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O FUTURO DA

DEMOCRACIA

Uma Defesa das Regras do Jogo

Um resumo da obra de Norberto


Bobbio
Por Rosângela Tatsch
“Se me perguntassem se a
democracia tem um porvir
e qual é ele, admitindo que
exista, responderia
tranqüilamente que não
sei...” Bobbio
Uma definição mínima...

de democracia
 Conjunto de regras que estabelecem quem está autorizado a tomar as
decisões coletivas e com quais procedimentos;
 É prevista e facilitada a participação mais ampla possível dos
interessados; (não votam os indivíduos que não atingiram uma certa
idade).
 A regra fundamental da democracia é a regra da maioria, a base da
qual são consideradas decisões coletivas;
 Com maior razão ainda é válida uma decisão adotada por
unanimidade (esta possível apenas num grupo restrito);
 É indispensável que aqueles que são chamados a eleger os que
deverão decidir sejam colocados diante de alternativas reais e em
condições de poder escolher entre uma e outra;
 Para isso, é necessário que lhes sejam garantidos os direitos de
liberdade, opinião, expressão, reunião, associação, etc., por serem estes o
pressuposto necessário para o correto funcionamento dos próprios
mecanismos que caracterizam um regime democrático;
Estado Liberal e Estado Democrático são interdependentes no
sentido de que:
 São necessárias certas liberdades para o exercício da
democracia;
Da mesma forma que:
 É necessário o poder democrático para garantir a existência
das liberdades fundamentais;
“ O que foi concebido como
nobre e elevado tornou-se
matéria bruta”...

Devemos analisar o contraste entre os


“ideais democráticos” e a “democracia
real”.
A democracia nasceu de uma concepção
individualista da sociedade, onde qualquer forma de
sociedade é um produto artificial da vontade dos
indivíduos.
Para o formação dessa concepção foram feitas
as seguintes considerações:
 Contratualismo – antes da sociedade civil existe o
estado de natureza, no qual indivíduos livres e iguais
entram em acordo entre si para dar vida a um poder
comum capaz de garantir-lhes a vida, a liberdade e a
propriedade;
 O bem comum na soma dos bens individuais;
Num estado sem corpos intermediários, ou seja
sem a existência de sociedades particulares entre o
povo e seus representantes;
Aconteceu o oposto...
Existência de:

• Grupos e grandes organizações;


• Associações das mais diversas naturezas;
• Sindicatos das mais diversas profissões;
• Partidos de várias ideologias;
 E cada vez menos a atuação dos indivíduos;
 Os grupos e não os indivíduos são os protagonistas da vida
política numa sociedade democrática;
“A sociedade real é pluralista...”
A democracia deveria ser caracterizada pela representação
política, na qual o representante busca os interesses da nação;
 Ao contrário da representação dos interesses, onde o
representante busca os interesses particulares do representado;
 Constituição de 1791 – Responsável pela proibição de mandatos
imperativos;

“... O deputado, uma vez eleito, torna-se o representante


da nação e deixa de ser o representante dos eleitores...”
A transgressão dessa norma constitucional deve-se:
 a uma sociedade composta de grupos autônomos que lutam pela
sua supremacia, para fazer valer os próprios interesses contra
outros grupos;
Ao fato de que cada grupo tende a identificar o interesse nacional
com os seus próprios interesses.
No que se refere as
“Transformações”da Democracia:
O Sistema Neocorporativo
(estabelecido na maior parte dos estados
democráticos europeus), caracterizado
por uma
relação de acordo entre grandes
grupos
de interesses contrapostos e o
parlamento, mediado pelo governo
(representante dos interesses
nacionais), é visto como a solução dos
conflitos sociais.
“ a característica de
um governo
democrático não é a
De acordo com o pensamento ausência de elites, mas
democrático, seria a presença de muitas
imprescindível a eliminação
elites em concorrência
da tradicional distinção entre
governados e governantes. entre si para a
conquista do voto
Porém, a democracia popular...”
representativa, baseada na
computadocracia, é Joseph
considerada incapaz de Schumpeter
eliminar as oligarquias do
poder.
A democracia nasceu com
a perspectiva de eliminar
para sempre das
sociedades humanas o
poder invisível e de dar
vida a um governo cujas
ações deveriam ser
desenvolvidas
publicamente.
 E não fazer com que as grandes decisões políticas
sejam tomadas nos gabinetes secretos, longe dos
olhares indiscretos do público.
 Daí a importância da exigência de publicidade dos
atos de governo, não apenas para o cidadão conhecer
os atos de quem detêm o poder, e sim, controla – los.
 Quando se quer
saber se houve um
desenvolvimento
da democracia
num dado país, o
certo é procurar
perceber se
aumentou:
Não o número dos que têm o direito de participar
nas decisões que lhes dizem respeito;
Mas sim, os espaços nos quais podem exercer esse
direito;
John Stuart Mill divide os cidadãos
em: ativos e passivos e esclarece que:
 Os governantes preferem os
segundos;
 Mas a democracia necessita dos
primeiros;

A democracia é efetuada:
 pelo eleitor que espera extrair benefícios
do sistema político;
 pelo eleitor empenhado na articulação das
demandas e na formação das decisões;
A apatia política chega
a atingir metade dos
que têm direito ao voto.
 Diminui o voto de
opinião;
ਰਰਰਰ
 Aumenta o voto de permuta
(apoio político em troca de
favores pessoais);
 “as opiniões, os sentimentos, as idéias
comuns são cada vez mais substituídas
pelos interesses particulares”;
Alexis de Tocqueville
As promessas não foram cumpridas por
causa de obstáculos que não estavam
previstos...

 Aumento do governo dos técnicos –


com a transição da economia familiar para a
economia de mercado, aumentaram os problemas
políticos que requerem competências técnicas;
 Democracia – todos podem decidir a respeito de
tudo;
 Tecnocracia – convocados para decidir apenas
aqueles poucos que detêm conhecimentos
específicos;
 Crescimento do aparato burocrático;

Estado democrático e Estado


burocrático estão muito ligados:

 Quando só os proprietários votavam:

• poder público dava proteção à propriedade;


 Quando o voto foi estendido aos analfabetos e não-
proprietários:
• É inevitável que o governo lhes proporcione escola
gratuita, proteção contra o desemprego, seguros
sociais contra doença, velhice, maternidade, etc.
Baixo rendimento do sistema
burocrático;

 O Estado liberal juntamente com o Estado


democrático contribuíram para a
emancipação da sociedade civil (liberdades
civis = via entre cidadãos e governantes),
levando ao governo muitas demandas;

 O que gera as chamadas “sobrecarga”,


sendo a imissão das demandas em ritmo
muito acelerado e a emissão, ao contrário,
muito lento;
Apesar disto...
Não imaginem para a
democracia um futuro
catastrófico...
Pois...

 Nos últimos 40 anos aumentou


progressivamente o espaço dos regimes
democráticos;
 Após a 2ª GM a democracia não voltou a ser
abatida nos lugares em que foi restaurada e, em
outros países foram derrubados governos
autoritários;
 As promessas não cumpridas e os obstáculos
não previstos não foram suficientes para
“transformar” os regimes democráticos em
regimes autocráticos;
O conteúdo mínimo do Estado Democrático não
encolheu...
 garantia dos principais direitos de liberdade;
 existência de vários partidos em concorrência entre
si;
 eleições periódicas a sufrágio universal;
 decisões coletivas tomadas com base no princípio da
maioria;
Existem democracias mais sólidas e menos sólidas, e de diversos graus de
aproximação com o modelo ideal.
Democracia direta e
Democracia Direta

Democracia
Representativa
Jean Jacques Rousseau – Pai da
Democracia Moderna
“A soberania não pode
ser representada”

“ O povo acredita ser livre, mas só o é


durante as eleições, depois volta a ser
escravo”...
“ Uma verdadeira democracia jamais existiu, nem
existirá” – pois requer condições difíceis de
serem reunidas:
 Um estado muito pequeno “no qual ao povo
seja fácil reunir-se e cada cidadão possa
facilmente conhecer todos os demais”;
 “Uma grande simplicidade de costumes que
impeça a multiplicação dos problemas e as
discussões espinhosas”;
 “Uma grande igualdade de condições e
fortunas”;
 “Pouco ou nada de luxo”;
Democracia Representativa – as deliberações são
tomadas não diretamente por aqueles que dela fazem
parte, mas por pessoas eleitas para esta finalidade.
Por representante entende-se uma pessoa que:

 Na medida em que goza da confiança do


base da crítica sobre a democracia

corpo eleitoral, uma vez eleito não é mais


responsável perante os próprios eleitores e
seu mandato, portanto, não é revogável.
representativa

 Não é responsável diretamente perante


os seus eleitores, porque é convocado a
tutelar os interesses gerais da sociedade
civil e não aos interesses particulares desta
ou daquela categoria;
 Nas eleições políticas (sistema representativo) o
apoio ao partido prevalece sobre o apoio à categoria;

Uma conseqüência do sistema:


 Os representantes por não representarem
categorias, e sim interesses gerais, acabam por
construir uma categoria à parte, os políticos de
profissão – “Não vivem apenas para a política,
mas vivem da política”.Max Weber
- Uma das chagas do nosso parlamentarismo é a
proliferação das “pequenas leis” que são o efeito da
predominância de interesses particulares;
Democracia Direta – o indivíduo participa nas
deliberações que lhe dizem respeito sem que entre
deliberantes e deliberações exista intermediário.

Os significados históricos de democracia


representativa e democracia direta são tantos que é
difícil dizer onde termina uma e onde começa outra
Um sistema democrático caracterizado pela existência
de representantes substituíveis é:
 Democracia representativa – prevê representantes
 Democracia direta – admite que estes
representantes sejam substituíveis;
Isto implica que:

Democracia Representativa e
Democracia Direta não são
sistemas alternativos (no
sentido de que onde existe
uma não pode existir a
outra), mas podem integrar-
Ambas são necessárias, porém, não
suficientes:
Democracia direta – dois institutos
-Assembléia dos cidadãos – (a democracia que
Rousseau tinha em mente)
• Possível apenas numa pequena comunidade
como o modelo de Atenas nos séculos IV e V;
- Referendum – Único instituto de democracia
direta, trata-se de um caso extraordinário
para circunstâncias extraordinárias;
“Ninguém pode imaginar um estado capaz de ser governado através do contínuo
apelo ao povo...” (Ex. na Itália seria necessário no mínimo 1 convocação por
dia).
O desenvolvimento da democracia não
pode ser interpretado como a afirmação de
um novo tipo de democracia, mas deve ser
entendido como a ocupação, pelas formas
ainda tradicionais de democracia
(representativa) de novos espaços.

Hoje dominados por organizações de tipo


hierárquico ou burocrático.
Os dois grandes blocos de poder
descendente e hierárquico – a grande
empresa e a administração pública –
não foram ainda sequer tocadas pelo
processo de democratização.
 Enquanto estes dois blocos resistirem
A transformação democrática da sociedade não é
possível...
Se o avanço da democracia for, de agora em diante
medido pela conquista dos espaços ocupados por
centros de poder não democrático, ainda assim, a
democracia integral está distante e é incerta...
Apatia Política...

“ Ao ativismo dos líderes históricos ou não


históricos pode corresponder o conformismo das
massas...”
“Consideremos todo aquele que não participa da vida
do cidadão, não como um que se ocupa apenas dos
próprios negócios, mas como um indivíduo inútil...”
Periéles
“Tão logo alguém diga dos negócios do estado:
que me importam eles?, pode-se estar seguro de
que o estado está perdido...”
Rousseau
A sociedade é pluralista

(outros centros de poder além do estado) – para


Rousseau, a ruína da democracia.
Democracia – considera o poder autocrático
(poder que parte do alto) e sustenta que o
remédio contra este tipo de poder é o poder que
vem de baixo.
Pluralismo – considera o poder monocrático
(concentrado numa única mão) e sustenta que o
remédio para este tipo de poder é o poder
distribuído.
O pluralismo nos permite apreender uma
característica fundamental da democracia:
A liberdade do dissenso e a existência do
direito à oposição.

Se a democracia tem por base o consenso


da maioria , logicamente que há uma
minoria de dissentâneos.
A prova de fogo de um regime democrático está na
resposta à pergunta: O que fazer com os dissentâneos?

 Num regime fundado sobre o consenso, o dissenso


é inevitável;
 Só onde o dissenso é livre para se manifestar, o
consenso é real;
 Só onde o consenso é real, é possível proclamar-se
o sistema democrático;
 A única possibilidade que temos de verificar se o
consenso é real é verificando o seu contrário;
Tudo está, portanto, em conexão...

... A liberdade de dissentir tem a necessidade


de uma sociedade pluralista...
... Uma sociedade pluralista consente uma
maior distribuição do poder...
... Uma maior distribuição do poder abre as
portas para a democratização da sociedade
civil, e...
... A democratização da sociedade civil alarga
e integra a democracia política...
Os Vínculos
da Democracia
Quando se põe o problema
do “novo modo de fazer
política” não se deve dirigir
a atenção apenas para os
novos sujeitos e para os
novos instrumentos de
intervenção, mas
A importância das regras do jogo:
 O que distingue um sistema democrático dos
sistemas não democráticos é um conjunto de regras do
jogo. Não apenas o fato de possuir essas regras, mas
por estas terem amadurecido ao longo de séculos de
provação e encontram-se, hoje, constitucionalizadas
quase por toda parte.
 A principal regra da democracia é a regra da
maioria.
Sobre a reforma ou substituição das “reformas da
democracia”:
 Quais são as regras boas para se conservar e
quais as regras ruins a serem eliminadas?
 Será possível, num sistema democrático,
distinguir com segurança as regras a serem
mantidas e as serem descartadas?
 Conservaremos o sufrágio universal mas não a
liberdade de opinião?
 A liberdade de opinião mas não a pluralidade
dos partidos?
Um bom democrata deve concordar que até mesmo
as regras do jogo podem ser modificadas...
(em todas as constituições democráticas estão
previstos procedimentos para a revisão das próprias
normas constitucionais).
No Jogo Político Democrático - (sistema cujo
consenso é verificado periodicamente através de
eleições por sufrágio universal):
 Atores principais - os partidos;
 Modo de de fazer política – as eleições;
1968 – Não apenas inventou um
novo modo de fazer política com
novos atores, assembléia,
manifestações, agitações de rua,
ocupação de locais públicos...
... Mas também não aceitou
algumas das regras fundamentais
do sistema democrático
(parlamentozinhos) substituindo-
os pelo principio da democracia
direta e revogação de mandato.
Porém...
A ruptura de 68 produziu apenas uma série de revoluções e
não uma transformação do sistema;
-Uma das razões...
• fragilidade das propostas alternativas no que se refere às
regras do jogo...

A transformação não ocorreu... Mas o


sistema democrático resistiu...
Os seus principais atores (partidos
tradicionais) sobreviveram;
Apesar das lamúrias e protestos, os “ritos”
eleitorais continuaram e se multiplicaram, em
decorrência da duração cada vez mais breve
das legislaturas;
A abstenção do voto aumentou, porém os
nossos partidos estão preocupados, não com o
abstencionismo que os deixaria mais livres
(menos gente vota, menos pressão recebem),
mas com o fato de que as abstenções podem
Os que desejaram fazer política por fora do
sistema dos partidos e dos partidos do sistema,
tiveram que dar vida a um partido novo (que
apesar da novidade é um partido como todos os
outros);
O sindicato propõe um modo de fazer política
mediante a agregação de interesses parciais –
daí o peso político dos grupos que podem
paralisar uma atividade de importância
nacional;
Os movimentos, sejam eles sociais ou de
opinião, são reconhecidos num sistema
democrático com base nos princípios
fundamentais da Liberdade de Associação e
Liberdade de Opinião...

Precondições para o funcionamento das Regras


do Jogo...
Particularmente daquela que diz que nenhuma
decisão coletiva pode ser tomada e
implementada sem o consenso através de
periódicas eleições por sufrágio universal;
Liberdade de Associação e Liberdade de
Colocam os atores
Opinião –
do sistema em condições
de exprimir as próprias
demandas e de tomar as
decisões após uma livre
discussão...
Porém...
Estas liberdades, como qualquer outra, são admitidas
de forma limitada...
O deslocamento dos limites determina o grau de
democraticidade de um sistema.

Onde os limites aumentam, o sistema democrático


é alterado;
Onde essas duas liberdades são suprimidas a
democracia deixa de existir;
Se para males extremos
são necessários remédios
extremos(como o
terrorismo)... As
pessoas estão forçadas a
um estado de impotência
por aceitarem as regras
do jogo...

Do sentimento de impotência nasceu o chamado


“refluxo”
Fenomenologia do refluxo
Separação da Política - “Nem tudo é
política”
(diz respeito aos limites da atividade política)
-A experiência histórica demonstra que a política é
apenas uma das atividades fundamentais do homem;
- Somos herdeiros de uma história onde o estado não é
tudo e ao lado de um estado há um não-estado
(sociedade política contraposta à religiosa);
- A politização integral da própria vida é aquilo que
Dahrendorf chamou de “CIDADÃO TOTAL” – a
polis é tudo e o indivíduo nada;
Renúncia à Política – “ A política não
é derespeito
(diz todos”aos limites dos sujeitos chamados a
participar da política)
-- A política é feita para poucos (realidade
histórica até mesmo das sociedades ditas
democráticas);
- A maior parte das pessoas estão livres de
ocupar-se dos negócios públicos – os admitidos
ao empenho são poucos - Típico desprezo da
plebe, onde:
• a contraposição não é mais entre sábios e
Recusa à Política
-“Sábio é aquele que cuida do seu
próprio particular e quem se ocupa da
política é alguém que dela tira
proveito”;
- “Há quem não consegue ver na
política mais que o ‘vulto demoníaco
do poder’ , onde os ideais são apenas
um meio de enganar as massas , traídas
Pode-se imaginar...
“A política é tudo mas não é de todos” –
Estado Total
“A política não é tudo mas é de todos” –
Estado Democrático
“A política é tudo e é de todos” –
Pode-se perceber...
Idealizada por Rousseau
“ A política não é tudo e não é de todos”
– Estados Oligárquicos do passado, e do
presente sob a camuflagem dos estados
Apesar disso...
Sair fora das regras do jogo não seria
uma atitude sensata...
Pois uma vez rompida a principal
destas regras, a das eleições periódicas,
não se sabe onde tudo terminará...
A
Democracia
eo
Poder

Invisível
Democracia – Governo do Poder
Público em Público
 Público – pertencente ao Estado
(contraposto a “privado”);
 Público – Visível, evidente (contraposto
a “secreto”);
- Princípio democrático – “Todas as
decisões e atos dos governantes devem ser
conhecidas pelo povo”
Mesmo quando o ideal da democracia
direta foi substituído pela democracia
representativa:
“ o caráter público do poder, entendido como não
secreto, como aberto ao ‘público’, permaneceu como
um dos critérios fundamentais para distinguir o estado
constitucional do estado absoluto, assinalando assim o
(re) nascimento do Poder ‘Público’ em ‘Público’ .”
Madison
Com o tema da representação da democracia
desenvolveu-se o princípio segundo o qual “o poder é
As comunicações de massa encurtaram as
distâncias entre governados e governantes,
porém, mesmo com a publicação das atas
parlamentares, das leis e outras providências no
Diário Oficial, o caráter público do parlamento
nacional continua sendo indireto.
-O caráter público do governo de um município
é mais direto, exatamente porque é maior a
visibilidade dos administradores e das suas
deliberações;
- Essa publicidade é uma categoria tipicamente
Não existe nada de secreto no Governo
Democrático?
-“Todas as operações dos governantes devem ser
conhecidas pelo povo soberano, exceto algumas
medidas de segurança pública, que ele deve
conhecer apenas quando cessar o perigo”
Michele Natale (catecismo republicano)
 O caráter público é a regra, o segredo a exceção,
este justificável se limitado no tempo; (ditadura
romana)
“ Todas as ações relativas ao direito de outros homens, cuja
máxima(sentença) não é suscetível de se tornar pública, são injustas”
Kant
 Uma máxima, não suscetível de se tornar
pública, é uma máxima que, caso fosse
tornada pública, suscitaria tamanha reação
no público que tornaria impossível a sua
realização.
 Escândalo Público – Momento em que se
torna público um ato até então mantido em
segredo, pois caso se tornasse público não
poderia ser concretizado.
 O critério da publicidade é distinguir o
Autocracia e “arcana imperii”
 A relação política (governante/governado) pode ser
representada como uma relação de troca – o
governante oferece proteção em troca de obediência;
“Quem protege precisa ter mil olhos, quem obedece
não precisa ver coisa alguma”
 Arcana – fenômeno do poder oculto e que oculta –
Se esconde escondendo – 1º segredo de estado;
- 2º mentira lícita e útil (lícita
porque útil)
(princípio de
Platão)
 Onde existe o poder secreto, existe também o
anti-poder secreto (sob forma de conspirações,
conjuras, golpes de estado, ou ainda revoltas e
rebeliões)
“(...) conjuras (...) muito mais por elas príncipes perderam a
vida e o estado, que por guerras abertas”. Maquiavel
 Fonte inspiradora do poder invisível: “Quem
vê não é visto, quem não vê é visto”.
 Quem vigia o vigilante? (escritores políticos
puseram como questão última de toda teoria do
estado) ;
Ideal Democrático e Realidade

- Lembrando das promessas não cumpridas da


democracia, terá ela cumprido a promessa de
combater o poder invisível?
 Se o poder invisível se combate com outro poder,
igualmente invisível... Fenômeno da espionagem e
dos serviços secretos.
 Até o estado mais democrático tutela uma esfera
privada dos cidadãos (delito de violação de
correspondências, defesa da privacidade) , exigência
de que as discussões secretas do parlamento, atas dos
Autocracia – o segredo de estado é uma regra;
Democracia – o segredo de estado é uma exceção
regulada por lei;
“ O terrorismo é um caso exemplar de poder oculto
que atravessa toda a história”
-Com a computadocracia surgiu a idéia de que a
democracia direta seria possível pelo uso dos
computadores...
E porque não o próprio uso dos computadores
poderia tornar possível um amplo conhecimento
dos cidadãos por parte de quem detém o poder?...
LIBERALISMO

VELHO
E
NOVO
Reacendeu-se nos últimos anos o interesse pelo
pensamento liberal (reedição de um clássico de
John Stuart Mill)
Mill expressa a idéia de:
- Antepor limites ao poder (mesmo o da
maioria);
- O elogio da diversidade;
- A condenação do conformismo;
- A prioridade que se deve dar à liberdade de
LIBERALISMO

Complexo de idéias que dizem


respeito à condução e a
regulamentação da vida prática,
e em particular da vida
associada. Já que a afirmação da
liberdade de um se resolve
sempre na limitação da
LIBERALISMO
 Como teoria econômica – fautor da economia
de mercado;
 Como teoria política – fautor do Estado
mínimo ( subtrair-lhe o domínio da esfera
econômica, fazer da intervenção do poder político
na economia, não a regra, mas a exceção)
Processo de formação do Estado Liberal
 Emancipação do poder político do poder religioso
(Estado Laico) – o Estado deixa de ser o braço secular
da Igreja;
 Emancipação do poder econômico do poder político
Com o renascimento do interesse pelo
pensamento liberal:
- reivindicação das vantagens da economia de
mercada contra o estado intervencionista;
-reivindicação dos direitos do homem contra
toda nova forma de despotismo;
Contra o socialismo nas suas 2 únicas versões:
- Social-democracia (produziu o estado de bem-estar)
- Comunismo (só admite a propriedade estatal
dos meios de produção e das mercadorias
O movimento operário nasceu sob uma concepção
progressiva e determinista.
- Progressiva – o curso histórico desenvolver-se-ia
numa direção onde cada fase representa um avanço no
caminho que vai da barbárie à civilização;
- Determinista – cada fase está inscrita num projeto e
deve necessariamente acontecer; Porém...
- Onde o socialismo se realizou, é difícil interpreta-lo
como uma fase progressiva da história;
- Onde se realizou pela metade, o fez a curto prazo e
tende a regredir;
-A antítese do Estado Liberal é o Estado
Paternalista (domínio sob seus súditos);
- Estado paternalista de hoje – A Democracia
- O desenvolvimento do Estado Assistencial está
ligado ao desenvolvimento da analogia entre
MERCADO e DEMOCRACIA ;
“ o político pode ser comparado a um empresário
cujo rendimento é o poder, o poder se mede por
votos, cujos votos dependem da sua capacidade de
satisfazer interesses de eleitores e cuja capacidade
de responder às solicitações depende dos recursos
- Política Keynesiana – salvar o capitalismo sem sair da
democracia;
- Prática Lenista – abater o capitalismo sacrificando a
democracia;
- Fascismo – abater a democracia para salvar o
capitalismo;
- Neoliberais – salvar a democracia sem sair do
capitalismo;
- A exigência expressa pelo neoliberalismo é a de reduzir
a tensão entre mercado e democracia;
- Ingovernabilidade da democracia está não só nos
governados, responsáveis pela sobrecarga das demandas,
Contrato e
Contratualismo
No debate atual
A passagem da sociedade de status à sociedade de contractus ( Henry)
realizou-se nos anos em que o crescimento da sociedade mercantil fazia
prever uma expansão da sociedade civil e um enfraquecimento
(desaparecimento) de estado (que se engrandeceu) ;
Atualmente fala-se em ...
... Intercâmbio político em analogia com um fenômeno típico da relação
privada – mercado político ;
... Voto de permuta em oposição ao voto de opinião ;
... Das relações de troca contrapostas às relações de dominação ;
... De conflitos que se resolvem através de acordos e convenções que se
concluem num pacto social referendado pelas forças sociais (sindicatos) ;
... Num pacto político referendado pelas forças políticas (partidos) ;
... Num pacto nacional referendado pela reforma constitucional ;
Enfim...
A CRISE DO ESTADO SOBERANO
•A teoria do Estado Moderno está centrada na figura
da lei como principal fonte de padronização das
relações de convivência.
Trata-se, porém, de uma “figuração” ...
• A realidade da vida política se desenvolve através de
conflitos, cuja resolução acontece mediante acordos
momentâneos e as constituições (tratados mais
duradouros) ;
• Uma das características da doutrina do estado que
prevaleceu é o direito público (e a impossibilidade de
compreender as relações de direito público através do
O “ particularismo” como figura histórica

 Sobretudo após a 1ª GM se começou a perceber o


contraste entre o Estado como poder centrado e a
realidade de uma sociedade dilacerada, dividida
(assentamento normal das modernas democracias,
destinada a durar) que não podia se sujeitar a doutrina
dominante que contrapôs o direito público ao privado e
suspeitou do pluralismo em uma fase de crescimento dos
cidadãos ativos, formação de sindicatos e surgimento de
partidos de massa e, conseqüentemente dos conflitos.
Porém, os interesses individuais de grupo
(particularismo) prevaleceu sobre os interesses gerais, o
privado sobre o público, fazendo com que não exista mais
O Grande Mercado
 Onde os partidos são muitos a lógica que
preside as suas relações é a lógica do acordo e
não do domínio ;
 Formação de : dos acordos – código civil
das leis – constituição
 Portanto, deve-se entender a rede de acordos
da qual nascem as exclusões e as coalizões para
se entender como se move e se transforma uma
constituição ;
 A diferença dos acordos privados e
- O caso mais interessante de contraste entre constituição
formal e real é a pratica inoperante do mandato imperativo
(investido de um poder público, deve ser exercido no
interesse público) ;
- Hoje, porém, cada membro do parlamento representa,
antes de tudo, o próprio partido (dificultando a realização do
ideal da unidade estatal acima das partes) ;
- Isso se deve ao fato das sociedades parciais não só não
terem desaparecido, mas aumentado como efeito do
desenvolvimento da democracia (nascimento de partidos de
massa) em conseqüência da formação de grandes
organizações para defesa de interesses econômicos das
sociedades industriais com forte concentração de poder
econômico. É onde desenvolvem-se contínuas negociações
O Pequeno Mercado
 Entre partidos – grande mercado

 Entre partidos e eleitores – pequeno mercado


Os cidadãos, enquanto eleitores de uma função
pública, tornam-se clientes – transformando uma
relação pública em privada ; (Isso só é possível
através da transformação do mandato livre em
vinculado) ; Daí :
 Corrupção do princípio individualista
(democracia moderna) cuja regra é a da maioria,
fundada sobre o princípio de que cada cabeça é
 A democracia representativa nasceu do
pressuposto de que os indivíduos, uma vez
investidos da função pública de escolher seus
representantes, escolheriam “os melhores” (voto de
opinião) ; (e não quem garantisse os seus interesses –
voto de permuta) ;
 A força de um partido é medida pelo nº de votos ;
 Quanto maior o nº de votos no pequeno mercado
(partido e eleitores) , maior a força contratual do
partido no grande mercado (relação dos partidos
entre si) ;
 No grande mercado, não conta apenas o nº de
Mercado Político e Democracia
O mercado
político, no
sentido da
relação de troca
entre
governantes e
governados é
uma
característica da
democracia
( não da de
Rousseau de
-Na democracia a massa dos cidadãos intervém
ativamente no processo de legitimação do sistema
:
§ usando o direito de voto para apoiar os partidos
constitucionais ;
§ ou não usando – apatia política (quem cala
consente)
§ intervém na repartição do poder de governar
entre as forças políticas distribuindo os votos de
que dispõe ;
-Acordos do Mercado Político – assemelham-se aos
contratos bilaterais – as 2 partes têm (cada uma) uma
figura distinta (representante/ representada) , as 2 partes
têm objetivos diversos, mas um interesse comum, a
troca.
- As prestações são claras (proteção em troca de
consenso).
- Acordos do Grande Mercado – assemelham-se aos
contratos plurilaterais, todas as partes têm uma figura
comum (de sócios) as várias partes têm interesses
diversos, mas um objetivo comum, aquele pelo qual é
constituída a sociedade.
- Neste acordo (do qual nascem as coalizões de governo)
Renascimento do
-Contratualismo
Renovado interesse pelas doutrinas
contratualistas do passado
( neocontratualismo) ;
- O contrato social pretendia justificar a
existência do estado e encontrar um
fundamento para o poder político ;
- Mas, qual a justificação desse poder? (a
grande pergunta dos filósofos políticos) ;
- Contratualismo – uma das possíveis
Interpretação marxiana:
§ Se o contratualismo nasce com o crescimento do
mundo burguês, a concepção individualista da
sociedade (base da democracia moderna) é mais
proletária que burguesa, já que a burguesia iria se
manter à um sufrágio limitado aos proprietários...
... e a extensão do sufrágio aos que nada tem
ocorreu com o impulso propiciado pelo movimento
operário...
... E o sufrágio universal é a condição necessária
para a existência de um regime democrático onde a
fonte de poder são os indivíduos com a aplicação da
# O neocontratualismo – proposta de um novo pacto
social, global e não parcial, uma verdadeira “Nova
Aliança” - nasce da crescente ingovernabilidade das
sociedades complexas ;
# A maior dificuldade que o neocontratualismo
enfrenta hoje é o fato de os indivíduos (titulares do
direito de determinar as cláusulas do novo pacto), não
se contentam mais em pedir, em troca da sua
obediência, apenas a proteção das liberdades
fundamentais ...
... Mas passam a pedir que venha inserida no pacto
Governo dos
Homens ou
Governo das
Leis?
Essa questão diz respeito não a forma de governo,
mas ao modo de governar, à distinção entre o bom e o
mau governo.
“ Bom governo é aquele em que os governantes são
bons porque governam respeitando as leis ou aquele
em que existem boas leis porque os governantes são
sábios?”
“ É mais útil ser governado pelo melhor dos
homens, ou pelas leis melhores?”

Para os defensores do poder régio as leis apenas


podem fornecer prescrições gerais e não provêm
“ Todavia, aos governantes é necessário também a lei que
fornece prescrições universais, pois melhor é o elemento que
não pode estar submetido à paixões...” Aristóteles
-O filósofo faz uma crítica aos fautores do poder régio, que
propõem estabelecer a natureza da “ciência `régia” – forma de
saber científico que permite, a quem a possua, o exercício de
um bom governo.
“Mas o melhor de tudo, parece, não é que as leis contem, mas
que conte, bem mais, o homem que tem entendimento, o
homem régio!” Platão
Sócrates pergunta: “Por qual razão?”
Platão responde: “Porque a lei jamais poderá prescrever com
precisão o que é melhor e mais justo para todos (...)” e
sustenta que a lei é “semelhante a um homem prepotente e
# Os defensores da superioridade do governo dos homens
vêem na generalidade da lei um elemento negativo, pois
assim não pode compreender todos os casos possíveis e
acaba por exigir a intervenção do sábio governante para
que seja dado a cada um o que lhe é devido;
# Aristóteles defende a lei por ser “sem paixões”, ou seja,
onde o governante respeita a lei não pode fazer valer as
próprias preferências e impede-o de exercer o poder em
defesa de interesses privados;
- primado da lei – protege o cidadão do arbítrio do mau
governante;
- primado do homem – protege o cidadão da aplicação
indiscriminada da regra geral;
Todo o pensamento político do medievo
está dominado pela idéia de que, bom
governante é aquele que governa
observando as leis, como as proclamadas
por Deus, as inscritas na ordem natural das
coisas, ou ainda, as estabelecidas como
fundamento da constituição do estado;
 Henri Bracton enuncia uma máxima
destinada a se tornar o princípio do estado
de direito: “não é o rei que faz a lei, mas a
Doutrina do “Estado de Direito” – originária na
Inglaterra e hoje universal (no sentido de que não é mais
contestada, tanto que quando não reconhecida invoca-se
o “estado de exceção”) tem como princípio inspirador a
subordinação de todo poder ao direito, através do
processo de legalização de toda ação de governo que
tem sido chamado de “constitucionalismo.”
Duas manifestações revelam a universalidade da
submissão do poder político ao direito:
- A interpretação Werbiana do estado moderno como
estado racional e legal, cuja legitimidade repousa no
exercício do poder em conformidade com as leis;
- A teoria Kelseniana do ordenamento jurídico como
Por “governo da lei” entende-se 2 coisas diversas
(coligadas)
O governo sub lege, também considerado per leges,
isto é, mediante leis (através da emanação de normas
gerais e abstratas)
§ Uma coisa é o governante exercer o poder segundo
leis preestabelecidas, outra coisa é exerce-lo mediante
leis (não ordens individuais e concretas);
§ Num estado de direito o juiz, quando emite uma
sentença que é uma ordem individual e concreta,
exerce o poder sub lege .
§ O legislador constituinte, exerce o poder per lege no
# Os valores fundamentais (a igualdade, a segurança
e a liberdade) estão garantidos pelas características
essenciais da lei entendida como norma geral e
abstrata, mais que pelo exercício legal do poder;
# Exatamente por sua generalidade, uma lei
(independentemente do seu conteúdo), não consente
nem o privilégio nem a discriminação;
# A existência de leis igualitárias e desigualitárias é
um outro problema que diz respeito não a forma da
lei, mas ao conteúdo;
# Mais problemática é o nexo entre a lei e o valor da
liberdade;
§ O famoso dito aceroniano diz que “ devemos ser servos da
lei para sermos livres...”
“ Se é sempre livre quando se está submetido às leis, mas não
quando se deve obedecer a um homem, porque neste segundo
caso devo obedecer a vontade de outrem, e quando obedeço as
leis obtempero apenas à vontade pública, que é tanto minha
como de qualquer outro.” Rousseau
(deve-se considerar que por “lei” Rousseau entende
unicamente a norma emanada da vontade geral)
- É preciso considerar como leis verdadeiras e próprias apenas
aquelas normas de conduta que intervenham para limitar o
comportamento dos indivíduos unicamente com o objetivo de
permitir a cada um o desfrute de uma esfera própria de
liberdade, protegida da eventual interferência de outros;
# Para Hegel o direito abstrato (que se ocupam
os juristas) é composto apenas de proibições.
Esta velha doutrina, que podemos chamar de
“doutrina dos limitesda função do direito”, foi
retomada por um dos maiores defensores do
estado liberal, Friedrich von Hayek, que entende
por normas jurídicas apenas aquelas que
oferecem as condições ou os meios com os quais
o indivíduo pode perseguir livremente os
próprios fins sem ser impedido a não ser pelo
igual direito dos outros. As leis assim definidas
são para Hayek imperativos negativos ou
Enquanto o nexo entre lei e segurança e
entre lei e igualdade é é direito, para
justificar o nexo entre lei e liberdade é
preciso manipular o conceito mesmo de lei:
§ a demonstração do nexo entre lei e
liberdade positiva exige o apelo à doutrina
democrática do estado.
§ a do nexo entre lei e liberdade negativa
pode ser fundada apenas sobre os
pressupostos da doutrina liberal.
Ao lado do primado do governo das leis, ocorre a idéia
do primado do governo dos homens.
-Não se deve confundir a doutrina do primado do
governo dos homens com o elogio da monarquia como
forma de governo;
- A máxima de Ulpiano enunciada ao principado
romano diz que “o soberano está livre das leis positivas
que ele mesmo produz (...) mas não das leis divinas e
naturais, que obrigam inclusive o monarca que antes de
ser rei é um homem como todos os outros.”
- A excelência da monarquia não está em ser o governo
do homem contraposto ao governo das leis, mas, ao
contrário, na necessidade que tem o monarca de
Enquanto se identificar o governo dos homens com o
governo tirânico não existe razão nenhuma para se
abandonar a antiga doutrina do primado do governo
das leis;
 Desde a celebre descrição platônica do advento do
tirano como decorrência da dissolução da polis
provocada pela democracia “licenciosa”
(desregrada/corrupta) a tirania como forma de governo
corrupta foi associada bem mais à democracia que à
monarquia;
 Após a Revolução Francesa e o domínio
napoleônico ganhou destaque entre os escritores
políticos conservadores ao lado das tradicionais
# Por todos os escritores que o fazem forma
autônoma de governo o “cesarismo” é definido
como “tirania popular”;
- Para Tocqueville, uma nova espécie de
opressão ameaça os povos democráticos e diz
que o fato de “a coisa ser nova”, não é tão nova
ao ponto de não poder ser descrita como uma
forma de despotismo;
- Perto do fim do século,a análise histórica e
doutrinal do cesarismo foi dedicado amplo
espaço em dois dos maiores tratados de política,
§ Freitschke – antifrancês, considera que
Napoleão satisfaz o desejo dos franceses de
serem escravos e chama o regime nascido da
revolução de “despotismo democrático”.
§ O Roscher – diz que “é sempre melhor um
leão que dez lobos ou cem chacais” e afirma que
o “tirano nasce do governo do povo e governa
com o favor daqueles que por ele são tratados
como escravos”.
- O coligamento entre governo popular e
governo tirânico é um tema claro à todos os
escritores antidemocráticos liderados por Platão;
- O governo dos homens se apresenta nas
concepções paternalistas ou patriarcalistas do
poder, onde o estado é considerado como uma
família e o poder do soberano é assimilado ao
do pai ou patriarca, um grupo monocrático no
qual o sumo poder está concentrado nas mãos de
um único e os súditos são “incapazes”
(temporariamente – filhos ou perenemente –
escravos).
- Tal como o pai, o rei é elevado à exercer o
poder não à base de normas preestabelecidas e
mediante normas gerais e abstratas, mas à base
- Enquanto sociedade de desiguais – a mulher com
respeito ao marido, os filhos com respeito ao pai, os
escravos com respeito ao patrão - o estado quando
concebido como uma família não se submete à força
igualizadora da lei, apóiam-se mais sobre a justiça
caso por caso que sobre a justiça legal;
- Quando Leibniz enumera os deveres do soberano
(para distinguir o bom do mau governo) retoma os
deveres do bom pai – Esses deveres dizem respeito à
boa educação, adestramento para a moderação, a
prudência, bem como o exercício de todas as
virtudes do corpo e da alma, dentre os quais o dever
de fazer com que os súditos “amem e honrem os seus
-A crítica definitiva da concepção paternalista do poder
provêm de Kant (autor de uma das mais completas teorias
do estado de direito) :
Um governo fundado sobre o princípio da benevolência
para com o povo, tal como o governo de um pai
(paternalista) (...), é o pior despotismo que se possa
imaginar”. Kant
 Ponto débil da tese favorável ao governo das leis: “De
onde derivam as leis?”
 As leis têm origem divina ou se perde na escuridão dos
tempos ?
 (...) de tanto em tanto , os deuses inspiram homens
extraordinários que, estabelecendo novas leis, dão uma
# Deste modo,não é a boa lei que faz o bom
governante, mas o sábio legislador que realiza o bom
governo ao introduzir boas leis ;
# O grande legislador é exaltado por Rousseau no
Contrato Social: “ Seriam precisos deuses para dar leis
aos homens”
# Referente ao Homem Régio de Platão: “Se é verdade
que um grande príncipe é uma pessoa rara, quanto
mais não o será um bom legislador?”
# Análoga à figura do grande legislador é a do
fundador de estados: “(...) de um povo disperso fez
uma cidade” Teseu (análoga porque também pertence
# Se em seu desenvolvimento histórico a cidade pode ser
conhecida através de suas leis, de sua constituição,
voltando-se às origens, não se encontram leis, mas
homens;
# Na idade moderna o mais elevado reconhecimento do
primado do governo dos homens sobre o governo das leis
encontra-se no “Príncipe” de Maquiavel
-“Nenhuma coisa dá tanta honra à um governante novo
como as novas leis e os novos regulamentos por ele
elaborados”
Maquiavel
# Seguindo Maquiavel, Hegel diz que o fundador de
estados “tem o direito à seu lado”, ou seja, o direito que
“ Tanto o grande legislador, o sábio, quanto o fundador
de estados, o herói, são personagens excepcionais que
surgem em situações incomuns (...)”
-Daí que a pergunta “ Governo dos Homens ou Governo
das Leis” é mal posta, pois um não exclui o outro;
- Historicamente, o governo do homem faz seu
aparecimento quando o governo das leis ou ainda não
surgiu, ou mostra sua inadequação diante do surgimento
de uma situação de crise revolucionária, em suma, está
estreitamente ligado ao estado de exceção;
- Daí nasce a instituição do ditador (primeiros séculos da
república romana). Em torno disso giram as mais
interessantes reflexões sobre o governo dos homens.
# O ditador romano é exemplo da atribuição a uma única
pessoa dos “ plenos poderes”, inclusive o de suspender
(mesmo que temporariamente) a validade das leis, numa
situação de gravidade para a sobrevivência mesma do
estado.
# A ditadura romana é apresentada como exemplo de
soberania política pelos maiores escritores da idade
moderna, de Maquiavel a Rousseau, isto por reconhecer a
utilidade do governo do homem apenas em caso de perigo
público e apenas enquanto durar o perigo. “O dever do
ditador é exatamente o de restabelecer o estado normal e,
com isso, a soberania das leis”.
# A ditadura quando tende a perpetuar-se transformando o
poder constitucional do ditador em poder pessoal, a
-Carl Schmitt faz uma distinção entre Ditadura Comissária
e Ditadura Soberana – que reflete a diferença entre os
plenos poderes como instituição prevista pela constituição
e os plenos poderes assumidos por fora da constituição,
porém com um ponto em comum, a do poder temporário.
§ Marxismo – “ a ditadura da burguesia é a realidade a ser
combatida, a ditadura do proletariado o ideal a ser
perseguido”
-Max Weber inclui o Poder Carismático – uma espécie de
síntese histórica de todas as formas de poder do homem;
- O oposto do Poder Carismático é o Poder Legal;
- Para Weber o governo do chefe carismático e o das leis
Weber sempre afirmou que “o dever de
um cientista não é dar juízo, mas
compreender.”
Porém sempre teve suas preferências e
nos últimos anos de sua vida cultivou o
ideal de uma forma de governo misto
que combinasse a legitimidade
democrática com a presença ativa de
um chefe, o que ele chamou de
Bobbio conclui dizendo: “a minha preferência vai para
o governo das leis, não para o governo dos homens. O
governo das leis celebra hoje o próprio triunfo na
democracia...
E o que é a democracia se não um conjunto de regras
para a solução dos conflitos sem derrame de sangue?
Em que consiste o bom governo democrático, se não
no rigoroso respeito a essas regras?
Posso concluir tranqüilamente que a democracia é o
governo das leis por excelência...
No momento mesmo em que um regime democrático
perde de vista esse seu princípio inspirador degenera
Bibliografia:

Bobbio, Norberto, 1909


O Futuro da Democracia
Uma Defesa das Regras do Jogo
5ª edição, São Paulo
Editora Paz e Terra, 1992

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