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PLANETÁRIO
Sobre o livro de Pascal Bernardin, L’Empire écologique
A síntese dialética
Solve et coagula, dizem os iniciados para resumir sua
estratégia: eles começam por destruir tudo o que lhes constitui
obstáculo, em seguida passam a uma fase construtiva, não para
restaurar o que abateram (mesmo se as aparências levam a crer
nisso), mas para construir algo de radicalmente diferente. É esse
movimento que Hegel sistematizou sob o nome de dialética: a tese
é o que os iniciados querem destruir, a antítese são os meios
utilizados para esse fim e a síntese é a nova construção
estabelecida sobre as ruínas da antiga — construção que aliás é
sempre provisória, pois o movimento da dialética não pode parar
jamais. Com efeito, a Revolução é incapaz de atingir um estado de
equilíbrio durável, de tanto que viola a natureza humana: seu
triunfo quase absoluto, que chegará no fim dos tempos, será muito
breve.
Bernardin dá-nos uma boa análise da atual síntese dialética
destinada a alcançar uma falsa paz universal que não será senão
uma ditadura assustadora: "A sociedade ainda cristã, tal como
existia antes dos movimentos revolucionários, se organizava em
torno de um princípio transcendente que lhe dava sua unidade
tanto ‘nacional’ quanto ‘internacional’, se remontarmos à época
em que toda a cristandade reconhecia a autoridade suprema do
Papa. A luta das classes, aí, não era senão, no máximo, um
elemento secundário. Vieram em seguida os movimentos
revolucionários, culminando com o comunismo que exacerbou o
antagonismo de classes no interior das nações e dividiu o mundo
em dois blocos inimigos. Ele forneceu a antítese, uma sociedade
atéia e fragmentada na qual, em vez de procurar melhorar
verdadeiramente a condição operária, se eliminou a burguesia ou
pelo menos se alimentou o ódio em relação a ela. A síntese desses
dois momentos é a perestroika (e o mundialismo) que,
renunciando a à luta de classes para tender na direção de um
‘Estado de todo o povo’, quer recriar uma sociedade unificada,
interiormente e exteriormente, tanto no nível nacional quanto na
escala internacional. Mas, a meio caminho, no curso desse
processo dialético, perderam-se a cristandade e Deus... Temos aqui
um exemplo típico daquilo que se deve chamar, malgrado todos os
legítimos argumentos teológicos opostos, a dialética do bem e do
mal. Uma situação má, no caso a divisão das sociedades e do
planeta, é provocada pelos revolucionários (antítese). As tensões
nacionais e internacionais que ela engendra clamam por um
retorno ao bem, à unidade social e ao apaziguamento dos conflitos
internacionais. Mas a síntese proposta sob o disfarce de retorno à
normalidade, e que busca efetivamente voltar à unidade social,
não é de maneira alguma semelhante à situação inicial: o
mundialismo e o ‘Estado de todo o povo’ não são senão a forma
mais completa e acabada do totalitarismo integral. Trocou-se a
unidade social pelo totalitarismo, a unidade pela totalidade" (12).
Esse totalitarismo tem por objetivo despojar o homem de sua
dignidade de criatura de Deus e torná-lo pura e simplesmente um
animal:
"Desembaraçadas dos últimos resíduos de cristianismo as
mentalidades, será então possível voltar ao culto da Terra — sob
uma forma modernizada, naturalmente. A ecologia se tornará o
princípio organizador da futura civilização, sobre o qual se
edificará a espiritualidade global, pura negação da graça e do
sobrenatural cristão, retorno ao eterno naturalismo, ao paganismo.
Pois, uma vez efetuada essa mudança de paradigma, uma vez
decaído o homem de sua dignidade de ente criado e desejado pelo
próprio Deus, o indivíduo necessariamente desaparece por trás da
coletividade, cujo assentamento ecológico é o que mais importa
conservar: a Terra, então elevada ao nível de Deusa-mãe. As
conseqüências desse rebaixamento então se desdobram,
inelutáveis: totalitarismo, eutanásia, eugenismo, aborto, etc. A
oposição dos ecologistas não poderá impedir que o homem,
rebaixado ao nível dos animais, sofra também ele manipulações
genéticas e clonagem" (13).
Dada a importância da obra, voltaremos a falar de L’Empire
écologique, mas desde já podemos dizer aos leitores que, se
tiverem de comprar não mais de um livro em 1999, será preciso
absolutamente que seja esse. A obra de Bernardin, pela sua
amplitude, ultrapassa em medida bem vasta os assuntos que
citamos; seu conjunto constitui uma admirável demonstração,
magistralmente sustentada, do objetivo que o autor se propôs:
"descrever a etapa atual da Revolução, que deve desembocar na
edificação do Império ecológico, da Cidade terrestre; e mostrar
como esta, querendo se elevar até o céu, busca realizar neste
mundo a Cidade celeste" (14). Nós, cristãos, bem sabemos que é
impossível restabelecer o paraíso terrestre, mas que, em
contrapartida, o inferno terrestre é sempre, e a qualquer momento,
perfeitamente realizável. Que Deus, em Sua misericórdia, se digne
de nos poupar essa provação, ou pelo menos de encurtá-la o mais
possível!
Ch. Lagrave
NOTAS
1.O autor refere-se à coluna "Réflexions sur la Politique"
que escreve mensalmente em Lectures Françaises. [N. do T.]
2.Pascal Bernardin, L’Empire écologique, p. 8.
3.Id., p. 9.
4.Ibid., p. 69.
5.Ibid., pp. 54-55.
6."Os deuses dos pagãos são demônios", escrevia São
Paulo.
7.A palavra paradigma é aqui tomada no sentido de
"maneira habitual de ver as coisas".
8.Holístico ou holista é adaptação de uma palavra inglesa
que significa global. O princípio holista implica
especialmente a unidade dos contraditórios, o que destrói o
fundamento mesmo de todo pensamento lógico. Aplicado à
sociedade, esse princípio nega o indivíduo e não leva em
consideração senão a comunidade, tal como numa
formigueira ou cupinzeiro.
9.Ibid., p. 12.
10.Cit. ibid., p. 62.
11.Ibid., p. 61.
12.Ibid., pp. 63-64.
13.Ibid., p. 573.
14.Ibid., p. 570.