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IÊDA ROZENFELD
P ro j eto Exp e r im en t a l a p r es en t a d o
c omo req u is ito fina l pa ra
ob tenção do t ítu lo de Bacharel em
Co mun icação Soc ia l - H ab ilita ção
C inema - sob orie nta ção do
Prof . D r. João Lu iz V ieira e do
Prof . José Ca rlos Mo nt eiro
Agradecimentos,
sem vocês este trabalho não seria possível, meu muitíssimo obrigada a todos :
sumário
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 1
2. O QUE É IDICHE? .......................................................................................................... 6
3. O CINEMA ÍDICHE E O CINEMA JUDAICO ................................................................ 12
4. ORIGENS E CARACTERÍSTICAS DO CINEMA ÍDICHE:
CRONOLOGIA E PRODUÇÃO ........................................................................................ 17
De 1910 à 1a. Guerra Mundial ................................................................................ 22
Declínio do Czar em 1917 `a chegada do som no cinema em 1929...................... 29
Declínio do Czar em 1917 `a chegada do som no cinema em 1929...................... 29
Do início do cinema falado em 1929, à meados de 1934 .................................... 32
De 1935 à 2a. Guerra Mundial ................................................................................ 38
Período pós-Guerra, 1945 em diante ..................................................................... 46
5. O CINEMA ÍDICHE CHEGA À CINELÂNDIA ............................................................... 49
6. A SOBREVIVÊNCIA DO CINEMA ÍDICHE .................................................................. 64
7. Conclusão ..................................................................................................................... 70
Bibliografia .............................................................................................................. 72
Links ........................................................................................................................ 74
Referências iconográficas....................................................................................... 75
Anexo 1- Filmografia ............................................................................................... 77
Anexo 2 - População falante de ídiche nos EUA (1990 Census) .......................... 85
Anexo 3 - O último judeu do Éden carioca - por Arnaldo Bloch ............................. 87
Anexo 4 – Cinema no Jornal Israelita ..................................................................... 90
INTRODUÇÃO 1
1. INTRODUÇÃO
família de imigrantes judeus-romenos na praça onze, Rio de Janeiro, década de 40. Todos falavam o ídiche.
(álbum familiar da autora)
1
Depoimento de Suzane Worcman em seus estudos sobre Teatro Ídiche no Brasil
INTRODUÇÃO 4
Todo este contexto apresentado até então, orienta nosso trabalho para seu
objetivo maior: investigar a presença e o significado do cinema ídiche no Rio de
Janeiro, em especial a partir de uma sala de exibição na Cinelândia. Para tal fim,
como metodologia de trabalho, foram realizadas pesquisas na internet, ferramenta que
permitiu localizar arquivos de filmes ídiches no mundo todo e pessoas que prestaram
depoimentos. Também foi feito um levantamento de instituições de guarda e
preservação destes filmes. Foram gravadas algumas entrevistas com pessoas ligadas à
manifestações culturais em ídiche. Através de pesquisas no Museu Judaico do Rio de
Janeiro ( Jornal Israelita ) e na Associação Sholem Aleichem ( jornal Nossa Voz )
foram identificadas as datas e filmes exibidos, e com estes dados foram feitas algumas
checagens na imprensa da época (O Correio da Manhã e A Noite) no Arquivo
Nacional. Os filmes exibidos no Brasil sofreram um trabalho de identificação a partir
dos atores/diretores consultando-se a bibliografia, pois muitas vezes o nome em
português não correspondia à tradução literal. Por fim, foi organizada a filmografia,
cruzando os dados da filmografia publicada em 1975 no livro Laughter Trough Tears,
INTRODUÇÃO 5
com o Internet Movie Database e com outros bancos de dados provenientes do próprio
processo investigatório.
2. O QUE É IDICHE?
de alemão, 10 por cento de hebraico e cinco por cento de eslavo, com traços de
romeno, francês e outras línguas e dialetos.
outras línguas e fraco em abstrações. Pela mesma razão, tem poucas palavras
descritivas da natureza com a qual os judeus da Europa Oriental tinham relativo pouco
contato, porém é rica em expressões e termos descritivos do caráter das pessoas e de
suas relações. As palavras individualmente podem ser muito simples, mas sua
interrelação fazem-no rico, irônico e plurisignificativo. Assim, faz uso deliberado de
diminutivos e termos emotivos, exibindo peculiarmente uma variedade de pragas,
maldições e exconjúrios. O uso de provérbios e expressões oriundas é considerável.
Estes provérbios abordam vários assuntos, pois ao tratar desde os fatos domésticos do
cotidiano até as mais altas aspirações humanas, revelam a filosofia, sabedoria e
cultura que contribuíram para preservar a identidade do povo judeu ao longo de
milênios de sofrimento, aflição, expropriação, expulsão, perseguição e holocausto.
Através de seus provérbios metafóricos (“a beyze tsung iz erguer fun a schtarker hant”
– literalmente “uma língua viperina é pior do que uma mão forte”e adaptando – “A
maledicência é pior do que um tapa”), ou idiomatismos talmúdicos (“es schitn zikh im
perl fun moyl” – literalmente “pérolas que saem de sua boca”) ou poemas rimados
misturando hebraico e ídiche (“bemoken scheyn isch / iz a hering oykh a fisch” –
“Onde não há homens arenque também é peixe”2) realizamos as qualidades e usos que
dão ao ídiche uma característica única, muito pessoal e calorosa.
2
o locutor ídiche não se preocupa com a categoria biológica do arenque, porém com sua função no
costume culinário religioso, pois do arenque não se pode fazer o “guefiltefisch”, prato típico das festas. Socialmente,
o arenque era considerado um alimento de pessoas pobres, assim como o ídiche uma língua popular. Faz-se então
uma ironia, contrapondo o hebraico dos cultos e estudiosos da Torá (bemoken scheyn isch) - com o arenque ídiche
– (iz a hering oykh a fisch) .
O QUE É IDICHE? 9
os idiomas dos países que acolheram os judeus em sua diáspora. O objetivo era elevar
o idioma, considerado até então como simples dialeto adaptado de germanismos,
eslavismos, hebraísmos e outras influências, ao que ele chamou de “língua de fusão”.
Weinreich fundamentou as estruturas e processos do ídiche que o faziam uma língua
unificada, apesar de aberta. Segundo Harsav, esta abertura da língua a mantinha em
constante mutação “absorvendo maior ou menor número de elementos de seu léxico,
conforme o grupo de falantes, o gênero de discurso e as circunstâncias. Pois o ídiche
3
era quase por definição, uma língua usada por locutores multilíngues”. Em seu
estudo “O Significado do Ídiche” (1990) , Harshav nos mostra que as oportunidades
de assimilação no século XX, seja nas Américas, seja na então União Soviética, eram
tantas, que dificilmente o ídiche sobreviveria como uma língua de massa: “Em
nenhuma dessas duas dinâmicas sociedades houve base territorial e social para uma
cultura autônoma da minoria judaica e para uma nova cadeia de transmissão à futuras
gerações”.
3
O Significado do Ídiche. pag. 30.
4
aldeias judaicas da Europa
5
Esta palavra engloba tudo o que significava ser judeu, quer fosse a prática da religião, o estudo dos
textos sagrados, comer a comida judaica tradicional daquela região, viver, sofrer, amar e rir de forma judaica, ou
melhor dito, de "forma idiche".
6
Vide anexo 1. Yiddish in USA (1990 Census). Os dados da utilização do ídiche como língua resultam do
questionário “Idioma falado em casa” do censo Norte-Americano de 1990. Entrevistados nascidos antes de 1º de
Abril de 1985 e que “eventualmente ou sempre falam ídiche em casa” foram computados. Aqueles que falam ídiche
somente na escola ou cujo vocabulário se limita à algumas expressões não foram computados. -
http://www.ibiblio.org/yiddish/library/. Não foi encontrada pesquisa semelhante no Brasil.
O QUE É IDICHE? 10
7
A expressão "geração beat" ficou famosa ao ser usada em um artigo do New York Times.
Nick, que em ídiche significa inho ou zinho, num sentido pejorativo, passou a ser usada pela grande jornal
quando se referia aos beats: beatniks.
O QUE É IDICHE? 11
8
Cantor religioso das sinagogas
O CINEMA ÍDICHE E O CINEMA JUDAICO 13
9
Ano Novo Judaico
10 o
equivalente à missa de 7 . dia católica
O CINEMA ÍDICHE E O CINEMA JUDAICO 14
Bela Dama (My Fair Lady; George Cukor, 1964) seriam outros exemplos que
possuíam o sentimento de rejeição e o desejo de aceitação por uma nova sociedade. O
western seria uma referência aos pogroms sofridos nos shtetls da Europa Oriental.
11
Laughter Trough Tears , The Yiddish Cinema , Associated University Presses, 1983
12
Bernardo Carvalho na matéria “Retrospectiva revê a imagem dos judeus em filmes feitos por judeus”,
Seção Ilustrada, Folha de São Paulo, 17/12/1991.
13
História do Cinema Mundial – volume II – Livraria Martins Editora – pag. 486
O CINEMA ÍDICHE E O CINEMA JUDAICO 15
locais. Com uma produção que se destinava aos últimos judeus que ainda cultivavam
na vida cotidiana aquela língua antiga e minoritária, diferente tanto da linguagem
religiosa (das preces e da Torah14) como da língua oficial dos países que acolheram os
imigrantes.
Mas por outro lado, esse cinema condenado ao esquecimento carregava dentro
dele a força de uma tradição narrativa e de um teatro de extraordinária vitalidade, que
deixaria traços irremovíveis na cultura judaico-americana. E também porque
contribuiu para transmitir a contrastante herança da Haskalá – um movimento que, na
prática, equivalia a uma espécie de iluminismo, ou ao menos às exigências de uma
renovação – e aquelas influências, mais recentes, do socialismo e do sionismo. Mas
esse movimento conservava, ao mesmo tempo, certas formas de religiosidade
profunda, como a do Hassidismo. Isso fica demonstrado no sugestivo A Alma Errante
(Der Dibbuk; Michael Wasynski, 1937) 15, filme realizado em 1937-38 em Varsóvia
por Mikhail Waszynski a partir do drama homônimo de An-Ski e AlKacyzny, que
começa numa sinagoga de um pequeno shtetl com a materialização de um mensageiro
portador de dons, e que funcionava quase como um emblema da transmissão da
herança do passado e dos ecos jamais silenciados do Sagrado. Os filmes tinham uma
linguagem teatral e eram baseados, na sua maioria, em obras literárias já consagradas.
14
Bíblia sagrada, antigo testamento
15
Esta peça também deu origem ao Caso Especial “Dibuk, o demônio” - com Regina Duarte e José
Wilker em 1972
O CINEMA ÍDICHE E O CINEMA JUDAICO 16
O cinema ídiche nasceu de pessoas que tentavam manter vivos sua cultura,
língua e memórias de um passado de opressão, pobreza e lutas nos shtetls.. Para os
imigrantes que chegavam na América e para aqueles que permaneceram na Europa, os
filmes ídiches preenchiam uma necessidade de diversão e identificação. Segundo
Hoberman, não era apenas um cinema nacional sem uma nação-estado, mas um
cinema nacional que, a cada exibição, criava a sua própria e efêmera pátria.
técnica e ousadia não se justificavam apenas pela falta de investimento financeiro. Era
uma platéia pouco exigente em matéria de refinamento de linguagem fílmica,
acostumada com o teatro e o vaudeville e que se satisfazia com alguma história
melodramática com final feliz. Eram filmes carregados de ingenuidade e esperanças ,
como seu próprio público. Feitos sob medida para pessoas pouco requintadas, sempre
perseguidas e oprimidas, estrangeiros onde quer que estivessem, com uma
necessidade de aceitação comparável à força de suas tradições.
16
internet movie database - http://www.imdb.com
ORIGENS E CARACTERÍSTICAS DO CINEMA ÍDICHE: CRONOLOGIA E PRODUÇÃO 19
Mas há outros temas, nas comédias mais fáceis, como a troca de pessoas, pais
que romanescamente reencontram filhos que não conheciam, casamentos acertados a
longa distância por pessoas que, depois, descobrem ser do mesmo sexo - Jewish Luck
(Alexis Granovski,1925/1926). Pensa-se assim que todo o corpus do cinema ídiche
seria uma espécie de inconsciente preparação para revisitações americanas recentes,
como o transformismo sexual de Yentl (Barbra Streisand, 1983) ou o camaleonismo
ORIGENS E CARACTERÍSTICAS DO CINEMA ÍDICHE: CRONOLOGIA E PRODUÇÃO 21
triunfal de Zelig (Woody Allen, 1983).17 Neste último, Woody Allen é, com diria
Inácio Araújo18, uma expressão típica do humor ídiche: rápido, cortante, baseado num
uso imaginoso do idioma e, sobretudo, tomando a sí próprio como objeto.
Criado inicialmente para uma platéia que tinha o ídiche como língua nativa, a
gama de filmes ídiches inclui, além dos filmes falados na língua, filmes mudos com
intertítulos em ídiche. Alguns falados em hebraico e inglês são considerados parte
deste acervo, devido às circunstâncias de produção e temas abordados. Todos eles têm
em comum a inspiração clara no teatro ídiche, de onde herdaram muitos temas, atores
e companhias. Cronologicamente, podemos dividir a história da produção
cinematográfica ídiche em cinco períodos distintos, a saber:
17
Prof. José Carlos Monteiro
18
Inácio Araújo na matéria “MIS reúne filmes que retratam cultura iídiche”, Folha de São Paulo,
25/04/1990.
ORIGENS E CARACTERÍSTICAS DO CINEMA ÍDICHE: CRONOLOGIA E PRODUÇÃO 22
quando estas leis foram suspensas, o teatro ídiche conseguiu sobreviver na Rússia
graças às peças germânicas encenadas, que nada mais eram do que um disfarce.
De acordo com Judith Goldberg em seu livro Laughter trough Tears, The
Yiddish Cinema, até o fim de 1904 o número de salas de cinema em Moscou pulou de
pequenos teatros de rua que comportavam 24 espectadores sentados e 30 de pé para
verdadeiras salas de exibição com até 500 lugares. O cinema era um negócio próspero
e dominado até então na Rússia pelos irmãos Pathé e pela Gaumont, que organizavam
a distribuição, produção e exibição. O Czar controlava a indústria cinematográfica e
até 1905 era determinantemente proibida a saída de qualquer filme da Rússia para
exibição externa. Em 1906 estabeleceu-se a censura propriamente dita, tanto no
cinema quanto no jornal, proibindo a divulgação e citação dos pogroms, recriados
pela Defender Films (norte-americana) no filme Russia, the Land of Oppression
(Edwin S. Porter, 1910). A Pathé, proibida de explorar este tipo de assunto nos filmes
produzidos na Rússia, ficava restrita a um repertório de melodramas e ficções suaves
sobre a vida dos judeus no campo, imagem que o Governo Russo queria passar ao
exterior, mas que nunca chegaram a representar um verdadeiro filme de temática
ídiche (apesar dos intertítulos). Lai Chyeim (Kai Hansen, 1911), dirigido por Kai
Hansen, um dos diretores da Pathé, seria o primeiro de uma série. Sua história é
modelo para a maioria dos filmes sobre judeus desta época. Conta a história da jovem
Raquel que é prometida em casamento contra sua vontade pelo seu pai, o Rabino, à
Abraão. Porém ela se apaixona por Samuel, empregado de Abraão e após uma ano de
casamento abandona sua casa e sua filha para fugir com Samuel. Volta cinco anos
depois para rever sua filha e encontra Abraão entregue à bebida, indo embora
novamente e deixando apenas uma carta de despedida. Em 1907 é fundado o primeiro
ORIGENS E CARACTERÍSTICAS DO CINEMA ÍDICHE: CRONOLOGIA E PRODUÇÃO 24
19
Há uma versão de Zajn Wajbs Man de 1913 dirigida por Stanislaw Sebel que deu origem a versão de
1916.
ORIGENS E CARACTERÍSTICAS DO CINEMA ÍDICHE: CRONOLOGIA E PRODUÇÃO 26
Cartaz da peça The Jewish King Lear Cartaz do filme The Jewish King Lear of Vilna (U.S.A., 1935)
encenada em Nova Iorque em meados de 1900
Nos idos de 1900 podiam-se assistir peças em ídiche nos teatros Vaudevilles e
em teatros de rua, conhecidos como nickelodeons, que naturalmente foram sendo
substituídas a medida em que o cinema foi ganhando cada vez mais popularidade. O
futuro astro de cinema Paul Muni (nascido Muni Weisenfreund numa família de
atores ídiches) fez sua primeira aparição no palco em um desses nickelodeons,
tocando violino enquanto seus irmãos entoavam baladas em ídiche para acompanhar
apresentações de lanterna mágica.
20
http://www.morasha.com.br/conteudo/ed32/teatro2.htm
ORIGENS E CARACTERÍSTICAS DO CINEMA ÍDICHE: CRONOLOGIA E PRODUÇÃO 27
para dirigir filmes para a Victor Feature Film Company21 e Imp (Independent Motion
Picture Company). Seu primeiro filme para a Imp foi The Sorrow of Israel (Sidney
Goldin, 1913). O filme, rodado em três rolos, narra a história de um jovem judeu e
uma nobre russa, profundamente apaixonados. Para poder frequentar a universidade,
o jovem judeu é obrigado a se converter. É quando o noivo da jovem, um príncipe
russo, organiza uma perseguição religiosa ao rapaz que é salvo pelos niilistas e em
gratidão junta-se ao movimento. Ele se casa com a nobre russa, é preso e salvo
novamente pelos niilistas22. O filme foi tão popular que os produtores pretendiam
exibí-lo na Europa: os planos eram para a Inglaterra, Alemanha e Áustria, mas
obviamente excluíam a Rússia. Seguiram-se Nihilist Vengeance (Sidney Goldin,
1913), The Heart of a Jewess (Sidney Goldin, 1913) e Bleeding Hearts (Sidney
Goldin, 1913).
Seu último filme para a Universal foi o documentário How the Jews Care for
Their Poor (Sidney Goldin, 1913). Depois disso, Goldin trabalhou em diversas
produções de estúdios independentes, destacando-se The Black 107 (Sidney Goldin,
1913), sobre a perseguição do “povo escolhido” na Rússia. A comunidade do Lower
East Side lotou a sala de exibição para assistir ao filme baseado “no recente
julgamento de Kiev”. Outras duas companhias americanas produziram filmes com
intertítulos em ídiche: a Kalem com A Passover Miracle (Shalom Masimon, 1914) e a
Box Office Attraction Company (William Fox) com The Children of the Ghetto (Frank
Powell, 1915).
21
formada em 1912 por Florence Lawrence, a Biograph Girl.
22
movimento originário no século XIX, formado durante as décadas de 1860 a 1870, baseado na filosofia
do seticismo e que no século XX simbolizava a luta contra qualquer tipo de tirania.
ORIGENS E CARACTERÍSTICAS DO CINEMA ÍDICHE: CRONOLOGIA E PRODUÇÃO 28
Willet St. Theater, um nickelodeon no Brooklyn com cartazes em Ídiche e Inglês – 1913. Sentado à
esquerda, Joseph Seiden, que iria se transformar num dos primeiros produtores de cinema ídiche
em Nova Iorque.
ORIGENS E CARACTERÍSTICAS DO CINEMA ÍDICHE: CRONOLOGIA E PRODUÇÃO 29
Nos Estados Unidos é considerada uma época mais fraca para o filme ídiche,
que com dificuldade competia com os filmes melting-pot de teor assimilacionista dos
estúdios. O destaque fica realmente com a produção Européia, principalmente na
União Soviética, pelo menos até a consolidação do stalinismo em 1928.
Entre os anos de 1924 e 1926, Granovsky, Schwartz e Turkow iriam dirigir, cada um,
seu filme em ídiche: Jewish Luck (Yiddishe Glikn; Alexis Gramowski ,1925), Broken Hearts
(Maurice Schwartz, 1926) e Tkijes Khaf (Zygmund Turkow , 1924).
Zygmunt Turkow, que iria trabalhar no Brasil, em dois momentos de Tkies Khaf (Polônia, 1924), onde foi diretor e ator.
No cemitério de Vilna, ele está à esquerda contracenando com Henryk Tarlo.
23
Que vive de vender sonhos, desejos; trapaceiro; malandro
ORIGENS E CARACTERÍSTICAS DO CINEMA ÍDICHE: CRONOLOGIA E PRODUÇÃO 32
24
Equipamento de luz
25
exibido no Brasil segundo o pesquisador Lécio Augusto Ramos
ORIGENS E CARACTERÍSTICAS DO CINEMA ÍDICHE: CRONOLOGIA E PRODUÇÃO 35
A produção de Seiden continua com The Living Corpse (Zhivoj trup; Fyodor
Otsep,1929) e Eternal Fools (Sidney Goldin, 1930), sem muito sucesso. Ao final de
1930, Seiden finaliza A Voz de Israel (The Voice of Israel; Joseph Seiden, 1930),
reunindo os melhores cantores da época, destacando Yossele Rosenblatt, Meyer
Machtengurg e Leibele Waldman. Produzido com $20.000 dólares, era uma sucessão
26
palavra hebraica que denota aqueles que imigraram para Israel considerando-a sua nova pátria mãe;
aqueles que fizeram aliá
ORIGENS E CARACTERÍSTICAS DO CINEMA ÍDICHE: CRONOLOGIA E PRODUÇÃO 36
De 1930 a 1931 Seiden produziu dezenove filmes: três longas (Eternal Fools,
Mine Yiddishe Mame, Shulamith), sete curtas de um rolo e nove de dois rolos (entre
eles Kol Nidre I 27, Kol Nidre II, Broken Doll, Jewish Melody e Jewish Gypsy).
Apesar de ter sido o mas conhecido, Seiden não foi o único produtor de filmes
em ídiche em Nova iorque em meados da década de trinta. Filmes como East Side
Sadie (1929 - produzido nove meses antes do primeiro curta de Seiden e considerado
tecnicamente amador pela crítica) e The Eternal Prayer (1929) podem ser
considerados filmes falados em ídiche. Este último, produzido pela Metropolitan
Studios e estrelado por Lucy Levin, Anna Appel e o menino cantor “Schmulikel”
tinha uma série de músicas judaicas gravadas em disco, o que foi suficiente para ser
anunciado como o primeiro filme falado em ídiche. Foi considerado pela crítica o
27
Kol Nidre foi exibido no Cine São Carlos em outubro de 1947, no Cine Odeon em junho de 1947 e no
Cine Lux em julho de 1947. Fonte: Jornal "Nossa Voz" da ASA - Associação Sholem Aleichem no Rio de Janeiro
ORIGENS E CARACTERÍSTICAS DO CINEMA ÍDICHE: CRONOLOGIA E PRODUÇÃO 37
Nesta época a produção de filmes falados em ídiche teve seu ponto máximo.
Realizados basicamente na Polônia e nos Estados Unidos, destinavam-se à platéia de
imigrantes e comunidades judaicas da América e Europa. Na sua maior parte, tinham
como inspiração a rica literatura ídiche, como Tevie, o Leiteiro (Tevye der Milkhiker;
Maurice Schwartz,1939) baseado em conto de Scholem Aleichem, filmado
originalmente em 1939 por Maurice Schwartz e que deu origem ao filme consagrado
O Violinista no Telhado (Fiddler on the Roof; Norman Jewison, 1971). Em 1936,
Nova Iorque foi considerada a principal exibidora de filmes estrangeiros da época,
atingindo, segundo o New York Times, uma audiência semanal de, pelo menos,
100.000 pessoas. Curiosamente, os filmes falados em ídiche eram classificados como
filmes estrangeiros tanto pelo público em geral quanto pelos organismos formais de
controle e censura norte-americanos (State Board of Censors) , mesmo quando
produzidos em solo Americano. Criava-se um fenômeno único: os Estados Unidos
não só se transformariam em um grande foco exibidor de filmes étnicos, mas também
um grande centro produtor de filmes estrangeiros.
ORIGENS E CARACTERÍSTICAS DO CINEMA ÍDICHE: CRONOLOGIA E PRODUÇÃO 39
A noiva Leah (Lili Liliana) é cercada pelos pobres (muitos recrutados nas ruas
de Varsóvia) na “Dança dos Pobres” coreografada por Judith Berg para A
Alma Errante (1937)
Molly Picon se veste de menino para tocar violino em Yidl Mit'n Fidl,
um dos maiores sucessos comerciais da filmografia ídiche
Yidl Mitn Fidl foi acima de tudo um filme heróico. Estrelado por Molly Picon,
então com trinta e sete anos e já consagrada mundialmente no teatro, se torna um hit ,
e é exibido na Europa Oriental bem como na África do Sul, Austrália e, dublado em
hebraico, na Palestina. Ele rompe até mesmo as barreiras do crescente movimento
nazista na Alemanha. Nos conta Green, em seu depoimento registrado por Hoberman
no livro Bridge Of Light28:
28
Capítulo The Greening of Yiddish Film, pág. 242
ORIGENS E CARACTERÍSTICAS DO CINEMA ÍDICHE: CRONOLOGIA E PRODUÇÃO 41
29
Pouco antes de sua morte, em uma entrevista concedida à Peter Bogdanovich, Ulmer afirmou ter
iniciado seu contato com o mundo do cinema construindo os cenários do filme “The Golem” (1920).
ORIGENS E CARACTERÍSTICAS DO CINEMA ÍDICHE: CRONOLOGIA E PRODUÇÃO 43
dois dos maiores sucessos desta cinematografia, Verdes Campos (1937) e Os Dois
Amores do Ferreiro (Yankl der Shmid; Edgar G. Ulmer , 1938)30, uma espécie de
interlúdio à carreira que se iniciava. O último filme em ídiche de Ulmer foi The
American Matchmaker (Americaner Schadchen; 1940), estrelado por Leo Fuchs, o
"Fred Astaire Ídiche". Ulmer sequer falava ídiche, apesar de muito familiarizado com
a língua devido ao teatro ídiche.
O cinema ídiche atingiu seu apogeu durantes os dezoitos meses que duraram
entre a anexação da Áustria pela Alemanha em 1937 e a invasão Soviética da Polônia.
Durante este período foram lançados vinte e três filmes em Nova Iorque; um terço
produzido em Varsóvia, e todos os outros (com exceção de sete) na Europa Oriental,
que trilharam caminhos também pela América do Sul, chegando ao Brasil. O útimo
filme ídiche polonês lançado em Nova Iorque foi A Brivele Der Mamen (1939). Em
dois anos, cessaram as produções tanto na Europa quanto nos Estados Unidos.
30
Exibido no Estação Botafogo, Rio de Janeiro, em julho de 2002 na mostra Cine e Arte Judaica.
ORIGENS E CARACTERÍSTICAS DO CINEMA ÍDICHE: CRONOLOGIA E PRODUÇÃO 44
31
http://www.morasha.com.br/conteudo/ed32/teatro3.htm
ORIGENS E CARACTERÍSTICAS DO CINEMA ÍDICHE: CRONOLOGIA E PRODUÇÃO 47
32
Das Jiddische Kino, realizado por Ronny Loew, Hans Peter Kocherrath e Walter Schobert para a ZTV
Áustria, 1987.
ORIGENS E CARACTERÍSTICAS DO CINEMA ÍDICHE: CRONOLOGIA E PRODUÇÃO 48
Atualmente filmes totalmente falados em ídiche são cada vez mais raros. Por
isso, alguns filmes em que um personagem ou trecho é falado em ídiche fazem parte
da filmografia do gênero, assim como documentários sobre o assunto. Dentre alguns
que possuem esta característica, destacamos títulos como Fanny e Alexandre (Fanny
och Alexander; Ingmar Bergman, 1982) de Bergman e Almonds and Raisins (Russ
Karel, 1984) narrado por Orson Welles33.
33
“Almonds and Raisins” foi um dos últimos trabalhos de Orson Welles. Originalmente o filme seria
narrado por George Burns, que não pôde fazê-lo. Chamaram então Woody Allen, que também estava trabalhando
em outro projeto. Foi quando lembraram de Orson Welles – que supostamente havia dirigido uma produção ídiche
de Hamlet e curiosamente falava o ídiche com razoável fluência. Apesar de duramente criticado por Hoberman em
seu livro Bridge of Light, que afirma que datas e nomes estão equivocados, “Almonds and Raisins” nos apresenta
uma rara edição de inúmeros trechos de filmes ídiches.
O CINEMA ÍDICHE CHEGA À CINELÂNDIA 49
11-4-1946 – Jornal Israelita anuncia a exibição de “Der Idisher Kenig Lir” no Cine São Carlos
Segundo Judith Goldberg em seu livro Laughter trough Tears, The Yiddish
Cinema , entre 1910 e 1941 foram realizados aproximadamente 130 longa-metragens
e 30 curtas em ídiche. Nomes como Boris Thomashevsky, Maurice Schwartz, Celia
Adler, Yetta Zwerling, Helen Beverly e Isidor Cashier perderam-se na memória de
uma platéia que lotava as salas de exibição do Rio de Janeiro e de São Paulo, para
assistí-los em musicais e dramas falados em ídiche.
Entre os anos de 1940 e 1950, o Cine São Carlos, Atual Cine Orly, situado na
Rua Alcindo Guanabara no. 17 no Rio de Janeiro, foi palco destas exibições,
resultantes da dedicação de seu principal distribuidor Jacob Dvoskin.
34
Cine Repórter, 29/06/1946 - p. 48
O CINEMA ÍDICHE CHEGA À CINELÂNDIA 51
Jornal Israelita 22-09-1945 – crítica do filme russo “Arco Íris” no Cine Odeon
podiam se encontrar, fazer um social barato (já que a grana naquela época nao era
abundante entre os imigrantes) e manter um papo em idiche”.
4-4-1946
No Jornal
Israelita eram
anunciados
filmes ídiches
lado a lado com
apresentações de
teatro ídiche. esta
edição de 17-6-
1948 anuncia o
filme Yossef in
Mizraim a ser
exibido no Cine
São Carlos
juntamente com
peça estrelada
por Moishe
Oysher no teatro
Recreio.
O CINEMA ÍDICHE CHEGA À CINELÂNDIA 58
Jornal Israelita de
26-8-1948 anuncia
a exibição de
Der Idisher Niguen
no São Carlos.
Acima, anunciada
noite de arte
ídiche no Teatro
Municipal, com
obras de
Rosenblat,
eternizado nos
filmes ídiches,
mostrando a
liberdade de
expressão e
intensa vida
cultural do ídiche
na comunidade
judaica no Rio de
Janeiro de 1948.
Em contrapartida,
pode-se ter uma
idéia do contexto
político vivido no
pós-guerra na
Europa, a partir da
notícia sobre o
forte anti-
semitismo na
Alemanha.
Temos uma sugestão de que os preços eram reduzidos para estas exibições,
pois normalmente os anúncios informam que “para que todos possam assistir ao filme
35
foram fixados os seguintes preços: CR$ 10,00 (Adultos) e CR$ 5,00 (meia)”,
denotando a importância social dada a estes acontecimentos, de forma como nunca
vimos em exibições de filmes regulares na Cinelândia.
35
a moeda da época era (CR$) Cruzeiro
O CINEMA ÍDICHE CHEGA À CINELÂNDIA 60
realmente uma expressão de arte digno de ser visto por todas as platéias”. Apesar
disto, nem todos os jornais da época, como O Correio da Manhã e A Noite,
anunciavam todas estas exibições.
O CINEMA ÍDICHE CHEGA À CINELÂNDIA 62
Jornal Israelita de 15-8-1946 anuncia em ídiche a exibição de A Última Porta (The Last Chance; Thomas
Bentley,1937)
A Cinelândia, templo cinéfilo, que durante décadas foi conhecida por abrigar o
maior número de salas da cidade, assiste impotente ao fechamento de seus cinemas. O
Metro Boavista, o Capitólio, o Plaza e o Vitória só existem na memória. Daquela
época resistem o Palácio, o Rex, o Íris e o Odeon (agora Odeon BR). O Cine São
Carlos sobreviveu e, atualmente com o nome de Orly, exibe sessões exclusivas de
filmes de sexo explícito.
A SOBREVIVÊNCIA DO CINEMA ÍDICHE 64
Goldberg em sua tese Laughter Through Tears levanta uma curiosa questão:
após anos de esquecimento, o interesse pela cultura ídiche chega tarde demais para o
renascimento de seu teatro ou cinema. Os estudiosos recentes se inspiram pela busca
de uma cultura praticamente morta, uma redescoberta de um passado tão casualmente
esquecido. O propósito a que estes filmes se destinavam, o entretenimento de
imigrantes saudosos de suas origens, já não existe mais. Os filmes se tornaram
registros de uma época que se foi. A produção do cinema ídiche está morta e até bem
recentemente foi praticamente abandonada. O que se vê são filmes em que um ou
outro personagem fala a língua, em produções recentes como Solomon and Gaenor
(Paul Morrisson, 1999) - indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro de 2000 - ou
documentários como The Komediant (Arnon Goldfinger, 2000)- vídeo israelense
sobre a vida de Pesachke Burstein, ator da fase áurea do Teatro Ídiche em Nova
Iorque - ou o australiano Mamadrama (Monique Schwartz, 2001). Para a história do
cinema mundial, este movimento não teve uma significância relevante; nem em
termos de linguagem, nem em termos de audiência.
Durante muitos anos o ídiche foi estigmatizado como uma língua inferior,
deliberadamente esquecido até pelos seus descendentes. Alguns nomes como Edgar
A SOBREVIVÊNCIA DO CINEMA ÍDICHE 65
36
Ulmer ou Paul Muni ingressaram na indústria cinematográfica e ficaram
conhecidos, porém raramente seus nomes são associados aos primeiros filmes que
fizeram: em ídiche. Fica então a pergunta: qual a importância da preservação e
pesquisa destes filmes atualmente?
36
Em sua carreira, Paul Muni recebeu 5 indicações ao Oscar de melhor ator em: The Valiant (1928/1929),
O Fugitivo (I Am a Fugitive from a Chain Gang; 1932/1933), The Story of Louis Pasteur (1936), The Life of Emile
Zola (1937), Last Angry Man (1959) . Ganhou a estatueta em The Story of Louis Pasteur, concorrendo com Spencer
Tracy, Gary Cooper, Walter Huston e William Powell .
37
http://sites.huji.ac.il/jfa/jfa.htm
A SOBREVIVÊNCIA DO CINEMA ÍDICHE 66
38
José Sachetta Ramos no artigo “MIS apresenta três filmes raros em língua ídiche”, Folha de São Paulo,
07/04/1989.
39
Folha de São Paulo, Seção Ilustrada, página 2, 31/07/1991
A SOBREVIVÊNCIA DO CINEMA ÍDICHE 67
.
CONCLUSÃO 70
7. Conclusão
Foi quando me dei conta, que apesar de não terem sido produzidos aqui, esses
filmes foram exibidos e muito assistidos aqui. Jamais assistirei a esses filmes, mesmo
no cinema, com a mesma emoção e ansiedade dos imigrantes. Repentinamente
estavam em um pais estranho e distante de sua terra natal, quente e tropical, onde nem
mesmo falavam a língua, mas que através desses filmes realizavam uma verdadeira
viagem no tempo, de encontro às suas origens.
Já pela metade do trabalho, constatei que não tinha idéia da dimensão do rico
material que me aguardava. Apesar de pouca, a bibliografia estrangeira existente é
consistente e profunda, e muito ainda há para ser estudado. No exterior várias
universidades e centros de pesquisa vêm investindo no estudo da memória e da
história através da preservação, recuperação, exibiçào e pesquisa de filmes ídiches.
No Brasil, pesquisa do gênero inexiste. É a primeira vez em que, a partir de
entrevistas e pesquisas em fontes primárias, se faz um prévio levantamento dos filmes
ídiches exibidos no Brasil. Buscas ainda deverão ser feitas, cobrindo um maior
número de fontes impressas. Existem pessoas vivas que assistiram a essas sessões.
CONCLUSÃO 71
Elas deverão ser achadas e entrevistadas, pois o tempo, neste caso, é fundamental,
pois são fontes únicas que se perdem para sempre. Em Hollywood a influência dos
imigrantes judeus na indústria cinematográfica é inegável. E no Brasil? Qual a
influência da cultura ídiche em nossa produção audiovisual? E em nossa cultura como
um todo? O presente trabalho é apenas o início de um caminho para que novas
pesquisas sejam feitas e certamente não encerra o assunto.
Bibliografia
Berlitz, Charles. As Línguas do Mundo. Rio de Janeiro, RJ.: Editora Nova Fronteira
S.A., 1982.
Eco, Humberto. Como se faz uma tese. São Paulo, SP.: Editora Perspectiva, 1996.
Fink, Guido. No solo Woody Allen. La tradizione ebraica nel cinema americano
Veneza: Marsilio, 2001
Goldberg, Judith N. Laughter Trough Tears: The Yiddish Cinema. East Brunswick,
N.J.: Associated University Presses, 1983.
Goldman, Eric A. Visions, Images and Dreams: Yiddish Film Past and Present. Ann
Arbor, Mich.: UMI Research Press, 1983.
Gonzaga, Alice. Palácios e Poeiras: 100 Anos de Cinema no Rio de Janeiro. Rio de
Janeiro, RJ: Ed. Record, 1996.
Vários Autores, Il cinema jiddisch, Catalogo della rassegna organizzata dal Goethe-
Institut di Genova, Milano, Napoli, Roma, Torino e Trieste, a cura di Roberto
Turigliatto e Hans Winterberg, Torino 1981
BIBLIOGRAFIA 73
Jornais
Links
The Rutenberg and Everett Yiddish Film Library of The National Center for Jewish
Film - http://www.brandeis.edu/jewishfilm/yiddish2.html
Referências iconográficas
família de imigrantes judeus-romenos na praça onze, Rio de Janeiro, década de 40. ............ 1
família de imigrantes judeus-romenos na praça onze, Rio de Janeiro, década de 40. Todos
falavam o ídiche. (álbum familiar da autora) ...................................................................... 1
Judias Romenas da cidade de Iedenitz, antes da 2a. Guerra Mundial.................................... 6
Moishe Oysher em Der Vilner Shtot Hazan (Overture to Glory; EUA, 1939), como um chazan
da Sinagoga de Vilna. Ao contrário do The Jazz Singer, ele deixa sua família e religião
para se transformar em um famoso cantor da Ópera de Varsóvia. Entre a culpa e o
sucesso, resolve voltar para sua comunidade. Considerado o filme com cenas mais
realistas sobre os cultos em sinagogas, o filme inicia com o culto do Rosh Hashana e
termina com o Kol Nidre, formando uma das mais representativas rimas da
cinematografia ídiche. ...................................................................................................... 13
sequência inicial de “Der Dibbuk” (Varsóvia, 1937-38) ........................................................... 16
Molly Picon em East and West ( Mazal Tov; Sidney Goldin,1923) ......................................... 17
Esther-Rokhl Kaminska – a Deusa Judia - e Ida Kaminska. Mãe e filha, no cemitério de Vilna
em “Tkies Kaf” (Polônia, 1924), dirigido por Zygmunt Turkow......................................... 20
Sala de cinema na Bielorússia em 1914 ................................................................................. 22
A Brivele der Mamen (1911) .................................................................................................... 24
Cartaz da peça The Jewish King Lear encenada em Nova Iorque em meados de 1900 ...... 26
Cartaz do filme The Jewish King Lear of Vilna (U.S.A., 1935) .............................................. 26
Willet St. Theater, um nickelodeon no Brooklyn com cartazes em Ídiche e Inglês – 1913.
Sentado à esquerda, Joseph Seiden, que iria se transformar num dos primeiros
produtores de cinema ídiche em Nova Iorque. ................................................................ 28
Tamara Adelheim em His Excellency (URSS, 1928) .............................................................. 29
Cartaz do filme Jewish Luck (1925), com Solomon Mikhoels em destaque. Design de Natan
Altman. Percebe-se o uso de formas geométricas combinando palavras e imagens,
característica da vanguarda Construtivista Russa, da qual fez parte Marc Chagall,
Wassily Kandinsky, Alexander Rodchenko, Nikolay Prusakov e os irmãos Stenberg.
Chagall, inclusive, elaborou diversos cenários para o teatro ídiche. ............................. 30
Zygmunt Turkow, que iria trabalhar no Brasil, em dois momentos de Tkies Khaf (Polônia,
1924), onde foi diretor e ator. ........................................................................................... 31
No cemitério de Vilna, ele está à esquerda contracenando com Henryk Tarlo. ..................... 31
Al Jonson reza o Kol Nidre em “The Jazz Singer” (E.U.A., 1927) .......................................... 32
O Judeu Errante (Der Vanderner Yid; George Roland , 1933) é considerado o primeiro filme
Americano a descortinar a situação dos judeus na Alemanha Nazista e único filme de
sua época falado em ídiche a explorar o assunto. O filme foi uma resposta dos judeus
americanos ao regime nazista. Foi produzido pelo Jewish American Film Arts e Atlas
REFERÊNCIAS ICONOGRÁFICAS 76
Studio em Long Island, Nova Iorque durante o verão de 1933, alguns meses depois que
o refime nazista tomou o poder na Alemanha. ................................................................ 35
Uncle Moses (1932)................................................................................................................. 36
Maurice Schwartz como Tevie, o leiteiro, dirige uma cena de O Violinista no Telhado (Tevye
der Milkhiker; U.S.A., 1939) ............................................................................................. 38
A noiva Leah (Lili Liliana) é cercada pelos pobres (muitos recrutados nas ruas de Varsóvia)
na “Dança dos Pobres” coreografada por Judith Berg para A Alma Errante (1937) ....... 39
Molly Picon se veste de menino para tocar violino em Yidl Mit'n Fidl, um dos maiores
sucessos comerciais da filmografia ídiche ....................................................................... 40
poster de Verdes Campos (USA, 1937) de Edgar G. Ulmer, .................................................. 41
um dos maiores sucessos comerciais da cinematografia ídiche, estrelado pelo Yiddish art
and Artef Theatre.............................................................................................................. 41
poster de A Curva do destino (1945), dirigido por Ulmer ao ingressar na Producers Releasing
Corporation (PRC). ........................................................................................................... 41
The American Matchmaker (1940), último filme ídiche de Ulmer. .......................................... 43
Moishe Oysher em The Singing Blacksmith. ........................................................................... 44
Restaurado pelo National Center for Jewish Film em 1998, The Singing Blacksmith foi dirigido
por Edgar Ulmer em 1938, baseado no drama de David Pinski Yankl der Schmid (1906).
Roteirizado para o cinema pelo próprio Pinski, o filme é estrelado pelo famoso cantor
Moishe Oysher no papel título de um ferreiro mulherengo e beberrão e narra sua luta
para resistir às tentações. ................................................................................................ 44
Adaptado da peça de Peretz Hirschbein, Verdes Campos (U.S.A., 1937) de Edgar G. Ulmer
foi o primeiro filme americano falado em ídiche filmado fora dos estúdios. .................... 44
Molly Picon é a estrela de Mamele (1938) de Joseph Green ................................................. 45
Longo é o Caminho (“Lang is Der Veg”)- foi realizado na Alemanha ocupada pelos E.U.A em
1948.................................................................................................................................. 46
77 minutos P&B ....................................................................................................................... 46
11-4-1946 – Jornal Israelita anuncia a exibição de “Der Idisher Kenig Lir” no Cine São Carlos
.......................................................................................................................................... 49
Jornal Israelita 15-09-1945 – anúncios de sessão passatempo no Capitólio ......................... 52
Jornal Israelita 22-09-1945 – crítica do filme russo “Arco Íris” no Cine Odeon....................... 53
Jornal Israelita 10-11-1945 – anúncio de “Alma Russa”com Paul Muni ................................. 55
No Jornal Israelita eram anunciados filmes ídiches lado a lado com apresentações de teatro
ídiche. esta edição de 17-6-1948 anuncia o filme Yossef in Mizraim a ser exibido no Cine
São Carlos juntamente com peça estrelada por Moishe Oysher no teatro Recreio. ....... 57
Jornal Israelita de ................................................................................................................... 58
26-8-1948 anuncia ................................................................................................................... 58
a exibição de............................................................................................................................ 58
Der Idisher Niguen no São Carlos. .......................................................................................... 58
REFERÊNCIAS ICONOGRÁFICAS 77
Acima, anunciada noite de arte ídiche no Teatro Municipal, com obras de Rosenblat,
eternizado nos filmes ídiches, mostrando a liberdade de expressão e intensa vida
cultural do ídiche na comunidade judaica no Rio de Janeiro de 1948............................. 58
Em contrapartida, pode-se ter uma idéia do contexto político vivido no pós-guerra na Europa,
a partir da notícia sobre o forte anti-semitismo na Alemanha.......................................... 58
Jornal Israelita de 15-8-1946 anuncia em ídiche a exibição de A Última Porta (The Last
Chance; Thomas Bentley,1937) ....................................................................................... 62
Jornal Israelita (19-8-1948) anuncia a exibição de Der Idicher Ninguen ................................ 63
Regina Duarte em transe ao incorporar o Diabo, em Dibuk, o Demônio, apresentado no
programa Caso Especial da Rede Globo em 1972.......................................................... 64
Mostra no Rio de Janeiro que exibiu ....................................................................................... 67
“Os Dois Amores do Ferreiro” de Edgar G. Ulmer .................................................................. 67
Matéria sobre Sonhos Tropicais na Revista Veja de abril de 2002. ....................................... 69
ANEXO 1 - FILMOGRAFIA 78
Anexo 1- Filmografia
Yom Hachupa The Wedding Day POLÔNIA Mintus Company 1924 A Slavinski
Motele Shpinder Motel the Weaver URSS Vufku 1928 Vladimir Vilner
Shir Hashirim Song of Songs EUA Globe Pictures 1935 Henry Lynn
My Son Mein Zundele EUA Jewish Talking 1939 Joseph Seiden relançado em 1950 como
Pictures Co. The living Orphan
Tevya Tevje / Tevie EUA Mayman Films Inc. 1939 Maurice
Schwartz
ANEXO 1 - FILMOGRAFIA 83
Her Second Mother Ir Tsveyte Mame EUA Cinema Service 1941 Joseph Seiden
Corporation
Mazel Tov Yidden EUA Cinema Service 1941 Joseph Seiden
Corporation
The Jewish Melody The Jewish Song / Der EUA Cinema Service 1941 Joseph Seiden
Yiddisher Nigh Corporation
What a Mother-in- EUA Cinema Service 1934? Harry S. Brown e
law Corporation ou Harry Garson
1940?
God, Man and Devil Got, Mentsh ,un Tayvl EUA Aaron Films 1950 Joseph Seiden
Corporation
Monticello Here We EUA Cinema Service 1950 Joseph Seiden
Came Corporation
The Great Advisor Der Groyseretz Gever EUA Cinema Service 1950 Joseph Seiden
Corporation
Jews in Poland POLÔNIA Polish State Film 1957 B. Ladowicz documentário
Studios
Three Daughters EUA Cinema Service 1961 Joseph Seiden
Corporation
Há Martef The Cellar ISRAEL 1963 Natan Gross
Hester Street EUA 1975 Joan Micklin
Silver
Bruxelles-transit Bélgica 1980 Samy
Szlingerbaum
Fanny och SUÉCIA/ 1982 Ingmar Bergman
Alexander ALEMANHA
/FRANÇA
Almonds and EUA 1984 Russ Karel documentário
Raisins
Há Makah The 81st Blow ISRAEL 1984 David Bergman e documentário
Hashmonim Jacques Ehrlich
V'Echad
Everything's for you EUA 1989 Abraham Ravett
Mazel Tov BRASIL 1990 Flávia Seligman curta-metragem
e Jaime Lerner
Nifradnu Kach So We Said Godbye ISRAEL 1991 Jorge Gurvich
Moi Ivan, toi Ivan and Abraham FRANÇA/ 1993 Yolande
Abraham BIELORRÚ Zauberman
SSIA
The Last Klezmer: EUA 1994 Yale Strom Documentário
Leopold Kozlowski,
His Life and Music
Aretz Hadasha ISRAEL 1994 Orna Ben-Dor
Niv
Too Early to be ISRAEL 1995 Nadav Levitan documentário
Quiet, Too Late to
Sing
A Tickle in the Heart ALEMANHA 1996 Stefan Schwietert documentário
/SUÍÇA
Chants of Sand and FRANÇA/ 1996 Nicolas Klotz Documentário
Stars CANADÁ/
BÉLGICA
/ISRAEL/
HOLANDA
Von Holle zu Holle From Hell to Hell Germany 1996 Dmitri Astrakhan
L'Homme Est une FRANÇA 1998 Jean-Jacques
Femme Comme les Zilbermann
Autres
Shalosh Achayot ISRAEL/ALE 1998 Tsipi Reibenbach
MANHA
Alabama: 120
Alaska: 12
Arizona: 921
Arkansas: 72
California: 12691
Colorado: 704
Connecticut: 2188
Delaware: 202
District of Columbia: 113
Florida: 27363
Georgia: 572
Hawaii: 56
Idaho: 0
Illinois: 6751
Indiana: 432
Iowa: 231
Kansas: 77
Kentucky: 157
Louisiana: 137
Maine: 202
Maryland: 3660
Massachusetts: 4126
Michigan: 2550
Minnesota: 843
Mississippi: 27
Missouri: 1250
Montana: 0
Nebraska: 219
Nevada: 515
New Hampshire: 213
New Jersey: 11569
New Mexico: 120
New York: 117323
North Carolina: 316
North Dakota: 15
Ohio: 2907
Oklahoma: 71
ANEXO 2 87
Oregon: 220
Pennsylvania: 9844
Rhode Island: 494
South Carolina: 193
South Dakota: 17
Tennessee: 251
Texas: 1270
Utah: 57
Vermont: 78
Virginia: 641
Washington: 386
West Virginia: 37
Wisconsin: 835
Wyoming: 16
Total 213064
ANEXO 3 88
No princípio era uma vila na Praça Onze. No centro, um jardim onde, além de
árvores e frutos, enfileiravam-se tanques de lavar roupa. Seu nome: Éden. À sua volta,
sobrados habitados por imigrantes judeus da Europa Oriental, refugiados do pós-
guerra, que chegaram em massa ao Rio nos anos 20.
- Papai não conversa muito com a gente sobre as suas origens - comenta a
recatada Sheiva, cujo nome em homenagem à avó religiosa soa estrangeiro, ao
contrário da irmã, Ana Carla, e do irmão, Mauro Sérgio. Talvez por isso leve tão a
sério a possibilidade de se converter, como confidencia sua mãe, Celi, que não é judia:
- Quero ajudá-la - comenta Celi, tendo ao lado a amiga Airina (nome alemão),
que sabe mais de judaísmo do que ela e Pinduca:
- Eram tempos bons. Na páscoa judaica, a gente comia aquelas bolachas deles
(o pão ázimo). Lembro-me do shoichale (o açougueiro) que matava galinhas, e da
dona Malke, que fazia a lavagem ritual para os enterros.
- Aqui não tinha preconceito. Casei com a Celi, que é mulata. Uma vez estava
com meu pai no barbeiro e chegou um schwartze com um jornal iídiche na mão. O
ANEXO 3 89
pessoal ficou curioso: você sabe ler isso? O rapaz começou a ler em voz alta: um
iídiche perfeito, ficou todo mundo de boca aberta.
Pinduca nunca vai à sinagoga e não tem mais o seu kipá(solidéu). A única
conexão que mantém com a tradição - além da circuncisão, atestada por Celi - é a
visita anual ao cemitério de Vila Rosaly, onde estão sepultados os pais, Pedro e
Sheiva. Outra conexão, com a culinária, começa a retomar por vias inesperadas, como
explica a mulher:
- Tenho uma tia, a Isabel, que trabalhou como cozinheira em casa de judeus e
hoje tem um bufê de comida judaica. Uma das clientes é a dona da Rachel Presentes.
De vez em quando ela manda varenique, aquela massinha com cebola.
- Mas da última vez estava meio seca... - protesta Pinduca. - Minha mãe fazia
com gordura de galinha, era mais gostoso! - recorda.
Se Isabel vai bem nos negócios, a sorte sorriu menos para Pinduca e seus oito
irmãos: contrariando o estereótipo do judeu bom-de-loja, seu pai, um antiquário, não
era negociante dos mais bem aquinhoados:
- Papai sabia comprar como ninguém, mas vender que é bom não vendia. E
não queria ouvir os outros. Era só alguém dar conselho que ele reagia: "o que você
sabe da vida"? - lamenta Pinduca, sentado no terraço do sobrado de Armêmio Pereira
da Silva, presidente da Associação de Moradores e Amigos da Vila Dr. Alberto
Siqueira (Amovas).
- Hoje em dia não deve nem ter mais onde comprar o pão trançado e aquele
vinho doce gostoso, não é?
ANEXO 3 90
A noite cai.
ANEXO 4 91
27-10-1945
ANEXO 4 93
ANEXO 4 94
22-8-1946
15-7-1948
ANEXO 4 95
22-7-1948
96
***FIM***