TV DESTINO

Central Destino de Produção Capítulo 03

MENINAS DO BRASIL
“O ROMANCE DE LAURO E CLARICE”

UMA NOVELA DE
RAMON FERNANDES
IDEIA ORIGINAL
RYNALDO NASCIMENTO

ESCRITA POR
Ramon Fernandes

DIREÇÃO DE
Teresa Lampreia e Carlo Milani

DIREÇÃO GERAL
DENISE SARACENI

Personagens deste capítulo

ALBERTO ELIANA MARINA ZENILDA
BRUNO IRENE ROBERTA
CLARICE LAURO TEREZA
DOROTÉIA MARCELA THÉO

Participação neste capítulo

REPÓRTER

Atenção
“Este texto é de propriedade intelectual exclusiva da TV DESTINO LTDA. e por conter informações
confidenciais, não poderá ser copiado, cedido, vendido ou divulgado de qualquer forma e por qualquer
meio, sem o prévio e expresso consentimento da mesma. No caso de violação do sigilo, a parte infratora
estará sujeita às penalidades previstas em lei e/ou contrato.”
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 03 PÁG.: 2

CENA 01. CLIPE

FADE-IN. ENTRA SONOPLASTIA: “MENINAS DO BRASIL” – TRÊS
MENINAS DO BRASIL. NESTE CLIPE QUE PODE MESCLAR VÍDEOS E FOTOS
ESTÃO OS ACONTECIMENTOS MAIS IMPORTANTES QUE SEGUEM NOS
PRÓXIMOS ANOS, A CADA ANO QUE PASSA UMA TELA NEGRA NO MEIO:
1987: LANÇADO O PLANO BRESSER, EM MAIS UMA TENTATIVA DE
CONTER A INFLAÇÃO BRASILEIRA. ACIDENTE RADIOATIVO DE GOIÂNIA.
1988: A NOVA CONTITUIÇÃO BRASILEIRA É APROVADA. UM
DESEMPREGADO SEQUESTRA O BOEING 737, EM PROTESTO CONTRA O
GOVERNO DE JOSÉ SARNEY, MATA O CO-PILOTO E AFIRMA QUE PRETENDE
JOGAR O AVIÃO SOBRE O PALÁCIO DO PLANALTO, É MORTO AO POUSAR
EM GOIÂNIA. CHICO MENDES É ASSASSINADO A TIROS NA PORTA DE SUA
CASA, NO ACRE. ACRE E RORAIMA PASSAM A SER ESTADOS.
1989: A TRAGÉDIA DO BATEAU MOUCHE NA PRAIA DE COPACABANA
DURANTE O REVEILLON. PROCESSOS ESTUDANTIS NA CHINA, O
EXÉRCITO REPRIME OS PROTESTOS E DENTRE AS CENAS, APARECE A
MAIS FAMOSA: UM MISTERIOSO CHINÊS PARA NA FRENTE DE DIVERSOS
TANQUES DE GUERRA ATÉ SER PUXADO. NO BRASIL, ACONTECE A
QUEDA DO AVIÃO DA VARIG NA SELVA AMAZÔNICA. QUEDA DO MURO
DE BERLIM. FERNANDO COLLOR DE MELLO É ELEITO PRESIDENTE DO
BRASIL.
1990: NELSON MANDELA É LIBERTADO, APÓS 28 ANOS DE PRISÃO, EM
FUNÇÃO DO APARTHEID. APÓS ASSUMIR A PRESIDÊNCIA DO BRASIL,
COLLOR ANUNCIOU MEDIDAS DRÁSTICAS: O CONFISCO DA POUPANÇA
BANCÁRIA DE BOA PARTE DOS CIDADÃOS, A PRIVATIZAÇÃO, A
MODERNIZAÇÃO TECNOLÓGICA, ABERTURA DAS IMPORTAÇÕES, ENTRE
OUTRAS.
1991: GUERRA DO GOLFO.
1992: CHACINA NO CARANDIRU, EM SÃO PAULO.
FADE-OUT.
CORTA PARA:

CENA 02. TELA NEGRA

EM UMA TELA ESCURA É DATILOGRAFADO (efeito): 16 DE AGOSTO DE 1992.
ENCERRA SONOPLASTIA.
CORTA PARA:
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 03 PÁG.: 3

CENA 03. CLIPE

ENTRA ALGUMA MÚSICA QUE EXALTE A PÁTRIA (PODENDO ATÉ SER O
HINO NACIONAL). FADE-IN. AMANHECE EM BRASÍLIA. PODE-SE USAR O
MESMO EFEITO DAS CENAS JÁ USADAS COM TAKES DE ARQUIVOS, PARA
DAR MAIS VERACIDADE AOS FATOS. FOTOS E VÍDEOS SÃO
FUNDAMENTAIS. CENTENAS DE FIGURANTES OCUPANDO A ESPLANADA
DOS MINISTÉRIOS. AS ROUPAS PREDOMINANDO A COR PRETA. A COR
TAMBÉM NAS BANDEIRAS E FAIXAS. UMA CARREATA ATRAVESSANDO
DIVERSAS AVENIDAS DA CIDADE FAZENDO MUITO BARULHO. A POLÍCIA
COLOCANDO BARREIRAS NA ENTRADA DAS MANSÕES DO LAGO NORTE
PARA EVITAR QUE A PASSEATA CHEGASSE À CASA DA DINDA.
HÁ POUCOS METROS DALI, OUTRO GRUPO MENOR AGORA VESTINDO AS
CORES DA BANDEIRA, EXALTAM O GOVERNO DE COLLOR, ALEGANDO
EM DEFESA DO PRESIDENTE. OS MANIFESTANTES PRÓ E CONTRA
ACABARAM SE ENCONTRANDO NA BARREIRA. HOUVE DISCUSSÃO, MAS
NO FIM CADA UM SEGUIU O SEU CAMINHO.
A MÍDIA EM PESO TANTO ALI COMO NAS OUTRAS CAPITAIS DO PAÍS
ONDE TAMBÉM HÁ MANIFESTAÇÕES DO TIPO: RIO DE JANEIRO, BELO
HORIZONTE, CURITIBA E POR FIM SÃO PAULO.
CORTA PARA:

CENA 04. SP. TEATRO MUNICIPAL. FRENTE. EXTERIOR. MANHÃ

EM FRENTE AO TEATRO MUNICIPAL. A MANIFESTAÇÃO COMEÇA ALI, E
ELES COMEÇAM A PASSEATA POR VÁRIAS RUAS E AVENIDAS DO CENTRO
ATÉ A AVENIDA PAULISTA. A PASSEATA DUROU 4 HORAS. DENTRE ESSAS
PESSOAS ESTÃO AS NOSSAS MENINAS QUE AGORA SÃO BELAS JOVENS:
CLARICE, MARINA E ROBERTA. ELAS AGITAM COM OUTROS JOVENS,
INCITAM E AVANÇAM PELAS RUAS.
CORTA PARA:

CENA 05. SP. PRÉDIO/ RUAS. EXTERIOR. MANHÃ

LAURO E HELENA, A IRMÃ QUE AGORA TEM TREZE ANOS ESTÃO
ENTRANDO NO PRÉDIO ONDE MORAM COM SACOLAS DE
SUPERMERCADOS, POUCAS. A PASSEATA VAI SE APROXIMANDO. LAURO
CUTUCA A IRMÃ E OS DOIS OLHAM MARAVILHADOS. ATENÇÃO: É
IMPORTANTE QUE LAURO ESTEJA USANDO UMA CAMISETA PRETA.
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 03 PÁG.: 4

LAURO — Olha lá, Helena! É o impeachment contra o Collor. O tal

movimento dos Caras Pintadas.
HELENA — Caras Pintadas? Eles são índios, Lauro?
LAURO RI. CLOSE NA PASSEATA, NOS ROSTOS DOS MANIFESTANTES.
LAURO — [off] Não, minha irmã. Movimento dos Caras Pintadas é
porque eles têm pintadas no rosto as cores da bandeira do
Brasil, o verde e o amarelo.
HELENA — E porque a cor das roupas pretas?
LAURO — Eles estão protestando contra o governo do presidente
Collor. (pausa) E quer saber? Eu vou também?
HELENA — Como assim, Lauro?
LAURO ENTREGA AS SACOLAS PARA HELENA E VAI SAINDO.
LAURO — Quero fazer parte dessa história do meu país! Não vou
perder uma oportunidade dessas, Helena. Eu quero entrar pra
história!
LAURO VAI COM O POVO NA PASSEATA. HELENA RI E ENTRA NO PRÉDIO
COM AS SACOLAS. CORTES DESCONTÍNUOS DA PASSEATA DO
MOVIMENTO CONTRA COLLOR. CORTA PARA AS TRÊS MENINAS. ENTRA
SONOPLASTIA: “TUDO DIFERENTE” – MARIA GADÚ. CLARICE VAI SE
DISTANCIANDO ENTRE AS PESSOAS E ESBARRA EM LAURO. SLOW-
MOTION. OS DOIS JOVENS SE OLHAM. SUPER CLOSE NOS OLHOS DE
CLARICE E LAURO. OS DOIS FICAM BALANÇADOS VISIVELMENTE. O
RESTO DAS PESSOAS FICAM LÁ ATRÁS, EM SEGUNDO PLANO, ENQUANTO
OS DOIS SE OLHAM ENCANTADOS. A CENA VAI VOLTANDO AO RITMO
NORMAL. CLARICE DESVIA O OLHAR E SAI. LAURO ALI PARADO SORRI
ENCANTADO. FICAMOS NO CLOSE DELE.
CORTA RAPIDAMENTE PARA:

CENA 06. SP. AVENIDA PAULISTA. EXTERIOR. TARDE

MOVIMENTAÇÃO FORTE AINDA DA PASSEATA QUE JÁ SE ENCERROU.
CLARICE, ROBERTA E MARINA EM UM GRUPO CONVERSANDO COM
OUTROS COLEGAS, IGUALMENTE JOVENS. LAURO ENTRA EM UM
BARZINHO E NEM VÊ CLARICE. AS TRÊS MENINAS LOGO ENTRAM NO
MESMO LOCAL.
CORTA PARA:
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 03 PÁG.: 5

CENA 07. BAR. INTERIOR. TARDE

UM PONTO DE ENCONTRO DE JOVENS DA ÉPOCA. UM BARZINHO QUE
HAJA MÚSICA, MUITOS JOVENS ALI ORIUNDOS DA PASSEATA. LAURO EM
UMA MESA COM ALGUM GAROTO CONVERSAM ALEGREMENTE.
AMBIENTE EMBALADO POR ALGUMA MÚSICA DA ÉPOCA, QUE NÃO
ESTEJA NA TRILHA. CLARICE, MARINA E ROBERTA VÃO PARA OUTRA
MESA. FAZEM SEUS PEDIDOS À UMA GARÇONETE. CLARICE DESVIA O
OLHAR E VÊ LAURO. OS DOIS SE OLHAM NOVAMENTE, ROLOU UM CLIMA.
OS DOIS SORRIEM, ELA MAIS TIMIDAMENTE. CORTA PARA MARINA QUE
TAMBÉM JÁ PERCEBEU. FAZ UMA EXPRESSÃO CONTRARIADA. OLHA
LAURO, SE ENCANTA. CUTUCA CLARICE QUE DESFAZ O SORRISO. LAURO
CONTINUA SORRINDO. ROBERTA PERCEBE E RI COM CLARICE. MARINA
NÃO GOSTOU.
FUNDE PARA:

CENA 08. AVENIDA PAULISTA. EXTERIOR. TARDE

ABRE EM UM PONTO DA AVENIDA PAULISTA. VAI MOSTRANDO OS
JOVENS, O MOVIMENTO DA AVENIDA NORMALMENTE. FOQUE EM
ROBERTA E MARINA. ELAS CONVERSAM, MAS MARINA DESVIA O OLHAR
TODO TEMPO. SONOPLASTIA: “TUDO DIFERENTE” – MARIA GADÚ.
ABRIMOS EM OUTRO PONTO: CLARICE E LAURO CONVERSAM,
ENQUANTO TOMAM SORVETE. ELES RIEM, ENQUANTO CONVERSAM.
MARINA NÃO GOSTA NENHUM POUCO DO ENTROSAMENTO.
LAURO — Nossa, eu pensei que você era menor de idade! 24 anos,
inacreditável. Não aparenta.
CLARICE — Muito velha?!
LAURO — Não! Eu tenho 25, não somos tão velhos. Ninguém nunca
é tão velho em 92, gata.
ELA O OLHA COM INTENSIDADE.
CLARICE — Gata?
LAURO — Desculpa.
LAURO BAIXA OS OLHOS, TÍMIDO. CLARICE SOLTA UMA GARGALHADA.
CLARICE — Lindo! Não sabia que você era tímido não.
LAURO — Você me deixa tímido.
CLARICE — Eu vou me sentir culpada depois dessa.
LAURO — Quer se redimir?
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 03 PÁG.: 6

CLARICE — Como assim? Me redimir?

LAURO — Sim, tem um jeito para você se redimir de me sentir
tímido contigo.
CLARICE — Qual?
LAURO — Este.
LAURO PEGA CLARICE DE SURPRESA E OS DOIS VÃO SE APROXIMANDO.
ELE A BEIJA COM AMOR. ELA SE ENTREGA, DEIXA CAIR O SORVETE,
CLOSE NO PRIMEIRO BEIJO DELES. MARINA REAGE AO BEIJO DE LAURO E
CLARICE. ROBERTA OLHA O BEIJO, DO PV DELAS. ELA RI. MARINA
IRRITADA. CORTA PARA O BEIJO. LAURO E CLARICE SE OLHAM. SUPER
CLOSE NELES. FADE-OUT.
CORTA PARA:

CENA 09. PARQUE DO IBIRAPUERA. EXTERIOR. DIA

FADE-IN. LAURO E CLARICE ANDAM DE MÃOS DADAS PELO PARQUE DO
IBIRAPUERA. CONVERSAM E RIEM DESCONTRAÍDOS. OS DOIS SE BEIJAM
E FAZEM CARINHOS. CORTES DESCONTÍNUOS DO CASAL BRINCANDO
PELO PARQUE. ENTRA NARRAÇÃO EM OFF:
ROBERTA — [off] Alguns dias se passaram depois daquele primeiro
beijo do Lauro e da Clarice. Nestes dias aconteceram
algumas coisas importantes no cenário político Brasileiro no
nosso país. O Congresso Nacional aprovou o impedimento do
presidente Fernando Collor de Mello e o vice-presidente
Itamar Franco assumiu a presidência em exercício. Isso já é
um grande passo da nossa democracia se for comparar com
os anos de chumbo que não faz muito tempo ainda
predominavam.
LAURO LEVA CLARICE PARA O CHAFARIZ DO PARQUE. CAM PEGAR DE
PERFIL.
LAURO — Hoje está fazendo dois meses que nós nos vimos pela
primeira vez naquela passeata.
CLARICE — Você não esquece mesmo, não é? É bom, porque eu sou
péssima com datas, imagina quando nos casarmos?! Não vou
saber a data pra comemoração.
LAURO — Hum, que moça presunçosa. Falando em casar se mal nos
conhecemos.
OS DOIS RIEM. CLARICE DÁ UM BEIJO EM LAURO.
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 03 PÁG.: 7

CLARICE — Antes de casarmos quero que você saiba de todos os meus

defeitos. Sou presunçosa, metida à Madre Tereza como
minha mãe diz, teimosa, deixa-me ver o que mais...
LAURO — Não precisa enumerar. Eu me apaixonei pelo kit completo,
com todos os seus defeitos e todas as suas qualidades que são
bem maiores e visíveis.
CLARICE FICA TÍMIDA. LAURO ACARICIA O SEU ROSTO.
CLARICE — Você me deixa encabulada falando essas coisas. Ninguém
nunca falou isso para mim.
LAURO — Agora é você que fica tímida? Estes homens deveriam
estar todos cegos, ou o destino que tava me reservando para
você ser minha.
CLARICE — Eu nunca falei pra ninguém isso, mas... Eu te amo.
LAURO — Eu também te amo e é por isso que eu quero te pedir em
namoro, Clarice.
CLARICE SURPRESA, SORRI. LAURO SORRI DE VOLTA. NÃO FALAM NADA,
ELA APENAS BALANÇA A CABEÇA POSITIVAMENTE. ELE JÁ ENTENDEU, A
SINTONIA DO CASAL É PERFEITA. UM BEIJO APAIXONADO SELA O
COMPROMISSO.
CORTA PARA:

1º INTERVALO COMERCIAL

CENA 10. APARTAMENTO DE IRENE. SALA. INTERIOR. DIA

MARINA E CLARICE SENTADAS NO SOFÁ. CONVERSA JÁ INICIADA.
MARINA COLOCA UM COPO DE SUCO NA MESA DE CENTRO.
MARINA — (nervosa) Eu não acredito nisso, Clarice.
CLARICE — Marina entenda, eu tenho os meus motivos. Eu tenho o
direito de tocar a minha vida em frente, de cuidar do meu
namoro.
MARINA — Você está sendo egoísta! Pensando só em você e deixando
os nossos sonhos de lado. Você não se importa comigo e com
a Roberta, não se importa com a nossa promessa, o nosso
pacto, Clarice!
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 03 PÁG.: 8

CLARICE — (corta) Eu não me importo? Marina, você não tem o

direito de me chamar de egoísta, sendo que esse tempo todo o
que eu mais tenho feito é ajudar vocês, as três juntas tentando
melhorar a condição desse povo e você sabe muito bem
disso. (pausa) Você é a única que não pode me chamar de
egoísta, sendo que eu abortei uma viagem, uma bolsa do
colégio para estudar na Inglaterra para ficar cuidando de você
no hospital, quando a sua própria mãe se recusava.
MARINA LEVANTA NERVOSA.
MARINA — É inacreditável! É inacreditável como você quer ter o
poder de inverter o jogo, sempre, Clarice! Fica me jogando
toda hora dessa maldita viagem e da maldita hora que você
ficou do meu lado no hospital. (pausa) Quer saber, eu preferia
mil vezes que você tivesse viajado e nunca mais aparecesse
do que ficar e me jogar toda hora isso na cara.
CLARICE — Eu tenho dó de você, Marina. Você é mimada, é tudo
quando você quer, os outros não tem opção de escolha.
MARINA — Mimada é o cacete!
CLARICE — Sabia que o Lauro já falou até em casamento?
MARINA GARGALHA, PERDENDO O CONTROLE.
MARINA — E você acreditou? Não seja ingênua! Os homens usam as
mulheres e jogam fora, sempre foi assim e sempre vai ser. O
Lauro não quer compromisso sério. (pausa/ ri) Sabia que dia
desses a Roberta viu o Lauro dando em cima de uma garota
do prédio dele?
CLARICE LEVANTA IRRITADA.
CLARICE — É mentira! Ou sua ou da Roberta que eu duvido muito que
seja dela. (grita) Roberta! Roberta vem aqui na sala!
MARINA FICA NERVOSA. OLHA PARA VER SE ROBERTA ENTRA. CLARICE
INDIGNADA.
MARINA — Porque isso, Clarice? Envolver a Roberta em um assunto
que não tem nada a ver. Não faça papel de ridícula nessa sua
vida.
CLARICE — Vamos ver... Quero tirar a limpo essa história.
ROBERTA ENTRA.
ROBERTA — Me chamou Clarice?
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 03 PÁG.: 9

CLARICE — Chamei. Roberta, a Marina tava falando aqui que você viu
o Lauro dando em cima de uma garota do prédio dele.
Quando foi isso?
ROBERTA — Eu vi? (pausa) Eu não vi nada e muito menos comentei do
Lauro com a Marina. (p/ Marina) Cê ficou louca inventando
histórias assim?
MARINA — (ri nervosa) Clarice, é lógico que a Roberta está mentindo.
Ela não quer ficar mal com você. (irônica) Quer ver se
descola o buquê da noiva e deixa de ser virgem.
ROBERTA — Você é uma doente, Marina!
ROBERTA SAI DO LOCAL. CLARICE VAI SE APROXIMANDO DA PORTA.
MARINA FICA NERVOSA.
MARINA — Aonde você vai? Você não pode abandonar tudo assim e
sair por esta porta como se nada tivesse acontecido. Não pode
nos deixar na mão desse jeito, sua egoísta.
CLARICE SE VIRA E ENCARA MARINA.
CLARICE — Agora quem está bancando a ridícula é você, Marina.
(pausa) Eu acho que a gente não tem mais nada pra
conversar. Você provou que é muito mais invejosa e
desequilibrada do que eu pensei.
MARINA — É assim que você quer, não é queridinha? Então tudo bem,
eu não quero mais a sua amizade. Esqueça esse endereço,
quando sair da sua casa passa reto dessa porta.
CLARICE — Como quiser.
MARINA — Nem para visitar a Roberta!
CLARICE — A Roberta sabe o meu endereço, quando ela quiser, ela
pode me procurar, porque para as amigas eu sou pau pra toda
obra!
ENTRA SONOPLASTIA: “COMO NOSSOS PAIS” – ELIS REGINA. MARINA
SENTIU AS SUAS PALAVRAS. CLARICE SAI. MARINA CAI EM PRANTOS NO
SOFÁ. CHORA DE RAIVA.
MARINA — (grita) Vai! Vai mesmo sua mosca morta, que eu não
preciso de você para nada, Clarice! Vai idiota!
MARINA VAI SE ACALMANDO.
MARINA — Vai... Eu te odeio!
EM MARINA.
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 03 PÁG.: 10

CORTA PARA:

CENA 11. RIO DE JANEIRO. EXTERIOR. DIA

UM BELÍSSIMO STOCK-SHOTS DO RIO DE JANEIRO DO ANO DE 1992.
BUSCAR NOS ARQUIVOS UM TAKE DA CIDADE DA ÉPOCA. MESMA
SONOPLASTIA. DAR ENFOQUE NAS PRAIAS DE IPANEMA, COPACABANA,
LEBLON.
FUNDE PARA:

CENA 12. RIO DE JANEIRO. ORLA DE IPANEMA – TAXI.

EXTERIOR/ INTERIOR. DIA
ABRIMOS NA ORLA DA PRAIA DE IPANEMA. MOVIMENTAÇÃO DA ÉPOCA
DAS PESSOAS E A RELAÇÃO COM A PRAIA. FIGURANTES VESTIDOS COM
ROUPAS DA ÉPOCA. MESCLAR COM VÍDEOS. CORTA PARA UM TÁXI, ONDE
VEMOS NO BANCO DE TRÁS: ALBERTO. ELE SORRI OLHANDO A
PAISAGEM DA PRAIA. CORTES DESCONTÍNUOS DA PAISAGEM E A
REAÇÃO DE ALBERTO SORRI EMOCIONADO, CHEGANDO AS LÁGRIMAS.
ALBERTO — [off] Finalmente o meu Rio de Janeiro, a minha terra!
(pausa) Eu voltei Brasil! Alberto Reis voltou para o seu
Brasil, finalmente, meu Deus... Finalmente!
NO SORRISO DE ALBERTO.
CORTA RAPIDAMENTE PARA:

CENA 13. RJ. SÃO CRISTÓVÃO. RUA. EXTERIOR. DIA

ABRE EM UMA RUA DO BAIRRO DE SÃO CRISTÓVÃO, NO SUBÚRBIO
CARIOCA. ALBERTO EM UM ORELHÃO. MOVIMENTAÇÃO NA RUA,
CARROS, PESSOAS.
ALBERTO — (tel.) Alô? Bruno! (pausa/ ri) Bruno, eu voltei, meu amigo.
Consegui o dinheiro e voltei para o Brasil. (pausa) Tá em São
Paulo? E como andam os filhos, a mulher... (pausa) O Lauro
vai casar? Nossa, quando conheci o peste era uma criança e
agora vai casar. Minha Clarice também já deve estar uma
moça. (pausa) É sério? O nome dela também é Clarice? Que
coincidência, meu amigo. Quando eu puder, eu vou meu
amigo, mas agora eu estou apertado com o dinheiro, me
virando em uma pensão aqui em São Cristóvão. (pausa) O
bairro é bom sim, não como eu morava aqui antes, mas
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 03 PÁG.: 11

melhor do que as minhas condições em Paris. (pausa) Bruno,

por favor, eu preciso saber se você encontrou a Zenilda e a
minha filha, me diz que você encontrou e entregou a carta.
(pausa/ desapontado) Como assim? A tia dela nunca mais
ouviu falar dela nem da menina? A minha mulher fugiu... Ela
fugiu de mim. E com a minha filha! A minha menina...
ALBERTO ARRASADO. NELE. A TELA VAI ESCURECENDO AOS POUCOS.
SONOPLASTIA CONTINUA.
CORTA PARA:

CENA 14. CLIPE

A TELA ANTES DE ESCURECER TOTALMENTE, VAI ABRINDO
NOVAMENTE. ABRIMOS EM UMA IMAGEM DE TELEVISÃO, REPORTAGEM:
REPÓRTER — Hoje o presidente Fernando Collor de Mello renunciou a
presidência após o Impeachment, mas mesmo assim teve os
seus direitos suspensos por oito anos. Itamar Franco assume
definitivamente o cargo em regime. 29 de Dezembro de 1992
ficamos por aqui, para todos uma boa noite.
CORTA PARA: UMA IMAGEM DE LAURO E CLARICE, OS DOIS SE
BEIJANDO EM UMA RODA GIGANTE DE UM PARQUE.
CORTA PARA: MARINA E ROBERTA TOCANDO O PROJETO NAS
COMUNIDADES CARENTES SOZINHAS.
CORTA PARA: MARINA FRUSTRADA QUANDO VÊ CLARICE NA RUA COM
LAURO. ROBERTA A PUXA.
CORTA PARA: THÉO E ZENILDA CASANDO-SE NO CIVIL. CLARICE NÃO SE
CONFORMA.
CORTA PARA: CLARICE CHORANDO COM UMA FOTO DO PAI NA MÃO.
ZENILDA ENTRA EM SEU QUARTO E AS DUAS SE ENCARAM. AINDA HÁ
RESSENTIMENTO NO RELACIONAMENTO DELAS.
CORTA PARA: NO RIO DE JANEIRO, ALBERTO NÃO LOCALIZA A MULHER
E A FILHA E CHORA.
CORTA PARA: IRENE EM MAIS UMA FESTA EM SUA CASA. MATILDE
SERVE OS CONVIDADOS JUNTO COM ROBERTA. ROBERTA TROCA
OLHARES COM UM CONVIDADO.
CORTA PARA: ROBERTA E O MESMO CONVIDADO TRANSANDO EM UM
QUARTO, MUITA SEDUÇÃO E PAIXÃO EM CENA. É A PRIMEIRA VEZ DE
ROBERTA.
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 03 PÁG.: 12

ENCERRA SONOPLASTIA.
CORTA PARA:

CENA 15. APARTAMENTO DE IRENE. QUARTO DE IRENE.

INTERIOR. NOITE
IRENE SENTA-SE NA CAMA. PEGA AS CORRESPONDÊNCIAS QUE ESTÃO
SOB UMA BANDEJA E VAI PASSANDO OS OLHOS. CHEGA A UMA E ABRE,
DEIXANDO AS OUTRAS DE LADO. VAI LENDO CONCENTRADA.
IRENE — Não pode ser. Minha mãe...
CORTA RAPIDAMENTE PARA:

CENA 16. APARTAMENTO DE IRENE. SALA. INTERIOR. NOITE

MARINA VENDO TELEVISÃO, NÃO DETALHAR. IRENE ENTRA PORTA À
DENTRO. NERVOSA COMO SEMPRE. VAI ATÉ A TELEVISÃO E A DESLIGA.
MARINA — Quê foi?
IRENE — A sua avó. Chegou uma carta hoje dizendo que a sua avó
está muito doente e eu resolvi que nós vamos embora para
Porto Alegre.
MARINA LEVANTA-SE ASSUSTADA.
MARINA — (estupefata) Como assim embora?
MARINA ENCARA A MÃE FORTEMENTE.
IRENE — Embora, minha filha. Sair de São Paulo e ir morar em
Porto Alegre para cuidar da minha mãe. Aproveito e mudo de
ares, esta cidade não é mais como era antes.
MARINA — Eu não estou acreditando nisso. Eu não posso sair de São
Paulo, eu não quero sair daqui mãe.
IRENE — Nós vamos, Marina. Pode se despedindo dos seus amigos,
nós vamos isso é um fato consumado!
EM IRENE. CLOSE DE MARINA CONTRARIADA.
CORTA PARA:

CENA 17. APARTAMENTO DE ZENILDA. SALA. INTERIOR. NOITE

ESTÃO REUNIDOS NA SALA DO APARTAMENTO DE ZENILDA ALGUNS
PERSONAGENS DA PRIMEIRA FASE. CLARICE COM LAURO CONVERSAM
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 03 PÁG.: 13

EM OFF COM A MENINA HELENA. BRUNO E TEREZA CONVERSAM COM

MATILDE E ROBERTA. THÉO E ZENILDA. MAIS ALGUNS FIGURANTES SE
ORGANIZAM POR ALI. ZENILDA SE DISTANCIA DO MARIDO E VAI ATÉ OS
OUTROS CONVIDADOS DIMINUI O SOM DA MÚSICA QUE TOCA
CHAMANDO A ATENÇÃO DOS DEMAIS.
ZENILDA — Por favor, eu não quero ser chata, mas acho que está na
hora do nosso jantar de noivado.
LAURO — Concordo sogrinha. Estou louco para colocar um anel na
mão da sua filha.
LAURO E CLARICE RIEM.
THÉO — Então, vamos?
CLARICE — Esperem, por favor. (pausa) Eu não queria que esse pedido
do Lauro fosse formal como é de costume os pedidos que
assim são então eu sugiro que este pedido seja feito agora
antes do jantar.
ROBERTA — Concordo. Desconstrói essa ideia de jantar com pedidos e
discursos. Uma coisa mais leve.
BRUNO — Afinal, estamos entre amigos.
LAURO — Então tudo bem. Eu até prefiro assim, fico menos nervoso.
TODOS RIEM. LAURO TIRA DO BOLSO UMA CAIXINHA. CLOSE EM
CLARICE E LAURO MOSTRA OS CONVIDADOS DEPOIS. ELA SORRI. ELE
PRESTES A COLOCAR A ALIANÇA NA MÃO DA NOIVA.
LAURO — Clarice, eu não sou muito bom com as palavras, então é
melhor eu falar isso o mais rápido possível, porque daqui a
pouco eu já estou gaguejando e/
CLARICE — (ri) Lauro!
LAURO — (ri) Tudo bem. (pausa) O que você acha de passar o resto
da sua vida comigo? (pausa) Casa comigo Clarice.
CLARICE FAZ SUSPENSE. TODOS APREENSIVOS.
LAURO — Por favor, Clarice. Não me mata de nervosismo!
CLARICE — É claro que sim, meu amor. Eu quero passar o resto da
minha vida com você, seu paspalhão.
TODOS RIEM. LAURO COLOCA A ALIANÇA NO DEDO DE CLARICE E OS
DOIS TROCAM UM APAIXONADO BEIJO. TODOS APLAUDEM.
ZENILDA — Agora podemos ir para o nosso jantarzinho?
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 03 PÁG.: 14

TEREZA — Sim, vamos.

TODOS COMEÇAM A SAIR, QUANDO ALGUÉM BATE NA PORTA. FICAM NO
AMBIENTE LAURO, CLARICE, ROBERTA E MATILDE QUE VAI ABRIR A
PORTA. AO ABRIR A PORTA, A SURPRESA: É MARINA. ELA ENTRA NO
APARTAMENTO.
MARINA — Eu posso conversar com a Clarice e a Roberta?
MATILDE — Marina, eu acho que não é uma boa ideia, não nesse
momento.
CLARICE — Matilde.
MATILDE E MARINA OLHAM PARA MARINA.
CLARICE — Deixa a Marina falar.
LAURO — Tem certeza, meu amor?
CLARICE — Sim. Eu quero ouvir o que a Marina veio aqui me dizer.
Eu disse uma vez pra ela que para as amigas eu sou pau para
toda obra, mesmo que ela não me considere como uma.
MATILDE — Tudo bem então. Eu vou avisar a Zenilda para começarem
o jantar sem vocês.
LAURO — Eu vou com você, Matilde.
LAURO E MATILDE SAEM. MARINA, CLARICE E ROBERTA SE OLHAM.
CORTA PARA:

2º INTERVALO COMERCIAL

CENA 18. APARTAMENTO DE ZENILDA. SALA. INTERIOR. NOITE

CONTINUAÇÃO IMEDIATA DA CENA ANTERIOR. CLARICE INDICA O SOFÁ.
CLARICE — Senta Marina.
MARINA — Não é preciso. (pausa) Eu na verdade vim me despedir de
vocês duas.
ROBERTA — Como assim se despedir?
MARINA — A minha mãe recebeu uma carta agora avisando que a
vovó está muito doente e ela resolveu que nós vamos embora
ainda esta semana. Talvez amanhã, depois de amanhã, ainda
não sei, mas como eu sabia que uma oportunidade das duas
juntas eu não conseguiria marcar igual antes, eu vim até aqui.
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 03 PÁG.: 15

Apesar de tudo, Clarice, apesar de nós termos brigado e você

abandonado o nosso pacto.
CLARICE — Marina/
MARINA — Tudo bem, não vou discutir hoje. Não vim aqui para isso.
Pode ser um ultimo recurso falho de tentativa de amizade,
mas eu quero tentar.
ENTRA SONOPLASTIA: “RODA VIVA” – CHICO BUARQUE. MARINA ABRE
OS BRAÇOS. CLARICE E ROBERTA SORRIEM. TODAS EMOCIONADAS.
MARINA — Será que nós podemos ter uma última lembrança boa das
três juntas?
CLARICE E ROBERTA ACEITAM O ABRAÇO DE MARINA.
ROBERTA — Última lembrança não. Isso é só uma etapa, uma provação
da nossa amizade. Tenho certeza que nós ainda vamos ter
muitas lembranças felizes.
CLARICE — Eu também tenho certeza disso.
NO ABRAÇO DAS TRÊS. FADE-OUT.
CORTA RAPIDAMENTE PARA:

CENA 19. SP. SANTOS. PRAIA. EXTERIOR. TARDE

FADE-IN. ABRIMOS EM PLANO ABERTO NA PRAIA DE SANTOS. MESMA
SONOPLASTIA ANTERIOR. ESTAMOS NOS FINZINHO DE TARDE, COM O
SOL QUASE SE PONDO. BANHISTAS E FREQUENTADORES DO LUGAR
AINDA PASSEIAM POR ALI. AO LONGE VEMOS UMA BELÍSSIMA CASA DE
PRAIA. CAM APROXIMA E VEMOS LAURO CONVERSANDO COM BRUNO.
OS DOIS ANIMADOS BEBERICAM UMA CERVEJA. CORTAMOS PARA A
PRAIA, ONDE EM UMA TENDA IMPROVISADA ESTÃO ROBERTA E
CLARICE. A SEGUNDA OSTENTA UMA BELA BARRIGA DE NOVE MESES DE
GRAVIDEZ. AS DUAS CONVERSAM. CONVERSA JÁ INICIADA.
CLARICE — A Marina nunca mais deu notícias.
ROBERTA — No começo ela até ligava, mandava cartas, mas agora
parece que se esqueceu de nós.
CLARICE — Rô será que um dia tudo voltará a ser como era antes?
ROBERTA RESPIRA FUNDO, SEGUIDA DE CLARICE.
ROBERTA — Quem sabe, Clarice?! O futuro não pertence a nós, só
Deus sabe o que será o amanhã. Como diz a música:
Responda quem puder...
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 03 PÁG.: 16

AS DUAS RIEM E SE LEVANTAM DA TENDA. CAMINHAM PELA PRAIA,

AINDA CONVERSANDO.
CLARICE — O Lauro tinha dito que queria um menino, mas ficou
explodindo de felicidade quando soube que eu esperava uma
menina.
ROBERTA — Que homem não ficaria feliz minha amiga? (pausa) Agora
viva o amor de vocês, vocês merecem!
CLARICE — Espero que você também encontre um amor e que a
Marina onde quer que ela esteja que também seja muito feliz
com alguém que a mereça.
ROBERTA PEGA NAS MÃOS DE CLARICE. AS DUAS SORRIEM. PEGAR DE
PERFIL, O SOL SE PONDO EM SEGUNDO PLANO, PEGANDO APENAS A
SILHUETA DAS DUAS.
ROBERTA — Nós somos meninas do Brasil, nada nunca poderá nos
deter.
CLARICE — Porque as meninas do Brasil são mais que meninas, são
guerreiras, são mulheres, são brasileiras... E em breve vem
mais uma por aí.
ROBERTA PASSA A MÃO PELA BARRIGA DE CLARICE. AS DUAS SORRIEM.
CAM VAI SAINDO POR CIMA PEGANDO O CÉU LARANJA, NO FIM DE MAIS
UM DIA. FADE-OUT.
CORTA PARA:

CENA 20. SÃO PAULO. EXTERIOR. NOITE - DIA

FADE-IN. UM STOCK-SHOTS DA CIDADE DE SÃO PAULO É APRESENTADO.
MAS AGORA É NA ATUALIDADE. ENTRA SONOPLASTIA: “PACIÊNCIA” –
CHICAS. VISTA PANORÂMICA DA CATEDRAL DA SÉ, MASP, TEATRO
MUNICIPAL, A PRAÇA DA REPÚBLICA E A AVENIDA PAULISTA. AOS
POUCOS AMANHECENDO NA CIDADE. TODA A MOVIMENTAÇÃO DE
CARROS E PESSOAS BEM DESTACADA EM CENA. ÚLTIMO TAKE NO
BAIRROS DOS JARDINS. MOSTRAR A LUXUOSIDADE DO BAIRRO E SEU
MOVIMENTO. TERMINA NA FACHADA DA MANSÃO DE CLARICE.
CORTA PARA:

CENA 21. CASA DE CLARICE. SUÍTE DE CLARICE E LAURO.

INTERIOR. MANHÃ
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ABRE LOGO NA DECORAÇÃO DA SUÍTE DO CASAL. CLARICE, JÁ VIVIDA

PELA ATRIZ ATUAL LEVANTA-SE DA CAMA. VAI ATÉ A JANELA E ABRE
AS CORTINAS LEVEMENTE DEIXANDO OS RAIOS DE SOL ENTRAREM NO
AMBIENTE. VEMOS APENAS A PARTE DE TRÁS DELA. NÃO REVELAMOS
AINDA O SEU ROSTO. ELA CAMINHA PARA O CLOSET. ALGUNS SEGUNDOS
E ELA SAI COM UM ROUPÃO. DIRIGE-SE PARA OUTRA PARTE DO
AMBIENTE.
CORTA PARA:

CENA 22. CASA DE CLARICE. SUÍTE CASAL. BANHEIRO.

INTERIOR. MANHÃ
CLARICE SE OLHA NO ESPELHO, VÊ SUA IMAGEM REFLETIDA. AGORA SIM
REVELAMOS A ATRIZ. CLARICE TIRA SUA CAMISOLA E EMERGE DENTRO
DA BANHEIRA DE MÁRMORE. ELA RELAXA EM SEU BANHO. LAURO
ENTRA JÁ SE APROXIMANDO DA ESPOSA.
LAURO — Nem me chamou meu amor. (indo para o espelho) Tô
atrasado para a reunião na clínica.
CLARICE — Calma Lauro. Você não disse que a reunião era só as dez?
Agora que são oito. Relaxa.
LAURO — Eu sou o dono da clínica de estética, Clarice. Tenho que
dar exemplo.
CLARICE — O senhor ficou muito ranzinza depois que comprou a
clínica do Victório. (pausa/ maliciosa) Vem aqui comigo,
tomar um banho gostoso de banheira, vem.
LAURO OLHA PARA A ESPOSA E RI MALICIOSO.
LAURO — Não me faça perder o controle...
CLARICE — Eu gosto é quando você perde.
CLARICE CHAMA LAURO COM O DEDO. FAZ CARA DE SAFADA. ELE TIRA
A ROUPA DE DORMIR, FICANDO SÓ DE CUECA. AFUNDA NA BANHEIRA
JUNTO COM A ESPOSA. SOBE TEMA DELES. OS DOIS SE BEIJAM COM
ARDOR. CORTES DESCONTÍNUOS DO CASAL EM POSES E CARÍCIAS
QUENTES E APAIXONADAS. MUITOS BEIJOS NA BOCA, MORDIDAS,
CHUPÕES E ARRANHÕES. OS DOIS VÃO SE ENTREGANDO AO PRAZER.
CORTA PARA:
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CENA 23. CASA DE CLARICE. SALA DE JANTAR. INTERIOR.

MANHÃ
MARCELA TOMA CAFÉ DA MANHÃ SOZINHA. JÁ É UMA ADOLESCENTE
PERTO DE SEUS 18 ANOS. CLARICE E LAURO ENTRAM E VÃO SENTAR EM
SEUS LUGARES.
MARCELA — Que demora vocês dois!
LAURO — (ri) Imagina. Pela hora, estou até achando que é cedo.
LAURO E CLARICE RIEM.
MARCELA — Olha o seu Lauro de bom humor, milagre! Transaram?
CLARICE — (repreende) Marcela!
MARCELA — (ri) Brincadeira, credo. (pausa) É que o papai anda tão
azedo nesses últimos dias que acordar de bom-humor é um
privilégio para a família toda.
LAURO — A sua mãe disse a mesma coisa, como vocês são
implicantes.
CLARICE — Preocupadas, diferente! Estamos preocupadas com este
mau-humor todo, Lauro. Você precisa de férias, um
descanso, uma viagem em família/
LAURO — Realmente.
MARCELA — Não comecem! Viagem em família é uma tremenda barca
furada, nunca dá certo, além do mais eu combinei com o
Tiago de ir para a praia nestas férias.
LAURO — Você e esse delinqüente sozinhos em uma casa de praia?
Vai sonhando, dona Marcela.
MARCELA — Vai maior turma pai. Acho que mereço. (pausa) Vocês vão
se orgulhar da filha que tem, depois de eu ler o meu discurso
como oradora da turma na formatura.
CLARICE — Discurso como oradora? (anima) Ai, essa eu quero ouvir,
lê pra gente, filha.
MARCELA — Tá espera um pouco. Não está aquela perfeição toda,
mas... Eu tentei.
LAURO — Qualquer coisa na sua mão vira obra-prima.
MARCELA E CLARICE RIEM.
CLARICE — Credo Lauro, como você é exagerado.
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LAURO SE RETRAI. MARCELA PEGA O DISCURSO DA MOCHILA. LIMPA A

GARGANTA. LAURO E CLARICE SE ENTREOLHAM.
MARCELA — Vou ler só uma parte, porque é bem grande. (pausa)
Intenso. Assim foi esse tempo em que estivemos unidos, um
período no qual descobrimos o mundo: estudamos,
brincamos, aprendemos, sorrimos... Juntos, alunos,
funcionários, pais e professores vivemos estes momentos
inexplicáveis. Cativamos e fomos cativados. Momentos de
responsabilidade, alegres e produtivos. Ao contrário do que
muitos dizem, responsabilidade é liberdade. Liberdade de
escolher os nossos próprios caminhos, incomparável é esta
sensação da qual compartilhamos hoje. Nosso país hoje é
liberto, outrora não fora.
CLARICE VAI SE EMOCIONANDO COM SUAS PALAVRAS. INSERIR FLASH-
BACK: MOMENTOS DE ALBERTO COM A FILHA PEQUENA. NARRAÇÃO DE
MARCELA EM OFF.
MARCELA — [off] Liberdade é defender de maneira racional interesses
em prol da coletividade, pois tivemos verdadeiras lições de
uma arte chamada política. Nossa escola nos preparou para
isso. O que somos hoje é em grande parte, fruto do caminho
percorrido durante todos esses anos em nosso colégio. Não
temos medo do que virá, só sabemos que virá... E que seja
bem-vindo!
VOLTA PARA MARCELA, EM CLOSE. MARCELA TERMINA SEU DISCURSO.
CLARICE OLHA PARA A FILHA, UMA LÁGRIMA CORRE DO SEU ROSTO.
LAURO PERCEBE EM QUE A MULHER SE LEMBROU E SORRI SERENO.
CLARICE SEGURA A MÃO DE MARCELA.
CLARICE — Foi lindo, filha. Eu me lembrei do seu avô e sei que ele
estaria tão ou mais orgulhoso ao ouvir esse seu discurso.
MARCELA — (sorri) Foi pensando nele mesmo que eu escrevi esse
discurso, mãe. Eu sei o quanto você gostaria de ter a
companhia dele agora aqui com a senhora. Gostaria de ver a
ONG erguida e sendo tocada com sucesso...
AS DUAS TROCAM OLHARES CÚMPLICES, DE MÃE E FILHA.
CORTA PARA:

CENA 24. APARTAMENTO DE ROBERTA. COZINHA. INTERIOR.

MANHÃ
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ROBERTA, A TIA DOROTÉIA E A PRIMA ELIANA ESTÃO TOMANDO CAFÉ

DA MANHÃ NA COZINHA. AMBIENTE MAIS SIMPLES, MAS CHARMOSO.
CONVERSA JÁ INICIADA.
ELIANA — Mas não custa sonhar com sempre mais, Roberta. Você é
muito simplória. Não pensa grande.
DOROTÉIA — Quanta bobagem, minha filha. (pausa) Um dia você ainda
vai ver que a sua prima está certa.
ROBERTA — Nossa ONG está de pé graças aos nossos esforços, Eliana.
A história de vida da Clarice, a minha, a da Marina faz parte
da história desse país. Nós sabemos o que enfrentamos para
erguer uma ONG sem ajuda nenhuma para cuidar dessas
meninas abandonadas à própria sorte, tendo que na rua se
prostituir. A Meninas do Brasil está aí por obra e graça do
esforço, minha prima. Nada veio de graça.
ELIANA — É pecado sonhar com dinheiro, é pecado ser ambiciosa?
ROBERTA — Quando passa por cima dos outros sim, Eliana. O valor
das coisas não está no dinheiro e sim na nossa vivência, nas
nossas emoções.
AS DUAS SE ENCARAM FORTEMENTE. EM ROBERTA. CONGELA.
CORTA PARA:

EFEITO FINAL: O ROSTO DE CLARICE FICA CINZA, ENQUANTO O

PLANO DE FUNDO É PREENCHIDO COM AS CORES DA BANDEIRA DO
BRASIL.

FIM DO CAPÍTULO 03

Créditos sobem ao som de: “Boston – Augustana”.