Sei sulla pagina 1di 19

Acompanhamento Arqueológico das Obras no Adro da

Igreja da Atalaia (Montijo): Parcas Evidências da


Necrópole Cristã.
Liliana Campeão dos Santos*
Linda Mendes Melo**

RESUMO:
Notícias sobre os trabalhos arqueológicos de emergência realizados durante a construção da
Creche Nossa Senhora da Atalaia, localizada nas imediações da Igreja da Atalaia (monumento
classificado como de Interesse Público), no centro histórico desta localidade.
As autoras referem a presença de indícios da Necrópole ainda existente no Adro e no interior
da Igreja da Atalaia, bem como, identifica algumas estruturas e artefactos arqueológicos que
ajudam a compreender parte da História deste monumento religioso com reminiscências desde
o século XV/ XVI.

ABSTRACT:

News about the archaeological work carried out during construction of the kindergarden of
Nossa Senhora da Atalaia, located near the Church of Atalaia (classified as a monument of
public interest), in a historic center of this town.
The authors mentions the vestiges of a necropolis still existing in the churchyard and inside the
church of Atalaia, and identifies some structures and archaeological artefacts, that help to
understand some of the history of this religious monument with reminiscences from the fifteenth
and the sixteenth centuries.

RÉSUMÉ:

Nouvelles sur les travaux archéologiques réalisés pendant la construction de la crèche Nossa
Senhora da Atalaia, situé près de l'église de la Atalaia (classifié monument d'intérêt public) dans
le centre historique de cette ville.
Les auteurs disent avoir des preuves de la nécropole qui existent encore dans le cimetière et
l’intérieur de l’église de Atalaia et identifie certaines structures et des objets archéologiques qui
aident à comprendre un peu l’histoire de ce monument religieux avec des réminiscences du
XVe et XVIe siècle.

* Arqueóloga. Serviço de Arqueologia do Museu Municipal. Câmara Municipal de Montijo.


** Bioantropóloga. Centro Português de Geo-História e Pré-História.

1
1. Introdução: Razões da Intervenção

Na sequência das obras de construção da Creche Nossa Senhora da Atalaia, e após ter sido
detectado espólio osteológico na abertura de uma vala para a instalação do sistema de
saneamento do edifício, o Serviço de Arqueologia do Museu Municipal de Montijo, a pedido do
Centro Social e Paroquial da Nossa Senhora da Atalaia, deslocou-se a este sítio na segunda-
feira, dia 4 de Maio de 2009, para avaliar o local.

Este serviço, desde logo, aludiu à necessidade do acompanhamento arqueológico desta obra
localizada numa área particularmente sensível do ponto de vista patrimonial, e integrada na
Zona de Servidão Administrativa da Igreja da Atalaia, imóvel classificado como de interesse
público em 2009.

Após verificar que toda a zona do subsolo já estava revolvida e as construções anexas já
tinham sido demolidas sem o respectivo acompanhamento arqueológico, a signatária,
considerando o carácter de emergência de que estes trabalhos se revestiam, e de acordo com
as indicações recebidas pela Direcção Regional de Cultura de Lisboa e Vale do Tejo e o
IGESPAR, I.P., sugeriu que se parasse a obra até à entrada efectiva da equipa de arqueologia,
que iria assegurar o acompanhamento e a monitorização de todos os trabalhos futuros.

A análise que nos foi possível efectuar in loco leva-nos a pensar que, no decorrer da obra,
provavelmente, se terão destruído antigas fases de ocupação do núcleo antigo da Atalaia.
Passamos a descrever a análise que nos foi possível efectuar:

- No pátio interno, entre a parede Sul da Igreja da Atalaia e o novo edifico em construção, o
subsolo estava muito revolvido, com um nível de aterro considerável, cujos cortes
estratigráficos, deixados ao acaso, eram frugais indicadores da realidade estratigráfica do local.

- Foi detectado um muro sem fundações, anteriormente conexo à parede Sul da Igreja da
Atalaia que, possivelmente, terá tombado quando as movimentações no subsolo se
multiplicaram no pátio comum entre a Igreja da Atalaia e o novo edifício da Creche Nossa
Senhora da Atalaia.

- Junto à actual torre sineira da Igreja, numa área particularmente sensível mas já parcialmente
revolvida, foi detectada a presença de espólio osteológico humano constituído, inicialmente,
por uma diáfise de um perónio e a extremidade distal de um fémur. O espólio descrito não
aparentava, nesta primeira observação, estar em conexão anatómica.

2
Face à situação descrita anteriormente, a signatária limitou-se a realizar o registo fotográfico
exaustivo da realidade observada e a desenvolver um Plano de Trabalhos Arqueológicos de
emergência a fim de assegurar a respectiva salvaguarda e protecção do património, ainda
possível de ser resgatado, através do acompanhamento arqueológico.

Antes da execução dos trabalhos de acompanhamento, a equipa técnica de arqueologia,


atendendo à realidade observada anteriormente, decidiu reunir com o Dono da Obra para
delinear prioridades, as quais passamos a mencionar:

- Face à sensibilidade arqueológica na zona onde se detectou o espólio osteológico humano,


ficou acordado que a equipa de arqueologia iniciaria os trabalhos neste local.

- O registo das valas abertas ao longo da parede sul da Igreja da Atalaia (zona de entulho), só
poderá ser executado aquando da deslocação do muro tombado e da remoção do entulho
presente neste local.

Área com revolvimento do


subsolo e com Entulho.

Localização do muro antes de ruir

Área onde se identificou o espólio osteológico

Fig.1 – Zona mais sensível da obra Creche Nossa Senhora da Atalaia, observada antes dos trabalhos
arqueológicos.

3
O Plano de Trabalhos Arqueológicos foi aprovado pela Direcção Regional da Cultura e Vale do
Tejo e pelo Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico, IGESPAR. I.P.,
através do ofício n.º. 2009/1 (319). Os trabalhos iniciaram-se no dia 18 de Maio de 2009.

4
2. Enquadramento Geológico e Geográfico

A geologia da região do Montijo é caracterizada pela ocorrência de formações sedimentares


datadas do Miocénico, do Pliocénico e do Quaternário (FIGUEIREDO, SANTOS, 2006, 13) e
está marcada pela presença de acidentes tectónicos, em especial a “falha do vale do Tejo”,
que condicionou a geologia e a geomorfologia de toda a região do estuário do Tejo.

O centro histórico da Atalaia, situado num monte, dominante sobre a secção nascente do
estuário do Tejo (CÂMARA, 2008, 105), do qual se avista a Sul o castelo de Palmela, a Norte
Alcochete, e a Este o Rio Frio, está implantado sobre uma cota de 60 metros e encontra-se
integrado numa das formações sedimentares do Pliocénico de Santa Marta. Esta formação,
resultou de um pequeno mar que parece ter coberto a maior parte da península de Setúbal,
entre Lisboa e a Arrábida, formando um golfo que avançava desde o Montijo até ao Pinhal
Novo (ZBYSZEWSKI & FERREIRA, 1968, 8).

Os trabalhos no subsolo decorreram, assim, em areias sedimentares de grão médio a fino, de


gradação clara, verificando-se, por vezes, a ocorrência de terrenos arenosos mais argilosos de
coloração laranja a creme.

Igreja de Nossa Senhora da Atalaia.


Fig.2. Localização da Igreja e Cruzeiros da Atalaia, Concelho de Montijo. Fonte cartográfica: Carta Militar
de Portugal escala de 1:25000, folha n.º 432, 1992.

5
3. Enquadramento Histórico do local

O Concelho de Montijo aparece dividido em dois núcleos descontínuos. Esta situação


proporcionou-se quando, em 1838, se deu a reorganização administrativa do País, tendo o
antigo Concelho de Canha sido extinto, passando a integrar o Concelho de Aldeia Galega do
Ribatejo (actual Montijo).

Neste sentido, do núcleo Ocidental fazem parte as freguesias de Montijo, Afonsoeiro, Sarilhos
Grandes, Alto Estanqueiro/Jardia e Atalaia, e do núcleo Oriental fazem parte as freguesias de
Santo Isidro de Pegões, Pegões e Canha, formando um total de oito freguesias.

A freguesia de Atalaia, pertence ao Concelho de Montijo e foi criada a 4 de Outubro de 1985.


Dos monumentos existentes no centro histórico da freguesia destacam-se, a Igreja de Nossa
Senhora de Atalaia e três cruzeiros, ambos integrados na malha urbana da freguesia. Apesar
da freguesia só ter sido criada em 1985, esta é um dos locais mais antigos, pois já em 1306 se
ouvia falar de uma “carreira da Atalaia”, que fazia ligação a Aldeia Galega do Ribatejo.

A Igreja de Nossa Senhora da Atalaia apresenta uma implantação estratégica, com vista
privilegiada sobre todos os pontos cardiais – a Oeste para o Estuário do Tejo, a Este para o Rio
Frio, a Norte para Alcochete e a Sul para o Castelo de Palmela. A sua origem poderá remontar
ao século XV (MARQUES, 2005, 41), embora a sua pormenorizada descrição esteja
confirmada desde o século XVI (visitações da Ordem de Santiago a este templo religioso, em
1512, 1525, 1609 e 1613). Remotamente conhecida como Ermida de Santa Maria da Atalaia,
este templo religioso poderá ter tido dimensões inferiores às observadas actualmente. Este
imóvel parece ter sofrido diferentes campanhas de obras. Da campanha seiscentista resta uma
lápide, colocada no pavimento interior da igreja, que confirma um revestimento azulejar anterior
ao que actualmente subsiste (CÂMARA, 2008, 107). Reedificado no século XVIII, esta
campanha conferiu as características artísticas que hoje possui.

Tornando-se num local de culto logo no início de quinhentos, a Atalaia é, desde então, palco de
festividades e de visitas de peregrinos de vários círios.

O Santuário não se limita e circunscreve ao templo religioso, mas é constituído por três
cruzeiros, por uma “Fonte Santa” e pelo casario que ladeia a escadaria, que se estende da
Igreja até ao terreiro, e cuja função de algumas casas era de albergar os círios.

6
Dos três cruzeiros, o que mais se destaca é o quinhentista de pedra lioz, mandado construir
pela confraria de Lisboa, em 1551, que se encontra no terreiro. Acha-se coberto por um cúpula
e com a representação da Pietá e da crucificação de Cristo.

Fig.3 – Cruzeiro-mor localizado a poente (Oeste) da Igreja da Atalaia e mandado realizar, em


1551, pela Confraria de Lisboa.

7
4. Descrição dos Trabalhos Arqueológicos

Os trabalhos arqueológicos iniciaram-se com o levantamento topográfico do sítio. A equipa de


arqueologia, com a colaboração do Serviço de Topografia da Câmara Municipal, procedeu ao
levantamento do local, de forma a permitir a execução, implantação e georreferenciação das
diferentes sondagens previstas e o registo das diferentes realidades que pudessem ocorrer ao
longo do acompanhamento arqueológico.

Durante os trabalhos de acompanhamento foram abertas seis valas e duas sondagens


arqueológicas. Ambas as sondagens foram executadas no sector 2 (pátio interno entre a Igreja
da Atalaia e o edifício da creche em construção), foram orientadas para diagnosticar o local,
antes da colocação de infra-estruturas previstas, bem como, para avaliar o potencial arqueo-
estratigráfico do sítio. Com vista a reunir um conjunto de elementos que permitissem
caracterizar, em termos cronológicos, tipológicos, morfológicos e funcionais, as eventuais
ocupações antrópicas que aqui tiveram lugar.

4.1. Sondagem 1

A sondagem 1 foi implantada entre a parede Sul da Igreja da Atalaia e o edifício da Creche de
Nossa Senhora da Atalaia, no local onde se detectou espólio osteológico humano
aparentemente desconexo. A sondagem seguiu o sistema de georreferenciação nacional,
fixando-se numa malha quadriculada irregular, pois o espaço entre a parede Sul da Atalaia e o
novo edifício da creche apresentava dimensões muito reduzidas, tendo sido a quadriculagem
ajustada ao local. Desta forma, a sondagem 1, com cerca de 1 metro de largura por 2 metros
de comprimento, está subdividida em 4 quadrículas, a V7, V8, V9 e a V10. Para a adopção da
quadriculagem, convencionou-se seguir uma referência mista de letras, no sentido Oeste-Este,
e de números, no sentido Norte-Sul.

A estratigrafia deste local evidenciou a distinção de duas áreas. Uma localizada a Sul, junto à
parede do edifício da Creche, caracterizada pela presença de níveis de aterro, e outra, a Norte,
junto à parede da Igreja da Atalaia, com níveis arqueológicos preservados.

A primeira, descrita anteriormente, é o reflexo da actual intervenção, sendo as unidades


estratigráficas [100], [101], [105], [106], [107], [109], [112], [118], [120], [121] e [122]
contemporâneas. Correspondem a depósitos de aterro, sapatas, estruturas e valas de
fundação realizadas para a fundação e construção do edifício da creche.

Na segunda área, localizada a Norte, detectamos níveis arqueologicamente preservados, cujas


estratigrafias de topo foram parcialmente alteradas ao longo da execução da obra.

8
Podemos detectar duas estruturas de fundação, tais como:

- Estrutura de cantaria (u.e. [102]), constituída por aparelho de calcário, arenito e


conglomerados fósseis, aparelhados toscamente e ligados com argamassa e cal, de gradação
clara. Esta poderá corresponder à antiga parede frontal da Casa dos Círios da Vila de Palmela.

- Parede de alvenaria de pedra (u.e. [110]), composta por aparelho de pedra calcária e arenito,
com a inclusão, ocasional, de mármore, de pedra basáltica e de cerâmica de construção,
ligados por uma argamassa de coloração bege amarelada. Poderá ter pertencido, na época
Moderna, à fundação da antiga Casa do Coro, anteriormente anexa à Igreja da Atalaia, através
do aproveitamento desta, para a construção da actual torre sineira.

Fig.4 – Anterior Casa do Coro localizada a Sul da Igreja da Atalaia. Local da actual torre sineira da Igreja
da Atalaia. Cópia se um desenho original de Barbosa Lima. Fonte: (L.MARQUES, 1996, 79).

Antes da execução da sondagem, detectou-se espólio osteológico solto, e aparentemente


desconexo, mas quando se iniciou a decapagem do plano n.º 1, pôde-se observar, que estes
elementos ósseos pertenciam a uma inumação primária. Dos elementos ósseos observados,
apenas os antebraços, mãos, vértebras cervicais, dois fragmentos de crânio e algumas
vértebras torácicas se apresentavam in situ, os restantes elementos, estavam desconexos,
devido à execução da actual obra.

Verificou-se também, durante a observação da inumação, que o lado esquerdo do esqueleto se


encontrava debaixo da parede de alvenaria, u.e. [110], pensando-se que o mesmo fora
parcialmente destruído, aquando da construção da antiga Casa do Coro, presente
anteriormente neste local e do qual só resta a fundação. Possivelmente foi aproveitada para a
edificação da torre sineira que hoje aqui se afigura.

9
O esqueleto exumado estava orientado à maneira tradicional cristã, Oeste-Este (cabeça-pés),
num covacho simples e encontrava-se deposto em decúbito dorsal. Os antebraços
encontravam-se cruzados e o crânio apresenta-se por debaixo da parede de alvenaria,
observando-se apenas dois fragmentos do mesmo. O esqueleto poderá corresponder a um
indivíduo adulto, cuja diagnose sexual não foi possível apurar devido, por um lado, ao estado
de conservação em que os elementos ósseos se encontravam, por outro, devido à fragilidade
dos ossos depois da destruição acidental, aquando da aplicação de duas soleiras de porta por
parte do empreiteiro da obra.

Fig.5 – Plano do enterramento n.º 1.

A destruição acidental do espólio osteológico colocou, sem dúvida, um entrave na identificação


de algumas peças ósseas, bem como, na identificação da lateralidade. No que respeita a
possíveis patologias, os ossos foram observados cuidadosamente nesse sentido, quer em
campo, quer em laboratório, não apresentando indícios de situações patológicas.

4.2. Sondagem 2

A sondagem 2 foi implantada na zona Este da Igreja, no pátio externo posterior, junto à parede
Este da antiga torre sineira. Esta seguiu um sistema de georreferenciação nacional, fixando-se
numa malha quadriculada regular de 2 metros de largura, por 2 metros de comprimento e foi
subdividida em quatro quadrículas A1, A2, B1 e B2. Para além da estrutura de fundação da
torre sineira, não foram detectados níveis arqueológicos preservados, decorrendo os trabalhos
em níveis de aterro.

10
4.3. Acompanhamento Arqueológico

Para a realização do acompanhamento arqueológico, este local foi dividido em 3 sectores. O


Sector 1, corresponde ao pátio interno da Creche Nossa Senhora da Atalaia, localizado no
interior deste edifício. O Sector 2 equivale, tal como já foi mencionado, ao pátio comum, entre o
novo edifício da Creche e a parede sul da Igreja da Atalaia. O Sector 3 estabelece-se junto à
fachada principal do edifício da Creche.

No primeiro sector foram abertas as valas 1 e 2, antes da entrada de arqueologia. A abertura


destas valas está relacionada com a colocação de caixas de saneamento e com o
rebaixamento do piso para a colocação do pavimento neste local. Foi possível recolher, em
contextos de aterro, fragmentos de azulejo modernos e contemporâneos, fragmentos de
cerâmica comum, vidrada e faiança da época moderna e fauna.

O Sector 2, corresponde à zona mais sensibilizada no decorrer da obra. Foram executadas as


sondagens 1 e 2, e abertas as valas 3 e 6. O aterro existente nesta área denúncia a abertura
de valas sem acompanhamento arqueológico, e a respectiva destruição de algumas estruturas
anteriormente existente neste local. Após a remoção do muro e do entulho, presente no local,
foi possível reconhecer, parcialmente, uma porta com lintel em cantaria que se apresentava
emparedada com tijolo, já anteriormente referida, e uma escada de alvenaria de pedra,
possivelmente, correspondente ao acesso posterior à Casa do Coro.

A escada, trata-se de uma unidade estratigráfica complexa, com diferentes fases construtivas,
possíveis de observar através do aparelho que a compõe. A mesma é constituída por blocos de
calcário, arenito e tijolo, sem furos, ligados por argamassa de areia e cal, de coloração
amarelada. A parte superior desta estrutura, apresenta um degrau principal, seguido de
degraus em pedra, reaproveitados de outros locais. A segunda camada é composta por tijolo,
ligado por argamassa e finalmente, a terceira composta por blocos de arenito, ligados por
argamassa amarelada.

11
Fig.6 - Escada Identificada junto à Casa do Coro, u.e. [900] desenho original à escala de 1/10.

Para além desta estrutura, também foi possível, com a remoção do entulho existente no sector,
a detecção de uma escada contemporânea, composta por aparelho de alvenaria de tijolo de
quatro furos, ligada por argamassa, cujas extremidades foram rematadas com
reaproveitamento de alguns blocos de calcário e mármore branco, trabalhados e alisados.
Tratam-se, provavelmente, de elementos construtivos de anteriores construções neste local. A
sua destruição estava prevista tendo, a equipa, monitorizado esta acção.

No acompanhamento destes trabalhos foi possível reconhecer que o enchimento da mesma foi
preenchido com entulho variado composto, maioritariamente, por fragmentos de cerâmica de
construção, nódulos de argamassa, fragmentos de faiança e, em grande quantidade, azulejos
azuis e amarelos do século XVII, similares aos existentes na Capela-mor da Igreja de São
Braz, no Samouco (Alcochete).

A definição da vala 3 revelou a presença de materiais arqueológicos, em contexto de aterro,


dos quais se distinguem, fragmentos de cerâmica de construção e vidrada, fragmentos de
faiança, incluindo um prato com decoração em azul de cobalto, ferro e fauna. A vala atingiu o
nível geológico.

12
Fig.7 – Prato em faiança da segunda metade do século XVII, identificado na vala 3.

13
5. Breves Considerações sobre o Conjunto Artefactual

A maioria do conjunto artefactual recolhido no âmbito do acompanhamento, é constituído,


maioritariamente, por:

- Fragmentos de cerâmica comum, onde predominam as formas de panelas e alguidares;

- Fragmentos de cerâmica vidrada, com escorridos (melado e verde melado), onde


predominam as formas de alguidares e panelas;

- Fragmentos de faianças dos séculos XVII e XVIII, com decoração em semicírculos, florais e
de linhas contíguas, em azul de cobalto, onde predominam as formas de pratos, taças e
alguidares;

- Fragmentos de cerâmica contemporânea, onde predominam as formas de pratos e taças;

- Fragmentos de azulejos policromos do século XVII.

Os materiais arqueológicos identificados no âmbito da Sondagem de Diagnóstico 1 contam


com fragmentos de cerâmica comum e de construção, fragmentos de azulejos, fragmentos de
faiança e um botão das épocas Moderna e Contemporânea.

Apresentamos o gráfico com o material recolhido na Sondagem1.

3,20%
6,50% 12,90%
Cerâmica Comum Contemp.
3,20%
Cerâmica de Construção Contemp.
3,20%

Cerâmica Comum Moderna


3,20%
Frag. Azulejos Contemp.
3,20%
Frag. Azulejos Modernos
3,20%
Frag. Faianças

Amostra de Madeira

Botão
41,90%
19,40% Amostra de fósseis

Amostra de Argamassa

Gráfico 1 – Materiais recolhidos na Sondagem 1.

14
Os materiais arqueológicos identificados na Sondagem 2 foram recolhidos em contexto de
aterro, compostos, essencialmente, por fragmentos de azulejos; fragmentos de cerâmica
comum e vidrada; fragmentos de loiça em faiança da época Moderna; fragmentos de cerâmica
de construção; fragmentos de vidros; alfinetes; pregos; amostras de cal; amostras de
argamassa; amostras de estuque; fragmentos madeira e um numisma do Século XIV – dinheiro
de D. Pedro I (1357-1367)1.

Apresentamos o gráfico com os diferentes materiais identificados.

1% 1%
1% 6%
8%
2%
Frag. Azulejo
1%
17% Cerâmica Comum
5% Cerâmica Vidrada
Frag. Faiança
5% Cerâmica de Construção
Frag. Vidro
5% Amostra de Argamassa
Numisma
Alfinetes
Pregos
Amostra de Cal
15%
Frag. Estuque
Madeira
33%

Gráfico 2 – Materiais recolhidos na Sondagem 2.

1
Anverso: Cruz cantonada por crescentes e estrelas; Legenda: . P REX PORTUGL. Reverso: Cinco
escudetes carregados de besantes, dispostos em cruz; Legenda: AL / GA / RB / II. Classificação realizada
pelo Dr. José Ruivo e processo de conservação e restauro realizado pelo Laboratório de Conservação do
Museu Monográfico de Conímbriga.

15
Considerações Finais

Apesar da execução da construção da creche de Nossa Senhora da Atalaia ter decorrido, na


parte inicial, sem o devido acompanhamento arqueológico, a intervenção logrou afinar novos
resultados sobre a História deste elemento religioso, e sobre a necrópole presente neste local.

A existência da anterior Ermida de Santa Maria da Atalaia é mencionada desde os finais do


século XV (marques, 2005, 41). As visitações realizadas pela ordem de Santiago de 1512,
1525, 1609 e 1613, já mencionam a existência deste templo religioso. A visitação de 1512 faz,
inclusivamente, menção à presença de uma necrópole neste edifício religioso, aludindo ao
ritual cristão de, à segunda-feira, se benzerem os enterramentos existentes no adro, bem
como, a obrigatoriedade de pagamento das sepulturas no interior da Igreja. O posicionamento
do único enterramento detectado durante o acompanhamento, na sondagem 1, poderá
confirmar, que este, corresponde ao limite Sul da Necrópole presente no Adro, ainda existente
neste local, cuja área quase não foi afectada pela presente obra.

O facto de esta inumação ter sido identificada por debaixo das fundações da actual torre sineira
poderá confirmar que a ermida, anteriormente existente neste local, era de menor dimensão
que o edifício religioso actual e, consequentemente, a área de necrópole seria proporcional à
anterior medida da Ermida.

A realização da sondagem 1 permitiu aferir resultados importantes para a compreensão


histórica e arqueológica sobre a localidade da Atalaia. Assim, constatou-se que, para a
construção da actual torre sineira da igreja, foram aproveitadas antigas fundações da Casa do
Coro que se estendia, anteriormente, junto à parede Sul da Igreja, cuja porta e escada
correspondiam a um antigo acesso à Casa do Coro, a partir do pátio interior comum entre o
edifício religioso e os edifícios anexos. A estrutura, localizada a poente da sondagem 1, quase
destruída, corresponde ao que resta da parede frontal da casa dos círios da Vila de Palmela.

A realidade estratigráfica observada na sondagem 2, vem confirmar as diferentes obras a que


este sítio foi sujeito. No entanto, a antiguidade do local pode ser parcialmente confirmada com
a presença de um numisma do século XIV. Apesar de se pensar que, neste local poderiam
permanecer estruturas da Ermida primitiva, não foi possível confirmar a existência da mesma.
Futuros trabalhos poderão esclarecer algumas das interrogações aqui apresentadas.

16
Bibliografia Histórica e Arqueológica

ALMEIDA, F. A. (2004) – Roteiro do Concelho de Montijo: História, Património, Percursos.


Montijo: Câmara Municipal de Montijo.

BALDRICO, J. & LUCAS. I (s.d.) – Património Arquitectónico Religioso e Civil do Concelho de


Montijo. Texto Policopiado. Montijo: Câmara Municipal de Montijo.

CÂMARA, A. G (Cord.) ( 2008) – O Património Azulejar do Concelho do Montijo. Colecção de


Estudos Locais. Cultura. Edições Colibri. Câmara Municipal de Montijo.

CÂNCIO, Francisco (1938) – Ribatejo Histórico e Monumental. Lisboa.

COSTA, A. C. (1706) – Corografia Portugueza e descripção Topográfica do famoso Reyno de


Portugal. Lisboa: Oficina Valentim da Costa Deslandes.

COSTA, M. F. R. da (1887) – Narrativa Histórica da Imagem de Nossa Senhora da Atalaya.


Lisboa.

CRUZ, M. A. (1973) – A Margem Sul do Estuário do Tejo: Factores e Formas de Organização


de Espaço. Montijo: Edição de autor.

DIAS, M. B. (2001) – Economia Marítima de Aldeia Galega do Ribatejo. Montijo: Edição do


autor.

FIGUEIREDO, S.; COSTA, J.; NOBRE, L.; SOUSA, F. & RAPOSO, L. (2005) – Carta
Arqueológica do Concelho do Montijo: do Paleolítico ao Romano. Colecção Estudos
Locais. Lisboa: Edições Colibri. Câmara Municipal de Montijo.

FONSECA, F. da (1968) – Nossa Senhora das Alfândegas. 1507-1968. Lisboa.

FONSECA, F. B da (1944) – Nossa Senhora da Atalaia: Padroeira das Alfândegas. Lisboa.

GRAÇA, L. (1989) – Edifícios e Monumentos Notáveis do Concelho de Montijo. Montijo: Caixa


de Crédito Agrícola Mútuo de Montijo.

HARRIS, E. C. (1997) – Principles of archaeological stratigraphy. Academic Press Limited:


Londres.

LUCAS, I. (1992) – Subsídios para a História do Concelho do Montijo: Cronologia Geral.


Montijo: Câmara Municipal de Montijo.

MARQUES, L. (1996) – Tradições Religiosas entre O Tejo e Sado. Os círios do Santuário da


Atalaia. Lisboa.

MARQUES, L. (2005) – Tradições Religiosas entre O Tejo e Sado. Os círios do Santuário da


Atalaia. Lisboa.

MENDONÇA, R. (1956) – Vila de Montijo: Estudo Histórico-Monográfico e Social. Montijo.

PAIS, J.; MONIZ, C.; CABRAL, J.; CARDOSO, J. L.; LEGOINHA, P.; MACHADO, S.; MORAIS,
M. A.;LOURENÇO, C.; RIBEIRO, M. L.; HENRIQUES, P. & FALÉ, P. (2006) – Carta
Geológica de Portugal na escala de 1/50 000: Notícia Explicativa da folha 34-D Lisboa.

17
Lisboa: Departamento de Geologia, Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovação.

PIMENTEL, A. (1908) – Extremadura Portuguesa. Lisboa: Empresa da Historia de Portugal.

RAMA, J. S. (1906) – Coisas da Nossa Terra: Breves Notícias de Aldeia Galega do Ribatejo.
Lisboa.

SANTOS, L. C. dos (2008) – Estratégia para o Aproveitamento do Património de Montijo:


Património Arqueológico, Arquitectónico, Industrial e Natural. Texto Policopiado. Tese
apresentada para a obtenção de Grau de Mestre em Estudos do Património. Lisboa:
Universidade Aberta.

SANTOS, L.C. & MELO, L. M. (2009) – Relatório Final do Acompanhamento Arqueológico das
Obras no Adro da Igreja: Creche Nossa Senhora da Atalaia (Montijo). Texto
Policopiado. Centro Paroquial de Nossa Senhora da Atalaia (Montijo). Volume I, II e
III. Serviço de Arqueologia do Museu Municipal. Câmara Municipal do Montijo.

VITERBO, F. M. S. (1910) – Cruzeiros de Portugal: Contribuições para o seu Catálogo


Descriptivo. Separata do Boletim da Real Associação dos Architectos Civis e
Archeologos Portuguezes. Lisboa.

Bibliografia Antropologia

BUIKSTRA, J.; UBELAKER, D. (1994) – Standards for Data Collection From Human Skeletal
Remain. Proceedings of a seminar at the Field Museum of Natural History. Arkansas
Archaeological Survey Research Series, n. º 44.

BRUZEK, J. (2002) – A method for visual determination of sex, using the human hip bone.
American Journal of Physical Anthropology. Volume 117 (2): 157-168.

CUNHA, E. (1994) – Paleobiologia das populações medievais portuguesas. Os casos de Fão e


S. Pedro de Almedina. Tese de Doutoramento em Antropologia. Coimbra:
Departamento de Antropologia da Universidade de Coimbra. Texto Policopiado.

DIAS, G.; TAYLES, N. (1997) – “Abcess cavity”- a misnomer. International Journal of


Osteoarchaeology. 7:548-554.

FAZEKAS, G; KÓSA, F. (1978) – Forensic Fetal Osteology. Budapest, Akadémiai Kiadó.

FEREMBACH et al. (1980) – Recommendations for age and sex diagnosis of skeletons.
Journal Human Evolution. 9 (7): 517-550.

LOVEJOY, C. O., MEINDL, R.; PRYSZBECK, R. e MENSFORTH, R. (1985) – “Chronological


matamorphosis of the auricular surface of the ilium: a new method for the
determination of adult skeleton age at death”, American Journal of Physical
Anthropology, 68 (1): p.15-28.

MACLAUGHLIN, S. M. (1990) – Epiphyseal fusion at the sternal end of the clavicle in a modern
Portuguese skeletal sample. Antropologia Portuguesa, vol.8:59-68.

18
MAYS, S. A. (1998) – The Archaeology of human bones. London: Routledge.

MASSET, C. (1982) – Estimation de l’âge au décès par les sutures crâniennes. Thèse de
Doctorat. Paris, Université Paris VII.

SCHEUER, L.; BLACK, S. (2000) – Development Juvenile Osteology. London, Academic Press.

STLOUKAL, M.; HANÁKOVÁ, H. (1978) – “Die laenge der Laengsknochen altslawischer


Bevoelkerung – unter besondere beruecksichtigung Von Wachstumsfragem”. Homo
XXIX (1): 53-69.
nd
UBELAKER, D. (1989) – Human skeletal remains: excavation, analysis and interpretation. 2
Ed. Washington: Taraxacum Washington.

Fontes Manuscritas
Arquivo Distrital de Setúbal – Registo Paroquial de Aldeia Galega do Ribatejo.
Arquivo Nacional da Torre do Tombo – Mesa da Consciência e Ordens, Mestrado da Ordem de
Santiago, Aldeia Galega.

Cartografia
Serviços Cartográficos do Exército (1992) – Carta Militar de Portugal. Folha (432- Montijo),
escala 1:25 000. Lisboa: Serviços Cartográficos do Exército.

Serviços Geológicos de Portugal (2006) – Carta Geológica de Portugal 1:50 000. Folha 34-D
(Lisboa). Lisboa: Serviços Geológicos.

Bibliografia Internet

http://www.ippar.pt
http://www.ipa.min-cultura.pt/
http://www.monumentos.pt

19

Potrebbero piacerti anche