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junho 2008

LITERATURA

Pierre Jean Jouve, dois poemas


Murilo Mendes escreveu sobre Pierre Jean Jouve em duas oportunidades, para os
"Retratos-relâmpago" e para os "Papiers", textos em francês reunidos na edição
cuidadosa de Luciana Stegagno Picchio

Pablo Simpson

Em 1971, Murilo Mendes escreveu para a segunda série de seus Retratos-


relâmpago um que evoca a visita que fez ao poeta Pierre Jean Jouve, escritor
convertido ao catolicismo, amante da música de Mozart. Jouve publicou vários
livros de poemas, poucos romances: Paulina 1880, Le Monde désert. Na época do
encontro, já havia renegado toda a sua poesia anterior a 1928. É quando se
aproxima de Deus e da psicanálise. No prefácio de Sueur de Sang (1933),
intitulado “Inconscient, spiritualité et catastrophe”, falaria da culpabilidade como
um “sentimento fundamental ao coração de todo homem”. Homem como um
“abismo doloroso”, “colônia de forças insaciáveis, raramente felizes”.

Murilo Mendes escreveu sobre Jouve em duas oportunidades, para os Retratos-


relâmpago e para os Papiers, textos em francês reunidos na edição cuidadosa de
Luciana Stegagno Picchio. Do primeiro deles, dois trechos poderiam introduzir a
tradução de dois poemas de Les Noces, As Núpcias (1931). Poemas obscuros, de
sintaxe entrecortada. Neles o apelo à transcendência não se diz sem a presença
de desejos, de cheiros, como num poema de Baudelaire sobre a ausência de
Deus: “Um odor de túmulo nada nas trevas”.

O autor mais que ilustre de Les Noces, Sueur de Sang, Matière Celeste,
recebeu-me (1953) no seu apartamento de Alésia, bairro parisiense durante
muito tempo preferido pelos artistas. Ao entrar, o visitante é logo impressionado
pela calma e o toque de ordem, contrapostos à nervosidade, à dilaceração
contínua dos textos do poeta, que sofre como poucos o drama de viver.
Manifesta-se em tudo um princípio ordenador, uma regra de simetria. Nenhum
livro, nenhum objeto fora do lugar. Quem sabe existam aqui desde toda a
eternidade.

(...) Para Jouve o inconsciente é “motor de poesia”. Impossível separar o sexual


do espiritual. Mesmo o canto religioso provém de zonas subterrâneas. Jouve
estuda a psiconeurose do mundo, atento aos signos da catástrofe produzida pelo
inconsciente. A transposição destas análises para o plano da criação poética
custou-lhe um árduo trabalho, o de fletir audaciosamente a sintaxe. (...) Para
cumpri-lo, sem dúvida Mallarmé abriu-lhe o caminho.

“Monde sensible”

L’âme est seule au-dessus du monde bleu


De la terre belle et animale, sans espace.

Un jour la terre en mouvement


Avec les tons, les brises, l’odeur du sexe et les saisons
Et les rires qui comme les paroles ne reviennent plus

Et les arbres dont le bord est majestueux


Et sous la chaleur immense les efforts
Du passager ou voyageur,

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Ne sont rien à l’âme obscure et qui se meut


Vers un autre pouvoir et vers une autre touche
D’adoration

A l’intérieur de son aveugle ressort;


mais d’autres jours
Tout est un, et un et un, et tout en un
Et un en Dieu
Et Dieu présent dans le tronc d’arbre mort.

“Mundo sensível”

A alma é só acima do mundo azul


Da terra bela e animal, sem espaço.

Um dia a terra em movimento


Com os tons, as brisas, o cheiro do sexo e as estações
E os risos que como as palavras não retornam mais

E as árvores cuja copa é majestosa


E no calor imenso os esforços
Do passageiro ou viajante,

Nada são à alma obscura e que se move


Para um outro poder e a um outro toque
De adoração

No interior de seu impulso cego;


mas de outros dias
Tudo é um, e uno no uno, e tudo no uno
E uno em Deus
E Deus presente no tronco d’árvore morto.

***

“La virginité revenue”

Son sein s’était développé ces derniers temps


Son corps fut nouveau à mes yeux, son âme partit
comme une folle sur les nuages
Son torse avec ses lourdeurs n’est-il pas voué
A l’amour de l’homme et de la femme
Ses désirs n’ont-ils pas remonté de ses enfances
Voie Lactée n’est-elle pas couchée sur la nuit sans vent?
J’ai reconnu qu’elle était sûre, sa nudité étant entière
Et que son âme était l’égale de ses mains et que l’eau
ruisselait sur elle pour la laver,
Et que les odeurs montaient et que la lumière se taisait.
Une voix m’assura qu’elle était entièrement vierge
Enfin de sa douceur elle était enchantée.

“A virgindade revinda”

Seu seio se desenvolveu nesses últimos tempos


Seu corpo foi novo a meus olhos, sua alma partiu
como louca nas nuvens
Seu torso com seus pesos não estará fadado
Ao amor do homem e da mulher
Não se reergueram seus desejos de suas infâncias
Via Láctea ela não está deitada na noite sem vento?
Reconheci-a segura, sua nudez inteira
E que sua alma estava igual a suas mãos e que a água
corria sobre ela para lavá-la,
E que os cheiros subiam e que a luz se calava.
Uma voz me assegurou de sua inteira virgindade
Enfim de sua doçura ela estava encantada.

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