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Annelize Louise Massy

Por Lety Rodrigues

,1

Haviam me mandado para esse lugar. Não sei como podiam agir com
tanta naturalidade. Não se importavam com o que se passava
comigo, apenas com o que as pessoas iriam pensar. Por quase um
ano fiquei longe da escola. Não estudava ali e agora já não fazia
importância para onde eu iria. Tudo havia perdido o sentido.

Ainda me lembro dos dias felizes, mesmo presa em meu quarto,


enquanto aguardava a sua chegada. Um momento que nunca irá
deixar meu coração. Há todo momento me recordo dos momentos
felizes, momentos esses que se esvaíram de minha vida, me
deixando seca, vazia, sem nada por dentro. Meu coração se foi com
ele. Ainda o sinto nos meus braços. Ah, como desejei ter ido junto. -
Por que Merlim não me levou também?, eu me pergunto todos os
momentos.

Lágrimas escorrem pelo meu rosto. Elas não são quentes, não são
frias. Não sinto mais nada. Não importa que esteja frio, que esteja
quente, para mim é tudo cinza, escuro, dolorido. Viver, respirar, ver, é
algo mecânico a mim, cuja importância não existe mais.

Vejo duas portas. Qual escolher? Tanto faz. Não me importo mais.
Talvez devesse ir na porta cor de rosa, mas não, sinto que ela poderia
me trazer mais recordações, de um tempo em que a felicidade
habitava meu ser, de um tempo que não deveria ter findado-se.
Escolho a outra, a com uma placa dourada. Observo as letras, mas
meus pensamentos estão longe, e aquelas letras não fazem sentido
algum. Levo minha mão a ela, mas paro antes de tocá-la. Uma
fragrancia conhecida vem ao meu nariz. Uma vontade de chorar
invade o vazio de meu ser. Aquele cheiro, tão próximo. Por que tudo
ali me faz lembrar deles? Por que me mandaram para ali? Não queria
mais estudar, não faz mais sentido estudar. Tudo o que eu queria se
foi, levados pela senhora de guarda-chuva. Por que ela os levara? Por
que os tirara de mim? Por que senhora?

As lágrimas continuam a rolar pela minha face. Nos últimos tempos é


tão comum elas surgirem que não as tenho mais como conter, e nem
as quero conter. Quero chorar, chorar, chorar até secar
completamente.

Eles me mandaram para cá, me obrigaram a vir. "Deve concluir seus


estudos" - me falara, "Temos que esquecer. Ninguém poderá saber o
que aconteceu" - falavam entre si, decidindo tudo por mim. Mas eu
não quero esquecer. Quero vingança, quero eles de volta...

Entro na sala e então vejo uma fonte, com três estátuas. Estou em
um lugar parecido com um campo. Lembro-me do nosso último dia. O
sol tocava nossas peles, acariciando-as, enquanto a brisa parecia nos
brindar. As flores do campo exalavam um perfume que nos convidava
a guardar aquele momento para sempre, assim como viver aquele
conto de fadas por toda a eternidade.

Mas não. Eles tinham que vir, tinham que estragar. Fugimos. Não
queria mais aquela velha vida, queria seguir a minha, ter minhas
próprias escolhas. Fomos para uma casa em Monte Carlo. Minha
família não podia saber. Ele comprara a casa para nós. Estava tudo
pronto para uma nova vida. E então tudo aconteceu.

Aproximei-me da fonte. As estátuas começaram a se mover. A que


estava de frente para mim não parecia interessada na minha
presença. Agradeci, pois também não estava interessada nela. Creio
que teríamos uma convivência saudável, apesar de que se fosse em
outra época eu dificilmente me manteria em silêncio.
Gostava de rir, de me divertir, de brincar, gostava de olhar
desafiadoramente para ele. Me insinuar. Adorava quando, sozinhos na
sala, ele passava suas mãos pelos meus cabelos loiros e nossos
olhares se encontravam, o azul cristalino sobre o negro brilhante. Ah,
me perderia mil vezes ali, e então nossos lábios encontravam um ao
outro, por instantes apenas, mas que alimentava ainda mais toda
aquela sensação de perigo, de aventura. No começo era para ser
apenas uma conquista. A princesa e o plebeu. Mas então, fomos nos
mostrando um ao outro. Ele sempre tão gentil, com a voz suave que
encantava meus ouvidos.

De repente reparo que a estátua está a me encarar. Não respondo, o


que seria estranho para a minha antiga natureza. Nessas horas já
teria perguntado: "O que foi? Nunca viu?", e a olharia de cima a
baixo, mostrando toda a sua inferioridade junto à minha pessoa. Mas
agora estou parada, olhando para ela, não sustento por muito tempo
seu olhar, abaixo o meu, voltando minhas vistas para o chão gramado
e com algumas flores.
Logo retomo meu olhar para a estátua, que agora parece discutir com
outra, mais nervosa, enquanto uma terceira busca apaziguar a todas,
sem muito sucesso, claro. Deixo um sorriso tímido passar
rapidamente pela minha face. Fico parada, olhando para toda a cena,
me perguntando: "Por que estão brigando?". Apenas dou um
muchocho de ombros. Elas param olhando para mim, mas por pouco
tempo e então retomam a discussão.

Vejo uma casinha. Começo a caminhar em sua direção, deixando toda


a barulheira das estátuas no passado. É uma casa humilde, mas
limpinha. Ouço voz italiana. Ha, quanta saudades da Itália. Estudava
em um instituto lá. Um renomado instituto para jovens abastados. Lá
eu o conheci, lá eu me perdi para me encontrar. E então minha
família me tirou de lá, me mandando agora para cá, na Inglaterra.
Bisa Antoinette sugerira, para que não houve nenhum falatório. As
aparências sempre devem ser mantidas, principalmente na realeza.

Não conheço ninguém aqui, afinal, essa era a intenção quando me


mandaram para cá. Não conhecer ninguém. Creio que terei que
refazer o quinto ano, afinal, fiquei quase o último ano letivo quase
todo afastada dos estudos no instituto, apesar de já estar com quase
dezesseis anos. Uma senhora me recebe à porta, convidando-me para
entrar. Começo a me mover enquanto um cheiro agradável de
comida invade meu olfato. Lembro-me de que não me alimentei
naquele dia. Engraçado, há dias não sinto falta de comida, mas
naquele lugar, naquela casa, veio-me a lembrança de que tenho que
comer.

Acompanho-a à cozinha. Passo pela casa. Tudo está organizado,


mostrando ao mesmo tempo humildade e aconchego. Sinto-me em
uma casa cordial. A cozinha é repleta de panelas, colheres,
caldeirões. Tudo o que uma senhora precisa para satisfazer a barriga
daqueles que frequentam sua casa. Sento-me à mesa, que por sinal
tem mais panelas. Ela conversa animada. Cumprimento-a em italiano.

- Buon pomeriggio.(1) - minha voz sai como sempre, suave. Ela me


oferece alguns quitutes e eu acabo pegando um doce muito saboroso.
- Grazie.(2) - agradeço a ela pela gentileza. Ela parece feliz, pois me
oferece vários doces e salgados. Pego apenas mais um, agora
salgado. Está delicioso. Sua figura é como todas as avós e bisas
deveriam ser. Talvez se ela fosse minha bisa teria me apoiado em
minha decisão.

Talvez...
Depois de certo tempo, a senhora me conta sobre ruídos que vem do
seu porão. Paro um pouco para ouvir. Apuro meus ouvidos. Pareço
prender a respiração, concentrando-me para que pudesse ouvir o
barulho que ela falara. Quando estou quase desistindo escuto algo.
"O que será?", penso comigo mesmo. Talvez eu devesse ir ver, cogito
a ideia, que me parece absurda. "Por que me preocupo?", pergunto-
me, olhando para a figura da senhora.

Levanto-me. Algumas coisas não nos abandonam.

- Attendere un momento. (3)- falo a ela, deixando sair um sorriso.


Não é um sorriso dos melhores, mas é o meu melhor naquele
momento. Desço as escadas, que me acompanham fazendo um ruído
de que há tempos ninguém pisa ali, ou que a madeira já se encontra
velha demais para o lugar. Desço com cuidado, passando minha mão
branca pelo corrimão da escada. A poeira se apodera de minha pele.
Desço mais, atravessando o que parece ser uma teia de aranha.
Minha mão vai ao meu rosto, tirando algumas linhas que ficam
grudadas. Não me importo delas ficarem sobre os cabelos loiros de
minha cabeça.

Levo a mão e empurro a porta, sem pensar muito. Atravesso e


quando estou a alguns passos de distância, ela se fecha atrás de
mim. Não me viro para olhar. Está escuro. Pego minha varinha, que
está na cinta liga debaixo da saia preta que uso. Faço um movimento
rápido e pronuncio - Lu-mus. A ponta de minha varinha, cedro com
pelo de unicórnio, ganhou uma pequena luz, um pouco fraca, diga-se
de passagem. Ali pude notar que uma pequena brisa corria por todo
cômodo. Um ar fresco, o mesmo que sentira lá fora impregnava meus
pulmões. Era como se ali não houvesse paredes. Aos poucos tudo foi
se tornando claro, como se um sol nascesse, trazendo consigo a luz.
Em pouco tempo eu não precisava mais da luz de minha varinha.
Então me deparei com uma cena que eu conhecia muito. Meu
coração batia rapidamente e o ar parecia faltar-me nos pulmões.

Senti-me como se estivesse em La Condamine, via a nossa casa,


rodeada pelas flores campestres. Sim, estava lá. Fiquei parada,
espantada, desnorteada. "Como poderia estar lá?", perguntava-me,
sem poder arriscar qualquer tipo de resposta. E então, algo mais
surpreendente aconteceu. A figura dele saiu porta a fora. Vinha
carregando algo nos braços. Ele ria, eu podia sentir a felicidade que
emanava do seu ser. Tentei me movimentar, mas não conseguia.
Queria gritar, mas não podia. Lágrimas escorriam pela minha face e
naquele momento eu as sentir quente, como se queimassem minha
face, deixando cortes profundos por toda ela.

Ouvi som de carruagens se aproximando. Tinha que avisá-lo, precisa.


Talvez aquela fosse minha chance de mudar tudo. Gritava, mas não
saia som de minha boca. Meu corpo se tornava a cada momento mais
rígido, enquanto o som se aproximava cada vez mais aterrorizante
para mim. Tudo foi ficando escuro de novo.

- Não - eu gritei. Tudo estava escuro, só a luz da minha varinha


apontando para uma parede. Corri para ela. - Cadê? Volta, por
favor, volta - eu falava, suplicava para aquela força. Nada. Nada
aconteceria. "O passado se foi e não há como modificá-lo, Lize" - uma
voz na minha mente falava. Levantei-me do chão.

Estava com medo, assustada. Estava tudo muito silencioso. O ar


estava parado, abafado. O cheiro de mofo invadia minha narina,
causando-me borboletas no estômago. Precisava sair dali. Corri para
a porta. Abri-a com força, a mesma que a bati atrás de mim enquanto
subia correndo as escadas. A senhora estava me esperando. Não
sabia ao certo como estava minha cara, mas não respondi a ela. Sai
correndo. Precisava sair dali. Cheguei do lado de fora. A luz
machucava meus olhos, queimava minha pele.

Corri em direção a um caminho próximo à fonte. Corri até que


cheguei em um jardim enorme. Ainda tinha dificuldades para respirar.
Vi um banco. Pensei em me sentar, para poder acalmar novamente,
mas havia também uma ponte. Ela parecia ser a saída dali. Não
suportava mais. Precisava sair. Corri para ela. Meu pé esquerdo a
tocou primeiro. Parei por um instante para recuperar o ar. Não olhei
para trás. Tinha medo ainda do que poderia encontrar se olhasse para
trás. Continuei caminhando...

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