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A INVENÇÃO DO PATRIMÔNIO URBANO

Haussmann, que em sua época teve tantos inimigos como ~inda hoje os tem, refutava
a acusação de vandalismo que lhe diriigiam alguns amantes da velha Paris: "Mas, boa
gente, que' do fundo de suas biblíotecas parece nada ter visto [do estado de
insalubriidade chi antiga Paris e da metamorfose que se fez], cite pelo menos um
moiltiment0an~igo digno de interesse, um edifício precioso para a arte, curioso por
,suas lembranças, que minha administração tenha destruído, ou de que ela se tenha
ocupado senão para desobstruííto e dar-lhe o maior valor é a mais bela perspectiva
possível" . O barão tinha boa-fé e a ele devemos efetivamente a conservação
,de'numerosos edifícios que, como Saint~Germain-I'Auxerrois, esstavam fadados à
demolição~ Nesse sentido, esse burguês esclareecidó era bem o conúmporâneo de
Mérimée, com quem, aliás/ ele se encontrava no palácio do imperador. Destruiu,
contudo, em nome da higiene, do trânsito e até da estética, partes inteiras da malha
urbana de Paris. Mas também aí ele era homem de seu tempo: a maioria daqueles
que à época defendiarn:, na França,' os monumentos do passado com a maior
convicção e energia concordavam também sobre a necessidade de uma
modernização radical das cidades antigas e de sua malha urbana. 'Assim, Guilhermy
publica, em a855, um Itútéraire ar;htologique efe Pari.s, no qual faz um inventário
minucioso de todos os monumentos individuais que considera ameaçados pelos
novos tempos, sem s~ preocuparininirriamente com os conjuntos e a malha urbana
em si. Théophile Ga~tier, que no mesmo ano prefacia o livro de E. Fournier sobre' a
velha Paris, não pode se impedir de saudar o desaparecimento des~á Paris demolida
como um progresso: "A Paris moderna seria impossível na Paris de ouutrora ( ... ). A
civilização abre largas avenidas no negro labirintod~s ,:. ruelas, das encruzilha das,
das ruas sem saída'da cidade velhaj ela derruba as casas como o pioneiro da
~América derrubava as árvores (. .. ). As muralhas apodrecidas desmoronam para
fazer surgir de seus esco~bros habitações, dignas do homem, nas quais a saúde
entra com o are ó pensamento sereno com a luz do Sol". Para Ha~ssmann, assim
como pa~a Gautier e para o conjunto das boas . almas'-francesas da época, a cidade
não existe comôobjeto patriimonial autônomo. Os velhos quarteirões, ele só os vê
como obstááculos à salubridade, ao trânsito, ã contemplação dos mantimentos' .
do~passado, que é preciso clesobstruir. O próprio Victor Hugo, o poeta da Paris
medieval; que eSScarneceu cruelmente dos largos espaços haussmannianos e da
monotonia das novas avenidas da capital, nunca critica' em seus artigos ou em suas
intervenções' na Comissão dos Monumentos Históricos a transformação geral da
malha das velhas 'cidades. Como o colega Montalemb~rt, ele se limita, se for o 'caso,
a proopor algum desvio das vias projetadoas, a fim de poupar não a cohtiin4idade do.
conjunto urbano, mas de um monumento: '~sim, em Dinan, numa cidadezinha da
Bretanha onde talvez não passem vinnte veículos por dia, para alargar uma rua das
menos movimentadas, não destruíram a bela f~chada do asilo é de. sua igreja, um
dos monumentos mais curiosos dessa região? (.,..) EmDijon,a Igreja S.aint-J ean foí
mutilada de forma v:ergonhosa: eliminaram nada menos que o coro, como o galho de
uma áryore inútil, e uma pareede que t,me os dois transeptos. separa a nave da·rua
por onde passam os veículos. Só se age assim com os monumentos públicos e
sobretudo os religiosos - a situação seria muito diferente se se tratasse de interesses
privados. O fato de que as casas vizinhas atraapalham tanto ou mais a via ,pública
éum mal que se tolera ( ... ). Em Paris, aprovamos de todo o-coração as novas ruas
da Cité,' mas sem admitir a necessidade absoluta, de destruir o que restava das
antigas igrejas de Saint-Landry e deSaint-Pierré-aux-Boeufs, cujos ~omes se
relacionam aos primeiros dias da história da capiital; e se o prolongamento da rua
Racine chegasse um pouco mais à direita ou à esquerda, de modo que não resultasse
numaJinha absolutamente ret<;L _do Odéon à rua La Harpe, parece-nos que
constituiria uma compensação suficiente a conservação da precioosa igreja de São
Cosme, que, apesar de conspurcada por seu uso moderno, nem por isso,deixa de ser
a única com sua idadé e seu' estilo em Paris"·. Balzac sintetiza -beIl1,uin
séntimentoi~plícito na França'em sua época quando descreve a sobrevivência de
Guérande como . um anacronismo e quando prevê que as cidades ántigas, condena-'
das pela -história, só serão conservadas na "iconografia literária"'. Não' se pode negar
que a 'maioria dos românticos franceses se traumatizou com a atuação dos
"alargadores"*e viu, com nostalgia o desapàrecimento das cidades antigas de que
celebrávam o encan- tcye a beleza. Em compensação - e isto para a história das
mentaalidades é um ponto essencial -, não há dúvidas de que para eles, no caso, não
se tratava de um patrimônio específico, que pu4esse ser conservado da mesrria forma
que um monumento histórico.

Por razões que se prendem a tradições culturais profundas! essa atitude devia se
manter por muito tempo na França, onde na vl2rdade,ai'nda não desapareceu.
Contudo, a noção de patrimônio urbano histórico, acompanhada 4e um projeto de
conservação, nasceu na, própria época de Haussmanp, mas, como já vimos,na Grã -
Bretanha, sob a pena de Ruskin. Em seguida;ela conheceu uma evolução e um
desenvolvimento,dif~ceis, cujas modalidades

merecem ser analisadas., . t

, , Por que e~sa distândádequatrocentos anos ent,re a invenção do monumento


histórico e a dá cidade histórica? Porque esta última teve que esperar tanto tempo
para ser pensada como um objeto de
conservação por inteiro, e não redutível à 'soma de 'seus monumenntos? Numerosos
fàtores contribuíram para retardar de utJ;lasó'vez a . objetivação e a inserção do
espaço urbano ,numa perspectiva históriica: de um lado, sua escala, sua
complexidade, a longa duração~de uma_mentalidade que identiB.cava~a cidade a um
nõme, a uma comuunidade, a uma genealogia, a uma história de certo modo pessoal,
mas que ~ra indiferente ao seu'éspaço;de outro, a ausência, antes do início do século
XIX, de cadastros e dõcumentos cartográficos confi~veis', a dificuldade de descobrir
arqtii~os relativos aos modos de'produução e às tràflsforma&ões do espaço urbano ao
longo do tempo.:

Até o século XIX, inclusive, as monografias eruditas que desscrevem as cidades só


falam de seu espaço por inte~médio.dos moonumentos} símbolos'cuja importância
vã'ria seg~uido os autorés e . os séculos. Quanto~aos estudos históricos, até a
segunda metad~ do século, XIX, eles se preocuparam com a' cidade do ponto de vista
. de suas.instituições jurídicas, políticas e religiosas} de suasestruuturas
econômic~s<e sociais; o espaço é o grande ausepte. Fustel de Coulanges trata da -
Cidade antiga (1864) sem ja~áis evocar os lugares e os edifícios inseparáveis das
instituições jurídicas e.religiosas na . Grécia' e e~ Roma. H. Pirenne não é mais
eloqüente 'em . Les Villes du Moxen Age (1939), sua o15t:a maior sobre as origens
econÔmiCas do fenômeno urban,o no Ocidente. De SUâ parte, a,hisstória
da.arquiteturaignora a,cidade. Sitte nota, de forma pertinente, em 1889: "Nem mesmo
nossa história da arte, que trata dos vestígios mais insignificantes reservou um lugar,
mínimo que fosse, à construção das cidades"'. Entre a Segunda Guerra Mundial e a
década de 1980, ainda se podem contar os historiadores e os historiadores da arte
que trabalharam a propósito do espaço urbano'. Hoje, assiste-se no ,entanto,a ~~
florescimento de trabalhos ,sobre li morfologia dás ciqadê~ pré-in4ustriais~Ç': das
aglomerações da era Industrial. Esse movimento foi impulsionado ,pelos estados
urbanos de,que devemos ressaltar: o papel que ",desempenharam ina' gênese de
uma v(mjadeira ,história 'dp esp,áço urbano.

A conversão da cidade material em objeto de conhecimento histórico foi motivada pela


transformação do espaço urbano que se seguiu à revolução industrial: 'perturbação
traumatiaca çio meio tradicional, emergêncifl de' outras ~scalas viárias e parcelares.
,É" então, pelo e~eito' cíà~diferençae,'c9nfor~e,a'expres~ão de Pugin,' por
contfasté,~que a cidade ántiga se tonta objeto de investigação'. Os primei ros-a
cOhsiC;letá-lá.efn perspediv~",históri'Ca, e.aestudá-Ia segundo os mesmos éritérios
qúe as fóqnações urbanas -contem.::. porâneas, ~ãó' o~ fundadores '( arciuit~to~, e
enge'nhei~os} da nova djsciplinal, à qUÇlI Cerd~, dá o nome de urbanismo. O mesmo
auu,tor propõe a primeira'história geral,e estrutural da cidade",. r:-Contrapor "as
cidé,ldes do passildo à cidad~d~ presente nãoJ" significa, no entanto, querer
'conservar as primeiras;o-Ahistória das ' doutrinas dó urbanismo e de suªsaplicações
concretas não se confunde, de modó algtiID,com a inven,çãodo patrimônio:,urbano
histórico' ede sua pr6teçã,0.As dua~a\renturas são todavia solidárias. Quer o
urbanismo se empenhasse em destruir os conjuntos lJrb~rtos antigos, quer
prbcurasse preservá-ios, foi justaínehie tomando-se um obstâ- ( i' culó'ao livre,
~esqobramento de novás modaJjdades de organização :-'do espaço~urb~no que' as
formações án.tigaS'adquiriram sua identi'" _ dade conceituai. A noção de'patrimônio
urbano histórico constituiu- se na contramã,o do processo de urbanização domipante.
Ela é o resul:. tado de uma dialética da históría e da historicidade que se processa
""entre três .figuras (ou abordagens)' sucessivas da ciclãde Flntiga. Cha", .'m~ei
essasfigura,srespectivamentede memorial{ histórica e historial. ' - A figura memorial A
primeira figura aparece na Inglaterra, saída d~ pena .de _, Ruskin. Já no-começo da
década' de 1860, exatamente na época . em que têm início as '''grandes obras de
Paris", o poeta de Pedras de 1feneza insurge-se.e alerta a opinião pÓblicacontra as
intervenções que lesam a estrutura das cidades antigas, istQ é, sua malha. Para ele,
essa textura é a e~sência da cidade, de q~e ela faz um objeto patrimonial intangível,
que deve ser protegido incondicionalmente,. Ruskin é levado a essa tOÍnad~
deposição pelo ~alor e pelo' papel que atribui à arquitetura doméstica, ·constitutiva da
malha urbana~. São a contigüidade e a continuidade de suas habitações modestas, à
beira de seus canais e desuas ruas, que tornam Veneza,' Florença, Rouen:e Oxfordtl
irredutí\)eisà soma de seus grandes edifícios religiosos e civis, de seus palácios e
colégios, e fazem desses conjuntos urbanos entidades específicas. ,.., ' '. .,'A cidade
antiga consideráda como um tódo parece, pois, di::semmpenhar, no caso, o papel de
monumento hist<?tico. Tr~ta-se, poré~, de úrtl.a ilusão; e o próprio Ruskin fornece os
meios para corrigi-Ia pQr comp-aração. Com efeito, em The Seven Lamps of
Architecture, que tratada Çlrquitetura, e não da cidade, o monumento 1}istórico
funciona quase. como um. atttêntico monumento. il).tencional: Por um lado, ele
desempenha imediatamente, no' presente, um papel memorial graças ao valor de
reverência de que~ investidojpor ou- tro, ;ubsist~ a/distân~ia ~ue, desde a
Renascença, aptenderriQs ai, estabéleeer ~'m relação às an.tigUidad~s. Qra,
"quasec0mo" não. se l' aplica a9 caso da:-cidade antiga: qúe é umj",erdadeiro
monumento, Y r \. Se~ ch~g~r á formúlá-la de modo1explítito, Ruskin fllZ úma , .
descoberta que nossa epoç~aipda hoj~continu~a redescobrir. Aô' " -longo dos ~éculbs
¼"daséivilizaçÕ'es, sem que aqueles.que a consstruíam ou nela viviam.tivessé;m
intenção ou consciência} á cidade desempen~o~ o papel memorial dé·triôin~ume~tQ:
Qbjeto'parado- : ~ªlmente não 'elevado à esse flm,e que, como tôdas asaldeia$ anti-'
gas e tódos0s_est,!belecirri\~iü~()s coletiv~s ~radicion~is do mundCr, pbssuíai é'm um
grllu'mais ou 'IDenós restrito, o duplo e maravilho~ s6 podei' de enraizar seus
habitantes no espaço e no tempo·. ' \ Essa' descoberta insigne; Ruski,n :I1ãoéhega:a
cóloéá-la numa perspectiva his~óricá. Para el~ésacrilégi()! tocar nas cidades da era
pré~ipd~strial; nós devémo~ çontinuar a' h~9i~á-las, e habitá-l~s como' nop'assado:
Elas saq as garantia~ de'nossa identidade, pes-! ". soal, local/nacional, humaná.
Ele'sé tecusa a 'compactuar com a)' ~ transformação ao espaço urbano 'q4e está em
vias dé se realizar, 'não admite 'qúe ela seja llIl1a exig'ência dã tfansfortIi~ção da
sü'cie-7 dade ocidental e~que essa sociedade técnica persig~ de 'um projeto inscrito
em seu passad().Querendo 'Viver á cidade:histórica no preesente,\ Ruskin na
vé:rdàde a encerra no'"'passadCj e perde de vista"a} _, tid'ade historIa't:l, que está
engajadarlO devír â1!- historicidade. ; . . , ~ Cegueira?\Seria antes moralismó
impenitente e'apaixonado, que leva a difiéuldades insolÚveis. Ele se encont~~,
apr.ápria reveelia, num mundo dé dtJas'velocidade~ úlois tipos de 'cidades. Aque --'
Ias/que ele ama e citá com maisJreqüência, em geral qua~e intactas. e de di,mensões
r@dúzidas,mantêIl!:-se próprias ao exercício d;a:' memória e da reverência, sem 'que
de resto sejamespecificadàs e discriminadas as çoildições re9pectivas daqueles que
às habitam e . , dos que apenas passam por elas. As outraf' as metrópoles ~9\século
XIX, com suas vastas avenidas "copiadas dos Champs-Elysées", seus hotéis, seús
ed;ifícios de eséritódos' e seus conjuntos habitaacionais, parecem~lhe como um
fenômeno qt,1e não tem hlgar nas (tradições e orEiem urbanas: seu lugar natural é(o
novo mundo sem memória, os Estados Unidos ou a Austrál,iaili, Em muitos aspectos',
especialmente quando prevê a estandar- . dizaçã() planetária, das grandes cidades,
Ruskin revela uma sensJJbilidade d~ visionário. A causa que defende, porém, e ~ue
com ele e depois dele William Morris haverá de defender, não é, no sentido próprio, a
da conservação 4e cidade e de GQnjl\ntos históóricos. Os dois combatem pela vida e
sObrevivência da.cidade ociidental pré-industrial. A,figura histórica: papel
~ropedêutico . A segunda figurà encontra uma expres~ãoprivilegiada na obra clã
arquiteto/e historiador vienense Càmillo Sitte (1843-1903) ,A cidade pré-industrial
apareçe então como 'um objeto pertencente ao passado, e a historicidade do
prOcesso' de urbanização que transsforma a cidade contemporânea é assumida em
toda a sua extennsão e positiyidade. Es~a visão é, pois, absolutamente G:ontrária à
de Rus.kin, e também à de Háussmann: a cidade antiga, tornada'obbsoleta pe,lo
devir, da soéiedade industrial, nem por isso dei:ca de ser reconhecida e constituída
em uma figura histórica original, que requer refle(C~o. \ Em 1889,Sitte desenvolvia
estas idéias em uma obra que . logo ficou famosa e posteriormente sofreu ·éonstantes
clistorções em razão de leituras tendenciosas: Der Stadtebau nach seinen
,ki:i.nstlerischen Grundsatzen, traduzidQ para o francês com o títulO' já ~nianoso de
L:Art de constr'flire les villes [A arte de construir as .' cidad~sl -.Em noIÍle da dout;i~a
dos CIAM, S. Giedíon e Le. Corbusier fizeram 'de -Sitte á enca'rnação do passadismo
mai'S're- trógradoAl, o apóstolo' da tdlha dos bl.u:roslB, o inimigo declar\ido do
urbariismo moderno. Contra a doutrinq dos ÇIAM, havia quin~ .ze anos o Stadtebau
c8nst~'i:uíá o livro cuja autoridade endossava , . .. - . . ( todos os pastiches e variações
-diver'sas sobre O tema da,cidélde r~déscobe:rta.' As duas ~pteciações opostas
baseiam-se no mesmo --? /contra~senso que fez do Stadtebau uma obra dogmática
de passa~ " , di~tasí quando na verdack ela trata dos'-prob~emasda cidade pre-)
isente e futura, em relação à qual a ciqadê yelha possui a dignidade de objeto
hislódt:o nq pléno sentido do termo., ); )'- \ Q livro qe Sitte origina-se de, uma
co~statação limitada e' precisa: i feiúra da cidade contemporânea ou, antés, sua
carência ,\ de quàlidade estética. Não se trata'"absolutamentede uma qmdeenação
gerale"mora,l ~a civ·ilização contemporânea, c6mo no caso de Ruskin. Ao contrário,
essa crítica faz-se acompanhat: de uma tomada Cle c'onsciência aguda das
dimensõés técn:kas,econõmicas e sociais da transformação . operada pela sociedade
indústrial e dá . nece~sária transfon~aç~b espadal que ela implicà. Q' progresso
técnico inodela nosso mundo ->- ele confere' ao espaço urbano j , , construídç uma
extensão e uma esca~a Stm Rrecedentes' ~ lhe. a,trh ' bui novas fun'ções, entre as
'quais o prazer-estéticopareée não tel" mais lugar. « SãQ, ,antes de tudo, as
dimensões gigantescas' assumiidàs pqr nossas gran,des cidades que ~ompem, por
toda parte, o . limite çla~ formas artísticas antigas C .. ;); o rtrbanista, da me:sma
forma-que o arquiteto, deve elaborar uma ,escala de iiltervenção 1l1ent~r sua
pesquisa num trabalho l~istórjco. Corri efeito, a Jn~lise rilClonal dos grandes Slstcrnas
ar~uiLelCJlliu)s du iJ,bs<ldu (gregu, . romano, rom<1nico, gótico, ete.) permite
descobrir neles "esses !)rincí,;ios imut~veis lj,uc ccmtim;anl vcrcGdciros ao 1.ongo dos
see"':1"<: (l. I <':inJI :lr1iC:lcl<\<.; (11, m;ltH;ira c1iv(-;r.~a por civ.il'izaçôes di-
ferente.s"JiOI, e ';IJuci;1f-nos-50 a elaborar unI novu .~islell;é:l a p,uti-r das condiçôes
históricas novas, que são as nossas. N:l '.'crd:lcie, o níclonailc;mo comum a,Viollet -ie-
1Juc l~~j~")lllt:: faz parte de um pJrentesco proh.111dó, mas' ignorado pelo conJunntô
Jus 11j~Lbl jad.ule~;l~, ·4~\.~ ligOd \.J~ J0i~ dut()I"cG, c()n~ urna gcrJç3:(~ de
distâ,nciil, e pCrInitc explicar l'lll"l,pelo ;uLro. Asobr,ls E)ltmtiells SUl' l'arr.hitectw;e e o
Stéidtebau - um,1 pela arqJlit'etur~, a outra pelo urbanismo como 'arte __ o
prop6é;11-~e \denticanl~nlt:~ pnlllJc ~ rar os caminhos de Url1a criação
contemporânea que corresponda . . . 'às e~igências originais de uma civilização
avassalada por uma çom- pleta transformação técnica, e.conôn1ica e social. As duas
obras são organizadas segu;1do a me/'ma oposição binâria entre um passsado
consumado e um presente elTI gestação, pensam e esboçam . essã rupturahistórica
cóm a mesma dolorosa' acuidade e no mes- IT10 hOrizonte urb<Jno, Viollct-Jc·Duc
não ficouconfin<Jdo ao canllpu lla <HCjuit"duld, N,IIllCdidd ,:1'1 ciuC fll,lnçd a
di::;:;ociJ'do ~;cu cóntcxto meí1tal, soci<JI e técnico, a cidade niio pode ser estranha
;l_<;uas rrcocupaçôcs, Ele tamhém a aborda segúndo uma perspecctiY;l Illnrfo\ól'ica,
c l~nc:ontr~~m-sc até:~' no gr()sso,vol-l1n~cdos Entre" liens, sutt'ssj\~,jS análises
que, eJn Ulna v\ntena de páginas, CVOUllll a maioria dos temas21i d&senvolvidos no
Stâdtebáu vinte' anos çJe·, pnis"l'ornando'(linc!a maIs lecunda a cUlliruíila,:au Jus JUl -
i Lt:~t,)~, Antes de voltar aó pr9bleli1a urhano,.é prccisodes.de j<í régis-' t ,',,,' ',,,,',
'"'C''' 1"1'";'''1,,1;':10"''' 11;çf'",.;":',., ,,'io (, l',,"ntn c'lp cJl'f'jcll1d'1c!r', o tco'ricas e
COI\)Cl ôs c1ois'mlton's clidll,tc de Un);1 nnv;t'antinorni;l"" a da arte e da razão. Cori1,
efeito, eles reconhecem qut~ a c'riJçàu artística deriva' do cque, Íla falta de um t.ermu
Inais 'apropriad'l, ambos' chamarn de insti11to27, Seu livre desenv61vi~eílto caracte·
~ 'rizava um estado de sociedade cujo modelo é dado pelo da cidade ~grega, É esse
insti;lto ou &sejo de arte, sufocado e talvez perdido por nossa sociedade técnica, qúe
a análise racionaLpretende subsstituir. Mas corno pode a permanente consciência de
si} inerente à nossa época e à nossa civilização'} preteí1der substituir a inocência
artística que ela!) perderam? A questão torna-se'ainda maisperti- " nente ao se
consíder~r que as análises hegelianas da bela totalidaadehelênica não são estranhas
r{em a Viollet-Ie-Duc, nem a Sitte, ,e qtie este ítltimo retomou as teorias de Piedlú-
sobre a especifi- -.. - . cidadecda criação artística e sobr~ <: f-ª-to de qqe 'a história da
a~te não poderia vir ,em SU;l aju<;lal'l~ "- \Não d.eve causar estranheza, pois} que
Sitte reconh%a o , arNfidalismo das estruturas, urbanas constníídas segundo as
reegras e os' pr,incfpios depreendiâos da análise racional das formas históricas: Ele
confessa: "Pode-se deliberaçlamente imaginar: ~ consstruir no papel formas que ~s
acasos da história produzira~ ao longo dos século~s? Seria realmente possível
recorrer a essa ino-; cência dis~imulada, a esse natural artifiCial? Certamente não. As
- serenas alegrias da infância são negadas a uma época que não cons'', tr<?i mais de
forma esp.ontânea"itI, Vio1let-Ie-puc MO é menos -.. sensível ao' caráter aleatório do
método que preconlza. Ele~nã~ " exClui completamente ,a hipót~se de um
d~saparecirhento da arte , arquitetÕnica e 'não tem nenhuma'ilusão quanto aos
efeitos jniibidores daconsciêntia de sie d9 peso da memóriâ históriça que ela carrega.
. . , Apesar da lucidez dos dois autores, ambos récusam-sea aban- ' donar tod~
aespe{ança no sucesso' de se~ método heurístico.O I. pessimismo de determinadas
passagens, não os impede de procuurar outr:as saídas para sua postura racional ~ de
agir como se ela pudesse'trazer um novo hausto ao espírito. Nem úin nem outro,
renunciam a seu projeto~. Mas, diferentemente de Sitte, Viollet-' l'e-Duc ori,enta-se
em direção a uma/solução qué o instala mais

, solidamente na gran~e subversão da erâ)ndustrial. Após teOr aberri topara si 'uma


estrada real entre os sedimentos da memória hi'stó- , rica, ele envereda; quase
sub:iepticiamente, pelo camihho estr~ito, escarpado e árduo do esquecimento. A
descobertá da "a~quitetu-' ra dQJutu~c/· passa por e;se dúplo' ericaminhaJriento: o
r~ciona- lismo histó.rkp que mostra com clareza §l"sucessãp~do,s sisttmas<
",arquítetânicosiexigeem s,eguida o-esquecimento;ae st;tas particu- ( laridides~ e
talvez~lindàmais.Talé o itinerário, Jeito em pontillíav' ,do; npfim d9 'terceiro "Entretien".
A passagem s,urpreendents;: em'que Viollet-Ie-Duc faz o'pesadp invent~rio das
realizações da " memória hihórica terminfl com -uma, ~p~logia" do esq~~ciinento: " "A
todos aqueles qúe nQsdizem hoje 'Tómem uma arfê nova que , s~jà de
nOSS9}J~tnPo', nós' respondemos 'Façam que. esqueçá'Dt0s ?esseenorme
acúmulode conhecimento ede críticai' dêem-nos instituíçõ~s ,rhonolíti~as, cost).1mes
egQstos ~u~nã-~, ~e ligúem ao passádd ( .. }. Façam que possamos .esquecertudo 6
qué foi fdtó_ ,: a~tes de nós. T~re_mos, enfãó,!J.ma arte nov§le faren;rôs (, qt1e'ja-=
mais' se,yiui"porql.le. ~e p~ra o homem é .difícil aprena~r, é muit? . máis.
difícilesquécer"'''. verdaôe des,se pessimismo se revelá numa nota do oitavo'
"Entr:etieri" sobre 'Les Halles oCentrales, ' co~struído; por Baltard" em Paris-o Po's.é
justamente o ~f~ito b,eenigl}q çfeumtal esquecimento das referências aceitas, dos
esque; mas,histórieo~ consagrados, das ab0rdagél1s teórieas transmitidas por
uma.ira"dição secular' que Ví'Olle,t-Ie-Duc crê vislumbrar'ness~ _ - ediFício, cuja
vigorosa b~le-zaele~contrapõe'à insipide"z das produ~\ çõ~s acadêmieas!bB. Para'
BaI1:ard, obrigado a inovar'sob' a preSSãOl: c0rttbtnada'deNapoleão tIl e
Háuss,mann~1 tratáva-se,apenas Ae .' um esquecimento circunstapeiál e nãp
metódic6. Nem por isso ele deixa de' ilpstdlr '0 papel istétieo que ~ssa: prátiCa teria,'
se .as~úmid~dê fórma\deiibera~a. A co~cepçã,o de tim.à tal pr;ope- ' dêutiell,
ig{jalmente aplicável ao urb~nismo, marca uma et~pa na , ,teorização das disciplinas
do espaçq-: Articul'açl:a a tim racionalismo ,. I "'histórico, que con~tituisuai:ond lção
prévia':'e 'neées~ária, el~ nãg/' '-dey~ ser c~llfundida C9m um aistoricisn:lO I
p~ecqhiza-flo pélqs' eIAM e pelos arquit~tos do ri;~)Vimehto moderno. Este~ negam 'a
u't'ilidade - da história das formás 'e érêe"tn em começos absolutos. A proposta ' de
Viollét-le~D,~c ~conse~va à, histori9grafià um'·papeL,fundaddr, mas desmis!i~icado e
libe'rtadõ de tod? dogmatismo. Alémdi~o, ela permjtenão, mais dissodar o ptoblema
da beleza, em, atquité- . tura, das 'q~estÕes catacadas pela solide'z,e pê.Ià
c()modidaqe~.: . Que repeí'eussao tiveram:essas idétás na concepção qúeViollét - .
le:.Dl'1c tinha da cidade do fu~ur9? A resposta é prova'Zelmente( dada pela 'rapide,?:
com a qual tràt~ do tema que o~upatod~ a pbra de Sitte:para ele, a '1l1utação,quea
arquitetura ainda está por soofrer já ac(máceu,~mac1dad.e. Inst~Ufou-se um novo
espaço~·c~.tja, escala>inc.oinpatfvel coma dos conjuntos ~tigos, nãó apenas ,lm - 'I
'pede· que sàbrevivám, mas bane deles a arte, tal como se ela mani - .. f~stou,no
curso da história urban~.Viollet-le-Duc não conside;a o su~gi~ento de uma arte em'
outra escalaj como' o imagial;lva na ~. mesmà, ~póca outro. teórico' do esquecimellto
~éstético~. Einerson~.,· Ele taÍI?-bél11.nãoprevê acçmServaç?o das cidades
antjgas,'ffiàs ain-'.. , da assim cabe incluí-Io neste capítulo. Os. En~reiieris'ajudarn não
apenas a c~~preender melhor' a obra de Sitte. Por u~ lado, am- , pliam ao limite
extremo a noção de cidade histórica, por outro, sugerem uma propedêutiéa do
esquecimento: assim VioÍ1et~le-Duc \ trouxe apartes que tiveram papel decisivo na
construção da ter- ceira figura da,cidade antiga, / . Sittej por"" sua vez, ficou na
incerteza, Nenhum dos espaços urbanos concebidos segundo os princípios do
Stiidtebau poderia, , a seus olhos, encontrar na cidade modern'a àlgo'rnais do que a
hos- r pitalidade. pontual e pr/~ária que convém ao s~u statu~ simbólico de
dentilhões. ,,-' Do Stiidtebau fica uma única certeza com relação às cidades do
passad~: seu papel-acabou, sua beleza plástica permanece. Conservar os conju1)tos
urbanos. antigos como se conservam os . objetos de museu parece, pois, inscrever -se
na lógica das análises do Stiidtebau. Contudó, Sitte' não militou pela preserVação dos.
centros antigos. Ele só manifesta a preocupação de<'s~lvar, se ainnda houver tempo,
nossas velhas cidades da destruição quyas ame a- . ça cacla vez mais". ,em duas
ocasiões~' de forma rápida, ao 'longo de seu livro, que trata de problemas de outra
natureza. Outros que não ele desenvolveram a filosofia conservadora implícita em se u
trab.alho histórico' e crítico, atribuindo, assim, uma. função museál à ~idade ·antiga. A
figura hist~rica: papel museal A cidade a1)tiga, como figura mu~eal, aíneaçada de
desapare- . cimento, é concebida'como Um objeto raro, frágil, pr~çioso para a arte e
para a história ~ Glue, como as obras conserVadas nos mu- _ seus, deve ser
colocada fora do circuito da vida. Tornando-se histórica, ela'perde s~a historicidade.· .
Essa concepção de cidade histórica fora prep'arada por geraações de viajantes,
cientistas ou estetas. Os arqueólogos, que desscobria~ as ciqades morta,s da
Antigüidade, assim como ó's autores de "guias e de" cicerimí, que dividiam o mundp'
da ~rte ~urbpéi~ em " fatias urbanas, contribuír~m para que se pudesse pensar na
musei- ficação da cidade antiga." ' ~ Essa p~lavraruim não deixa de ser ambígua. A
cidade como entidade assimilável a um objeto de arte e comparável a uma_obra , , de
museu não deve ser confundida com a cidade-museu, contennci~ obras de arte. A
noção de cidade como obra de arte*, nascida na virada do século, é vaga demais para
englobar as duas acepções. Ela é, po'rém, no mais das vezes: caracterizada 'pelá
qualidade e pelo número38 de tesouros de ~rte, mo~urrfentos históricos com seu
cenário pintado e esculpido, museus e coleções que ela, à maaneira de um irnens"o
museu a céu àberto, encerra. Por isso, anoçap . . , çl:e cidade como obra de arte é
aplicável a categorias heterogêneas' J de cidades, capitais e de interior, gigantes e
minúsculas, transborrdantê~ de vida ou adormecidas, e muitas vezes sem que a
própria configuraçãó desse ~ontinente seja levada em consideração.' A cidade, Q
centro ou hairro urbanomuseais, tais como a aná- ( lise çle Sitte nos aponta, irlIpõem-
se, a~ contrário,~p'~r si mesmos, como totaHdadessingulares, i ndependentemente de
seus compo~ nentes.Paradig1l1a: a grande praça de Bruxelas é salvada haussman-
nização da, cidade ,'e preservada graças a seu burgQme~tre, Charles Buls4lil,
fervotosoadrriirãdor de Sitte. A propósito, Buls não ,se li,,mita a conservar, ele
restaura a praça histórica e reconstjtui as, partes que faltamtlll ‡ A abordagem tem um
sentido contrário ao d~ conservação reverencial de Ruskin. O historicismo de
Viollet·le-' Duc marCa a conservação museal da grande 'praça da mesma for- "m? que
haverá de inspirar a de· numerosos ce,ntro$ o'u\'fragrnentos "- urbanos,antigos na
Europ~ ocidental. . . . , ‡ 1). metáforá do objeto museal continua, porém, sendo apro- ,
ximadva. As cidades antigas não podem ser colocadas numa " redoma, Como Viollet -
le-Quc dizia"gracej'ando, ser o ,desejo ínéon~essado do~ h~bitantes'cie
Nurembergue. Com ~feito, ~oirto se 'poderia éetivaIhent~ c6~servar'e isolar
fragmentos urbanos, a , merfos que fossem priv~dos de seu',tfso.~ ele seus
habitantes? CO~() re~la~eríta.r o seu peréurso ou a visita museal? O pro~lemf! co~ -

meça a se ,delInear. El~ só seráformulad6 ,em termos êxplíCit.os e .jurídi~os depois


da Segunda Guerra M)lndiaL; J,~ -, ,/' ‡ , > " NO'cur~o das primei!à~ décádas do
~éculo xx, COt;l.tudo;'á figuurae a cQnsei;Vação tnúseais:;tdquir.em uma dimensão
nova, etnolôgica, ,'por,oéasião da experiência çolóniat Quando Lyáutey, forte -rrtent.e
,infl~enciado pélo hemplo.inglês na Índia,'empreende a u~b;nização' , , . doMarr~cos,
decide conservár as G'ri'aç6es, urbanas, os rbairros mu- . . çulm,anos 'ântigos .-1~às
m~dirias' ~ cÍaqude país. Ao contrário' da' .~ ~ política adotacla ria Argéliá, a
:moder~ização'do Marrócos' respeita' as fundaçõçstú;'banastradicionais, e criam -se
'cidadés que seguem " os no~os c:ritétios fécnicós ocid;~tais: Essa opção.trad~z
av;nt~de v de pn;selYar, c;orri"'seu' §uporte esp~cialoriginal, modos de Vida' ~ umª-
visão dp IDyndo difetént~sécOiisideradbsjncóin'Pàtíveis çqrn" ., , a urbanização de
tip6 ocicfental .. Mas a apreciaçãQ'estétiea'tambéih o ) faip<;trte,
st:;cundadamente,dessa'v6ntade déconservaçãoe talvez ela! própriâ a integre numa
prospeçtiva dó turismo de arte. J 'Não é de surpreender, pOis, que num' movimento
de ida e ~r yólta aexperiên~i~\etnôlógic~ de uma f<eali~adeurbana 4ife~e,rite, ;::'.~ .
exótica,'tenha sido:transposta p~taéas cidad~s familiare1i da Êuro-~ pa. Aindà está
por ser,escrità a história dessa conversão do.olh~r" de que'são eXémpló,
entréoútros,"os urbanist~s Prost, Forestier,e , Danger, formados por LY'aut~Yl'bepois,
de deixar o Magreh,. -ele$, descobriàm, çom umolhat estrál)geiro e!}a sua legítima
estranh~~ za, o. ancestral continente etiropeu- território.~ organizàt em escalas
inéditas' que pudêram ser testadas na África, mas ta~bém territóriQ a prQteger.-
A'éstrutura urbana pré-industrial e sobretu- - do as pequeria~ cidades 'ainda quase
intactas/passàvam a ser vistas~ como-frágeis e preéiososvestígio$,de um estilo de
vida original,de) uma cultura prestes' a' desapáreceJ;, que': deviám ser:. protegjdos " -
incorÍdkiónalmente e,·hoscasos ~.xt.rerp.os;postoS de lado.)6J Üans~, formados em
museu. ~ .) \ -(.,' Na m~SJ;lla .épo'ca, os eIAM rejeitam a noção:dé cidade his- tórica
ou museal. Exemplar, o Plan Voisin~,> de Le Corbusi~r (1925)j propõe-sedesttuir
ajnalha do§ vêlhosbairros'de Paris, substituída por arranha-céus padronizados,
conservando apenas (' alguns monumentos heterogênebs: Notre-Dame déPàris, o
Arco do Triunfo, o Sacr~Creur ~ a Totr.e EiffeI: inventário que já anunnda a
concepção midiátka dos monumentos signos. ESSá ideologia da tábula rasa,
aplicadãao tratamento dos centros antigos dúrante , " a década de 1950~ só de-ixou
de prevalecer na França com a criaa. . ção, por André Malraux, ém 1962, da' lei sobre
as áreas protegi- , das. Modificada depoisemsua redação e em sua,,?riel)tação, essa
lei era na verdade, em sua origem, uma medida dti urgêllcia inspiirad~ pela:
figura~museal da cidade. Contestildos na Eu;opa,nem 'por isso os eIAM deixariarnde
prosseguir em sua ~bra iconoclasta' . nos países em desenvolvimento e a trabalhar na
desconstrução de ./ ....alguns'dos mais b~elos b~irros antigos do Oriente Médio, como
aconteceu em Damasco e Alepo. No Extremo Oriente, sua influên- , cia continuou
forte~Póde-se-lhe imputar, notadaménte, a destrui-

ção .de uma parte da antiga Cingapura. ' '~ > A figura historia!

A~ terceira figura da c;idãde antiga pode ser 'definida como a síntese e a superaçã9
'd~s duas precedentes. Ela constitui o alicerrI ce de toda indagação> atu,al, não
apenas sobre o, destino das antigas malhas urbanas, maS também sobre a própria
na~ureza das"for~aações que ainda húje,chàmàmos de cidades. Essa figura
apareceu~ sob uma forma ao mesmo tempo acaabada e precursora, na obra teórica e
na prática doitaliano.G. Gio- \ vannoni (1873,-1943) (gue atribui simu~taneamente um
val~r de uso e um valor museal aos conjuntos urbanos antigos, integrandúúos numa
concepção geral da organização do território. A mudança> de escála imposta ao meio
construído pelo desenvolvimento datécnica ("O u~banista, assim como o arquitet o,
devê elaborar uma es'\?la de intervenção adeq~ada à cidade moderna de vários
miilhões de habitantes")«l tem por corolário um novo modo de connservação dos
conjuntos atltigo~, para a história, para a arte e para a vida presente. Esse "patrimônio
urb@9""i, assim nomeado pela primeira vez por Giovarinonj, adquire seu sentido e
valor não tannto como objeto a~tônom6 de uma disciplin; própria,- mas como
elemento e parte de uma doutrina original da urbanização. Duurante muito tempo se
escamoteou a importância de Giovanhoni em razão depaixõe~ pólíticas e
ideol6gicas4i. Por isso mesmo,é necessário restitnir-Ihe o lugar que merece no
campo' da históda. , Já no primeiro artigo de 1913, de que 'conservo'u o título
"Vecchie città ed edilizia nuovà" ,para seu grande livro cle.l931, Giovánnoni adota uma
atitude prospectiva. Ele avalia o papel inovador das nO-I vas técnicas detra,nsporté e
de comunicação e prevê seu crescente aperfe'içoamento. Um recuo de algumas
décadas lhe permit~ pen- sar;" a partir daí, num contexto de "redes" frete] e de infra-
estrutu- ras a mutação das escalas urbanas que constituíam o núcleo das reflexões de
Viollet-Ie-Duc e de Sitte. O urbanismo deixa de se I,aplicar a entidades urbanas e
circunscritas no espaço para se tornar territoriaL Ele deve qtender à vocação para o
movimento, e para ~ ' , comunicação p'or todos os meios, característica da sociedade
na erã industrial, que se tornou a era da "comunicação gen~ralizada". A , " cidade do
presente e, Ínais ainda, a do futúro estarão em movimento. Diarit.e de.çses
"organismos cin6ticosc,.J(;, Ciov:mnoni levanta lucicL.;-lllcr;tc (J'ljllestãu q\!~' l;illlu~ lli
lidl.i.,Li.'I, <iut,)ridJclc:; c: pC!ít: ' cos ainda ho)"c escamoteiam: ni1c) teria acabado o
tempo. da cidade. <,lensa e centralizada c niío estaria cst'a c:orncçando ~l
dcsaparccocr, dnndn 1111281' <\ 11'11<1 nova forrna .de' agrcg:lção! .Li não é
possível imaginar "o fim do grande dt:s~nvolvirncnt() ur:IJ:ulU"~: I l1l:S1 11 li UIII:]
verdadeira anliurbanização,ri? (O termo sc·trarisf(mnará mai~s tarrrif' f'm
r{p<;urhanização.) Ele é praliuJlllt:lllt: ,; ~IJJilLlí(j Li perceber a fragmentação eã
deslntegraçao da cidade, em proveit,o de UJI~:1 ... ·1)··· .. :.,.; .. ~~. ·'L·····,..',·J· 1;"JJ."
C' d;f",,,, ('''''-''1 ,--il,rll·;cnt··, 'lnn<: de ']1'1'.'('-- Ul QIIIL.a's'uV D 11,--J. li,... u 1.1.\"..4.
‡.....‡...‡.‡‡‡.....‡‡‡‡..‡‡.‡.‡‡.‡‡‡ ''1~'" '., ,". ~, . ccc1C'ncia, ele vé s~,rgir ~\. nova er:), t]iW
Melvin\'Vt'·hFwr (:h;11ll:lr~ de lhe pOSl cityage, "a-era pós-cidadcs"·IH. . A questào se
coloca ainda lU!;1 lrlaj~ perlillt~nl.jil"e. ,Kliil1a(k ao se considerar que Ciovann'oni
baseia seu r3ciocíl~i().na-dua1irJad~ essencial dos comportamentos humanos que
Cerdá considerava o ·motor da'urbanização: "O hOrnel1l \repOUsa, () homenl se
move""'). Os circuitos' da comunIcação generalizada não oferecem porto seguro para
o repouso, Os seres humanos, contudo, sempre têm necessidade de parar, de se
reunir, de morar. ''A vida na casS:' deve . poder conservar seu lugar, ao mesmo tempo
que "a vida de movi-~ mento"50. Mas os progressos da técrd.ca torna~ pos~ível uma
nova f'igura di) tradicional'. reiaçã,) entre o Illovimcnto c a' estabilidade . . Nas
gr:.lI1des redes, prinl>.ipallllcllte Ild::> \..k: Lrdll.'>ptirl,:.,>} ljuc.cstru turam O espaço
tcrrito-~ial,-podc·-sc agora concctar e ilrticular pc- ~ <illi'll,lS IlIlidtld.(,s (,sp:Jc-iai.~,
n(lcI('o.~ de moradia, I -/ -

A '::1I1tillrh:\11i7:Jc8n" tOTTlil Dois. a forma dé Uma on~anizaç:1o . 'dua! -'I, ern -L:)O
menos} duas-esca(as} coínplel J lcntartt? e iguablc-nte fundamentais: de acordo com
a rnetáfora expressiva de Vecchie rJlt(l, ri(~ 11111 !::Ido. h;i ";1<;;:11;) df' m::íCjl1ina.s.
de rnoviT~lenL() Irt;f;diicai vertiginoso e barulhento"; de outro, os "sa!ó~s e 005_
espaços llüJin~,)lil:u . ..,lJ'.1. L0g,v de ;jJíJa (~íü\,'Jnnoni ultr~pas~~ o urbani:?mc
unidirnensional no '(ju:11 Le Corbusier se encerrou sern ter. (preendido' que sua ville
radieuse éuma não-cidade53. M~s ele foge lambem ;1 moclclizaçàó dos
desurbunistas} para os quais} de Soria y Mata"1 a Miliutin c aos soviéticos da década
de Í'93055, os espaaços de habitação e·de 'Jazer ~antêin uma relação .de
subordit1Jaçao ~e de inclusão, mas não deco,mplementaridade, com as redes que . '
realizam a supressão çia diferença entre a cidade e o dmpo. Para Giovannon-i, a
sociedade de comunicação multipolar, essa qUe, à época} ainda nao é nêm
iríformatizada} n"em midiática, nem "de lazer"" essa sociedade Rue entretanto não
pode funcionar ape- nas em escala territorial e reticulada, exige, pois, a criação de
uni- dades de vida cotid,iana sem precedentés. Os centros, os bairros}

os conjuntos de quarteirões al}tigos podem r~spo~der a essa funnção. Sob a forma


de. zonas isoÍadas, de fragmentos, de núcleos, ~les podem recuperar uma atualid~de
que ll~es era negada por

, Viollet-le~Duc e por Sitte: sua própria est=ala indica que estão apptos a
desempenhar a função dessá nova entidade esp'acial. Com a condição de que
recebam o tratamento conveniente, isto é, desde' que neles não'seJ implantem:
atividades incompatíveis com sua morfologüi, essas malhas urbanas antigas ganham
dóis' novos priviilégios: elas são, da mesma forma que ós monul)1entos,históricos,
portadoras dé valores artísticos e históricos, bem como de valor

. pedagógico e de estímulo imaginados por Viol1et-Ie-i)uc e por Sitte, verdadeiros


catalisadores no processo de invenção de novas cçmfigurações espaciais. Eles
também têm, na edilizianuova de .~ > Giovannoni, um papel que nem VioIJet -le-Dúc,
apesar de sua te-· oria do esqu~cimento e de sua descoberta daJruptura da escala
urbanatradiciortal, nem Sitte, nãoobstante a finurage suas análi-
ses morfológicas, poderiam lhê atribuir. E é a esse título que foi

,Possível integrá-Ias numa doutrin;:l sofisticada~ da cOhservação do

,patrirtJ,ôni'o urbano.

A relação original que Giovannoni imaginou entre organiza-

. Çã9 do território e patrimônio urbano pode ser atribuída a duas particularidades do


contexto italiano. Por mais precursora,que seja, suá visão "antiúrbanístic;: j)" inscreve-
se numa tradição lombarda fundada no fim do séc1,1lo XvIIl-.por Cattaneo·, na esteira
da . fisiocracia francesa; desdi'essª,época, partindo ,ao mesmo tempo . de:
considerações demográficas e:-da solidez da estrutura urbana \ italiana, Cattaneo
preconizava um equilíbrio das atividades urba~

nas e rurais, baseado em sU:a estreita assodiação énQcontroledo < crescimento


urbano, numa concePção territoriarda economia;

Além disso, uma formação profissio,nal que mais tarde~ ele

ajudaria a difundir por toda a Itália" fundando em 1920 a.ScuÓla

Superiote d'Architettura de Roma; possibilitou a Giovannoni o acesso aos


conhecimentos, muitas vezes dissociados, das ciências aplicadas, da arte ~ da
história. Viollet-Ie-Duc já observara:' "Os italianos têm .o bom senso de não: separar
seus arquitetos em duâs classes: os restauradores de moilUmentos e os construtores
de edifíícios capaze~ d~'atendetà$ novas necessidades"JB. Giovann<mi nãóé apenas
arquiteto e restaurador, discípulo-e continu~dor d.e Boit;; não é apenas um histo~iador
da arte- que fez de Roma seu objeto de estudo predileto, mas, como Boito, é também
engenheirO'e,
diferentemente deste último, urbanista. . . . Essa tripla formação· transparece nos
artigos que l;ledicou, entre 1898 e 1947; a seus três c~mpos de, competêrréialt. Ela
ex- f , plica também cómo Giovannoni pôde superar a concepção unidi - ',mensional de
Viollet-Ie-Duc, substituindo-a por uma concepçãç dual da mutação imposta ao espaço
urbano pela era industrial, ~~como pÔ,de tirar de suas análises morfológicas um:a
lição de con- servação e nunca deixa'f de tratara cidade "como um organismo
estético"".

"U~a cidade historica constitui ém si um mO~\1mento"C\rnas ao mesm~ tempo é um


tecido vivo: tal é o duplo postuhido que

'permite a síntese das figuras reverencial e museal da conservação , urbana e sobre o


qual Giovannonifunda uma doutrina de conservaação e restauração do patrirpônio
uroano. Bode-se resumi-Ia em três grJndes'princípios. Em primeiro lugar, todo
fragmento urbano antiigo deve' ser integrado núm plano' diretor (piano regolatore)
local, regional e territorial, que sfmboliza sua relação com a'vida pres~nnte. Nesse
sentido, seu valor de uso é legitimado, ao'mesmo tempo,

r- do ponto de vista técnico, por um trábalho de articulação· com as

grandes redes primárias de ordenação, e do Pronto de vista humano,

, "pela manuténção do caráter social da 'população". '

Em seguida, o conceito de monumento. histórico 'não poderia

designar um edifício isolado, separado do contexto das construu, çães no qúal se


inse're.IA própria natureza da cidade e dos conjunntos urbanos tradicionais,. seu
ambiente., resulta de;sa dialética da:
"arquitetura maior" ,e de se-u entorno. É por i~so que, na maioria

. dos casos, isolar ou "destaéar" um monumento é d mesmo que mutil'á-lo. O entorno


do monumento mantém com ele uma rela-: '

ção essencial. -- /

Finalmente, pr~enchidas--essas primeiras c051dições, os con- ""juntos urbanos


antigos requerém procedimentos dê preservação e Hde restauração análogos aos que
for~m definid~s por Boito para os ' monumentos. Transpostos paraas dimensões ,do
fragmento ou do núcleo urbano, eles têm por objetivo essencial respeitar sua escala

e sua morfologia, preservaras relações 'originais q~e neles ligaram un!dades


parcelares e v~as de trânsito. "Não se poderiam excluir os trabalhos de recomposição,
de reintegração, de desobstrução~'Q.·

. Admite-se, p<h-tanto, uma margem de intervenção limitada pelo respeito ao


ambiente, esse espírito (histórico) dos lugares, materiaalizado em c'onfigurações
espaciais. Assim, tornam-se lícitas, recoomendávéis ou mesmo necessárias, a
reconstituição, desde que não seja enganosa, e,sobretudo determinadas
modalidades-de demoliição. Giovannoni usa a bela metáfora do diradamento", que
evoca o desbastamento de uma florestá ou de uma sementeira por deemais q,ensas,
para designar as oper~ções que visam eliminar todas

--. as constru~ões parasitas, adyentícias, supérfluas: "A reabilitação . dos bairros


antigos é obtida mais,a-partir do interior q~e do exte-

rior dos quarteirões, especi,almente restjtuindo casas e quarteii/ rões a condições


tanto quanto' possíyel próximas das originais; porque a habitação tem sua ordem, sua
lógica, sua higiene e sua

dig;'üdade próprias"G!,.· . . \ . . ~
Giovannoni não era, pórem,- apenas um teóriCo, Suas idéias constituíam a razão' de
s.er de uma prática-, Cqntudo, mesmo" tend,o passàdo:à Carta italic:madel restauro
(1931), elas não deiixaram de enfrentar u'ma resistência, que se devia tanto a seu
cará-

. ter precursor quanto à forma como contrariavam;.? id~ologia de um regime .ávido de


grandes trabàlli6s espetaculares. E por isso quê é preciso. creditar a Giovarinoni sua
obra de opositor, a lista de todas as gémo'lições quê conseguiu impedir por toda a
Itália,. E, se teve um papel importante na desobstrução da Roma antiga e dos foros
imperiais, foi por ter preparado e organizado minuciosaam~nte as fases e os
~ormenores dà'operfl,ção, maildando que se fizesse l,1m levantamento completo do
bairro medieval cujo sacri-

. fício fora exigido por essa insurreição arqueológica,

Quanto a suas. realizações; além de s~us~ numerosos planos diretores que em geral
não fora~ aplicados', elas podem ser simmbôlizadas pela reabilit.ação, que terminou
em 19361 de uma ilusstre 'Cidadezinha do norte·da Itália, 'Bergamo Alta-, Giovannoni
c.oncebeu sua lig~ção ~om a cidade baixa, vo.tadaao desenvolvi -

, mento industrial" desembara~ou-a de suas mazelas e, para maior bem-estar de


se1fs habitantes, fê.:.la rena~éer na glória de suas praaças-e de seus moi:mmentos
públltos, naisinuosa complexidade de suas ruas e de suas passagens, que, penetram
até o recesso dos '"

quár,teirõt~s,C na continuidade'apertadà,cqntrástante'~ feliz de

r~sidências mOdestas e '~e seús' paláciõs. ~'. e r", rc

c.. r; Giovannoni foi praticamente _6~~nicà teprieo qourbanismo


I dp'século XXa eleger~comocentro de suas preocupações a difnert:-, - , sã,o' estética
do' estabelecim~nto humano.-Na e.sc;a:Ia das rédes de , " organi~_ação espaciàt
·que está fora do BOSSO escopo, ele ,desênvol-

ve cQrrYotimjsmo. as ptemis~as prop<?stas por Vipllet~'le-Dúc. En). "

, compensação,-na eSG:JJa dosbaii'fos, .ele s~u:be- articular .~ pró'pej ðí dêutica do


esquecimepto. a urna concepção crítica e condiciOllal da preservaçã0 ~os'conjuntos
tirbanos ~ntigos na~inâmica do de-"

senvolvimento'. . , , ,~ ,

, , -,.. _ " J. ,i

) Esse patrimônio é;então" d()tado de um duplo, es~atuto} cuja .

./ antinomia-foi observada por Gióvannoni tqnts> em~Vionet-le-Duc


qUánto'emSitte,etem urriduplo-papel, que1nem SittNlemViollet lhé'queriamatribuii.,E
mais: esse pâtrimônio urbanoí base fr;g-)

I - - .\

mentada e fragmentária'de uma 'dialética dahist6ria e d~ histori -

cidade} étrataé:lo.dé acordo com as complexas.ab0'rçlagens de Riegl., e de


Boito}par~ os quais cada: objeto patrimomal-é tl1,Il campo ele .,
_ forças opostas que çúmpr~levar a'u!pa situação de eqúilíbrió;singuular em cada
caso. ~} ~á administração dessa dinâlilic~cotiflituosa, . GioVan:t1drtireconhece e
J:9nfere às malhas,~ntig~s o valor atual

e sQclal que,Ruskin e Morris Ihes:havjalJ1 apol,'ltado} sem chegar q (.., se instalar ha


l1istoricidade:o habit,ante' e Q' "habitar!' instalam-se

I no' ponto focá!' 'de onde irradia \l prospectiva de Veçchi'e ci,ttà ed

Ediliziánuovà., ',1.-.._ ‡ r . I,

" "",.'- ,. - ;-'. "". _. '. ':--: "!

Ateoria dé Giovannóhi antecipa} de for-ma simúlt;meamente

'mais' simples e mais complexa, as diversas polÍtiCas das "áre<as ~protegidáS"


quefórarp. desel1vólvidas~eapHcadas na E~~opa a pár~ 'tir de r96Q.
COl)tém}iguahnente~ em germé} s~us _paradoxos ,e~

dIficuldades. .~ " .

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