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APRESENTADO POR
Março 2009
FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS
CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DO BRASIL – CPDOC
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA, POLÍTICA E BENS CULTURAIS
MESTRADO PROFISSIONAL EM BENS CULTURAIS E PROJETOS SOCIAIS
E
APROVADO EM 19/03/2009
PELA BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________________
Profa. Drª Angela Maria de Castro Gomes (Orientadora)
________________________________________________________
Profa. Drª Vânia Leite Fróes (Co-Orientadora)
_________________________________________________________
Prof. Dr. Vitor Manoel Marques da Fonseca
_________________________________________________________
Profa. Drª Letícia Borges Nedel (Suplente)
AGRADECIMENTOS
À professora Angela Maria de Castro Gomes, minha orientadora, que aceitou o desafio de se
aventurar, junto comigo, num trabalho de tema tão complexo. Agradeço por ter acreditado no
projeto, pelo carinho, compreensão e firmeza na orientação.
À professora Vânia Leite Fróes, minha co-orientadora, que me acolheu e me indicou caminhos
que tornaram o tema “tão complexo” uma pesquisa agradável e prazerosa.
À amiga e companheira de trabalho Marta Ramos, pelo carinho, pela força e formatação desse
catálogo, sem a sua prestimosa colaboração, este trabalho não existiria.
À equipe de Manuscritos pela compreensão na ausência ao trabalho, pela leitura do trabalho, pela
força, paciência e incentivo nos momentos de desânimo.
Aos colegas Vera Lúcia Garcia Menezes, Cláudio Xavier e Hélio Jorge Garcia da Conceição, da
Coordenadoria de Microrreprodução, responsáveis pelas imagens desse trabalho.
Aos professores Joaquim Marçal Ferreira de Andrade, pela colaboração no abstract; Robson
Duarte, pela leitura e revisão do texto; e Vitor Manoel Marques da Fonseca, pelas idéias e
palavras de incentivo na banca de qualificação.
À minha turma do mestrado da FGV com a qual dividi idéias, angústias, tristezas e alegrias.
Ao frei Damião Berge (In memorian), cujo trabalho tornou-se a base desse catálogo.
Aos meus pais Enedina de Moraes Mendes, minha eterna gratidão pela compreensão, dedicação e
apoio durante o processo de realização desse trabalho e por toda minha vida, e Oscar Pereira de
Miranda (In memorian), amor eterno.
Aos colegas da Biblioteca Nacional, Sérgio Apelian, pela ajuda na classificação e Rosimeri
Rocha da Silva, pela encadernação; e a Marco Dreer, da Fundação Getulio Vargas, pela
impressão dos CD-ROMs.
À Fundação Biblioteca Nacional pelo apoio financeiro para a realização deste curso.
“Livros, mercadoria espiritual, tem como grande virtude desafiar
os séculos, trazendo-nos não apenas o seu conteúdo, mas a sua
concretude de livro [...] DOCUMENTO DE UMA
CIVILIZAÇÃO”.
(Pina Martins)
SUMÁRIO
I NTRODUÇÃO 7
I – PARTE: Apresentação 12
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 85
GLOSSÁRIO 93
RESUMO
O presente trabalho objetivou identificar a coleção dos livros de horas da Biblioteca Nacional do
Brasil, com vistas a produzir um catálogo. A coleção abrange nove livros manuscritos
iluminados; neste trabalho, porém, foram identificados apenas os oito livros produzidos na
segunda metade do século XV. Quatro desses livros são provenientes da Real Biblioteca – Casa
do Infantado, que veio para o Brasil em 1808 com a família real portuguesa, tornando-se o núcleo
inicial da Biblioteca Nacional brasileira. Na primeira parte apresentamos as considerações
teóricas situando o período no qual o livro de horas se inscreve, destacando a sua importância,
tanto na sociedade quanto no desenvolvimento da piedade do homem na cristandade medieval.
Apresentamos também um breve histórico da Biblioteca Nacional, depositária da coleção dos
livros de horas e, concluindo a primeira parte, os dados referentes à construção do catálogo. A
segunda parte é o catálogo propriamente dito, onde os livros estão descritos obedecendo às
normas internacionais vigentes, viabilizando o acesso, a divulgação e o intercâmbio de
informações, promovendo assim a valorização e a preservação desses bens culturais e
patrimoniais.
The objective of the present monograph is to identify the books of hours pertaining to the
National Library of Brazil, aiming at the production of a catalogue. The collection comprises nine
illuminated manuscript books; however, only the items produced in the second half of the 15th
century are identified in this work. The provenance of four of these books is the Portuguese
Royal Library – Casa do Infantado, which was transferred to Brazil in 1808, together with
Portugal’s Royal family, thus becoming the core of the Brazilian National Library. The first part
of the monograph includes theoretical considerations and situates the period in which the books
were created, also putting in relief their importance, both to medieval society and to the evolution
of devotions. A brief history of the National Library and information related of the catalogue’s
construction are also presented. The second part of the monograph presents the catalogue itself,
where the books are described according to intenational rules, enabling access, diffusion and data
interchanging, thus valuing and promoting the preservation of these cultural and patrimonial
assets.
INTRODUÇÃO
a biblioteca do futuro deverá ser, também, o lugar onde poderão ser mantidos o
conhecimento e a compreensão da cultura escrita nas formas que foram, e que ainda
são, majoritariamente as suas. A representação eletrônica de todos os textos cuja
existência não começa com a informática não deve, em absoluto, significar o
abandono, o esquecimento, ou pior, a destruição de objetos que foram os seus suportes.
Mais do que nunca, talvez, uma das tarefas essenciais das grandes bibliotecas é de
coletar, proteger, recensear - por exemplo, sob a forma de catálogos [...] - e, também,
tornar acessível a ordem dos livros que ainda é a nossa, e que foi a de homens e
mulheres que lêem desde os primeiros séculos da era cristã. Apenas preservando a
inteligência da cultura do códice podemos gozar a “felicidade extravagante” prometida
pela tela. 1
1
CHARTIER, Roger. A ordem dos livros: leitores, autores e bibliotecas na Europa entre os séculos XIV e XVIII.
Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1999. p. 107
8
2
A Biblioteca Nacional está localizada na Avenida Rio Branco nº 219, no centro da cidade do Rio de Janeiro.
3
D. João IV, conhecido como O Restaurador, foi rei de Portugal no período de 1640 a 1656.
4
Foi o 27º rei de Portugal (1831-1834) e Pedro I, no Brasil (1822-1831).
9
vale observar que nele estava, provavelmente, o mais antigo livro de horas português de que se
tem notícia, O livro de horas de d. Fernando, rei de Portugal,5 que o teria encomendado ao artista
italiano Spinello Spinelli, no ano de 1378.
5
9º rei de Portugal, d. Fernando I, O Formoso, nasceu em 1315, subiu ao trono em 1367 e faleceu no ano de 1383.
6
HOUAISS, Antônio. Elementos de bibliologia. São Paulo: HUCITEC; [Brasília]: INL, Fundação Nacional Pró-
Memória, 1983. V. 2, p. 31.
7
Segundo Pomian: “uma coleção, isto é, qualquer conjunto de objetos naturais ou artificiais, mantidos temporária ou
definitivamente fora do circuito das atividades econômicas, sujeitos a uma proteção especial num local fechado
preparado para esse fim, e expostos ao olhar do público”. POMIAN, Karzysztof. Coleccção. Enciclopédia Einaudi,
v. 1: Memória e História. Lisboa: Imprensa Oficial/Casa da Moeda, 1984. p. 53
8
Frei Damião Berge nasceu no Rio de Janeiro em 31/8/1895. Pertenceu à Ordem Franciscana e foi professor titular
da Universidade do Brasil (hoje, Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ). Faleceu no Convento de Santo
10
outros breviários e missais – onde o franciscano tomou por base a obra clássica de Victor
Leroquais.9 Não temos notícia de sua publicação, mas uma cópia datilografada está disponível,
apenas para consulta, na área de Manuscritos. Essas fontes serviram de base para a construção
deste estudo.
Não poderíamos tratar do tema sem falar da Idade Média, pois o livro de horas
é produto desse período. Neste sentido abordamos, ainda que de forma superficial, questões como
a espiritualidade, o surgimento dos livros de horas, sua tipologia, estrutura, uso e produção. Não
temos aqui a pretensão de nos investir de historiador para falar do medievo cristão dos últimos
séculos, pois todo o estudo realizado foi feito com o único propósito de ser aplicado no âmbito
deste trabalho.
Antônio (Rio de Janeiro) no dia 29/08/1976. O trabalho mencionado provavelmente foi escrito no ano de 1973 e,
uma cópia datilografada foi doada à Biblioteca Nacional em 1976.
9
Les livres d’heures manuscrits de la Bibliothèque Nacionale (França). Paris, 1925. 3 v. , obra de fundamental
importância para o estudo dos livros de horas.
11
10
“Na acepção da Biblioteca Nacional da França, que aqui utilizamos, tesouro nacional é entendido como categoria
de bem cultural de excepcional valor bibliográfico, histórico, artístico, arqueológico, etc., devendo o Estado
assumir a suprema responsabilidade de sua preservação, e captação para o território nacional” (Ferreira, 2006: 1).
12
I – PARTE: Apresentação
11
Uma longa Idade Média (2008), As raízes medievais da Europa (2007), Em busca da Idade Média (2006), são
algumas delas.
13
longa Idade Média porque não vê sua ruptura no Renascimento, ela só termina no século XVIII
com a Revolução Francesa – nos domínios político, social e mental – e com a Revolução
Industrial na Inglaterra, no domínio econômico. No caso específico dos livros de horas, convém
considerar de forma relativa esta extensão cronológica, pois embora continuassem sendo feitos
manuscritos, o impacto da imprensa sobre esta produção deverá ser avaliado, estudo a que não
nos propomos a fazer no âmbito deste trabalho.
No início da Alta Idade Média a cultura letrada estava sobre o domínio da Igreja
Católica. Grande parte da vida intelectual se concentrava nas abadias, onde escrever era um
exercício espiritual. Na maioria das vezes os scriptoria eram monásticos, onde se faziam as
cópias dos manuscritos e se produziam os livros. Segundo Maria José Santos (2003: 75): “[...] a
escrita era um meio de fixar a palavra de Deus, de guardar a lembrança dos mortos, de invocar
Deus e os santos. [...] Se a escrita estava a serviço do divino ela era sagrada”. Era na biblioteca
dessas abadias que se guardava a produção desses scriptoria e também grande parte de toda a
herança livresca da Antiguidade. A produção, conservação e circulação do conhecimento estavam
ali concentradas. Por isso, a criação das universidades – século XII – foi um dos fatores que mais
contribuíram para a quebra desse monopólio e com elas, conseqüentemente, o avanço da cultura
laica.
12
Alta Idade Média (do século V ao século X) e Baixa Idade Média (do século XI ao século XV).
14
Como observa Fischer (2006: 206), “na Idade Média, possuir e ler um livro era
um privilégio dos ricos e daqueles de elevado status social”. Os livros de horas – aqui nos
referimos aos livros de horas manuscritos, pois, com o advento da tipografia, na segunda metade
do século XV, surgem também os livros de horas impressos – começaram a aparecer a partir do
século XII, sendo que, no período que vai de 1350 a 1480, tiveram seu apogeu. Estes livros, de
certa forma, tornaram-se o protótipo do livro em sua função simbólica: tinham grande utilidade
para o ensino e grande valor comercial, pois também eram uma refinada obra de arte. Por tudo
isso, o livro de horas manteve uma destacada popularidade até o século XVI. Porém, a partir daí,
os livros de horas manuscritos foram raríssimas exceções.
13
Dicionário Temático do Ocidente Medieval, 2006. V. 1, p. 243
15
salvação. Segundo Vauchez,“o mosteiro era uma antecipação do paraíso, um pedaço do céu sobre
a terra”.14
14
A Espiritualidade na Idade Média Ocidental, 1995. p. 39
15
CHARTIER, op. cit., p. 98-99
16
Os livros de horas escritos em vernáculo [era uma tendência, pois eram escritos em
latim, porém, muitos deles já apresentavam determinadas partes de sua estrutura em
língua vernácula], suportes de uma devoção privada e individual que pedia leitura
silenciosa e meditação, são característicos das cortes do século XV. A multiplicação de
imagens pintadas nos livros acompanha com freqüência a passagem para a língua
vernácula e a mudança de público (Schmitt, 2006: 245).
.
No final do século XII ocorreram grandes mudanças que marcaram a vida dos
que habitavam a Europa ocidental: no conceito de trabalho, no panorama das cidades, na
contagem do tempo e, o que está diretamente ligado ao nosso tema, no surgimento de uma nova
espiritualidade que terá seu ápice no século XIII com a reforma franciscana. Havia um
sentimento geral de renovação da cultura cristã, em que o clero detinha o monopólio do sagrado –
tudo o que dizia respeito às funções relativas ao poder espiritual era reservado à Igreja –, mas ao
leigo era possibilitada uma espiritualidade mais intimista, mais individualizada: uma nova forma
de se comunicar com Deus.
16
História da Vida Privada, 1992. V. 3, p.119
17
livro não litúrgico, de devoção privada e que não fosse submetido a qualquer controle ou revisão
por parte das autoridades eclesiásticas, como acontecia com os saltérios, missais (livros litúrgicos
para as missas) e breviários (para as orações breves do cotidiano). Em outras palavras, tal livro
deveria ser uma composição personalizada de um novo texto de devoção secular que refletisse a
mudança ocorrida em relação à postura do leigo perante sua espiritualidade. Diz Alberto Manguel
em Uma história da leitura (2001: 153-4) que
[...] não surpreendeu que um dos livros mais populares da época fosse o livro de
orações pessoais ou Livro de Horas, comumente representado em pinturas da
Anunciação. Escrito em geral à mão ou impresso em formato pequeno, em muitos
casos iluminados com requinte e opulência por mestres da arte, continha uma coleção
de serviços curtos denominados “Ofício menor da abençoada Virgem Maria” (uma
compilação de cerimônias religiosas curtas), recitados em vários momentos do dia e da
noite. Tendo por modelo o oficio divino – serviços completos ditos diariamente pelo
clero –, o ofício menor que compreendia os Salmos e outros trechos das Escrituras,
bem como hinos, ofícios dos mortos, orações especiais para os santos e um calendário.
Esses volumes pequenos eram eminentemente instrumentos portáteis da devoção,
podendo ser usado pelo crente tanto em serviços públicos da igreja como em orações
privadas [...].
“Sete vezes ao dia, eu te louvarei Senhor, pela equidade dos teus julgamentos”
(Salmo 118, 164).
MATINAS (meia-noite)
LAUDES (três horas da madrugada)
PRIMA (seis horas)
TERCIA (nove horas)
SEXTA (doze horas ou meio-dia)
NOA ou NONA (quinze horas)
VÉSPERAS (dezoito horas ou ao cair da noite)
COMPLETAS (vinte e uma horas ou depois do pôr do sol)
17
Apud Berge, [1973?]: capítulo II, p. 4
19
As horas canônicas (cada uma das horas indica um oficio divino ou liturgia)
podem ser divididas em duas categorias: Horas menores (Prima, Tercia, Sexta e Noa) e as Horas
maiores (Matinas, Laudes e Vésperas). Nas menores devem ser rezadas as orações que evocam
um acontecimento do Evangelho ou dos Atos dos Apóstolos. Por exemplo, na Noa é lembrada a
hora da morte de Jesus na cruz. As maiores são as horas principais e, como tais, devem ser
celebradas pela manhã e tarde. Já as completas, acrescentadas posteriormente, devem ser rezadas
antes do repouso da noite. Recitando essas orações, nessas horas determinadas, o homem
medieval cumpria o seu dever de cristão: orar incessantemente a Deus pedindo-lhe por si e por
todos os homens.
3. Partes acessórias – são variáveis: os Salmos Graduais (os salmos de 119 até
133), o Saltério de São Jerônimo (uma coletânea dos mais belos e
expressivos versos dos salmos) e preces em geral.
18
Berge, Op. cit.,Capítulo II, p. 5 – 20.
19
Tradução para o português: Eu te imploro e Oh! Imaculada.
20
festas cristãs (como Natal, Páscoa etc.), os feriados e os dias dos Santos
(universais, regionais e locais). A Idade Média herdou o calendário romano
(ou Juliano, introduzido por Júlio César em 45 a.C.) em que o ano continha
365 dias divididos em doze meses. Os dias do mês eram nomeados de
Calendas (kalendae – 1º dia do mês), Nonas (nonae – 5º dia do mês) e Idos
(idus – 13º ou 15º dia do mês). Às vezes, de acordo com o seu portador,
contém informações necrológicas, aniversários, nascimentos e batizados. O
calendário é um dos principais elementos para se identificar a origem ou o
destino do manuscrito;
►As Passagens dos Quatro Evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João);
►Orações à Virgem Maria (Obsecro te e O intemerata);
►As Horas da Virgem Maria é a parte mais importante das Horas. Este
Pequeno Oficio de Nossa Senhora se manifesta através de salmos, hinos,
lições, e orações destinadas à leitura ou recitação nas oito horas canônicas.
Como as lições, que aqui figuram, variam de igreja para igreja, as Horas da
Virgem também se constituem um importante elemento de identificação;
►As Horas da Cruz – textos mais curtos que as Horas da Virgem, compõem-se
de um hino, uma antífona e uma oração para cada hora;
►As Horas do Espírito Santo – um hino, uma antífona e uma oração;
►Os Salmos Penitenciais – são sete salmos: 6, 31, 37, 50, 101, 129 e 142, por
expressarem o arrependimento e o pedido de perdão dos pecados;
►A Ladainha de Todos os Santos ou Litania – é uma súplica que obedece uma
certa ordem com categorias invariáveis dos santos;
►O Ofício dos Mortos ou dos Defuntos – orações pelos mortos, que deveria ser
rezada diante do defunto ou precedendo o enterro, ou orações por aqueles que
estivessem em perigo de morte;
►O Sufrágio dos Santos – em memória ou invocação aos santos, também
chamado Santoral;
►Preces em geral – “[...] talvez, a parte mais rica, mais pitoresca e mais
variada do livro, aquela onde aparece mais expressivamente a alma medieval.
O que lhe dá mais vivo colorido é a presença, se não exclusiva, certamente
21
Nem todos os livros de horas eram decorados, pois, isso dependia muito do
poder e da condição financeira do proprietário, mas, em geral, para o ponto de vista artístico, o
grande atrativo nestes livros manuscritos medievais são as suas ilustrações: as miniaturas e as
iluminuras. No momento em que era feita a encomenda, escolhia-se também a ornamentação que
o manuscrito deveria conter.
Svend Dahl diz sobre a natureza das iluminuras, no primeiro período da Idade Média,
pertenciam mais à arte decorativa do que propriamente à ilustração. Os desenhos eram
feitos com a intenção de decorar o livro e não a de ilustrar o texto: dessa forma, é
freqüente que as ilustrações dos manuscritos nada tenham com o seu assunto, ao
contrário do que modernamente se pratica. [...] os autores costumam assinalar que
muitos livros piedosos são ornados com gravuras bastante livres, da mesma forma por
que os animais fantásticos ofereciam motivos para o desenho das iniciais, sem que o
leitor procurasse entre uma coisa e outra a menor correlação (apud Martins, 1996:
108).
22
Para Fischer (2006: 154), “no final da Idade Média, as iluminuras e miniaturas,
incluídas nas páginas desses livros, constituíam o principal trabalho artístico da Europa
ocidental”.
residências abastadas e da nobreza. Conta-se que Luis IX, o santo, aprendeu a ler neles. Muitas
vezes era o único livro da família, uma vez que a Bíblia era muito cara. Ainda assim, eram
reveladores da riqueza de seus proprietários, sendo comprados como jóias preciosas, que
valorizavam as coleções dos bibliófilos endinheirados. Figuravam nos testamentos e inventários
como peças de alto valor (bens móveis), que os proprietários deixavam registrados a quem seriam
destinados. Serviam também como presente do noivo para sua prometida e para os monarcas em
ocasiões solenes, como, por exemplo, sua coroação (vide as grandes coleções dos museus e
bibliotecas nacionais).
do papel, das universidades, das bibliotecas e, principalmente, da imprensa é que o livro – aqui
no sentido de conjunto de cadernos costurados ordenadamente – vai se tornar mais acessível e
mais difundido.
20
Anais da Biblioteca Nacional, 1971. V. 91, p.360
21
http://www.bn.br
26
Como já escreveram seus biógrafos, a Real Biblioteca teve uma origem acidental
e cheia de aventuras. O incêndio gerado em decorrência do terremoto destruiu o Palácio da
Ribeira, sede do governo português onde estava localizada a livraria do rei. Tal livraria tivera seu
primeiro núcleo organizado pelos soberanos d. João I (O da Boa Memória, 1385-1433), d. Duarte
(O Eloqüente, 1433-1485) e d. Afonso V (O Africano, 1438-1481).
22
Livraria era o termo adotado na época para designar biblioteca particular. Eram coleções especiais, acessíveis a
poucos e que ficavam em salas genericamente chamadas de gabinetes.
23
Hoje é a Biblioteca Nacional de Lisboa. Anais da Biblioteca Nacional, 1981. v.101, p. 132.
27
seja com os livros dos Cônegos de São Vicente de Fora, quando estes foram
transferidos para o Mosteiro de Mafra e ficaram privados de suas coleções, seja com
os numerosos espólios de bibliófilos condenados à morte ou ao exílio.
No Palácio da Ajuda foram reunidas duas coleções distintas: a Livraria Real (ou
Real Biblioteca, que era a biblioteca privativa dos monarcas) e a Livraria da Casa do Infantado
(destinada a formação dos príncipes reais). Em pouco tempo a nova biblioteca real foi
recomposta.24
24
No ano de 1795, a biblioteca escapou de um outro incêndio ocorrido no antigo Barracão Real da Ajuda, onde
estava localizada.
28
Pouco mais se adquiriu, pois, após o incêndio de 1755, havia poucas livrarias
disponíveis no mercado. A organização e o acondicionamento dessas aquisições ficava por conta
dos funcionários da biblioteca, a maioria religiosos. Esta era frequentada pelos membros da
Família Real e da Corte, visitantes ilustres ou representantes do corpo diplomático.
Em 1807, quando a família real portuguesa veio para o Brasil, o príncipe regente
d. João não conseguiu trazer, naquela viagem, a sua biblioteca real, cujo acervo lhe conferia
prestígio e poder. O que veio com ele foram documentos políticos e administrativos do Estado
lusitano e, no navio Medusa, em 34 caixotes, apenas a biblioteca de Antônio Araújo, o conde da
Barca.
29
Para a longa viagem rumo ao Brasil, o acervo da Real Biblioteca foi dividido
em 3 lotes e acondicionado em caixotes. Na correria para embarcar em 1807 os caixotes foram
esquecidos no porto, permanecendo, por algum tempo, debaixo de sol e chuva, até retornarem
para o Palácio da Ajuda. Sua transferência começou a ser feita em 1810. O primeiro lote – que
trouxe também, em segredo, os 6.000 manuscritos da coroa – veio acompanhado pelo servente da
Real Biblioteca, Joaquim José de Oliveira. O segundo saiu de Lisboa em março de 1811, na
fragata Princesa Carlota. Trazia a Biblioteca Real em 66 caixotes e aportou no Rio de Janeiro em
junho, sendo acompanhada pelo bibliotecário Luis Joaquim dos Santos Marrocos. O terceiro e
último lote saiu de Lisboa em setembro de 1811, com 87 caixotes de livros. Foram embarcados
na charrua São João Magnânimo, sob a guarda do servente José Lopes Saraiva. Em novembro de
1811 estava reunida toda a biblioteca real em terras brasileiras. “Estava salvo o grande acervo
cultural português, salvo do incêndio, salvo da destruição e da pilhagem próprias de uma guerra,
salvo dos perigos de uma longa e incerta travessia marítima” (Carvalho, 1994: 38).
Havendo ordenado, por Decreto de 27 de Junho do presente ano, que nas casas do
Hospital da Ordem Terceira do Carmo, situado à minha Real Capela, se colocassem a
minha Real biblioteca e gabinete dos instrumentos de física e matemática, vindos
ultimamente de Lisboa; e constando-me pelas últimas averiguações a que mandei
proceder, que o dito edifício não tem toda a luz necessária, nem oferece os cômodos
indispensáveis em um estabelecimento desta natureza, e que no lugar que havia
servido de catacumba aos Religiosos do Carmo se podia fazer uma mais própria e
decente acomodação para a dita livraria: hei por bem, revogando o mencionado Real
Decreto de 27 de Junho, determinar que nas catacumbas se erija e acomode a minha
Real biblioteca e instrumentos de física e matemática, fazendo-se à custa da Real
Fazenda toda despesa conducente ao arranjamento e manutenção do referido
estabelecimento. O Conde de Aguiar, do Conselho de Estado, Presidente do Real
Erário, o tenha assim entendido e faça executar por este Decreto somente, sem
embargo de quaisquer leis, regimentos ou disposições em contrario. Palácio do Rio de
30
Dois religiosos, que vieram com a família real, foram designados para dirigirem
a Real Biblioteca: frei Gregório José Viegas – da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência,
confessor de uma das infantas – que administrou a biblioteca no período de 1810 a 1821 e o
padre Joaquim Dâmaso – da Congregação do Oratório de Lisboa – encarregado do arranjamento
e conservação, trabalhando com ajudante da biblioteca, Luis Joaquim dos Santos Marrocos.
25
Decreto de 29 de Outubro de 1810. A área de Manuscritos da Biblioteca Nacional possui uma cópia.
26
“Em relação a este assunto que se prende ao que modernamente se denomina Contribuição Legal, um parêntese se
faz necessário. A Real Bibliotheca foi, desde o século XVIII, acrescida também com a entrega de ‘propinas’
enviadas pela Mesa Real Censória” (Cunha, 19: 140). Ou seja, a entrega de um exemplar de tudo que fosse
impresso nas oficinas tipográficas em Portugal.
31
[...] é possível pensar além do valor pecuniário da biblioteca. Os livros são símbolo e
sinal de independência: independência política, mas também independência nas
idéias, independência no pensar e nas possibilidades de construir utopias e projetos. A
biblioteca custou caro, mas, por certo, simbolizava e valia muito. Valia muito por
conta de seus tesouros – entre gravuras de Rembrant, Callot, Mantegna ou Durer; os
incunábulos, os livros de horas, a bíblia de Mogúncia, a enciclopedie, os mapas e
plantas, os desenhos e manuscritos, as cartas de Vieira e tantos mais que tomaríamos
o resto das páginas desse livro com tantas lembranças.
Em 1858, uma nova mudança. Dessa vez o acervo foi transferido para o Largo
da Lapa (rua do Passeio, no prédio onde hoje se encontra a Escola de Música da Universidade
Federal do Rio de Janeiro), onde permaneceu até 1910. Só nesse ano a biblioteca ganhou a sua
sede definitiva – na gestão de Manuel Cícero Peregrino da Silva (de 13/7/1900 a 9/2/1924) – na
avenida Rio Branco, no centro do Rio de Janeiro.
27
A questão dos bens deixados pela Família Real portuguesa no Brasil foi resolvida com a intermediação da
Inglaterra na qual o governo imperial pagou a Portugal, através da Convenção Adicional ao Tratado de Paz,
Amizade e Aliança (29 de agosto de 1825), dois milhões de libras esterlinas. Deste montante, 800 contos de réis
(250.000 libras esterlinas) correspondem à compra da biblioteca.
28
Continua em vigor.
32
Napoleão Muniz Freire e Alberto Faria. De estilo eclético, em que se misturam elementos
neoclássicos e de art noveau, seus seis andares – só de armazéns – foram projetados para
receberem 400.000 volumes. No entanto, hoje já comportam mais de nove milhões de peças. Na
década de 1990, o então presidente Fernando Collor de Melo doou à Biblioteca Nacional um
depósito no Cais do Porto do Rio de Janeiro, para lhe servir de anexo. Este depósito ainda hoje
está sendo reformado, e alguns andares já estão em condições estruturais para o armazenamento
de determinados acervos, como por exemplo, os periódicos já microfilmados e o acervo de peças
teatrais da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (SBAT).
International Standard Book Number (ISBN), que coordena e incentiva o uso do sistema
internacional de numeração de livros e atribui códigos às editoras e às publicações nacionais para
efeito de divulgação e comercialização. Também oferece os serviços de visitas guiadas, pesquisa
à distância, produção de catálogos, inventários, revistas, exposições e os Anais da Biblioteca
Nacional, “destinados a divulgar os manuscritos interessantes da Biblioteca, e trabalhos
bibliográficos de merecimento” (www.bn.br). Seu primeiro volume corresponde ao ano de 1876.
Suas áreas de acervo guardam, além de obras gerais (como livros, monografias,
manuais, teses, cd’s, folhetos etc.) e publicações seriadas (como jornais, revistas etc.), acervos
especiais, como manuscritos, livros raros, documentos iconográficos (fotografias, gravuras,
desenhos etc.), documentos cartográficos (mapas, atlas etc.), registros sonoros (fitas
audiomagnéticas, discos, cd’s etc.) e partituras musicais.
Nenhuma instituição cultural do país pode superar a Biblioteca Nacional e exibir uma
história bicentenária de participação ininterrupta da sociedade através de doações,
legados, cumprimento da contribuição legal, reflexão, edições e pesquisa. Uma das
grandes lições de sua própria história, é que a Biblioteca Nacional para o Estado e a
sociedade civil é orgulho e responsabilidade, é signo possível de sua cultura e opulência
espiritual.
Aqueles manuscritos que vieram “em segredo” com o servente José Joaquim de
Oliveira, na primeira remessa da Real Biblioteca, em 1810, os chamados manuscritos da Coroa,
nunca foram incorporados ao acervo da Real Biblioteca. Tratava-se de uma coleção de 6.000
códices que estavam em um arquivo reservado na Livraria da Congregação dos Oratorianos no
Paço das Necessidades, em Lisboa. Como eram documentos reservados, o visconde de Vila Nova
da Rainha, na qualidade de guarda-jóias da coroa, conservou-os sob sua proteção imediata, em
uma casa do governo situada na rua do Ouvidor (no centro do Rio de Janeiro). Grande parte
destes manuscritos, mais especificamente aqueles que diziam respeito à história de Portugal,
retornaram com d. João VI, em 1821 e, o restante, com o padre Joaquim Dâmaso, em 1822.
29
Os dados aqui registrados foram coletados nos apontamentos dos antigos chefes da área de Manuscritos, Waldir da
Cunha e Carmen Moreno.
36
Este acervo abrange documentos que vão desde o século XI-XII – o mais antigo
é um Evangeliário escrito em grego –, até o século XX, nos mais variados tipos de escrita,
idiomas e suportes. São registros medievais, como os livros de horas, bulas papais, cartas
jesuíticas, documentos do período colonial, papéis de Estado, documentos de diversos reis
europeus, correspondências da Família Real portuguesa, do período do Império brasileiro, da
República, correspondências presidenciais, peças teatrais, correspondências e textos literários,
arquivos relativos às ciências naturais no Brasil, cartas e diários de viajantes, coleções de
autógrafos e acervos completos e documentos avulsos de personagens as mais variadas. Como
observa Herkenhoff (1996: 109): “Garante-se assim uma abrangência nacional do acervo. Essa
envergadura ímpar conferiu à Biblioteca Nacional brasileira um significado simbólico para a
sociedade, como poucos países podem ostentar”. Destaca-se, neste acervo, o Arquivo Histórico
da Biblioteca Nacional, que retrata, através de seus documentos, a formação da instituição e suas
diversas administrações.
das coleções consiste em organizar, descrever, indexar, inserir registro patrimonial, alocar a
documentação e digitação em base de dados.
Seu público alvo é o pesquisador e/ou especialista de nível superior, que pode ter
acesso aos documentos através dos diversos instrumentos de consulta disponíveis na sala ou
através da base de dados on-line. De acordo com as regras previamente determinadas pela direção
da biblioteca, o acervo pode ser reproduzido, mas, de acordo com a política de preservação, está
proibida a utilização de cópia do tipo xerox. Anualmente, cerca de dois mil usuários visitam a
área de Manuscritos.
30
Seguindo a ordem cronológica, são eles: Felisberto Antônio Pereira Delgado (nomeado em 1822), José Alexandre
Teixeira de Melo (1876–1882), Alfredo do Vale Cabral (1882–1890), Antônio Jansen de Melo (1890–1892), João
Carlos de Carvalho (1893–1922), Mário Behring (1922–1924), Miguel de Melo (1924–1934), Alfredo Mariano de
Oliveira (1934–1935), Luiz Corte Real de Assunção (1935–1936), José Bartholo da Silva (1936–1948), Otávio
Calazans Rodrigues (1948–1957), Darcy Damasceno dos Santos (1957–1982), Maria Celeste Garcia Mendes
(1982–1988), Waldir da Cunha (1988–1995) e Carmen Teresa Coelho Moreno (1995–2003).
38
28), “foram raras as cortes européias, como a de d. João II [1481-1495], que encomendaram
livros iluminados italianos para a formação de suas novas bibliotecas”.
Dos nove livros de horas identificados, apenas o livro do século XVI não foi
selecionado para o catálogo, pois além de pertencer a um outro período, apresenta características
distintas dos demais como, por exemplo, a sua estrutura. Os oito livros estão descritos na segunda
parte deste trabalho: o Catálogo dos Livros de Horas da Biblioteca Nacional do Brasil dos séculos
XIV e XV.
Por se tratar de uma das mais raras coleções da Biblioteca Nacional brasileira,
os manuscritos iluminados estão, na sua grande maioria, armazenados nos cofres da área de
Manuscritos. De acesso restrito – por motivos de preservação e segurança – esta coleção
necessita de um tratamento técnico adequado, amplo e abrangente, voltado para suas
especificidades e em consonância com as normas internacionais adotadas em outras bibliotecas
nacionais.
31
Arquivo Nacional (Brasil), 2005. p. 45.
40
32
No ano 1450, por Johann Gutenberg.
33
Wilson Martins. A palavra escrita, p. 93.
41
Códice é o conjunto de folhas escritas à mão, manuscritos geralmente de forma retangular, sejam
de papiro ou pergaminho (Códice manu scripti = livros escritos à mão). A forma era quadrada,
em razão de vir das tábuas enceradas dos gregos e romanos. Os temas desses livros eram,
geralmente, de caráter religioso – como breviários, bíblias, missais, saltérios, livros de horas,
sermões etc. Quando profanos, tratavam de legislação, medicina, história natural e astrologia,
além de obras clássicas de autores gregos e romanos. O latim é o idioma usado na maioria desses
livros.34 Para Le Goff (2006: 35), “a generalização do códex (nosso livro, com páginas e
cadernos) marca uma passagem. [...] O livro-codex favorece a leitura pessoal, interiorizada,
mesmo que a leitura totalmente silenciosa só venha a se generalizar no século XIII”.
1) Livro manuscrito - códice com unidade física e intelectual contendo texto (ou
textos) de caráter monográfico e unitário;
2) Miscelânea – códice composto por vários textos intencionalmente coligidos, com
ou sem ligação temática entre si [...];
3) Códice factício – conjunto de documentos originariamente independentes,
reunidos numa mesma encadernação, em fase posterior à sua produção, e por
motivos alheios ao processo documental, resultado, muitas vezes, de uma prática
antiga de conservação das espécies.
34
Alberto Manguel. Uma história da leitura, p. 120.
35
O tratamento documental de manuscritos ao serviço da investigação: a experiência da Biblioteca Nacional.
Lisboa, 2006.
42
36
Machine Readable Cataloguing (Catalogação Legível por Computador).
37
International Standard Archival Description (Norma Internacional de Descrição Arquivística).
38
Comunicação apresentada por Carmen Moreno e Vinícius Martins no II Encontro de Bases de Dados sobre
Informações Arquivísticas. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 2001.
44
39
Anglo-American Cataloguing Rules, 2ª edição.
45
Uma frase muito utilizada entre os conservadores retrata muito bem o que vem a
ser o propósito do nosso catálogo: “Não se pode preservar ou proteger o que não se conhece”.
Catálogos são instrumentos de pesquisa que, além de descrever e localizar dados de um
determinado acervo – no nosso caso uma coleção “reservada” –, servem também para registrar e
46
A Anunciação
Conteúdo:
• f. 18r – f. 19v Comemoração a Santíssima Trindade; f. 21r – f. 21v Comemoração a São João
Batista; f. 25r – f. 25v Comemoração a São Jorge; f. 27r – f. 27v Comemoração a São
Cristóvão; f. 29r – f. 29v Comemoração a Santana; f. 31r – f. 31v Memória de Santa Catarina;
f. 33r – f. 33v Memória de Santa Maria Madalena; f. 35r – f. 35v Memória de Santa
Margarida; f. 37r – f. 37v Memória de Santa Bárbara.
Em cada Comemoração e Memória o recto do primeiro fólio está em branco e no verso contém
uma miniatura de página inteira representando o santo comemorado.
48
• f. 93v O intemerata...
• f. 188v Em branco.
• f. 200 Em branco.
40
José Bartholo da Silva chefiou a área de Manuscritos da Biblioteca Nacional no período de 1936 a 1948.
41
Esta nota foi retirada de uma carta, originalmente escrita em inglês, do professor James H. Marrow – autor de uma
vasta obra sobre manuscritos iluminados e sobre diversos aspectos da arte e iconografia religiosa tardo-medieval –
endereçada à coordenadora de Acervo Especial da Biblioteca Nacional Georgina Staneck, datada de 24/08/2004. A
carta se encontra arquivada na área de Manuscritos da Biblioteca Nacional.
50
Spinelli, é incorreta. Esse colofão é uma adição pós-medieval ao manuscrito (ou seja, uma farsa)
que fornece uma falsa informação. [...] O Ms. 50,1,1 foi feito no sul da Holanda (Bruges) para ser
exportado para a Inglaterra (para Sarum Use)42 provavelmente cerca de 1460. Ele está
estreitamente relacionado a um
pequeno subgrupo de Livro de Horas
de luxo produzidos em Bruges para
clientes ingleses [...]”
Imagens:
42
Sarum Use era uma coleção de práticas medievais que incluíam os ritos e o repertório musical da grande Catedral
de Salisbury.
51
16ª miniatura: f. 60v – Jesus Cristo diante de Pilatos. Com quatro medalhões.
31ª miniatura: f. 177v – Jesus Cristo tendo à sua esquerda, sua Mãe, e à direita,
São João Evangelista, entre os instrumentos de seu martírio. Com quatro
medalhões.
12 miniaturas menores
ilustram o Calendário:
Outubro: A semeadura.
Encadernação:
Proveniência:
Bibliografia:
BERGE, Damião. Um livro de horas do século XIV na Biblioteca Nacional. Verbum, Rio de
Janeiro: Faculdades Católicas, t. 2, fasc. 1, p. 12-15, mar. 1945.
HERKENHOFF, Paulo. Biblioteca Nacional: a história de uma coleção. 2.ed. Rio de Janeiro:
Salamandra, 1996.
Localização:
Conteúdo:
• f. 13r O intemerata...
• f. 54v Em branco.
• f. 93r – f. 99r Memórias da Santíssima Trindade, de São Miguel Arcanjo, São João Batista,
São João Evangelista, São Pedro e São Paulo, São Estefânio, São Jacobo, São Lourenço, São
Sebastião, São Nicolau, Santo Antônio, São Rocho, Santa Apolônia, Santa Maria Madalena,
Santa Catarina, Santa Margarida, Santa Bárbara e, novamente, Santa Apolônia.
Imagens:
2ª miniatura: f. 15r - A
Anunciação.
3ª miniatura: f. 22r – A
Visitação.
4ª miniatura: f. 29v – A
Natividade.
5ª miniatura: f. 32v – O
Anúncio aos Pastores.
7ª miniatura: f. 38v -
Apresentação do Menino Jesus
A Visitação
no Templo.
4 miniaturas menores.
A Crucificação
Encadernação:
Encadernação original em couro marrom sobre madeira, com vestígios dos fechos. Segundo
Herkenhoff, “a encadernação antiga atribui-se a Maioli”.
43
A carta está anexa ao livro.
60
Proveniência:
Bibliografia:
Localização:
O Calendário
61
Conteúdo:
O Calendário
62
• f. 28v O intemerata...
• f. 31v Em branco.
• f. 160r: eam in refrigério lucis et quie//tis. Amen. // Confiteor deo Beate marie et omnibus
//sanctis quia peccavi mimis. cogitacione // locutione et opere. mea culpa. Ideo // precor te.
Ora pro me. // Misereatur tui omnipotens deus. et di//mittat tibi omnia peccata tua. liberet //
te ab omni malo. conseruet et confirmet // in omni opere bono. et perducat ad // vitam
eternam. Amen.
• f. 160v Em branco.
Imagens:
12 miniaturas de página inteira (uma delas apresenta três, de menor porte) e duas miniaturas nas
cercaduras (marginais).
63
O Rei Davi
64
Encadernação:
Proveniência:
Bibliografia:
HERKENHOFF, Paulo. Biblioteca Nacional: a história de uma coleção. 2.ed. Rio de Janeiro:
Salamandra, 1996. p. 22
Localização:
Conteúdo:
• f. 22v O intemerata...
66
• f. 51r – f. 56r Memórias do Espírito Santo, da Santíssima Trindade, de São João Batista, São
João Evangelista, São Pedro, São Mateus, São Marcos, Santa Maria Madalena, Santa
Catarina, Santa Margarida e de Todos os Santos.
• f. 56v Em branco.
• f. 92v Em branco.
6ª miniatura: f. 71r – A
Apresentação do Menino Jesus no
Templo.
9ª miniatura: f. 86r – A
Crucificação.
Encadernação:
Nota de Herkenhoff: “... foi reencadernado no século XIX no Rio de Janeiro por Manoel José
Cardozo”. A encadernação atual é em pergaminho contemporâneo, feita na Biblioteca Nacional
na década de 1980.
68
Proveniência:
Bibliografia:
HERKENHOFF, Paulo. Biblioteca Nacional: a história de uma coleção. 2.ed. Rio de Janeiro:
Salamandra, 1996. p. 28
Localização:
Conteúdo:
• f. 63v e f. 64 Em branco.
Imagens:
1ª miniatura: f.1r – A
Anunciação.
3ª miniatura: f. 28r – A
Natividade.
6ª miniatura: f. 41r –
Apresentação do Menino Jesus
no Templo.
8ª miniatura: f. 56r – A
Crucificação.
Encadernação:
Proveniência:
Bibliografia:
Localização:
Conteúdo:
• f. 22r O intemerata...
• f. 26v Em branco.
• f. 70 Em branco.
• f. 94 Em branco.
Imagens:
Os Quatro Evangelistas
75
quadrado da mesma cor, despejando, de três gárgulas de ouro, água neste tanque
donde jorra por outra gárgula de ouro; no bas-de-page, um ser híbrido, de corpo
e pernas azuis de cavalo, sem cauda, sem braços, peito e cabeça de homem
idoso, coberto com uma tiara de ouro forrada de azul”. (Damião Berge).
5ª miniatura: f. 74r –
Pentecostes. “Na bordadura
inferior [bas-de-page], um
servo brandindo, com a
direita, uma longa maça e
segurando, com a esquerda,
um enorme cão”. (Damião
Berge)
Pentecostes
76
7ª miniatura: f. 95r – Um
Sepultamento. No bas-de-page, a
morte, intimando um jovem.
Encadernação:
Proveniência:
Bibliografia:
HERKENHOFF, Paulo. Biblioteca Nacional: a história de uma coleção. 2.ed. Rio de Janeiro:
Salamandra, 1996. p. 29 e p. 62.
77
Localização:
A Pietá
78
Conteúdo:
• f. 1 Em branco.
• f. 2r – f. 13v Calendário em
francês (cada mês em um fólio)
• f. 19r O intemerata...
• f. 46v Em branco.
• f. 80v e f. 81 Em branco.
80
Imagens:
Encadernação:
A encadernação é em pergaminho
contemporâneo.
Proveniência:
Bibliografia:
Localização:
Conteúdo:
• f. 82r O intemerata...
• f. 80v Em branco.
As Horas da Cruz
• f. 100r Em branco;
Imagens:
Encadernação:
A encadernação é em pergaminho
contemporâneo, feita na Biblioteca
Nacional. Notas de Damião Berge
sobre a antiga encadernação:
“Encadernação de 1926, pouco
digna do ms. danificada pela
broca; na lombada, de pano preto,
lê-se, impresso a ouro: Manuscrito
do XV século; capa coberta de
papel marrom, imitando mármore; A Ressurreição de Lázaro
folhas de guarda do mesmo papel,
colada a uma f. branca, seguida de f., mais antiga, provavelmente de uma encadernação anterior,
colada com a primeira f. do pergaminho em branco[...]”.
Proveniência:
Bibliografia:
Localização:
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Paulo: Cosac Naify, 2007.
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Pires Ferreira. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
92
SÍTIOS NA INTERNET:
GLOSSÁRIO
Antífona
Versículos tirados da Bíblia, que o povo canta ou recita em determinados momentos da missa e
de outras celebrações e, especialmente, no início e fim dos Salmos do Ofício Divino ou Liturgia
das Horas (Falcão: Letra A).
Assinaturas
Numeração colocada no pé das folhas dos cadernos ou apenas na primeira folha da cada caderno;
para tal numeração utilizavam-se letras associadas a números; destinava-se a indicar ao
encadernador a ordem a seguir na encadernação do volume; no livro antigo ajudava a determinar
o formato real (Faria e Pericão, 1988: 29).
Bas-de-page
Parte inferior da página, onde são gravadas cenas, imagens que podem ou não se referir ao texto
acima (Brown, 1994: 16).
Bibliófilo
Pessoa amante das edições originais, raras e curiosas de livros; os bibliófilos apreciam,
sobretudo, a beleza tipográfica, a encadernação, a raridade e o material com que foi impresso e
confeccionado um livro (Faria e Pericão, 1988: 38).
Breviário
Livro litúrgico que contém os textos necessários para celebração do Ofício Divino. Ver também
Ofício Divino e Liturgia das horas (Falcão: Letra B).
Caderno
Conjunto de folhas de pergaminho ou papel dobradas ao meio, encartadas umas nas outras e
constituindo os elementos de um manuscrito ou de um livro antigo (Faria e Pericão, 1988: 50-51).
Camisas de Damasco
Tecido, geralmente de seda, com que se envolviam os códices, principalmente os livros de horas,
para sua proteção. Essas proteções eram assim chamadas porque o tecido vinha da cidade de
Damasco (Rizzini, 1977: 38).
Códice
Do latim caudex (tábua de madeira). Em sua origem eram tabuinhas de madeira enceradas, onde
se escreviam e depois eram agrupadas pelo dorso (lombada) mediante costura. Mais tarde foram
94
substituídas pelo papiro, depois pelo pergaminho. Diferente do rolo onde as folhas eram coladas
umas as outras e, posteriormente, enroladas. O códice é formado por folhas soltas que se dobram
e se encaixam umas nas outras para formar os cadernos. A vantagem é que se podia manipular
com mais facilidade e escrever nos dois lados da folha. A palavra hoje se utiliza para denominar
livros escritos à mão, principalmente sobre pergaminhos. O livro manuscrito, de uma certa
antiguidade, composto por um conjunto de folhas de um material flexível (papiro, pergaminho ou
papel), unidas entre si pela margem interna e geralmente protegidas com capas.
(Walther e Wolf, 2005: 492).
Codicologia
Ciência que tem por objeto o estudo do livro manuscrito em todos os seus aspectos.
(Ruiz García, 1988: 376).
Colofão
Contém indicações a respeito da produção de um manuscrito ou de um livro impresso antigo. É
uma indicação tipográfica colocada na última página impressa da obra, onde figura o lugar, o
impressor e data, seguida por vezes pela marca tipográfica; nos incunábulos e obras da primeira
metade do século XVI, continha dados mais pormenorizados sobre o autor, título da obra e o dia
em que a obra acabou de ser impressa. Corresponde ao Explicit dos manuscritos.
(Faria e Pericão, 1988: 75).
Copista
Também era chamado de amanuense (servi ad manum), escriba, pendolista ou pendolário (de
pendola, pena de ave usada para escrever). Era o indivíduo que produzia o códice, copiando um
escrito ou escrevendo um texto ditado (Martínez de Sousa, 1992: 51-52).
Ex-libris
Serve para designar toda a menção de posse de um livro; pode ser manuscrito e figurar em
qualquer lugar do livro; quando é impresso ou gravado em papel (ou excepcionalmente de couro)
está geralmente colado no verso da capa; a identidade do possuidor pode ser indicada pelo nome
(por vezes precedido da palavra ex-libris) ou suas iniciais, eventualmente pelas suas armas, um
emblema ou uma divisa (Faria e Pericão, 1988: 136).
95
Explicit
Termo que originalmente indicava que se havia terminado de desenrolar o livro em forma de
rolo. Posteriormente, indicava o final do manuscrito, ou de um livro impresso antigo, muitas
vezes informando acerca do nome do autor (ou do copista), o local e o título da obra.
(Faria e Pericão,1988: 138).
Factício
É a reunião sob a mesma encadernação de volumes ou brochuras que tratam de assuntos
freqüentemente diferentes assim como de autores distintos (Rouveyre, 1899: 159).
Foliação
É a numeração dos fólios, das folhas (folheação), de um documento de modo que um mesmo
número servia para a página ímpar (recto) e para a página par (verso).
(Martínez de Sousa, 1992: 53).
Iluminura
Conjunto de elementos decorativos e das representações com imagens executadas num
manuscrito com a finalidade de embelezamento, utilizavando-se tintas luminosas, principalmente
a prata e ouro (Brown, 1994: 69).
Incipit
Palavra que encabeça o texto escrito, nos manuscrito e nos incunábulos (Ruiz García, 1988: 381).
Incunábulo
Do latim incunabulum (berço, origem), palavra empregada para designar os primeiros impressos
na Europa até 1501 (Brown, 1994: 72).
Liturgia das Horas
É a santificação das horas do dia pela oração oficial (Ofício Divino) que a Igreja, em união com
Jesus Cristo e animada pelo Espírito Santo, eleva à Santíssima Trindade. Com o decorrer dos
tempos, a Igreja foi santificando as principais horas do dia pela oração dos Salmos e leituras
bíblicas, recorrendo assim à própria palavra de Deus. Desta maneira preparava e prolongava a
celebração do Mistério Pascal, completando a Missa de cada dia. Embora seja oração de todo o
povo, a celebração da Liturgia das Horas passou a ser especial obrigação dos sacerdotes e outros
consagrados, fazendo parte do seu ofício exercido em nome da Igreja (Falcão: Letra L).
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Livro
É a forma genérica usada para designar um veículo portador de um texto escrito de certa
extensão, independente de sua tipologia, com a finalidade de registrar e transmitir o pensamento.
Desde a Antiguidade, o livro adquiriu várias formas – encontradas, principalmente, no Ocidente.
As mais antigas são as tábulas ou tábuas, que eram pequenas placas de argila, madeira, marfim,
ouro ou outro material que servissem de suporte para a escrita. A segunda forma corresponde ao
rolo (rotulus) ou volumen, assim chamado porque o papiro ou o pergaminho de que era feito se
envolvia em torno de uma vareta cilíndrica de madeira ou de metal, e a terceira forma do livro é o
códice, que se constituiu na forma definitiva do livro. Todavia, é preciso atenção [...] com o
tempo a palavra códice chegou até nós como sinônimo de manuscrito, que não é de todo exata,
pois se todos os códices são manuscritos (isto é, escritos a mão), nem todos os manuscritos são
códices (por exemplo, não o são os rolos, que eram manuscritos, nem os documentos
eclesiásticos ou diplomáticos, as cartas etc.). (Matínez de Sousa, 1992: 49).
Miniatura
Pintura delicada que ilustra e decora as margens de um manuscrito ou de um livro; no início
significava a simples execução manual, a cores, de um sinal ou inicial com o minium (a cor
vermelha do óxido de chumbo), de onde deriva o termo miniaturista (Faria e Pericão, 1988: 227).
Missal
Livro litúrgico que contém os textos necessários (cantos, orações e leituras) para o sacerdote
celebrar o ritual da missa (Brown, 1994: 87).
Ofício Divino
Conjunto de orações (salmos, antífonas, hinos, leituras bíblicas etc.) organizadas pela Igreja
Católica para serem rezadas em determinadas horas do dia.Ver Liturgia das Horas.
(Falcão: Letra O).
Putto
Termo utilizado no campo das artes, que se refere a uma criança nua, geralmente do sexo
masculino, frequentemente representada com asas (Brown, 1994: 104).
Raiado
Operação prévia da escrita que consiste no traçado de linhas que servem de guia para o copista.
Essas linhas podem ser feitas com ponta seca ou mediante a utilização de substância cromática.
(Ruiz García, 1988: 387).
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Reclamo
Chamada da primeira palavra de um caderno no pé da última página do caderno precedente,
usada para facilitar a ordenação dos cadernos de um livro pelo encadernador.
(Faria e Pericão, 1988: 293).
Recto
Frente de uma folha de pergaminho ou papel; nos livros é sempre constituído pela página ímpar,
ou seja, a que fica à direita, uma vez aberto o livro. Abreviatura r (Faria e Pericão, 1988: 293).
Rubrica
Título, título corrente, título de capitulo ou outros ornamentos traçados à mão em tinta de cor,
geralmente em vermelho, num manuscrito ou incunábulo (Faria e Pericão, 1988: 306).
Saltério
Livro litúrgico que contém o conjunto dos Salmos (Falcão: Letra S).
Santoral
Livro onde são registradas as celebrações das festas em honra dos santos, com exceção daquelas
entre 24 de dezembro e 13 de janeiro, que são conhecidas como o Próprio dos Santos.
(Brown, 1994: 113).
Scriptoria (plural), scriptorium
Era o lugar onde trabalhava o copista medieval, individual ou coletivamente (Ruiz García, 1988:
389).
Super libris
Marca de propriedade estampada na encadernação de um livro (Ruiz García, 1988: 390).
Verso
Face inferior ou interna num fólio, em oposição ao recto. É a parte que fica à esquerda de quem
lê. Abreviatura v (Ruiz García, 1988: 391).
Vinheta
Na origem, era o ornamento formado de folhas de videira que decorava os manuscritos;
atualmente são pequenas ilustrações gravadas, impressas no alto da página ou intercalando o
texto, prestando-se a inúmeras combinações (Faria e Pericão, 1988: 337).