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DIREITO PROCESSUAL PENAL I.

INTRODUÇÃO

DPP: é o conjunto de princípios e normas que disciplinam a composição das


lides penais, por meio da aplicação do Direito Penal.
Processo penal é o conjunto de normas e princípios que regulam a
aplicação jurisdicional do direito penal, bem como as atividades
persecutórias (de investigação) da policia judiciária e a estruturação dos
órgãos da função jurisdicionais e respectivos auxiliares (JOSÉ FREDERICO
MARQUES).
REGULAMENTAÇÃO: o DPP é regulamentado pela CF, pelo CPP (1941) e por
leis especiais.

SISTEMA PROCESSUAL BRASILEIRO: é o acusatório, mas antes do


processo coloca se um procedimento extrajudicial inquisitório, que é o IP;
existem três sistemas processuais: inquisitório, acusatório e misto.
Características do processo penal.
1- Ele é instrumento (ferramenta do direito penal)
2- Tem caráter de direito público (é um ramo do direito público).
As relações do processo penal com outros ramos do direito.
- Direito constitucional, pois na CF existem as garantias relativas as direito
de liberdade e também na estruturação dos órgãos estatais responsáveis
pela aplicação da lei penal.
- Direito penal, pois sem o mesmo o processo penal não existiria, por outro
lado é que se dá a existência concreta ao direito penal, assim ambos estão
estritamente relacionados.
- Direito processual civil, conforme art.91, I do CP e 63 do CPP
- Direito administrativo, no processo atuam agentes da administração
pública.
- Direito civil, no art.206 do CPP indica pessoas.
- Direito comercial, crimes falimentares e seus aspectos processuais
(falência), que não são encontrados no direito penal, mas sim em legislação
especial.
LEI PROCESSUAL NO ESPAÇO: de acordo com o art. 1°, o CPP aplica-se
em todo o território nacional, ressalvadas eventuais exceções decorrentes
de tratados, convenções ou regras de direito internacional; é evidente que
podem ser aplicadas regras atinentes a leis especiais, como, por ex., aquelas
referentes à apuração de infrações de menor potencial ofensivo, que se
encontram na Lei n° 9.099/95.
Norma processual no espaço.
1- princípio da territorialidade (art.1º do CPP e 5º da CP).
Art. 1o O processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro, por este Código,
ressalvados:
I - os tratados, as convenções e regras de direito internacional;
II - as prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos ministros de Estado, nos
crimes conexos com os do Presidente da República, e dos ministros do Supremo Tribunal
Federal, nos crimes de responsabilidade (Constituição, arts. 86, 89, § 2o, e 100);
III - os processos da competência da Justiça Militar;
IV - os processos da competência do tribunal especial (Constituição, art. 122, no 17);
V - os processos por crimes de imprensa.
CP- Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de
direito internacional, ao crime cometido no território nacional
- Território por extensão- art. 5º§1ºda CP.
§ 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as
embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro
onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras,
mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo
correspondente ou em alto-mar.
§ 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou
embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no
território nacional ou em vôo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar
territorial do Brasil.
- Teoria da ubiqüidade art.6º da CP.
Art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo
ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.
Exceções.
1- imunidade diplomática – convenção de Viena.
2- foro por prerrogativa de função.
Não importa a nacionalidade de quem pratica o crime, se o mesmo é
cometido em território nacional utiliza-se a lei brasileira em função da
soberania do Estado.
As imunidades diplomáticas representam uma exceção ao princípio da
territorialidade, concebendo imunidade de jurisdição aos representantes de
governos estrangeiros que exercerem suas funções em nosso país.
O tratado e a convenção só terão força de lei se ele for ratificado por um
instrumento legal (decreto, lei ou decreto lei), introduzindo ao nosso direito.
O foro por prerrogativa de função consiste no direito de determinadas
pessoas, de serem julgadas, em virtude dos cargos ou funções que exercem,
pelos órgãos superiores do poder judiciário, em competência fixada pela
constituição federal, ou constituições estaduais.
O presidente se praticar um crime comum, será julgado pelo S.T.F.
art.102,”a”,”b” da CF, porém se for crime de responsabilidade, será julgado
pelo senado federal.
Quanto aos governadores, eles serão julgados pelo S.T.J. art.105,I,”a” da
CPP, os prefeitos se4rão julgados pelo TRIBUNAL DE JUSTIÇA art.29,X da CF,
a ação de improbidade administrativa é de natureza civil.
LEI PROCESSUAL NO TEMPO: o art. 2° do CPP diz que a lei processual
penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo dos atos realizados sob a
vigência da lei anterior (princípio da imediata aplicação da nova lei
processual).

Art. 2o A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos
realizados sob a vigência da lei anterior.
A normal processual no tempo, princípio “tempus regit actum” (art.2 do
CPP).
A lei penal é aplicada somente a atos no presente e futuros, só retroagindo
quando em benefício do réu.
Alei processual penal tem aplicação imediata, mas sem prejuízo dos atos
processuais já praticados sob a vigência da lei anterior; “ o ato é regido pela
lei que vigorava naquele tempo” “TEMPUS REGIT ACTUM”.
- A norma processual penal tem aplicação imediata, (PRINCIPIO DA
IMEDIATIDADE)
- Os atos processuais realizados sob o amparo da lei anterior são válidos. Ao
processo penal não se aplica a retroatividade no caso de norma mais
benigna, salvo quando se tratar de norma mista.
A norma mista retroage desde que para beneficiar o réu.
Fontes do processo penal
As fontes são tudo aquilo de onde provem ou se originam um preceito
jurídico.
Elas se dividem em:
- Material ou de produção, que é toda a fonte que produz ou cria o direito
e,
- Formal ou cognitiva, que são aquelas em que se revela ou expressa o
direito.
Cabe ao Estado punir os transgressores através de alguns órgãos que o
compõe e esses órgãos são:
- a policia,
- o ministério público,
- e o Estado juiz.
E o processo penal sempre estará voltado para o conflito “ius puniendi” X
“ius libertatis”.
Somente se produz as normas do processo penal o Estado, estando vedado
ao particular a criação de tal normas e está matéria está vinculada a união e
somente ela pode legislar para com essa matéria art.22,I CF (sendo de
competência exclusiva da união).
O crime de menor potencial ofensivo são aqueles cuja pena for no máximo
de 2 anos conforme a lei 9.099/95.
As fonte de cognição ou formais são aquelas diretas (leis) e é ela que revela
o direito processual penal, mas também tem as fontes indiretas.
As diretas se dividem em :
- Normas de jurisdição comuns e a encontramos no CPP, e
- As leis extravagantes as quais podemos citar algumas como: a lei de
(entorpecentes), lei 5250/67 (imprensa), lei 9.099/95 (juizado de pequenas
causas), lei 10.259/01 (juizado federal de pequenas causas), lei 11.101/05
(crimes falimentares e procedimentos).
- Normas jurídicas especiais: encontramos essas normas no CPP militar e
no código Eleitoral.
-As leis de organização judiciária: que tratam das atribuições dos órgãos
jurisdicionais, e os regimentos internos dos tribunais (art.618 e 638 do
CPP), são também fontes do processo penal.
Art. 618. Os regimentos dos Tribunais de Apelação estabelecerão as normas
complementares para o processo e julgamento dos recursos e apelações.
Art. 638. O recurso extraordinário será processado e julgado no Supremo Tribunal Federal
na forma estabelecida pelo respectivo regimento interno.
Quanto as fontes indiretas.
1- o costume, que é uma regra de conduta praticada de modo geral,
constante e uniforme, com a consciência de sua obrigatoriedade (art.4° da
LICC).
Art. 4° - Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os
costumes e os princípios gerais de direito.
2- Princípios gerais do direito, que são princípios éticos extraídos do
ordenamento jurídico em geral, podendo suprir lacunas ou omissão da lei,
como os princípios relacionados a liberdade, igualdade e direito natural.
2- Analogia, é uma forma de auto integração da lei, aplica-se apenas
na hipótese de uma lacuna ou omissão involuntária da lei, aplicando-se a
fatos não regulados pela expressamente pela lei, sendo um dispositivo que
disciplina hipótese semelhante (art.4° da LICC, art.126° do CPC e art.3°
do CPP).
Art. 4° - Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os
costumes e os princípios gerais de direito.
Art. 126. O juiz não se exime de sentenciar ou despachar alegando lacuna ou obscuridade
da lei. No julgamento da lide caber-lhe-á aplicar as normas legais; não as havendo,
recorrerá à analogia, aos costumes e aos princípios gerais de direito.
Art. 3o A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem
como o suplemento dos princípios gerais de direito.
Os costumes e os princípios gerais do direito só poderá ser aplicado se for
em benefício do réu e se não prejudicar a liberdade do indivíduo.
A analogia pode ser aplicada no processo penal (art.3° do CPP), mas existem
pressupostos para sua aplicação, que é a omissão ou a lacuna
involuntária da lei e semelhança de situação.
Ex: em uma ação civil a petição inicial é rejeitada pelo juiz, por inépcia , falta
de pressuposto, o que cabe um recurso contra essa decisão por parte do
autor da ação, mas também no caso aqui caberá a parte contrária contra-
razoar o recurso impetrado pelo advogado do autor, no processo penal se a
denuncia é rejeitada pelo juiz o promotor poderá entrar com recurso contra
essa decisão mas não há previsão para a contra-razão de recurso por parte
do réu ai aplica-se a analogia utilizando-se da norma do código civil para
essa aplicação dessa contra-razão.
As fontes do D.proc penal, dividem-se em:
- Fontes materiais, estas estão relacionados com a criação da norma
processual penal pelo Estado através da União, dentro de um sentido mais
amplo ela deverá ser entendida como os fenômenos sociais que contribuem
para formar o conteúdo ou matéria das regras jurídicas.
Os fatores que contribuem para formação das normas jurídicas:
- fator econômico, pois intervêm muito na relação entre os indivíduos (ex:
lei da CPMF, falimentar), dentro da área penal (responsabilidade fiscal,
aumento de penas nos crimes contra o patrimônio)
- fatores religiosos e morais,
- fatores políticos e ideológicos,
- valores jurídicos, (justiça e segurança jurídica) ex: revisão contratual,
coisa julgada (segurança jurídica).
A lei deve refletir o fenômeno social.
- Fontes formais, são aquelas que revelam o direito, são os meios pelos
quais o direito se torna conhecido, e podemos falar que a principal fonte
formal é a lei, as fontes secundárias são:
a- Os costumes,
b- A analogia e ,
c- os princípios gerais do direito;
E essas fontes secundárias só serão aplicadas caso ocorra uma lacuna ou
uma omissão da lei.
A analogia, deve ser aplicada quando houver a mesma razão
Os costumes, podem influenciar na revogação de uma lei
A jurisprudência e a doutrina não são consideradas como fontes do
direito.
A súmula vinculante, (que são reiterações de decisões julgadas por diversas
vezes pelos tribunais), após a emenda 45/04, passa a ter força obrigatória,
mas não são todas as súmulas do supremo tribunal federal que se tornaram
vinculantes, pois para que elas o sejam terão de respeitar o art. 8 da CF já
emendada com a 45/04.
Interpretação da norma processual penal.
1- Conceito
A interpretação está relacionada à aplicação da lei processual penal, será ela
o processo lógico ou uma tarefa realizada antes da aplicação da lei.
“Interpretar a lei consiste em determinar o seu significado e fixar o seu
alcance, ou seja, alcançar o sentido das palavras utilizadas pelo legislador,
sendo o processo lógico que procura estabelecer a vontade da lei, que não é
necessariamente a vontade do legislador”
Interpretar é desvendar ou descobrir o verdadeiro significado da norma.
2-hermenêutica
A hermenêutica ou Exegese: É o método que tem por seu objetivo a
interpretação da Lei, cujos princípios aplicam-se a todos os ramos de Direito.
3- Classificação,
* Quanto ao sujeito.
I – Autêntica, é aquela que procede do próprio Legislador.e quando inc na
própria Lei é chamada contextual.
Ex.: Art. 302 e 303 do C.P.P. (pois a Lei traz um contexto ou conceito,
definição.)
Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem:
I - está cometendo a infração penal;
II - acaba de cometê-la;
III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em
situação que faça presumir ser autor da infração;
IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam
presumir ser ele autor da infração.
II - A Jurisprudencial é aquele que consiste no conjunto de manifestações
judiciais sobre determinado assunto legal de uma forma razoavelmente
constante.
III – É a interpretação da norma legal pelos juristas, pelos doutrinadores,
ambas II e III, não tem força obrigatória.
Quando do meio empregado.
I – Gramatical (Literal ou Filológica) Filológica é o estudo da língua ou idioma
em sua plenitude.
A interpretação gramatical é a letra da Lei, sendo ela importante mas não o
suficiente.
II – A lógica sistemática: é muito importante sendo também conhecida como
sistemática e ela recorre não apenas ao significado gramatical, mas a lógica
daquele dispositivo inserido dentro de um sistema.
III – A Teleológica consiste sem se procurar não apenas a lógica formal, mas
a lógica do razoável, isto é, a interpretação das normas jurídicas, inclusive
aquelas que parecem bem claras requer referências aos princípios, critérios
literativos, que muitas vezes não estão expressos no texto legal.
“É procurar o fim do dispositivo a finalidade do dispositivo Legal”
Ex.: No prazo para conclusão de um processo de réu preso, aplica-se o
princípio da razoabilidade, uma interpretação teleológica que está ligada aos
princípios.
* Quanto ao resultado.
I – Declarativa é aquela onde há uma correspondência com o que está
escrito na Lei (palavra da Lei) e a vontade do Legislador.
II – Restritiva a Lei disse mais do que queria ou seja , a letra da lei foi além
da sua vontade.ex: art.564, III do CPP.
Art. 564. A nulidade ocorrerá nos seguintes casos:

III - por falta das fórmulas ou dos termos seguintes:


a) a denúncia ou a queixa e a representação e, nos processos de contravenções penais, a
portaria ou o auto de prisão em flagrante;
b) o exame do corpo de delito nos crimes que deixam vestígios, ressalvado o disposto no
Art. 167;
c) a nomeação de defensor ao réu presente, que o não tiver, ou ao ausente, e de curador
ao menor de 21 anos;
d) a intervenção do Ministério Público em todos os termos da ação por ele intentada e nos
da intentada pela parte ofendida, quando se tratar de crime de ação pública;
e) a citação do réu para ver-se processar, o seu interrogatório, quando presente, e os
prazos concedidos à acusação e à defesa;
f) a sentença de pronúncia, o libelo e a entrega da respectiva cópia, com o rol de
testemunhas, nos processos perante o Tribunal do Júri;
g) a intimação do réu para a sessão de julgamento, pelo Tribunal do Júri, quando a lei não
permitir o julgamento à revelia;
h) a intimação das testemunhas arroladas no libelo e na contrariedade, nos termos
estabelecidos pela lei;
i) a presença pelo menos de 15 jurados para a constituição do júri;
Jj) o sorteio dos jurados do conselho de sentença em número legal e sua
incomunicabilidade;
k) os quesitos e as respectivas respostas;
l) a acusação e a defesa, na sessão de julgamento;
m) a sentença;
n) o recurso de oficio, nos casos em que a lei o tenha estabelecido;
o) a intimação, nas condições estabelecidas pela lei, para ciência de sentenças e despachos
de que caiba recurso;
p) no Supremo Tribunal Federal e nos Tribunais de Apelação, o quorum legal para o
julgamento;
III – Extensiva a Lei disse menos do que queria e por isso a interpretação
vai ampliar o seu significado.
Ex.1: Suspeição do Juiz Art. 254 do C.P.P.
Ex.2: Quando o C.P.P. trata de Liberdade provisória. Aplicação analógica é a
aplicação de uma norma existente para uma determinada situação. A um
caso concreto semelhante, em relação ao qual não há qualquer previsão
legal.
-Em matéria processual:

✔ em matéria processual penal, o art. 3° do CPP diz que a lei processual


penal admite o emprego da interpretação analógica e extensiva (é
possível quando, dentro do próprio texto legal, após uma seqüência
casuística, o legislador se vale de uma fórmula genérica, que deve ser
interpretada de acordo com os casos anteriores);

✔ o emprego da analogia (aplicável em casos de lacuna da lei, ou seja,


quando não há qualquer norma regulando o tema;

✔ é forma de integração da lei e não forma de interpretação), embora


não mencionada expressamente pelo referido artigo, é admitida;

✔ em matéria penal, a analogia só pode ser aplicada em favor do réu


(“in bonam partem”), e, ainda assim, se ficar constatado que houve mera
omissão involuntária (esquecimento do legislador).
As ciências auxiliares que interagem no processo penal:
Para a realização do Direito Penal e, portanto, servindo como instrumento do
Processo Penal, colaboram ciências extrajurídicas auxiliares.

São elas a Medicina Legal, a Psiquiatria Forense, a Psicologia Judiciária e a


Criminalística.

É com a Medicina Legal, aplicação de conhecimentos médicos para a


realização de leis penais ou civis, que se comprova a materialidade ou
extensão de inúmeras infrações penais (homicídio, lesões corporais, estupro
etc.), incluindo-se nela a matéria de toxicologia (envenenamento,
intoxicação alcoólica e por tóxicos etc.). O Código de Processo Penal
disciplina a ocasião e a forma de realização dos exames de corpo de delito
nessas hipóteses (arts. 158 e ss).
A Psiquiatria Forense (ou Judiciária) tem por objetivo o estudo dos
distúrbios mentais em face dos problemas judiciários e, no processo penal,
tem importância decisiva na verificação das hipóteses de inimputabilidade,
apurada em exame realizado no incidente de insanidade mental do acusado
(arts. 149 a 154 do CPP).

É importante também essa ciência na execução da pena e da medida de


segurança quando da realização dos exames destinados à classificação dos
condenados e internados e de verificação de cessação de periculosidade
.
Também a Psicologia Judiciária se ocupa dos exames de personalidade,
inclusive o criminológico, para a classificação dos criminosos com vistas à
individualização da execução.

Entretanto, cuida ela especialmente do estudo dos participantes do


processo judicial (réu, testemunha, juiz, advogado), fornecendo elementos
úteis sobre a colaboração de cada um na atividade processual, em especial
quanto ao valor probatório dos testemunhos, interrogatórios etc.
A Criminalística, também chamada Polícia Científica, é a técnica que
resulta da aplicação de várias ciências à investigação criminal, colaborando
na descoberta dos crimes, na identificação de seus autores, na apuração de
circunstâncias do fato etc.
Seu objetivo é o estudo de provas periciais referentes a pegadas, manchas,
impressões digitais, projéteis, locais de crime etc.
A Odontoscopia, por exemplo, como a Datiloscopia, pode levar à
identificação de pessoas com a comparação das arcadas dentárias com a
ficha dentária da pessoa que se quer identificar.

1. Princípios Gerais
PRINCÍPIOS GERAIS INFORMADORES DO PROCESSO

1.1. Imparcialidade do juiz

O juiz situa-se entre as partes e acima delas (caráter substitutivo). O juiz imparcial é
pressuposto para uma relação processual válida.

Para assegurar essa imparcialidade, a Constituição Federal estipula garantias (artigo


95), prescreve vedações (artigo 95, parágrafo único) e proíbe juízos e tribunais de
exceção (artigo 5.º, inciso XXXVII). Observação: tribunal de exceção é um órgão
constituído após a ocorrência do fato.

1.2. Igualdade Processual

As partes devem ter, em juízo, as mesmas oportunidades de fazer valer suas razões.
No processo penal, esse princípio sofre alguma atenuação, devido ao princípio
constitucional do favor rei, segundo o qual o acusado goza de alguma prevalência em
contraste com a pretensão punitiva. Essa atenuação se verifica, por exemplo, nos
artigos 386, inciso VI, 607, 609, parágrafo único, e artigo 621, todos do Código de
Processo Penal.

Observação: O defensor público tem prazo em dobro no processo penal. A


jurisprudência tende a estender o benefício aos advogados dativos.

1.3. Contraditório

Esse princípio decorre do brocardo romano audiatur et altera pars e é identificado na


doutrina pelo binômio “ciência e participação”.

O juiz coloca-se eqüidistante das partes, só podendo dizer que o direito preexistente foi
devidamente aplicado ao caso concreto se, ouvida uma parte, for dado à outra o direito
de manifestar-se em seguida.

Destarte, as partes têm o direito de serem cientificadas sobre qualquer fato processual
ocorrido e a oportunidade de se manifestarem sobre ele antes de qualquer decisão
jurisdicional.

Observação: O princípio não se aplica no inquérito policial, que se trata de um


procedimento inquisitório. Como no inquérito policial não há acusação, também não há
defesa. Os únicos inquéritos que admitem o contraditório são: o judicial, para apuração
de crimes falimentares; e o instaurado pela polícia federal, a pedido do Ministro da
Justiça visando à expulsão de estrangeiro.

1.4. Ampla Defesa

O Estado deve proporcionar a todo acusado a mais completa defesa, seja pessoal
(autodefesa), seja técnica (defensor) (artigo 5.º, LV, da Constituição Federal), inclusive
o de prestar assistência jurídica integral e gratuita aos necessitados (artigo 5.º, LXXIV,
da Constituição Federal).

No processo penal, o juiz nomeia defensor ao réu, caso ele não tenha, mesmo sendo
revel (artigos 261 e 263 do Código de Processo Penal) e caso seja feita uma defesa
abaixo do padrão mínimo tolerável, o réu poderá ser considerado indefeso e o
processo anulado. Se o acusado, citado por edital, não comparece, nem constitui
advogado, suspende-se o processo e o prazo prescricional (artigo 366 do Código de
Processo Penal).

1.5. Da Disponibilidade e da Indisponibilidade

Disponibilidade é a liberdade que as pessoas têm de exercer ou não seus direitos.

No processo penal, prevalece o princípio da indisponibilidade, pelo fato do crime ser


considerado uma lesão irreparável ao interesse coletivo. O Estado não tem apenas o
direito, mas sobretudo o dever de punir.
Do Código de Processo Penal, podem ser extraídas algumas regras, a saber:

• A autoridade policial é obrigada a proceder às investigações preliminares


(artigo 5.º do Código de Processo Penal);

• Impossibilidade de a autoridade policial arquivar o inquérito policial (artigo 17


do Código de Processo Penal);

• O Ministério Público não pode desistir da ação penal (artigo 42 do Código de


Processo Penal), nem do recurso interposto (artigo 576 do Código de Processo Penal).

A Constituição Federal abranda essa regra, ao permitir a transação em infrações de


menor potencial ofensivo e também nos casos de ação penal privada e ação penal
condicionada à representação ou à requisição do Ministro da Justiça.

O Ministério Público não pode desistir da ação penal, mas pode pedir a absolvição do
réu.

1.6. Da Verdade Formal ou Dispositivo

O juiz depende da iniciativa das partes quanto às provas e às alegações para


fundamentar sua decisão. Esse princípio busca salvaguardar a imparcialidade do juiz.
Conforme esse princípio, o juiz pode se contentar com as provas produzidas pelas
partes devendo rejeitar a demanda ou a defesa por falta de elementos de convicção.
É princípio próprio do processo civil, que vem sendo cada vez mais mitigado, diante de
uma tendência publicista no processo, permitindo ao juiz adotar uma posição mais
ativa, impulsionando o andamento da causa, determinando provas, conhecendo
circunstâncias de ofício e reprimindo condutas abusivas e irregulares (artigos 130 e 342
do Código de Processo Civil).

1.7. Da Verdade Material (ou Verdade Real)

Também denominado princípio da livre investigação das provas. Sempre predominou


no processo penal.

O juiz tem o dever de ir além da iniciativa das partes na colheita das provas, esgotando
todas as possibilidades para alcançar a verdade real dos fatos para fundamentar a
sentença.

Somente, excepcionalmente, o juiz deve curvar-se diante da verdade formal, como no


caso da absolvição por insuficiência de provas (artigo 386, inciso VI, do Código de
Processo Penal).

Mesmo vigorando o princípio da livre investigação das provas, a verdade alcançada


será sempre formal, pois o que não está nos autos, não está no mundo.

Esse princípio comporta algumas exceções: artigos 406, 475, 206, 207 e 155, todos do
Código de Processo Penal;
a Constituição Federal, no artigo 5.º, inciso LVI, veda a utilização de provas obtidas por
meios ilícitos.

1.8. Publicidade

É uma garantia de independência, imparcialidade, autoridade e responsabilidade do


juiz. Também é uma garantia do indivíduo de fiscalizar a atuação jurisdicional.

A publicidade poderá ser restrita nos casos em que o decoro ou o interesse social
aconselharem que eles não sejam divulgados (artigo 155, I e II, do Código de Processo
Civil e artigos 483 e 792, § 1º, do Código de Processo Penal).

O inquérito policial é um procedimento inquisitivo e sigiloso (artigo 20 do Código de


Processo Penal).

O sigilo, entretanto, não se estende ao representante do Ministério Público, nem à


autoridade judiciária.

No caso do advogado, pode consultar os autos do inquérito policial, mas, caso seja
decretado judicialmente o sigilo, não poderá acompanhar a realização de atos
procedimentais.

1.9. Do Duplo Grau de Jurisdição

Consiste na possibilidade de revisão, por via de recurso, das causas já julgadas pelo
juiz de primeiro grau.

Não é tratado de forma expressa na Constituição Federal. O duplo grau de jurisdição


decorre da própria estrutura atribuída ao Poder Judiciário pela Carta Magna.

Há casos em que não há duplo grau de jurisdição, como, por exemplo, as hipóteses de
competência originária do Supremo Tribunal Federal (artigo 102, inciso I, da
Constituição Federal).

1.10. Juiz Natural

Previsto no artigo 5.º, inciso LIII, da Constituição Federal, que dispõe que “ninguém
será sentenciado senão pelo juiz competente”.

Juiz natural é, portanto, aquele previamente conhecido, segundo regras objetivas de


competência estabelecidas anteriormente à infração penal, investido de garantias que
lhe assegurem absoluta independência e imparcialidade.

Do princípio, decorre também a proibição de criação de tribunais de exceção. (artigo


5.º, inciso XXXVII, da Constituição Federal).

1.11. Da Ação ou Demanda


Indica a atribuição à parte da iniciativa de provocar o exercício da função
jurisdicional.

A jurisdição é inerte. O princípio impede que o juiz instaure o processo por


iniciativa própria, o que, certamente, ameaçaria sua imparcialidade.

Destarte, a movimentação da máquina judiciária exige a provocação do interessado.

O princípio decorre da adoção do processo acusatório, no qual as funções de acusar,


defender e julgar são exercidas por órgãos distintos.
Nosso sistema contrapõe-se ao sistema inquisitivo, no qual as funções de acusar,
defender e julgar são realizadas pelo mesmo órgão.
Questiona-se o sistema inquisitivo, pois quando o juiz instaura o processo de ofício,
acaba ligado psicologicamente à pretensão.

1.12. Oficialidade

Significa que os órgãos incumbidos da persecutio criminis não podem ser privados.

A função penal é eminentemente pública, logo, a pretensão punitiva do Estado deve


ser deduzida por agentes públicos.

A ação penal pública é privativa do Ministério Público (artigo 129, inciso I, da


Constituição Federal).

A função de polícia judiciária incumbe à polícia civil (artigo 144, § 4.º, da Constituição
Federal c/c artigo 4.º do Código de Processo Penal).

Admite-se, como exceção, a ação penal privada, a ação penal privada


subsidiária da pública – quando da inércia do órgão do Ministério Público – e a ação
penal popular – na hipótese de crime de responsabilidade praticado pelo Procurador-
Geral da República e por Ministros do Supremo Tribunal Federal (artigos 41, 58, 65 e
66 da Lei n. 1.079/50).

1.13. Oficiosidade

As autoridades públicas incumbidas da persecução penal devem agir de ofício, sem


necessidade do assentimento de outrem.
Ressalvam-se os casos de ação penal privada (artigo 5.º, § 5.º, do Código de Processo
Penal) e ação penal pública condicionada.

Trata-se de um princípio geral relacionado a todas as autoridades que participam do


procedimento criminal, e diferencia-se do princípio do impulso oficial, referente ao
magistrado.

1.14. Do Impulso Oficial


Uma vez instaurada a relação processual, compete ao juiz mover o procedimento de
fase em fase até exaurir a função jurisdicional.

1.15. Da Persuasão Racional do Juiz

Situa-se entre o sistema da prova legal, em que os elementos probatórios possuem


valor prefixado, e o sistema do julgamento secundum conscientiam, em que o juiz pode
decidir com base na prova dos autos, mas também sem provas e até mesmo contra a
prova.

No princípio da persuasão racional, o juiz decide com base nos elementos existentes
nos autos, mas sua apreciação não depende de critérios legais preestabelecidos. A
avaliação ocorre segundo parâmetros críticos e racionais.

Esta liberdade não se confunde com arbitrariedade, pois o convencimento do


juiz deve ser motivado.

Exceção: os jurados, no Júri, não precisam fundamentar suas decisões, pois


para eles vigora o princípio da íntima convicção.

1.16. Da Motivação das Decisões Judiciais

As decisões judiciais precisam sempre ser motivadas. Esse princípio tem assento constitucional
no artigo 93, inciso IX.

Hoje, esse princípio é visto em seu aspecto político: garantia da sociedade que pode aferir a
imparcialidade do juiz e a legalidade e justiça das suas decisões.

1.17. Lealdade Processual

Consiste no dever de verdade, reprovando a conduta da parte que se serve de


artifícios fraudulentos.
A fraude destinada a produzir efeitos no processo penal pode configurar o crime
descrito no artigo 347 do Código Penal.

1.18. Da Economia Processual

Preconiza o máximo resultado na aplicação do direito com o mínimo emprego de


atos processuais. São exemplos da aplicação desse princípio os casos de conexão e
continência (artigos 76 e 77 do Código de Processo Penal).
Corolário da economia processual é o princípio do aproveitamento dos atos
processuais ou da instrumentalidade das formas, em que os atos imperfeitos só serão
anulados se o objetivo não for atingido, pois o que interessa é o objetivo, e não o ato
em si mesmo. Tal regra segue o brocardo pas de nullite´sans grief.

No processo penal, não se anulam atos imperfeitos quando não prejudicarem a


acusação ou a defesa e quando não influírem na decisão da causa (artigos 566 e 567
do Código de Processo Penal).

1.19. Do Promotor Natural

Também decorre da norma contida no artigo 5.º, inciso LIII, da Constituição


Federal, o qual dispõe que ninguém será processado senão pelo órgão do Ministério
Público com atribuições previamente fixadas e conhecidas.
O Supremo Tribunal Federal vedou a designação casuística de promotor pela
Chefia da Instituição para promover a acusação em caso específico, pois tal
procedimento chancelaria a figura do chamado “promotor de exceção” (HC n.
67.759/RJ, Rel. Min. Celso de Mello, RTJ 150/123).

2. PRINCÍPIOS INFORMADORES DO PROCESSO PENAL

2.1. Estado de Inocência

Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado da sentença penal


condenatória (artigo 5.º, LVII, da Constituição Federal).

Desdobra-se em três aspectos:

• prova: deve ser valorada em favor do acusado quando houver dúvida;

• instrução processual: inverte-se o ônus da prova, ou seja, o réu não precisa


provar que é inocente, mas sim a acusação precisa fazer prova de que ele é culpado;

• no curso do processo: trata-se de entendimento expresso na Súmula n. 9 do


Superior Tribunal de Justiça: “A exigência da prisão provisória, para apelar, não ofende
a garantia constitucional da presunção de inocência”.

2.2. “Favor rei”

A dúvida sempre beneficia o acusado.

– Se há duas interpretações, opta-se pela mais benéfica;

– Na dúvida, em caso de insuficiência de provas, absolve-se o réu;

– Alguns recursos são exclusivos da defesa (protesto por novo júri e embargos
infringentes).

– Só cabe ação rescisória penal em favor do réu (revisão criminal).

2.3. Da Verdade Real

É princípio próprio do processo penal, indica que o juiz deve buscar descobrir a
realidade, não se conformando com o que é apresentado nos autos (verdade formal).
Como exemplo, pode ser citado o artigo 156 do Código de Processo Penal, que
permite ao juiz determinar diligências de ofício para dirimir dúvida sobre ponto
relevante.

Esse princípio comporta algumas exceções: artigos 406, 475, 206, 207 e 155, todos do
Código de Processo Penal; a Constituição Federal, no artigo 5.º, inciso LVI, veda a
utilização de provas obtidas por meios ilícitos.
2.4. Legalidade

Impõe a observância da lei pelas autoridades encarregadas da persecução


penal, que não possuem poderes discricionários para apreciar a conveniência e
oportunidade da instauração do processo ou do inquérito.

2.5. Oficialidade

A função penal é eminentemente pública, logo, a pretensão punitiva do Estado


deve ser deduzida por agentes públicos.

Admite-se, como exceção, a ação penal privada, a ação penal privada subsidiária da
pública – quando da inércia do órgão do Ministério Público – e a ação penal popular –
na hipótese de crime de responsabilidade praticado pelo Procurador-Geral da
República e por Ministros do Supremo Tribunal Federal (artigos 41, 58, 65 e 66 da Lei
n. 1.079/50).

2.6. Oficiosidade

As autoridades públicas incumbidas da persecução penal devem agir de ofício, sem


necessidade do assentimento de outrem.
Ressalvam-se os casos de ação penal privada (artigo 5.º, § 5.º, do Código de Processo
Penal) e ação penal pública condicionada.

2.7. Autoritariedade

Os órgãos investigantes e processantes devem ser autoridades públicas.


Exceção: ação penal privada.

2.8. Indisponibilidade

A autoridade policial não pode determinar o arquivamento do inquérito policial (artigo


17 do Código de Processo Penal).
O órgão do Ministério Público não pode desistir (dispor) da ação penal pública, nem do
recurso interposto (artigos 42 e 576 do Código de Processo Penal).
Exceções: ação penal privada e transação penal (artigo 76 da Lei n. 9.099/95).

2.9. Publicidade

A publicidade somente poderá ser restrita nos casos em que o decoro ou o interesse
social aconselharem que eles não sejam divulgados (artigo 155, I e II, do Código de
Processo Civil e artigos 483 e 792, § 1º, do Código de Processo Penal).
2.10. Contraditório

As partes têm o direito de serem cientificadas sobre qualquer fato processual ocorrido e
a oportunidade de se manifestarem sobre ele, antes de qualquer decisão jurisdicional.

2.11. Da Iniciativa das Partes (“ne procedat judez ex officio”)

O juiz não pode iniciar ao processo sem a provocação da parte.


Cabe ao Ministério Público promover privativamente a ação penal pública (artigo 129,
inciso I, da Constituição Federal) e ao ofendido, a ação penal privada, inclusive a
subsidiária da pública (artigos 29 e 30 do Código de Processo Penal).

2.12. “Ne eat judex ultra petita partium”

Indica que o juiz deve ater-se ao pedido feito na peça inaugural, não podendo
pronunciar-se sobre o que não foi requerido.
O que vincula o juiz criminal são os fatos submetidos à sua apreciação.
Exemplo: se na denúncia o promotor descreve um crime de estupro, mas ao classificá-
lo, o faz como sendo de sedução, pode o juiz condenar por estupro, pois o réu se
defende dos fatos a ele imputados.
Nesse caso o juiz não julgou além do que foi pedido, apenas deu aos fatos
classificação diversa (artigo 383 do Código de Processo Penal).
O artigo 384 do Código de Processo Penal trata da mudança na acusação, sempre que
os fatos narrados na denúncia ou queixa tiverem de ser modificados em razão de prova
nova surgida no curso da instrução criminal.
2.13. Devido Processo Legal

Previsto no artigo 5.º, inciso LIV, da Constituição Federal, o due process of law
assegura à pessoa o direito de não ser privada de sua liberdade e de seus bens sem a
garantia de um processo desenvolvido de acordo com a lei.

Deve ser obedecido não apenas em processos judiciais civis e criminais, mas também
em procedimentos administrativos, inclusive militares.
2.14. Inadmissibilidade das Provas Obtidas por Meios Ilícitos

Ao considerar inadmissíveis todas as “provas obtidas por meios ilícitos”, a


Constituição Federal proíbe tanto a prova ilícita quanto a prova ilegítima:

• Provas ilícitas: aquelas produzidas com violação a regras de direito material


(exemplo: confissão obtida mediante tortura);

• Provas ilegítimas: aquelas produzidas com violação a regras de natureza


meramente processual (exemplo: documento exibido em plenário do júri, sem
obediência ao disposto no artigo 475 do Código de Processo Penal).
A doutrina e a jurisprudência tendem também a repelir as chamadas provas ilícitas por
derivação, ou seja, as provas lícitas produzidas a partir de outra ilegalmente obtida
(exemplo: confissão extorquida mediante tortura, que venha a fornecer informações
corretas a respeito do lugar onde se encontra o produto do crime, propiciando sua
regular apreensão).

As provas ilícitas por derivação foram reconhecidas pela Suprema Corte Norte-
Americana, com base na teoria dos “frutos da árvore envenenada” – fruits of the
poisonous tree -, segundo a qual o vício da planta se transmite a todos os seus frutos.

O Supremo Tribunal Federal, atualmente, não admite as provas ilícitas por derivação.

Entendemos que não é razoável sempre desprezar toda e qualquer prova ilícita,
devendo o juiz admiti-las para evitar uma condenação injusta ou a impunidade de
perigosos marginais.

O direito à liberdade e à vida, por exemplo, não podem sofrer restrição pela prevalência
do direito à intimidade.

Entra aqui o princípio da proporcionalidade, segundo o qual não há propriamente um


conflito entre as garantias fundamentais, devendo o princípio de menor relevância se
submeter ao princípio de maior relevância.

Por exemplo: uma pessoa acusada injustamente, que tenha na interceptação telefônica
ilegal o único meio de demonstrar a sua inocência.

A tendência da doutrina é a de acolher essa teoria, para favorecer o acusado (prova


ilícita pro reo).

2.15. Da Brevidade Processual

Verificando-se uma divergência, deve-se adotar a decisão mais célere, de


acordo com o que normalmente acontece.
Exemplo: na dúvida entre tráfico internacional ou nacional, os autos devem ser
remetidos à justiça estadual; surgindo fato novo, em razão da matéria, modifica-se a
competência.
2.16. Identidade Física do juiz

O juiz fica vinculado ao processo que presidiu a fase instrutória, devendo decidi-lo.
Atenção: este princípio não vigora no processo penal.

2.17. Do Promotor Natural

Ninguém será processado senão pelo órgão do Ministério Público com


atribuições previamente fixadas e conhecidas (artigo 5.º, inciso LIII, da Constituição
Federal).
Da Aplicação da Lei Processual Penal

1. EFICÁCIA DA LEI PROCESSUAL NO ESPAÇO

A lei processual penal aplica-se a todas as infrações penais cometidas em território


brasileiro, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de Direito Internacional.

No processo penal vigora o princípio da absoluta territorialidade (artigo 1.º do


Código de Processo Penal).

Ao contrário do que pode parecer, os incisos do artigo 1.º não cuidam de exceções à
territorialidade da lei processual penal brasileira, mas sim de exceções à aplicação do
Código de Processo Penal.

O inciso I do artigo 1.º contempla verdadeiras hipóteses excludentes da jurisdição


criminal brasileira.

Considera-se praticado em território brasileiro o crime cuja ação ou omissão, ou cujo


resultado, no todo ou em parte, ocorreu em território nacional (artigo 6.º do Código
Penal).

Considera-se, para efeitos penais, como extensão do território nacional: as


embarcações e aeronaves públicas ou a serviço do governo brasileiro, onde quer que
se encontrem, e as embarcações e aeronaves particulares que se acharem em espaço
aéreo ou marítimo brasileiro ou em alto-mar ou espaço aéreo correspondente.

2. EFICÁCIA DA LEI PROCESSUAL PENAL NO TEMPO

Toda norma jurídica limita-se no tempo e no espaço. Isso quer dizer que a norma se
aplica em um determinado território durante um determinado lapso de tempo.

A eficácia temporal das normas processuais é disciplinada pela Lei de Introdução ao


Código Civil, nos artigos 1.º, 2.º e 6.º.

As normas de direito processual têm aplicação imediata, sem efeito retroativo.

Adotou-se, portanto, o princípio tempus regit actum.

O artigo 2.º do Código de Processo Penal dispõe: “A lei processual penal aplicar-se-á
desde logo, sem prejuízo dos atos realizados sob a vigência da lei anterior.” A
aplicação do dispositivo gera dois efeitos:

1) os atos processuais praticados na vigência da lei anterior são considerados


válidos;
2) as normas da lei nova aplicam-se imediatamente, respeitados o ato jurídico
perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.

No caso de normas mistas (de natureza processual e material), prevalece o caráter


material, devendo ser aplicada a regra do artigo 2.º do Código Penal, ou seja,
retroagirá para beneficiar o réu.

A lei tem vigência até que outra expressa ou tacitamente a revogue.

A revogação ainda pode ser total (ab-rogação) ou parcial (derrogação).

3. IMUNIDADES

3.1. Imunidades Diplomáticas

Os chefes de Estado e os representantes de governos estrangeiros estão excluídos da


jurisdição criminal dos países em que exercem suas funções.

A imunidade estende-se a todos os agentes diplomáticos, ao pessoal técnico e


administrativo das representações, aos seus familiares e aos funcionários de
organismos internacionais (ONU, OEA etc.).

Admite-se a renúncia à garantia da imunidade.

3.2. Imunidades Parlamentares

São de duas espécies:

• material (absoluta): alcança os Deputados Federais, Deputados Estaduais e


Senadores, garantindo-lhes a inviolabilidade por suas palavras, opiniões e votos.

• Para alguns, trata-se de causa de exclusão de ilicitude, para outros, causa


funcional de isenção de pena.

• É irrenunciável.

• Estende-se também aos Vereadores se o crime foi praticado no exercício do


mandato e na circunscrição do Município;

• processual, formal ou relativa: consiste na garantia de não ser preso, salvo por
flagrantes de crime inafiançável.

• Alcança os Deputados Estaduais, mas não alcança os Vereadores.

4. INTERPRETAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL

Artigo 3.º do Código de Processo Penal: “A lei processual penal admitirá interpretação
extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais de
direito.”
Interpretar uma norma significa buscar seu alcance e real significado.

4.1. Espécies

4.1.1. Quanto ao sujeito que elabora

• Autêntica ou legislativa: feita pelo próprio órgão encarregado da elaboração


da lei. Pode ser:

– contextual: feita pelo próprio texto interpretado;

– posterior: feita após a entrada em vigor da lei.

• Doutrinária ou científica: feita pelos estudiosos e doutores do Direito.


Observação: as exposições de motivos constituem forma de interpretação doutrinária,
uma vez que não são leis.

• Judicial: feita pelos órgãos jurisdicionais.

4.1.2. Quanto aos meios empregados

• Gramatical, literal ou sintática: leva-se em conta o sentido literal das


palavras.

• Lógica ou teleológica: busca-se a vontade da lei, atendendo-se aos seus fins


e à sua posição dentro do ordenamento jurídico.

4.1.3. Quanto ao resultado

• Declarativa: há perfeita correspondência entre a palavra da lei e sua vontade.

• Restritiva: a interpretação vai restringir o seu significado, pois a lei disse mais
do que queria.

• Extensiva: a interpretação vai ampliar o seu significado, pois a lei disse menos
do que queria.

4.2. Interpretação da Norma Processual Penal

A lei processual admite interpretação extensiva, pois não contém dispositivo


versando sobre direito de punir.

Exceções: tratando-se de dispositivos restritivos da liberdade pessoal (prisão em


flagrante, por exemplo), o texto deverá ser rigorosamente interpretado.

O mesmo quando se tratar de regras de natureza mista.

4.3. Formas de Procedimento Interpretativo


• Eqüidade: correspondência ética e jurídica da circunscrição – norma ao caso
concreto;

• Doutrina: estudos, investigações e reflexões teóricas dos cultores do direito;

• Jurisprudência: repetição constante de decisões no mesmo sentido em casos


semelhantes.

5. ANALOGIA

Consiste em aplicar a uma hipótese não regulada por lei disposição relativa a um caso
semelhante.

5.1. Fundamento

Ubi eadem ratio, ibi eadem jus (onde há a mesma razão, aplica-se o mesmo Direito).

5.2. Natureza Jurídica

Forma de auto-integração da lei, ou seja, forma de supressão de lacunas.

5.3. Distinção

• Analogia: inexiste norma reguladora para o caso concreto, devendo ser


aplicada norma que trata de hipótese semelhante.

• Interpretação extensiva: existe norma reguladora do caso concreto, mas esta


não menciona expressamente sua eficácia.

• Interpretação analógica: a norma, após uma enumeração casuística, traz


uma formulação genérica. A norma regula o caso de modo expresso, embora
genericamente (exemplo: artigo 121, § 2.º, inciso III e IV do Código Penal).

Observação: não confundir interpretação analógica com aplicação analógica. Aquela é


forma de interpretação e esta forma de auto-integração.

5.4. Espécies de Analogia

• In bonam partem – em benefício do agente.

• In malam partem – em prejuízo do agente.

6. FONTES DO DIREITO PROCESSUAL PENAL

6.1. Conceito

É de onde provém o Direito.


6.2. Espécies

• Material ou de produção: aquela que cria o Direito; é o Estado.

• Formal ou de cognição: aquela que revela o Direito. Pode ser:

– imediata: lei;

– mediata: costumes e princípios gerais do direito (costume é o conjunto de


normas de comportamento a que as pessoas obedecem de maneira uniforme e
constante, pela convicção de sua obrigatoriedade jurídica. Princípios gerais do direito
são postulados gerais que se fundam em premissas éticas extraídas do material
legislativo).

7. DA PERSECUÇÃO PENAL

7.1. Conceito

É a atividade do Estado que consiste em investigar, processar, comprovar e


julgar o fato punível.

7.2. Etapas da Persecução Penal

A persecução penal no Brasil desenvolve-se em duas etapas:

1) Fase de investigação (preliminar);

2) Fase Judicial ou Processual (ação penal).

7.3. Investigação

Compete, em regra, à polícia judiciária desenvolver a fase de investigação.

Porém, outras autoridades também podem investigar desde que haja previsão
legal:

1) juiz da falência investiga crime falimentar;

2) agentes fiscais investigam crimes fiscais.

Artigo 4.º, parágrafo único, do Código de Processo Penal: “A competência


definida neste artigo não excluirá a de autoridades administrativas, a quem por lei seja
cometida a mesma função.”

O Ministério Público pode investigar? O Superior Tribunal de Justiça já admitiu.

O particular pode investigar? A investigação feita por particular não é proibida.


Poderá ser realizada, mas os resultados devem ser enviados à polícia ou ao Ministério
Público.
O juiz pode investigar? Sim, em duas hipóteses:

1) crime falimentar;

2) Lei do Crime Organizado (artigo 3.º).

No Brasil, não há o chamado juizado de instrução, que consiste na possibilidade


de o juiz presidir investigação.

Somente nas hipóteses de crime falimentar e crime organizado o juiz preside as


investigações.

7.3.1. Polícia Judiciária

É exercida por autoridades policiais; visa apurar o fato e sua autoria.

É auxiliar da justiça; investiga crimes (artigo 13 do Código de Processo Penal).

O controle externo da polícia está previsto constitucionalmente e é exercido pelo


Ministério Público (artigo 129, inciso VII, da Constituição Federal). Na prática, inexiste
lei complementar para disciplinar a matéria.

No Brasil, a polícia judiciária é exercida:

– pela polícia civil;

– pela polícia federal;

– pela polícia militar nos crimes militares.

A polícia judiciária exerce suas funções conforme alguns critérios:

– territorial: quanto ao lugar da atividade pode ser terrestre, marítima ou aérea;

– em razão da matéria;

– em razão da pessoa (exemplo: delegacia da mulher).

A inobservância de qualquer um desses critérios não implica nulidade; é mera


irregularidade que não contamina a ação penal.

Artigo 22 do Código Processo Penal:

“No Distrito Federal e nas comarcas em que houver mais de uma circunscrição
policial, a autoridade com exercício em uma delas poderá, nos inquéritos a que esteja
procedendo, ordenar diligências em circunscrição de outra, independentemente de
precatórias ou requisições, e bem assim providenciará, até que compareça a
autoridade competente, sobre qualquer fato que ocorra em sua presença noutra
circunscrição.”
7.3.2. Polícia de Segurança (Administrativa ou Preventiva)

É a polícia ostensiva, fardada, exercida em regra pela polícia militar.


Normalmente, não investiga crime (exceto os militares), pois tem caráter preventivo.

INQUÉRITO POLICIAL

1. CONCEITO

É o conjunto de diligências realizadas pela polícia judiciária para a apuração de uma


infração penal e de sua autoria, a fim de que o titular da ação penal possa ingressar em
juízo (artigo 4.º do Código de Processo Penal).

2. NATUREZA JURÍDICA

O inquérito policial é procedimento persecutório de caráter administrativo e natureza


inquisitiva instaurado pela autoridade policial.

É um procedimento, pois é uma seqüência de atos voltados a uma finalidade.

Persecutório porque persegue a satisfação do jus puniendi.

Persecução é a atividade estatal por meio da qual se busca a punição e se


inicia, oficialmente, com a instauração do inquérito policial, também conhecido como
informatio delicti.

3. FINALIDADE

Conforme dispõe os artigos 4.º e 12 do Código de Processo Penal, o inquérito visa a


apuração da existência de infração penal e a respectiva autoria, a fim de fornecer ao
titular da ação penal elementos mínimos para que ele possa ingressar em juízo.

A apuração da infração penal consiste em colher informações a respeito do fato


criminoso. Apurar a autoria consiste na autoridade policial desenvolver a
necessária atividade, visando descobrir o verdadeiro autor da infração penal.

4. POLÍCIA JUDICIÁRIA

Quanto ao objeto, a polícia pode ser administrativa (preventiva) ou judiciária


(repressiva).

A polícia judiciária tem a função de auxiliar a justiça, apurando as infrações penais e


suas respectivas autorias.

O artigo 4.º, caput, do Código de Processo Penal usava inadequadamente o termo


“jurisdição”. O termo jurisdição designa a atividade por meio da qual o Estado, em
substituição às partes, declara a preexistente vontade da lei ao caso concreto.

A Lei n. 9.043, de 9.5.1995, trocou o termo “jurisdição” por “circunscrição”


(limites territoriais dentro dos quais a polícia realiza suas funções).
O parágrafo único do citado artigo também contém uma impropriedade. Ao
dispor que “a competência definida neste artigo não excluirá a de autoridades
administrativas, a quem por lei seja cometida a mesma função”, o legislador foi
infeliz, pois a autoridade policial não tem competência, mas sim atribuições.

O termo competência aqui empregado deve ser entendido como poder conferido
a alguém para conhecer determinados assuntos, não se confundindo com
competência jurisdicional, que é a medida concreta do Poder Jurisdicional.

Salvo algumas exceções, a atribuição para presidir o inquérito policial é


conferida aos Delegados de Polícia (artigo 144, §§ 1.º e 4.º, da Constituição Federal de
1988), conforme as normas de organização policial dos Estados.

A atribuição pode ser fixada, quer pelo lugar da consumação da infração (ratione loci),
quer pela natureza da mesma (ratione materiae).

A autoridade policial, em regra, não poderá praticar qualquer ato fora dos limites de sua
circunscrição, sendo necessário:

• se for em outro país: carta rogatória;

• se for em outra comarca: carta precatória;

Se for no Distrito Federal ou em circunscrição diferente dentro da mesma comarca, a


autoridade poderá ordenar diligências independente de precatórias ou requisições
(artigo 22 do Código de Processo Penal).

O flagrante deve ser lavrado no local em que se efetivou a prisão, mas se neste não
houver Delegado de Polícia, deverá o preso ser apresentado à circunscrição mais
próxima (artigos 290 e 308, ambos do Código de Processo Penal).

Concluído o flagrante, devem os atos subseqüentes ser praticados pela autoridade


do local em que o crime se consumou.

Observação: tem-se entendido que a falta de atribuição da autoridade policial


não invalida os seus atos, ainda que se trate de prisão em flagrante, pois a Polícia, por
não exercer atividade jurisdicional, não se submete à competência jurisdicional ratione
loci.

Conforme já decidiu o Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de


Justiça, o inquérito policial é peça meramente informativa, cujos vícios não contaminam
a ação penal.

O inciso LIII do artigo 5.º da Constituição Federal não se aplica às autoridades policiais,
pois estas não processam (promotor natural) nem sentenciam (juiz natural).

Assim, não foi adotado pelo referido dispositivo constitucional o princípio do “Delegado
Natural”.
5. INQUÉRITOS EXTRAPOLICIAIS (artigo 4.º, parágrafo único, do Código de
Processo Penal)

Em regra, os inquéritos policiais são presididos por Delegado de Polícia de Carreira


(artigo 144, § 4.º, da Constituição Federal), mas o parágrafo único do artigo 4.º do
Código de Processo Penal deixa claro que o inquérito realizado pela polícia judiciária
não é a única forma de investigação criminal.

Excepcionalmente, portanto, há casos em que são presididos por outras


autoridades e não pelo Delegado de Polícia, tais como:

• Inquérito judicial para apuração de infrações falimentares (presidido pelo juiz da


vara onde tramita a falência).

• Comissões Parlamentares de Inquérito (artigo 58, § 3.º, da Constituição


Federal).

• Crime cometido nas dependências da Câmara dos Deputados ou do Senado


Federal (Súmula n. 397 do Supremo Tribunal Federal – “O poder de polícia da Câmara
dos Deputados e do Senado Federal, em caso de crime cometido nas suas
dependências, compreende, consoante o regimento, a prisão em flagrante do acusado
e a realização do inquérito”).

• Inquérito civil (instaurado pelo Ministério Público, para proteção do patrimônio


público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos; conforme
dispõe o artigo 129, inciso III, da Carta Magna).

• Inquérito policial militar.

• Magistrado (o delegado deve remeter os autos ao tribunal ou a órgão especial


competente para o julgamento).

• Membro do Ministério Público (os autos devem ser remetidos ao Procurador-Geral


de Justiça).

6. VALOR PROBATÓRIO

O inquérito policial tem conteúdo informativo; visa apenas fornecer elementos


necessários para a propositura da ação penal.

Tem valor probatório relativo, pois os elementos de informação não são


colhidos sob a égide do contraditório e da ampla defesa, tampouco na presença do Juiz
de Direito.

7. DISPENSABILIDADE

O inquérito policial é uma peça útil, porém não imprescindível. Não é fase obrigatória
da persecução penal. Poderá ser dispensado sempre que o Ministério Público ou o
ofendido (no caso da ação penal privada) tiver elementos suficientes para promover a
ação penal (artigo 12 do Código de Processo Penal).

O artigo 27 do Código de Processo Penal dispõe que qualquer pessoa do povo poderá
fornecer, por escrito, informações sobre o fato e a autoria, indicando o tempo, o lugar e
os elementos de convicção, demonstrando que quando as informações forem
suficientes não é necessário o inquérito policial.

Segundo o artigo 39, § 5.º, do Código de Processo Penal, o órgão do Ministério Público
dispensará o inquérito se com a representação forem oferecidos elementos que o
habilitem a promover a ação penal.

Atenção: o titular da ação penal pode abrir mão do inquérito policial, mas não pode
eximir-se de demonstrar a verossimilhança da acusação, ou seja, não se concebe que
a acusação careça de um mínimo de elementos de convicção.

7.1. Juizados Especiais

De acordo com o disposto nos artigos 69 e 77, § 1.º, da Lei n. 9.099/95, o inquérito
policial é substituído por um simples boletim de ocorrência circunstanciado, lavrado
pela autoridade policial, chamado de termo circunstanciado, no qual constará uma
narração sucinta dos fatos, bem como a indicação da vítima, do autor do fato e das
testemunhas, em número máximo de três, seguindo em anexo um boletim médico ou
prova equivalente, quando necessário para comprovar a materialidade delitiva
(dispensa-se o laudo de exame de corpo de delito).

Lavrado o termo, este será encaminhado ao Juizado Especial Criminal.

8. CARACTERÍSTICAS

• Procedimento escrito: conforme determina o artigo 9.º do Código de Processo


Penal.

• Procedimento sigiloso (artigo 20 do Código de Processo Penal): o sigilo busca


salvaguardar a intimidade do indiciado, resguardando-se, assim, seu estado de
inocência.

- O sigilo não se estende ao representante do Ministério Público, nem à autoridade


judiciária.

-Advogado pode consultar os autos de inquérito, mas, caso seja decretado


judicialmente o sigilo, não poderá acompanhar a realização de atos procedimentais (Lei
n. 8.906/94, artigo 7.º, incisos XIII a XV, e § 1.º).

• Procedimento inquisitivo: todas as atividades concentram-se nas mãos de uma


única autoridade, que pode agir de ofício e discricionariamente para esclarecer o crime
e sua autoria.

-Não há acusação nem defesa, logo não há contraditório (exceções: há contraditório no


inquérito judicial e no inquérito para expulsão de estrangeiro).
-Não pode ser argüida suspeição da autoridade policial (artigo 107 do Código de
Processo Penal).

O artigo 14 do Código de Processo Penal dispõe que a autoridade policial poderá


indeferir pedido de diligência, exceto o exame de corpo de delito (artigo 184 do Código
de Processo Penal).

• Legalidade: o inquérito policial não pode ser arbitrário, ou seja, deve obedecer à
lei.

• Oficiosidade: esse princípio se funda no princípio da obrigatoriedade ou


legalidade. Sendo um crime de ação penal pública incondicionada, a autoridade tem o
dever de instaurar o inquérito policial de ofício (artigo 5.º, inciso I, do Código de
Processo Penal).

• Oficialidade: o inquérito policial é dirigido por órgãos públicos oficiais, no caso, a


autoridade policial. É uma atividade investigatória feita por órgãos oficiais.

• Indisponibilidade: uma vez instaurado, o inquérito policial não pode ser


arquivado pela autoridade policial (artigo 17 do Código de Processo Penal).

• Autoritariedade: é presidido por uma autoridade pública. Trata-se de exigência


constitucional (artigo 144, § 4.º).

9. INCOMUNICABILIDADE

Destinada a impedir que a comunicação do preso com terceiros venha a


prejudicar o desenvolvimento da investigação.

Mediante despacho fundamentado do juiz a partir de requerimento da autoridade


policial ou do Ministério Público, respeitadas as prerrogativas do advogado, poderá ser
decretada a incomunicabilidade do indiciado pelo prazo de até três dias, por
conveniência da investigação ou interesse da sociedade (artigo 21 do Código de
Processo Penal).

Entendemos que a incomunicabilidade não foi recepcionada pela nova ordem


constitucional.

A Constituição Federal, em seu artigo 136, § 3.º, inciso IV, proíbe a incomunicabilidade
durante o estado de defesa.

Assim, se é vedada em situações excepcionais, com mais razão deve ser vedada em
situações de normalidade.

Em sentido contrário, o Professor Damásio de Jesus entende que a proibição está


relacionada com crimes políticos ocorridos durante o estado de defesa.

A incomunicabilidade, de qualquer forma, não se estende ao advogado (Estatuto da


Ordem dos Advogados do Brasil, artigo 7.º, inciso III).
10. “NOTITIA CRIMINIS”

10.1. Conceito

É o conhecimento, espontâneo ou provocado, de um fato aparentemente delituoso pela


autoridade policial.

10.2. Espécies

• “Notitia Criminis” de cognição direta, imediata, espontânea ou


inqualificada:

ocorre quando a autoridade policial toma conhecimento direto da infração penal por
meio de suas atividades rotineiras. Exemplo: policiamento, imprensa, pelo encontro do
corpo de delito ou até pela delação anônima. A delação anônima (apócrifa) é chamada
notitia criminis inqualificada.

• “Notitia Criminis” de cognição indireta, mediata, provocada ou


qualificada:

ocorre quando a autoridade policial toma conhecimento do delito por meio de algum ato
jurídico de comunicação formal, como por exemplo a delatio criminis (comunicação de
um crime feito pela vítima ou por qualquer um do povo), a requisição do Ministério
Público ou autoridade judiciária e a representação do ofendido.

• “Notitia Criminis” de cognição coercitiva: ocorre no caso de prisão em


flagrante, em que a notícia se dá com a apresentação do autor do fato.

• Observação: se for crime de ação pública condicionada ou de iniciativa privada,


o auto de prisão em flagrante somente poderá ser lavrado se forem observados os
requisitos dos §§ 4.º e 5.º do artigo 5.º do Código de Processo Penal.

11. INÍCIO

11.1. Nos Crimes de Ação Pública Incondicionada

• De ofício: a autoridade tem a obrigação de instaurar o inquérito policial,


independente de provocação, sempre que tomar conhecimento imediato e direto do
fato, por meio de delação verbal ou por escrito, feito por qualquer pessoa do povo
(delatio criminis simples), notícia anônima (notitia criminis inqualificada), por meio de
sua atividade rotineira (cognição imediata), ou no caso de prisão em flagrante. O ato de
instauração é a portaria.

• Por requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público: não


obstante a hipótese prevista no artigo 40 do Código de Processo Penal, se não
estiverem presentes os elementos indispensáveis ao oferecimento da denúncia, a
autoridade judiciária poderá requisitar a instauração de inquérito policial para a
elucidação dos fatos.
A autoridade policial não pode se recusar a instaurar o inquérito, pois a requisição tem
natureza de determinação, de ordem, muito embora inexista subordinação hierárquica.

• Delatio criminis: é a comunicação de um crime feita pela vítima ou por


qualquer um do povo.

Caso a autoridade policial indefira a instauração de inquérito, caberá recurso ao


Secretário de Estado dos Negócios da Segurança Pública ou ao Delegado-Geral de
Polícia (artigo 5.º, § 2.º, do Código de Processo Penal).

A delatio criminis pode ser simples (mera comunicação) ou postulatória (comunica e


pede a instauração da persecução penal).

Trata-se de faculdade conferida ao cidadão de colaborar com a atividade repressiva do


Estado.

Contudo, há algumas pessoas que, em razão do seu cargo ou função, estão obrigadas
a noticiar a ocorrência de crimes de que tenham tomado conhecimento no desempenho
de suas atividades (artigo 66, incisos I e II, da Lei das Contravenções Penais; artigo 45
da Lei n. 6.538/78; artigo 269 do Código Penal; artigos 104 e 105 da Lei de Falências).

11.2. Nos Crimes de Ação Pública Condicionada

• Mediante representação do ofendido ou de seu representante legal: a


representação é simples manifestação de vontade da vítima ou de seu representante
legal, não havendo exigência formal para a sua elaboração.

• Mediante requisição do Ministro da Justiça: deve ser encaminhada ao chefe


do Ministério Público o qual poderá, desde logo, oferecer a denúncia ou requisitar
diligências à polícia.

11.3. Nos Crimes de Ação Privada

Nesses casos a instauração do inquérito policial depende de requerimento do


ofendido, de seu representante legal ou sucessores, conforme disposto no artigo 5.º, §
5.º, combinado com os artigos 30 e 31, todos do Código de Processo Penal.
O artigo 35 do Código de Processo Penal não foi recepcionado pela Constituição
Federal, por força do artigo 226, § 5.º, podendo a mulher casada requerer a
instauração do inquérito policial independentemente de outorga marital.

Nada obstante, a Lei n. 9.520, de 27.11.1997, revogou expressamente a norma contida


no artigo 35 do Código de Processo Penal.

11.4. Observações

O inquérito policial também pode começar mediante auto de prisão em flagrante nos
três casos (ação penal pública incondicionada, condicionada e ação penal privada).

Nos crimes de ação pública condicionada e de ação privada, o ofendido deverá ratificar
o flagrante até a entrega da nota de culpa (24h).
A autoridade policial não poderá instaurar o inquérito policial se não houver justa causa
(se o fato for atípico ou se estiver extinta a punibilidade).

Porém, o desconhecimento da autoria ou a possibilidade do sujeito ter agido sob a


proteção de alguma excludente da ilicitude não impede a instauração do inquérito.

1. PROVIDÊNCIAS DA AUTORIDADE POLICIAL

O inquérito policial não tem um procedimento rígido, ou seja, uma seqüência imutável
de atos.

O artigo 6.º do Código de Processo Penal indica algumas providências que, de regra,
devem ser tomadas pela autoridade policial para a elucidação do crime e da sua
autoria.

1.1. Dirigir-se ao Local do Crime

A autoridade policial, se possível e conveniente, deve se dirigir ao local do crime e


preservar o estado das coisas até a chegada da perícia.

Qualquer alteração no estado de coisas pode comprometer as provas a serem


produzidas (artigo 169 do Código de Processo Penal).

Exceção: acidente automobilístico, em que os veículos devem ser deslocados com a


finalidade de desobstruir a via pública (artigo 1.º da Lei n. 5.970/73).

1.2. Apreender os Objetos Relacionados com o Fato

Deve também apreender os objetos e instrumentos do crime após liberação pela


perícia (artigo 11 do Código de Processo Penal – instrumentos e objetos do crime
apreendidos serão anexados ao inquérito policial).

Para essa apreensão, é necessária uma diligência denominada busca e apreensão,


que pode ser efetuada no local do crime, em domicílio ou na própria pessoa.

A busca domiciliar pode ser realizada em qualquer dia, porém devem ser respeitadas
as garantias de inviolabilidade domiciliar (artigo 5.º, inciso XI, da Constituição Federal).

À noite, é lícito entrar no domicílio alheio em quatro situações:

• a convite do morador;

• em caso de flagrante delito;

• para prestar socorro;

• em caso de desastre.

Durante o dia:

• nas quatro situações acima citadas;


• mediante prévia autorização judicial, corporificada em instrumento denominado
mandado de busca e apreensão.

Antes, a autoridade policial não precisava de autorização judicial, porém, mesmo


com esta, não podia entrar à noite.

Aplicava-se o artigo 172 do Código de Processo Civil por analogia, contudo, em


dezembro de 1.994, esse artigo teve sua redação alterada, não sendo mais possível
sua aplicação.

Domicílio, nos termos do artigo 150, § 4.º, do Código Penal, é qualquer compartimento
habitado; aposento ocupado por habitação coletiva; compartimento não aberto ao
público, onde alguém exerce profissão ou atividade.
Exemplos: o escritório de advogado, na parte aberta ao público, não é domicílio, mas a
sala do advogado sim (observação:
a busca em escritório de advocacia deverá ser acompanhada por um representante da
Ordem dos Advogados do Brasil);
o mesmo entendimento se tem quanto a bar, pois considera-se domicílio a área interna
do balcão, onde é exercida a atividade pelo proprietário ou seu funcionário, sendo que
a parte externa, a freqüentada pelo público, não; quarto de hotel etc. Automóvel não é
domicílio.
A busca pessoal é aquela feita na própria pessoa.

Independe de mandado, desde que haja fundada suspeita.

Pode ser realizada a qualquer dia e a qualquer hora, salvo se a pessoa estiver em seu
domicílio.

1.3. Ouvir o Ofendido e as Testemunhas

Podem ser conduzidos coercitivamente se desatenderem, sem justificativa, a intimação


da autoridade policial (princípio da autoritariedade – artigo 201, parágrafo único, do
Código de Processo Penal).

O ofendido e a testemunha faltosa podem responder por crime de desobediência


(artigo 219 do Código de Processo Penal e artigo 330 do Código Penal).

Se o ofendido ou a testemunha for membro do Ministério Público ou da Magistratura


deverá ser observada a prerrogativa de serem ouvidos, em qualquer processo ou
inquérito, em dia, hora e local previamente ajustados com a autoridade competente.

A testemunha tem o dever de falar a verdade, sob pena de responder pelo crime de
falso testemunho (artigo 342 do Código Penal). O ofendido que mentir não comete
crime de falso testemunho.

1.4. Ouvir o Indiciado


Deverá a autoridade policial ouvir o indiciado, observando-se os mesmos preceitos
norteadores do interrogatório judicial (artigo 6.º, inciso V, do Código de Processo
Penal).

1.4.1. Indiciamento

Consiste na suspeita oficial acerca de alguém, ou seja, é a imputação a alguém, no


inquérito policial, da prática de ilícito penal, sempre que houver razoáveis indícios de
sua autoria.

É um ato abstrato, um juízo de valor da autoridade policial que vai reconhecer alguém
como principal suspeito.

1.4.2. Interrogatório extrajudicial

O termo de interrogatório extrajudicial será assinado pelo delegado de polícia, pelo


escrivão, pelo interrogado e por duas testemunhas presentes à leitura do termo (trata-
se de testemunhas instrumentárias, que não depõem sobre fatos, mas sobre a
regularidade de um procedimento).

Observe-se que as duas testemunhas não precisam estar presentes ao interrogatório,


mas à leitura do termo.

O interrogatório extrajudicial tem valor probatório relativo; só valerá se confirmado por


outros elementos de prova.

A Constituição Federal consagrou o direito de silêncio ao indiciado.

A autoridade policial, portanto, deve informá-lo desse direito (artigo 5.º, inciso LXIII, da
Constituição Federal), não podendo mais adverti-lo de que seu silêncio poderá
prejudicar sua própria defesa, pois o artigo 186 do Código de Processo Penal não foi
recepcionado pela Constituição Federal.

Embora tenha o direito de permanecer calado, o indiciado deverá atender à intimação


do Delegado de Polícia e comparecer ao ato, sob pena de condução coercitiva (artigo
260 do Código de Processo Penal).

A autoridade policial não precisa intimar o defensor do indiciado para acompanhar o


ato, muito menos nomear-lhe um.

1.4.3. Membro do Ministério Público

Se o suspeito for membro do Ministério Público, a autoridade policial não pode indiciá-
lo, devendo encaminhar os autos do inquérito ao Procurador-Geral de Justiça.

1.4.4. Indiciado menor

No interrogatório do indiciado menor (maior de 18 e menor de 21 anos), a autoridade


deverá nomear-lhe um curador.
Não observada essa regra, a ação penal não será afetada, pois o inquérito policial é
mera peça informativa e seus vícios não contaminam aquela.

No entanto, haverá perda do valor probatório do ato e se houve prisão em flagrante,


esta será relaxada por vício formal (retira-lhe a força coercitiva).

No interrogatório judicial, a ausência de curador gerará sua nulidade (artigo 564, inciso
III, alínea “c”, do Código de Processo Penal).

Qualquer pessoa pode ser nomeada curador.

A jurisprudência faz, no entanto, uma restrição em relação aos policiais, pois estes têm
interesse na investigação.

A idade do menor a ser considerada é a do dia do interrogatório (tempus regit actum).

1.4.5. Identificação criminal

A autoridade policial deve proceder à identificação do indiciado pelo processo


datiloscópico, salvo se ele já tiver sido civilmente identificado (artigo 5.º, inciso LVIII, da
Constituição Federal).

Embora a Constituição Federal assegure que o civilmente identificado não será


submetido à identificação criminal, ressalva a possibilidade de o legislador
infraconstitucional estabelecer algumas hipóteses em que até mesmo o portador da
cédula de identidade civil esteja obrigado a submeter-se à identificação criminal.

O legislador já estabeleceu algumas hipóteses.

As hipóteses previstas na Lei n. 10.054/00, em seu artigo 3.º, são as seguintes:

• indiciamento ou acusação por homicídio doloso, crime contra o


patrimônio mediante violência ou grave ameaça, crime de receptação qualificada,
crimes contra a liberdade sexual e falsificação de documento público;

• fundada suspeita de falsificação ou adulteração de documento de identidade;

• mal estado de conservação ou distância temporal da carteira de identidade,


quando impossibilitar a leitura dos dados essenciais;

• quando constar outros nomes ou apelidos dos registros policiais;

• quando houver registro de extravio da carteira de identidade;

• quando o acusado não comprovar em 48 horas a sua identificação civil.

Observações: na primeira hipótese, a regra nos parece inconstitucional por ofensa ao


princípio do estado de inocência, pois a simples razão de o agente estar sendo
acusado pela prática deste ou daquele crime não pode, por si só, justificar o
constrangimento, exceto no caso de envolvimento em quadrilhas organizadas, capazes
de forjar documentos falsos.
Por fim, há outra hipótese em que o portador da cédula de identidade civil está
obrigado a submeter-se à identificação criminal: trata-se da identificação criminal de
pessoa envolvida com ação praticada por organização criminosa (artigo 5.º da Lei n.
9.034/95).

A identificação criminal compreende a datiloscópica (impressões digitais) e a


fotográfica.

1.4.6. Incidente de insanidade mental

Somente o juiz pode determinar a instauração. A autoridade policial não pode.

1.5. Reconhecimento de Pessoas e Coisas e Acareações

Poderão ser realizadas acareações (artigos 229 e 230 do Código de Processo Penal) e
reconhecimento de pessoas e coisas (artigos 226 a 228 do Código de Processo Penal).

Quanto ao reconhecimento, caso haja receio de intimidação, a autoridade policial


providenciará para que o reconhecido não veja quem o está reconhecendo, mas, em
juízo, o reconhecimento terá de ser feito frente a frente com o acusado.

A acareação é o confrontamento de depoimentos divergentes prestados.

1.6. Exame de Corpo de Delito

Deverá ser determinada a realização do exame de corpo de delito sempre que a


infração tiver deixado vestígios, ou de quaisquer outras perícias que se mostrarem
necessárias à elucidação do ocorrido (artigos 158 a 184 do Código de Processo Penal).

Observação: os peritos deverão sempre atuar em número mínimo de dois.

1.7. Reprodução Simulada dos Fatos

O artigo 7.º do Código de Processo Penal dispõe sobre a reprodução simulada dos
fatos (reconstituição do crime), que não pode contrariar a moralidade e a ordem
pública.

O indiciado não pode ser obrigado a participar da reconstituição, o que violaria seu
direito ao silêncio e seu corolário, o de que ninguém está obrigado a produzir prova
contra si, mas pode ser obrigado a comparecer (artigo 260 do Código de Processo
Penal).

1.8. Relatório

Concluídas as investigações, a autoridade policial deve fazer minucioso relatório do


que tiver apurado no inquérito policial, sem, contudo, expender opiniões, julgamentos
ou qualquer juízo de valor, devendo, ainda, indicar as testemunhas que não foram
ouvidas, bem como as diligências não realizadas.
O relatório é a narração objetiva das diligências feitas pela autoridade. A autoridade
somente pode fornecer a classificação jurídica do fato, sem emitir qualquer juízo de
mérito, e a classificação não vincula o Ministério Público.

Encerrado o inquérito, os autos serão remetidos ao juiz competente.

2. PRAZO PARA ENCERRAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL

Deve ser encerrado no prazo de 30 dias, contados a partir da instauração (recebimento


da notitia criminis), se o indiciado estiver solto.

Se o fato for de difícil elucidação, a autoridade policial poderá requerer ao juiz a


devolução dos autos, para ulteriores diligências a serem realizadas no prazo fixado
pelo juiz. Não obstante a omissão do Código, entende-se que o juiz antes de conceder
novo prazo deve ouvir o titular da ação penal.

Se o indiciado estiver preso, o prazo para conclusão do inquérito será de 10 dias,


contados da data da efetivação da prisão, e não se admitirá qualquer prorrogação.

No caso de ser decretada a prisão temporária, o tempo de prisão será acrescido ao


prazo de encerramento do inquérito (Lei n. 7.960/90).

A contagem do prazo atende a regra do artigo 798, § 1.º, do Código de Processo


Penal. Despreza-se o dia inicial, incluindo-se o dia final. O decurso não acarretará a
perda do direito de punir, apenas o relaxamento da prisão.

2.1. Prazos Especiais

2.1.1. Justiça Federal

Se o inquérito estiver tramitando perante a Justiça Federal, o prazo será de 15


dias, prorrogável por mais 15, se o indiciado estiver preso.

Se o indiciado estiver solto, o prazo será de 30 dias, com a possibilidade de


prorrogação por mais 30 dias (artigo 66 da Lei n. 5.010/66).

No caso de tráfico internacional, aplica-se o prazo da Lei de Tóxicos (vide item


seguinte), adotando-se o princípio da especialidade.

2.1.2. Tóxicos

• Lei n. 6.368/76: se o indiciado estiver preso o prazo para remessa ao Poder


Judiciário é de 5 dias (no caso de tráfico é de 10 dias for força do artigo 35, parágrafo
único). Na hipótese de liberdade, o prazo é de 30 dias (artigo 21, § 1.°).

• Lei n. 10.409/02: se o indiciado estiver preso o prazo para remessa ao Poder


Judiciário é de 15 dias. Na hipótese de liberdade, o prazo é de 30 dias, podendo ser
prorrogado se autorizado pelo juiz (parágrafo único do artigo 29).
Remetemos o aluno ao estudo do módulo IV de Legislação Penal Especial, no que diz
respeito à aplicabilidade da lei nova.

2.1.3. Crimes contra a economia popular

No caso de crimes contra a economia popular, o prazo é de 10 dias, estando o


indiciado preso ou solto (Lei n. 1.521/51, artigo 10, § 1.º).

3. ARQUIVAMENTO
Só pode ser determinado pelo juiz se houver requerimento do Ministério Público.
Se o Juiz discordar do pedido de arquivamento, aplicará o disposto no artigo 28 do
Código de Processo Penal, ou seja, remeterá os autos ao Procurador-Geral, que
poderá:

• oferecer a denúncia;

• designar outro órgão do Ministério Público para oferecer a denúncia: o promotor


ou procurador designado está obrigado a oferecer a denúncia, sem que haja ofensa ao
princípio da independência funcional, pois age em nome da autoridade que o designou
(por delegação) e não em nome próprio;

• insistir no arquivamento: neste caso, o Poder Judiciário não poderá discordar do


arquivamento.

O juiz, ao remeter os autos ao Procurador-Geral de Justiça, exerce função anormal,


qual seja, a de fiscal do princípio da obrigatoriedade da ação penal.

O delegado não pode arquivar o inquérito policial (artigo 17 do Código de Processo


Penal).

Arquivado o inquérito policial, não poderá ser promovida a ação privada


subsidiária, pois esta só é possível no caso de inércia do Ministério Público.

O inquérito policial, arquivado por falta de provas, só poderá ser reaberto se surgirem
novas provas (súmula n. 524 do Supremo Tribunal Federal).

O despacho que arquivar o inquérito é irrecorrível.

Cabe recurso nas seguintes hipóteses:

• em casos de crime contra a economia popular, caberá recurso de ofício (artigo 7.º
da Lei n. 1.521/51);

• no caso das contravenções previstas nos artigos 58 e 60 do Decreto-lei n.


6.259/44, quando caberá recurso em sentido estrito;

• do arquivamento determinado de ofício pelo juiz cabe correição parcial.


Se o tribunal der provimento a esses recursos, o inquérito policial será remetido
ao Procurador-Geral.

Se o promotor de justiça requerer a devolução dos autos à polícia para diligências


complementares, o juiz poderá, caso discorde, aplicar por analogia o artigo 28 do
Código de Processo Penal. Se assim fizer, caberá correição parcial.

O pedido de arquivamento feito pelo titular da ação penal privada significa renúncia
tácita (causa a extinção da punibilidade).

Por fim, salientamos a possibilidade de trancar o inquérito por meio de habeas corpus
quando houver indiciamento abusivo ou quando o fato for atípico.

Da Ação Penal
1. DA AÇÃO PENAL

1.1. Conceito

Ação penal é o direito de pedir ao Estado-Juiz a aplicação do direito penal objetivo a


um caso concreto.

É também o direito público subjetivo do Estado-Administração, único titular do poder-


dever de punir, de pleitear ao Estado-Juiz a aplicação do direito penal objetivo, com a
conseqüente satisfação da pretensão punitiva.

1.2. Características

A ação penal é um:

• direito público: visa à aplicação do Direito Penal que é público;

• direito subjetivo: pertence a alguém que pode exigir do Estado-Juiz a prestação


jurisdicional;

• direito autônomo: não se confunde com o direito material tutelado;

• direito abstrato: independe do resultado do processo.

1.3. Condições Genéricas da Ação

1.3.1. Possibilidade jurídica do pedido

A providência pedida ao Poder Judiciário só será viável se o ordenamento, em


abstrato, expressamente a admitir. Assim, a lei penal material deve cominar, em
abstrato, uma sanção ao fato narrado na peça inicial.

1.3.2. Legitimidade “ad causam” para agir

É na lição de Alfredo Buzaid a pertinência subjetiva da ação.


É a legitimação para ocupar os pólos da relação jurídica processual.

Na ação penal pública o pólo ativo é ocupado pelo Ministério Público; na ação penal
privada, o pólo ativo é ocupado pelo ofendido ou seu representante legal.

O pólo passivo é ocupado pelo provável autor do fato.

Os legitimados são os titulares dos direitos materiais em conflito.

O Estado exerce por intermédio do Ministério Público seu direito de punir que colide
com o direito de liberdade do acusado.

No caso da ação penal privada, o ofendido age como substituto processual


(legitimação extraordinária), pois só possui o direito de acusar (jus accusationis), sendo
que o direito de punir pertence sempre ao Estado.

1.3.3. Interesse de agir

Consiste na necessidade do uso das vias jurisdicionais para a defesa do interesse


material pretendido e na sua adequação ao provimento pleiteado.

Por conseguinte, não será recebida a denúncia quando estiver extinta a punibilidade do
acusado. Nesse caso, a perda do direito material de punir resultou na desnecessidade
de utilização das vias processuais.

1.4. Condições Específicas da Ação

Ao lado das condições que vinculam a ação civil, também aplicáveis ao processo
penal (explicitadas no item anterior), a doutrina atribui a este algumas condições
específicas, ditas condições específicas de procedibilidade. São elas:

• representação do ofendido e requisição do ministro da Justiça;

• entrada do agente no território nacional;

• autorização do legislativo para a instauração de processo contra Presidente da


República e Governadores, por crimes comuns;

• trânsito em julgado da sentença que, por motivo de erro ou impedimento, anule o


casamento, no crime de induzimento a erro essencial ou ocultamento do impedimento.

1.5. Classificação da Ação Penal

A par da tradicional classificação das ações em geral, levando-se em conta a natureza


do provimento jurisdicional invocado (de conhecimento, cautelar e de execução), no
processo penal é corrente a divisão subjetiva das ações, isto é, em função da
qualidade do sujeito que detém a sua titularidade.

Segundo o critério subjetivo a ação penal pode ser:


• ação penal pública: exclusiva do Ministério Público (artigo 100 do Código Penal).
Pode ser:

– incondicionada: nos crimes que ofendem a estrutura social, o interesse geral, e


por isso independe da vontade de quem quer que seja;

– condicionada: depende de representação do ofendido ou de requisição do


ministro da Justiça.

• ação penal privada: nos crimes que afetam a esfera íntima do ofendido

• A ação penal privada pode ser exclusivamente privada, personalíssima


ou subsidiária da pública.

1.6. Ação Penal Pública Incondicionada

O Ministério Público independe de qualquer condição para agir.

Quando o artigo de lei nada mencionar, trata-se de ação penal pública incondicionada.

É regra no Direito Penal brasileiro.

A ação penal pública tem como titular exclusivo (legitimidade ativa) o Ministério Público
(artigo 129, inciso I, da Constituição Federal).

Para identificação da matéria incluída no rol de legitimidade exclusiva do Ministério


Público, deve-se observar a lei penal.

Se o artigo ou as disposições finais do capítulo nada mencionar ou mencionar as


expressões “somente se procede mediante representação” ou “somente se procede
mediante requisição do ministro da Justiça”, apenas o Órgão Ministerial poderá propor
a denúncia (peça inicial de toda a ação penal pública).

Somente o Ministério Público pode oferecer a denúncia (artigo 129, inciso I, da


Constituição Federal).

Esse princípio extinguiu o chamado procedimento judicialiforme ou ação penal ex


officio, também chamado de “jurisdição sem ação” (verificava-se nas contravenções
penais - artigo 26 do Código de Processo Penal; nas lesões corporais culposas e no
homicídio culposo).

Nesses casos, o juiz ou a autoridade policial, por meio de portaria ou pelo auto de
prisão em flagrante, iniciava a ação penal (não havia denúncia por parte do Ministério
Público).

Vale lembrar que apesar de a matéria constar no rol de legitimidade exclusiva do


Ministério Público, se o parquet não oferecer a denúncia no prazo legal, pode o
ofendido ou seu representante legal ingressar com ação penal privada subsidiária da
pública (artigo 5.º, inciso LIX, da Constituição Federal).
Os princípios que regem a ação penal pública incondicionada são os seguintes:

1.6.1. Princípio da oficialidade

Os órgãos encarregados da persecução penal são públicos.

O Estado é titular exclusivo do direito de punir e o faz por meio do devido processo
legal. O Ministério Público é titular exclusivo da ação penal pública.

No caso de inércia do Ministério Público, este princípio sofre relativização, pois a vítima
pode ingressar com ação penal privada subsidiária.

1.6.2. Princípio da obrigatoriedade ou legalidade

O Ministério Público tem o dever, e não a faculdade, de ingressar com a ação penal
pública, quando concluir que houve um fato típico e ilícito e tiver indícios de sua autoria.

O Ministério Público não tem liberdade para apreciar a oportunidade e a conveniência


de propor a ação, como ocorre na ação penal privada.

Como o Órgão Ministerial tem o dever de ingressar com a ação penal pública, o pedido
de arquivamento deve ser motivado (artigo 28 do Código de Processo Penal).

Devendo denunciar e deixando de fazê-lo, o promotor poderá estar cometendo crime


de prevaricação.

Esse princípio foi mitigado com a entrada em vigor da Lei n. 9.099/95 (artigos 74 e 76).
No caso de infração de pequeno potencial ofensivo, antes de oferecer a denúncia, o
Ministério Público pode oferecer a transação, um acordo com o autor do fato.

Para esse caso vigora o princípio da discricionariedade regrada.

1.6.3. Princípio da indisponibilidade

Depois de proposta a ação, o Ministério Público não pode desistir (artigo 42 do Código
de Processo Penal).

O artigo 564, inciso III, alínea “d”, do Código de Processo Penal prevê que o Ministério
Público deve manifestar-se sobre todos os termos da ação penal pública.

Esse princípio também foi mitigado pela Lei n. 9.099/95 (referente a crimes de menor
potencial ofensivo e contravenções penais - artigo 61); o Ministério Público pode propor
ao acusado a suspensão condicional do processo, conforme artigo 89.

1.6.4. Princípio da intranscendência

A ação penal não pode passar da pessoa do autor e do partícipe.

Somente estes podem ser processados (não pode ser contra os pais ou representante
legal do autor ou partícipe).
1.6.5. Princípio da indivisibilidade

O Ministério Público não pode escolher, dentre os indiciados, qual vai processar.

Decorre do princípio da obrigatoriedade.

Esse princípio também é aplicável à ação penal privada (artigo 48 do Código de


Processo Penal).

Alguns doutrinadores, no entanto, entendem que à ação penal pública aplica-se o


princípio da divisibilidade, pois o Ministério Público pode optar por processar apenas
um dos ofensores, optando por coletar maiores evidências para processar
posteriormente os demais. Esse também é o entendimento da jurisprudência.

1.6.6. Princípio da oficiosidade

Os encarregados da persecução penal devem agir de ofício, independentemente de


provocação, salvo nas hipóteses em que a ação penal pública for condicionada à
representação ou à requisição do ministro da justiça.

1.7. Ação Penal Pública Condicionada

Apesar de o Ministério Público ser o titular exclusivo da ação (somente ele pode
oferecer a denúncia), depende de certas condições de procedibilidade para ingressar
em juízo.

Sem estas condições, o Ministério Público não pode oferecer a denúncia.

A condição exigida por lei pode ser a representação do ofendido ou a requisição do


ministro da Justiça.

1.7.1. Representação do ofendido

Representação é a manifestação de vontade do ofendido ou de seu representante


legal, autorizando o Ministério Público a ingressar com a ação penal respectiva.
Sem essa autorização, nem sequer poderá ser instaurado inquérito policial.

Se o artigo ou as disposições finais do capítulo mencionar a expressão “somente se


procede mediante representação”, deve o ofendido ou seu representante legal
representar ao Ministério Público para que este possa ingressar em juízo.

A representação não exige formalidades, deve apenas expressar, de maneira


inequívoca, a vontade da vítima de ver seu ofensor processado.

Pode ser dirigida ao Ministério Público, ao juiz de Direito ou à autoridade policial (artigo
39 do Código de Processo Penal). Pode ser escrita (regra) ou oral, sendo que, neste
caso, deve ser reduzida a termo.

A representação tem natureza jurídica de condição objetiva de procedibilidade. É


condição específica da ação penal pública.
A vítima (ou seu representante legal) tem o prazo de seis meses da data do
conhecimento da autoria (e não do crime), ou, no caso do artigo 29, do dia em que se
esgotar o prazo para o oferecimento da denúncia, para apresentar sua representação
(artigo 38 do Código de Processo Penal).

Tal prazo é contado para oferta da representação e não para o ingresso do Ministério
Público com a ação penal, podendo este oferecer a denúncia após os seis meses.

Tal prazo não corre contra o menor de 18 anos, ou seja, após completar 18 anos, a
vítima terá seis meses para representar ao Ministério Público.

Em qualquer caso, tal prazo é decadencial (artigo 107, inciso IV, do Código Penal).
Esse prazo não se suspende nem se prorroga (artigo 10 do Código Penal).

A Lei de Imprensa, dispondo de forma diversa, prescreve que o prazo para a


representação, nos crimes de ação pública condicionada por ela regulados, é de três
meses, contado da data do fato, isto é, da data da publicação ou da transmissão da
notícia (Lei n. 5.250/67, artigo 41, § 1.º).

Se a vítima for menor de 18 anos, somente seu representante legal pode oferecer a
representação.

Se o ofendido for incapaz e não tiver representante legal o juiz nomeará um curador
especial que decidirá se representará ou não.

Se maior de 18 e menor de 21 anos, tanto ele como seu representante legal têm
legitimidade, com prazos independentes (Súmula n. 594 do Supremo Tribunal Federal),
podem oferecer a representação e, caso haja conflito entre os interesses de ambos,
prevalece a vontade de quem quer representar.

Se houver conflito entre o interesse do ofendido e o do seu representante legal, será


nomeado um curador especial que verificará a possibilidade ou não da representação.

No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente, o direito de


representação transmite-se ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão
(enumeração taxativa).

Segundo o artigo 25 do Código de Processo Penal, pode o ofendido retratar-se (ou


seja, desistir da representação) até o oferecimento da denúncia. Após o oferecimento
da denúncia, a representação será irretratável.

Entendemos que não pode haver retratação da retratação (a pessoa retira a


representação e depois a oferece de novo – sempre dentro do prazo decadencial de
seis meses).

Como bem lembra Tourinho Filho, admitir o contrário “é entregar ao ofendido arma
poderosa para fins de vingança ou outros inconfessáveis”. A jurisprudência, no entanto,
a nosso ver de forma equivocada, tem admitido este inconveniente procedimento.
A representação não vincula (obriga) o Ministério Público a ingressar com a ação; o
Ministério Público só oferecerá a denúncia se vislumbrar a materialidade do crime e os
indícios de autoria, senão poderá pedir o arquivamento do inquérito policial.

A representação é autorização para a persecução penal de um fato e não de pessoas


(eficácia objetiva). Assim, a representação contra um suspeito se estenderá aos
demais.

1.7.2. Requisição do ministro da Justiça

Requisição é o ato político e discricionário pelo qual o ministro da Justiça autoriza o


Ministério Público a propor a ação penal pública nas hipóteses legais.

A doutrina entende que os casos de ação penal pública condicionada à requisição do


ministro da Justiça são casos em que a conveniência política em instaurar a
persecução penal se sobrepõe ao interesse de punir os delitos.

Se o artigo ou as disposições finais do capítulo mencionar a expressão “somente se


procede mediante requisição do Ministro da Justiça”, para que o Ministério Público
possa oferecer a denúncia, é necessária tal formalidade.

Tem natureza jurídica de condição de procedibilidade e, como a representação, não


vincula o Ministério Público a oferecer a denúncia, este pode requerer o arquivamento.

Podemos citar as seguintes hipóteses de requisição:

• crimes contra a honra praticados contra o Presidente da República (artigo 141,


inciso I, combinado com o artigo 145, parágrafo único, do Código Penal);

• crime cometido por estrangeiro contra brasileiro, fora do Brasil (artigo 7.º, § 3.º,
alínea “b”, do Código Penal);

A requisição é autorização para a persecução penal de um fato e não de pessoas


(eficácia objetiva).

O ministro da Justiça não tem prazo para oferecer a requisição, pode fazê-lo a qualquer
tempo (não se sujeita aos seis meses de prazo como na representação).

A lei silencia sobre a possibilidade de retratação.

Sobre o assunto, a doutrina apresenta duas orientações:

• segundo o Prof. Damásio de Jesus, entre outros, deve-se aplicar a analogia com o
instituto da representação (artigo 25 do Código de Processo Penal), sendo, portanto,
possível a retratação;

• segundo outra parte da doutrina, a requisição é irretratável, pois o artigo 25 do


Código de Processo Penal não prevê tal possibilidade

Ação Penal Privada


1. AÇÃO PENAL PRIVADA

1.1. Conceito

É a ação proposta pelo ofendido ou seu representante legal.

O Estado, titular exclusivo do direito de punir (artigo 129, inciso I, da Constituição


Federal), por razões de política criminal, outorga ao ofendido o direito de ação.

O ofendido, em nome próprio, defende o interesse do Estado na repressão dos delitos.

1.2. Substituição Processual

O Estado é o titular exclusivo do direito de punir.

Nas hipóteses de ação penal privada, ele transfere ao particular a iniciativa da ação,
mas não o direito de punir.

O ofendido, portanto, em nome próprio, defende interesse alheio (legitimação


extraordinária).

Na ação penal pública, ocorre legitimação ordinária porque é o Estado soberano, por
meio do Ministério Público, que movimenta a ação.

1.3. Titular

Se o ofendido for menor de 18 anos, ou mentalmente enfermo, ou retardado mental, e


não tiver representante legal, ou seus interesses colidirem com os deste último, o
direito de queixa poderá ser exercido por curador especial, nomeado para o ato (artigo
33 do Código de Processo Penal).

Se maior de 18 e menor de 21 anos, o direito de queixa é titularizado por cada um


deles, independentemente, conforme a Súmula 594 do Supremo Tribunal Federal.

Se maior de 21 anos, a queixa será exercida apenas pelo ofendido, excluindo-se a


figura do representante legal, salvo, é claro, se mentalmente incapaz.

No caso de morte do ofendido, ou de declaração de ausência, o direito de queixa, ou


de dar prosseguimento à acusação, passa a seu cônjuge, ascendente, descendente ou
irmão (artigo 31).

Exercida a queixa pela primeira delas, as demais se acham impedidas de fazê-lo, só


podendo assumir a ação no caso de abandono pelo querelante, desde que o façam no
prazo de sessenta dias, observada a preferência do artigo 36 do Código de Processo
Penal, sob pena de perempção (artigo 60, inciso II).

A doutrina considera esse rol taxativo e preferencial.

No caso de ação penal privada personalíssima, o direito de ação é intransferível.

1.4. Espécies de Ação Penal Privada


• Ação penal exclusivamente privada: é aquela proposta pelo ofendido ou seu
representante legal, que permite, no caso de morte do ofendido, a transferência do
direito de oferecer queixa ou prosseguir na ação ao cônjuge, ao ascendente, ao
descendente ou ao irmão (artigo 31 do Código de Processo Penal).

• Ação penal privada personalíssima: é aquela que só pode ser promovida única
e exclusivamente pelo ofendido.

Exemplo: adultério (artigo 240 do Código Penal), induzimento a erro essencial (artigo
236, parágrafo único, do Código Penal).

Assim, falecendo o ofendido, nada há que se fazer a não ser aguardar a extinção da
punibilidade do agente.

• Ação penal privada subsidiária da pública: aquela proposta pelo ofendido ou


por seu representante legal na hipótese de inércia do Ministério Público em oferecer a
denúncia. Conforme entendimento pacífico do Supremo Tribunal Federal, a ação
subsidiária não tem lugar na hipótese de arquivamento de inquérito policial.

1.5. Prazo

Em regra, o prazo para o oferecimento da queixa é de seis meses a contar do


conhecimento da autoria.

Tratando-se de ação penal privada subsidiária, o prazo será de seis meses a contar do
encerramento do prazo para o Ministério Público oferecer a denúncia.

É um prazo decadencial, pois seu decurso leva à extinção do direito de queixa.

A decadência não extingue o direito de punir (o que leva tal direito à extinção é a
prescrição).

A decadência extingue o direito de ação (queixa) e o direito de representação (nas


ações públicas condicionadas).

Trata-se de prazo de direito material contado de acordo com o artigo 10 do


Código Penal, computando-se o dia do começo e excluindo-se o do final; não se
prorroga se terminar no domingo ou feriado. Interrompe-se com o oferecimento da
queixa, e não com o seu recebimento.

O recebimento interrompe a prescrição.

A decadência do direito de queixa subsidiária não extingue a punibilidade, só extingue


o direito de ação, portanto, o Ministério Público pode oferecer a denúncia a qualquer
tempo, mesmo após os seis meses.

1.6. Princípios da Ação Penal Privada

1.6.1. Princípio da conveniência ou oportunidade


O ofendido tem a faculdade, não o dever de propor a ação penal.

1.6.2. Princípio da disponibilidade

O ofendido pode desistir ou abandonar a ação penal privada até o trânsito em julgado
da sentença condenatória, por meio do perdão ou da perempção (artigos 51 e 60 do
Código de Processo Penal, respectivamente).

A desistência com a aceitação do ofendido equivale ao perdão.

1.6.3. Princípio da indivisibilidade

O ofendido é obrigado a incluir na queixa todos os ofensores.

Não é obrigado a apresentar a queixa, mas, se o fizer, é obrigado a interpor contra


todos (artigo 48 do Código de Processo Penal).

A exclusão voluntária na queixa-crime de algum ofensor acarreta a rejeição da peça


inicial em face da ocorrência da renúncia tácita no tocante ao não incluído – esta causa
extintiva da punibilidade comunica-se aos demais querelados (artigo 49 do Código de
Processo Penal).

O Ministério Público não pode aditar a queixa para nela incluir os outros
ofensores, porque estaria invadindo a legitimação do ofendido.

• Para Tourinho Filho, entretanto, o aditamento é possível com base no artigo 46,
§ 2.º, do Código de Processo Penal.
• Mirabete entende que no caso de não-inclusão involuntária de ofensor na
queixa-crime (por desconhecimento da identidade do co-autor, por exemplo), o
Ministério Público deve fazer o aditamento, nos termos do artigo 45 do Código de
Processo Penal.

1.6.4. Princípio da intranscendência

Trata-se de princípio constitucional que impõe que a ação penal só pode


ser ajuizada contra o autor do fato e nunca contra os seus sucessores.

2. DENÚNCIA E QUEIXA
2.1. Requisitos da Denúncia (artigo 41 do Código de Processo Penal)

• Endereçamento: o endereçamento equivocado caracteriza mera irregularidade,


sanável com a remessa dos autos ao juiz competente.

• Descrição completa dos fatos em todas as circunstâncias: no processo penal,


o réu defende-se dos fatos a ele imputados, sendo irrelevante a classificação jurídica
destes. O que limita a sentença são os fatos; sua narração incompleta acarreta a
nulidade da denúncia, se a deficiência inviabilizar o exercício do direito de defesa.
A omissão de alguma circunstância acidental não invalida a queixa ou a denúncia,
podendo ser suprida até a sentença (artigo 569 do Código de Processo Penal).

Na hipótese de concurso de agentes (co-autoria e participação), sempre que possível,


é necessária a descrição da conduta de cada um.

A jurisprudência já abriu exceções para não inviabilizar a persecução penal, como nos
seguintes casos:

crimes de autoria coletiva (praticados por multidão);

delitos societários (diretores se escondem atrás da pessoa jurídica).

• Classificação jurídica dos fatos: a correta classificação do fato imputado não é


requisito essencial da denúncia, pois não vincula o juiz que pode dar aos fatos
definição jurídica diversa.

O réu se defende dos fatos e não da acusação jurídica (juria novit curia – o juiz
conhece o direito).

O juiz não pode, ao receber a denúncia, dar uma classificação jurídica diversa da
contida na exordial porque a fase correta para isso é a sentença (artigo 383 do Código
de Processo Penal);

1. o recebimento é uma decisão de mera prelibação, sem o exame aprofundado da


prova;
2. não há ainda prova produzida pelo crivo do contraditório.

• Qualificação do denunciado: individualização do acusado. Não havendo dados


para a qualificação do acusado, a denúncia deverá fornecer seus dados físicos (traços
característicos), desde que possível.

• Rol de testemunhas: a denúncia é o momento oportuno para o arrolamento das


testemunhas, sob pena de preclusão.

Perdida a oportunidade, o rol poderá ser apresentado aguardando-se que o juiz


proceda à oitiva considerando as testemunhas como suas.

• Pedido de condenação: não se exige fórmula sacramental (“peço a


condenação”), basta que fique implícito o pedido. A falta acarreta mera irregularidade.

• Nome, cargo e posição funcional do denunciante: só haverá nulidade quando


essa falta inviabilizar por completo a identificação da autoria da denúncia.

• Assinatura: a falta não invalida a peça se não houver dúvidas quanto a sua
autenticidade.

Denúncia alternativa é a descrição alternativa de fatos, de maneira que, não


comprovado o primeiro fato, pede-se a condenação do segundo subsidiariamente
(princípio da eventualidade).
A denúncia alternativa é inepta, pois inviabiliza o direito de defesa. Segundo a Súmula
n. 1 das mesas de Processo Penal da Universidade de São Paulo, a denúncia
alternativa não deve ser aceita.

2.2. Requisitos da queixa

São os mesmos requisitos da denúncia, acrescida a formalidade do artigo 44 do


Código de Processo Penal.

Na procuração, devem constar os poderes especiais do procurador, o fato criminoso e


o nome do querelado.

A finalidade de a procuração outorgada pelo querelante conter o nome do querelado e


a descrição do fato criminoso é a de fixar eventual responsabilidade por denunciação
caluniosa no exercício do direito de queixa.

O Superior Tribunal de Justiça já decidiu que a assinatura do querelante na queixa, em


conjunto com seu advogado, isentará o procurador de responsabilidade por eventual
imputação abusiva, não sendo, nessa hipótese, necessária procuração.

2.3. Omissões

Podem ser suprimidas até a sentença (artigo 569 do Código de Processo Penal).

2.4. Prazo para a Denúncia (artigo 46 do Código de Processo Penal)

O prazo é de 15 dias se o indiciado estiver solto.

Se estiver preso, o prazo é de 5 dias.

O excesso de prazo não invalida a denúncia, podendo provocar o relaxamento da


prisão.

Prazos especiais:
• crime eleitoral: 10 dias;

• crime contra a economia popular: 2 dias;

• abuso de autoridade: 48 horas;

• crime previsto na lei de tóxico: 3 dias (salvo no caso dos crimes


definidos nos artigos 12, 13 e 14, em que o prazo será de 6 dias)

2.5. Prazo para a Queixa (artigo 38 do Código de Processo Penal)

Seis meses, contados do dia em que o ofendido vier a saber quem é o autor do
crime.

No caso de ação penal privada subsidiária, o prazo será de seis meses, a contar do
esgotamento do prazo para o oferecimento da denúncia.

2.6. Aditamento da Queixa

O Ministério Público pode aditar a queixa para nela incluir circunstâncias que
possam influir na caracterização do crime e na sua classificação, ou ainda na fixação
da pena (artigo 45 do Código de Processo Penal).

O Ministério Público não poderá incluir na queixa outros ofensores se o


querelante optou por não processar os demais, pois estaria invadindo a legitimidade do
ofendido.

Nesse caso, de não inclusão injustificada, há renúncia tácita do direito de queixa e


conseqüente extinção da punibilidade dos que não foram processados, que se estende
aos querelados, por força do princípio da indivisibilidade (artigo 48 do Código de
Processo Penal).

No caso de não inclusão justificada (desconhecimento da identidade do co-autor, por


exemplo), não se trata de renúncia tácita.

Tão logo se obtenham os dados identificadores necessários, o ofendido deverá aditar a


queixa incluindo o indigitado, sob pena de, agora sim, incorrer em renúncia tácita
extensiva a todos.

O prazo para aditamento da queixa pelo Ministério Público é de três dias, a


contar do recebimento dos autos pelo órgão ministerial.

Aditando ou não a queixa, o Ministério Público deverá intervir em todos os termos do


processo, sob pena de nulidade.

Tratando-se de ação penal privada subsidiária da pública, o Ministério Público


poderá, além de aditar a queixa, repudiá-la, oferecendo denúncia substitutiva (artigo 29
do Código de Processo Penal).

2.7. Causas de Rejeição da Denúncia ou Queixa

2.7.1. Quando o fato narrado evidentemente não constituir crime

O juiz rejeitará a denúncia quando concluir que o fato narrado é atípico ou que
está acobertado por causa de exclusão de ilicitude, porque falta uma condição da ação
– uma verdadeira impossibilidade jurídica do pedido. O artigo 43, inciso I, do Código de
Processo Penal faz coisa julgada material (não pode ser oferecida a denúncia
novamente).

2.7.2. Quando já estiver extinta a punibilidade do agente

Falta uma condição da ação, que é o interesse de agir. Faz coisa julgada
material (artigo 43, inciso II, do Código de Processo Penal).

2.7.3. Ilegitimidade de parte


Quando se verifica impertinência subjetiva da ação (artigo 43, inciso III, do
Código de Processo Penal).

Ocorre, por exemplo, quando o Ministério Público oferece queixa em ação privada.

Haverá também ilegitimidade quando um menor de 18 anos ingressar com a queixa em


uma ação privada.

Nesse caso, opera-se a chamada ilegitimidade ad processum (incapacidade


processual).

2.7.4. Quando faltar condição de procedibilidade

Exemplo: apresentar a denúncia sem representação quando esta for exigida por
lei (artigo 43, inciso III, 2.ª parte, do Código de Processo Penal).

2.7.5. Quando faltar justa causa para a denúncia

É preciso um mínimo de lastro da existência do crime ou sua autoria (artigo 648,


inciso I, do Código de Processo Penal).

2.8. Renúncia

É a abdicação do direito de oferecer queixa ou representação.

Só é possível renunciar a uma ação penal privada ou a uma ação penal pública
condicionada, tendo em vista que o Ministério Público jamais pode renunciar a qualquer
ação pública.

A renúncia é unilateral, ou seja, não depende da aceitação do agente, sendo causa


extintiva da punibilidade.

A renúncia, no entanto, é extraprocessual, só poderá existir antes da propositura da


ação.

Existem duas formas de renúncia:

• expressa: quando houver uma declaração assinada pela vítima;

• tácita: quando a vítima praticar ato incompatível com a vontade de processar


(exemplo: o casamento da vítima com o agressor).

A renúncia concedida a um réu estende-se a todos, ou seja, quando houver vários


réus, a renúncia com relação a um deles implica, obrigatoriamente, renuncia a todos.

No caso de dupla titularidade para propositura da ação, a renúncia de um titular não


impede a propositura da ação pelo outro.

Não se deve confundir renúncia com desistência, tendo em vista que aquela ocorre
antes da propositura da ação e esta depois da propositura da ação.
A única situação de desistência da ação está prevista no artigo 522 do Código de
Processo Penal.

Pergunta: A aceitação por parte da vítima da indenização civil gera renúncia?

Resposta: Não, por expressa previsão do artigo 104, parágrafo único, do Código Penal.
No caso de infração penal de menor potencial ofensivo, contudo, a homologação
judicial do acordo civil, realizada na audiência preliminar, implica renúncia ao direito de
queixa ou representação (artigo 74, parágrafo único, da Lei n. 9.099/95).

2.9. Perdão do Ofendido

É possível somente na ação penal privada, tendo em vista que o Ministério Público não
pode perdoar o ofendido.
O perdão aceito obsta o prosseguimento da ação, causando a extinção da punibilidade.
Verifica-se o perdão após o início da ação, pois, tecnicamente, o perdão antes da ação
configura renúncia. Admite-se o perdão até o trânsito em julgado final.
Existem duas formas de perdão:

• expresso: quando houver uma declaração assinada pelo querelante;

• tácito: quando o querelante praticar ato incompatível com a vontade de processar.

O perdão é bilateral, depende sempre da aceitação do querelado. Caso não haja


aceitação, o processo prosseguirá.

A lei assegura ao querelado o direito de provar sua inocência. A aceitação do


querelado poderá ser:

• expressa: quando houver uma declaração assinada;

• tácita: se não se manifestar em três dias.

O perdão concedido a um co-réu estende-se a todos, entretanto, se algum dos co-réus


não o aceitar, o processo seguirá somente para ele.

A doutrina entende que é possível o perdão parcial, como, por exemplo, perdoar por
um crime e não perdoar por outro (a lei é omissa a esse respeito).

Se a vítima for maior de 18 e menor de 21 anos (caso em que há dupla titularidade), o


perdão concedido por um titular, havendo oposição do outro, não produzirá efeitos e o
processo prosseguirá.

Assim, prevalece a vontade de quem não quer perdoar (artigo 52).

No caso de o querelado ser menor de 21 anos, a aceitação só produz efeitos se houver


concordância do seu representante legal (artigo 54 do Código de Processo Penal).

Assim, prevalece a vontade de quem não quer aceitar.


2.10. Perempção

Significa a “morte” da ação penal privada em razão da negligência do querelante.

São hipóteses de perempção (artigo 60 do Código de Processo Penal):

• quando o querelante deixa de promover o andamento do processo por 30 dias


seguidos, a perempção é automática;

• quando morre o querelante ou torna-se incapaz e nenhum sucessor aparece para


dar prosseguimento à ação, em 60 dias;

• quando o querelante deixa de comparecer a ato em que deveria pessoalmente


estar presente;

• quando o querelante deixa de pedir a condenação do querelado nas alegações


finais;

• quando o querelante é pessoa jurídica que se extingue sem deixar sucessor;

• quando morre o querelante na ação penal privada personalíssima.

Ação Civil “Ex Delicto”

1. AÇÃO CIVIL “EX DELICTO”

Um dos efeitos da sentença penal condenatória é tornar certa a obrigação de reparar o


dano causado pelo crime (artigo 91, inciso I, do Código Penal).

Assim, a condenação penal imutável faz coisa julgada no cível, para efeito de
reparação do dano ex delicto, impedindo que o autor do fato renove, nessa instância, a
discussão do que foi decidido no crime. Trata-se de efeito genérico que não precisa ser
declarado na sentença penal.

O Código de Processo Penal, seguindo o Estatuto Penal, em seu artigo 63, assegura
ao ofendido, ao representante legal ou aos herdeiros daquele, o direito de executar no
cível a sentença penal condenatória transitada em julgado.

A sentença penal condenatória transitada em julgado funciona como título executivo


judicial no juízo cível, possibilitando ao ofendido obter a reparação do prejuízo sem a
necessidade de propor ação civil de conhecimento.

Com o trânsito em julgado, basta promover a liquidação do dano, para, em seguida,


ingressar com a ação de execução civil.

Como a responsabilidade civil é independente da penal, é possível o desenvolvimento


paralelo e independente de uma ação penal e uma ação civil sobre o mesmo fato.
Assim, se o ofendido ou seus herdeiros desejarem, não necessitarão aguardar o
término da ação penal, podendo ingressar, desde logo, com a ação civil reparatória.

Trata-se da ação civil ex delicto, que pode ser proposta pelo ofendido, seu
representante legal ou seus herdeiros, em razão da ocorrência de um delito.

Está disposta nos artigos 63 a 67 do Código de Processo Penal. É proposta no juízo


cível contra o autor do crime ou seu responsável civil.

Observação: a coisa julgada produzida no cível pela condenação penal não abrange o
responsável civil, sob pena de violação a princípios constitucionais, tais como o
princípio do contraditório e da ampla defesa.

Com o trânsito em julgado da ação penal condenatória, torna-se prejudicado o


julgamento da ação civil.

Dispõe o parágrafo único do artigo 64 do Código de Processo Penal, in verbis:


“Intentada a ação penal, o juiz da ação civil poderá suspender o curso desta, até o
julgamento definitivo daquela”.

Se a ação penal, portanto, ainda estiver em curso, a vítima poderá entrar com a ação
civil no juízo cível para requerer a indenização. Como poderá ocorrer, no entanto, o
conflito de decisões, o juiz da ação civil poderá suspender o curso dessa ação até
julgamento final da ação penal.

Nem sempre a absolvição do réu no juízo criminal impedirá a actio civilis ex delicto. Em
regra, esta só não poderá ser proposta quando tiver sido categoricamente reconhecida
a inexistência material do fato.

Assim, não impedirão a propositura da ação civil:

• o despacho de arquivamento do inquérito ou das peças de informação;

• a decisão que julgar extinta a punibilidade;

• a sentença absolutória que decidir que o fato imputado não constitui crime;

• a sentença absolutória por insuficiência de provas;

• a sentença absolutória em face de causa excludente de culpabilidade.

Não caberá, entretanto, a ação civil reparatória:

• quando o juiz criminal reconhecer a inexistência do fato;

• quando o juiz criminal reconhecer que o sujeito não participou do fato;


• quando o juiz criminal reconhecer uma causa excludente da ilicitude (legítima
defesa, estado de necessidade, exercício regular de direito ou estrito cumprimento do
dever legal).

Essas causas excluem a ilicitude penal e civil.

Há, entretanto, duas exceções:

• no estado de necessidade agressivo, no qual o agente sacrifica bem de terceiro


inocente, este pode acioná-lo civilmente, restando ao causador do dano a ação
regressiva contra quem provocou a situação de perigo (artigos 929 e 930 do Código
Civil de 2002);

• na hipótese de legítima defesa, na qual, por erro na execução, vem a ser


atingido terceiro inocente, este terá direito à indenização contra quem o atingiu, ainda
que este último estivesse em situação de legítima defesa, restando-lhe apenas a ação
regressiva contra seu agressor (parágrafo único do artigo 930 c/c o artigo 188, inciso I,
do novo Código Civil).

1.2. Execução Civil

A sentença penal condenatória, com trânsito em julgado, poderá ser executada no juízo
cível, mas como o juiz criminal não fixa o quantum, é necessário que se faça a
liquidação da sentença.

A ação civil de conhecimento, ou a executória, precedida da necessária ação de


liquidação, devem ser propostas perante o juízo cível.

O autor da ação cível tem o privilégio de escolher um dos foros especiais, previstos no
artigo 100, parágrafo único, do Código de Processo Civil.

Esse dispositivo, na verdade, coloca três opções de foro à disposição da vítima de


delito ou de dano sofrido em acidente de veículos: o do seu domicílio, o do local do
fato, e, regra geral, o do domicílio do réu.

Quando o titular do direito à reparação do dano for pobre (artigo 32, §§ 1.º e 2.º, do
Código de Processo Penal), a execução da sentença condenatória (artigo 63 do Código
de Processo Penal) ou a ação civil (artigo 64 do Código de Processo Penal) será
promovida, a seu requerimento, pelo Ministério Público, nos termos do artigo 68 do
Código de Processo Penal.

Jurisdição e Competência

1. JURISDIÇÃO

1.1. Conceito
Jurisdição é a função estatal exercida pelo Poder Judiciário, consistente na aplicação
de normas da ordem jurídica a um caso concreto, com a conseqüente solução do
litígio.

É o poder de julgar um caso concreto, de acordo com o ordenamento jurídico, por meio
do processo.

1.2. Princípios

• Juiz natural: ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade
competente, que é aquela cujo poder jurisdicional vem fixado em regras
predeterminadas (artigo 5.º, inciso LIII, da Constituição Federal); do mesmo modo, não
haverá juízo ou tribunal de exceção (artigo 5.º, inciso XXXVII, da Constituição Federal).

• Devido processo legal: ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem
o devido processo legal (artigo 5.º, inciso LIV, da Constituição Federal).

• Inércia: a jurisdição não age de ofício; depende de provocação das partes, pois,
caso contrário, sua imparcialidade ficaria abalada; ne procedat iudex ex oficio.

• Indelegabilidade: a jurisdição não pode ser delegada a nenhum outro órgão. O


Poder Judiciário é um Poder Constituído que recebeu sua função do Poder
Constituinte. Não se pode delegar o que se recebeu por delegação; dellegatur
dellegare non potest.

• Investidura: apenas aquele legalmente investido no exercício da função


jurisdicional é que pode exercê-la.

• Improrrogabilidade: um juiz não pode invadir a competência de outro, mesmo


com concordância das partes. Apenas, excepcionalmente, admite-se a prorrogação da
competência.

• Inevitabilidade: consiste na sujeição do réu ao processo e na sujeição de ambas


as partes à decisão.

• Indeclinabilidade da prestação jurisdicional: nenhum juiz pode subtrair-se do


exercício da função jurisdicional nem o legislador pode produzir leis restringindo o
acesso ao Poder Judiciário (artigo 5.º, inciso XXXV, da Constituição Federal).

• Correlação: a sentença deve corresponder ao pedido. Não pode haver


julgamento extra ou ultra petita.

• Aderência ao território: a jurisdição é reflexo do poder soberano do Estado; atua


dentro do território nacional. Para a jurisdição atuar em outro país é preciso que este
outro país a aceite. Exemplo: carta rogatória.

2. COMPETÊNCIA
2.1. Conceito de Competência

Competência é a delimitação do poder jurisdicional (fixa os limites dentro dos quais o


juiz pode prestar a jurisdição).

Aponta quais os casos que podem ser julgados pelo órgão do Poder Judiciário.

É, portanto, uma verdadeira medida da extensão do poder de julgar.

2.2. Critérios de Fixação

O artigo 69 do Código de Processo Penal estabelece os critérios de competência. São


eles:

I – o lugar da infração;

II – o domicílio ou residência do réu;

Observação: Os dois primeiros incisos determinam a competência


territorial ou foro competente.

III – a natureza da infração;

IV – a distribuição;

V – a conexão ou continência;

VI – a prevenção;

VII – a prerrogativa de função.

Observação: a conexão e a continência não são critérios de fixação de


competência, são critérios de modificação de competência.

3. COMPETÊNCIA EM RAZÃO DO LOCAL DA INFRAÇÃO

3.1. Foro

Foro é o território dentro do qual determinado órgão judicial exerce sua parcela de
jurisdição.

Foro da Justiça Estadual:

• 1.ª instância – comarca

• 2.ª instância – Estado

Foro da Justiça Federal:


• 1.ª instância – seção judiciária

• 2.ª instância – Região

3.2. Teorias Adotadas

“A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração,


ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução”
(artigo 70 do Código de Processo Penal).

Atenção! Não confundir:

• No caso de um crime ser praticado em território nacional e o resultado ser


produzido no estrangeiro (crimes a distância ou de espaço máximo), aplica-se a teoria
da ubiqüidade, prevista no artigo 6.º do Código Penal: o foro competente será tanto o
do lugar em que ocorreu a ação ou omissão, quanto o do local onde se produziu ou
deveria se produzir o resultado.

• No caso da conduta e do resultado ocorrerem dentro do território nacional, mas em


locais diferentes (delito plurilocal) aplica-se a teoria do resultado prevista no artigo 70 do
Código de Processo Penal: a competência será determinada pelo lugar em que se
consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato
de execução.

• No caso dos crimes de menor potencial ofensivo, sujeitos ao procedimento da Lei


n. 9.099/95, adotou-se a teoria da atividade.

Esta é a redação do artigo 63 da lei: “A competência do Juizado será determinada pelo


lugar em que foi praticada a infração penal”.

Assim, entendemos que a infração é praticada no local da ação ou omissão. Esse é o


entendimento da Profª. Ada Pellegrini Grinover.

Há na doutrina, entretanto, pensamento diverso:

• para o Prof. Mirabete, o foro competente será o local da ação ou do


resultado (teoria da ubiqüidade);

• para o Prof. Tourinho, o foro competente será o local do resultado (teoria


do resultado).

3.3. Regras Especiais

a) Fraude no pagamento por meio de cheque (artigo 171, § 2.º, inciso VI, do
Código Penal)
Trata-se do crime de estelionato, sob a modalidade da emissão dolosa de cheque sem
provisão de fundos.

O crime se consuma quando o banco sacado recusa o pagamento.

O foro competente será o do local onde se deu a recusa do pagamento pelo sacado.

Esse é o entendimento consubstanciado nas Súmulas n. 521 do Supremo Tribunal


Federal e n. 244 do Superior Tribunal de Justiça.

b) Estelionato cometido mediante falsificação de cheque

O foro competente é o local da obtenção da vantagem ilícita, conforme entendimento


da Súmula n. 48 do Superior Tribunal de Justiça.

Exemplo: Adonilza encontra uma folha de cheque na rua, vai até uma loja e faz uma
compra, fazendo-se passar por titular do cheque.

O lojista enganado entrega a mercadoria. O foro competente é o local da loja.

c) Homicídio

No homicídio, quando a morte é produzida em local diverso daquele em que foi


realizada a conduta, a jurisprudência entende que o foro competente é o da ação ou
omissão, e não o do resultado (Superior Tribunal de Justiça, 5.ª T., RHC 793, DJU, 5
nov. 1990, p. 12435).

Esta posição é majoritária na jurisprudência, e tem por fundamento a maior facilidade


que as partes têm de produzir provas no local em que ocorreu a conduta.

Contudo, ela é contrária à letra expressa da lei, que dispõe competente o foro do local
do resultado.

d) Crime de falso testemunho praticado mediante precatória

A jurisprudência entende que o foro competente será o juízo deprecado.

Assim, o local onde ocorreu a oitiva da testemunha será o competente.

e) Crime permanente

Crime permanente é aquele cuja consumação se prolonga no tempo.

Exemplo: um empresário seqüestrado em São Paulo é levado para cativeiro em


Campinas; depois o cativeiro é mudado para Americana.

A consumação desse crime ocorreu em todos esse lugares.

A competência, nesse caso, fixa-se pela prevenção (artigo 71 do Código de Processo


Penal).
f) Crime que se consuma na divisa entre duas comarcas

A competência será firmada pela prevenção (artigo 70, § 3.º, do Código de Processo
Penal).

g) Crime a distância (ou de espaço máximo)

É aquele cujo iter criminis envolve o território de dois ou mais países.

• Se a execução se inicia no Brasil, será competente o local do último ato executório


no território nacional.

• Se a execução se inicia no exterior, será competente o local em que ocorreu ou


deveria ocorrer a consumação em território nacional. Exemplo: terrorista envia carta-
bomba da Argentina para explodir em São Paulo, sendo que a explosão não vem a
acontecer. O foro competente para propor a ação será São Paulo.

h) Crime praticado no exterior

Crime cometido por brasileiro no exterior.

A execução e a consumação do crime ocorreram no exterior, entretanto, será julgado


pelas leis brasileiras em razão da extraterritorialidade da lei penal.

O foro competente para julgar o acusado será o da capital do Estado do seu último
domicílio.

Se o réu nunca teve domicílio no Brasil, será competente o juízo do Distrito Federal
(artigo 88 do Código de Processo Penal).

i) Crime praticado a bordo de embarcação

O foro competente será o local do porto nacional onde ocorreu o primeiro atracamento
após o crime ou o porto de onde a embarcação saiu do Brasil para o exterior.

Para os crimes cometidos a bordo de aeronave, utiliza-se a mesma regra: o foro


competente será o local do aeroporto onde ocorreu o primeiro pouso após o crime ou o
aeroporto de onde decolou a aeronave antes do crime.

Observação: “Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território


nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a
serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as
aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada,
que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-
mar” (§ 1.º do artigo 5.º do Código Penal).

3.4. Domicílio ou Residência – Critério Subsidiário


Conforme o artigo 72 do Código de Processo Penal, não sendo conhecido o lugar da
infração, a competência regular-se-á pelo domicílio ou residência do réu.

Exemplo: uma passageira de um ônibus que fazia o percurso São Paulo/Bahia, ao


desembarcar, percebe que teve sua carteira furtada.

O ônibus esteve o tempo todo em trânsito, não havendo como precisar o local da
infração. A ação será proposta no local do domicílio ou residência do réu.

Se o réu tiver mais de um domicílio, conforme o artigo 72, § 1.º, do Código de Processo
Penal, a competência firmar-se-á pela prevenção.

Caso o réu não tenha domicílio certo, ou seja ignorado seu paradeiro, será competente
o juiz que primeiro tomou conhecimento do fato.

Na ação penal privada, o ofendido poderá preferir o foro do domicílio ou residência do


réu, mesmo quando conhecido o lugar da infração.

O critério é optativo, de acordo com o artigo 73 do Código de Processo Penal.

4. COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA MATÉRIA

Conforme a natureza da infração, a ação será julgada por uma determinada justiça
competente.

Organização da Justiça Penal:

• Comum – Federal e Estadual (a Justiça Estadual também é conhecida como


residual; sua competência compreende o que não for da competência das Justiças
Eleitoral, Militar e Federal).

• Especial – Eleitoral (artigo 121 da Constituição Federal/88) e Militar (artigo 124 da


Constituição Federal/88).

4.1. Justiça Eleitoral

É estruturada em três níveis:

• Tribunal Superior Eleitoral (Brasília)

• Tribunal Regional Eleitoral (capital do Estado)

• Juiz Eleitoral (Juízes de Direito da Justiça Estadual)

Tem competência para julgar:

• crimes eleitorais definidos no Código Eleitoral;


• crimes eleitorais previstos nas leis extravagantes.

4.2. Justiça Militar

a) Justiça Militar Federal

• Superior Tribunal Militar (Brasília – 2.ª instância)

• Auditorias Militares compostas por um juiz togado e quatro oficiais (1.ª instância).

b) Justiça Militar Estadual

• Tribunal de Justiça Militar ou Tribunal de Justiça (para os Estados que não


possuem TJM – 2.ª instância)

• Auditorias Militares compostas por um juiz togado e quatro oficiais (1.ª instância).

Serão Julgados pela Justiça Militar Federal:

• Integrantes das forças armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica) que pratiquem


crime definido como militar.

• Civil que pratique crime contra instituição militar federal. Observação: assim
dispõe a Súmula n. 53 do Superior Tribunal de Justiça:

“Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar civil acusado de prática de


crime contra instituições militares estaduais”.

Assim, se o civil cometer crime contra instituição militar federal, será julgado pela
justiça militar federal; se o civil cometer crime contra instituição militar estadual, será
julgado pela justiça comum estadual.

Serão julgados pela Justiça Militar Estadual (artigo 125, § 4.º, da Constituição
Federal/88):

• policiais militares e bombeiros militares, nos crimes definidos em lei como


militares.

Crimes Militares:

• Propriamente militar ou próprio: são aqueles definidos no Código Penal Militar


(Decreto-lei n. 1.001/69), sem equivalente na justiça penal comum.

Exemplo: motim, dormir em serviço, deserção, insubordinação.


• Impropriamente militar ou impróprio: são aqueles crimes definidos na
legislação militar com equivalente na lei penal comum.

Exemplo: lesões corporais.

Os crimes militares próprios são julgados pela justiça militar.

Com relação aos crimes militares impróprios, o Código Penal Militar estabelece em seu
artigo 9.º, inciso II, as situações em que o crime é praticado em situação de serviço.

Nesse caso, ou seja, se o crime for praticado pelo militar em serviço, será crime militar.
Se o militar não estiver em serviço, será julgado pela justiça comum.

Se o militar em serviço pratica crime não definido no Código Penal Militar, será julgado
pela Justiça Comum.

Exemplo: crime de abuso de autoridade – Lei n. 4.898/65.

A Lei n. 9.299/96 alterou algumas regras do Código Penal Militar e do Código de


Processo Penal Militar. Alguns crimes que eram da Justiça Militar passaram para a
competência da Justiça Comum:

• crimes praticados por militar fora do serviço com arma da corporação;

• crimes dolosos contra a vida praticados por militar contra civil, mesmo em
situação de serviço, também passaram a ser da competência da Justiça Comum,
julgados pelo Tribunal do Júri.

Atenção para as seguintes súmulas do Superior Tribunal de Justiça:

Súmula n. 6 do Superior Tribunal de Justiça:

“Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar delito decorrente de acidentes


de trânsito envolvendo viatura militar, salvo se autor e vítima forem policiais militares
em situação de atividade”.

Súmula n. 75 do Superior Tribunal de Justiça:

“Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar o policial militar acusado de


facilitação de fuga de preso em estabelecimento penitenciário”.

Súmula n. 78 do Superior Tribunal de Justiça:

“O policial militar será julgado pela Justiça Militar Estadual de seu Estado, ainda que o
crime seja praticado em outro Estado”.

Súmula n. 172 do Superior Tribunal de Justiça:


“Compete à Justiça Comum processar e julgar militar por crime de abuso de
autoridade, ainda que praticado em serviço”.

4.3. Justiça Comum Federal

O artigo 109 da Constituição Federal estabelece os crimes de competência da Justiça


Federal:

a) Crimes políticos

A lei não define o que é crime político. Os doutrinadores estabelecem dois critérios:

• subjetivo: leva em conta a finalidade, que deve ser política;

• objetivo: leva em conta o bem jurídico violado (crimes que violem o Regime
Democrático ou praticado contra as Instituições Políticas); crimes enquadrados na Lei
de Segurança Nacional.

b) Crimes praticados em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou


de suas autarquias ou empresas públicas

Crimes praticados contra funcionário público federal, quando relacionados com o


exercício da função, são julgados pela Justiça Federal, conforme a Súmula n. 147 do
Superior Tribunal de Justiça.

Também são de competência da Justiça Federal os crimes praticados por servidor


público federal no exercício de suas funções.

Conforme a Súmula n. 38 do Superior Tribunal de Justiça, as contravenções praticadas


em detrimento de bens ou interesses da União serão julgadas pela Justiça Comum
Estadual.

São de competência da Justiça Comum Estadual os crimes praticados contra


sociedade de economia mista (Súmula n. 42 do Superior Tribunal de Justiça).

São de competência da Justiça Comum Estadual os crimes praticados por indígena ou


contra ele (Súmula n. 140 do Superior Tribunal de Justiça).

c) Crimes a Distância previstos em tratado ou convenção internacional

A exemplo dos crimes de tráfico internacional de entorpecentes, tráfico internacional de


crianças e tráfico internacional de mulheres.

d) Crimes praticados a bordo de navio ou aeronave, ressalvada a competência da


Justiça Militar

As embarcações de pequeno porte são de competência da Justiça Comum Estadual.

e) Crimes contra a organização do trabalho


Trata-se de crimes contra a organização coletiva do trabalho.

f) Crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro

Fatos definidos no Estatuto do Estrangeiro (Lei n. 6.815/80).

4.4. Justiça Comum Estadual

Tem competência residual.

Sua competência é encontrada por exclusão.

Assim, se o crime não for militar, eleitoral e não estiver inserido na competência da
Justiça Comum Federal, será julgado pela Justiça Comum Estadual.

1. COMPETÊNCIA PELA PRERROGATIVA DE FUNÇÃO

O foro por prerrogativa de função não é privilégio pessoal, mas sim garantia inerente a
cargo ou função.
A razão do legislador, ao atribuir o julgamento a um órgão colegiado, é evitar que um
juiz monocrático pudesse ceder a eventuais pressões, comprometendo sua
imparcialidade.
Assim, trata-se de uma garantia à sociedade, pois o que se busca é a imparcialidade
do julgador.
A Lei n. 8.038/90 dispõe sobre o procedimento para os processos perante o Superior
Tribunal de Justiça e Supremo Tribunal Federal.

Antes de receber a denúncia ou a queixa, o Tribunal deve notificar a autoridade para


apresentar, em 15 dias, a defesa preliminar.

É oportunidade de defesa para a autoridade.

O Tribunal pode, além de receber ou rejeitar a inicial, julgar improcedente a acusação.


Não é possível interposição de recurso visando ao reexame de prova.

Fases do procedimento no Tribunal:

1) oferecimento da denúncia ou queixa;

2) defesa preliminar;

3) recebimento da denúncia ou queixa, com fundamentação;

4) citação;

5) audiência de instrução;
6) depoimento;

7) interrogatório;

8) diligências;

9) alegações finais;

10) sentença.

Se a infração for cometida:

• Por quem tem prerrogativa de função (exemplo: prefeito) e uma pessoa sem
prerrogativa, ambos serão julgados pelo Tribunal de Justiça, pela continência.

• Por duas pessoas que têm prerrogativa de função, por exemplo, prefeito
(Tribunal de Justiça) e senador (Supremo Tribunal Federal).

• São competências fixadas pela Constituição Federal/88, não podendo ser


reunidas para o julgamento em conjunto, pois a continência prevista no Código de
Processo Penal é infraconstitucional; ocorrerá, portanto, a disjunção.

A competência para oferecer a denúncia é do Procurador-Geral da República (PGR),


quando for competente o Supremo Tribunal Federal, e do Procurador-Geral da Justiça
(PGJ), quando for competente o Tribunal de Justiça.

Se um deputado estadual comete crime doloso contra a vida, a quem competirá o


julgamento?

Há duas posições.

Para uma primeira corrente, o deputado estadual deverá ser julgado pelo júri popular, ante
a falta de previsão expressa de foro especial na Lei Maior, a qual manda aplicar-lhe
apenas suas regras “sobre sistema eleitoral, inviolabilidade, imunidades, remuneração,
perda de mandato, licença, impedimentos e incorporação às Forças Armadas” (artigo 27, §
1.º).

É certo que nada impede venham as constituições estaduais a adotar o foro especial, mas,
não o tendo feito a Carta Federal, esta competência não poderia prevalecer sobre a
constitucional do Júri (artigo 5.º, inciso XXXVIII, alínea d).

O entendimento que nos parece mais correto, no entanto, é o de que, tendo a Carta
Magna estabelecido foro especial para os membros do Poder Legislativo da União, os
Estados, ao repetir em suas constituições idêntica garantia para seus parlamentares,
estão refletindo em seus textos o dispositivo da Lei Maior.

Não há qualquer tipo de inovação porque o foro por prerrogativa de função para deputados
estaduais está em perfeita sincronia com a Constituição Federal.
Esse paralelismo significa que o privilégio estadual consta também da Carta Federal e, por
esta razão, sobrepõe-se à competência do Júri.

Importante:

A prerrogativa de função vigora enquanto durar o exercício do cargo ou função,


independentemente do momento em que foi praticado o delito (a Súmula 394 do
Supremo Tribunal Federal, que dispunha em sentido contrário, foi cancelada em 25 de
agosto de 1999). Exemplo: uma pessoa pratica um crime, o processo se inicia perante
juiz comum.

O infrator, então, é eleito deputado federal.

O processo, já em andamento, será remetido para o Supremo Tribunal Federal. Se o


processo não alcança seu fim, e acaba o mandato, retorna para o juiz comum.

Outro exemplo: se um deputado federal, durante o exercício do mandato, comete um


crime, será julgado pelo Supremo Tribunal Federal.

Se o processo não alcança seu fim e o mandato acaba, será remetido para o juiz
comum.

Ainda que o crime seja praticado em outra unidade da Federação, a competência


continua sendo a do Tribunal que tem competência para julgá-lo.

1.1. Competência Para Julgar Crimes Comuns

O Supremo Tribunal Federal tem competência para julgar por crimes comuns (crimes e
contravenções) e por crimes eleitorais:

• Próprios Ministros do Supremo Tribunal Federal;

• Presidente e Vice-Presidente da República;

• Ministros de Estado;

• Ministros de Tribunais Superiores e Tribunal de Contas da União;

• Comandantes da Marinha, Exército e Aeronáutica;

• Parlamentares federais;

• Agentes diplomáticos;

• Procurador-Geral da República.
O Advogado-Geral da União não está relacionado no artigo 102 da Constituição
Federal/88, mas a doutrina entende que seu cargo tem a mesma hierarquia dos
Ministros de Estado, portanto, também deve ser julgado pelo Supremo Tribunal
Federal.

Hoje, Medida Provisória já decidiu que tem foro especial.

O Superior Tribunal de Justiça tem competência para julgar todas as infrações penais,
salvo crimes eleitorais (neste caso, cabe ao Tribunal Superior Eleitoral apreciar a
questão), cometidas por:

• Governador;

• Desembargadores dos Tribunais de Justiças dos Estados;

• Membros do Tribunal Regional Federal, Tribunal Regional Eleitoral e Tribunal


Regional do Trabalho, Tribunal de Contas do Estado, Tribunal de Contas do Município
e do Ministério Público da União que oficiem perante Tribunais.

O Tribunal Regional Federal tem competência para julgar todas as infrações penais,
salvo nos crimes eleitorais, cometidas por:

• Juízes federais da área de sua jurisdição;

• Juízes do Trabalho;

• Juízes militares;

• Prefeito Municipal, nos crimes de competência da Justiça Federal;

• Membros do Ministério Público da União.

Ao Tribunal Regional Eleitoral compete julgar os crimes eleitorais cometidos por:

• Juízes federais e estaduais;

• Membros do Ministério Público da União e dos Estados;

• Prefeitos, nos crimes eleitorais.

O Tribunal de Justiça tem competência para julgar as infrações penais comuns


cometidas por:

• Juízes de Direito;

• Juízes da Justiça Militar estadual e juízes de Alçada;

• Membros do Ministério Público estadual;


• Prefeitos municipais.

Atenção:

Prefeito Municipal:

• Tribunal de Justiça – crime comum e doloso contra a vida;

• Tribunal Regional Eleitoral – crime eleitoral;

• Tribunal Regional Federal – crimes de competência da Justiça Federal.

Juiz de Direito e Membro do Ministério Público estadual:

• Tribunal de Justiça – crime comum;

• Tribunal Regional Eleitoral – crime eleitoral.

Juiz federal:

• Tribunal Regional Federal – crime comum;

• Tribunal Regional Eleitoral – crime eleitoral.

A Constituição Estadual de São Paulo estabelece foro especial no Tribunal de Justiça para
julgar os crimes comuns cometidos por:

• Vice-Governador;

• Deputado estadual;

• Secretário de Estado;

• Procurador-Geral de Justiça;

• Procurador-Geral do Estado;

• Defensor Público Geral;

• Prefeitos municipais;

• Juízes dos Tribunais de Alçada e da Justiça Militar;

• Juízes de Direito e os auditores da Justiça Militar;


• Membros do Ministério Público;

• Comandante-Geral da Polícia Militar;

• Delegado-Geral de Polícia.

Todas essas autoridades, se cometerem crime federal, serão processadas no Tribunal


Regional Federal. É o entendimento do Supremo Tribunal Federal.

Tribunal de Justiça Militar tem competência para julgar crimes militares – Constituição
Estadual de São Paulo:

• Comandante-Geral da Polícia Militar;

• Chefe da Casa Militar.

O Ministério Público do Distrito Federal atua perante a Justiça Distrital. Se um de seus


membros comete um crime, será julgado pelo Tribunal Regional Federal da 1.ª Região;
isso porque é ramo do Ministério Público da União, apesar de atuar na Justiça Distrital.

1.2. Exceção da Verdade

Nos termos do artigo 85 do Código de Processo Penal, nos processos por crime contra
a honra, em que o querelante tiver foro especial no Supremo Tribunal Federal ou no
Tribunal de Apelação, a esses caberá o julgamento da exceção da verdade. Não cabe
a oposição de exceção da verdade:

• Na calúnia:

se o fato imputado a alguém for crime de ação penal privada, e ele não for
condenado;

se o fato é imputado ao Presidente da República ou a Chefe de Governo


estrangeiro;

se, do crime imputado, embora de ação penal pública, o ofendido foi absolvido
por sentença irrecorrível.

A exceção da verdade é questão prejudicial homogênea, pois é anterior ao mérito e


pode ser objeto de processo autônomo.

Deve ser oposta quando da defesa prévia; mas para alguns esse prazo não é fatal,
pois é questão de mérito, e o prazo fatal caracterizaria o cerceamento de defesa. Há
posicionamentos contrários.

Oposta a exceção, o querelante tem dois dias para contestá-la. Poderá arrolar no
máximo oito testemunhas.
Se na queixa já tiver arrolado quatro testemunhas, poderá arrolar mais quatro na
contestação da exceção, até completar o número legal. Isso porque, embora o crime
seja punido com detenção, o rito é ordinário.

Conforme o artigo 85, do Código de Processo Penal, a exceção será julgada pelo
Tribunal competente. Se o Tribunal julga procedente a exceção, o mérito será julgado
improcedente.

Se julga improcedente a exceção, o mérito será julgado procedente ou improcedente.

Observação: o Tribunal só faz o julgamento da exceção, as testemunhas são ouvidas


em 1.ª instância. Depois de julgar a exceção, o Tribunal devolve o processo para ser
julgado, em 1.ª instância, o mérito.

2. FIXAÇÃO DO JUÍZO COMPETENTE

Prevenção

Concorrendo dois juízes ou mais, igualmente competentes, fixa-se a competência pela


prevenção.
Ocorre a prevenção quando um dos juízes anteceder aos outros na prática de algum
ato do processo ou medida referente a esse, ainda que anterior ao oferecimento da
denúncia ou queixa.
Geram prevenção:

• Concessão de fiança;

• Decretação de Prisão Preventiva;

• Decretação de Busca e Apreensão;

• Pedido de explicação em juízo nos crimes contra a honra.

Distribuição

Se for constatado que não houve prevenção, a fixação do juízo competente se dará por
distribuição, que é o sorteio para a fixação do juiz para a causa.

2.3. Conexão e Continência

A conexão e a continência (artigo 69, inciso V, do Código de Processo Penal) são


critérios de modificação, de prorrogação da competência e não de fixação.

a) Conexão

O artigo 76 do Código de Processo Penal estabelece quando a competência será


determinada pela conexão.
A conexão existe quando duas ou mais infrações estiverem entrelaçadas por um
vínculo, um nexo, um liame que aconselha a junção dos processos.

Nesse caso, as ações serão reunidas e julgadas em conjunto, simultaneus processus,


a fim de se evitar o inconveniente de decisões conflitantes na área penal, bem como
possibilitar ao juiz uma visão mais ampla do quadro probatório.

A conexão pode ser:

• Intersubjetiva

– por simultaneidade: quando as infrações houverem sido praticadas por várias


pessoas, sem vínculo subjetivo, ao mesmo tempo (exemplo: um caminhão carregado
de laranjas tomba, e vários moradores da região apanham as laranjas);

– por concurso: quando as infrações houverem sido praticadas por várias pessoas,
com vínculo subjetivo, embora diverso o tempo e o lugar;

– por reciprocidade: quando as infrações houverem sido praticadas por várias


pessoas, umas contra as outras.

• Objetiva

– teleológica: quando as infrações houverem sido praticadas para assegurar a


execução de outra (exemplo: mata-se o segurança para seqüestrar o empresário);

– conseqüencial: quando as infrações houverem sido praticadas para garantir a


ocultação de outra (garantir que a existência da infração permaneça desconhecida),
para garantir a impunidade (garantir que a autoria da infração permaneça
desconhecida), ou para assegurar a vantagem (produto do crime).

• Instrumental ou probatória

– quando a prova de uma infração ou qualquer de suas circunstâncias


elementares influir na prova de outra infração (exemplo: prova de um crime de furto em
relação à receptação).

b) Continência

O artigo 77 do Código de Processo Penal estabelece quando a competência será


determinada pela continência.

A continência pode ser:

• Subjetiva:

• quando duas ou mais pessoas forem acusadas pela mesma infração,


configurando-se concurso de agentes. Atenção! Na conexão intersubjetiva são duas ou
mais infrações, na continência subjetiva há apenas uma infração.

• Objetiva
– concurso formal (artigo 70, 1.ª parte, do Código Penal);

– aberratio ictus – erro na execução com resultado duplo (artigo 73, parte
final, do Código Penal);

– aberratio criminis – resultado diverso do pretendido com resultado duplo


(artigo 74, parte final, do Código Penal).

O artigo 78 do Código de Processo Penal determina qual o foro deve


prevalecer em caso de conexão e continência:

I – Concurso entre jurisdições de categorias diversas (instâncias diferentes): prevalece


a mais graduada.

Exemplo: Tribunal de Justiça e juiz singular – prevalece o Tribunal de Justiça. Se a


conexão for entre crime de competência da Justiça Estadual e da Justiça Federal, para
o Prof. Tourinho, são jurisdições de mesma categoria; para a jurisprudência, a Justiça
Federal é especial em relação à Justiça Estadual.

A Súmula n. 122 do Superior Tribunal de Justiça decidiu a questão, determinando que:


“Compete à Justiça Federal o processo e julgamento unificado dos crimes conexos de
competência federal e estadual, não se aplicando a regra do artigo 78, inciso II, ‘a’, do
Código de Processo Penal”.

II – Concurso de jurisdições de mesma categoria:

• prepondera o local da infração mais grave, isto é, à qual for cominada pena
mais grave (a pena de reclusão é mais grave que a de detenção que é mais grave que
a prisão simples). Se a pena máxima for igual, compara-se a pena mínima;

• sendo iguais as penas (máxima e mínima), prevalece o local onde foi praticado
o maior número de crimes;

• se nenhum desses casos fixar a competência, utiliza-se o critério da


prevenção.

III – Competência do Júri e de outro órgão da jurisdição comum: prevalecerá a


competência do Júri.

Observação: se o crime for eleitoral e doloso contra a vida, os processos serão


julgados separadamente, não haverá a reunião de processos, pois a competência de
ambos é fixada na Constituição Federal/88.

IV – Concurso entre Jurisdição Comum e Jurisdição Especial: prevalecerá a Especial.

V – Concurso entre Jurisdição Eleitoral e Jurisdição Comum, prevalecerá a Jurisdição


Eleitoral.

Não serão reunidos os processos para julgamento em conjunto nos casos do


artigo 79 do Código de Processo Penal:
I – concurso entre jurisdição comum e militar – Súmula n. 90 do Superior Tribunal de
Justiça – “Compete à Justiça Estadual Militar processar e julgar o policial militar pela prática de
crime militar, e à Comum pela prática do crime comum simultâneo àquele”.
II – concurso entre Justiça Comum e Justiça da Infância e Juventude.

§ 1.º Superveniência de doença mental a um dos co-réus (suspende-se o processo do


enfermo);

§ 2.º Co-réu revel que não possa ser julgado à revelia (infração inafiançável, não
comparece no Tribunal do Júri, citação por edital) e na cisão do julgamento durante a
sessão plenária do Júri (artigo 461 do Código de Processo Penal).

O artigo 80 do Código de Processo Penal determina os casos em que a


separação dos processos é facultativa, apesar da conexão e continência:

• se as várias infrações forem praticadas em diferentes condições de tempo e


lugar;

• se excessivo o número de acusados;

• se, por outro motivo relevante, o juiz julgar conveniente a separação (o juiz tem
discricionariedade para determinar isso).

2.4. Perpetuação da Competência (Perpetuatio Jurisdicionis)

A vis atractiva, efeito principal da conexão e continência, desloca para a competência


de um mesmo julgador os crimes conexos aos de sua competência.

Se o juiz ou o Tribunal absolver ou desclassificar o crime de sua competência,


continuará competente para o julgamento das demais infrações (artigo 81 do Código de
Processo Penal). Exemplo: concurso de agentes – juiz e escrivão cometem crime de
furto.

Os dois serão julgados pelo Tribunal de Justiça – vis atractiva. Se o juiz for absolvido, o
escrivão continua a ser julgado pelo Tribunal de Justiça.

Exceção: no Júri, se o juiz monocrático desclassificar, impronunciar ou absolver


sumariamente o acusado, de maneira que exclua a competência do Júri, remeterá o
processo ao juiz competente (artigo 81, parágrafo único, do Código de Processo
Penal).

O juiz aguarda o trânsito em julgado e remete os autos ao juiz competente (que pode
ser ele mesmo se a comarca for pequena, devendo aguardar o trânsito em julgado).

Se os jurados desclassificam o crime, a competência para o julgamento da infração


passa para o juiz-presidente, que terá de proferir a decisão naquela mesma sessão.
Caso haja crimes conexos, a desclassificação também desloca para o juiz-presidente a
competência para seu julgamento, diante da clara redação do artigo 492, § 2.º, do
Código de Processo Penal.

É também o entendimento do Supremo Tribunal Federal.

Se, no entanto, o Júri absolver o acusado da imputação por crime doloso contra a vida,
continuará competente para a apreciação dos conexos, pois só pode proferir
absolvição quem se julga competente para analisar o fato.

2.5. Avocação de Processos (Artigo 82 do Código de Processo Penal)

Se, mesmo ocorrendo conexão ou continência, foram instaurados vários processos, a


autoridade prevalente deve avocar para si os processos que corram perante outros
juízes, se ainda não foram julgados em sentença definitiva.

Se já houver sentença definitiva, isto é, julgamento de mérito, a unificação dos


processos se dará posteriormente, na execução, para efeitos de soma ou unificação
das penas.

QUESTÕES E PROCESSOS INCIDENTES

1. INTRODUÇÃO

As questões e os processos incidentes são soluções dadas pela lei processual para as
variadas eventualidades que podem ocorrer no processo e que devem ser resolvidas pelo juiz
antes da solução da causa principal.
Incidente: aquilo que sobrevém, que é acessório.

Questão: controvérsia, discussão.

2. QUESTÕES PREJUDICIAIS

Questões prejudiciais são todas as questões de fato e de direito que, por necessidade
lógica, devem ser analisadas antes da questão principal e podem, em tese, ser objeto
de processo autônomo. A matéria é tratada nos artigos 92 a 94 do Código de Processo
Penal.
Etimologicamente “prejudicial” significa pre-iudicate, isto é, julgar primeiro. A
questão deve ser julgada em primeiro lugar, antes da questão principal.
Exemplo: um acusado de bigamia (artigo 235 do Código Penal) alega que seu primeiro
casamento é nulo. A validade ou não do casamento é questão prejudicial que deve ser
decidida antes do mérito, pois influi diretamente na decisão.

A questão prejudicial condiciona a questão prejudicada; a prejudicada está


irrecusavelmente subordinada à prejudicial.

Características da questão prejudicial:

• Anterioridade lógica: a questão prejudicial é sempre anterior à prejudicada. Não


porque surgiu primeiro na discussão processual, mas por ser logicamente anterior.
Primeiro decide-se ou aguarda-se a decisão da questão incidente e, posteriormente,
julga-se o mérito.

• Necessariedade: a questão prejudicial sempre subordina o exame da questão


principal. O mérito não pode ser decidido antes de enfrentar a questão prejudicial.

• Autonomia: a questão prejudicial pode ser objeto de processo autônomo.

• Competência na apreciação: é julgada pelo próprio juízo penal, mas pode,


excepcionalmente, ser julgada pelo juízo cível.

Atenção: questão prejudicial não se confunde com questão preliminar.

A questão preliminar versa sobre pressupostos processuais ou condições da ação.


Ambas são espécies do gênero ‘questões prévias’.

Apresentam características em comum: anterioridade lógica e necessariedade.

Mas apresentam diferenças importantes: a questão prejudicial refere-se a direito


material e a questão preliminar refere-se a direito processual.

Também se diferem no tocante à autonomia.

As questões prejudiciais podem ser objeto de processo autônomo, as questões


preliminares não.

Exemplo: falta de citação é uma questão preliminar – não se ajuíza processo autônomo
para discutir.

Classificação das questões prejudiciais:

a) Quanto à influência:

• Total: condiciona a existência do crime. Refere-se a uma elementar da infração


penal.

• Parcial: refere-se a uma circunstância do tipo penal.


b) Quanto ao mérito ou natureza:

• Homogênea: pertence ao mesmo ramo do direito da questão principal. Exemplo:


exceção da verdade na calúnia.

• Heterogênea: pertence a ramo do direito distinto da questão principal. Exemplo:


anulação de casamento e crime de bigamia (a anulação do casamento pertence ao
direito civil).

c) Quanto ao efeito:

• Obrigatória: é a questão que, uma vez presente, obriga a suspensão do processo


até o julgamento da questão incidental.

Sempre versa sobre questão de estado civil das pessoas. Exemplo: anulação de
casamento no cível e crime de bigamia.

• Facultativa: é aquela que não obriga a suspensão do processo principal, mas há


nela controvérsia de difícil solução.

Exemplo: acusado de crime contra o patrimônio alega ser o legítimo possuidor.

São características da prejudicial facultativa que não estão presentes na obrigatória:


existência de ação civil em andamento; inexistência de limitação à prova, na lei civil,
acerca da questão prejudicial.

d) Quanto ao juízo competente:

• Questão prejudicial não-devolutiva: deve ser resolvida pelo juízo criminal. São
sempre questões prejudiciais homogêneas.

• Questão prejudicial devolutiva absoluta: trata-se das questões prejudiciais


heterogêneas que deverão ser resolvidas obrigatoriamente pelo juízo cível.

Requisitos: versar a questão sobre o estado civil das pessoas (casado, solteiro, vivo,
morto, parente ou não); constituir elementar ou circunstância do fato imputado; que a
controvérsia seja séria, fundada e relevante.

Preenchidos esses requisitos, o juiz criminal obrigatoriamente deve remeter os autos


para o juiz cível e suspender o processo até o trânsito em julgado da decisão no cível.
O Ministério Público poderá intentar a ação cível, se as partes não o tiverem feito, ou
dar-lhes prosseguimento se estas desistirem do processo.

• Questão prejudicial devolutiva relativa: trata-se das questões prejudiciais


heterogêneas que poderão ou não ser resolvidas pelo juízo cível a critério do juízo
criminal.
Requisitos: que seja da competência do juízo cível; que não verse sobre o estado civil
das pessoas; que seja de difícil solução; que não sofra restrições da lei civil quanto à
sua prova (no processo penal vigora o princípio da verdade real); que já exista ação
civil em andamento.

A suspensão, nesse caso, é por prazo determinado, perfeitamente prorrogável, desde


que a parte não tenha dado causa ao atraso; findo o prazo, o juiz retoma o processo e
decide todas as questões relativas, inclusive a prejudicial. Tratando-se de crime de
ação pública, o Ministério Público poderá intervir na ação cível para promover-lhe o
rápido andamento (nesse caso, atua como fiscal da lei).

Observações:

• Durante a suspensão do processo fica suspensa a prescrição (artigo 116 do


Código Penal).

• Apesar da suspensão do processo, o juiz criminal poderá inquirir testemunhas ou


determinar produção de provas que considere urgente.

• O despacho que determina a suspensão do processo por questão prejudicial


comporta recurso em sentido estrito (artigo 581, inciso XVI, do Código de Processo
Penal). Da decisão que nega a suspensão do processo, não cabe recurso.

Neste caso, a solução será levantar a questão em preliminar de apelação.

Se a questão for devolutiva absoluta, o tribunal anula a sentença e ordena a remessa


do julgamento da questão prejudicial ao cível.

Se for devolutiva relativa, o tribunal não pode anular a sentença, mas absolve o réu.

• Do despacho que indeferir pedido da parte pleiteando a suspensão do feito, cabe


correição parcial, alegando-se tumulto na tramitação do processo.

• A decisão do juízo cível vincula o juízo criminal.

3. EXCEÇÕES

Exceção em sentido amplo compreende o direito público subjetivo do acusado


em se defender. Em sentido estrito, a exceção pode ser conceituada como o meio pelo
qual o acusado busca a extinção do processo sem o conhecimento do mérito, ou ainda
um atraso no seu andamento.

A exceção pode ser:

• Peremptória: visa extinguir o processo (coisa julgada e litispendência);

• Dilatória: visa retardar o curso do processo (suspeição, incompetência e


ilegitimidade de parte).
3.1. Exceção de Suspeição

Destina-se a rejeitar o juiz, do qual a parte argüente alegue falta de


imparcialidade ou quando existam outros motivos relevantes que ensejam suspeita de
sua isenção em razão de interesses ou sentimentos pessoais.

Se o juiz da causa se enquadrar em uma das situações de suspeição, previstas


no artigo 254 do Código de Processo Penal, e não se declarar suspeito
espontaneamente, a parte pode argüir a exceção de suspeição.

3.1.1. Procedimento

A exceção de suspeição deve preceder as demais, salvo quando fundada em


motivo superveniente (artigo 96 do Código de Processo Penal), isto porque as demais
exceções pressupõem um juiz imparcial.

Se o juiz reconhecer a suspeição de ofício, ou seja, se o juiz se der por suspeito


espontaneamente, ele fundamenta sua decisão e remete o processo ao seu substituto
legal.

Se o magistrado não se der por suspeito, qualquer das partes poderá fazê-lo em
petição assinada pela própria parte ou por procurador com poderes especiais.

A petição deve ser fundamentada e acompanhada de prova documental e rol de


testemunhas (artigo 98).

Tem legitimidade para argüir a exceção de suspeição: o autor, quando do


oferecimento da denúncia ou a queixa, e o réu (ou seu procurador com poderes
especiais), no momento da defesa.

Como o defensor dativo não tem procuração, para que ele possa argüir a
exceção, o réu também deve assinar a petição.

Se a suspeição for superveniente, a parte tem que se manifestar, nos autos, no


primeiro momento em que puder. Se a parte não argüir no momento oportuno,
equivalerá a reconhecer a capacidade moral do juiz.

O assistente de acusação tem legitimidade para argüir a suspeição do juiz?

O artigo 271 do Código de Processo Penal relaciona as funções do assistente e


nada fala sobre essa possibilidade.

Para alguns autores, o rol é taxativo, não admitindo interpretação extensiva.


Para Tourinho, o assistente tem interesse processual na imparcialidade do juiz,
devendo ser reconhecida a ele essa possibilidade.

Depois de argüida a suspeição, os autos são encaminhados ao juiz, que pode


reconhecê-la ou não.
Se o juiz reconhece, remete os autos para seu substituto legal. Dessa decisão
não cabe recurso.

Se o juiz não reconhece, determina a autuação da exceção em apartado.

O juiz excepto terá três dias para resposta escrita, juntando documentos e
arrolando testemunhas, se necessário. Posteriormente, remeterá os autos ao Tribunal
de Justiça em 24 horas (em São Paulo é julgada pela Câmara Especial).

Ao chegar no tribunal, a exceção será distribuída a um dos componentes da


Câmara Especial (composta pelos quatro vice-presidentes e pelo decano), o qual
atuará como relator. Este poderá rejeitar liminarmente a exceção ou decidir pela
relevância da argüição, determinando o processamento da exceção.

Neste caso, o Tribunal citará o excepto e o excipiente, ouvirá as testemunhas


arroladas e julgará independente de novas alegações.

Se o Tribunal julgar procedente a exceção, remeterá os autos ao substituto legal,


determinará a anulação dos atos já praticados e, se entender que houve erro
inescusável (indesculpável) do juiz excepto, poderá condená-lo nas custas da exceção.

Observação: no Estado de São Paulo, a Lei Estadual n. 9.452/85 isenta o


pagamento de custas no processo penal.

Se o Tribunal de Justiça julgar improcedente, determinará a continuidade normal


do processo. O Tribunal poderá condenar o excipiente ao pagamento de multa, se
restar evidenciado que este agiu de má-fé visando tumultuar o processo.

Contra quem a exceção de suspeição pode ser argüida?

A exceção pode ser argüida também contra o membro do Ministério Público e os


sujeitos processuais secundários (perito, intérprete, serventuário da Justiça e jurados).

Súmula n. 234, Superior Tribunal de Justiça: “A participação de membro do Ministério


Público na fase investigatória criminal não acarreta o seu impedimento ou suspeição
para o oferecimento da denúncia.”

Se o Promotor foi testemunha, não pode participar da ação penal.

3.1.2. Exceção de suspeição de jurado

Instalada a sessão de julgamento com 15 jurados no mínimo, 7 formarão o


Conselho de Sentença.

No Júri as partes podem recusar os jurados. As partes podem fazer três recusas
peremptórias, isto é, sem justificação.

Havendo justificativa, poderão recusar tantos quanto necessários.


A suspeição do jurado deve ser argüida oralmente imediatamente após a leitura que o
juiz faz da correspondente cédula sorteada (artigo 459, § 2.º, do Código de Processo
Penal).

Se o juiz não aceitar a recusa, o jurado tomará parte no Conselho de Sentença. Tudo
constará da ata.

3.1.3. Suspeição de autoridade policial

Conforme determina o artigo 107 do Código de Processo Penal, as partes não


podem argüir a suspeição de autoridade policial.

Isso porque o inquérito policial é um procedimento inquisitivo.

O próprio delegado, entretanto, poderá declarar-se suspeito.

3.1.4. Observações

Enquanto se processa a exceção, o processo principal flui normalmente.

Assim, em regra a exceção não suspende o andamento do processo principal.

Se, diante da exceção de suspeição, a parte contrária considerar relevante a argüição,


o processo será suspenso (artigo 102).

Exemplo: a defesa concorda que a argüição de exceção de suspeição feita pelo


Ministério Público é plausível, tem fundamento.

Conforme dispõe o artigo 256 do Código de Processo Penal: “A suspeição não poderá
ser declarada nem reconhecida, quando a parte injuriar o juiz ou de propósito ser
motivo para criá-la”.

No caso de incompatibilidades (artigo 253) e impedimentos (artigo 252), aplica-se o


mesmo procedimento da suspeição.

3.2. Exceção de Incompetência do Juízo

Fundamenta-se na ausência de capacidade funcional do juiz.

O artigo 109 do Código de Processo Penal determina que, se em qualquer fase do


processo o juiz reconhecer motivo que o torne incompetente, declará-lo-á nos autos,
haja ou não alegação da parte, prosseguindo-se na forma do artigo anterior.

A incompetência absoluta pode ser reconhecida de ofício pelo juiz.

Quanto à incompetência relativa, entendemos que pode ser reconhecida de


ofício, desde que antes de operada a preclusão.

Observação: A Súmula 33 do Superior Tribunal de Justiça dispõe que “a


incompetência relativa não pode ser declarada de ofício”.
A incompetência absoluta tem um regime jurídico mais severo por versar sobre
questões de interesse público. Exemplo: o lugar da consumação do delito facilita busca
de provas.

Não é só interesse da parte. Há também interesse público.

A exceção pode ser oposta pelo réu, querelado e Ministério Público, quando este atue
como fiscal da lei. Todavia, segundo a doutrina, não pode ser argüida pelo autor da
ação.

A argüição deve ser feita no prazo de três dias da defesa prévia, tratando-se de
incompetência relativa (territorial), sob pena de prorrogação. Se a incompetência for
absoluta, poderá ser feita a qualquer tempo.

Procedimento da exceção de incompetência:

• A exceção é autuada em apartado.

• Não há suspensão do processo (artigo 111 do Código de Processo Penal).

• Ouve-se o representante do Ministério Público.

• O juiz decide a exceção: procedente e remete os autos ao juiz competente. Dessa


decisão cabe recurso em sentido estrito (artigo 581, inciso III, do Código de Processo
Penal). O juiz que receber o processo não é obrigado a concordar com essa
declinação, podendo suscitar o conflito de jurisdição ou competência; ou improcedente

Dessa decisão não caberá recurso.

Admite-se habeas corpus ou argüição em preliminar de futura e eventual apelação.

Conforme o artigo 567 do Código de Processo Penal, a incompetência do Juízo


anula somente os atos decisórios.

Dessa forma somente os atos instrutórios serão ratificados pelo juiz competente, os
atos decisórios serão anulados.

Atenção! A Jurisprudência entende que o recebimento da denúncia


ou da queixa não tem carga decisória; pode, portanto, ser ratificado.

Segundo o princípio da conseqüencialidade, se o recebimento da denúncia ou da


queixa fosse nulo, todo o processo estaria perdido.

A Jurisprudência, por isso, admite tranqüilamente a ratificação do recebimento da


denúncia ou queixa.

O recebimento da denúncia ou queixa interrompe a prescrição.

Assim, pergunta-se: se a denúncia ou queixa foi recebida pelo juiz incompetente e


depois ratificada pelo juiz competente, em que momento estaria interrompida a
prescrição?
É a ratificação do juiz competente que interrompe a prescrição. Essa
regra aplica-se para qualquer incompetência, inclusive ratione materiae.

Se a regra de competência violada estiver disposta na Constituição Federal de


1988, os atos praticados perante o juiz incompetente são considerados inexistentes.

Não há possibilidade de serem ratificados.

3.3. Exceção de Ilegitimidade de Parte

São partes ilegítimas em Processo Penal:

• Ministério Público, se oferecer denúncia em crime de ação penal privada.

• Querelante, se oferecer queixa em crime de ação penal pública.

• Querelante incapaz (a vítima deve ser maior de 18 anos).

• Alguém que se diz representante do ofendido em crime de ação penal privada,


mas não é.

A ilegitimidade pode ser ad causam ou ad processum.

A ilegitimidade ad causam refere-se a uma condição da ação; ocorre se o Ministério


Público oferece queixa e o querelante oferece denúncia.

A ilegitimidade ad processum ocorre se o querelante é incapaz ou o representante do


ofendido não é o representante legal. Tratando-se de ilegitimidade de causa ou de
processo, o instrumento para argüir é exceção de ilegitimidade.

Processamento:

• Reconhecimento de ofício pelo juiz (se for no juízo de admissibilidade, haverá a


rejeição da peça inicial – desta decisão cabe recurso em sentido estrito).

• Se o juiz não reconhecer de ofício, o réu ou o Ministério Público poderá argüir.

• A exceção será autuada em apartado.

• Não há suspensão do processo (artigo 111 do Código de Processo Penal).

• O Ministério Público é ouvido.

• O juiz decide a exceção: procedente (o reconhecimento da ilegitimidade ad


causam acarreta a nulidade absoluta do processo; o reconhecimento da ilegitimidade
ad processum acarreta a nulidade relativa do processo, admitindo a convalidação, nos
termos do artigo 568 do Código de Processo Penal); ou improcedente.

• Da decisão de procedência cabe recurso em sentido estrito; da decisão de


improcedência não cabe recurso, mas admite-se habeas corpus ou alegação em
preliminar de futura e eventual apelação.
3.4. Exceção de Litispendência

A exceção de litispendência baseia-se na proibição de uma mesma pessoa ser


processada mais de uma vez pelos mesmos fatos (non bis in idem).

Será argüida exceção de litispendência quando existirem duas ações penais em


curso, processando o mesmo réu pelo mesmo fato. Se um mesmo fato é apurado em
dois inquéritos penais não há litispendência.

Os elementos que caracterizam uma demanda são:

• Mesmas partes;

• Mesma causa de pedir (fatos narrados na denúncia);

• Mesmo pedido (condenação).

Instaurado inquérito policial com ação já em curso, sem existir requisição do juiz
ou do Ministério Público para realização de diligências complementares, caracteriza-se
constrangimento ilegal sanável por habeas corpus.

Havendo duas ações iguais, uma delas será excluída. Exclui-se a segunda.

O Supremo Tribunal Federal entende que, se alguém é absolvido como autor,


poderá ser novamente denunciado como partícipe.

Desde que não sejam alegados os mesmos fatos pelos quais já foi acusado; a
descrição fática deve ser outra.

Há quem entenda que, se alguém foi absolvido, não pode ser pelo mesmo crime
novamente processado.

Leva-se em conta o fato concreto, não importa a conduta descrita; se foi absolvido pelo
fato, não pode novamente ser processado.

Para fins de concurso público, adotar a posição do Supremo Tribunal Federal.

Processamento:

• O rito é o mesmo da exceção de incompetência.

• Autua-se em autos apartados.

• Não há suspensão do processo (artigo 111).

• Pode ser argüida a qualquer tempo.

• O juiz decide a exceção: procedente (cabe recurso em sentido estrito);


improcedente (admite-se habeas corpus).

3.5. Exceção de Coisa Julgada


Funda-se na proibição de uma mesma pessoa ser processada mais de uma vez pelos
mesmos fatos (non bis in idem).

A coisa julgada é uma qualidade dos efeitos da decisão final, marcada pela
imutabilidade e irrecorribilidade.

Tratando-se de sentença condenatória, a imutabilidade é relativa, pois pode haver


revisão criminal, indulto, anistia, unificação das penas.

A sentença absolutória, todavia, é imutável, pois não há revisão criminal pro societate.

Assim, se um sujeito foi julgado por um fato, resultando uma decisão irrecorrível, não
poderá ser julgado novamente pelo mesmo fato.

Havendo identidade de demanda (ver item anterior), não poderá haver um segundo
julgamento.

Pergunta-se: no caso de concurso formal, no qual ocorreram dois resultados, sendo o


réu julgado por apenas um resultado, ocorrendo o trânsito em julgado, poderá ser
acusado em outro processo pela prática do segundo resultado?

Resposta: depende. Se a decisão do primeiro processo for de condenação, sim, caso


em que as penas serão unificadas no juízo das execuções. Se a decisão do primeiro
processo for de absolvição, o sujeito não poderá ser processado pelo outro resultado,
sob pena de serem proferidas decisões contraditórias.

Processamento:

• Reconhecimento de ofício pelo juiz (havendo rejeição da inicial caberá


recurso em sentido estrito).

• Se o juiz não reconhecer de ofício, o réu ou o Ministério Público poderá argüir;

• Autua-se em autos apartados.

• Não há suspensão do processo.

• Pode ser argüida a qualquer tempo.

• Ouve-se o réu (se foi o Ministério Público que argüiu) ou o Ministério Público (se
foi o réu que argüiu).

• O juiz decide a exceção: procedente (cabe recurso em sentido estrito);


improcedente (admite-se habeas corpus).

4. CONFLITO DE JURISDIÇÃO

O assunto é tratado com este título no Código de Processo Penal, mas o correto
seria dizer conflito de competência, pois todo juiz tem jurisdição.
O objetivo é preservar o juiz natural. Há dois tipos de conflito de jurisdição:

• Conflito positivo de competência: ocorre quando dois ou mais Juízos ou


Tribunais se consideram ao mesmo tempo competentes para o exame de determinada
causa.

• Conflito negativo de competência: ocorre quando dois ou mais Juízos ou


Tribunais se consideram ao mesmo tempo incompetentes para o exame de
determinada causa.

Também ocorre conflito de jurisdição quando houver divergência quanto à unidade de


processo, seja sua junção ou sua separação.

O conflito de competência pode ser suscitado:

• pelas partes, por requerimento – artigo 115 do Código de Processo Penal;

• pelo juiz, por representação.

O conflito deve ser suscitado de forma escrita e fundamentado, com cópias da


alegação, conforme dispõe o artigo 116 do Código de Processo Penal.

Nos termos do § 1.º do mencionado artigo, se o conflito for negativo, os juízes e


tribunais poderão suscitá-lo nos próprios autos do processo.

Nesse caso, o relator recebe o processo e determina que os Juízos envolvidos prestem
informações. Com as informações, colhe o parecer do Ministério Público em segunda
instância (Procurador Geral). O conflito então é julgado.

Para o conflito positivo, o procedimento tem forma própria, por meio de


instrumento que é remetido ao Tribunal.

Como o processo continua tramitando, a suspensão ou não dos atos processuais


depende do relator do Tribunal. Saliente-se que no conflito negativo, os próprios autos
nos quais se suscita o conflito são encaminhados ao Tribunal.

Competência para julgar os conflitos:

• Cabe ao Supremo Tribunal Federal dirimir conflito envolvendo Tribunais


Superiores.

• Se, por exemplo, tratar-se de conflito entre Tribunal Superior e um Tribunal ou


entre Tribunal Superior e um juiz, cabe também ao Supremo Tribunal Federal dirimir.
Observação: se envolver o próprio Supremo Tribunal Federal e outro Tribunal, não há
conflito; o Supremo Tribunal Federal dá a palavra final.

• Cabe ao Superior Tribunal de Justiça dirimir conflito envolvendo Tribunal Estadual


ou Tribunal Regional Federal e um Juízo a ele não vinculado. Exemplo: Tribunal de
Justiça de São Paulo X juiz do Rio de Janeiro.
• Cabe ao Tribunal Regional Federal dirimir conflitos entre juízes federais da mesma
região. Se for região diferente, cabe ao Supremo Tribunal de Justiça.

• Cabe também ao Tribunal Regional Federal julgar conflito entre juiz federal e juiz
estadual com competência federal (exemplo: artigo 27 da Lei n. 6.368/76) – Súmula n.
3 do Superior Tribunal de Justiça .

• Cabe ao Tribunal Regional Eleitoral dirimir conflito envolvendo Juízos eleitorais do


mesmo Estado. De Estados diferentes, cabe ao Tribunal Superior Eleitoral.

• Cabe ao Tribunal de Justiça dirimir conflitos entre juízos estaduais do mesmo


Estado e Tribunal de Alçada (no âmbito penal só cabe ao Tribunal de Alçada Criminal),
ou Tribunal e juiz.

• Entre Tribunal de Justiça e Tribunal de Alçada Criminal, não há conflito. Conforme


dispõe a Súmula n. 22 do Superior Tribunal de Justiça (“não há conflito de competência
entre o Tribunal de Justiça e Tribunal de Alçada do mesmo Estado-membro”), a
competência é do Tribunal de Justiça.

• Cabe ao Tribunal de Alçada Criminal resolver conflitos entre Juízos de primeiro


grau quando for sua a competência recursal.

Observação: “reclamação” é a forma pela qual o Supremo Tribunal Federal


firma a sua própria competência (artigo 102, inciso I, alínea “l”, da Constituição
Federal).

Não há conflito de competência entre o Supremo Tribunal Federal e qualquer outro


tribunal ou juízo, pois compete ao próprio Supremo decidir sua competência.

4.1. Conflito de atribuições

Regras:

• Conflito entre dois Promotores de Justiça do mesmo Estado: é decidido pelo


Procurador-Geral de Justiça.

• Conflito entre dois Procuradores da República: é decidido pelo Procurador-Geral


da República.

• Conflito entre Ministério Público Estadual e Ministério Público Federal: é decidido


pelo Superior Tribunal de Justiça (artigo 105, inciso I, alínea “g”, da Constituição
Federal).

Observação: Quando juízes encampam as manifestações ministeriais, declarando-se


incompetentes, há conflito de atribuições (entre promotores) e conflito de competência
(entre juízes). Nesse caso, cumpre suscitar conflito de competência.
5. INCIDENTE DE INSANIDADE MENTAL

“Quando houver dúvida sobre a integridade mental do acusado, o juiz ordenará, de


ofício ou a requerimento do Ministério Público, do defensor, do curador, do ascendente,
descendente, irmão ou cônjuge do acusado, seja este submetido a exame médico-
legal” (artigo 149 do Código de Processo Penal).

O incidente de insanidade mental é instaurado quando houver dúvida sobre a saúde


mental do acusado. Pode ser instaurado no inquérito policial ou na ação penal, mas
somente é instaurado por ordem judicial.

A perícia psiquiátrica realizada no inquérito policial só pode ser instaurada pelo


juiz. Se o delegado percebe a insanidade, representa à autoridade judiciária o incidente
de insanidade mental, conforme artigo 149, § 1.º, do Código de Processo Penal.

O incidente pode ser instaurado de ofício ou pode decorrer do requerimento das


seguintes pessoas:

• membro do Ministério Público;

• defensor;

• curador;

• cônjuge, ascendente, descendente e irmão.

• por representação da autoridade policial (durante o inquérito policial)

Pergunta: No interrogatório o juiz percebe a insanidade mental do acusado. O


defensor alega que seu cliente foi interditado em processo cível; ainda assim deve-se
realizar o incidente de insanidade mental?

Resposta: Sim. O incidente é instaurado quando há dúvida sobre a saúde mental e


para verificar se na época dos fatos era o indivíduo imputável ou inimputável, conforme
dispõe o artigo 26 do Código Penal.

Não basta a doença mental, é preciso saber se em virtude dela, ao tempo da ação ou
omissão, o agente era incapaz de entender o caráter ilícito da infração.

A interdição no cível é irrelevante para o processo penal. A perícia penal visa verificar a
imputabilidade do acusado.

Procedimento do incidente de insanidade mental:

O incidente é autuado em apartado (artigo 153 do Código de Processo Penal).


O juiz expede portaria de instauração e nomeia curador (se o juiz não nomear curador
haverá nulidade absoluta).

Se já houver processo em andamento, esse ficará suspenso até julgamento do


incidente, mas o juiz pode determinar a produção de provas urgentes (§ 2.º do artigo
149). Determina o juiz que as partes elaborem quesitos.

Com os quesitos, é realizada a perícia psiquiátrica.

O prazo para realização do exame é de 45 dias, prorrogável por igual período a pedido
dos peritos, conforme dispõe o artigo 150, § 1.º, do Código de Processo Penal.

As partes examinam o laudo. Se estiver regular, o juiz homologará.

A homologação do laudo não significa concordância.

A homologação diz respeito somente quanto aos aspectos formais.

O juiz não está vinculado ao laudo, em razão do princípio do livre convencimento do


juiz.

O laudo pode concluir pela:

• imputabilidade ao tempo da infração;

• semi-imputabilidade ao tempo da infração (artigo 151 do Código de Processo


Penal);

• inimputabilidade ao tempo da infração (artigo 151 do Código de Processo Penal);

• doença mental superveniente (artigo 152 do Código de Processo Penal).

Se o laudo decidir pela imputabilidade, prossegue o processo que estava suspenso,


dispensando-se o curador que foi nomeado.

Se concluir pela semi-imputabilidade ou inimputabilidade, o processo segue com o


curador nos autos.

Concluindo pela doença mental superveniente, o processo continuará suspenso até


que o acusado se recupere. A prescrição continuará correndo.

6. RESTITUIÇÃO DE COISAS APREENDIDAS

Durante o inquérito policial, a autoridade policial, ao ensejo das investigações, pode


determinar a apreensão dos instrumenta sceleris e dos objetos que tiverem relação
com o fato criminoso (artigo 6.º, inciso II, do Código de Processo Penal).

Nos termos do artigo 240, § 1.º, alíneas b, c, d, e, f, e h, do Código de Processo Penal,


as coisas passíveis de apreensão são as seguintes:
• instrumento do crime;

• objeto de valor probatório;

• produto direto ou imediato do crime (exemplo: coisa furtada, coisa roubada).

Não são coisas passíveis de apreensão:

• produto indireto do crime; não é objeto de apreensão mas sim de seqüestro


(exemplo: o ouro roubado é derretido e transformado numa corrente – a corrente é
produto indireto) ;

• bem ou valor dado ao criminoso como pagamento ou recompensa pela prática do


crime.

Em princípio, todos os objetos apreendidos podem ser restituídos.

Coisas não passíveis de restituição:

• coisa apreendida enquanto interessar ao processo (artigo 118);

• objeto de valor probatório enquanto interessar ao processo;

• instrumento do crime cujo fabrico, alienação, porte, uso ou detenção constitua fato
ilícito, ressalvado o direito de lesado ou terceiro de boa-fé (artigo 91, inciso II, alínea
“a”, do Código Penal);

• produto direto do crime cujo fabrico, alienação, porte, uso ou detenção constitua
fato ilícito, ressalvado o direito de lesado ou terceiro de boa-fé (artigo 91, inciso II,
alínea “b”, do Código Penal).

Observações quanto aos últimos dois tópicos:

1) Após a condenação transitada em julgado, são automaticamente perdidos em


favor da União (trata-se de efeito genérico da decisão), ressalvado o direito de terceiro
de boa-fé e do lesado.

No caso de sentença absolutória, no entanto, o perdimento para a União deverá ser


declarado pelo juiz, nos termos do artigo 779 do Código de Processo Penal.

2) Quando se restitui instrumento ou produto do crime, é indispensável que o


lesado ou o terceiro de boa-fé faça jus, em razão de sua função ou qualidade, ao porte,
uso, fabrico, alienação ou detenção da coisa que normalmente é tida como ilícita.

Assim, por exemplo, furto de substância entorpecente de um laboratório, que possui


autorização para seu fabrico e alienação.
Procedimento (artigo 120 do Código de Processo Penal):

a) Devolução pela autoridade policial:

• na fase de inquérito policial, se o objeto for restituível e não houver interesse na


sua retenção.

• não deve haver dúvida sobre o direito do reclamante (a devolução pela autoridade
policial é facultativa, pois se houver dúvida o juiz decidirá).

• o objeto não pode ter sido apreendido em poder de terceiro de boa-fé.

• o Ministério Público será ouvido.

b) Devolução pelo juiz:

• a qualquer momento (na fase policial ou judicial).

• quando o direito do reclamante for duvidoso (o requerimento é autuado em


apartado, e o reclamante tem 5 dias para provar seu direito – se a questão for
complexa, o juiz determinará que o reclamante ingresse com ação própria no juízo
cível).

• objeto apreendido em poder de terceiro de boa-fé (o juiz dará prazo de 5 dias para
o reclamante e igual prazo ao terceiro, e findo o juiz dará prazo comum de 2 dias para
arrazoar – se a questão for complexa, o juiz determinará que o reclamante ingresse
com ação própria no juízo cível).

• O Ministério Público será ouvido.

Teoria Geral da Prova


1. DA PROVA

1.1. Conceito

Prova é todo elemento trazido ao processo, pelo juiz, pelas partes ou por terceiros
(exemplo: peritos), destinado a comprovar a realidade de um fato, a existência de algo
ou a veracidade de uma afirmação. Sua finalidade é fornecer subsídios para a
formação da convicção do julgador.

1.2. Objeto de Prova

São objetos de prova os fatos principais e secundários capazes de influenciar a


responsabilidade criminal do réu, a aplicação da pena e a medida de segurança. Alguns
fatos, entretanto, não podem ser objetos de prova. São eles:
O direito não pode ser objeto de prova, pois o juiz o conhece (iura novit curia); salvo
se for direito consuetudinário, estrangeiro, estadual ou municipal.

Os fatos axiomáticos, evidentes.

Os fatos notórios. O fato axiomático é diferente do fato notório, que é aquele de
conhecimento geral, que faz parte da história e refere-se a fatos políticos, sociais ou
fenômenos da natureza.

Os fatos irrelevantes, ou seja, aqueles incapazes de influenciar a responsabilidade


criminal do réu no caso concreto.

Os fatos sobre os quais incide presunção absoluta (iuris et de iure). Exemplo:
incapacidade do menor de 18 anos de entender o caráter criminoso do fato; não se
admite prova em contrário.

Atenção: no Processo Penal, os fatos incontroversos também são objeto de prova; não
se aplica a regra que incide no Processo Civil.

1.3. Classificação das Provas

Prova Direta: refere-se diretamente ao tema probandu. Exemplo: testemunha


presencial, exame de corpo de delito.

Prova Indireta: refere-se indiretamente ao tema probandu. Exemplo: álibi


apresentado pelo acusado.

Prova Pessoal: a prova emana de uma pessoa. Exemplo: interrogatório,


testemunha.

Prova Documental: a prova é produzida por meio de documentos.

Prova Material: refere-se a objetos. Exemplo: instrumentos do crime, arma do crime.

Prova Plena: é a prova que conduz a um juízo de certeza.

Prova Não Plena: é a prova que conduz a um juízo de probabilidade. Para a decisão
de pronúncia aceita-se a prova não plena, mas para a condenação é necessária a
prova plena.

1.4. Meios de Prova

Meios de prova são os métodos por meio dos quais a prova pode ser levada ao
processo.

Os meios de prova podem ser:

• nominados: são os documentos, acareações, reconhecimento de pessoas e


objetos, interceptação telefônica, interrogatório. São todos os meios de prova previstos
na legislação;
• inominados: são aqueles meios de prova que não estão previstos
expressamente na legislação. Exemplo: juntar fita de vídeo, contendo imagens de um
programa de TV em que o acusado aparece, a fim de mostrá-lasaos jurados.

1.5. Sujeitos da Prova

Os sujeitos da prova são as pessoas incumbidas de levar ao juiz os meios de prova.


São as testemunhas, com o depoimento; o réu, com o interrogatório; o perito, com o
laudo etc.

1.6. Princípios Relativos à Prova

Princípio da Comunhão da Prova: uma vez trazida aos autos, a prova se incorpora
ao processo. Por essa razão, a prova trazida por uma das partes pode ser usada pela
parte contrária. Além disso, uma vez admitida a prova, para que a parte desista dela,
deve haver anuência da parte contrária.

Princípio da Audiência Contraditória: à parte contrária sempre deve ser dado o


direito de impugnar a prova produzida pelo ex adverso.

Princípio da Liberdade dos Meios de Prova: no Processo Penal são admitidos


todos os meios de prova, nominados ou inominados, em homenagem ao princípio da
verdade real.

Esse princípio, contudo, não é absoluto, pois não se admitem as provas ilegais, que se
subdividem em provas ilícitas e ilegítimas.

Prova ilícita é a prova produzida com desrespeito à regra de direito material. Exemplo:
confissão mediante tortura.

Prova ilegítima é a prova produzida com desrespeito à regra de direito processual.


Exemplo: exibição em plenário de documento sem dar ciência à parte contrária com
pelo menos três dias de antecedência.

No Brasil adota-se a “teoria dos frutos da árvore envenenada” trazida do direito


norte-americano.

Segundo essa teoria, a prova, ainda que lícita, mas decorrente de outra prova ilícita,
não pode ser aceita.

Exemplo: o réu, mediante tortura, aponta três testemunhas. Essas testemunhas são
chamadas a Juízo. A oitiva dessas testemunhas, apesar de lícita, será considerada
ilícita, pois se originou de uma prova ilícita. Não poderá ser aceita.

1.7. Ônus da Prova

O ônus da prova é o encargo que recai sobre as partes, impondo-lhes o dever de


provar algo, sob pena de suportar uma situação processual adversa.
A acusação deve fazer prova da autoria e da materialidade do delito. Deve fazer
prova plena desses elementos.

Compete, ainda, à acusação fazer prova do elemento subjetivo, isto é, do dolo da ação
ou do elemento normativo, ou seja, a culpa: provar que o agente agiu com imprudência,
negligência ou imperícia.

A defesa deve provar os fatos impeditivos (excludentes de ilicitude), extintivos


(causas de extinção da punibilidade) ou modificativos (desclassificação ou causas de
diminuição da pena) do direito do autor. A defesa não precisa produzir prova plena,
basta o juízo de probabilidade.

1.8. Sistemas de Apreciação da Prova

Sistema Primitivo (hoje abandonado). Utilizavam-se dois sistemas: o sistema


religioso e o sistema étnico ou pagão.

O sistema religioso invocava a divindade para apreciar as provas, qualquer que fosse
o julgamento (duelos etc.).

No sistema étnico ou pagão, a apreciação das provas era feita de forma empírica,
sem qualquer regra.

Sistema Moderno.

São três os sistemas modernos:

Sistema da íntima convicção ou da certeza moral do julgador.

Nesse sistema, a decisão fica a cargo do juiz, que decide observando certas regras,
porém, não há necessidade de fundamentação do julgamento. Dá ensejo a abusos.

Sistema da prova legal ou da certeza moral do legislador. A lei fixa um regime


tarifado de provas, preestabelecendo o valor de cada prova.

Sistema do livre convencimento motivado ou persuasão racional do juiz. Nesse


sistema, o julgador tem liberdade para decidir, formando sua convicção pela livre
apreciação das provas, porém, com a obrigação de fundamentar seu julgamento.

O Código de Processo Penal adota o sistema do livre convencimento motivado.


Há uma exceção estabelecida no Código: para o Tribunal do Júri aplica-se o sistema
da íntima convicção, uma vez que os jurados não podem fundamentar suas decisões.
Das Provas em Espécie

1. PERÍCIAS
A perícia é um exame realizado por quem tem conhecimento técnico específico.
Sua finalidade é prestar auxílio ao juiz em questões fora de sua área de conhecimento
profissional.
Natureza jurídica: é um meio de prova nominado.
Seu valor probatório é idêntico ao dos demais meios de prova.
A perícia pode ser realizada a qualquer momento, desde o Inquérito Policial até a
execução.
Quando realizada no inquérito, a perícia é determinada pela autoridade policial, que pode
determinar a realização de qualquer perícia, exceto a perícia de insanidade mental, que
somente pode ser determinada pelo juiz.
O juiz pode determinar a realização de qualquer perícia. Nos termos do artigo 26, inciso I,
alínea “b”, da Lei n. 8.625/93, o promotor pode requisitar perícia dentro de procedimento
presidido por ele, como por exemplo, durante inquérito civil.
O juiz, ao apreciar o laudo pericial, não é obrigado a acatá-lo, mas, para afastá-
lo, deve fazê-lo fundamentadamente.
O perito é um sujeito processual secundário. Não podem ser peritos: os
menores de 21 anos (o novo Código Civil não modificou o inciso III do artigo 279 do
Código de Processo Penal), os analfabetos, aqueles sujeitos à interdição temporária de
direitos, aqueles que já se manifestaram sobre o objeto da perícia.
O perito pode ser:

Perito oficial: servidor público (que prestou concurso);

Perito não-oficial ou louvado: particular nomeado pela autoridade na falta de perito


oficial. O perito louvado é nomeado pela autoridade policial ou judiciária.

Assim que assume o encargo, o perito não-oficial deve prestar o compromisso de bem
e fielmente cumprir suas funções (a falta de compromisso é vista como mera
irregularidade).

Deve portar diploma de curso superior, de preferência na área do exame.

As partes não podem interferir na nomeação dos peritos (artigo 276 do Código
de Processo Penal).

Não há no Processo Penal a figura do assistente técnico.

As partes podem requerer, particularmente, uma perícia e juntá-la aos autos.

Na perícia realizada por precatória, quem nomeia o perito é o juiz deprecado. Salvo
na Ação Penal Privada em que, havendo acordo entre querelante e querelado, a nomeação
será feita pelo juiz deprecante (artigo 177 do Código de Processo Penal).
O laudo pericial deve conter:

• histórico e introdução (doutrina);


• descrição minuciosa do objeto (Código de Processo Penal);

• fundamentação (doutrina);

• respostas aos quesitos (Código de Processo Penal);

• conclusão (doutrina).

A perícia deve ser realizada por um só perito, quando oficial.

O Exame de Corpo de Delito é o exame pericial obrigatório, destinado a comprovar


a materialidade das infrações penais que deixam vestígios, isto é, infrações não
transeuntes. Sua falta acarreta a nulidade absoluta do processo.

Pode ser

• direto, quando se examinam diretamente os vestígios do crime (exemplo:


cadáver); ou

• indireto, quando se analisa elemento secundário no qual o vestígio foi registrado


(exemplo: os peritos não examinam a vítima, mas a ficha hospitalar).

Excepcionalmente, na impossibilidade de realização do exame de corpo de delito, pode


ser suprido pela prova testemunhal.

A confissão nunca supre a falta do exame de corpo de delito.

O Exame Necroscópico é o exame pericial realizado em cadáver.

Seu objetivo é determinar a causa da morte. Só pode ser realizado seis horas após o
óbito. Será dispensado em caso de morte natural ou morte violenta.

Laudo ou exame complementar é qualquer perícia que vise complementar a


perícia anteriormente realizada.

No caso de lesão corporal grave, a perícia complementar deve ser realizada logo
depois dos 30 dias da ocorrência do delito.

2. INTERROGATÓRIO

2.1. Introdução

Interrogatório é o ato processual pelo qual o acusado é ouvido pelo juiz sobre a
imputação contra ele formulada.

O interrogatório possibilita ao acusado o exercício de autodefesa.


O interrogatório é ato processual, logo a oitiva feita na delegacia não se trata
tecnicamente de um interrogatório. O indiciado é ouvido e não interrogado.

Observe-se, no entanto, que o que será dito a seguir sobre interrogatório também se
aplica à oitiva realizada pelo Delegado de Polícia.

Discutia-se se o interrogatório é meio de prova ou meio de defesa.

O Código de Processo Penal trata como verdadeiro meio de prova.

Hoje, na doutrina e na jurisprudência, predomina o entendimento de que o


interrogatório tem natureza mista, pois além de servir como meio de prova serve
também como meio de defesa, pois é uma oportunidade do réu apresentar sua versão
dos fatos (direito de audiência).

O princípio constitucional da ampla defesa (artigo 5.º, inciso LV, da Constituição


Federal/88) constitui-se da defesa técnica, que é aquela realizada pelo defensor do
acusado, pelo causídico e da autodefesa, que é ato exclusivo do acusado.

A autodefesa pode ser renunciada pelo acusado.

Constitui-se a autodefesa de: direito de presença, que é o direito do acusado


acompanhar a realização dos atos processuais, depoimentos das testemunhas; e
direito de audiência, que é o direito do acusado ser ouvido, participando da formação
do livre convencimento do juiz.

O réu também tem a garantia constitucional de permanecer calado em seu


interrogatório, sem que qualquer sanção lhe seja aplicada.

O interrogatório do réu presente é ato indispensável. Sua falta acarretará a nulidade


absoluta do processo.

Exceção: poderá haver processo de réu presente sem interrogatório nos crimes
constantes do Código Eleitoral e da Lei de Imprensa. Para o réu revel (citado
pessoalmente que não comparece nem constitui advogado), o interrogatório será
dispensado. Se comparecer no decorrer da instrução, espontaneamente ou preso, será
interrogado.

Para o interrogatório, é indispensável a citação do réu.

O artigo 188 do Código de Processo Penal estabelece o roteiro das perguntas


que devem ser feitas no interrogatório.

2.2. Características do Interrogatório

• Ato público (excepcionalmente, a publicidade poderá ser restringida, nos


termos do artigo 792 do Código de Processo Penal).

• Ato processual oral. Exceções: para o surdo, as perguntas serão feitas por
escrito e respondidas oralmente; para o mudo as perguntas serão feitas oralmente e
respondidas por escrito; para o surdo-mudo, as perguntas e as respostas serão feitas
por escrito.

• Se o réu for estrangeiro ou surdo-mudo e analfabeto, será nomeado um


intérprete que funcionará também como curador.

• Ato personalíssimo. Só o réu pode ser interrogado.

• Ato individual.

• Ato privativo entre juiz e réu. As partes não podem fazer reperguntas. O
defensor poderá, entretanto, zelar pela regularidade formal do processo.

Com a entrada do Novo Código Civil, não se exige mais a presença de curador para o
menor de 21 anos.

2.1. Momento do Interrogatório

Como regra, o momento do interrogatório é posterior à oitiva das testemunhas. Porém,


pode realizar-se inclusive após a sentença, desde que antes do trânsito em julgado.
Assim, se o réu comparecer em Juízo antes do trânsito em julgado e manifestar o
desejo de ser ouvido, o juiz deverá interrogá-lo.

Caso já exista apelação, o julgamento deverá ser convertido em diligência para que o
réu seja ouvido, sob pena de cerceamento da defesa.

Em situações excepcionais, entende-se ser o interrogatório – após a sentença –


facultativo, dispensável quando, por exemplo, for possível antever a absolvição do
acusado.

Caso o juiz entenda necessário, o réu já interrogado poderá ser novamente


interrogado.

No procedimento da Lei n. 9.099/95, o momento do interrogatório é posterior à


oitiva das testemunhas.

2.2. Direitos do Réu no Interrogatório

O réu, durante o interrogatório, tem o direito de permanecer em silêncio,


conforme artigo 5.º, inciso LXIII, da Constituição Federal de 1988.

O réu que responde ao interrogatório não está obrigado a dizer a verdade, poderá
mentir sem sofrer qualquer sanção.

A mentira do réu no interrogatório só será considerada crime se fizer auto-acusação


falsa, conforme artigo 341 do Código Penal.
O réu ainda tem o direito de entrevistar-se com seu advogado antes do
interrogatório. Esse direito vem previsto no Pacto de San José da Costa Rica, do qual o
Brasil é signatário.

2.3. Interrogatório por Precatória

O provimento CXCI (1984) do Conselho Superior da Magistratura de São Paulo


possibilita a realização de interrogatório por precatória, pois, no processo penal, não
vige o princípio da identidade física do juiz. O provimento vige somente no Estado de
São Paulo.

No tocante ao interrogatório on line, sistema de vídeo conferência, a doutrina questiona


sua validade pela ausência física de um juiz, pois o interrogado poderá estar sofrendo
alguma coação e essa não ser percebida.

A jurisprudência o admite excepcionalmente.

2.4. Interrogatório do Menor de 21 anos

Antes da promulgação do novo Código Civil, se o réu fosse menor, o


interrogatório deveria ser feito na presença de um curador.

A omissão gerava nulidade relativa.

A idade do menor era aferida na data da realização do ato e não na do cometimento da


infração penal.

A Súmula n. 352 do Supremo Tribunal Federal dispõe que não é nulo o processo penal
por falta de nomeação de curador ao réu menor que teve a assistência de defensor
dativo.

A idade do acusado é provada por meio de documento hábil, como a certidão de


nascimento ou a carteira de identidade.

Não havia nulidade do processo se o réu mentisse acerca de sua idade.

O artigo 194 do Código de Processo Penal foi ab-rogado, à semelhança do artigo 15,
pois o acusado maior de 18 e menor de 21 anos não é mais relativamente incapaz,
podendo realizar todos os atos da vida civil, dispensando curador.

Será necessária, todavia, a nomeação de curador para o interrogatório do silvícola não


adaptado e do doente mental.

3. CONFISSÃO

3.1. Conceito
Confissão é a admissão pelo réu da autoria dos fatos a ele imputados. A confissão
refere-se à autoria do fato.

A materialidade do delito não é objeto da confissão.

A confissão feita perante a autoridade judicial configura atenuante genérica nos termos
do artigo 65, inciso III, alínea “d”, do Código Penal.

A confissão não é mais considerada a rainha das provas; ao magistrado caberá


apreciar a confissão em consonância com as demais provas produzidas.

3.2. Espécies de Confissão

• Simples: quando o réu admite a autoria de fato único, atribui a si a prática de


infração penal.

• Qualificada: quando o réu admite a autoria dos fatos a ele imputados, mas
alega algo em seu benefício, opõe um fato modificativo ou impeditivo, por exemplo:
excludente de antijuridicidade, culpabilidade.

• Complexa: quando o réu admite a autoria de fato múltiplo.

• Judicial: é a confissão prestada perante o juiz competente, no próprio


processo.

• Extrajudicial: é a confissão prestada no Inquérito Policial, ou fora dos autos da


ação penal.

• Explícita: quando o acusado reconhece ser o autor da infração.

• Implícita: quando o acusado não admite a autoria, mas realiza atos que levam
indiretamente à conclusão de que ele é o autor do delito.

Exemplo: quando o acusado procura ressarcir o ofendido dos prejuízos causados pela
infração.

3.3. Características da Confissão

A confissão é ato personalíssimo do réu.

É ato livre e espontâneo.

A confissão é um ato retratável, isto é, o acusado pode desdizer a confissão


prestada. A confissão é ainda um ato divisível, isto é, o juiz poderá cindir a confissão
feita pelo acusado, acatando-a em parte ou no todo.
3.4. Confissão Ficta

A confissão ficta ou presumida não se verifica no processo penal, em virtude da


verdade real que norteia o processo penal. Ainda que o processo corra à revelia do réu,
não haverá presunção de veracidade dos fatos alegados pela acusação.

3.5. Confissão Delatória ou Chamada de Co-Réu

Ocorre quando um réu, no interrogatório, imputa a terceiro a responsabilidade


pela prática do crime, além de confessar sua própria participação.

No tocante a imputação a terceiro, seu valor equivale à prova testemunhal, havendo a


possibilidade de reperguntas pelas partes.

Para alguns autores, no entanto, a confissão delatória é uma prova nula, pois não se
sujeita ao princípio do contraditório, uma vez que nem o co-réu delatado nem seu
advogado acompanham o interrogatório do delator.

4. PROVA TESTEMUNHAL

4.1. Conceito

Testemunha é toda pessoa estranha ao processo e eqüidistante das partes, chamada


em Juízo para depor sobre os fatos que caíram sobre seus sentidos.

4.2. Classificação

direta ou “de visu”: depõe sobre os fatos que presenciou – teve contato direto;

indireta ou “de audito”: depõe sobre os fatos que tomou conhecimento por
terceiros, que “ouviu dizer”;

própria: presta depoimento acerca do tema probandu, do fato objeto da prova;

imprópria ou instrumentária: é a testemunha chamada a presenciar a prática de


atos processuais ou atos do inquérito policial;

referida: são aquelas citadas no depoimento de outra testemunha; serão ouvidas


como testemunhas do Juízo;

informante: são as testemunhas que não prestam compromisso de dizer a verdade;

numerária: testemunha arrolada pela parte de acordo com o número máximo legal e
que são compromissadas (número máximo: 8 no processo comum; 5 no processo
sumário; 5 no plenário do júri; 3 no juizado especial criminal);
extra-numerária: não entra no cômputo legal. São as referidas, informantes,
testemunhas que nada souberam a respeito dos fatos.

4.3. Características

Retrospectividade: depõe sobre fatos passados.

Oralidade: a prova testemunhal é oral, exceto para o surdo, o surdo-mudo e o


mudo.

A testemunha não pode trazer o depoimento por escrito, sendo permitida a consulta
a apontamentos.

Podem responder por escrito: o Presidente e o Vice-Presidente da República, os


Senadores, os Deputados Federais, os Ministros de Estado, os Governadores, os
Secretários de Estado, os Prefeitos, os Deputados Estaduais, os Membros do
Judiciário, os Membros do Tribunal de Contas da União e os Membros do Tribunal
Marítimo.

Objetividade: é vedado à testemunha emitir opinião pessoal, assim como é


defeso ao juiz consigná-la, salvo se inseparável da narrativa.

4.4. Deveres da Testemunha

Comparecer no dia, hora e local: se o desrespeitar, a testemunha pode ser


conduzida coercitivamente; pode ainda responder por crime de desobediência e pagar
multa fixada pelo juiz.

O juiz só pode obrigar a comparecer a testemunha que resida dentro dos limites do
território da sua jurisdição.

As testemunhas residentes em outra comarca (testemunhas de fora da terra) devem


ser ouvidas por carta precatória.

As pessoas impossibilitadas, por enfermidade ou por velhice, de comparecer para


depor, serão inquiridas onde estiverem (artigo 220 do Código de Processo Penal). As
autoridades mencionadas no artigo 221 serão inquiridas em local, dia e hora
previamente ajustados entre elas e o juiz.

Comunicar mudança de endereço: “as testemunhas comunicarão ao juiz, dentro


de 1 (um) ano, qualquer mudança de residência, sujeitando-se, pela simples omissão,
às penas do não-comparecimento” (artigo 224 do Código de Processo Penal).

Depor e dizer a verdade: acerca do que souber e sobre o que lhe for perguntado. O
juiz deverá advertir a testemunha das penas do falso testemunho.

A testemunha não pode se recusar a depor.


O cônjuge, o ascendente, o descendente e o irmão do réu, entretanto, são dispensados
de depor, exceto se não for possível, por outro modo, obter-se ou integrar-se a prova
do fato e de suas circunstâncias.

Eles têm a obrigação de comparecer, mas não de depor. Se vierem a depor, não
prestam compromisso de dizer a verdade (artigo 208 do Código de Processo Penal).

Pergunta-se: Aqueles que não prestam o compromisso de dizer a verdade, de que


trata o artigo 203 do Código de Processo Penal, podem ser acusados de cometerem o
crime de falso testemunho?

Resposta: Há divergência.

A doutrina majoritária entende que sim. Para esses autores, dentre os quais estão
Damásio de Jesus e Nélson Hungria, o compromisso não é elementar do crime.

O tipo do artigo 342 do Código Penal menciona “testemunha”, que pode ser
compromissada ou não. Para esses autores, o dever de dizer a verdade não decorre
do compromisso. Todos têm o dever de dizer a verdade em Juízo.

Para a doutrina minoritária, seguida por Heleno Cláudio Fragoso, os que não prestam
compromisso são informantes e não testemunhas; se não prestam compromisso, não
têm o dever de dizer a verdade, já que esse dever decorre do compromisso. Por isso
não respondem pelo crime de falso testemunho.

A jurisprudência está dividida. O Supremo Tribunal Federal decidiu que há crime de


falso testemunho, mesmo que a pessoa não preste compromisso.

Algumas pessoas, em razão da função, ofício, ministério ou profissão que exercem, devem
guardar segredo e por isso são proibidas de depor (exemplo: padres, advogados etc.).
Poderão depor desde que:

1) sejam desobrigadas pela parte beneficiada pelo sigilo;

2) queiram depor. Observe-se que a lei não dispensa essas pessoas de prestarem
compromisso de dizer a verdade, caso elas queiram depor.

Assim, se mentirem, não há dúvidas de que poderão responder pelo crime de falso
testemunho.

Observação: função pressupõe atividade de natureza pública; ofício diz respeito a


atividade predominantemente manual (exemplo: mecânico, sapateiro etc.);
• ministério trata-se de atividade de cunho eclesiástico ou assistencial;

• e profissão refere-se a atividade predominantemente intelectual (exemplo:


advogado, psicólogo etc.).

4.5. Informantes
Informantes são as pessoas que não prestam compromisso de dizer a verdade.
São os menores de 14 anos e os deficientes mentais.

4.6. Contradita

É o meio adequado de se argüir a suspeição ou a inidoneidade da testemunha.

O momento de se contraditar é logo após a qualificação da testemunha.

Se contraditada, o juiz ouve a parte contrária e decide antes de iniciar a oitiva da


testemunha.

O juiz poderá ouvi-la como informante.

4.7. Intimação

Apesar da lei referir-se a intimação, doutrinariamente trata-se de notificação, pois a


testemunha é comunicada sobre a realização de ato futuro.

As testemunhas são notificadas por mandado cumprido por oficial de justiça.

O preso deve ser requisitado.

O militar deve ser requisitado à autoridade superior.

O funcionário público deve ser notificado por mandado, devendo a expedição do


mandado ser imediatamente comunicada ao chefe da repartição (artigo 221, § 3.º, do
Código de Processo Penal). Atente-se para o fato de que o Código de Processo Civil
(artigo 412, § 2.º) exige que o funcionário público seja requisitado ao chefe da
repartição.

4.8. Sistema de Inquirição

O sistema de inquirição vigente era o presidencialista ou do exame judicial: “as


perguntas das partes eram requeridas ao juiz, que as formulará à testemunha.

HOJE As perguntas serão formuladas pelas partes diretamente à testemunha, não


admitindo o juiz aquelas que puderem induzir a resposta, não tiverem relação com a
causa ou importarem na repetição de outra já respondida

Sobre os pontos não esclarecidos, o juiz poderá complementar a inquirição.


O juiz não permitirá que a testemunha manifeste suas apreciações pessoais, salvo
quando inseparáveis da narrativa do fato.
Antes de iniciado o depoimento, as partes poderão contraditar a testemunha ou
argüir circunstâncias ou defeitos, que a tornem suspeita de parcialidade, ou indigna de
fé. O juiz fará consignar a contradita ou argüição e a resposta da testemunha, mas só
excluirá a testemunha ou não Ihe deferirá compromisso nos casos previstos nos arts.
207 e 208.
Na redação do depoimento, o juiz deverá cingir-se, tanto quanto possível, às
expressões usadas pelas testemunhas, reproduzindo fielmente as suas frases.
O depoimento da testemunha será reduzido a termo, assinado por ela, pelo juiz e pelas
partes. Se a testemunha não souber assinar, ou não puder fazê-lo, pedirá a alguém
que o faça por ela, depois de lido na presença de ambos.
Se o juiz verificar que a presença do réu poderá causar humilhação, temor, ou
sério constrangimento à testemunha ou ao ofendido, de modo que prejudique a
verdade do depoimento, fará a inquirição por videoconferência e, somente na
impossibilidade dessa forma, determinará a retirada do réu, prosseguindo na inquirição,
com a presença do seu defensor.
A adoção de qualquer das medidas previstas no caput deste artigo deverá constar
do termo, assim como os motivos que a determinaram.
Se, regularmente intimada, a testemunha deixar de comparecer sem motivo
justificado, o juiz poderá requisitar à autoridade policial a sua apresentação ou
determinar seja conduzida por oficial de justiça, que poderá solicitar o auxílio da força
pública.
O juiz poderá aplicar à testemunha faltosa a multa prevista no art. 453, sem prejuízo
do processo penal por crime de desobediência, e condená-la ao pagamento das custas
da diligência
As pessoas impossibilitadas, por enfermidade ou por velhice, de comparecer para
depor, serão inquiridas onde estiverem.
O Presidente e o Vice-Presidente da República, os senadores e deputados
federais, os ministros de Estado, os governadores de Estados e Territórios, os
secretários de Estado, os prefeitos do Distrito Federal e dos Municípios, os deputados
às Assembléias Legislativas Estaduais, os membros do Poder Judiciário, os ministros e
juízes dos Tribunais de Contas da União, dos Estados, do Distrito Federal, bem como
os do Tribunal Marítimo serão inquiridos em local, dia e hora previamente ajustados
entre eles e o juiz.
O Presidente e o Vice-Presidente da República, os presidentes do Senado Federal, da
Câmara dos Deputados e do Supremo Tribunal Federal poderão optar pela prestação
de depoimento por escrito, caso em que as perguntas, formuladas pelas partes e
deferidas pelo juiz, Ihes serão transmitidas por ofício
Os militares deverão ser requisitados à autoridade superior
Aos funcionários públicos aplicar-se-á o disposto no art. 218, devendo, porém, a
expedição do mandado ser imediatamente comunicada ao chefe da repartição em que
servirem, com indicação do dia e da hora marcados.
A testemunha que morar fora da jurisdição do juiz será inquirida pelo juiz do lugar de
sua residência, expedindo-se, para esse fim, carta precatória, com prazo razoável,
intimadas as partes.
A expedição da precatória não suspenderá a instrução criminal. Findo o prazo
marcado, poderá realizar-se o julgamento, mas, a todo tempo, a precatória, uma vez
devolvida, será junta aos autos.
Na hipótese prevista no caput deste artigo, a oitiva de testemunha poderá ser realizada
por meio de videoconferência ou outro recurso tecnológico de transmissão de sons e
imagens em tempo real, permitida a presença do defensor e podendo ser realizada,
inclusive, durante a realização da audiência de instrução e julgamento.
. As cartas rogatórias só serão expedidas se demonstrada previamente a sua
imprescindibilidade, arcando a parte requerente com os custos de envio
Quando a testemunha não conhecer a língua nacional, será nomeado intérprete para
traduzir as perguntas e respostas.
Tratando-se de mudo, surdo ou surdo-mudo, proceder-se-á na conformidade do art.
192.
. As testemunhas comunicarão ao juiz, dentro de um ano, qualquer mudança de
residência, sujeitando-se, pela simples omissão, às penas do não-comparecimento.
Se qualquer testemunha houver de ausentar-se, ou, por enfermidade ou por
velhice, inspirar receio de que ao tempo da instrução criminal já não exista, o juiz
poderá, de ofício ou a requerimento de qualquer das partes, tomar-lhe
antecipadamente o depoimento.

3. DECLARAÇÕES DO OFENDIDO

Sempre que possível, o juiz deverá ouvir o sujeito passivo da infração .

A esse meio de prova se aplicam as mesmas regras da prova testemunhal, observado


o seguinte:

· Vítima presta declarações e não depoimento.

· Vítima não é computada no número legal de testemunhas.

· Vítima não responde pelo crime de falso testemunho (observação: se der


causa a investigação policial ou a processo judicial, imputando a alguém crime de que
o sabe inocente, responderá pelo crime de denunciação caluniosa).

· Vítima não precisa ser arrolada pelas partes, devendo ser ouvida de ofício pelo
juiz.

SUJEITOS PROCESSUAIS– ATOS PROCESSUAIS, COMUNICAÇÃO DOS ATOS


PROCESSUAIS, CITAÇÃO E INTIMAÇÕES E NOTIFICAÇÕES

1. SUJEITOS PROCESSUAIS

1.1. CONCEITO

Sujeitos processuais são todas as pessoas que atuam no processo. Juiz,


partes, auxiliares da justiça, testemunhas, etc.

Observação:
1) Dentre estes, existem os “sujeitos principais”, que compões a relação jurídico-
processual (juiz e partes), sem os quais não é possível nem mesmo a idéia do
processo;
Ao lado destes, existem outras pessoas que intervêm no processo e, embora
não sejam denominados “sujeitos processuais”, por carecerem do poder de iniciativa e
de decisão, são sujeitos de determinados atos processuais indispensáveis ao
desenvolvimento da relação processual. São os sujeitos processuais secundários:

a) órgãos auxiliares dos sujeitos processuais propriamente ditos (escrivão,


escrevente, distribuidor, contador, oficial de justiça, etc);

b) Os terceiros, que podem ser de duas ordens:

b.1. Terceiros interessados


➢ São o ofendido, seu representante legal ou seus herdeiros (art. 63 CPP);
➢ Também as pessoas enumeradas no art. 31 CPP (em razão do art. 36 CPP);
➢ O fiador do réu, em virtude do que se contém nos arts. 341 e 343 CPP;
➢ Terceiro de boa-fé em poder de quem a res foi apreendida.

b.2. Terceiros desinteressados


➢ Testemunhas;

Observação: 1) Os peritos, tradutores e intérpretes tanto podem ser considerados


auxiliares do juízo como terceiro desinteressados;

2. ÓRGÃO JURISDICIONAL (O JUIZ)

O Órgão jurisdicional é, pois, o sujeito mais importante da relação processual. O


Juiz é o detentor da função jurisdicional e é quem preside o processo.
Para atuar validamente no processo, necessita de:

a) Capacidade funcional (ou investidura) – O juiz deve preencher todos os


requisitos legais para o ingresso na carreira da magistratura (bacharelado, aprovação
em concurso público, posse, nomeação, etc).

b) capacidade subjetiva - Não ser impedido (art. 252 CPP), nem suspeito (art
254 CPP), nem exercer atividade incompatível com a sua função (art. Art. 253 CPP);

c) Capacidade objetiva, isto é, ter competência para atuar no processo.

Código de Processo Penal - Art. 252. O juiz não poderá exercer jurisdição no
processo em que:

I. tiver funcionado seu cônjuge ou parente, consangüíneo ou afim, em linha reta


ou colateral até o terceiro grau, inclusive, como defensor ou advogado, órgão do
Ministério Público, autoridade policial, auxiliar da justiça ou perito;

II. ele próprio houver desempenhado qualquer dessas funções ou servido como
testemunha;;
III. tiver funcionado como juiz de outra instância, pronunciando-se, de fato ou de
direito, sobre a questão;

IV. ele próprio ou seu cônjuge ou parente, consangüíneo ou afim em linha reta
ou colateral até o terceiro grau, inclusive, for parte ou diretamente interessado no feito.

Código de Processo Penal - Art. 253. Nos juízos coletivos, não poderão servir
no mesmo processo os juízes que forem entre si parentes, consangüíneos ou afins, em
linha reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive.

Código de Processo Penal - Art. 254. O juiz dar-se-á por suspeito, e, se não o
fizer, poderá ser recusado por qualquer das partes:

2.1.FUNÇÕES – Sobre as funções do Juiz no Processo penal, assim dispõe o


art. 251 CPP:

Código de Processo Penal - Art. 251. Ao juiz incumbirá prover à regularidade


do processo e manter a ordem no curso dos respectivos atos, podendo, para tal fim,
requisitar a força pública

Incumbe ao magistrado, pois:


a) prover a regularidade do processo (atividade de natureza processual);
b) manter a ordem no curso dos respectivos atos, podendo, inclusive, requisitar
a força pública (atividade de natureza administrativa).

Observação: 1) Apesar de acusatório o nosso processo, é permitido ordenar de ofício


as provas que lhe parecerem úteis ao esclarecimento da verdade;

3. O MINISTÉRIO PÚBLICO.

Segundo o artigo 127 da CF:

Constituição Federal - Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente,


essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica,
do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.

3.1.FUNÇÕES DO MP – Sobre as funções do MP no Processo penal, dispõe o


art. 257 CPP:
Código de Processo Penal - Art. 257. Ao Ministério Público cabe:

I. - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma estabelecida neste


Código; e

II. - II - fiscalizar a execução da lei.


Assim, no Processo Penal, o MP é um órgão que atua ora como parte
(promovendo a ação penal pública), ora como fiscal da lei (na ação penal privada).

Para que o MP atue validamente no processo deverá se observado o seguinte:

a) De acordo com o artigo 258 CPP: “Os órgãos do Ministério Público não
funcionarão nos processos em que o juiz ou qualquer das partes for seu cônjuge, ou
parente, consangüíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive,
e a eles se estendem, no que Ihes for aplicável, as prescrições relativas à suspeição e
aos impedimentos dos juízes”.

Em decorrência do disposto nos arts. 128, §5°, II, e art. 129, IX, da CF, é vedado
ao membro do MP:

Constituição Federal - Art. 128. O Ministério Público abrange:

§5°. Leis complementares da União e dos Estados, cuja iniciativa é facultada


aos respectivos Procuradores-Gerais, estabelecerão a organização, as atribuições e o
estatuto de cada Ministério Público, observadas, relativamente a seus membros:

II. - as seguintes vedações:

a. - receber, a qualquer título e sob qualquer pretexto, honorários, percentagens


ou custas processuais;

b. - exercer a advocacia;

c. - participar de sociedade comercial, na forma da lei;

d. - exercer, ainda que em disponibilidade, qualquer outra função pública, salvo


uma de magistério;

e. - exercer atividade político-partidária;

f. - receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas


físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei.

Constituição Federal - Art. 129. São funções institucionais do Ministério


Público:

I. - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei;

II. - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância
pública aos direitos assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas
necessárias a sua garantia;
III. - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do
patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e
coletivos;

IV. - promover a ação de inconstitucionalidade ou representação para fins de


intervenção da União e dos Estados, nos casos previstos nesta Constituição;

V. - defender judicialmente os direitos e interesses das populações indígenas;

VI. - expedir notificações nos procedimentos administrativos de sua


competência, requisitando informações e documentos para instruí-los, na forma da lei
complementar respectiva;

VII. - exercer o controle externo da atividade policial, na forma da lei


complementar mencionada no artigo anterior;

VIII. - requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial,


indicados os fundamentos jurídicos de suas manifestações processuais;

IX. - exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que compatíveis
com sua finalidade, sendo-lhe vedada a representação judicial e a consultoria jurídica
de entidades públicas.

4. ACUSADO E DEFENSOR

4.1. ACUSADO

Acusado é a pessoa contra quem é proposta a ação penal, é a parte passiva da


relação processual.

Menores de 18 anos não possuem legitimidade passiva, visto que são


considerados inimputáveis. Já os inimputáveis portadores de doenças mentais,
desenvolvimento mental incompleto ou retardado possuem legitimidade passiva, pois a
eles pode ser aplicada medida de segurança.

O acusado menor de 21 anos, antes da entrada em vigor do Código Civil de


2002, necessitava de curador (art. 262 CPP). Hoje desapareceu a figura do curador
para o maior de 18 anos, em razão da redução da maioridade civil para 18 anos (art.
2043 CC).

Também as pessoas que gozam de imunidade parlamentar ou diplomática não


poderão ser acusadas no processo penal, por faltar-lhes legitimação passiva ad
causam.

A impossibilidade de identificação do acusado com o seu verdadeiro nome ou


outros qualificativos não retardará a ação penal, quando certa a identidade física.
A qualquer tempo, no curso do processo, do julgamento ou da execução da sentença,
se for descoberta a sua qualificação, far-se-à a retificação por termo nos autos (não
precisa aditar a denúncia), sem prejuízo da validade dos atos precedentes. (art. 259
CPP).

Código de Processo Penal - Art. 259. A impossibilidade de identificação do


acusado com o seu verdadeiro nome ou outros qualificativos não retardará a ação
penal, quando certa a identidade física.

A qualquer tempo, no curso do processo, do julgamento ou da execução da sentença,


se for descoberta a sua qualificação, far-se-á a retificação, por termo, nos autos, sem
prejuízo da validade dos atos precedentes.

Se o acusado não responder à intimação para o interrogatório, reconhecimento u


qualquer outro ato que, sem ele, não possa ser realizado, a autoridade poderá mandar
conduzi-lo à sua presença.

Ao acusado, por ser considerado a parte mais frada da relação jurídica e por
estar em jogo o seu direito à liberdade de locomoção, são asseguradas diversas
garantias de ordem constitucional, previstas no art. 5° da CF como por exemplo:

XLIX. - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;

L. - às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer


com seus filhos durante o período de amamentação;

LV. - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em


geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela
inerentes;

LVI. - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos;

LVII. - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença


penal condenatória;

LVIII. - o civilmente identificado não será submetido a identificação criminal,


salvo nas hipóteses previstas em lei;

LXI. - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão
militar ou crime propriamente militar, definidos em lei;

LXII. - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão


comunicados imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à pessoa por
ele indicada;
LXIII. - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer
calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado;

LXXVIII. - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a


razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua
tramitação;

4.2. DEFENSOR.

Como decorrência da garantia constitucional do contraditório e da ampla defesa,


o art. 261 do CPP determina: “Nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será
processado ou julgado sem defensor.”.

O defensor (também denominado procurador) é o profissional habilitado


(advogado, defensor público ou procurador do estado, onde não houver defensoria
pública); com função indispensável à administração da justiça, dotado de
conhecimento técnicos a serem utilizados no processo penal para a defesa do
acusado.

Em razão da indisponibilidade do direito de defesa, a sua atuação (considerada


um munus público) é sempre obrigatória, ainda que seja feita contra a vontade do réu
ou na sua ausência, sob pena de nulidade do processo.

Nesse sentido, a Súmula 523 do STF determina: “No processo penal, a falta de defesa
constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só anulará se houver prova de
prejuízo para o réu”.

Observação:
1) A atividade do advogado transcende a simples delimitação conceitual de profissão,
alcançando o caráter de munus publico.

2) o significado da expressão munus publico denota "o que procede de autoridade


pública ou da lei, obrigando o indivíduo a certos encargos em benefício da coletividade
ou da ordem social"

4.2.1. Espécies de defensor:

a) Defensor constituído – é aquele escolhido pelo próprio acusado (mesmo


que seja revel), por meio da outorga de procuração (art. 36 e ss. do CPP), para que
promova a sua defesa técnica em juízo.
Observação: 1) Para a prática de determinados atos, a lei exige a outorga de
procuração com poderes especiais. São eles:
a) para aceitar o perdão do ofendido em nome do réu ou querelado (arts. 55
e 59 do CPP);
b) para argüir a suspeição do juiz (art. 98 do CPP) e;
c) para argüir a falsidade do documento (art. 146 CPP).
A constituição de defensor pelo acusado poderá ser feita em qualquer momento
do processo, inclusive na fase do inquérito policial, ainda que apenas para acompanhar
o indiciado ou examinar os elementos de prova colhidos durante as investigações,
podendo o acusado constituir oralmente o defensor na ocasião do interrogatório,
independentemente de instrumento de mandato (procuração).

b) Defensor Dativo – é aquele nomeado pelo juiz em virtude de o acusado não


possuir ou não indicar um defensor técnico de sua confiança.
Observação: 1) Nada impede que o acusado a qualquer tempo, nomeie outro de sua
confiança, ou defenda-se sozinho, caso tenha habilitação (art. 263 CPP).

Conforme nova redação dada pela Lei 11.719/08, o artigo 265 e parágrafos
passou a dispor de forma diferente sobre o adiamento ou não da audiência, em caso
de falta do defensor. Pelo antigo regramento, a análise do “motivo imperioso” ficava a
critério do juiz, e estabelecia que a falta de comparecimento do defensor, ainda que
motivada, não determinava o adiamento de ato algum do processo, devendo o juiz
nomear substituto, ainda que provisoriamente ou para o só efeito do ato (defensor ad
hoc). Porém, com as alterações, foram inseridos os §§ 1°e 2°, disciplinando o seguinte:

Código de Processo Penal - Art. 265. O defensor não poderá abandonar o


processo senão por motivo imperioso, comunicado previamente o juiz, sob pena de
multa de 10 (dez) a 100 (cem) salários mínimos, sem prejuízo das demais sanções
cabíveis.

§1°. - A audiência poderá ser adiada se, por motivo justificado, o defensor não
puder comparecer.;

§2°. - Incumbe ao defensor provar o impedimento até a abertura da audiência.


Não o fazendo, o juiz não determinará o adiamento de ato algum do processo, devendo
nomear defensor substituto, ainda que provisoriamente ou só para o efeito do ato.

Assim, passa o processo penal a admitir expressamente a redesignação de


audiência por impossibilidade de o defensor comparecer ao ato, desde que por
motivo justificado e comprovado até o início dela, sob pena de nomeação de defensor
ad hoc.

5. ASSISTENTE

Na ação penal pública, em que o titular do direito de ação é o Ministério Público,


é possível que o ofendido ou seu representante legal ou, na sua falta, os integrantes do
art. 31 do CPP (CADI), intervenham em todas as fases da ação penal (portanto, após
o recebimento da denúncia) ao lado do Ministério Público.

Trata-se da figura do assistente de acusação, admissível desde o recebimento


da denúncia até antes do trânsito em julgado da sentença, recebendo o processo no
estado em que se encontrar (art. 269 CPP).
No procedimento do tribunal do júri, a assistência será admitida, desde que
requerida com, pelo menos, cinco dias (antes da reforma eram três dias) de
antecedência em relação à data do julgamento (art. 430 do CPP).

Em razão de não ser imprescindível para a existência da relação processual, a


figura do assistente de acusação também é denominada; parte acessória, parte
contingente, parte adjunta, parte eventual ou parte adesiva.

Em regra, só é possível a existência da figura do assistente na ação penal


pública, seja ela condicionada ou incondicionada.

Assim, na ação penal privada não há que se falar em assistente, pois o ofendido atua
sempre como parte principal.

Observação: 1) A exceção é a do art. 530-H do CPP, que permite que as


associações de titulares de direito de autor e os que lhes são conexos possam, em seu
próprio nome, funcionar como assistente da acusação nos crimes previstos no art. 184
CP (Crimes contra a propriedade imaterial), quando praticados em detrimento de
qualquer de seus associados.

Em razão do disposto no artigo 31 CPP, (que possibilita o exercício do direito de


queixa ou o prosseguimento na ação pelo cônjuge, ascendente, descendentes ou
irmão do ofendido morto), não podem ser assistentes:
a) o(a) companheiro(a) da vítima que não tenha deixado descendentes (em virtude
da falta de previsão legal);
b) o espólio, uma vez que o inventariante só o representa para os fins civis;
c) quem não for vítima (em virtude da falta de interesse em obter a reparação dos
danos decorrentes da conduta criminosa, finalidade essa da assistência);
d) co-réu no mesmo processo, salvo se absolvido por sentença transitada em julgado
(art. 270 CPP: O co-réu no mesmo processo não poderá intervir como assistente do
Ministério Público)

O MP será sempre ouvido previamente sobre o pedido de admissão de


assistente e, da decisão que o admitir ou não, fundada na falta dos requisitos legais,
não caberá recurso (art. 273 CPP:

Do despacho que admitir, ou não, o assistente, não caberá recurso, devendo,


entretanto, constar dos autos o pedido e a decisão.)

Observação:

1) Todavia, da decisão que não admite o assistente caberá a impetração de mandado


de segurança e da decisão que excluir o assistente habilitado caberá correição parcial.

5.1. FUNÇÃO DO ASSISTENTE.


A Função do assistente não é defender interesse próprio, mas sim auxiliar a acusação
para que com isso obtenha, por meio da condenação, um título executivo que servirá
de base para a propositura de uma futura ação civil ex delicto.

5.2. PODERES DO ASSISTENTE. Em razão do supra disposto, os poderes do


assistente são restritos, podendo praticar somente os atos previstos no art. 271 do
CPP:

Código de Processo Penal - Art. 271. Ao assistente será permitido propor


meios de prova, requerer perguntas às testemunhas, , participar do debate oral e
arrazoar os recursos interpostos pelo Ministério Público, ou por ele próprio, nos casos
dos arts. 584, § 1o, e 598.

§1°. - O juiz, ouvido o Ministério Público, decidirá acerca da realização das


provas propostas pelo assistente.

§2°. - O processo prosseguirá independentemente de nova intimação do


assistente, quando este, intimado, deixar de comparecer a qualquer dos atos da
instrução ou do julgamento, sem motivo de força maior devidamente comprovado.

5.3. O ASSISTENTE E AS RAZÕES. O assistente poderá oferecer razões nos


recursos interpostos pelo Ministério Público e também contra-arrazoar os recursos
interpostos pela defesa.

5.4. O ASSISTENTE E OS RECURSOS. O assistente também poderá interpor e


arrazoar os seguintes recursos:

5.4.1. apelação contra decisão que impronuncia o réu (art. 584, §1°, 1ª parte,
do CPP, aplicável por analogia, tendo em vista que até a edição da Lei 11.719/2008, a
decisão de impronúncia desafiava recurso em sentido estrito – art. 581, IV).

5.4.2. Recurso em sentido estrito contra decisão que declara extinta a


punibilidade do acusado (art. 584, §1°, 2ª parte, do CPP);

5.4.3. apelação supletiva contra a sentença proferida nas causas de


competência do juiz singular ou do Tribunal do júri (ou seja, apelar
independentemente da apelação do MP - art. 598 do CPP);

Código de Processo Penal - Art. 584. Os recursos terão efeito suspensivo nos
casos de perda da fiança, de concessão de livramento condicional e dos ns. XV, XVII e
XXIV do art. 581.

§1°. - Ao recurso interposto de sentença de impronúncia ou no caso do n o VIII do


art. 581, aplicar-se-á o disposto nos arts. 596 e 598;

§2°. - O recurso da pronúncia suspenderá tão-somente o julgamento..


Código de Processo Penal - Art. 598. Nos crimes de competência do Tribunal
do Júri, ou do juiz singular, se da sentença não for interposta apelação pelo Ministério
Público no prazo legal, o ofendido ou qualquer das pessoas enumeradas no art. 31,
ainda que não se tenha habilitado como assistente, poderá interpor apelação, que não
terá, porém, efeito suspensivo.

5.5. O ASSISTENTE E A SENTENÇA DESCLASSIFICATÓRIA NO TRIBUNAL


DO JÚRI - Vale destacar que o assistente poderá recorrer (apelar) da sentença
desclassificatória de crime da competência do Tribunal do Júri para outro afeto ao juiz
singular, pelo fato de essa decisão se equiparar à sentença de impronúncia.

5.6. O ASSISTENTE E A APELAÇÃO SUPLETIVA Também poderá recorrer


em sentido estrito na hipótese de denegação da apelação supletiva – Art. 581, XV,
CPP.

Observação: 1) Apelação supletiva é um recurso interposto pelo ofendido ou por


qualquer das pessoas enumeradas no art. 31 do CPP, ainda que não tenham se
habilitado como assistente, na hipótese de omissão do MP, no prazo legal, diante de
uma sentença absolutória proferida nos crimes de competência do Tribunal do júri ou
do juiz singular.

5.7. O ASSISTENTE E O RECURSO EXTRAORDINÁRIO. O assistente pode,


ainda, interpor recurso extraordinário contra as decisões proferidas nos recursos por
ele apresentados (súmula 210 do STF: “O assistente do Ministério Público pode
recorrer, inclusive extraordinariamente, na ação penal, nos casos do art. 584, §1°, e
598 do CPP”) – Grifo nosso.

5.8. SITUAÇÕES NAS QUAIS O ASSISTENTE NÃO PODE RECORRER:


a) das decisões de pronúncia;
b) das decisões de absolvição sumária;
c) das decisões de rejeição da denúncia;
d) das decisões que concedem o desaforamento (também não pode requerê-lo);
e) do despacho que concede a fiança e;
f) do acórdão que julga a revisão criminal.

5.9. O ASSISTENTE E O ARROLAMENTO DE TESTEMUNHAS - O assistente


não pode arrolar testemunhas, já que o momento oportuno para tanto é o do
oferecimento da denúncia. Contudo, pode o juiz ouvir as testemunhas indicadas pelo
assistente como testemunhas do juízo.

5.10. O ASSISTENTE E SUA INTERVENÇÃO NO PROCESSO PENAL - Há


entendimento doutrinário no sentido de que o assistente de acusação somente pode
intervir no processo penal quando demonstrar interesse de cunho econômico na
condenação do réu (ressarcimento civil futuro por meio da formação de um título
executivo judicial – sentença penal condenatória irrecorrível), não podendo, por
exemplo, recorrer de sentença condenatória para pleitear o aumento de pena do réu.
Porém, a OAB de SP sustentou em segunda fase esta possibilidade.

3. AUXILIARES DA JUSTIÇA.

A eficiência da tutela jurisdicional prestada pelo juiz depende do auxílio de


algumas pessoas, estranhas à relação jurídico-processual, dotadas de fé pública e
incumbidas da realização de diversas atividades destinadas a integrar o movimento
processual. São os auxiliares do juiz.

6.1. Classificação
a) Permanentes – cuja participação no processo é obrigatória (Ex. Oficial de
Justiça e Escrivão); e
b) Variáveis (ou eventuais), cuja participação será determinada em situações
especiais (Ex: Peritos e intérpretes).

6.2. Os Peritos
Dentre os auxiliares da justiça, são os peritos que exercem as funções mais
complexas do processo.

Segundo o professor Edgard Magalhães Noronha, “Perito é a pessoa encarregada pela


autoridade, sob compromisso, de esclarecer, por meio de laudo, uma questão de fato
que pode ser apreciada por seus conhecimentos técnicos especializados”

Em regra, a perícia é realizada durante a fase policial, em virtude do princípio da


imediatidade (pois a eventual demora pode trazer prejuízos em virtude do
desaparecimento dos vestígios deixados pelo crime). Mas nada impede a sua
realização durante a instrução processual.

Pelo fato de a nomeação do perito ser ato exclusivo do juiz, as partes não
poderão intervir na escolha do profissional nem na realização da perícia.

3.3. Classificação dos peritos.

Os peritos podem ser;

a) OFICIAIS – quando integram os quadros de carreira da Polícia Judiciária, ou;

b) NÃO OFICIAIS (ou particulares, ou louvados) – quando se tratarem de pessoas


idôneas e portadoras de diploma de curso superior, que serão convocadas diante da
ausência de perito oficial.

Os peritos, sejam oficiais ou não, estarão sujeitos à disciplina judiciária e, se


uma vez nomeados, recusarem o encargo, incorrerão na pena de multa.

3.3. Casos de impedimentos para o exercício da função


De acordo com o artigo 279, estão impedidos de ser peritos:

a) Os que estiverem sujeitos à interdição de direito mencionada nos números I e


II do art. 47 CPP;

b) Os que tiverem prestado depoimento no processo ou opinado anteriormente


sobre o objeto da perícia;

c) Os analfabetos e os menores de 21 (vinte e um) anos.

3.4. Suspeição dos peritos

Os peritos, assim como os juízes, também podem ser considerados suspeitos


pelas partes, pelas mesmas razões que geram a suspeição dos juízes (art. 280 CPP).

Código de Processo Penal - Art. 279. Não poderão ser peritos:

I. - os que estiverem sujeitos à interdição de direito mencionada nos ns. I e IV do


art. 69 do Código Penal;
II. - os que tiverem prestado depoimento no processo ou opinado anteriormente
sobre o objeto da perícia;
III. - os analfabetos e os menores de 21 anos.

Código de Processo Penal - Art. 280. É extensivo aos peritos, no que Ihes for
aplicável, o disposto sobre suspeição dos juízes.

2. ATOS PROCESSUAIS

2.1. CONCEITO

O ato jurídico é uma declaração humana que se traduz numa declaração de


vontade destinada a provocar uma conseqüência jurídica.

O ato processual é o ato jurídico praticado por algum dos sujeitos da relação
processual, no curso do processo.

Assim, ato processual é toda conduta dos sujeitos processuais que tenha por
efeito a criação, modificação ou extinção de situações jurídicas processuais.

2.2. ATOS DAS PARTES E ATOS DO JUIZ

Os atos processuais são condutas praticadas pelos juízes e auxiliares e pelas


partes para dar andamento ao processo (a este conjuntos de atos processuais dá-se o
nome de procedimento).
2.3. CLASSIFICAÇÃO DOS ATOS DAS PARTES E DO JUIZ:

a) ATOS DAS PARTES

Costumam os autores distinguir, nos atos das partes, os postulatórios, os


instrutórios, os reais e os dispositivos.

a.1. Postulatórios – são os que visam a “obter do juiz um


pronunciamento sobre o mérito da causa (quando referirem-se ao mérito) ou uma
resolução de mero conteúdo processual (quando se postular um pronunciamento sobre
o processo)”
Materializam-se nas petições (denúncia ou queixa, defesa prévia) e nos
requerimentos (solicitação de substituição de uma testemunha), etc.);

a.2. Instrutórios – são aqueles que “se destinam a convencer o juiz da


verdade ou da afirmação de um fato” (alegações e atos probatórios).
As Alegações são exposições circunstanciadas, feitas pelas partes, visando à
demonstração de suas pretensões procurando, assim, convencer o juiz quanto ao
acerto da tese suscitada.
Já os Atos Probatórios consistem na proposição e produção de provas,
como p. ex., a juntada de documentos, reperguntas às testemunhas, etc.

a.3. Reais – são aqueles que se apresentam pelo fato, pela coisa, pelo
objeto, e não pela palavra (exibição de coisa apreendida, prestação de fiança,
apresentação à prisão, etc ).

a.4. Dispositivos – os atos dispositivos referem-se ao direito material em


litígio, consistindo na declaração de vontade destinada a dispor da tutela jurisdicional,
dando-lhe existência ou modificando-lhe as condições.
São exemplos a desistência, a transação, a submissão, etc.

B) ATOS DO JUIZ

Os atos praticados pelos órgãos jurisdicional classificam-se em:


decisórios, instrutórios e de documentação.

b.1. Decisórios – apresentam a dicotomia 1) Decisões e 2) despachos de


expediente.
As decisões decidem o mérito da causa. Já através dos despachos o juiz
provê a respeito da marcha do processo.

b.2. Instrutórios – são atos que se realizam ou se realizou no curso do


processo, como a ouvir a vítima e as testemunhas, proceder a uma acareação, realizar
um reconhecimento, etc.
são verdadeiros atos processuais que, por não traduzirem-se por meio de
despachos ou decisões, são chamados pela doutrina de instrutórios.
b.3. Atos de Documentação – às vezes a ação do juiz consiste,
simplesmente, em participar da documentação dos autos. (subscrever o termo de
audiência, rubricar as folhas dos autos, etc). são atos de documentação.

2.4. ATOS DE AUXILIARES E DE TERCEIROS -

a) ATOS DOS AUXILIARES DE JUSTIÇA

a.1. Atos de movimentação – promover o desenvolvimento do processo


(conclusão, abertura de vista às partes, etc.);

a.2. Atos de execução – cumprimento das determinações do juiz


( citação do réu, notificação de testemunhas, intimação das partes, etc.);

a.3. Atos de documentação – em que dão fé dos atos que foram


executados por determinação do juiz (certidão de intimação, de notificação, de afixação
de editais, etc.).

b) ATOS DE TERCEIROS
podem ser de duas ordens:

b.1. Atos de terceiro(s) interessado(s)

➢ São o ofendido, seu representante legal ou seus herdeiros (art. 63


CPP);
➢ Também as pessoas enumeradas no art. 31 CPP (em razão do art.
36 CPP);
➢ O fiador do réu, em virtude do que se contém nos arts. 341 e 343
CPP;
➢ Terceiro de boa-fé em poder de quem a res foi apreendida.

b.2. Atos de terceiro(s) desinteressado(s)


➢ Testemunhas;

Observação: 1) Os peritos, tradutores e intérpretes tanto podem ser considerados


auxiliares do juízo como terceiro desinteressados;

2.5. ESPÉCIES DE ATOS PROCESSUAIS – os atos processuais podem ser:

SIMPLES, COMPLEXOS E COMPOSTOS.

a) ESPÉCIES DE ATOS
a.1. Atos simples – são os resultam da manifestação de vontade de uma
só pessoa, de um só órgão monocrático ou colegiado (denúncia, sentença, acórdão,
etc.);

a.2. Atos complexos – são aqueles em que observa uma série de atos
entrelaçados (audiências, sessões, etc.);

Observação: 1) Audiências – no processo penal, nada mais é senão “o momento


processual de determinados procedimentos”;

2) Sessões – são as reuniões dos órgãos jurisdicionais colegiados


(há sessões em todos os Tribunais, inclusive no tribunal do júri).

a.3. Atos compostos - é o que resulta da manifestação de vontade de


uma só pessoa, dependendo contudo, para ter eficácia, da verificação e aceitação feita
por outro (perdão do ofendido, que depende da aceitação do querelado, etc).

2.6. TERMO – Um termo é a documentação de um ato levado a efeito por funcionário


ou serventuário da justiça no exercício de suas atribuições.

a) CLASSIFICAÇÃO:

a.1. Termo de autuação – o escrivão atesta que foi iniciado o processo e que
lhe foram apresentados a denúncia ou a queixa, e os autos do inquérito, ou peças de
informação, que a instruíram;

a.1. Termo de juntada – Atesta foi anexado aos autos documento ou coisa;

a.2. Termo de conclusão - remetem os autos ao juiz;

a.3. Termo de vista – declara que os autos estão à disposição de uma das
partes;

a.4. Termo de recebimento – o escrivão certifica que os autos retornam ao


cartório, após sua saída regular;

a.5. Termo de apensamento – o escrivão afirma terem sido apensados outros


autos, ou peças de informação, aos autos principais;

a.6. Termo de desentranhamento – o escrivão atesta que foi separado, por


ordem do juiz, documento ou peça dos autos.

2.7. LIMITES DE LUGAR, FORMA E TEMPO

2.7.1. Limites de lugar – Os atos processuais, as audiências e as sessões


devem ser realizados em lugar estabelecido como adequado e próprio para tal fim, e
esse lugar é o edifício onde o órgão jurisdicional tenha sua sede. (art.792, CPP)
Código de Processo Penal - Art. 792. As audiências, sessões e os atos
processuais serão, em regra, públicos e se realizarão nas sedes dos juízos e tribunais,
com assistência dos escrivães, do secretário, do oficial de justiça que servir de porteiro,
em dia e hora certos, ou previamente designados.

EXCEÇÕES: Existem exceções à regra acima descrita, à saber:


a) ato processual realizado fora do território jurisdicional onde a causa está
tramitando. Ex: Testemunha que reside fora da comarca do juízo processante e que
será ouvida por precatória (art. 222 CPP).

Código de Processo Penal - Art. 222. A testemunha que morar fora da


jurisdição do juiz será inquirida pelo juiz do lugar de sua residência, expedindo-se, para
esse fim, carta precatória, com prazo razoável, intimadas as partes.

b) em caso de necessidade, os atos processuais poderão ser realizados na


residência do Juiz, ou em outra casa por ele especialmente designada (art. 792, §2°,
CPP):

Código de Processo Penal - Art. 792, §2° - As audiências, as sessões e os


atos processuais, em caso de necessidade, poderão realizar-se na residência do juiz,
ou em outra casa por ele especialmente designada.

2.7.2. Limites de forma – é pela forma que o ato processual se manifesta, é a


exteriorização do ato, é o aspecto que os atos devem apresentar.

O processo tem que seguir uma forma preestabelecida na lei, ou seja, deve ser
conduzido dentro da moldura da lei.

Desse modo, pode o legislador, considerando a natureza da causa, fixar procedimentos


diversos, à saber:

As formas procedimentais dividem-se em:

a) Procedimento de foro pela prerrogativa de função – Utilizado nos casos de


infração de competência originária do STF, STJ, TRE´s, TRF´s ou Tribunais de Justiça,
sendo o seu procedimento traçado na lei 8.038/90;

b) Procedimento de foro sem prerrogativa de função – segundo o código de


processo penal, a forma procedimental, neste caso, deve ser procurada em função da
sanção penal cominada à infração penal, podendo o procedimento ser comum ou
especial, conforme se observa no artigo 394 CPP:

Código de Processo Penal - Art. 394. O procedimento será comum ou


especial.

§ 1o O procedimento comum será ordinário, sumário ou sumaríssimo:


§ 2o Aplica-se a todos os processos o procedimento comum, salvo
disposições em contrário deste Código ou de lei especial.:

§ 3o Nos processos de competência do Tribunal do Júri, o procedimento


observará as disposições estabelecidas nos arts. 406 a 497 deste Código.

§ 4o As disposições dos arts. 395 a 398 deste Código aplicam-se a todos


os procedimentos penais de primeiro grau, ainda que não regulados neste Código.

§ 5o Aplicam-se subsidiariamente aos procedimentos especial, sumário e


sumaríssimo as disposições do procedimento ordinário.

b.1) PROCEDIMENTO COMUM - O comum pode ser ORDINÁRIO, SUMÁRIO


OU SUMARÍSSIMO (art. 394), e a regra para se identificar quando o crime vai ser
submetido a qualquer destes procedimentos consta dos incisos do parágrafo primeiro:

• INCISO I – “Ordinário, quando tiver por objeto crime cuja sanção máxima
cominada for igual ou superior a 4 (quatro) anos de pena privativa de liberdade”; –
PROCEDIMENTO ORDINÁRIO (art. 395 a 405 CPP);

• INCISO II – “Sumário, quando tiver por objeto crime cuja sanção máxima
cominada seja inferior a 4 (quatro) anos de pena privativa de liberdade” –
PROCEDIMENTO SUMÁRIO (art. 531 CPP);

• INCISO II – “sumaríssimo, para as infrações penais de menor potencial


ofensivo, na forma da lei” – PROCEDIMENTO SUMÁRÍSSIMO (art. 77 a 81 da Lei
9.099/95);

b.1) PROCEDIMENTO ESPECIAIS - existem processos especiais previstos no


próprio código de processo penal e em outras leis, conforme o §2° do art. 394.

b.1.1 – Procedimentos especiais do CPP:


• Crimes da competência do tribunal do júri (art. 406 a 497 CPP);
• Crimes de responsabilidade de funcionários públicos, da competência do juiz
singular, desde que afiançáveis (art. 513 a 518 CPP);
• Crimes contra a honra (art. 519 a 523 CPP);
• Crimes contra a propriedade imaterial (art. 524 a 530 CPP).

b.1.2 – Procedimentos especiais previsto em leis extravagantes:


• Crimes falimentares (lei 11.101/05);
• Crimes de imprensa (lei 5.250/67);
• Crimes eleitorais (lei 4.737/65 - Código Eleitoral);
• Tráfico de entorpecentes (lei 11.343/06);
• Crimes contra a economia popular (lei 1.521/51);
• Abuso de autoridade (lei 4.898/65), etc.
GARANTIA DE PUBLICIDADE DOS ATOS PROCESSUAIS – Além dos
requisitos sobre:
a) idioma – que diz que os atos processuais penais devem ser realizados em
língua portuguesa, e;
b) escrita – que diz que os atos processuais devem revestir-se da forma escrita,
decorrendo daí o princípio: “o que não está nos autos não está no mundo”, temos
ainda, quanto à forma, a
c) publicidade, ou seja, todos os atos processuais, inclusive as audiências e
sessões, serão públicos, o que significa que qualquer pessoa pode a ele assistir. O
princípio da publicidade vem consagrado no art. 792 do CPP: “As audiências, sessões
e os atos processuais serão, em regra, públicos e se realizarão nas sedes dos juízos e
tribunais, com assistência dos escrivães, do secretário, do oficial de justiça que servir
de porteiro, em dia e hora certos, ou previamente designados”. Por fim, temos a:
d) assinatura – quando se exige a assinatura de um ato ou documento, basta a
escritura de próprio punho, ao final do ato, do prenome e do nome de quem deve firmá-
lo, ou, quando a lei o permitir, a própria rubrica.

Observação: 1) Mesmo os atos que podem ser realizados oralmente no processo, v.g.
quando o promotor de justiça acusa, em plenário do júri, e o realiza oralmente, é
necessária a consignação por parte do escrivão, a cargo de quem fica a lavratura da
ata;

2.7.3. Limites de tempo – Se o processo nada mais é do que o


desenvolvimento de uma atividade que objetiva a solução da lide, é obvio que essa
atividade deve, necessariamente, desenvolver-se dentro de um lapso temporal. Daí os
limites de tempo para a realização dos atos processuais.

2.8. PRAZOS – CONTAGEM E ESPÉCIES

Prazo é o limite de tempo concedido a um sujeito para o cumprimento de um ato


processual.

2.8.1. PRINCÍPIOS - Os prazos são regidos por dois princípios importantíssimos,


o da igualdade de tratamento e o da brevidade.

a) Princípio da igualdade de tratamento – as partes não podem ser tratadas


desigualmente. Para atos idênticos, os prazos não podem ser diferentes.

b) Princípio da brevidade – os prazos processuais não podem ser muito


dilatados, pois as demandas não podem eternizar-se.

2.8.2. PRECLUSÃO – é a perda, extinção ou consumação de uma faculdade.


Trata-se de fato processual impeditivo, que se verifica quando a parte perde
determinada faculdade, podendo a preclusão ser: a) temporal; b) Lógica e; c)
consumativa
a) preclusão temporal – a faculdade se perde pelo seu não-exercício no prazo
legal.

b) preclusão lógica - Às vezes a preclusão ocorre por ter sido cumprida uma
faculdade incompatível com o exercício de outra. Ex: argui-se a exceção de
litispendência e depois a de suspeição.

c) preclusão consumativa - A decisão irrevogável transforma-se em fato


impeditivo, gerando uma preclusão denominada consumativa, que não permite que a
questão que foi objeto da sentença seja renovada em uma nova ação.

2.8.3.ESPÉCIES DE PRAZO – Os prazos podem ser:

a) comuns – são aqueles que correm para ambas as partes, ao mesmo tempo;

b) particulares – Correm apenas para uma das partes. (Ver CPP, art. 46 –
Prazo para oferecimento da denúncia).

c) próprios – São aqueles prazos dentro dos quais a parte deve realizar o ato
processual e, se não observados, haverá tão só a consequência de natureza
processual (ver art. 396-A e 406, §2°, CPP, no que se refere ao arrolamento de
testemunhas).

d) impróprios – São os impostos aos juízes e seus auxiliares e que,


descumpridos, trarão conseqüências disciplinares, e não processuais (ver art. 799, 800,
§4° e 801, CPP).

e) legais – é o prazo estabelecido em lei e;

f) judicial – o fixado pelo juiz (art. 93, §1° CPP: “O juiz marcará o prazo da
suspensão, que poderá ser razoavelmente prorrogado, se a demora não for imputável
à parte. Expirado o prazo, sem que o juiz cível tenha proferido decisão, o juiz criminal
fará prosseguir o processo, retomando sua competência para resolver, de fato e de
direito, toda a matéria da acusação ou da defesa”).

2.8.4.CONTAGEM DOS PRAZOS – No processo penal, os prazos são fixados


em minutos, horas, dias, meses e até mesmo anos. (não existem prazos semanais).

a) Prazo fixado em ano, mês ou dias

a.1) se houver correspondência no Código Penal, a contagem se faz de acordo


com o art. 10 do CP, ou seja, computa-se o dia inicial, e exclui-se o dia do final. (Vide
arts. 749 e 38 do CPP, e seus correspondentes 94 e 103 do CPP):

Código Penal - Art. 10. O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo.


Contam-se os dias, os meses e os anos pelo calendário comum
Código Penal - Art. 94. A reabilitação poderá ser requerida, decorridos 2 (dois)
anos do dia em que for extinta, de qualquer modo, a pena ou terminar sua execução,
computando-se o período de prova da suspensão e o do livramento condicional, se não
sobrevier revogação, desde que o condenado

CÓDIGO DE PROCESSO PENAL - Art. 749. Indeferida a reabilitação, o


condenado não poderá renovar o pedido senão após o decurso de dois anos, salvo se
o indeferimento tiver resultado de falta ou insuficiência de documentos.

CÓDIGO PENAL - Art. 103. Salvo disposição expressa em contrário, o ofendido


decai do direito de queixa ou de representação se não o exerce dentro do prazo de 6
(seis) meses, contado do dia em que veio a saber quem é o autor do crime, ou, no caso
do § 3º do art. 100 deste Código, do dia em que se esgota o prazo para oferecimento
da denúncia.

CÓDIGO DE PROCESSO PENAL - Art. 38. Salvo disposição em contrário, o


ofendido, ou seu representante legal, decairá no direito de queixa ou de representação,
se não o exercer dentro do prazo de seis meses, contado do dia em que vier a saber
quem é o autor do crime, ou, no caso do art. 29, do dia em que se esgotar o prazo para
o oferecimento da denúncia

a.2) Não havendo correspondência, o prazo é contado de acordo com o artigo


798, §1°, do CPP (não se computa o dia inicial e inclui-se o dia do final).

CÓDIGO DE PROCESSO PENAL - Art. 798. Todos os prazos correrão em


cartório e serão contínuos e peremptórios, não se interrompendo por férias, domingo
ou dia feriado.
§ 1° Não se computará no prazo o dia do começo, incluindo-se, porém, o do
vencimento.
§ 2° A terminação dos prazos será certificada nos autos pelo escrivão; será,
porém, considerado findo o prazo, ainda que omitida aquela formalidade, se feita a
prova do dia em que começou a correr.
§ 3° O prazo que terminar em domingo ou dia feriado considerar-se-á
prorrogado até o dia útil imediato.
§ 4° Não correrão os prazos, se houver impedimento do juiz, força maior, ou
obstáculo judicial oposto pela parte contrária.
§ 5° Salvo os casos expressos, os prazos correrão:
a) da intimação;
b) da audiência ou sessão em que for proferida a decisão, se a ela estiver
presente a parte;
c) do dia em que a parte manifestar nos autos ciência inequívoca da sentença
ou despacho.

b) Prazo for fixado em horas ou em minutos, conta-se de minuto a minuto,


aplicando-se a regra do art. 132, §4°, do Código Civil.
Código Civil - Art. 132: “Salvo disposição legal ou convencional em contrário,
computam-se os prazos, excluído o dia do começo, e incluído o do vencimento”
§ 4o - Os prazos fixados por hora contar-se-ão de minuto a minuto

c) Demais casos - aplicam-se as regras do art. 798, §§1°, 3° e 4° CPP.

2.8.5.FIXAÇÃO DO “dies a quo” (dia do início da contagem)– ver art. 798, §5°
CPP: “

CÓDIGO DE PROCESSO PENAL - Art. 798. ...


§ 5° Salvo os casos expressos, os prazos correrão:
a) da intimação;
b) da audiência ou sessão em que for proferida a decisão, se a ela estiver
presente a parte;
c) do dia em que a parte manifestar nos autos ciência inequívoca da sentença
ou despacho.

Sobre o fato, dispõe a Súmula 710 do STF: “No processo penal, contam-se os
prazos da data da intimação, e não da juntada aos autos do mandado ou da carta
precatória ou de Ordem”

Observações:
1) exceção à regra é prevista na súmula 310 STF: “Quando a intimação tiver lugar na
sexta-feira, ou a publicação com efeito de intimação for feita nesse dia, o prazo judicial
terá início na segunda-feira imediata, salvo se não houver expediente, caso em que
começará no primeiro dia útil que se seguir”;

2) os prazos são contínuos e peremptórios.


➢ Contínuos – não deverão ser interrompidos na sua duração (ocorrem
exceções, como o §4° do art. 798 CPP);

➢ Peremptórios – os prazos são improrrogáveis (ocorrem exceções,


como o §3° do art. 798 CPP);.

PRAZOS PROCESSUAIS

FIXADO EM REGRA DISPOSITIVO OBSERVAÇÃO


ANO OU MÊS Computa-se o dia inicial, Ex:
(Com excluindo-se o do Art. 10 CPP - Art. 749 CPP – Art.94 CP;
correspondênci vencimento - Art. 38 CPP – Art. 103 CP
a no Código
Penal)
ANO, MÊS OU Não se computa o dia do
DIAS começo, incluindo-se o dia Art. 798, §1°, CPP ----------------------------
(Sem do vencimento
correspondênci
a no Código
Penal)

HORAS OU Conta-se o prazo minuto a Art. 132, §4°, CC ----------------------------


MINUTOS minuto
Art. 798, §§1°, 3° e
DEMAIS ---------------------------- 4°, CPP ----------------------------
CASOS

- À partir da intimação (e
não da juntada do mandado SÚM 710 - NO PROCESSO
ou da carta precatória ou de Art. 798, § 5°, CPP PENAL, CONTAM-SE OS
ordem); PRAZOS DA DATA DA
- da audiência ou sessão INTIMAÇÃO, E NÃO DA
INÍCIO DA em que for proferida a Súmula 710 JUNTADA AOS AUTOS DO
CONTAGEM decisão, se a ela estiver STF. MANDADO OU DA CARTA
presente a parte; PRECATÓRIA OU DE
- do dia em que a parte ORDEM
manifestar nos autos
ciência inequívoca da
sentença ou despacho

2. COMUNICAÇÃO DOS ATOS PROCESSUAIS (citações e intimações)

2.1. CITAÇÃO

2.1.1. Conceito – é o ato processual pelo qual se leva ao conhecimento do réu a


notícia de que contra ele foi recebida Denúncia ou Queixa, para que possa defender-
se.
Normalmente é ato do juiz, cumprido pelo Oficial de Justiça (exceção para a
citação do militar e a que deva ser feita em legação estrangeira).

2.1.2. Citação e vinculação à instância – Uma vez citado, fica o réu vinculado à
instância, “com todos os ônus daí recorrentes”.

Observações:

1) CITAÇÃO NA EXECUÇÃO - A citação é feita uma única vez. Transitada em julgado


a sentença condenatória, não se procede à nova citação para a execução, porque esta
não constitui uma nova instância. (trata-se de nova fase, e não nova relação
processual);
2) citação do incapaz é feita na pessoa de curador nomeado pelo juiz.

2.1.3. Citação e princípio da ampla defesa – Citação é garantia individual,


prevista na Constituição Federal/88, art. 5º, LV, “aos litigantes, em processo judicial ou
administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e a ampla
defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”.

2.1.4. Notificação prévia e citação posterior – É perfeitamente possível a


hipótese do réu tomar conhecimento da imputação que lhe pesa antes de ser citado, o
que não torna dispensável a citação. Cite-se como exemplo, os Crimes de
responsabilidade de funcionário público de competência do Juiz singular, se
afiançáveis (Art. 514 CPP);
Código de Processo Penal - Art. 514. “Nos crimes afiançáveis, estando a
denúncia ou queixa em devida forma, o juiz mandará autuá-la e ordenará a notificação
do acusado, para responder por escrito, dentro do prazo de quinze dias”

2.1.5. Efeitos da Citação válida: - com a citação válida, instaura-se a relação


processual (enquanto não for citado, o réu não ficará sujeito a nenhum dever ou ônus
processual).

2.1.6. Não atendimento à Citação – Se o citado não atende à citação:


a) O processo corre à revelia (Art. 367 CPP “O processo seguirá sem a presença
do acusado que, citado ou intimado pessoalmente para qualquer ato, deixar de
comparecer sem motivo justificado, ou, no caso de mudança de residência, não
comunicar o novo endereço ao juízo”

b) Decretada a revelia, não será o réu notificado ou intimado para qualquer ato
do processo, salvo se houver condenação (sentença) (art.392 CPP).

Assim, o acusado que, regularmente citado, não atender ao chamamento, isto é,


deixar de comparecer perante a autoridade que o convocou, no dia e hora previamente
designados, será considerado revel.

Revel também será considerado se, citado ou intimado pessoalmente para


qualquer ato, deixar de comparecer sem motivo justificado ou, no caso de mudança de
residência, não comunicar o novo endereço ao juízo.

Se o réu, citado por edital, não atendeu ao chamamento nem constituiu


advogado, aplica-se a regra do art. 366 CPP “Se o acusado, citado por edital, não
comparecer, nem constituir advogado, ficarão suspensos o processo e o curso do
prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produção antecipada das provas
consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão preventiva, nos termos do
disposto no art. 312”
Assim;
- fica suspenso o processo e o curso do prazo prescricional (art. 109 CPP),
até que ele apareça. Porém, as provas urgentes e a decretação da prisão preventiva
podem ser realizadas pelo juiz.

Observações:
1) Tratando-se de réu a quem se impute crime inafiançável da competência do Júri, se,
citado pessoalmente, não atender ao chamamento, o processo segue seu trâmite
normal até a pronúncia, nos termos do art. 420 CPP;
2) Não sendo crime de alçada do júri ou, ainda que o seja, se for afiançável, citado
pessoalmente, se desatender ao chamado, o processo tramitará normalmente, à sua
revelia, sem necessidade de novas intimações, salvo se houver condenação (Art. 392
CPP).

2.1.7. Espécies de Citação – A citação pode ser: REAL ou FICTA.


a) CITAÇÃO REAL (ou pessoal, ou faciem) – é a regra;
É feita na própria pessoa do réu;
Concretiza-se por: mandado/Precatória/Carta rogatória/Requisição.

b) CITAÇÃO FICTA (ou citação presumida)– é exceção.


É feita por meio da imprensa ou de fixação de edital à porta ou no átrio do
edifício onde funciona o juízo;

2.1.8. Formas de citação real:

a.1) CITAÇÃO POR MANDADO – feita quando o réu encontra-se no território do


juiz processante – Art. 351 CPP “A citação inicial far-se-á por mandado, quando o réu
estiver no território sujeito à jurisdição do juiz que a houver ordenado”
Salvo se estiver preso, em legação estrangeira, em lugar não sabido ou for
militar.

a.1.1) REQUISITOS – Ver art. 352 CPP;

Código de Processo Penal - Art. 352. “O mandado de citação indicará”


I – o nome do juiz;
II – o nome do querelante nas ações iniciadas por queixa;
III – o nome do réu, ou, se for desconhecido, os seus sinais característicos
IV – a residência do réu, se for conhecida
V – o fim para que é feita a citação
VI - o juízo e o lugar, o dia e a hora em que o réu deverá comparecer;
VII - a subscrição do escrivão e a rubrica do juiz

A citação pode ser feita em qualquer dia, em qualquer lugar, a qualquer hora
(respeitadas as questões relativas à inviolabilidade de domicílio)
Encontrado o réu, o Oficial de justiça fará a leitura e lhe entregará a CONTRAFÉ
(cópia do inteiro teor do mandado, por ele extraída e autenticada).
O Oficial de Justiça certifica no verso do mandado que fez a entrega da contrafé
(dizendo se foi aceita ou recusada) – ver art. 357 CPP.

a.2) Citação por carta precatória (art. 353 CPP)


Realizada quando o réu estiver no território nacional, mas fora do território
jurisdicional do juiz processante.

a.2.1) REQUISITOS – Ver art. 354 CPP;

Código de Processo Penal - Art. 354. “A precatória indicará”


I – o juiz deprecado e o juiz deprecante;
II – a sede da jurisdição de um e de outro;
III – o fim para que é feita a citação, com todas as especificações;
IV – o juízo do lugar, o dia e a hora em que o réu deverá comparecer;
Recebendo-a, o juiz deprecado dará o despacho de “cumpra-se”, cabendo ao
escrivão expedir o “mandado” (com os requisitos do art. 352 CPP), entregando-o ao
Oficial de Justiça para o devido cumprimento;
Cumprida, a carta precatória é devolvida ao juiz deprecante (ART. 355 CPP: “A
precatória será devolvida ao juiz deprecante, independentemente de traslado, depois
de lançado o "cumpra-se" e de feita a citação por mandado do juiz deprecado”).

a.2.2) RÉU FORA DA COMARCA DEPRECADA (sujeito à jurisdição de outro


juiz)
Ver art. 355, §1°, CPP;

Código de Processo Penal - Art. 355, §1°. “Verificado que o réu se encontra
em território sujeito à jurisdição de outro juiz, a este remeterá o juiz deprecado os autos
para efetivação da diligência, desde que haja tempo para fazer-se a citação”

Se o Oficial de justiça verificar tal situação, o juiz deprecado remeterá a


precatória ao juiz da comarca onde se encontre o réu (é o que se denomina
“PRECATÓRIA ITINERANTE”).

a.2.3) SE O RÉU SE OCULTA PARA NÃO SER CITADO – Art. 355, §2°, CPP:

Código de Processo Penal - Art. 355, §2°. “Certificado pelo oficial de justiça
que o réu se oculta para não ser citado, a precatória será imediatamente devolvida,
para o fim previsto no art. 362”

Art. 362. - Verificando que o réu se oculta para não ser citado, o oficial de justiça
certificará a ocorrência e procederá à citação com hora certa, na forma estabelecida
nos arts. 227 a 229 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo
Civil

Código de Processo Civil - Art. 227. Quando, por três vezes, o oficial de justiça
houver procurado o réu em seu domicílio ou residência, sem o encontrar, deverá,
havendo suspeita de ocultação, intimar a qualquer pessoa da família, ou em sua falta a
qualquer vizinho, que, no dia imediato voltará, a fim de efetuar a citação, na hora que
designar.
Art. 228. No dia e hora designados, o oficial de justiça, independentemente de
novo despacho, comparecerá ao domicílio ou residência do citando, a fim de realizar a
diligência.
§ 1º Se o citando não estiver presente, o oficial de justiça procurará informar-se
das razões da ausência, dando por feita a citação, ainda que o citando se tenha
ocultado em outra comarca.
§ 2º Da certidão da ocorrência, o oficial de justiça deixará contrafé com pessoa
da família ou com qualquer vizinho, conforme o caso, declarando-lhe o nome.
Art. 229. Feita a citação com hora certa, o escrivão enviará ao réu carta,
telegrama ou radiograma, dando-lhe de tudo ciência.
Observação: A citação por hora certa é, hoje, mais um tipo de citação ficta.

a.2.4) OUTRAS CERTIFICAÇÕES POSSÍVEIS DO OFICIAL DE JUSTIÇA DO


JUÍZO DEPRECADO E SUA CONSEQUÊNCIA:

CERTIFICAÇÃO CONSEQUÊNCIA
“o réu encontra-se em lugar incerto e não sabido” CITAÇÃO POR EDITAL
“o réu retornou à comarca do juízo deprecante” CITAÇÃO POR MANDADO
“o réu encontra-se doente, impossibilitado de O INTERROGATÓRIO É FEITO
comparecer à sede do juízo deprecante” PELO JUIZ DEPRECADO

a.2.5) PRECATÓRIA POR TELEGRAMA: (art.356 CPP)

Código de Processo Penal - Art. 356. “Se houver urgência, a precatória,


que conterá em resumo os requisitos enumerados no art. 354, poderá ser expedida por
via telegráfica, depois de reconhecida a firma do juiz, o que a estação expedidora
mencionará”

Assim, pode ser utilizada:


➢ Em caso de urgência;
➢ Deve conter, em resumo, os requisitos exigidos para a carta precatória;
➢ Deve estar reconhecida a firma do juízo deprecante, circunstância esta que a
estação expedidora do telegrama deverá mencionar;

a.2.6) PRECATÓRIA POR TELEFONE: (vide art.299 CPP)


Nada impede que seja utilizada, desde que tomadas as precauções para
averiguação da autenticidade:

a.3) Citação do militar (ART. 358 CPP) – Feita mediante requisição;


Código de Processo Penal - Art. 358. “A citação do militar far-se-á por
intermédio do chefe do respectivo serviço”

Observações:
1) O Militar deve ser da ativa;
2) O juiz processante deve expedir ofício requisitório, contendo os mesmos requisitos
do mandado, dirigido ao chefe do serviço onde se encontre o militar.

a.4) Citação do réu preso; (art. 360 CPP)


Código de Processo Penal - Art. 360. “Se o réu estiver preso, será
pessoalmente citado”

Importante as distinções e medidas respectivas;

1) RÉU PRESO NA COMARCA DO JUIZ PROCESSANTE


O juiz expedirá o mandado e, ao mesmo tempo, ofício ao diretor do Presídio,
solicitando a apresentação em juízo, no dia e hora designados.
2) RÉU PRESO EM TERRITÓRIO SUJEITO À JURISDIÇÃO DE OUTRO JUIZ:
Serão tomadas as mesmas medidas pelo juízo deprecado, após a emissão de
precatória.

a.5) Citação do funcionário público – se o réu for funcionário público, será citado
por mandado ou precatória, conforme o caso. Mas, independentemente da sua citação,
exige a lei que o chefe do mesmo seja notificado de que, em tal dia e a tal hora, o
funcionário-réu deverá comparecer a juízo.Trata-se de medida necessária, pois,
atendendo à subordinação hierárquica, não seria justo que o funcionário pudesse sair
da sua repartição sem que o seu chefe tivesse prévio conhecimento.

2.1.9. Citação por edital (Citação Ficta):

A citação por edital, também conhecida por citação ficta, constitui expediente
cujo objetivo seria impedir a paralisação da ação penal, quando não encontrado o
acusado nos endereços disponíveis, sendo realizada por meio da imprensa e de
afixação do edital à porta ou no pátio do edifício onde funciona o juízo.

Hipóteses em que se permite a Citação por edital:


1) se o réu não for encontrado, no prazo de quinze dias (art 361 CPP);
2) verificando o encarregado da citação que o réu se oculta para não recebê-la, fará
a citação por edital, no prazo de cinco dias. REVOGADO PELA LEI 11.719/2008.
Agora, a citação realizada é a CITAÇÃO COM HORA CERTA, (vide art. 362 CPP), que
é hoje, mais um tipo de citação ficta.

Código de Processo Penal - Art. 362. Verificando que o réu se oculta para não ser
citado, o oficial de justiça certificará a ocorrência e procederá à citação com hora certa,
na forma estabelecida nos arts. 227 a 229 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 -
Código de Processo Civil.

3) Quando o acusado estiver em local inacessível, em virtude de epidemia, guerra ou


por outro motivo de força maior REVOGADO PELA LEI 11.719/2008.
4) Quando incerta a pessoa que tiver que ser citada. REVOGADO PELA LEI
11.719/2008

2.2. INTIMAÇÃO. – apesar do CPP não diferenciar, é importante, inicialmente,


diferenciar intimação de notificação, como descrito abaixo:

INTIMAÇÃO – é a ciência que se dá a alguém de um ato já praticado, já


consumado, seja um despacho, seja uma sentença. É a comunicação de um ato já
praticado (“intima-se o réu de uma sentença”);

NOTIFICAÇÃO – por outro lado, notificação é o chamamento que se faz a


alguém (réu, partes, testemunhas, peritos, etc), para a realização de algum ato
processual.
Assim, a testemunha é notificada a comparecer em juízo no dia e hora
designados, sob pena de cominações legais em caso de descumprimento.
2.2.1. Formas - Segundo o art. 370, CPP “Nas intimações dos acusados, das
testemunhas e demais pessoas que devam tomar conhecimento de qualquer ato, será
observado, no que for aplicável, o disposto no Capítulo anterior”, referindo-se ao
capítulo que trata das citações.

2.2.2. Intimação de defensor dativo e do Ministério Público

a) TRATANDO-SE DE DEFENSOR CONSTITUÍDO, DO ADVOGADO DO


QUERELANTE E DO ASSISTENTE DA ACUSAÇÃO, a intimação é feita por
publicação no órgão incumbido da publicidade dos atos judiciais na comarca incluindo,
sob pena de nulidade, o nome do acusado, e pelo jornal ou pela imprensa oficial que se
edita na capital do Estado (art. 370, §1° CPP).
Se não houver jornal e não for publicado pela imprensa oficial, a intimação far-
se-à diretamente pelo escrivão, pessoalmente, ou por mandado, ou via postal com
aviso de recebimento (AR), ou por qualquer meio idôneo. (art. 370, §2° CPP).

b) Tratando-se de MINISTÉRIO PÚBLICO E DEFENSOR DATIVO – a intimação


será sempre pessoal (art. 370, §4° CPP)..

2.2.3. Expedição de precatória e intimação. – Segundo o art. 222 CPP “A


testemunha que morar fora da jurisdição do juiz será inquirida pelo juiz do lugar de sua
residência, expedindo-se, para esse fim, carta precatória, com prazo razoável,
intimadas as partes”.

Assim, será expedida carta precatória, sendo intimada a defesa apenas da


expedição da carta, não intimando-se a defesa sobre o dia e hora designados para a
audiência de inquirição, conforme preceitua a súmula 273 – STJ: “Intimada a defesa da
expedição da carta precatória, torna-se desnecessária intimação da data da audiência
no juízo deprecado”.

DA PRISÃO E DA LIBERDADE PROVISÓRIA

1. Introdução

A prisão, em sentido jurídico, é a privação da liberdade de locomoção, ou seja, do


direito de ir e vir, por motivo ilícito ou por ordem legal. Indistintamente essa expressão é
utilizada para denominar o local em que alguém fica segregado, o recolhimento do
preso à prisão, a captura, a custódia e a detenção.

2. Justificativa da prisão

A prisão é uma exigência amarga, porém imprescindível. Concebida como uma das
formas de apenamento, a prisão é relativamente recente. Sua origem é apontada na
penitência do direito eclesiástico, no final do século XVI. Entretanto, a moderna
sistematização dessa espécie de sanção, enquanto punição judiciária, data de fins do
século XVIII e início do século passado, com o Código Criminal de 1808 da França. A
partir de então passou a ser considerada a pena das sociedades civilizadas.

Na verdade, a prisão era utilizada tão-somente como forma instrumentária de


manutenção do acusado no distrito da culpa, a fim de assegurar a tramitação do
processo e posterior aplicação das sanções definitivas, que quase sempre eram muito
desumanas, como o açoite, o arrastamento, a morte, a empalação e outras. De modo
que, na sua origem mais remota a prisão tinha apenas um caráter provisório e
instrumental.

3. Disposições gerais — Arts. 282 a 300

Há duas espécies de prisão completamente distintas. Sebastian Soler definiu pena


como a sanção aflitiva imposta pelo Estado, a àquele que praticou a infração penal.
Logo, pena é retribuição por parte do Estado.

A prisão como cumprimento de pena somente pode ocorrer após o trânsito em julgado
de uma sentença penal condenatória. Porquanto, a sentença penal que ainda estiver
sujeita a recurso, não pode impor cumprimento de pena.

Até o trânsito em julgado da sentença condenatória, o acusado pode estar preso por
diversos motivos, porém, sempre será prisão processual e nunca para cumprir pena,
por esta última depender do trânsito em julgado da sentença.

Tourinho Filho, à época da nossa Constituição, verificou constar no Art. 5º, o princípio
da presunção de inocência em nível constitucional. Defendeu a tese de que todas as
prisões processuais haviam sido revogadas pelo princípio citado.

Seu posicionamento solitário durou aproximadamente dois anos, até que declarou ter
mudado de opinião, isso porque, a prisão processual nada tem a haver com a
inocência ou não do acusado.

O acusado pode ser obrigado a responder o processo preso e na sentença o Juiz


poderá absolvê-lo sem qualquer contradição, pois os motivos da prisão processual
dizem respeito ao bom andamento do processo e não há análise do mérito da questão.

Exemplificando o raciocínio: “A” matou a sua esposa e está respondendo o processo


em liberdade, mesmo porque não foi preso em flagrante.

Durante o processo “A” ameaçou três testemunhas que poderão provar a sua culpa. Ao
ter conhecimento da ameaça o Juiz determina a prisão de “A”, por estar interferindo no
bom andamento do processo.

Depois de colhida toda a prova de acusação “A” poderá, se for o caso, ser colocado em
liberdade, pois não mais interferirá na produção da prova.
No julgamento perante o Juiz posteriormente, “A” poderá ser absolvido ou condenado,
e não é o fato de ter ficado preso durante o processo que significaria, automaticamente,
uma condenação.
Em conclusão, a prisão processual não equivale a uma antecipação do mérito, porque
ela tem os seus motivos próprios, totalmente diferentes dos que levarão o Juiz a
condenar ou absolver o acusado.

4. Espécies de prisões processuais


a) Em flagrante;
b) Preventiva;
c) Decorrente de pronúncia;
d) Temporária;
e) Decorrente de sentença penal condenatória em que o Juiz negou o direito de
apelar em liberdade.

1. Requisitos para a prisão

Somente há duas formas para prender alguém, seja prisão penal ou processual.

a) Mandado: O detentor do mandado de prisão deverá estar com ele em mãos


para efetuar a prisão. Na prisão processual, via de regra, também é expedido o
mandado de prisão.
b) Prisão em Flagrante: Não há necessidade de mandado.

1. Requisitos do mandado de prisão

a) Qualificação: O mandado deve ter a qualificação completa que possa


individualizar quem será preso. Também servirá a alcunha, bem como características
físicas que possam individualizá-lo na ausência de informações documentais.
b) Motivos: O mandado tem que conter os motivos que determinaram a sua
detenção;
c) Competência: O mandado não pode ser expedido por Delegado. Deve ser
elaborado pelo escrivão do Cartório e assinado por Juiz competente, pois conforme o
Art. 5º, LXI da CF, somente a autoridade judicial poderá expedi-lo.

1. Cumprimento do mandado de prisão

O oficial de justiça deverá cumprir o mandado de prisão, ainda que, se necessário, com
o uso da força policial.

Muito embora o CPP não traga limitação quanto a dia e hora para se cumprir o
mandado, deve-se observar o art. 5º, XI da CF. Este inciso dispõe sobre a
inviolabilidade da casa, da seguinte forma:
a) Nela somente se pode ingressar durante o dia e mediante mandado;
b) Ingresso durante a noite, somente se houver consentimento do morador;
c) Do contrário, somente em caso de flagrante (está ocorrendo um crime) ou
iminente desastre.

1.1. Conclusão

O mandado pode ser executado a qualquer dia e hora. Porém, se aquele que vai ser
preso estiver escondido em casa, o mandado somente poderá ser cumprido durante o
dia, ou a noite mediante autorização do morador.

2. Das prisões
2.1. Flagrante

O vocábulo flagrante vem do latim “flagrare”, que significa queimar, logo, estado de
flagrância equivale ao momento em que o fato está ocorrendo. Contudo, o CPP em seu
art. 302, deu uma certa margem a este conceito, criando três espécies de flagrante,
sendo:

Próprio ou Ocorre quando o agente está cometendo a infração


Real penal ou acaba de cometê-la.

Ocorre quando o agente é perseguido por policial ou


Impróprio ou
não em situação que leve a crer ser ele o autor da
Quase Flagrante
infração.

Ficto ou Ocorre quando momento após a prática da infração, o


Presumido agente é encontrado com objeto ou arma, que façam
presumi-lo autor dos fatos.

Nas três hipóteses o autor do fato está em situação de flagrância, podendo ser preso
sem a necessidade de mandado.

O verbo presumir utilizado no inciso III, do art. 302, pode induzir a erro o leitor, levando-
o acreditar tratar-se do flagrante presumido, porém o flagrante presumido está previsto
no inciso IV, enquanto que o inciso III refere-se ao flagrante impróprio.

2.2. Legitimidade para prender em flagrante

Quanto à legitimidade para a prisão, há duas espécies de flagrante:

Obrigatória Sempre que as autoridades policiais e seus agentes presenciarem


situação de flagrante, deverão prender o autor da infração. Se não o
fizerem, movidos por preguiça, pouco caso, qualquer outro motivo ou
sentimento pessoal, incorrerão em crime de prevaricação.
Exceção: Na impossibilidade física do agente não se aplica a
prevaricação.
Exemplo: policial desarmado e meliante armado.

Qualquer do povo poderá prender em flagrante, porém, não tem esta


Facultativa
obrigação.

2.3. Auto de prisão em flagrante delito

Seu procedimento está no art. 304 do CPP. No APFD a autoridade policial ouvirá pela
ordem:
1) O condutor;
2) As testemunhas do fato;
3) A vítima se estiver presente;
4) O acusado.
Não há a obrigação do acusado em responder a nenhuma pergunta, sendo-lhe
garantido o direito de se manifestar em juízo – Art. 5º da CF. Enquanto que a
testemunha que mentir poderá incorrer no crime de falso testemunho.

Se o acusado for menor de 21 anos, será interrogado pela autoridade na presença de


um curador, e este não precisa ser Advogado nem ter escolaridade comprovada, basta
que tenha 21 anos e acompanhe o ato, zelando por sua integridade em nome do
menor.

No caso de recusa do acusado em assinar o APFD, duas testemunhas o farão,


mediante leitura em voz alta – Art. 304, III.

Na ausência de testemunhas da infração, serão substituídas por duas testemunhas de


apresentação do acusado.

Não havendo autoridade policial no local da detenção, deverá o acusado ser


apresentado à autoridade mais próxima.

1. Fiança no APFD

Ao elaborar o APFD o Delegado arbitrará o valor da fiança se for crime afiançável de


sua competência.

2. Nota de culpa

É o cumprimento pela qual que a autoridade policial esclarece ao preso os motivos da


sua detenção, o nome do seu condutor e das testemunhas do APFD.

O prazo para entrega da Nota de Culpa é de 24 horas após a efetiva prisão. Essa Nota
de Culpa será assinada pelo preso, se recusar, duas testemunhas poderão fazê-lo. É
obrigatório a entrega da Nota de Culpa, sob pena de configurar prisão ilegal.
O prazo da Nota de Culpa é de 24 horas. Para o APFD não há prazo, porém, como ele
deve ser realizado antes da entrega da Nota de Culpa, doutrina e jurisprudência tem
entendido que o mesmo prazo da Nota de Culpa dever ser aplicado ao APFD.

2.1. Apresentação espontânea

No caso de apresentação espontânea do autor dos fatos, não se cogita de prisão em


flagrante, isto porque ele não foi detido nas hipóteses do art. 302, nem tampouco
conduzido por terceiro, portanto, não há flagrante.

3. Espécies de flagrante

São os seguintes:

3.1. Preparado
Na verdade inexiste o crime. Para Nelson Hungria, trata-se de verdadeira comédia e o
autor do fato delituoso não passa de mero protagonista de uma encenação teatral.
No flagrante preparado o autor do fato age motivado por obra do provocador. Sem a
provocação não haveria a prática daquela conduta.

3.2. Esperado
É reconhecido como plenamente lícito e válido, pois, quando aquele que vai efetuar a
prisão, não participa da cadeia fática que levou ao resultado, simplesmente aguarda o
desenrolar dos acontecimentos para a situação de flagrante, que por ele não foi
provocado, para que possa dar voz de prisão ao agente.

3.3. Forjado

Nesse caso não existe a situação sustentada por quem deu voz de prisão. Trata-se de
uma mentira para prejudicar inocente. O flagrante forjado ocorre quando se inventa
uma situação flagrancial que incorreu. Por exemplo, introduzir droga no veículo de “A”
que não cometia qualquer irregularidade. Na verdade foi fabricado, criado, inventado
um crime.

3.4. Diferenças entre Flagrante Preparado e Esperado


A distância entre essas duas espécies de flagrantes é, por vezes, mínima, sendo palco
de discussões entre acusação e defesa. A súmula 145 do STF diz que não há crime
quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação.
Adotou o STF a teoria do crime impossível descrita no Art. 17 do Código Penal. Trata-
se matéria controvertida.
4. Prisão preventiva

Prisão preventiva é a prisão provisória decreta pelo juiz em qualquer fase do inquérito
ou da instrução criminal, para garantir a ordem jurídica e social, e tem cabimento
quando ficarem bem demonstrados o “FUMUS BONI IURIS” (fumaça de bom direito) e
o “PERICULUM IN MORA” (perigo na demora), conforme os requisitos ensejadores do
Art. 312 do CPP.

4.1. Requisitos da prisão preventiva

São requisitos da prisão preventiva:

a) Garantia da ordem pública

Um dos motivos do surgimento do Estado foi exatamente o de garantir o bem comum,


a paz ou a ordem pública. Se o juiz verificar que a personalidade do acusado é voltada
ao crime e se ele aguardar o andamento do processo em liberdade certamente voltará
a delinqüir, deverá então decretar a sua prisão preventiva, como conveniência da
ordem pública, a fim de que a paz social não mais seja atingida enquanto transcorrer o
processo.

b) Garantia da ordem econômica

É de difícil ocorrência e está prevista para casos em que o agente, em liberdade, tenha
poder de desarrumar a ordem econômica. Por exemplo: Criando falsa valorização de
ação no mercado. Nesse caso deverá ficar preso até final julgamento para não
tumultuar o mercado. Isto não significa obrigatoriamente que ele vai ser condenado.

c) Conveniência da instrução criminal

A instrução criminal é composta por diversos atos processuais, nos quais verifica-se a
culpabilidade ou não do acusado. Pode ocorrer que o acusado tente modificar o curso
da instrução, ameaçando testemunhas ou a própria vítima. Nesses casos estará
praticando um crime de coação no curso do processo e deverá ter sua prisão
preventiva decretada.

Terminada a prova acusatória não se pode falar que é conveniente para a instrução
que o réu aguarde preso. Isto porque o requisito da conveniência da instrução criminal
cessou. Neste caso, o correto é o juiz conceder liberdade provisória ao acusado, pois a
prova de acusação já está pronta e ele pode aguardar o desfecho em liberdade.

d) Para assegurar a aplicação da lei penal

A lei penal ou direito material é aquela que vai ser analisada por ocasião da sentença
(culpado ou inocente). Logo, se o juiz no transcorrer do processo entender que o
acusado pretende fugir para não cumprir a sua pena, deverá decretar-lhe a prisão
preventiva para garantir a futura aplicação da lei penal.
Basta que um dos requisitos da prisão preventiva esteja presente para que o juiz possa
decretá-la. Ao contrário do que já foi afirmado, não há a necessidade de que todos os
requisitos estejam preenchidos ao mesmo tempo. Basta um deles.

A prisão preventiva poderá ser decretada de ofício pelo juiz, mediante representação
do delegado de policia ou do Ministério Público. Para que o juiz decrete uma prisão
preventiva, deve haver uma fumaça de bom direito de caráter acusatório, bem como o
perigo na demora em caso de não decretação.

A fumaça de bom direito deve consistir na presença de elementos mínimos que


possam inferir (supor) a culpabilidade do acusado. Não chega a ser um pré-julgamento,
porém alguns elementos mínimos tendentes a uma condenação devem estar presentes
na fundamentação do decreto preventivo.

O perigo na demora não se cogita infringência ao princípio da presunção da inocência,


pois diz respeito ao fato de que, enquanto o acusado estiver solto poderá fugir,
ameaçar testemunhas ou até mesmo praticar novos crimes. Daí a urgência da
decretação.

O “periculum in mora” e o “fumus boni iuris” devem estar presentes incidindo sobre
o requisito da preventiva que vá servir de base a sua decretação.

1.1. Cabimento da prisão preventiva

A prisão preventiva poderá ocorrer nos crimes dolosos punidos com reclusão. Já nos
crimes punidos com detenção, somente será decretada se o indivíduo for vadio ou se
recusar a se identificar.

O juiz não decretará a prisão preventiva se verificar que o agente praticou o fato nas
condições do atual 23 do CP, que cuida das excludentes de antijuricidade ou ilicitude,
ou seja, a prática do delito em legítima defesa, estado de necessidade, estrito
cumprimento de dever legal e exercício regular de direito.

O artigo 316 deixa claro que findas as razões da decretação da prisão preventiva, o juiz
deverá revogá-la e se novos motivos surgir, poderá novamente decretá-la.

O entendimento de alguns doutrinadores de que a prisão preventiva está sujeita aos 81


dias, é em decorrência da jurisprudência ter criado esse prazo como resultado da soma
de todos os atos do rito ordinário. Portanto não há explicação no sentido de que a
prisão preventiva não se sujeita a prazos. Muitos entendem assim, podendo o acusado
aguardar por anos a sua sentença. A matéria não é pacífica e há muita controvérsia
sobre o tema.

2. Prisão decorrente de pronúncia


É mais uma espécie de prisão processual. Nos crimes dolosos contra a vida, a
competência para a análise do mérito (culpado ou inocente) é dos jurados. Portanto,
verificando o juiz, nos termos do Art. 408, haver indício de autoria e prova da existência
do crime, determinará que o julgamento ocorra pelo júri.

A essa sentença processual que não analisa o mérito, mas serve tão-somente para
encaminhar o processo ao júri, dá-se o nome de Sentença de Pronúncia. Esta
sentença encerra uma primeira fase em que foi colhida toda a prova e dá início a uma
segunda fase, que terminará com o julgamento popular.

Quando o juiz pronunciar o acusado, mandando-o a júri, um dos efeitos da pronúncia


será o de sua imediata prisão processual – Art. 408, § 1º, do CPP. Porém, o parágrafo
2º do mesmo artigo, esclarece que se o réu foi primário e possuir bons antecedentes, o
juiz poderá não determinar a sua prisão.

A prisão decorrente de pronúncia é meramente processual, pois o acusado ainda


sequer foi julgado.

3. Prisão decorrente de sentença condenatória recorrível

Quando o acusado é condenado terá direito a recorrer. Na sentença condenatória o juiz


declarará se o réu poderá ou não recorrer em liberdade. Poderá se for primário e
possuir bons antecedentes, mas se não tiver estas qualidades, deverá recolher-se à
prisão para apelar – Art. 594 do CPP.

Esta prisão é considerada processual, pois o apelante pode até mesmo ser absolvido
no Tribunal.

4. Prisão temporária

Vem descrita na lei 7.960/89 e é cabível quando for imprescindível para as


investigações do Inquérito Policial, quando o indiciado não tiver residência fixa ou não
se identificar.
É aplicável nas seguintes hipóteses:

a) Homicídio doloso;
b) Seqüestro ou cárcere privado;
c) Roubo;
d) Extorsão;
e) Extorsão mediante seqüestro;
f) Estupro;
g) Atentado violento ao pudor;
h) Rapto violento;
i) Epidemia com o resultado morte;
j) Envenenamento de água potável;
k) Crime de quadrilha ou bando;
l) Genocídio;
m) Tráfico de drogas e
n) Crimes contra o sistema financeiro.

Esse rol é taxativo, não admitindo interpretação extensiva ou restritiva.

1. Prazo da prisão temporária

O prazo da prisão temporária é de cinco dias, prorrogável por mais cinco dias,
mediante despacho do juiz, sempre ouvindo o Ministério Público.

O Art. 2º, § 3º, da lei 8.072/90 (Crimes Hediondos), cita que os crimes da lista acima
que forem considerados hediondos, terão prazo de prisão temporária por 30 dias,
prorrogável por igual período.

1.1. Crimes hediondos

São considerados, pela lei em destaque, crimes hediondos:

a) Homicídio qualificado;
b) Extorsão qualificada por morte;
c) Extorsão mediante seqüestro;
d) Estupro;
e) Atentado violento ao pudor;
f) Epidemia com resultado morte;
g) Genocídio e
h) Tráfico de droga.

Não é necessário que os três incisos do artigo 1º da lei 7.960 estejam presentes ao
mesmo tempo. A interpretação é outra, pois nas hipóteses do inciso 3º, letras “A” a “O”,
caberá prisão temporária no curso do inquérito quando:

a) Imprescindível para as investigações do Inquérito Policial – inciso I;


b) Quando o indiciado não tiver residência fixa ou não fornecer sua qualificação –
inciso II.

1. Liberdade provisória

A liberdade provisória é um estágio intermediário entre a liberdade totalmente


desvigiada e a prisão processual.

Ela é o instituto pelo qual o delegado ou juiz concedem ao preso o direito de aguardar
seu julgamento em liberdade, justamente por não haver necessidade para que ele fique
preso processualmente.

São tipos de liberdade provisória:


a) Sem fiança e desvinculada

Ocorre nos casos em que não é cabível pena privativa de liberdade ao crime. Exemplo:
Crime que cabe pena de multa.

Quando a pena privativa de liberdade máxima cominável a infração não ultrapassar


três meses. São as hipóteses trazidas nos incisos I e II do artigo 321. Nesses casos a
pena privativa de liberdade inexiste ou é tão pequena que não justifica submeter o
acusado a prisão processual.

b) Crime afiançável com vínculo;

Nesses casos o indiciado ou acusado pagará o valor da fiança arbitrado pela


autoridade e será solto mediante compromisso de comparecimento a todos os atos do
processo sob pena de revogação da liberdade provisória.

c) Crime inafiançável.

Justamente por não caber fiança, o indiciado ou acusado ficava preso aguardando o
seu julgamento. Porém com a modificação do parágrafo único do artigo 310, verifica-se
que quando o juiz entender ausente os requisitos da Prisão Preventiva, deverá
conceder liberdade provisória para que o indiciado ou réu não fique preso
processualmente de forma desnecessária.

Este parágrafo único alcança tantos os crimes inafiançáveis como os afiançáveis. Essa
situação resultou numa injustiça a manutenção da fiança após 1977. Há quem
sustente, inclusive, sua inconstitucionalidade.

1.1. Vínculo
É o acordo obrigacional por meio do qual o indivíduo ou acusado se compromete a
comparecer pessoalmente a todos os atos processuais, bem como a avisar sobre
eventual mudança de endereço, permitindo, assim, a sua imediata localização.

1.2. Fiança
É um dos institutos mais antigo de nosso direito criminal. Existe no mínimo desde a
época do Império (Ordenações Filipinas – Manoelinas e Alfonsinas). É por meio da
fiança que o acusado da prática de crime afiançável paga determinada quantia
arbitrada pela autoridade.

Atualmente quando se tratar de crime punido com detenção ou contravenção, o


delegado arbitrará a fiança na fase policial. Se for crime punido com reclusão, somente
a autoridade judiciária poderá arbitrar a fiança.

A contravenção de mendicância e vadiagem (arts. 59 e 60 da LCP são inafiançáveis


por força do CPP).
2. Inconstitucionalidade da fiança

A vincular a possibilidade da liberdade provisória ao parágrafo único do artigo 310, ao


mesmo tempo o código do CPP corrigiu uma falha e criou uma outra, isto porque, o
agente que responde por crime inafiançável foi beneficiado em relação a aquele que
responde por crime afiançável.

Basta a ausência dos requisitos da prisão preventiva para que o agente seja solto nas
infrações afiançáveis ou não.

Quando não couber fiança será solto sem nada pagar e quando couber fiança, deverá
prestá-la para ver-se solto. Logo, ao crime afiançável que é menos grave aplicou um
plus consistente no parágrafo da fiança.

Antes o crime inafiançável não aceitava liberdade provisória, e o parágrafo único do


artigo 310 mudou esta situação. Trata de forma mais branda aquele que responde por
crime mais grave, procedimento que contraria o princípio da isonomia. Portanto,
embora muitos juízes continuem aplicando a fiança, a maioria dos doutrinadores
entende que ela tornou-se inconstitucional.

2.1. Aplicação da Fiança

A palavra fiança vem de fidúcia, que significa confiar. A fiança pode ser arbitrada nos
crimes afiançáveis pela autoridade policial ou pelo juiz de direito. O juiz poderá arbitrar
a fiança tanto na fase de inquérito, como durante o processo, em duas hipóteses:
1) Não é caso de arbitramento pelo delegado;
2) A atribuição é do delegado, mas houve recusa de sua parte.

1.1. Hipóteses de arbitramento da fiança pelo delegado

As hipóteses são as contravenções e os crimes de menor monta previstos no artigo


322, ou seja, são os casos de infração puníveis com detenção ou prisão simples.

1.2. Hipóteses de arbitramento da fiança judicial

Os artigos 323 e 324 enumeram as hipóteses de não concessão de fiança, portanto,


basta inverter as situações para se identificar quais delas comporta a fiança. É possível
a fiança nos seguintes casos:

1) Crimes punidos com reclusão em que a pena mínima cominada seja menor de dois
anos;
2) A todas as contravenções aplica-se a fiança, exceto a mendicância e a vadiagem;
3) Aplica-se a fiança aos crimes dolosos punidos com detenção ou reclusão com pena
mínima até dois anos, desde que o réu não tenha sentença condenatória transitada em
julgado por outro crime doloso;
4) Na inexistência dentro do processo de prova de que o réu seja vadio;
5) Será concedida a fiança desde que o crime punido com reclusão não provoque
clamor público, ou nos quais não se utilize violência ou grave ameaça;

Em alguns casos há a necessidade de reforço da fiança, podendo ocorrer ainda o seu


quebramento ou o seu excesso.

1.1.1.Reforço

O reforço da fiança ocorre todas as vezes que a fiança for considerada insuficiente.
Nesse caso, utiliza-se o artigo 340 do CPP quando:
1) A autoridade considerar o valor insuficiente;
2) Quando houver deterioração do bem perecível posto em fiança;
3) Quando houver modificação da tipificação do crime e o novo tipo também aceitar
fiança maior.

1.1.1.Quebramento

A fiança leva a existência de um vínculo que deve ser respeitado sob pena de seu
quebramento, e isto ocorrerá quando:
a) Artigo 327 – O réu não comparecer a instrução criminal ou a ato de inquérito
(indiciado);
b) Mudar de residência sem prévia autorização da autoridade judiciária;
c) Ausentar-se por mais de 8 (oito) dias de sua residência sem comunicar a
autoridade, o lugar em que será encontrado.
O termo de fiança é lavrado pelo escrivão e assinado pela autoridade, bem como por
quem prestá-la. Desse termo será extraída uma certidão que será juntada aos autos.

1.1. Bens que podem ser oferecidos em fiança

A matéria vem disciplinada no artigo 330, podendo ser dinheiro, metais preciosos etc.
No caso de imóveis ou metais, se faz necessário uma avaliação por perito nomeado
pela autoridade.

1.2. Cálculo da fiança

O cálculo está previsto no artigo 325 do CPP, trata-se de uma verdadeira tabela que
leva em conta a pena máxima cominável ao crime, que pode ser:
a) Até dois anos;
b) Até quatro anos, inclusive;
c) Acima de quatro anos.

O salário mínimo de referência foi substituído pela então BTN. O valor da BTN foi
corrigido ater os dias de hoje, e com base no valor atual equivalente ao então SMR, o
juiz ou delegado arbitrará o valor da fiança, a cada qual as infrações correspondentes
aos respectivos campos de atuação.
Dependendo da situação econômica do réu, pode haver redução em até 2/3 do seu
valor, ou aumento de até o décuplo.

A fiança pode ou não ser reavida por quem a prestou. No caso de absolvição transitada
em julgado, poderá o acusado pleitear a sua integral devolução.

Em havendo condenação a fiança é perdida em favor do Estado, sujeito os valores ou


bens dados em fiança, ao pagamento das custas processuais, indenização pelo dano
causado e multa no caso ser esta uma das penas impostas.

– ATOS JURISDICIONAIS PENAIS

ATOS DO JUIZ DURANTE O PROCESSO E ATOS DECISÓRIOS

1. ATOS JURISDICIONAIS PENAIS. 1.1. Conceito e classificações. 1.2.


Despacho ordinatório ou de mero expediente.
Espécies de decisões:
Decisões definitivas.
Interlocutórias mistas, interlocutórias simples.
Sentença:
• Conceito;
• Sentença absolutória (própria e imprópria) e condenatória;
• Requisitos e elementos;
• Efeitos;
• Publicação e intimação da sentença.
• Sentenças executáveis, não executáveis e condicionais.
• Sentenças simples e sentenças subjetivamente complexas.
• Correlação entre acusação e sentença.
• Emendatio libelli e mutatio libelli.

1. ATOS JUDICIAIS (ATOS JURISDICIONAIS PENAIS)

Considerando a variedade de atos que o Poder Judiciário pratica, pode-se


afirmar que todos eles são judiciários, (porque praticados pelo poder judiciário).

Mas existem atos judiciários específicos do Poder Judiciário (que só por ele podem ser
praticados). São os atos judiciais (ou atos jurisdicionais penais), dividindo-se os
mesmos em decisórios, instrutórios, de documentação, administrativos, de coerção e
outros, denominados anômalos.

A competência para a prática destes atos é dada pelo artigo 251 do CPP: “Ao juiz
incumbirá prover à regularidade do processo e manter a ordem no curso dos
respectivos atos, podendo, para tal fim, requisitar a força pública”.
1.1. CONCEITO E CLASSIFICAÇÕES

De modo geral, ATOS JUDICIAIS são os pronunciamentos deliberatórios do juiz


no curso do processo que envolvem, com maior ou menor intensidade, um julgamento,
ou se destinam à movimentação do procedimento.
A estes pronunciamentos que envolvem um julgamento damos o nome de
DECISÕES, ou sentenças em sentido amplo, e quando se destinarem à movimentação
do procedimento são chamados DESPACHOS DE EXPEDIENTE (ou despachos
ordinatórios).

Os outros atos judiciários deveriam ser praticados pelos demais poderes, mas,
para preservar a independência e autonomia do Poder Judiciário, a própria
Constituição lhe concede o poder de interferir, funcionalmente, em áreas próprias dos
demais poderes. São os ATOS NORMATIVOS, ADMINISTRATIVOS E ANÔMALOS,
praticados pelo Poder Judiciário, como se observa a seguir:

➢ ATOS NORMATIVOS - CF/88, art 96, I, “a”, II, “a”, “b”, “c” e “d”, e as súmulas e
instruções dos Tribunais Eleitorais;

Constituição Federal - Art. 96. Compete privativamente

I - aos tribunais:

a) eleger seus órgãos diretivos e elaborar seus regimentos internos, com observância
das normas de processo e das garantias processuais das partes, dispondo sobre a
competência e o funcionamento dos respectivos órgãos jurisdicionais e administrativos;

II - ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores e aos Tribunais de Justiça


propor ao Poder Legislativo respectivo, observado o disposto no art. 169:

a) a alteração do número de membros dos tribunais inferiores;


b) a criação e a extinção de cargos e a remuneração dos seus serviços auxiliares e dos
juízos que lhes forem vinculados, bem como a fixação do subsídio de seus membros e
dos juízes, inclusive dos tribunais inferiores, onde houver;
c) a criação ou extinção dos tribunais inferiores;
d) a alteração da organização e da divisão judiciárias;

➢ ATOS ADMINISTRATIVOS - CF/88, art 96, I, “b”, “c”, “e”, “f” e a Jurisdição
Voluntária;

Constituição Federal - Art. 96. Compete privativamente

I - aos tribunais:

b) organizar suas secretarias e serviços auxiliares e os dos juízos que lhes forem
vinculados, velando pelo exercício da atividade correicional respectiva;
c) prover, na forma prevista nesta Constituição, os cargos de juiz de carreira da
respectiva jurisdição;
e) prover, por concurso público de provas, ou de provas e títulos, obedecido o disposto
no art. 169, parágrafo único, os cargos necessários à administração da Justiça, exceto
os de confiança assim definidos em lei;
f) conceder licença, férias e outros afastamentos a seus membros e aos juízes e
servidores que lhes forem imediatamente vinculados;

➢ ATOS ANÔMALOS - CPP, art 5°, II, Art. 28, art. 39 e 40;

Código de processo Penal - Art. 5°. Nos crimes de ação pública o inquérito
policial será iniciado:

II - mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público, ou a


requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo.

Código de processo Penal - Art. 28. Se o órgão do Ministério Público, ao invés de


apresentar a denúncia, requerer o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer
peças de informação, o juiz, no caso de considerar improcedentes as razões
invocadas, fará remessa do inquérito ou peças de informação ao procurador-geral, e
este oferecerá a denúncia, designará outro órgão do Ministério Público para oferecê-la,
ou insistirá no pedido de arquivamento, ao qual só então estará o juiz obrigado a
atender.

Código de processo Penal - Art. 39. O direito de representação poderá ser


exercido, pessoalmente ou por procurador com poderes especiais, mediante
declaração, escrita ou oral, feita ao juiz, ao órgão do Ministério Público, ou à autoridade
policial

Código de processo Penal - Art. 40. Quando, em autos ou papéis de que


conhecerem, os juízes ou tribunais verificarem a existência de crime de ação pública,
remeterão ao Ministério Público as cópias e os documentos necessários ao
oferecimento da denúncia.

SOBRE DECISÕES E DESPACHOS:

CPP – Art. 800 - Os juízes singulares darão seus despachos e decisões dentro dos
prazos seguintes, quando outros não estiverem estabelecidos:
I - de dez dias, se a decisão for definitiva, ou interlocutória mista;
II - de cinco dias, se for interlocutória simples;
III - de um dia, se se tratar de despacho de expediente.
§ 1° - Os prazos para o juiz contar-se-ão do termo de conclusão.
§ 2° - Os prazos do Ministério Público contar-se-ão do termo de vista, salvo para
a interposição do recurso (art. 798, §5°).
§ 3° - Em qualquer instância, declarando motivo justo, poderá o juiz exceder por
igual tempo os prazos a ele fixados neste Código.
§ 4° - O escrivão que não enviar os autos ao juiz ou ao órgão do Ministério
Público no dia em que assinar termo de conclusão ou de vista estará sujeito à sanção
estabelecida no art. 799.

CPP – Art. 581 - Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão, despacho ou


sentença:
I - que não receber a denúncia ou a queixa;
II - que concluir pela incompetência do juízo;
III - que julgar procedentes as exceções, salvo a de suspeição;
IV – que pronunciar o réu;
V - que conceder, negar, arbitrar, cassar ou julgar inidônea a fiança,
indeferir requerimento de prisão preventiva ou revogá-la, conceder liberdade provisória
ou relaxar a prisão em flagrante;
VI -(Revogado pela Lei nº 11.689, de 2008)
VII - que julgar quebrada a fiança ou perdido o seu valor;
VIII - que decretar a prescrição ou julgar, por outro modo, extinta a
punibilidade;
IX - que indeferir o pedido de reconhecimento da prescrição ou de outra
causa extintiva da punibilidade;
X - que conceder ou negar a ordem de habeas corpus;
XI - que conceder, negar ou revogar a suspensão condicional da pena;
XII - que conceder, negar ou revogar livramento condicional;
XIII - que anular o processo da instrução criminal, no todo ou em parte;
XIV - que incluir jurado na lista geral ou desta o excluir;
XV - que denegar a apelação ou a julgar deserta;
XVI - que ordenar a suspensão do processo, em virtude de questão
prejudicial;
XVII - que decidir sobre a unificação de penas;
XVIII - que decidir o incidente de falsidade;
XIX - que decretar medida de segurança, depois de transitar a sentença em
julgado;
XX - que impuser medida de segurança por transgressão de outra;
XXI - que mantiver ou substituir a medida de segurança, nos casos do art.
774;
XXII - que revogar a medida de segurança;
XXIII - que deixar de revogar a medida de segurança, nos casos em que a
lei admita a revogação;
XXIV - que converter a multa em detenção ou em prisão simples.

CPP – Art. 593 - Caberá apelação no prazo de 5 (cinco) dias:


I - das sentenças definitivas de condenação ou absolvição proferidas por juiz
singular;
II - das decisões definitivas, ou com força de definitivas, proferidas por juiz
singular nos casos não previstos no Capítulo anterior;
III - das decisões do Tribunal do Júri, quando:
a) ocorrer nulidade posterior à pronúncia;
b) for a sentença do juiz-presidente contrária à lei expressa ou à decisão dos
jurados;
c) houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida de
segurança;
d) for a decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos autos.
§ 1° - Se a sentença do juiz-presidente for contrária à lei expressa ou divergir
das respostas dos jurados aos quesitos, o tribunal ad quem fará a devida retificação.
§ 2° - Interposta a apelação com fundamento no n° III, c, deste artigo, o tribunal
ad quem, se Ihe der provimento, retificará a aplicação da pena ou da medida de
segurança.
§ 3° - Se a apelação se fundar no no III, d, deste artigo, e o tribunal ad quem se
convencer de que a decisão dos jurados é manifestamente contrária à prova dos autos,
dar-lhe-á provimento para sujeitar o réu a novo julgamento; não se admite, porém, pelo
mesmo motivo, segunda apelação.
§ 4° - Quando cabível a apelação, não poderá ser usado o recurso em sentido
estrito, ainda que somente de parte da decisão se recorra.

PRAZOS DOS ATOS JUDICIAIS

Em regram os juízes singulares darão seus despachos e decisões dentro dos


prazos seguintes (art. 800, CPP):
I – de 10 (dez) dias, se a decisão for definitiva, ou interlocutória mista;
II – de 5 (cinco) dias, se for interlocutória mista;
III – de 1 (um) dia, se se tratar de despacho de expediente (art. 800,III, CPP).

1.1. DESPACHO ORDINATÓRIO OU DE MERO EXPEDIENTE

São os que dispõem, simplesmente, sobre o andamento do processo. Ex: “Diga


a parte contrária”; “Junte-se o documento”; “intime-se a defesa”, etc.

Observação: Os despachos ordinatórios podem ser atacados por via de correição


parcial, quando tumultuarem o andamento do feito ou quando se inverter a produção da
prova testemunhal, por parte do juiz;

CORREIÇÃO PARCIAL – é uma providência administrativo-judiciária,


prevista pelos regimentos internos dos Tribunais de justiça, destinada a corrigir erro
ou abuso que importe inversão tumultuária dos atos e fórmulas legais do
processo (error in procedendo).
- Admitido apenas quando não houver outro recurso cabível contra o ato a ser
impugnado;
- Mesmo rito do Agravo (lei 9.139/95);
- prazo de 10 dias;
- pode ser interposta pelo Réu, MP, (ou assistente), querelante;
- Petição dirigida diretamente ao Tribunal;

1.2. ESPÉCIES DE DECISÕES:


A mais corrente classificação das decisões (ou sentenças em sentido amplo) é:

a) DECISÕES INTERLOCUTÓRIAS SIMPLES;

b) DECISÕES INTERLOCUTÓRIAS MISTAS E;

c) DECISÕES DEFINITIVAS.

a) DECISÕES INTERLOCUTÓRIAS SIMPLES – São as que resolvem questões


emergentes relativas à regularidade ou marcha do processo, exigindo um
pronunciamento decisório sem penetrar no mérito da causa. Ou seja, resolvem
questões incidentes surgidas no curso do processo sem, no entanto, trancar a relação
processual. Ex:
➢ Recebimento da denúncia ou queixa;
➢ A decretação de prisão preventiva;
➢ A concessão de fiança, etc.

Observação: Em regra, estas sentenças são irrecorríveis, salvo quando houver


expressa disposição legal como, por exemplo, no caso do art. 581, V, CPP:

CPP – Art. 581 - Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão, despacho ou


sentença:
V - que conceder, negar, arbitrar, cassar ou julgar inidônea a fiança,
indeferir requerimento de prisão preventiva ou revogá-la, conceder liberdade provisória
ou relaxar a prisão em flagrante;

2) Embora, via de regra, não comportem recursos, as decisões interlocutórias simples


podem ser atacadas por outros remédios, como o habeas corpus, o Mandado de
Segurança e a Correição Parcial.

b) DECISÕES INTERLOCUTÓRIAS MISTAS – Também chamadas de


“decisões com força de definitiva”, são as que encerram a relação processual sem
julgamento do mérito (terminativas) ou, então, põem termo a uma etapa do
procedimento (não terminativas).

Estas podem ser: TERMINATIVAS e NÃO TERMINATIVAS.

b.1) MISTAS NÃO TERMINATIVAS – São as que encerram uma etapa do


procedimento tendo como exemplo, a sentença de pronúncia, que encerra a instrução
perante o juiz, remetendo os autos ao Tribunal do Júri;

b.2) MISTAS TERMINATIVAS – São as que encerram a relação processual sem


julgamento do mérito da causa, como nos casos de rejeição de denúncia ou queixa,
decisão pela ilegitimidade da parte, etc.

c) DECISÕES DEFINITIVAS – (ou SENTENÇAS EM SENTIDO PRÓPRIO).


São as que solucionam a lide, julgando o mérito da causa. Podem ser: 1)
Condenatórias; 2) Absolutórias e 3) Decisões definitivas latu sensu (ou em sentido lato
ou terminativas de mérito)
O art. 593 CPP, no seu inciso I, cuida de duas modalidades de decisões
definitivas ou sentenças:

CPP – Art. 593 - Caberá apelação no prazo de 5 (cinco) dias:


I - das sentenças definitivas de condenação ou absolvição proferidas por juiz
singular;

1)Condenatórias, quando acolhem, ao menos em parte, a pretensão punitiva


(acusação), infligindo ao acusado uma pena;

2) absolutórias, quando não dão acolhida ao pedido de condenação, ou seja,


julgam improcedente a pretensão punitiva (acusação). Podem ser ainda:

2.1. Absolutória própria – rechaça totalmente a pretensão punitiva baseado em algum


dos incisos do art. 386 CPP:

- Quando a imputação não ficou comprovada (art. 386, I, II, VI e VII);

- Quando o fato é absolutamente atípico (art. 386, III);

- Quando o réu não foi o autor nem concorreu para a prática da infração (art. 386, IV),
ou se não houver prova nesse sentido ((art. 386, V);

-Se estiver presente alguma causa excludente de antijuridicidade ou de culpabilidade


(art. 386, VI)

2.2. Absolutória imprópria – Embora não acolham a pretensão punitiva, reconhecem a


prática de infração penal e aplicam ao réu medida de segurança (art. 386, Parágrafo
único, III, CPP)

CPP – Art. 386 - O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte


dispositiva, desde que reconheça:
I - estar provada a inexistência do fato;
II - não haver prova da existência do fato;
III - não constituir o fato infração penal;
IV – estar provado que o réu não concorreu para a infração penal;
V – não existir prova de ter o réu concorrido para a infração penal;
VI – existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de pena (arts. 20,
21, 22, 23, 26 e § 1o do art. 28, todos do Código Penal), ou mesmo se houver fundada
dúvida sobre sua existência;
VII – não existir prova suficiente para a condenação.

Parágrafo único. Na sentença absolutória, o juiz:


I - mandará, se for o caso, pôr o réu em liberdade;
II – ordenará a cessação das medidas cautelares e provisoriamente aplicadas;
III - aplicará medida de segurança, se cabível.

Existem, ainda:

3) Decisões definitivas latu sensu ou em sentido lato – Também denominadas


terminativas de mérito, são aquelas que encerram a relação processual, julgam o
mérito, mas não condenam nem absolvem o acusado, como no caso de decisão que
declara extinta a punibilidade, ou a que declara extinta a medida de segurança
pelo decurso do tempo, ou ainda a decisão que resolve a questão incidental,
apreciando-lhes o mérito (art. 120, § 1°CPP – Restituição de coisa apreendida):
CPP – Art. 120 – A restituição, quando cabível, poderá ser ordenada pela
autoridade policial ou juiz, mediante termo nos autos, desde que não exista dúvida
quanto ao direito do reclamante.
§1° -. Se duvidoso esse direito, o pedido de restituição autuar-se-á em apartado,
assinando-se ao requerente o prazo de 5 (cinco) dias para a prova. Em tal caso, só o
juiz criminal poderá decidir o incidente.

1.4. CONCEITO DE ATOS JURISDICIONAIS SEGUNDO O PROCESSO CIVIL:


A tendência da Doutrina e do Legislador, pelas propostas de reforma do nosso
Código de Processo Penal, é adotar a classificação dos atos jurisdicionais segundo a
técnica utilizada no Processo Civil. Então teríamos: 1) Sentença, 2) Decisão
interlocutória e 3) Despacho:
1) SENTENÇA – ato pelo qual o juiz põe termo ao processo, decidindo, ou não, o
mérito da causa. Nesse caso estarão incluídas as hipóteses que o juiz:
➢ Absolve ou condena;
➢ Julga extinta a punibilidade (hoje é terminativa de mérito);
➢ Impronuncia o acusado; (hoje é decisão interlocutória mista terminativa)
➢ Rejeita a denúncia ou queixa (hoje é decisão interlocutória mista
terminativa), etc.

2) DECISÃO INTERLOCUTÓRIA - ato pelo qual o juiz, no curso do processo, resolve


questão incidente. Nesse caso estarão incluídas as hipóteses que o juiz:
➢ Recebe a denúncia ou queixa; (interlocutória simples)
➢ Pronuncia o acusado; (hoje é interlocutória mista não terminativa);
➢ Suspende o processo; (interlocutória simples)

3) DESPACHOS – são todos os demais atos do juiz praticados no processo, de


ofício ou a requerimento da parte, a cujo respeito a lei não estabelece outra forma.

1.4. CONCEITO DE ATOS JURISDICIONAIS SEGUNDO O ÓRGÃO DE ORIGEM:

a) Ato de Juiz monocrático – Despacho, Decisão ou sentença;

b) julgamento proferido pelos tribunais – acórdão (quando não comportar mais


impugnação, fala-se em aresto);
c) Respostas dos jurados dão às questões formuladas pelo juiz Presidente do
Tribunal do Júri – Veredictos.

1.5. SENTENÇAS EXECUTÁVEIS, NÃO EXECUTÁVEIS E CONDICIONAIS:

a) EXECUTÁVEIS – As que podem ser executadas;

b) NÃO EXECUTÁVEIS – é a sentença sujeita a recurso;

c) CONDICIONAL – é aquela cuja execução fica na dependência de um


acontecimento incerto ou futuro (decisões que concedem o sursis, o livramento
condicional, etc).

1.6. SENTENÇAS SIMPLES, SUBJETIVAMENTE COMPLEXAS OU COLETIVAS:

a) SIMPLES – quando originárias de órgão monocrático ou singular;

b) SUBJETIVAMENTE COMPLEXAS – quando couber a mais de um órgão


apreciar as questões que integram a lide para propiciar o julgamento final (sentença
proferida pelo Tribunal do Júri) e;

c) COLETIVAS – Se a decisão provém de um órgão colegiado homogêneo


(tribunais de 2° grau)

1.7.CONCEITO DE SENTENÇA

Sentença é o ato jurisdicional por meio do qual se resolve a lide (soluciona o


mérito da pretensão penal).
Porém, a tendência é considerá-la como o ato pelo qual o juiz põe termo ao
processo, com ou sem julgamento de mérito.

1.8.ESTRUTURA LÓGICA

Na ação, entram três idéias fundamentais: 1) o fato litigioso; 2) o direito aplicável


e 3) o pedido do autor.
Assim, por meio da ação, o autor leva ao conhecimento do juiz a notícia sobre
um litígio a ser dirimido. Chamado o réu a defender-se, poderá este impugnar a
pretensão deduzida em juízo e, inclusive, tal como o autor, propondo-se a demonstrar o
acerto da sua tese. Produzem-se as provas. Concluída a instrução (cuja finalidade é
instruir o juiz, para que o mesmo possa decidir), vem as alegações das partes, pelas
quais se fazem exames críticos ao acervo probatório.
Resta, agora, a decisão da causa. O juiz, com os olhos voltados para o direito
aplicável, procede a uma reconstrução dos fatos de acordo com o material de que
dispõe, e, num trabalho mental, de lógica, conclui condenando ou absolvendo, julgando
improcedente ou procedente a pretensão deduzida.

1.9. NATUREZA JURÍDICA


Há, na sentença, dois elementos básicos: 1) A EXTERIORIZAÇÃO DO
RESULTADO DE UM JUÍZO LÓGICO (proveniente de uma operação mental do juiz),
e; 2) A DECLARAÇÃO DE VONTADE.
Assim, a sentença não é apenas um ato de inteligência, mas também um ato de
vontade, pois ela exprime uma ordem que nada mais é senão aquela mesma ordem
genérica, abstrata e hipotética, prevista na lei, que se transmuda em concreta.
O juiz transfunde, na sentença, a imperatividade contida na norma.

1.10. FUNÇÃO DA SENTENÇA

A função da sentença é declarar o direito. Quando o juiz aplica a sentença,


submetendo o fato à norma, está declarando o direito preexistente, exercitando o
direito de punir do estado.

1.11. REQUISITOS DA SENTENÇA

– (Art 381 CPP) - Relatório (I e II), Motivação ou fundamentação (III), o Dispositivo


ou conclusão (IV,V e VI) e a Parte Autenticativa;

Código de Processo Penal Art. 381. A sentença conterá:


I - os nomes das partes ou, quando não possível, as indicações necessárias
para identificá-las;
II - a exposição sucinta da acusação e da defesa;
III - a indicação dos motivos de fato e de direito em que se fundar a decisão;
IV - a indicação dos artigos de lei aplicados;
V - o dispositivo;
VI - a data e a assinatura do juiz.

a) RELATÓRIO (art 381, I e II-CPP)


Nele o juiz consigna:
a) nome das partes;
b) a súmula do pedido e da contestação ou a exposição da acusação e da
defesa, em forma sucinta,e;
c) as principais ocorrências surgidas no andamento do feito.

Observação: 1) A lei 9.099/95 (Lei dos juizados especiais), art. 81, §3°, permite a
dispensa do relatório:

Lei 9.099/95 - Art. 81 - ...


§ 3º - A sentença, dispensado o relatório, mencionará os elementos de
convicção do Juiz (grifo nosso);

2) A sentença desprovida de relatório (exceto nos JECrim), é


considerada, pela doutrina e jurisprudência, como ato judicial nulo.

b) MOTIVAÇÃO (ou Fundamentação)


Meio pelo qual o juiz exterioriza o desenvolvimento do seu raciocínio, para
chegar à conclusão. Motivando a sentença, o juiz dá demonstração de que cumpriu,
com lealdade, a função de entregar a prestação jurisdicional que lhe foi pedida.
É preciso que haja coerência no desenvolvimento da atividade intelectual do juiz,
externada na motivação. Uma motivação contraditória equivale a ausência de
fundamentação.
Sentença vazia é o nome dado à decisão proferida em conflito com o
fundamentação (sentença nula).
Sentença suicida é o nome dado à decisão proferida em conflito entre a
fundamentação e o dispositivo (sentença nula).

c) PARTE DISPOSITIVA (ou dispositivo, ou conclusão)

Nela, o juiz procede ao exame do fato sob a ótica da lei, julgando procedente ou
improcedente a pretensão e pondo termo à lide, declarando o direito aplicável na
ocasião.

Observação: 1) Inexistindo a conclusão, que corresponde à apreciação efetiva do


pedido, a sentença será considerada inexistente.

d) PARTE AUTENTICATIVA

Concluída a sentença, com acolhimento ou rechaço da pretensão deduzida,


segue-se a parte autenticativa da sentença, constituída de designação de lugar, dia,
mês e ano da sua prolação e assinatura do juiz.

1.12. CLAREZA E PRECISÃO DA SENTENÇA PENAL.

Toda sentença deve ser clara e precisa, ou seja, deve ser inteligível e indicar a
qualidade e quantidade das penas e conter-se nos limites do pedido.
O art. 382 CPP diz:
CPP - Art. 382. Qualquer das partes poderá, no prazo de 2 (dois) dias, pedir ao
juiz que declare a sentença, sempre que nela houver obscuridade, ambigüidade,
contradição ou omissão.

Declarar a sentença é torná-la clara.

Observações:
1) mesmo não havendo a lei nomeado esse ato da parte, a doutrina o chama de
“Embarguinho”;
2) A lei 9.099/95 (Lei dos juizados especiais), art. 83, §1°,o prevê, sendo que nesta o
prazo é de 5 dias.

Lei 9.099/95 - Art. 83 - Caberão embargos de declaração quando, em sentença ou


acórdão, houver obscuridade, contradição, omissão ou dúvida...
§ 1º - Os embargos de declaração serão opostos por escrito ou oralmente, no prazo
de cinco dias, contados da ciência da decisão;

1.13. ”JURA NOVIT CURIA”.

O Princípio do jura novit curia é o princípio da livre dicção do direito – o juiz


conhece o direito. Vigora o princípio do narra mihi factum dabo tibi jus (narra-me o fato
e te darei o direito). A errada classificação do fato não impede, em princípio a prolação
de sentença condenatória.
Nesse âmbito, duas situações podem se verificar: 1) a emendatio libelli e 2) a
mutatio libelli.

1) “EMENDATIO LIBELLI”
É uma simples correção feita, por exemplo, no caso da peça que descreve
perfeitamente o fato criminoso, mas procede a uma errada classificação da infração,
não sendo isto obstáculo a que se profira a sentença. (O réu não se defende da
capitulação do fato, mas deste).

CPP - Art. 383 - O juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denúncia
ou queixa, poderá atribuir-lhe definição jurídica diversa, ainda que, em conseqüência,
tenha de aplicar pena mais grave;

§ 1º - Se, em conseqüência de definição jurídica diversa, houver possibilidade


de proposta de suspensão condicional do processo, o juiz procederá de acordo com o
disposto na lei;

§ 2º - Tratando-se de infração da competência de outro juízo, a este serão


encaminhados os autos.;

Lei 9.099/95 - Art. 89 - Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou
inferior a um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a
denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que
o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime,
presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena (art.
77 do Código Penal);

A lei 11.719/08 trouxe uma nova roupagem à Emendatio Libelli, trazendo as


seguintes novidades:

O Parágrafo 1° traz a hipótese de suspensão condicional do processo, inaugurada


pela Lei 9.099/95, aplicada aos crimes apenados com pena mínima de, no máximo, um
ano (art. 89, caput), podendo a suspensão ser aplicada pelo próprio juiz do feito.

O Parágrafo 2° determina que, se o juiz verificar que se trata de crime de Menor


Potencial Ofensivo, deverá remeter os autos ao juiz do Juizado Especial Criminal, para
este presida os trabalhos até o término da ação penal.
2) “MUTATIO LIBELLI” (art. 384 CPP)

CPP - Art. 384 - Encerrada a instrução probatória, se entender cabível nova


definição jurídica do fato, em conseqüência de prova existente nos autos de elemento
ou circunstância da infração penal não contida na acusação, o Ministério Público
deverá aditar a denúncia ou queixa, no prazo de 5 (cinco) dias, se em virtude desta
houver sido instaurado o processo em crime de ação pública, reduzindo-se a termo o
aditamento, quando feito oralmente

§ 1 Não procedendo o órgão do Ministério Público ao aditamento, aplica-se o


art. 28 deste Código.

§ 2° Ouvido o defensor do acusado no prazo de 5 (cinco) dias e admitido o


aditamento, o juiz, a requerimento de qualquer das partes, designará dia e hora para
continuação da audiência, com inquirição de testemunhas, novo interrogatório do
acusado, realização de debates e julgamento

§ 3 Aplicam-se as disposições dos §§ 1° e 2° do art. 383 ao caput deste artigo.

§ 4 Havendo aditamento, cada parte poderá arrolar até 3 (três) testemunhas, no


prazo de 5 (cinco) dias, ficando o juiz, na sentença, adstrito aos termos do aditamento.

§ 5 Não recebido o aditamento, o processo prosseguirá.

CPP - Art. 28 - Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a


denúncia, requerer o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer peças de
informação, o juiz, no caso de considerar improcedentes as razões invocadas, fará
remessa do inquérito ou peças de informação ao procurador-geral, e este oferecerá a
denúncia, designará outro órgão do Ministério Público para oferecê-la, ou insistirá no
pedido de arquivamento, ao qual só então estará o juiz obrigado a atender

A nova redação do artigo 384, dada pela lei 11.719/08, trouxe uma nova
abordagem da chamada Mutatio Libelli.

Nesta, o juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denúncia, pode dar ao fato
definição jurídica diversa em razão de:
a) Prova existente nos autos e;
b) circunstância elementar não contida, explícita ou implicitamente, na denúncia
ou queixa.
Assim, os elementos supra citados podem integrar o tipo penal (determinando,
por exemplo, ser o crime doloso, culposo ou inexistente), ou constituir circunstância da
infração penal (causas de aumento de pena ou qualificadoras).

A nova “roupagem” do artigo 384 CPP, diz que a mutatio libelli se dará,
SEMPRE, por aditamento, ao contrário da redação anterior, que dava hipóteses de
Mutatio libelli sem aditamento.
Sendo o aditamento ato privativo do Ministério Público, o legislador previu uma
solução para o caso do Promotor se recusar a aditar a denúncia, prevista no Parágrafo
1° do art. 384.
Nesta hipótese, mantida a recusa por parte do Procurador Geral, o juiz deverá
prosseguir com o processo, nos limites da denúncia recebida (segundo o §5°).

Assim, se a nova circunstância tratar de qualificadora, o juiz poderá, no máximo,


condenar o réu por crime simples.

Por outro lado, se a novidade for referente a uma elementar, o acusado deverá ser
absolvido por deficiência da denúncia.

A regra do Parágrafo 2° determina que, após a manifestação da acusação, o


juiz ouça o defensor, no prazo de 5 dias, e então decida pelo recebimento ou não do
aditamento. Recebendo-o, o juiz dará prosseguimento ao feito à partir da audiência
suspensa (se esta tiver sido paralisada após o interrogatório do acusado, o juiz deverá
ouvi-lo novamente, para que exponha a sua versão sobre os novos fatos).

O Parágrafo 4° se liga diretamente ao parágrafo 2°. Nesse caso, as partes podem


arrolar, no prazo de 5 dias, mais 3 testemunhas, para depor exclusivamente sobre a
matéria objeto do aditamento.

O Parágrafo 5° trata da decisão do juiz sobre o recebimento ou não do aditamento,


dando as seguintes hipóteses:

1) ADITAMENTO NÃO RECEBIDO – o processo prosseguirá à partir da


audiência em que foi paralisada, e o fato será julgado nos limites da denúncia recebida.
Assim, se a nova circunstância tratar de qualificadora, o acusado será condenado, no
máximo, por crime simples. Por outro lado, se a novidade for referente a uma
elementar, o acusado deverá ser absolvido por deficiência da denúncia.

2) ADITAMENTO RECEBIDO – o processo deverá seguir o trâmite previsto no


parágrafo 2° do artigo 384, CPP.

Observação: Não há, na lei, previsão de recurso para a hipótese de o juiz não receber
o aditamento. Contudo, parte da doutrina, entendendo tratar-se de parcial rejeição da
denúncia, diz que o Ministério Público pode intentar o Recurso em sentido estrito (art.
581, I, CPP).

Por fim, segundo o Parágrafo 3° são cabíveis as mesmas medidas referentes


aos parágrafos 1° e 2° do artigo 383 do CPP; referentes à suspensão condicional da
pena e encaminhamento ao Juizado Especial Criminal.

CPP, Art. 383, § 1º - Se, em conseqüência de definição jurídica diversa, houver


possibilidade de proposta de suspensão condicional do processo, o juiz procederá de
acordo com o disposto na lei;
CPP, Art. 383, § 2º - Tratando-se de infração da competência de outro juízo, a
este serão encaminhados os autos;

REGRA ANTERIOR À LEI 11.719/08: (Código de 1941)

CPP - Art. 384 - Se o juiz reconhecer a possibilidade de nova definição jurídica


do fato, em conseqüência de prova existente nos autos de circunstância elementar,
não contida, explícita ou implicitamente, na denúncia ou na queixa, baixará o processo,
a fim de que a defesa, no prazo de 8 (oito) dias, fale e, se quiser, produza prova,
podendo ser ouvidas até três testemunhas

PARÁGRAFO ÚNICO - Se houver possibilidade de nova definição jurídica que


importe aplicação de pena mais grave, o juiz baixará o processo, a fim de que o
Ministério Público possa aditar a denúncia ou a queixa, se em virtude desta houver
sido instaurado o processo em crime de ação pública, abrindo-se, em seguida, o prazo
de 3 (três) dias à defesa, que poderá oferecer prova, arrolando até três testemunhas.

Na regra anterior, eram previstas 3 SITUAÇÕES:


a) A circunstância elementar deixa a pena igual;
b) A circunstância elementar diminui a pena;
c) A circunstância elementar aumenta a pena;

Nas hipóteses “a” e “b”, (pena igual ou menor), aplicava-se o previsto no caput
do artigo 384 do CPP, (mutatio libelli sem aditamento), em que o juiz baixava o
processo, para que a defesa se manifestasse e produzisse prova em oito dias,
decidindo após.

Na hipóteses “c”, (aumento de pena), aplicava-se o previsto no Parágrafo Único do


artigo 384 do CPP, (mutatio libelli com aditamento), em que o juiz baixava o processo,
para a acusação aditar (completar, acrescentar, as circunstâncias que agravassem a
acusação) a peça inicial. Abria-se, então, o prazo de 3 dias para que a defesa se
manifestasse e, após, procedia o juiz ao julgamento.

1. DAS NULIDADES

Conceito

Nulidade é a sanção cominada pelo ordenamento jurídico ao ato praticado em


desrespeito às formalidades legais.

Ao estabelecer as formalidades, o legislador quer garantir que o réu tenha ciência da


acusação, que seja citado regularmente e que esteja sendo a ele oferecida a
oportunidade de defesa. São normas de Direito Público.

O Código de Processo Penal, em seus artigos 563 a 573, trata das nulidades.
(Atenção: é obrigatória a leitura desses artigos antes da realização das provas.)
O artigo 564 do Código de Processo Penal apresenta o rol das nulidades; todavia,
algumas nulidades relativas constantes desse rol, em razão da Constituição Federal de
1988, estão desatualizadas – deveriam ser nulidades absolutas. Além disso, as
hipóteses de nulidades deveriam ser verificadas, no caso concreto, pelo juiz.

As nulidades podem ser absolutas ou relativas.

Ao lado delas, existem algumas situações em que o vício é tão grave que gera a
inexistência do ato.

Em outras situações, o desatendimento da formalidade é incapaz de gerar qualquer


prejuízo ou anular o ato, pois trata-se de mera irregularidade.

Diferenças entre Nulidades Absolutas e Relativas

1.2.1. Quanto ao fundamento

A nulidade absoluta ocorre quando a regra violada houver sido instituída para
resguardar, predominantemente, o interesse público.

A nulidade relativa ocorre quando a regra violada houver sido instituída para
resguardar, predominantemente, o interesse das partes.

Sempre que ocorrer a violação a um princípio constitucional, a nulidade será absoluta.


Para alguns autores, se a ofensa for muito grave, o ato será inexistente.

1.2.2. Quanto ao prejuízo

A nulidade relativa exige demonstração do prejuízo.

Na nulidade absoluta, o prejuízo é presumido.

1.2.3. Quanto ao momento de argüição

A nulidade relativa deve ser argüida no momento oportuno, sob pena de preclusão.
Cada procedimento tem um momento último para a argüição.

Conforme o artigo 571 do Código de Processo Penal, as nulidades devem ser argüidas
nos seguintes momentos:

Procedimento Ordinário: até as alegações finais (inciso II).

Procedimento do Júri: as que ocorrerem no sumário da culpa, até as alegações do


Júri (inciso I); as que ocorrerem posteriormente, depois de anunciado o julgamento e
apregoadas as partes (inciso V); e as do julgamento em plenário, logo depois que
ocorrerem (inciso VIII).

A nulidade absoluta pode ser reconhecida a qualquer tempo e em qualquer grau de


jurisdição.
Exceção: conforme a Súmula n. 160 do Supremo Tribunal Federal, “é nula a decisão
do tribunal que acolhe, contra o réu, nulidade não argüida no recurso da acusação,
ressalvados os casos de recurso de ofício”.

1.2.4. Quanto ao interesse

As nulidades relativas dependem de provocação pela parte interessada, no momento


oportuno.
As nulidades absolutas não precisam de provocação; o próprio juiz pode reconhecer de
ofício, salvo a exceção da Súmula n. 160 do Supremo Tribunal Federal.

1.2.5. Inexistência e Irregularidade

Inexistência é a sanção mais grave que pode ser cominada a um ato processual. Para
a doutrina, não se trata de ato processual inexistente, mas sim de um não-ato ou ato
processual atípico por não se enquadrar no modelo legal.

Ocorre quando o ato não reúne elementos essenciais para existir. É a violação frontal
da regra constitucional que gera a inexistência. Ex.: um processo por crime eleitoral
que tramitou na Justiça Militar.

Para o Professor Tourinho, a violação de qualquer regra constitucional que trate de


competência torna o ato inexistente. Já, para a jurisprudência, trata-se de nulidade
absoluta.

Característica própria da inexistência: se o ato for inexistente, não produz efeitos,


independente de declaração judicial.

Na nulidade absoluta o ato produz efeitos até que seja declarado nulo. Enquanto isso
não ocorrer, produz efeitos.

Exemplos:

• sentença sem relatório: nulidade absoluta;


• sentença sem fundamentação: nulidade absoluta;
• sentença sem dispositivo: inexistente;
• sentença proferida por juiz em férias ou aposentado: inexistente, por não ter
jurisdição;
• sentença proferida por juiz suspeito: nulidade absoluta;
• sentença proferida por juiz impedido: inexistente.

Ocorre irregularidade sempre que a formalidade desrespeitada for considerada inócua.


Tal desrespeito é incapaz de gerar prejuízo, seja para a acusação, seja para a defesa.
O ato produz seus efeitos normalmente.

Exemplos: falta de compromisso pelo perito louvado ou particular (o perito oficial é


funcionário e, ao tomar posse, já assume esse compromisso); oferecimento de
denúncia fora do prazo legal (5 dias para o réu preso e 15 para o solto) acarreta o
relaxamento da prisão em flagrante, mas a denúncia em si é válida.
2. PRINCÍPIOS DAS NULIDADES

2.1. Prejuízo

Não há nulidade se não houver prejuízo (artigo 563 do CPP).

Esse princípio aplica-se à nulidade relativa, na qual precisa ser demonstrado o


prejuízo, pois, na nulidade absoluta, esse é presumido.

No processo penal, a falta de defesa acarreta a nulidade absoluta e a defesa deficiente


produz nulidade relativa (ver a Súmula n. 523 do Supremo Tribunal Federal).

Exemplo: réu não tem defensor constituído e o juiz não nomeia um defensor dativo, ou
esse é nomeado e nada faz no processo; o réu fica indefeso, acarretando nulidade
absoluta.

2.2. Interesse

Ninguém pode alegar nulidade que só interesse à parte contrária (artigo 565 do CPP).

Esse princípio só se aplica à nulidade relativa, pois a absoluta pode ser alegada por
qualquer pessoa.

Ninguém pode argüir nulidade para a qual tenha concorrido ou dado causa. Como
exceção o Ministério Público pode argüir nulidades que interessem somente à defesa.

2.3. Instrumentalidade das Formas

Não se declara a nulidade de ato que não influiu na apuração da verdade real e na
decisão da causa (artigo 566 do CPP) e também de ato que, apesar de praticado de
forma diversa da prevista, atingiu sua finalidade (artigo 572, inciso II, do CPP).

2.4. Causalidade ou Conseqüencialidade

Segundo o artigo 573, § 1.º, do Código de Processo Penal: “A nulidade de um ato, uma
vez declarada, causará a dos atos que dele diretamente dependam ou sejam
conseqüência”. Todos os atos visam a sentença; os atos processuais são entrelaçados
entre si. Assim, se um ato é nulo, os demais que dele dependam também o serão.

O juiz deve declarar expressamente quais são os atos contaminados.

A Professora Ada Pellegrini Grinover estabelece duas regras úteis para saber se há
contaminação dos atos subseqüentes:

A nulidade dos atos da fase postulatória, como regra, anula todo o processo. Exemplo:
nulidade na denúncia, citação.
A nulidade de atos da fase instrutória, via de regra, não contamina os demais atos da
mesma fase processual. Exemplo: laudo elaborado por um só perito.

Observação: tribunal reconhecer a nulidade relativa, ela deve ser apresentada nas
alegações finais (artigo 500 do CPP). Apenas será anulada a sentença; a inquirição de
testemunhas não precisa ser anulada.

2.5. Convalidação

Todas as nulidades no processo penal admitem convalidação, até mesmo as


absolutas. Somente as nulidades relativas precluem se não argüidas no momento
oportuno.

Entretanto, existem outras formas de convalidação além da preclusão. O Código de


Processo Penal elenca três formas de convalidação:

Ratificação: prevista no artigo 568 do Código de Processo Penal. É uma maneira de se


convalidar a nulidade decorrente de ilegitimidade de parte. Se a parte legítima
comparecer e ratificar os atos anteriormente praticados, a nulidade se convalida.

A ilegitimidade pode ser: ad causae ou ad processum.

- Ilegitimidade ad causae: Exemplo: o Ministério Público oferece denúncia em crime


de ação penal privada.

- Ilegitimidade ad processum: Exemplo: a queixa na ação penal privada é


apresentada pela vítima menor de 18 anos ou por um terceiro que não é o
representante legal da vítima.

A ratificação só é possível na ilegitimidade ad processum tratando-se essa de


nulidade relativa.

Suprimento: de acordo com o artigo 569 do Código de Processo Penal “As omissões
da denúncia ou da queixa, ... poderão ser supridas a todo o tempo, antes da sentença
final.” É a maneira de se convalidar possíveis omissões constantes na denúncia ou na
queixa.

Substituição: segundo o artigo 570 do Código de Processo Penal é a maneira de


convalidar nulidades da citação, intimação ou notificação.

Exemplo: réu processado é procurado em um dos seus endereços, mas não é


encontrado. Em vez de procurá-lo nos demais endereços, o juiz ordena a citação por
edital.

No dia do interrogatório, o réu comparece para argüir a nulidade da citação.

Convalesce o vício e é aberto novo prazo para apresentação da defesa. A medida


deveria ter sido realizada de uma forma, mas foi substituída por outra.
3. NULIDADES EM ESPÉCIE

O artigo 564 do Código de Processo Penal apresenta os seguintes casos de


nulidade:

I – Por incompetência, suspeição ou suborno do juiz;

Incompetência

Competência é a medida da jurisdição.

A competência em razão da jurisdição (comum ou especializada), da hierarquia e da


matéria, assim como a competência recursal, são hipóteses de competência absoluta,
imodificáveis pelas partes (questões de ordem pública).

A não-observância dessas regras de competência acarreta nulidade absoluta do


processo; o vício não se convalida, podendo ser reconhecido a qualquer tempo, de
ofício, independentemente da demonstração do prejuízo.

A competência em razão do foro territorial, por ser relativa, depende de argüição da


parte, sob pena de preclusão, com a prorrogação da competência. Nesse caso, o vício
é sanável.

Sendo reconhecida a incompetência relativa, serão anulados apenas os atos em que


exista decisão de mérito.

Suspeição e suborno do juiz

O impedimento no processo penal é gerador de inexistência e não somente de


nulidade dos atos praticados.

A suspeição acarreta a nulidade absoluta do ato.

O juiz deve declarar-se suspeito ou impedido quando for o caso; se não o fizer, o vício
pode ser argüido por qualquer das partes (artigo 112 do CPP). “Não aceitando a
argüição, o juiz mandará autuar em apartado a petição; dará a sua resposta dentro de
três dias, podendo instruí-la e oferecer testemunhas, e, em seguida, determinará sejam
os autos da exceção remetidos, dentro de vinte e quatro horas, ao juiz ou tribunal a
quem competir o julgamento (CPP, artigo 100). Julgada procedente a exceção de
suspeição, ficarão nulos todos os atos praticados (CPP, artigo 101)”1.

O suborno ou peita é a pratica dos crimes de concussão (artigo 316 do CP), corrupção
passiva (artigo 317 do CP) e corrupção ativa (artigo 333 do CP). Também é causa
geradora da nulidade absoluta do ato.

II – Por ilegitimidade de parte;

1 CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 7.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2001.
p. 624.
A ilegitimidade pode ser:

Ad Causam: o autor não é o titular da ação ajuizada, ou o réu não pode integrar a
relação jurídica processual (por ser inimputável, ou por não ter evidentemente
concorrido para a prática do fato típico e ilícito).

O vício jamais se convalida nesse caso; trata-se de nulidade absoluta e insanável.

Ad Processum: é a falta da capacidade postulatória do querelante

(exemplo: o querelante leigo assina sozinho a queixa-crime), ou é sua incapacidade


para estar em Juízo (exemplo: o ofendido, menor de 18 anos, ajuíza a ação privada
sem estar representado por seu representante legal).

Essa nulidade pode ser sanada pela ratificação dos atos processuais (artigo 568 do
CPP). Configura nulidade relativa.

III – Por falta das fórmulas ou dos termos seguintes;

• Falta do preenchimento dos requisitos no oferecimento da denúncia ou queixa


(artigo 41 do CPP), na representação do ofendido ou na requisição do Ministro da
Justiça.

• Falta de exame de corpo de delito nos delitos não-transeuntes, isto é, aqueles


que deixam vestígios. “A jurisprudência não tem pronunciado essa nulidade ante a falta
do exame de corpo de delito, direto ou indireto, optando por absolver o réu, por
insuficiência de provas.

• Falta de nomeação de defensor ao réu presente, que não o tiver, ou ao


ausente. A alínea c, que também cuidava do curador do réu menor de 21 anos foi
derrogada, pois a hipótese não subsiste em face do artigo 5.º do novo Código Civil.

O entendimento dominante era o de que a falta de nomeação de curador causava


nulidade relativa; no entanto, o Superior Tribunal de Justiça já havia se
manifestado em sentido contrário (com o novo Código Civil, esta questão está
superada).

• Por fim, a falta de nomeação de defensor configura nulidade absoluta.

• Falta de intervenção do Ministério Público em todos os termos da ação penal


pública ou subsidiária.

• Falta ou nulidade de citação do réu para se ver processar. A falta ou nulidade


da citação ficará sanada desde que o interessado compareça antes de o ato consumar-
se (artigo 570 do CPP). A citação em hora certa, no processo penal, é causa de
nulidade absoluta.

• Falta do interrogatório do acusado.


• Falta de concessão de prazo para a defesa prévia, para o oferecimento de
alegações finais, ou para a realização de qualquer ato da acusação ou da defesa.

• Falta de sentença.

São causas de nulidade no procedimento do Júri:

• Falta, omissão ou irregularidade na sentença de pronúncia, no libelo ou na


entrega de cópia do libelo ao réu.

• Falta de intimação do réu para julgamento no Júri.

• Falta de intimação de testemunhas arroladas no libelo ou na contrariedade.

• Presença de pelo menos 15 jurados para a constituição do Júri.

• Falta ou irregularidade no sorteio dos jurados.

• Quebra na incomunicabilidade dos jurados.

IV – Por omissão de formalidade que constitua elemento essencial do ato.

Formalidade essencial é aquela sem a qual o ato não atinge a sua finalidade.
Exemplo: a denúncia que não descreve o fato com todas as suas circunstâncias.

Pelo princípio da instrumentalidade das formas, não se anula o processo por falta de
formalidade irrelevante.

Observação: contra a decisão que anula o processo no todo ou em parte, em virtude de


nulidade relativa ou absoluta, cabe recurso em sentido estrito (artigo 581, inciso XIII, do
CPP).

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