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CARLOS ALBERTO DE FRANÇA REBOUÇAS JUNIOR

A QUESTÃO DO MAL, SEGUNDO SANTO AGOSTINHO,


NO LIVRO I DA OBRA DE LIBERO ARBITRIO

FORTALEZA – 1999
ITEP – Instituto Teológico-Pastoral do Ceará
TIP – TRABALHO INDIVIDUAL DE PESQUISA
ORIENTADOR: Prof. Dr. Jan Gerard Joseph Ter Reegen

A QUESTÃO DO MAL, SEGUNDO SANTO AGOSTINHO,


NO LIVRO I DA OBRA DE LIBERO ARBITRIO

ALUNO: Carlos Alberto de França Rebouças Junior


Curso de Filosofia
Outubro – 1999
Fortaleza – Ceará
ÍNDICE

INTRODUÇÃO 01

VIDA DE SANTO AGOSTINHO 02

SOBRE A OBRA DE LIBERO ARBITRIO 04

A QUESTÃO DO MAL NO LIVRO I DO DE LIBERO ARBITRIO 05

CONCLUSÃO 14

BIBLIOGRAFIA 15
1

INTRODUÇÃO

O presente Trabalho Individual de Pesquisa – TIP – tem a


pretensão de tão somente tecer algumas considerações a respeito
do Livro I da obra O Livre Arbítrio, de Santo Agostinho de
Hipona, que tenta nesta sua obra resolver a questão do mal.
As mais de duas centenas de obras de Agostinho mostram-
nos claramente sua sede pela Verdade e sua incessante busca pela
Felicidade. O Santo Filósofo falou e escreveu sobre praticamente
todos os temas de sua época e seus escritos giram sempre em torno
de Deus, a Suprema Verdade. Agostinho era possuidor de um
coração extremamente inquieto e tinha em seu pensamento
questionamentos que amenizassem sua ansiosa busca por respostas
a tudo o que dizia respeito à relação do homem com Deus. Graças
ao divino auxílio, investigou e foi ao âmago de muitas questões,
encontrando respostas que o levariam a aproximar-se daquele por a
quem tanto buscava: o Sumo Bem, Deus. O Bispo de Hipona,
sempre desejoso de encontrar-se com a Verdade e a Sabedoria, não
poderia deixar de investigar, com seu raciocínio apurado, o “mal”
que tanto o angustiara durante boa parte de sua juventude.
Todo aquele que busca uma autêntica vida cristã e,
sobretudo, aquele que sente necessidade de uma experiência mais
profunda com a Verdade, não pode deixar de beber nas fontes que
nos foram deixadas pelo, nas palavras de Padre Antônio Vieira,
“maior Santo entre os Doutores e maior Doutor entre os Santos”.
2

VIDA DE SANTO AGOSTINHO

Agostinho nasceu no ano de 354, em Tagaste, África do


Norte, filho de Patrício, pagão, batizado na hora da morte, e
Mônica, de quem recebeu educação cristã.
Agostinho muda-se para Madaura, cidade vizinha a Tagaste,
onde inicia seus estudos de Retórica, quando tem seus primeiros
contatos com os clássicos latinos. O jovem estudante vê-se
obrigado a retornar à terra natal, no ano de 369, onde por um ano
entrega-se à ociosidade. Com a ajuda financeira de um amigo,
Agostinho vai, então para Cartago e retoma seus estudos. Aos
dezenove anos de idade, lê a obra Hortênsio de Cícero e sente-se
atraído pela verdade eterna de que trata o livro. Também por esse
período, Agostinho faz uma breve leitura das Sagradas Escrituras,
mas estava persuadido “de que devia crer mais naqueles que
ensinam do que nos emissores de ordens para crer”. Aos vinte
anos, Agostinho, racionalista, inicia seu convívio de nove anos
com os maniqueus. Também nesse período estuda um pouco de
astrologia. Por volta de 384, Agostinho assume uma cátedra em
Milão e passa por uma crise cética. Já não vê encanto algum no
maniqueísmo. Interessa-se, então, pelo neoplatonismo,
particularmente por Plotino e Porfírio, onde encontra o que
buscava naquela fase de sua vida: o desprezo pelas paixões e pelos
sentidos. Mas Agostinho ainda não estava satisfeito. A filosofia
platônica e neoplatônica, sob muitos aspectos, deixavam muito a
desejar. Após ouvir a pregação de Ambrósio, bispo de Milão,
3

Agostinho começa a compreender as Sagradas Escrituras e em 387,


juntamente com o filho Adeodato e o amigo Alípio, é o batizado
pelo bispo “responsável” por sua conversão. Pouco depois,
Agostinho volta para Tagaste desejoso de fundar uma comunidade
religiosa. A caminho, porém, Mônica, sua mãe, vem a falecer, em
Óstia. Somente em 388 é que Agostinho segue de Roma para
Tagaste e realiza seu desejo, fundando uma comunidade dedicada à
oração e contemplação. No ano seguinte, morre seu filho
Adeodato.
Agostinho, aclamado pelo povo, é ordenado sacerdote em
391, com o propósito de auxiliar o bispo de Hipona, Valério, que
já era avançado em idade e cinco anos mais tarde é sagrado bispo
de Hipona.
Agostinho morreria trinta e quatro anos depois, deixando-
nos um legado de duzentos e trinta e dois livros, contidos em
noventa e três obras, onde se pode beber da sabedoria e santidade
deste santo filósofo.
4

SOBRE A OBRA DE LIBERO ARBITRIO

Antes de ser batizado, em 386, Agostinho fez um retiro em


Cassicíaco, onde refugiou-se para refletir, orar e escrever sobre
alguns temas em preparação para aquele importante evento de sua
vida. Surgiram desse retiro os diálogos “Contra Acadêmicos” (ou
“Contra os Céticos), “A Ordem”, “A Vida Feliz” e “Solilóquios”.
Agostinho inicia a obra O Livre Arbítrio no ano de 388, ainda em
Roma, e só vem a concluí-la por volta de 395. Em Hipona.
No De Libero Arbitrio, Agostinho trata da existência do
mal, abordando a sua essência e origem. O Bispo de Hipona trata,
também, de provar a existência de Deus, bem como de expor a
relação existente entre a vontade do homem com o mal e do
pecado e da presciência de Deus.
Com De libero Arbitrio, Agostinho objetiva reparar os
danos causados por ele a seus amigos no momento maniqueísta de
sua vida, apesar das raras referências diretas.
As respostas de Santo Agostinho nesta obra, carregadas da
genial lógica de raciocínio de seu autor, são consideradas como
uma batalha travada contra os maniqueus, acadêmicos e pelagianos
e mantêm sua eficácia e validade ainda entre os autores de nosso
tempo, sendo utilizada como uma obra de referência sobre o tema
“o mal como fruto do livre arbítrio da vontade do humana”.
5

A QUESTÃO DO MAL
NO LIVRO I DO DE LIBERO ARBITRIO

Agostinho utiliza-se da inspiração adquirida a partir das


leituras de obras filosóficas que fizera de Cícero, Porfírio ou
Plotino para argumentar de forma racional, portanto filosófica, na
obra De Libero Arbitrio. Os argumentos de Santo Agostinho, bem
como seu raciocínio, são sempre cristãos, o que nos leva a concluir
que a obra em questão é fruto de sua fé e de sua inteligência.
Agostinho apoia-se nas Escrituras Sagradas para fundamentar
todos os seus argumentos e utiliza-se da filosofia, ainda que tudo
venha a ser filtrado por sua reflexão pessoal, para racionalmente
argumentar sobre os fatos de que trata em sua obra. Agostinho faz
uso de uma máxima, adaptada da passagem de Isaías, capítulo 7,
versículo 9, para fundamentar sua doutrina: “Nisi credideritis, non
intelligetis” (“Se não crerdes, não entendereis”), e O Livre
Arbítrio é escrito sob este prisma.
No De Libero Arbitrio, Agostinho persiste na necessidade
de somar à inteligência a substância da fé. O douto filósofo, para
não encurtar o caminho, procura não recorrer à fé, sem que se
possa alcançar a inteligência, com a intenção de mostrar que a fé
não é negada pela razão, ou vice-versa, mas que, sendo a verdade
universal e eterna, pode ser captada finalmente por ambas.
No início de seu diálogo com Evódio, este lhe pergunta se
seria Deus o autor do mal. Agostinho passa, então, a discorrer
6

sobre a natureza do mal, objetivando, antes de responder à


indagação do amigo, saber qual o objeto de sua investigação, para
depois procurar a resposta sobre a origem desse objeto. Agostinho
conduzirá Evódio à compreensão de que o mal não possui
substância, que o mal não é nada, afirmando que não existe outra
realidade que não seja a vontade própria e o livre arbítrio que
torne a mente humana escrava das paixões, pois “Sem o livre
arbítrio, não haveria mérito ou demérito, glória nem vitupério,
responsabilidade nem irresponsabilidade, virtude nem vício”, diz
Agostinho.
A questão é introduzida por Evódio, que deixa claro que
adota os mesmos princípios que Agostinho adotara em sua
juventude. Evódio, ansiando por encontrar uma origem do mal,
pergunta a Agostinho se Deus seria o criador do mal, já que tudo o
que existe foi criado por Deus – e já que o mal existe. Agostinho,
com sua lógica, faz então a diferença entre os dois conceitos de
mal: o malum culpae, que seria o mal praticado por aqueles que,
por sua própria culpa, afastam-se do sumo Bem, “adorando e
servindo às criaturas em lugar do criador”, surgindo por
intermédio da vontade livre do homem que se permite seduzir
pelas paixões, e o malum poenae que seria uma conseqüência do
malum culpae, pois a quem se afasta do Bem não resta outra
recompensa senão aproximar-se do mal e privar-se da presença da
Verdade. A causa dos males que praticamos é, pois, o livre
arbítrio, e a causa dos males que sofremos, o justo julgamento
divino. Com relação aos males que sofremos como frutos do juízo
de Deus, Agostinho nos diz que seu único objetivo seria o bem,
pois visa restabelecer a ordem em nossas vidas.
7

“Mas Deus não pratica o mal, pois tu sabes


[por demonstração racional], ou acreditas
[por assentimento testimonial] que Ele é bom,
nem o contrário se pode admitir. Por outro
lado, visto professarmos que Deus é justo, pois
negá-lo é também sacrilégio, Ele assim como
confere prêmios aos bons, assim inflige
castigos aos maus, e tais castigos são
evidentemente males para os que os sofrem.
Deste modo, se ninguém é injustamente punido
– o que temos de acreditar, pois acreditamos
que o Universo é regido pela providência
divina – Deus é o autor deste segundo gênero
de males; do primeiro porém que se referiu,
1
não o é de modo nenhum.”

Agir objetivando a restituição à ordem perdida não é um mal,


sendo considerado como tal apenas por aqueles que são “vítimas”
de tal correção e que não se dão conta de que serem corrigidos por
Deus é um bem.
No segundo caso, onde Deus seria culpado por ter dado ao
homem a capacidade de escolher entre o bem e o mal com o seu
livre-arbítrio, Agostinho diz a Evódio que o mal se traduz em
desejo culposo (concupiscência), como nos casos de adultério,
homicídio e sacrilégio, considerados graves pela Igreja. Ainda que
os membros do nosso corpo se tornem instrumentos de mal e se
empenhem em coisas más, não deixam de ser, em si, um bem; da

1
Cf. De Libero Arbitrio I, 1, 1
8

mesma forma, o livre-arbítrio. Deus só poderia ser culpado se o


mal tivesse suas raízes na essência do livre-arbítrio; porém, o mal
está em um defeito de si mesmo, num desfalecimento da vontade,
que se deixa seduzir pelos bens sensíveis, pelos deleites, postos
acima do bem supremo que é Deus.
Agostinho conduzirá todo o diálogo com Evódio tentando
demonstrar, passo a passo, como é a vontade viciada do homem,
sua inclinação às paixões e a culpa pelos seus males 2. Pode-se
dizer que o homem é superior aos outros animais graças a ela e é
este motivo que o torna o mais perfeito ser criado. O homem sábio
vive submisso à sua razão, pois não há nele bem maior. Por
conseguinte, ressalta Agostinho, o homem somente está
perfeitamente ordenado quando a razão “... domina esses impulsos
da alma (...) Não se deve aplicar o nome de ordem reta, nem
simplesmente o de ordem, quando o mais perfeito está sujeito ao
que é inferior” 3. O Bispo de Hipona refere-se ao homem sábio (que
vive submisso à sua razão); mas o que dizer dos inscientes? O
próprio Agostinho dirá que nesses a mente não reina com
autoridade suprema 4.
Deste ponto em diante, Agostinho refletirá com Evódio que a
razão, criada por Deus como o que há de mais alto em sua obra
prima, não tende naturalmente às paixões, justamente por ser o que
há de mais excelente no homem. Verifica-se, portanto, que as
paixões não podem jamais violentar a razão e a mente humanas.
Uma mente sadia jamais poderia ser desvirtuada por uma mente
escrava das paixões, de acordo com o princípio de que o mais
excelente está sempre acima do menos excelente. E ainda que

2
Cf. De Libero Arbitrio, I, 7, 16-17.
3
Ibid. I, 8, 18.
9

existisse um ser mais excelente que o homem sábio, que se deixa


conduzir pela razão, ele jamais poderia constrangê-lo a entregar-se
às paixões, pois a força de tal ser residiria em sua grandeza de
virtudes. Ele não seria injusto e, consequentemente, nunca forçaria
a mente a se submeter à paixão. Tal ser somente poderia ser Deus,
e Deus, como já se comprovou, não forçaria uma queda de
virtudes, porque senão, não seria Deus.
Não poderíamos deixar de também levar em consideração a
essencial questão para a doutrina moral e social de Agostinho: a da
lei temporal e lei eterna. A lei moral, segundo Santo Agostinho, é
extremamente necessária à sociedade, geradora do equilíbrio e da
justiça no Estado; cuida para que todos sejam iguais, com direitos
e deveres, tendendo sempre ao bem comum e regulando
externamente as paixões. Mas, como é feita por homens que
pertencem à categoria das coisas que podem perecer e mudar
sujeitos ao fluxo do tempo, e que podem desvirtuar-se de seu justo
e bom intento, quando o possuem, tal lei é mutável e imperfeita 5; é
lei exterior e adaptável, que não consegue ater-se a tudo, e por
isso mesmo não deixa de dar abertura à tolerância de outros tantos
crimes. E, mesmo quando visa salvaguardar a classe de bens.
Como: saúde, integridade dos sentidos, beleza, pais, irmãos,
cônjuges, pátria, honra, dinheiro, etc., o que ordena esta lei é
precisamente que o homem se apegue ao amor das coisas
temporais e passageiras. Constatamos que
“... o poder vindicativo desta lei não se estende
mais que a privar e tirar. Ao que é punido, os
referidos bens ou alguns deles. Por

4
Cf. De Libero Arbitrio, I, 9, 19.
5
Ibid. I, 6, 14.
10

conseguinte, ela reprime pelo medo, e dobra e


redobra ao que ela exige os espíritos dos
infortunadas, para cujo governo está ajustada.
Estes de fato receando perder tais bens,
mantém no seu uso certo limite, adequado à
união da cividade, qual [esta] pode ser
constituída por homens de semelhante
condição. E assim, [a lei] não castiga o pecado
quando esses bens se amam, mas sim quando
eles são arrebatados aos outros por
improbidade.” 6

Já a segunda lei a que nos referimos, a lei eterna, proveniente


da presciência e providência de Deus, nada esquece e de tudo se
ocupa, não deixando impunes nem mesmo os crimes tolerados pela
lei temporal. É a lei eterna “a única lei, a partir da qual derivam
todas essas leis temporâneas, [feitas] para governar os
homens...” 7. Tudo o que a lei temporal possui de justo e legítimo é
sempre decorrente da lei eterna, que compreende uma ordem
perfeita 8. Aqueles que se deixam conduzir por essa lei eterna se
servem das coisas e dos bens sem se deixarem escravizar por eles,
mostrando, assim, que as coisas em si são bens neutros, que podem
ser usadas de modo bom ou mal, sendo os que as usam mal aqueles
que se submetem a eles que lhes deveriam estar submissos. Dessa
forma, quem se serve das coisas de modo ordenado as torna
melhores, possuindo-as e governando-as quando necessário, e
mesmo, estando prontos a perdê-las. Não se pode, pois, condenar o

6
Cf. De Libero Arbitrio, I, 15, 32.
7
Ibid., I, 6, 15.
11

ouro e a prata por causa dos avarentos; as coisas não são más por
elas mesmas; são os homens que podem fazer bom ou mal uso
delas 9.
Dessa maneira, Agostinho quer concluir que a força de fazer
o homem não aderir ao Bem só pode vir de sua vontade livre. A lei
eterna como que impele o homem a desejar o bem. Nas palavras do
próprio Agostinho, sintetizando estes passos:

“Por agora, é-nos certamente dado saber que


de modo nenhum pode estar privado de virtude
o ser, qualquer que ele seja, a que é possível
estar acima da mente exornada de virtude. Por
tal razão, nem mesmo esse ser, embora tenha
capacidade, constrangerá a mente a
escravizar-se à iniância (...) Segue-se,
portanto, que nenhuma outra realidade torna a
mente escrava da iniância, senão a própria
vontade e livre arbítrio.” 10.

É importante deixarmos claro que há uma distinção, ainda


que sutil, entre liberdade e vontade, ou livre arbítrio, pois para
Agostinho vontade e livre arbítrio são a mesma coisa e fazem parte
da essência do homem. Comparando a liberdade com o livre
arbítrio, a diferença é que o livre arbítrio seria a capacidade de
escolha que está presente no homem e a liberdade como a eficácia
que essa escolha alcança ao aderir à verdade. Assim, a liberdade,
seria a capacidade que o homem tem de escolher o bem e evitar o

8
Ibid., I, 6, 15.
9
Cf. De Lib. Arb., I, 15, 33.
12

mal. Consequentemente, a liberdade do homem se realiza


plenamente quando este adere, por livre vontade, ao bem,
afastando-se do mal; quando se distancia da ausência e acolhe o
Ser.
Agostinho eleva sobremaneira a vontade do homem; sabe que
nada na natureza, principalmente a mais excelente das criaturas,
pode ser contrário a Deus. O homem ainda que mutável e criado do
nada, apenas pode falhar por ser livre em sua vontade. Agostinho,
ao ser indagado por Evódio à respeito da causa de agirmos mal,
responde que esta foi uma das questões que “mais o atormentou e
impeliu (...), exausto, para os hereges” e que se “não o houvesse
alcançado a ajuda divina, não teria podido emergir de lá, e
reviver para a primeira liberdade de investigar” 11. Em um outro
trecho do livro I, diz Agostinho:

“Nada é tão árduo e difícil que se torne, com a


ajuda de Deus, inteiramente claro e simples.
Com o espírito levantado para Ele, e
implorando o seu auxílio, investiguemos o que
nos havíamos fixado” 12.

Agostinho, com isso, nos indica o caminho para que


percebamos o que é necessário para alcançarmos a Verdade:
primeiro, uma vontade reta e desejosa de encontrá-la; depois, esta
nunca pode estar separada do auxílio da graça divina, que a todos
deseja conduzir a um encontro com essa Verdade, sem a qual o
caminho seria impossível. Não há um confronto entre a graça e o

10
De Libero Arbitrio, I, 11, 21.
11
Ibid., I, 2, 4.
12
Ibid., I, 6, 14.
13

livre arbítrio na doutrina agostiniana. Deus dá o livre arbítrio para


que ele seja um instrumento cooperador da graça, e assim, o
homem chegue à Verdade.
Poder-se-ia querer dizer que Agostinho negue a necessidade
da graça no livro primeiro do De Libero Arbitrio. De fato,
Agostinho escreve a obra para referir-se ao livre arbítrio, e não à
necessidade da graça, trata da origem do mal com a intenção de
negar sua antiga crença no dualismo maniqueu. Agostinho defende
a vontade humana e a graça divina ao mesmo tempo, mas detém-se
no primeiro aspecto com mais insistência. O que o santo Bispo de
Hipona repete incansáveis vezes é a inteira liberdade do homem
para fazer o bem e que não é coagido a cometer o mal por
nenhuma necessidade. Somente o próprio homem é culpado por seu
pecado e a outro não pode ser imputada a responsabilidade pelo
mal acarretado por sua vontade livre. Agostinho, como amante da
honestidade e da verdade, não poderia pensar de forma diversa.
14

CONCLUSÃO

Chegando ao fim deste trabalho é possível perceber um


pouco da caminhada feita pela inteligência, espírito e coração de
Santo Agostinho na busca por respostas relativas à origem do mal.
Iniciando do seu confronto com a questão do mal, progredimos na
evolução filosófica de seu pensamento, detendo-nos em sua
concepção maniqueísta e materialista até a concepção cristã a que
chega, o que viria a acarretar a transformação radical de sua
própria vida. Surpreendentemente, chega-se a uma idéia
extremamente positiva do mal; a uma visão da problemática do
mal tendo o homem como o seu centro, o que a torna menos
ofensiva do que se fosse centrada no Criador, na qual se teria que
admitir a existência do mal como princípio independente. O mal
tem seu tamanho como que reduzido com a descoberta de seus
limites e é tão limitado quanto o homem, o seu ‘criador’.
Agostinho, mesmo dando pistas sem precedentes na
História, não responde a tudo; assim também este trabalho de
pesquisa. Nossa pretensão foi tão somente levar aos que iniciam
sua caminhada agostiniana e não conhecem bem as respostas
propostas pelo santo doutor, a terem um primeiro contato com as
mesmas, deixando claro que muitos outros aspectos ficam ainda a
serem desvendados.
Ë brilhante a conclusão a que chega Agostinho. Muito se
aproximando do Bem, que é Tudo, conclui que o mal é nada.
Aderir, incondicionalmente ao Sumo Bem é o lugar de destaque
que a vontade recebe em Agostinho.
15

BIBLIOGRAFIA

ª AGOSTINHO, Santo, Bispo de Hipona, O Livre Arbítrio [2ª


Edição, Faculdade de Filosofia, Braga, Portugal, 1990]

ª AGOSTINHO, Santo, Bispo de Hipona, Confissões [3ª Edição, São


Paulo, Edições Paulinas, 1984]

ª AGOSTINHO, Santo, Bispo de Hipona, A Vida Cristã [São Paulo,


Instituto Social Morumbi, 1985]

ª AGOSTINHO, Santo, Bispo de Hipona, A Vida Feliz [1ª Edição,


São Paulo, Edições Paulinas, 1993]

ª AGOSTINHO, Santo, Bispo de Hipona, A Verdadeira Religião [1ª


Edição, São Paulo, Edições Paulinas, 1987]

ª PESSANHA, José Américo Motta, «Santo Agostinho, Vida e


Obra», in Os Pensadores [São Paulo, Editora Nova Cultural Ltda.,
1996]

ª REALE, G. & ANTISERI, D., História da Filosofia, Vol. 1, [4ª Edição,


São Paulo, Editora Paulus, 1990]

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