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Haviam me mandado para esse lugar. Não sei como podiam agir com
tanta naturalidade. Não se importavam com o que se passava
comigo, apenas com o que as pessoas iriam pensar. Por quase um
ano fiquei longe da escola. Não estudava ali e agora já não fazia
importância para onde eu iria. Tudo havia perdido o sentido.
Lágrimas escorrem pelo meu rosto. Elas não são quentes, não são
frias. Não sinto mais nada. Não importa que esteja frio, que esteja
quente, para mim é tudo cinza, escuro, dolorido. Viver, respirar, ver, é
algo mecânico a mim, cuja importância não existe mais.
Vejo duas portas. Qual escolher? Tanto faz. Não me importo mais.
Talvez devesse ir na porta cor de rosa, mas não, sinto que ela poderia
me trazer mais recordações, de um tempo em que a felicidade
habitava meu ser, de um tempo que não deveria ter findado-se.
Escolho a outra, a com uma placa dourada. Observo as letras, mas
meus pensamentos estão longe, e aquelas letras não fazem sentido
algum. Levo minha mão a ela, mas paro antes de tocá-la. Uma
fragrancia conhecida vem ao meu nariz. Uma vontade de chorar
invade o vazio de meu ser. Aquele cheiro, tão próximo. Por que tudo
ali me faz lembrar deles? Por que me mandaram para ali? Não queria
mais estudar, não faz mais sentido estudar. Tudo o que eu queria se
foi, levados pela senhora de guarda-chuva. Por que ela os levara? Por
que os tirara de mim? Por que senhora?
Entro na sala e então vejo uma fonte, com três estátuas. Estou em
um lugar parecido com um campo. Lembro-me do nosso último dia. O
sol tocava nossas peles, acariciando-as, enquanto a brisa parecia nos
brindar. As flores do campo exalavam um perfume que nos convidava
a guardar aquele momento para sempre, assim como viver aquele
conto de fadas por toda a eternidade.
Mas não. Eles tinham que vir, tinham que estragar. Fugimos. Não
queria mais aquela velha vida, queria seguir a minha, ter minhas
próprias escolhas. Fomos para uma casa em Monte Carlo. Minha
família não podia saber. Ele comprara a casa para nós. Estava tudo
pronto para uma nova vida. E então tudo aconteceu.
Talvez...
Depois de certo tempo, a senhora me conta sobre ruídos que vem do
seu porão. Paro um pouco para ouvir. Apuro meus ouvidos. Pareço
prender a respiração, concentrando-me para que pudesse ouvir o
barulho que ela falara. Quando estou quase desistindo escuto algo.
"O que será?", penso comigo mesmo. Talvez eu devesse ir ver, cogito
a ideia, que me parece absurda. "Por que me preocupo?", pergunto-
me, olhando para a figura da senhora.