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Segundo as crônicas portuguesas de Fernão Lopes, Zurara, Rui de Pina ou Garcia de Resende, também
nas cortes de D. João I, D. Afonso V e D.João II, se faziam encenações espetaculares. Rui de Pina
refere-se, por exemplo, a um "momo", em que Dom João II participou pessoalmente, fazendo o papel de
"Cavaleiro do Cisne", num cenário de ondas agitadas (formadas com panos), numa frota de naus que
causou espanto entrando sala adentro acompanhado do som de trombetas, atabaques, artilharia e
música executada por menestréis, além de uma tripulação atarefada de atores vestidos de forma
espetacular.
Contudo, pouco resta dos textos dramáticos pré-vicentinos. Além das éclogas dialogadas de Bernardim
Ribeiro, Cristóvão Falcão e Sá de Miranda, André Dias publicou em 1435 um "Pranto de Santa Maria"
considerado um esboço razoável de um drama litúrgico.
No Cancioneiro Geral de Garcia de Resende existem alguns textos também significativos, como o
Entremez do Anjo (assim designado por Teófilo Braga), de D. Francisco de Portugal, Conde de
Vimioso, ou as trovas de Anrique da Mota (ou Farsa do alfaiate, segundo Leite de Vasconcelos)
dedicados a temas e personagens chocarreiros como "um clérigo sobre uma pipa de vinho que se lhe foi
pelo chão", entre outros episódios divertidos.
É provável que Gil Vicente tenha assistido algumas destas representações. Viria, contudo, sem qualquer
dúvida, a superá-las em mestria e em profundidade, tal como diria Marcelino Menéndez Pelayo ao
considerá-lo a "figura mais importante dos primitivos dramaturgos peninsulares", chegando mesmo a
dizer que não havia "quem o excedesse na Europa do seu tempo".
Obra
O teatro de Gil Vicente, que provém de tradições dramáticas presentes no fim da
Idade Média, afasta-se totalmente dos princípios do teatro clássico, defendidos
pelas novas teorias poéticas da época.
O teatro clássico procurava ser tal como os antigos o praticavam e ensinavam: ele
se caracterizava pela concentração dos efeitos emotivos, concentração obtida por
meio da prática rigorosa da disciplina conhecida como das “três unidades”: unidade
de ação (a peça deve organizar-se em torno de uma só ação principal), unidade de
tempo (a ação deve restringir-se a um dia ou pouco mais) e unidade de lugar (a
ação deve passar-se em um ou poucos lugares).
Em vista dessa concentração, limitava-se o número de personagens, eliminavam-
se os elementos que não contribuíssem para o efeito final e procurava-se unificar
ao máximo o tom da peça.
O auto de Gil Vicente, ao contrário, caracteriza-se pela amplitude temática, assim
como pela tendência, cada vez mais visível ao longo da evolução de suas peças,
de aumentar a população do palco, de ampliar a duração da ação (não da
representação) e de permitir-se a mais audaciosa justaposição de lugares. Além
disso, Gil Vicente abre a cena a todas as classes sociais e pratica as maiores
liberdades, seja na construção das situações, misturando elementos sérios e
cômicos, seja no uso da linguagem, mesclando registro “elevado” com registro
“baixo”.
Alegorias, quadros e narrativas