário nem enriquecimento ilícito, motivo pelo qual o TCE/PB, de fato, aprovou a
prestação de contas do réu.
Contudo, a condenação por improbidade não depende da lesão ao erário nem da
reprovação das contas pelo TCE, como diz o art. 21, I e II, da Lei n. 8.429/92. Note-se que
o ato de improbidade realmente comprovado atentava contra princípios aplicáveis à
administração pública, o que independe de lesão ao erário.
Pelo exposto, praticou o réu atos de improbidade que atentam contra princípios da
administração pública, incidindo no art. 11 da Lei n. 8.429/92. Quanto às sanções, não
houve dano ao erário, não cabendo condenação em indenização. Aplicam-se, contudo,
todas as demais: suspensão dos direitos políticos, perda do cargo, multa civil e suspensão
de contratar com a Administração ou dela receber benefícios.

Você viu, caro leitor, como é possível? É claro que o primeiro formato ficou
bem mais completo, com texto mais detalhado e redação um tanto mais elegante.
Contudo, no concurso, a concisão e a objetividade são as melhores armas do
candidato para enfrentar a falta de tempo (de prova) e de espaço (da folha de
resposta).

O importante, na fundamentação do parecer, é não deixar sem exame e


resposta cada uma das mini-questões que a prova trouxer. Esse é o momento de
demonstrar ao examinador que você sabe combinar conhecimento jurídico,
redação técnica e gerenciamento de espaço e tempo.

Vamos agora examinar a conclusão do parecer.

1.4 CONCLUSÃO

A conclusão do parecer jurídico é a parte em que o promotor de justiça traz


o resultado de seu exame sobre o processo em forma de resposta aos problemas
propostos, apresentando também sua opinião (e, em certos casos, alguns
requerimentos) para a futura decisão da autoridade julgadora (o juiz, no caso dos
processos judiciais).

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É muito comum que o promotor de justiça, após uma breve introdução,
OPINE pela medida, conclusão, providência, decisão etc. que entenda correta de
acordo com o ordenamento jurídico. Nesse momento, todas as conclusões parciais
apresentadas na fundamentação deverão ser retomadas em forma de comando no
desfecho do parecer.

Um aspecto relevante da conclusão é o seguinte: não se deve voltar à


fundamentação, nem tampouco discutir e embasar novas conclusões nesse
momento. Tudo que precisa ser discutido para ser resolvido deve ser debatido no
capítulo da FUNDAMENTAÇÃO. Por isso mesmo, é possível afirmar que
enquanto o texto da fundamentação é argumentativo, o texto da conclusão é
notadamente descritivo/imperativo (descreve como deverá, sob o ponto de
vista do representante do MP, decidir o juiz).

Vamos ao exemplo:

3. CONCLUSÃO
Diante do exposto, OPINA O MP pela procedência parcial do pedido para
condenar-se o réu pela prática de atos de improbidade administrativa que atentam contra
princípios da administração, estando incurso no art. 11 da Lei n. 8.429/92. OPINA ainda
pela aplicação ao réu das penas de suspensão dos direitos políticos pelo prazo de 5
(cinco) anos, perda do cargo público federal, multa civil no valor de 100 (cem) vezes sua
remuneração como diretor-superintendente da ALCOVA e, finalmente, suspensão do
acesso a contratos com o poder público e recebimento de benefícios fiscais ou creditícios
pelo prazo de 3 (três) anos.
É o parecer.

Se a opção do candidato foi fazer o texto integralmente em terceira pessoa


do singular (sujeito impessoal), poderá escrever “OPINA O MINISTÉRIO
PÚBLICO”, apresentando em seguida suas conclusões tal como no exemplo
acima. Preferindo redigir em primeira pessoa, poderá utilizar um simples “OPINO”.

O encerramento dessa parte é tradicionalmente feito com a expressão “É o


parecer”. Alguns promotores escrevem “É o parecer, salvo melhor juízo” ou “É o
parecer, s.m.j”, que significa a mesma coisa. Penso que essa forma seja mais
adequada a pareceres administrativos feitos para exame de autoridade superior,
quando a decisão em sentido contrário não decorra da independência que tenha
um em relação ao outro (como juízes e promotores), mas da ascendência

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hierárquica de quem decide em relação a quem elaborou o parecer. Sendo assim,
elaborando um parecer como promotor de justiça, recomendo utilizar o simples e
objetivo “É o parecer”.

1.5 AUTENTICAÇÃO

A autenticação do parecer se limita à identificação do dia e lugar em que foi


elaborado ou apresentado, bem como de seu autor que, no caso, terá sido um
promotor de justiça.

Embora o conselho seja bem conhecido por quem leva concurso a sério,
não é demais lembrar que a identificação do candidato na prova é PROIBIDA.
Portanto, submetendo-se a um concurso para promotor de justiça, escreva apenas
“Promotor(a) de Justiça” (sem as aspas, claro).

Quanto à data, escolha sempre o dia de realização da prova, a menos que


o enunciado disponha de forma diferente. Nesse caso, deve o candidato registrar
exatamente o dia do exame, sob pena de nulidade de sua prova (pois a comissão
poderá enxergar uma forma de identificação do candidato caso a escolha recaia
em uma determinada data).

Quanto ao lugar que se indica antes da data, ATENÇÃO. Assim como o


cabeçalho, ele também é utilizado pela comissão do concurso para examinar a
resolução que deu o candidato à questão da competência territorial. Portanto,
máxima atenção nesse momento.

Vamos ao exemplo:

João Pessoa, xx de yyyy de 2008.


Promotor(a) de Justiça

As duas linhas acima confirmam a competência territorial como sendo a


comarca de João Pessoa, dizem que o parecer foi elaborado por um promotor (ou

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promotora) de justiça, tendo sido realizado (ou apresentado) no dia xx do mês yyyy
do ano de 2008.

Nada de firulas. Como já disse, sejam objetivos, concisos e muito claros.

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2. REDAÇÃO E ESTILO

O parecer jurídico é uma peça técnica. Não é lugar para exercícios de


retórica, capacidade de argumentação, dotes literários etc. Quanto mais escrever,
maiores chances terá de errar. Uma peça técnica exige uma redação igualmente
técnica, ou seja, neutra, objetiva, concisa, precisa e absolutamente correta.

A primeira decisão que o candidato deverá tomar quanto à redação de seu


parecer é sobre a pessoa verbal que vai utilizar. No exemplo trazido no item 1
acima, o parecer foi elaborado em terceira pessoa do singular, impessoalizando a
figura do promotor de justiça e dando ao trabalho uma conotação de posição
institucional. Não é errado, contudo, escrever em primeira pessoa. As sentenças
judiciais são tradicionalmente escritas em primeira pessoa do singular, e não há
motivo (além do argumento de que quem fala é o órgão do Ministério Público, não
o promotor) para ver-se diferença.

Contudo, tratando-se de peça técnica, estou de acordo com a ideia de que


a utilização da terceira pessoa do singular (impessoal) confere ao trabalho um ar
de isenção, de impessoalidade e desvinculação em relação ao profissional que o
elaborou e, principalmente, a conotação de que sua autoridade decorre
exclusivamente dos argumentos ali apresentados, não dos atributos de seu
elaborador.

Em minha opinião, as duas formas são corretas e a opção por uma ou outra
será uma questão de estilo e habilidade do parecerista, pois há pessoas que
sentem dificuldade em escrever um texto argumentativo mais extenso
completamente em terceira pessoa.

Quanto aos atributos da redação em si, podemos apontar os seguintes:

a) A redação deve ser neutra, sem afetação. O uso de advérbios e


adjetivos deve ser feito com extremo cuidado, evitando demonstração de
parcialidade. Dizer que a postulação é “veementemente improcedente” pode ser
substituído por “improcedente”. O “competentíssimo causídico da parte ré” pode
ser substituído pelo “advogado da ré”. Com isso, ganhamos espaço, tempo e
deixamos de ganhar a antipatia do leitor com frases e expressões que mais
parecem bajulação que argumentação.

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b) A redação deve ser concisa. Concisão é a qualidade do texto que diz
tudo em poucas palavras, sem prejuízo da eficácia na transmissão do
pensamento. É preciso evitar repetições inúteis, inversões frasais, construções
caóticas que apenas tumultuam a transmissão das ideias e dificultam a
compreensão do texto.

c) A redação deve ser objetiva e precisa. Precisão e objetividade podem


ser resumidas de uma forma muito simples: a escrita deve ser escrava da ideia.
Não se deve dizer nem uma palavra a mais do que o suficiente para que o
pensamento seja adequadamente transmitido ao destinatário.

d) A redação deve ser absolutamente correta. O candidato a um cargo


de promotor de justiça deve estar obcecado pela escrita correta. É preciso evitar a
qualquer custo os erros de gramática. Por que isso? Porque o examinador, mesmo
que não tenha uma redação primorosa e extensos conhecimentos em língua
portuguesa, não encontrará um erro desses em uma prova e o deixará impune.
Muito ao contrário, valiosos décimos ganhos com, por exemplo, a correta
resolução da mini-questão sobre a competência poderão ser perdidos por causa
de uma única palavra escrita incorretamente.

Já não é tão fácil falar em “estilo” quando lidamos com peças técnicas. Não
estou dizendo que não exista, mas apenas que se trata de algo impossível de
ensinar. Estilo é algo que se desenvolve numa componente que envolve tanto
atributos inerentes ao autor quanto a influências que, voluntária ou
involuntariamente, se permite absorver.

O que entendo pertinente sobre o assunto se resume a um conselho: se já


possui um estilo de escrita, não permita que ele atrapalhe sua prova. Gosta de
escrever de maneira rebuscada, clássica, cheia de inversões, tudo para
demonstrar pleno conhecimento do uso da língua? Coloque tudo isso de lado.
Lembre-se de que o objetivo é transmitir, da forma mais exata, direta e ágil
possível, sua mensagem aos examinadores. Quanto mais simples, melhor.

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3. ESTRATÉGIA E ORGANIZAÇÃO

O parecer jurídico em um concurso público para promotor de justiça deve


ser pensado como uma jornada com início, meio e fim. Tal qual faria numa prova
de redação, o candidato deve idealizar seu parecer com introdução,
desenvolvimento e conclusão, de modo que jamais precise voltar a assuntos já
tratados anteriormente. Isso se consegue com estratégia e organização.

Uma estratégia que considero bastante útil na elaboração de um parecer


jurídico consiste em, desde a primeira leitura da questão (situação-problema),
identificar cada um dos pontos controvertidos com números ou letras, bem como
os meios de prova indicados na própria questão para sua resolução, assinalando o
fundamento de fato e de direito que a resolve.

Se a petição inicial diz que o réu realizou dispensas indevidas de licitação,


superfaturou os valores contratados e ainda exigiu propina para a liberação dos
pagamentos, temos três fatos que podemos assinalar respectivamente com os
números 1, 2, e 3 no próprio texto da prova. Na sequência, vemos que a exordial
acompanha cópias dos processos de dispensa irregular, cópias dos contratos e
relatos dos pedidos de propina. São três meios de prova que, dizendo respeito
aos fatos acima apontados, tomarão, respectivamente, os mesmos números que
os fatos a eles pertinentes. Posteriormente, lendo a contestação, indicaremos com
os mesmos números a resposta a cada uma das imputações e os respectivos
meios de prova indicados pela defesa em contra-argumentação. Por fim,
indicaremos ainda com os mesmos números os meios de prova produzidos na
instrução processual e os argumentos das alegações finais.

Depois desse trabalho, as partes devidamente assinaladas no texto com um


número ao lado referir-se-ão a uma questão controvertida, juntando imputação,
resposta e meios de prova. Ao elaborar o parecer, podemos separar cada uma
dessas questões, falando do que disse o autor e o réu, do que foi provado para, ao
fim, darmos a devida solução jurídica com base nos fatos e no direito aplicável.

Com essa “estratégia”, em alguns casos (dependendo da atenção, da


observação e, principalmente, do treinamento), será possível obter a resolução das
mini-questões da prova e definir a estrutura integral do parecer já na primeira
leitura da situação-problema.

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Identificados os pontos, devemos organizar as partes do parecer de modo a
resolver as questões preliminares e prejudiciais em primeiro lugar para, só depois,
examinar as questões de mérito, uma a uma. Sendo várias as questões de mérito
a resolver (nossas mini-questões), é interessante dividir a fundamentação por
itens, resolvendo completamente as questões uma de cada vez. No fim de cada
item devemos apresentar uma “conclusão parcial” ou “mini-conclusão”, dizendo
expressamente se acolhe, não acolhe, defere, indefere etc.

Na última parte do parecer, ou seja, na conclusão final, retomaremos as


“conclusões parciais” ou “mini-conclusões” em itens que definirão exatamente a
que conclusão oficial consolidada chegou o parecerista, sem voltar a debater seus
fundamentos.

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NOTAS FINAIS

“Se conselho fosse bom, ninguém dava.” Na minha opinião, poucas frases
são tão idiotas quanto essa. Ainda há quem se disponha a aconselhar sem
pretender retirar do ouvinte seu senso crítico e sua capacidade de selecionar
aquilo que lhe seja útil e produtivo. Se assim deve ser, aqui vai um último conselho
ao leitor que teve a paciência de chegar até aqui: a experiência é um constante
aperfeiçoar de práticas e procedimentos, e todo conhecimento é gerado para se
desatualizar.

Por tudo isso, tenham sempre em mente que todo o escrito nas páginas
acima são experiências que, em determinado momento e para determinadas
pessoas, deram certo, foram eficazes, cumpriram seu papel. Isso não significa que
a fórmula faça milagres para todo mundo. Sendo assim, jamais abram mão de
aperfeiçoar as práticas descritas, estudando, pesquisando, sendo curiosos e
alimentando a saudável obsessão pelo aprendizado e pelo conhecimento.

O “Olimpo do concurseiro”, seu sonhado cargo público, o espera.

Boa sorte.

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