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1) Considerações iniciais
Por causa das crescentes discussões sobre os meios de impugnação nos Juizados Especiais
Cíveis e, particularmente, sobre o cabimento ou não do recurso adesivo neste rito, é proveitoso o
presente estudo.
A lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais, nº 9.099 do ano de 1995, surgiu com o
objetivo de acelerar o processo, demonstrado através dos princípios dispostos em seu artigo 2º:
“o processo orientar-se-á pelos critérios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia
processual e celeridade, buscando, sempre que possível, a conciliação ou a transação”.
Em 2004, a celeridade e a razoável duração do processo tornaram-se princípios
constitucionais, albergados no art. 5º, inc. LXXVIII.
Torna-se extremamente necessária a utilização do recurso subordinado no âmbito dos
juizados especiais cíveis, permitindo o recurso adesivo ao recurso inominado e, para tanto,
defenderemos esta linha, a qual será explicada no presente trabalho.
2) Terminologia
Ao contrário do que parece e infere-se a partir de sua nomenclatura, o recurso adesivo não
é uma espécie de recurso. Ele, em verdade, é um modo de interposição de recurso: uma maneira
especial interpor o recurso de apelação, por exemplo.1,2 As únicas diferenças encontradas estão:
no momento de sua interposição, pois poderá ser interposta após o fim do prazo para o recurso
1
Entende Nelson Nery Junior: “o denominado recurso adesivo nada mais é do que uma das maneiras de interpor-se
aqueles quatro recursos. Em síntese, o recorrente pode utilizar-se dos recursos de apelação, embargos infringentes,
recurso especial e recurso extraordinário de duas formas: pela via denominada principal ou pela adesiva. O recurso
adesivo, assim, é apenas uma ‘forma’ de interposição daqueles quatro recursos” (Teoria Geral dos Recursos. Recur-
sos no Processo Civil 1, 6ª ed. 2004, pág. 52).
2
Jorge, Flávio Cheim, Teoria Geral dos Recursos Cíveis, 2ª ed. 2004, pág. 325.
principal, e na sua subordinação ao recurso principal. Contudo, ele tem os mesmos requisitos do
recurso a que se sujeita.
Ante a necessidade de disposição expressa na lei, haja vista o princípio da legalidade
estrita no que cerne à matéria de recurso, jamais poderia o recurso adesivo ser considerado
autônomo ou sui generis, diante da falta de sua disciplina legal3, isto é, não se encontra inserido
no rol taxativo do artigo 496 do Código de Processo Civil pátrio.
Além da atecnia quanto ao termo “recurso”, também ocorre com o “adesivo”. Com a
devida vênia, transcrevo as palavras de Moacyr Amaral Santos:
“Adesivo” é o que se une, o que se junta. Enquanto isso, o recurso adesivo se contrapõe
ao recurso principal, a este não se juntando. Quando muito o recurso adesivo se junta ao
procedimento recursal instaurado com a interposição do recurso principal. Melhor fora
se se lhe desse a denominação de recurso condicionado, ou subordinado, porquanto o
está à existência de recurso principal.4
Por sua vez, Afonso Fraga e Pontes de Miranda, citados por Vicente Greco Filho,
utilizaram a expressão “recurso paralelo”.5 Em melhor entendimento, Flávio Cheim afirma que o
recurso deveria se chamar subordinado, porque não se trata de adesão, mas de interposição de um
novo recurso que é dependente do recurso principal, além de não haver adesão material.6
Esta discussão é meramente acadêmica, pois não há problemas em se utilizar a expressão
“recurso adesivo”, que é a terminologia utilizada no direito comparado. E é assim que trataremos
no decorrer deste trabalho.
3
Souza, Bernardo Pimentel, Introdução aos Recursos Cíveis e à Ação Rescisória, 3ª ed 2004, pág. 120.
4
Santos, Moacyr Amaral, Primeiras Linhas de Direito Processual Civil, 11ª ed Vol 3 1989-1991, pág 200.
5
Greco Filho, Vicente, Direito Processual Civil Brasileiro, 16ª ed Vol 2 2003, pág 286.
6
Jorge, Flávio Cheim, Teoria Geral dos Recursos Cíveis, 2ª ed. 2004, pág. 324.
recurso, sofreria mais do que o decisum da sentença de 1º grau e, inclusive, poderia sucumbir
totalmente, caso a decisão do tribunal decidisse. Toda esta problemática existia pela rigidez e
incentivo do Código pretérito à interposição de recursos. A sobrecarga do Judiciário era,
portanto, inevitável.
Para inibir esta possibilidade, o sucumbente recorrido deveria, também, entrar com um
recurso contra a parte que sucumbiu no mesmo prazo do recorrente. Havia temor de que o outro
litigante pudesse atacar a decisão e o recorrente, àquela época, interpunha sem vontade. A partir
de 1973, o sucumbente não tem mais motivo para temer a interposição do recurso do adversário.
Como, com probidade, Flávio Cheim Jorge enaltece, “desse modo, evita-se a utilização de
recursos sem muita convicção e, conseqüentemente, a desnecessária carga de trabalhos nos
tribunais”.7 A existência de dois recursos principais afeta a velocidade do processo.
Vale ressaltar que o recurso adesivo não se assemelha à resposta ao recurso da parte
adversa. Não se pode pedir a reforma da decisão em seu favor na resposta, mas somente pelo
recurso adesivo.8
A celeridade e a economia processual, princípios encontrados no art. 2º da lei dos
Juizados Especiais, são afrontadas, pois a maioria das decisões, como será demonstrado no
decorrer do trabalho, não conhecem deste instituto tão eficaz para o rápido andamento do
processo.
Desde já, notamos que o novo instituto veio para agilizar o bom andamento processo,
fazendo valer os princípios acima elencados.
7
Greco Filho, Vicente, Direito Processual Civil Brasileiro, 16ª ed Vol 2 2003, pág. 326.
8
Idem, pág 289.
Através de sucinta análise do dispositivo, só é aplicado o recurso adesivo quando houver
sucumbência recíproca, transmitidos pela expressão “vencidos autor e réu”. Não pode, por
conseguinte, ser interposto por terceiro ou pelo Ministério Público.
Haja vista que os únicos legitimados a entrarem com o recurso adesivo são o autor e o
réu, só se pode entrar contra um recurso da outra parte, não existindo, verbi gratia, recurso
adesivo a recurso de terceiro.
O recurso adesivo é admitido na apelação, nos embargos infringentes, no recurso
extraordinário e no recurso especial (inciso II). Luiz Guilherme Marinoni amplia este rol disposto
no Código. Por interpretação jurisprudencial, entende o ilustre mestre que sobre o recurso
ordinário constitucional, em face da semelhança com a apelação, também pode recair recurso
adesivo.9
Este instituto é deveras eficaz para evitar a interposição de recursos e o prolongamento do
processo. Em verdade, quando há sucumbência recíproca, é muito comum que as partes estejam
conformadas com a decisão judicial e esperem, ansiosas, para que transcorra o prazo do recurso.
Com as palavras de Carlos Silveira Noronha, através das quais se demonstra o conformismo dos
sucumbentes:
Constituía-se uma cena pitoresca, mas comum às portas dos cartórios e secretarias dos
juízes e tribunais, o fato de ficarem os advogados das partes, cada um com a sua
petição, no último dia e hora do fechamento do prazo, à espera do recurso do outro.
Caso um recorresse, o outro faria o mesmo. Mas, se um não tomasse a iniciativa, o
outro também se manteria inerte, transitando a sentença em julgado.10
Entretanto, nada impede que uma das partes resolva entrar com recurso contra aquela
decisão ora aceita por ambos e, assim, surpreende a parte contrária. Deve haver, entretanto,
interesse de a parte entrar com o recurso em questão.
Uma vez que é princípio do processo a isonomia ou a litigância com paridade em armas,
deve-se re-equilibrar as partes caso alguma circunstância superveniente possa causar
superioridade ou inferioridade para uma parte em relação à outra.11 Deste modo, o prazo para se
interpor o recurso adesivo é o mesmo prazo do recurso que será aderido, a contar da publicação
do despacho que admitir o recurso principal. No caso do recurso contra sentença do juiz dos
juizados especiais, o prazo é de 10 dias. O princípio da isonomia, incorporado pelo art. 500, inc.
9
Marinoni, Luiz Guilherme, e Arenhart, Sérgio Cruz, Manual do Processo de Conhecimento, 4ª ed. 2005, pág. 568.
10
Noronha, Carlos Silveira, Do Recurso Adesivo, 1ª edição 1974, pág. 58. Rio de Janeiro: Forense, 1974.
11
Cintra, Antônio Carlos de Araújo, Grinover, Ada Pellegrini, e Dinamarco, Cândido Rangel, Teoria Geral do
Processo, 19ª ed. 2003, pág. 53.
I, encontra-se tutelado no artigo 125, inciso I, do Código de Processo Civil, o qual diz: “o juiz
dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, competindo-lhe: I – assegurar às
partes igualdade de tratamento”.
Além disto, o recurso adesivo está intimamente ligado ao recurso principal. O professor
Humberto Theodoro Júnior, com probidade, o qualifica como acessório do recurso principal.12
Há tal previsão no inciso III do art. 500, para o qual o recurso adesivo “não será conhecido, se
houver desistência do recurso principal, ou se for declarado inadmissível ou deserto”.
Vale ressaltar que, se a parte já ofereceu recurso principal, não poderá apresentar recurso
adesivo, pois, assim, haveria preclusão consumativa13. O direito de a parte recorrer já existiu e foi
aproveitada pela mesma.
Para finalizar este tópico, convém elucidar o disposto no parágrafo único do artigo em
discussão, o qual dispõe que as mesmas regras do recurso principal quanto às condições de
admissibilidade, preparo e julgamento no tribunal superior serão aplicadas ao recurso adesivo.
5) Justificativa e finalidade
Ao contrário do que muitos pensam, o recurso adesivo não é uma ferramenta para ajudar
o mal recurso — que seria o recurso, principal, interposto fora do prazo legal — ou facilitar
alguma parte que não haja interposto seu recurso, mas serve para desestimular, através de um
efeito psicológico, a interposição de recursos meramente acautelatórios, carentes de
inconformismo. O interesse em interpô-lo nasce quando se sabe que a outra parte entrou com o
recurso.
Tal pensamento decorre do fato de que a parte só interporá se a outra interpuser, pois elas
estão satisfeitas com a prestação judiciária e, enfim, com o julgado.14
Já que ele é um instrumento que inibe a interposição de recursos ou o seu prosseguimento
— caso em que o recorrente poderá desistir-lhe —, a celeridade, princípio processual, é
12
Theodoro Júnior, Humberto, Curso de Direito Processual Civil, 41ª ed. 2004 Vol I, pág. 524.
13
“Inadmissível a interposição de apelação adesiva pela parte que apelou principalmente. O recurso subordinado só é
dado à parte que se conformaria com a sentença se a outra não recorresse” (TJRS 15ª C., Ap. 596158344, rel. Des.
Araken de Assis, j. 19.9.96, v.u., RJTJRS 180/381)
14
Como escreve Flávio Cheim Jorge, “Muitas vezes, até se tinha a intenção de se conformar com o julgado e não
recorrer, eis que a decisão, da forma como prolatada, era de bom tamanho. No entanto, no receio do outro litigante
ataca-la, interpunha, desde logo, sem muita convicção, o seu próprio recurso” (Teoria Geral dos Recursos Cíveis, 2ª
ed. 2004, pág. 321).
alcançada. O fato de saber o recorrente que, posteriormente, um recurso pode ser “aderido”,
deixa-o mais cauteloso antes de acionar o Judiciário. Isto imprime maior velocidade aos
processos.
Outrossim, se o principal não for conhecido ou se o recorrente desistir do recurso
principal — pois há a possibilidade de nova decisão que piore sua situação —, o adesivo quedará
inviabilizado, pois lhe é dependente. A intenção do recorrente-adesivo não é a de protelar o
processo, pois o quantum designado lhe foi razoável.15 Além do mais, a parte que realmente está
inconformada com a decisão judicial entra, de pronto, com o recurso.16
Ademais, o recurso adesivo reduz o processo de conhecimento, já que as partes não têm
interesse em interpor recurso, de acordo com o conformismo já explanado. Acrescenta com
clareza, ainda, Noronha:“a indecisão de cada uma das partes em ingressar com o recurso
principal pode resultar na inexistência deste, após o decurso do prazo, hipótese em que a
sentença transita em julgado, acelerando a solução do litígio”.17
Continua o mestre enunciando mais argumentos em prol do recurso adesivo. Caso o
Tribunal resolva acolher as alegações do recurso que aderiu ao principal, torna-se claro que o
recorrente-principal quererá aceitar o sentenciado em 1º grau. Ora, uma vez que é subordinado ao
principal, o recorrente, nesta situação, pode desistir e, assim, o recurso adesivo desaparecerá e
não será conhecido, o que lhe é benéfico. Mais uma vez, a celeridade e economia processuais são
constatadas.
Segue raciocínio similar Moacyr Amaral Santos, o qual encontrava problemas antes da
instituição do recurso adesivo. Acontecia que, mesmo que uma parte estivesse conformada com a
decisão do juiz, esta ficaria induzida a entrar com o recurso para evitar que uma nova decisão a
desfavorecesse. Conclui:
Visto esse problema sob vários aspectos, inclusive o de redução do volume de
recursos e, de certa forma, visando a prestigiar o princípio da lealdade processual, o
Código de Processo Civil vigente, à semelhança de legislações processuais estrangeiras
contemporâneas, estabeleceu que, no caso de ambas as partes serem parcialmente
sucumbentes e de apenas uma delas recorrer, à outra assiste a faculdade de, apesar de
esgotado o prazo legal para a interposição do recurso, mas dentro de prazo limitado,
oferecer também sua impugnação ao julgamento.18(grifos nossos)
15
“O CPC, art. 500, III, expressa que o recurso adesivo não será conhecido se o recurso principal for declarado
inadmissível, o que, in casu, ocorreu. Não conheço do recurso” (do relator Min Edson Vidigal, STJ, 5ª T., REsp
30.134-1-RJ, j. 2.2.94, v.u. RSTJ 63/315).
16
Jorge, Flávio Cheim, Teoria Geral dos Recursos Cíveis, 2ª ed. 2004, pág. 327.
17
Noronha, Carlos Silveira, Do Recurso Adesivo, 1ª ed. 1974, pág. 59.
18
Santos, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil. 11ª ed. 1989-1991 Vol 3, pág 200.
Em decorrência da aceitação, implícita, da reformatio in peius pelo Código de 193919,
acontecia muito a parte somente interpor recurso por puro temor do recurso adversário, o que
prejudicava a economia processual e a rapidez do processo. O mestre Jose Afonso da Silva, com
clareza, expõe: “Essa rigidez, que se observava no CPC, de 1939, estimulava, ou antes, compelia
o recuso de ambas as partes na sucumbência inversa, embora alguma delas, ou talvez as duas, já
se sentisse conformada com a sentença”.20
E continua Amaral Santos:
Aquele que deseja recorrer é que vai pensar duas vezes antes de abrir a via recursal,
com recurso principal, dando margem ao outro de, após o prazo, aderir, propiciando
julgamento contra o interesse daquele. Então, balanceará a situação para verificar se
não é mais conveniente ficar com o que já obtivera do que arriscar-se a perdê-lo na
busca de um pouco mais.21
Desde que surgiu e foi instituído no Código de Processo Civil brasileiro, o recurso
adesivo só se exerce a favor dos princípios processuais e constitucionais que baseiam nosso
sistema.
6) Os Juizados Especiais
22
Souza, Bernardo Pimentel, Introdução aos Recursos Cíveis e à Ação Rescisória, 3ª ed 2004, pág 815.
23
Disponível em: <http://www.tj.rs.gov.br/institu/je/enunciadosciveis.html>. Acesso em: 16 out. 2005
24
Souza, Bernardo Pimentel, Introdução aos Recursos Cíveis e à Ação Rescisória, 3ª ed 2004, pág 816.
25
Disponível em: <http://orbita.starmedia.com/tj.rj.paracambi/paginas/enjec.htm>. Acesso em: 16 out. 2005.
da Lei nº 9.099/95 (JDCIT-TAM-00352/02-1 CV, Data da Sessão: 16/05/2005). (grifos
nossos)
Parece que os Tribunais Egrégios deste país estão andando de encontro às boas inovações
e consideráveis avanços das normas procedimentais, como julgamento dos acórdãos 123.946 e
128.060, respectivamente, emanados pelo juiz relator Arnoldo Camanho de Assis, retirada da
Revista dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais Números 8 e 9, do Distrito Federal e
Territórios:26
PROCESSO CIVIL. INTIMAÇÃO DE TESTEMUNHAS RESIDENTES EM OUTRA
COMARCA POR CARTA PRECATÓRIA. DESCABIMENTO EM SEDE DE
JUIZADOS ESPECIAIS. EXCLUSÃO DO MOTORISTA DA EMPRESA-RÉ DO
PÓLO PASSIVO DA RELAÇÃO PROCESSUAL. DECISÃO QUE, EM TESE,
PODERIA CAUSAR GRAVAME APENAS AO AUTOR, NÃO ESTANDO A RÉ,
PORTANTO, LEGITIMADA A QUESTIONAR O ATO JUDICIAL QUE ASSIM
DECIDIU, ATÉ PORQUE A MESMA DISPÕE DE AÇÃO REGRESSIVA PARA A
EVENTUALIDADE DE SUA CONDENAÇÃO. INDEMONSTRADOS, TANTO
PELO AUTOR, QUANTO PELA RÉ, OS FATOS CONSTITUTIVOS DOS
DIREITOS QUE ALEGAM TER, É DE SER MANTIDA A SENTENÇA QUE
JULGA IMPROCEDENTE A PRETENSÃO INAUGURAL E O PEDIDO
CONTRAPOSTO. RECURSO ADESIVO. DESCABIMENTO NO MICRO-
SISTEMA DOS JUIZADOS ESPECIAIS. PRECEDENTES DA TURMA
RECURSAL.
5. Não se admite recurso adesivo em sede de juizados especiais, não só porque
inexiste previsão na lei de regência, como porque não há compatibilidade entre o
seu processamento e o rito especial e célere preconizado pelo diploma legal
específico. 6. Recurso conhecido e desprovido. Sentença confirmada. (ACÓRDÃO Nº
123.946). (grifos nossos)
Jorge Alberto Quadros de Carvalho Silva, embora defenda que não é possível ser
utilizado o recurso adesivo nos juizados especiais, menciona que os tribunais do Paraná e de
Goiás o aceita.27 Já julgou a Turma Recursal do Paraná, de recurso inominado da Comarca de
Ibiporã, com méritos para o relator Vitor Roberto Silva:
CIVIL. COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA. ADQUIRENTE. DESISTÊNCIA.
PARCELAS PAGAS. DEVOLUÇÃO. PARCELAMENTO. IMPOSSIBILIDADE.
CLÁUSULA CONTRATUAL. INTERPRETAÇÃO. COMISSÃO DE CORRETAGEM.
CONTRATO AUTÔNOMO. MULTA. REDUÇÃO. IPTU. VALOR DA
CONDENAÇÃO. EQUÍVOCO. REDUÇÃO DE OFÍCIO.
1. É incabível a devolução das parcelas aos adquirentes de forma parcelada, pois a
resolução do ajuste ocorreu, de fato, por iniciativa dos promitentes compradores. 2. A
penalidade imposta aquele que deu causa à ruptura do negócio não se confunde com multa
moratória. 3. À míngua de ajuste expresso em sentidocontrário, é do vendedor a
responsabilidade pelo pagamento da comissão de corretagem, por ele contratada e que
importa em ajuste autônomo da compra e venda. Já os impostos incidentes sobre o bem,
na vigência do ajuste, são de responsabilidade dos compradores, por expressa previsão
contratual. 4. O valor principal da condenação é reduzido de ofício, porquanto
computados juros moratórios antes do correto termo inicial desse encargo. Recurso
27
Silva, Jorge Alberto Quadros de Carvalho, Lei dos Juizados Especiais Cíveis Anotada, 2ª ed 2001, pág. 131.
principal não provido. Recurso adesivo provido em parte. Redução de ofício do valor
da condenação. (Autos 2004.469-1/0 – fls. 2).28 (grifos nossos)
Ainda que não provido, ou seja, não acatado, no mérito, o recurso principal, esta decisão
não afetou o recurso adesivo, que foi provido em parte. Caso não fosse aceito o recurso adesivo
no Código de Processo Civil e, especificamente, na lei 9.099/95, a injustiça predominaria na
decisão acima.
Inclusive no Distrito Federal, a Primeira Turma Recursal já decidiu pró-recurso adesivo:
CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. DANO MORAL. OCORRÊNCIA. RECURSO
ADESIVO. CABIMENTO. 1) O recurso adesivo não é meio de impugnação
autônomo, a reclamar previsão legal específica, podendo e devendo ser admitido
em sede de juizados especiais. 2) É grave a culpa do fornecedor que lança,
indevidamente, o nome do consumidor em cadastros restritivos de crédito quando as
prestações foram pagas antes mesmo do vencimento. 3) O valor das indenizações nos
juizados especiais devem guardar, tanto quanto puderem, semelhança com aquelas
fixadas pelo juízo comum, sob pena de se desprestigiar quem busca a justiça do povo.
(ACJ DF 20020310108655, Rel. Juiz GILBERTO PEREIRA DE OLIVEIRA,
25/02/2003.). (grifos nossos)
Por sua vez, Joel Dias Figueira Junior e Mauricio Antonio Ribeiro Lopes afirmam que
nada impede que as Leis de Organização Judiciária regulem a matéria do recurso em questão nos
Juizados Especiais. É necessário, entretanto, que o Código de Processo Civil não vá de encontro a
algum artigo ou princípio da lei especial.29
Ainda alicerçando nosso ponto de vista, com sapiência justifica João Roberto Parizatto:
Inobstante seja faculdade a cada parte interpor, independentemente, no prazo legal, será
admissível também no Juizado Especial, nos casos de sucumbência recíproca, a
interposição de recurso adesivo, mediante o recurso interposto pela outra parte, nos
termos do art. 500 do Código de Processo Civil, a ser ofertado no prazo de resposta
(CPC, art. 500, I), do recurso aforado no Juizado Especial (parágrafo 2º do art. 42).30
Não se precisa de muito raciocínio para afirmar que não há argumentos para a não
aceitação do recurso adesivo nos juizados especiais. Resta claro que não há previsão legal do
recurso adesivo na legislação dos juizados especiais. De acordo com o princípio da taxatividade,
para o qual os recursos devem estar previstos, por silogismo, estaria de acordo com a lei o seu
não cabimento. Como já foi explicitado, o recurso adesivo deveria estar listado no artigo 496 do
Código de Processo Civil. Sem embargo, ele é aceito e utilizado no procedimento ordinário,
28
Disponível em: <http://www.tj.pr.gov.br/juizado/images/Acordaos/Sessao15_240504/2004.469-1.pdf>. Acesso
em: 21 out. 2005.
29
Figueira Junior, Joel Dias; Lopes, Mauricio Antonio Ribeiro, Comentários à Lei dos Juizados Especiais Cíveis e
Criminais, 1995, pág. 195.
30
Parizatto, João Roberto, Comentários à Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais de acordo com a lei nº
9.099, de 26-09-1995, 1996, pág. 104.
porque não se trata de um recurso propriamente dito, mas, como dito, um método de interposição
de recurso.
7) Considerações Finais
8) Referências
BRASIL. Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Código de Processo Civil. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L5869.htm>. Acesso em: 20 out. 2005.
BRASIL. Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995. Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e
Criminais e dá outras providências. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
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