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SÁBADO, 25 DE SETEMBRO DE 2010 O ESTADO DE S. PAULO

Capa
Em A Turma Que Não Escrevia Direito, Marc A TURMA QUE NÃO
ESCREVIA DIREITO
Weingarten diz que o encontro entre reportagem e Autor: Marc Weingarten
Tradução: Bruno Casotti
ficção, marca do new journalism, resultou no Editora: Record
(392 págs., R$ 54,90)
maior movimento literário dos EUA depois de 1920

LISA LARSEN/GETTY IMAGES/DIVULGAÇÃO


de Vegas, Thompson encarna Jack Kerouac
e começa a descrever seus delírios paranoi-
cos movidos a álcool e drogas. O editor da
Sports Ilustrated, que encomendou a repor-
tagem, perdeu o amigo, mas os leitores ga-
nharam um livro divertido e crítico sobre a
loucura do sonho americano fabricada nos
cassinos de Las Vegas. “Ele vivia para pertur-
bar as pessoas, tirar o leitor do conforto, pa-
ra mostrar, como dizia, que os homens que
moldaram o destino do mundo foram aque-
les que trocaram a segurança pela aventura”.
Papel de escritor.
Pioneiros. Aventura é palavra-chave em A Truman Capote
Turma Que Não Escrevia Direito. Weingar- (ao lado), aos 22
ten retrocede ao século 19 para provar anos, em 1946,
que o “new journalism” não nasceu com antes de publicar
Truman Capote, ao descrever, em A San- A Sangue Frio,
gue Frio, o escabroso assassinato da famí- modelo do gênero,
lia do fazendeiro Herb Clutter, crime que e Weingarten
abalou o Texas em 1959 – amarrado e (na foto acima):
amordaçado com a mulher e dois filhos, independência
ele teve a garganta cortada enquanto os
outros foram mortos a tiros de espingar-
da. Capote foi atrás do assassinos para
descobrir a motivação dos psicopatas e
acabou se tornando ele mesmo protago-
nista de sua reportagem, ao virar amante
de um deles na prisão, Perry Smith, enfor-
cado em 1965. Antes de Capote, argumen-
ta Weingarten, existiram Charles Di-
ckens, Balzac e Fielding que, ao registrar a
rotina do homem das ruas, afundaram em
becos sujos atrás de histórias que invaria-
velmente emergiam da sarjeta – como a
maioria do novo jornalismo, afinal.
“Esse é um termo vago, pois tanto se apli-
ca a um certo tipo de escritura definido nu-
ma antologia publicada em 1973 por Tom
Wolfe, que apresentava artigos de Talese,
Thompson e Mailer, como às descrições do
submundo londrino de O Povo do Abismo”,
observa Weingarten. Nesse livro, publica-
do em 1902, o escritor americano Jack Lon-
don (1876-1916) chafurda na então favela
mais degradada do mundo, o East End lon-
drino, para viver uma amarga experiência
de marginalizado. London desceu ao infer-
no como explorador e saiu dele com a de-
sesperança de um eunuco num harém. Não
esperava que sua reportagem mudasse o es-
tado das coisas – como, de fato, não mu-
dou. A classe dominante continuou igno-
rando os favelados de East End.
Antes de Jack London, o repórter Char-
les Dickens, aos 21 anos, estimulado pelo
editor do jornal britânico Morning Chroni-
cle, saiu às ruas de Londres para entrevis-
tar padeiros e balconistas e descobrir seus
vícios e virtudes, transformando-os em
personagens de livros hoje clássicos. Foi
um exemplo não desprezado por Joseph
Pulitzer, húngaro que viria a se tornar o
“herói dos discriminados” nos EUA. Pulit-
zer desembarcou numa época de profun-
das mudanças sociais e políticas no país.
Vindo de família rica, foi obrigado, como
imigrante, a trabalhar de carregador de ba-
gagem e lutar na Guerra de Secessão para
sobreviver na terra dos bravos. Depois, co-
mo jornalista, escreveu tanto contra a cor-
rupção política como sobre crimes hedion-
dos, ilustrando reportagens dramáticas
com cartoons, o que lhe valeu a fama de
sensacionalista. Comandando o jornal
Post-Dispatch, de St. Louis, acabou enri-
quecendo à custa dos descamisados retra-
tados nas suas reportagens investigativas.
Muitos dos “novos jornalistas” dos anos
1960 e 1970 – o movimento durou pouco
CULTO À INVENÇÃO mais de sete anos – buscavam igualmente
uma fórmula insólita de tratar a realidade
como se fosse material bruto para ficção.
E PACTO COM O REAL “Pode-se argumentar que Thompson é ex-
cessivo, até mesmo selvagem, mas ele vi-
veu uma época em que a simetria de um jor-
nalismo careta era incapaz de dar conta das
mudanças culturais provocadas pelo adven-
fe?, elegendo para o seu panteão outro ícone Vai ao Supermercado, de Norman Mailer to do consumo de drogas entre os hippies e
ANTONIO GONÇALVES FILHO do new journalism, Tom Wolfe, que, em (1923-2007), Um Estranho no Ninho, de Ken as reações contra a guerra do Vietnã”, justi-
1970, num ensaio, cunhou o termo “radical Kesey (1935-2001), Medo e Delírio em Las Ve- fica Weingarten. Muitos, no entanto, viram
omo movimento lite- chic” – aplicado ao maestro Leonard Berns- gas, de Hunter Stockton Thompson no estilo hiperbólico de Thompson, que es-
rário ele já morreu tein por promover, na primavera desse ano, (1937-2005). No último, Thompson, o pre- crevia com displicência tanto sobre os

C
há muito tempo, uma festa destinada a angariar fundos para ferido de Weingarten, disfarça aconteci- Hell’s Angels como sobre as eleições, como
mas não sua influên- o grupo extremista Panteras Negras. mentos reais em sua alucinação mítica, cru- uma forma de autopromoção.
cia sobre os aspiran- Weingarten fala com nostalgia dessa épo- zando de forma híbrida a verossimilhança Weingarten não poupa nem mesmo
tes à carreira jornalís- ca, um tempo em que a palavra escrita pare- jornalística com sua retórica de bêbado. Me- George Orwell (1903-1960), o autor de
tica, especialmente cia ter o poder de mudar o mundo – ou, pe- do e Delírio em Las Vegas, diz o autor, “é jor- 1984 e A Revolução dos Bichos, que também
blogueiros, garante, lo menos, de retocar seu precário cenário. nalismo praticado co- se infiltrou entre os de-
ao telefone, de Los “Os anos 1960 e 1970 foram muito excitan- mo bricolagem”. serdados para escrever
Angeles, o jornalista tes, mas, como disse Hunter Thompson Thompson foi o ex- **
“Charles Dickens, Balzac Na Pior em Paris e Lon-
norte-americano Marc Weingarten, autor pouco antes de se matar, essa época não poente do chamado jor- dres (1933), descendo
de A Turma Que Não Escrevia Direito. Críti- vai voltar.” Os colapsos ideológicos da era nalismo “gonzo”, ter- e Henry Fielding, por depois ao coração da
co ensaio sobre a revolução do “novo jorna- hippie, segundo Weingarten, foram uma mo criado por ele em exemplo, também saíram terra para documentar
lismo” deflagrada por Truman Capote nos decepção para Thompson, Norman Mai- 1970 para definir um ti- às ruas e foram aos becos as péssimas condições
anos 1960, seu livro chega hoje às livrarias, ler e toda a sua geração. A despeito disso, po de escrita em que a de vida dos mineiros
contando a história desse movimento que grandes obras literárias nasceram de re- objetividade jornalísti- sujos atrás de histórias” de Lancashire em A Ca-
teve como representantes Tom Wolfe, portagens publicadas em jornais e revis- ca importa pouco ou ** minho de Wigan (1937).
Hunter S. Thompson, Norman Mailer, Gay tas que registraram as mudanças culturais quase nada. Manifestos “A ironia do primeiro
Talese, Joan Didion e Jimmy Breslin, no- e políticas dos EUA, desde o advento do subjetivos cheio de sarcasmo, os textos de livro é que sua verossimilhança é fabrica-
mes de referência no jornalismo moderno. rock até a emergência dos yuppies, passan- Thompson zombam do conservadorismo de da”, critica o jornalista. Seus personagens
O próprio Weingarten, colaborador inde- do pelos beatniks e os hippies. seus editores, empenhados em aprisionar o são mais tipos que pessoas reais.
pendente de grandes jornais como The New A mais celebrada dessas obras é A Sangue estilo desse cronista falstaffiano que inventa Essa combinação de repórter e ficcionis-
York Times, hoje quase um cinquentão, ad- Frio, de Truman Capote, sobre um crime pseudônimos para escapar de situações des- ta seria retrabalhada mais tarde por Nor-
mite dever muito ao estilo de Hunter S. macabro ocorrido no Kansas em 1959, em- confortáveis criadas por ele mesmo. man Mailer quando escreveu O Super-Ho-
Thompson, que imitou sem pudor quando bora existam inúmeros títulos igualmente Em Medo e Delírio em Las Vegas, que deve- mem Vai ao Supermercado, que traz a cober-
começou a escrever, aos 17 anos. Mas ele importantes do “novo jornalismo”, alguns ria ser uma reportagem sobre uma corrida tura de quatro convenções partidárias que
cresceu e publicou Who’s Afraid of Tom Wol- deles publicados no Brasil: O Super-Homem de motocicletas patrocinada por um hotel escolheram candidatos à presidência dos

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