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A utopia da gestao escolar democratica' Toda vez que se propde uma gestio demoerstica da escola piiblica de 1° e 2° graus que tenha efetiva participagio de pais, edu- cadores, alunos ¢ funcionérios da escola, isso acaba sendo conside- rado como coisa utépica. Acredito nfo ser de pouca importancia examinar as implicagdes decorrentes dessa utopia. A palavra utopia significa o lugar que nio existe. Nao quer dizer que nao possa vir a existir. Na medida em que nio existe, mas ao mesmo tempo se colo- ca como algo de valor, algo desejével do ponto de vista da solugio dos problemas da escola, a tarefa deve consistir, inicialmente, em tomar consciéncia das condigdes concretas, ou das contradigdes coneretas, que apontam para a viabilidade de um projeto de demo- cratizasio das relagies no interior da escola. Pretendo falar do ponto de vista do trabalhador, consciente de que ele tem interesses (de classe) antagdnicos aos dos grupos domi- nantes. E aqui é preciso, desde j4, precisar alguns termos. A palavra trabalhador nao pretende se referit apenas a0 trabalhador bragal, ou aquele envolvido exclusivamente no trabalho industrial, mas a todo aquele que, nesta sociedade, para sobreviver, tem que vender a um empregador sua forga de trabalho fisica ou mental (ef. Green, 1982, p. 134). | Comnicasioapresenada o painl “A gestbo demuctitiea da lung rls com visas & Consisins’ rizado em Joo Fessos, PB, no XII Simpasio Brasileiro de [Adminisrasao da Educagio, promovidu pela Anpae — Assocacio Nacional de Profi sions de Administragio da Educagio, de 3 4 7 de-nevemvbra de 1986, Dbl em Cdn de Pes, 80 Plo, 80, fe. 1997, 9.313 VITOR HENRIQUE PARO ‘Também quando falamos grupos dominantes, & preciso consi- derar que esses grupes nio sio homogéneos sob todos os pontos de vista. Mas tém interesses coincidentes quando contrapostos aos interesses dos trabalhadores. Pois bem, ao falar do ponto de vista dos trabalhadores, assumo como premisss 0 fato de que dos grupos dominantes ndo se pode esperar nenhuma iniciativa de transtormagio em favor das camadas dominadas (e, no nosso caso, no que se refere & escola) sem pressio por parte dos interessidos. Além dessa premissa, coloco como horizonte a transformagio do esquema de autoridade no interior da escola. Observe-se que a utopia escolar que pretendo delinear se coloca como um resultado que pressupde obviamente um processo. E é esse processo que é importante aqui explicitar. A medida que 0 horizonte se articular com os interesses dominados, o processo de-transformagio da autoridade deve constituir-se no préprio processo de conquista da escola pelas camadas trabalhadoras. Esta constatagio deriva de uma visio nio muito otimista a respeito da fungi desempenhada pela escola na sociedade hoje. Nao hi diivida de que podemos pensar na escola como instituigio que pode contribuir para a transformagio social. Mas uma coisa é falar de suas potencialidades... uma coisa é falar “em tese”, falar daquilo que a escola poderia ser. Uma coisa é expressar a erenga de que, na medida em que consiga, na forma ¢ no contetido, levar as camadas trabalhadoras a se apropriarem de um saber historicamente acumu- lado e desenvolver a consciéncia critica, a escola pode concorrer para a uansformagio social, outra coisa bem diferente € considerar que a escola que ai esté ja esteja cumprindo essa funcio. Infelizmente essa escola é sim reprodutora de certa ideologia dominante... é sim negadora dos valores dominados ¢ mera chanceladora da injustiga social, na medida em que recoloca as pessoas nos lugares reservados pelas relagdes que se dio no ambito da estrutura econdmica, Se queremos uma escola transformadora, precisamos transfor- mar a escola que temos ai. E a transformacio dessa escola passa necessariamente por sua apropriagio por parte das camadas traba- Ihadoras. E nese sentido que precisam ser transformados o sistema de autoridade e a distibuigio do proprio trabalho no interior da escola. 10 GESTAO DEMOCRATICA DA ESCOLA PUBLICA © que nés temos hoje ¢ um sistema hierirquico que pretensa~ mente coloca todo © poder nas mios do diretor. Nao € possivel falar das estratégias para se transformar o sistema de autoridade no inte- rior da escola, em diregio a uma efetiva participagio de seus diver- sos setores, sem levar em conta a dupla contradi¢io que vive 0 diretor de escola hoje. Esse diretor, por um lado, é considerado a autoridade maxima no interior da escola, ¢ isso, pretensamente, Ihe_ daria um grande poder e autonomia; mas, por outro lado, ele acaba se constituindo, de fato, em virtude de sya condigio de responsavel tiktimo pelo cumprimento da Lei e da Ordem na escola, em mero preposto do Estado, Esta é a primeira contradigao. A segunda advém do fato de que, por um lado, le deve deter uma competéncia técnica e um conhecimento dos principios © métodos.necessérios a uma moderna ¢ adequada administra ssos 7 mas, por outro, sua falta de autonomia em relagio aos escaldes superiotes e a precariedade das condigées concretas em que se descnvolvem as atividades no interior da escola tornam uma quimera a utilizagio dos belos métodos ¢ téenicas adquirides (pelo ‘menos supostamente) em sua formagio de administrador escolar, jé que o problema da escola pablica.no pais nio 6, na verdade, 0 da administragio de recursos, mas o da falta de recursos. Essa impoténcia ¢ falta de autonomia do diretor sintet impoténcia ¢ falta de autonomia da prépria escola. E se a escola nio tem autonomia, $€ a escola é impotente, ¢ o proprio trabalhador enquanto usudrio que fica privado de uma das instancias por meio das quais ele poderia apropriar-se do saber e da consci Significa que conferir autonomia a escola deve consistir em conferir poder e condises concretas para que ela aleance objetivos educa- cionais articulados com os interesses das camadas trabalhadoras. E isso nao aconteceré jamais por concessio espontanea dos grupos no poder. Essa autonomia, esse poder, s6 se dara como conquista das camadas trabalhadoras, Por isso € preciso, com elas, buscar a reor- ganizagio da autoridade no interior da escola: * , A esse respeito, 0 maior obsticulo que vejo, nos dias de hoje precisamente a fungio atual do diretor-que.o eoloca como autor dade hima no interior da escola. Esta regra, astutamente mantida pelo Estado, confere um carver autoritario 20 diretor, na medida fem que estabelece uma hierarquia na qual ele deve ser o chefe de ma VITOR HENRIQUE PARO {quem emanam todas as ordens na instituigio escolar; leva a dividir os diversos setores no interior da escola, contribuindo para que-se forme uma imagem negativa da pessoa do diretor, a qual é confun- dida com 0 proprio cargo; faz. com que o ditetor tendencialmente busque os interesses dos dominantes em oposigdo aos interesses dos dominados; e confere uma aparéncia de poder a0 diretor que em nada corresponde realidade concreta. E preciso, pois, comecar por lutar contra esse papel do diretor (nfo, entretanto, contra a pessoa do diretor), A esse respeito, ¢ preciso aprofundar as reflexdes de modo a que se perceba que, a0 se distribuir a autoridade entre os varios setores da escola, o diretor nio estara perdendo poder — jé que nao se pode perder o que nio se tem —, mas dividindo respon- sabilidade. E, a© acontecer isso, quem estar ganhando poder é a propria escola, Na medida em que se conseguir a participagio de todos os setores da escola — edueadores, alunos, funcionarios e pais — nas decisdes sobre seus objetivos ¢ seu funcionamento, havera melhores condigdes para-pressionar os escaldes superiores a dotar a escola de autonomia e de recursos. A esse respeito, vejo no conselho de escola ‘uma potencialidade a ser explorada. E bem verdade que, mesmo em Sio Paulo, cle ainda é um instrumento imperfeito, jé que existem problemas institucionais para sua instalagio de modo satisfatorio nas escolas. Mas, de qualquer forma, é um instrumento que existe e pre-

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