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LIVRE-ARBÍTRIO: UMA ILUSÃO?

Passei na porta da minha sorveteria favorita. Parei. Entro ou não entro?


Estou tentando perder uns quilinhos e tenho ido bem até aqui. Basta virar as
costas e seguir em frente. Mas fico alí, parada, indecisa.
A crença de que temos o livre-arbítrio tem influenciado as ciências,
filosofia, religião, moral, entre outras áreas. Para o filósofo francês, Jean Paul-
Sartre, somos criaturas livres e, portanto, responsáveis pelas nossas ações.
Para ele, não existe algo como uma natureza humana que nos leva a agir de
certa maneira. Temos sempre uma opção, uma escolha. Somos livres para
escolher.
Há, entretanto, outros pensadores que acreditam ser o livre-arbítrio uma
ilusão. Para esses pensadores, somos, na verdade, o resultado do passado, de
nossas experiências. Charles Darwin propõe, na seleção natural, que os
organismos sofrem mutações para melhor se adaptar ao meio ambiente. Os
mais adaptados sobrevivem enquanto os outros são extintos. Nada de livre
arbítrio até aí.
O determinismo está presente em várias áreas. Na biologia, com a
hipótese de que fatores biológicos, como os genes, determinam nosso sistema
de comportamento. Ou na psicanálise, que sugere que o nosso comportamento
adulto é resultado de eventos na infância. Ou nas religiões orientais, que
acreditam no carma como determinante do nosso destino, uma verdadeira
representação da lei de causa e efeito.
Onde fica o livre-arbítrio em tudo isso? Existe alguma evidência, que vá
além da minha intuição, de que ele exista?
Esta é uma questão antiga. Boethius, um filósofo romano cristão, quebrou
a cabeça tentando conciliar sua fé com a idéia do livre arbítrio: Se Deus é
onisciente, então, Ele sabe o que vai acontecer (por exemplo, eu vou acabar
entranto naquela sorveteria e tomar o meu sorvete, ou se vou embora!). Mas, se
temos o livre-arbítrio, o futuro é incerto. Nesse caso, o futuro é como um livro
aberto com as páginas em branco, um mundo de possibilidades. Então, não é
possível saber o futuro. Entretanto, se Deus sabe o futuro, é porque só existe
uma possibilidade (ou entro na sorveteria, ou não entro).
A conclusão de Boethius? Ele nos fornece uma solução para o dilema: as
coisas parecem ser verdadeiras ou falsas, dependendo do ponto de vista de
cada um. A maneira como entendemos as coisas está diretamente relacionado
com a pessoa que retém aquele saber. Deus, portanto, sabe as coisas sob uma
perspectiva infinita pois Deus tem conhecimento perfeito. Para Deus, o
conhecimento é algo diferente de como percebemos conhecimento. Assim,
Boethius tenta reconciliar sua fé cristã e a razão como filósofo. Mas o que ele
parece realmente fazer é encaixar os conceitos bíblicos de Deus e livre-arbítrio
com o seu propósito como cristão.
Muitas outras questões surgem, como, por exemplo, se seria possível o
exercício do livre-arbítrio diante da completa ausência de motivos; ou mesmo se
os dois, livre-arbítrio e determinismo, poderiam conviver em harmonia, um do
lado do outro.
Se eu estou fazendo uma escolha livre, ou se a minha atitude é
determinada por algum outro fator, tô entrando na sorveteria!

Denise M. Osborne é araxaense, doutoranda pela Universidade do Arizona


(USA) em aquisição de segunda língua, e professora de português pela
mesma universidade. dmdcame@yahoo.com

Artigo originalmente publicado pelo Jornal Clarim (Minas Gerais, Brasil):

Osborne, D. (2010, Aug 6). Livre Arbítrio: Uma Ilusão? Clarim, Ano 15, n.730, p. A2.

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