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Belém - PA
2010
Lucidéa Maiorana
Presidente da Fundação
Romulo Maiorana
Marcelo Amorim
S/Título da Série Educação
para o Amor (2009)
Pintura – Óleo sobre tela
30 x 40 cm
São Paulo-SP
Edilson Moura
Secretário de Estado
de Cultura do Pará
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Quantos espinhos deve um homem extrair abstrato arco da existência [AGE DE CARVALHO,
de seu corpo até que seja considerado um 1980, p. 9].
artista...? E foram tantas outras ocorrências-obras:
Parodiando Bob Dylan em “Blowin’ the têmperas, resinas, encáusticas, as ogivas,
Wind”, a resposta, my friend, está soprando as torres de Jano, os despojos, as rendas
no vento. portuguesas da família, seus re-desenhos de
No Salão Arte Pará de 2004, meu amigo re-nascimento, tantas outras, tantas obras que,
Acácio Sobral apresentou uma das obras mais certamente, constituem uma das produções
marcantes da arte contemporânea paraense: mais profícuas, intensas e extensas da arte
“O tirador de espinhos”. Uma poética e paraense recente. Observemos sua trajetória:
arrebatadora vídeo-instalação na qual realizava da figura do advogado, administrador de
uma fantástica viagem na história da arte, ao empresas, que, por conta de uma pulsão
som de uma sinfonia de Mahler, para referir-se existencial ou espiritual mais fecunda, se
à figura de catadores de espinho representados tornou artista. Como alguém se torna aquilo
em imagens apropriadas de diversos tempos que se é? “Ecce Homo”, eis o artista, conforme
históricos. Ilustrava o significado de catar a máxima de Nietzsche, “na medida em que
espinhos no próprio corpo, nos sentidos literal e o sujeito é um artista, ele já está liberto de
metafórico: catarse! Acácio protagonizava, num sua vontade individual e tornou-se, por assim
momento delicado de sua vida, uma poderosa dizer, um medium através do qual o único
obra catártica de altíssima intensidade que Sujeito verdadeiramente existente celebra a
o inscreveria definitivamente no panteão sua redenção na aparência” (2007a, p. 44). Na
dos grandes artistas paraenses de todos os forma como “Assim falava Zaratustra”, Acácio
tempos. Um trabalho de arrepiar, daqueles realizou suas três transformações de espírito:
que se configuram como a grande obra de “Primeiro o homem se transforma em camelo,
um artista. Opera prima. Um verdadeiro e o camelo em leão, e o leão, finalmente, se
tratado autobiográfico e, dessa forma, uma transforma em criança. Há muitas realizações
espécie de autorretrato do Acácio. Jacques difíceis para o espírito, desde que ele seja
Derrida, ao comentar a exposição “Memoire forte, sólido, respeitável. Ele é quem clama
d’aveugle”, realizada no Museu do Louvre, por desafios, pois sua força exige enfrentar
nos fazia lembrar que “todas as pinturas as mais terríveis dificuldades” (2007b, p. 23).
que não são autorretratos acabam por ser Nietzsche, uma preciosa afinidade intelectual
exatamente isso” e, portanto, são expressões que eu compartilhava com Acácio, nos
autobiográficas. Acácio, atravessado por seus sublinha a relação existencial entre a vida e a
espinhos, recordava-me Age de Carvalho no arte na forma de um magistério sublime, “pois
memorial de sua “Arquitetura dos Ossos”: só como fenômeno estético podem a existência
...dentro de meu corpo atravessado de e o mundo justificar-se eternamente” (2007a,
ocorrências - cada homem é a história de sua p. 44). Resumo da ópera: só por intermédio
sobrevivência -, penso na vida e na morte, no da experiência estética a vida vale a pena. É
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No Espaço Cultural Casa das Onze Janelas, há um
ambiente destinado à experimentação e o Arte Pará
ocupou justamente este espaço com a obra de um grande
e minucioso pesquisador: Acácio Sobral. A instalação que
se encontrava no Laboratório da Artes, Desconstrução:
Para Além de Jano (2007), nasceu de um processo de
desmontagem de diversas obras da série dos anos 90,
“Encontro com Jano”. Com o desmonte da obra, Sobral
passa a revelar as entranhas das peças e preenchê-las,
reorganizá-las, num dos momentos mais delicados de
sua produção, criando um campo de espelhamento e
imanência, a partir da instável organização dos objetos e
do vídeo no espaço. Delicada e pungente, a obra passou a
integrar o acervo da Casa das Onze Janelas e retornou aos
olhos do público no momento especial em que o artista
foi homenageado.
Sobral constituiu um sofisticado discurso sobre a própria
relação com o tempo que sua obra detém, revelando que a
matéria com que trabalha supera o próprio apego à idéia
de obra acabada, rompendo com a idéia de permanência
ao falar sobre o próprio fluxo, que é linha, percurso, que
é vida. Considerado um dos grandes artistas paraenses,
Acácio Sobral, falecido no final do período desta exposição,
foi merecidamente um dos homenageados especiais do
projeto Arte Pará 2009.
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Desconstrução para
Além de Jano (2009)
Instalação
Belém - PA
Detalhe
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Com a intenção de levantar questões pertinentes a construção social em que a questão identitária
uma História da Arte que vem se constituindo não se apresenta em estado puro, mas num
desde os anos 80, quando surge o Arte fluxo constante de trocas subjetivas, culturais,
Pará, adota-se como tema central Extremos pode-se compreender a heterogeneidade e o
Convergentes. Ao mesmo tempo, o aspecto caráter flutuante da arte que se constitui no
histórico, já articulado por Alexandre Sequeira Norte do país, conectada com o centro artístico
no catálogo de 2008 e desenvolvido por aquela hegemônico do Rio e São Paulo.
curadoria, serve para nortear o eixo conceitual Naquele território ainda em formação,
do Arte Pará 2009, no qual se desejou dar emergiam expressões identitárias e não uma
continuidade à abordagem sinalizada dentro identidade unidimensional. As trocas dos bens
de uma perspectiva de interação com o fluxo simbólicos processavam-se em um ambiente
da história, e interligar essas questões às que que procurava definir-se como detentor da
são específicas da arte e ao contexto no qual “Visualidade Amazônica”, termo que designa
esta se encontra. O cenário artístico atual é uma arte que traz proximidades com elementos
complexo e burla a situação geográfica, provenientes da cultura urbana periférica1 e
das matrizes hegemônicas que impõem ribeirinha, e que na imagem fotográfica traz
os impermanentes parâmetros da arte, uma luz especial, encontrada na Amazônia.
convive-se com um ambiente de extremos João de Jesus Paes Loureiro, Osmar Pinheiro,
no qual estão inclusos o singular e o plural, Emmanuel Nassar e Luiz Braga estão entre os
o diferente e o semelhante. primeiros que, nos anos 1980, pensaram ou
Em um território móvel, formam-se redes utilizaram em seus trabalhos esses elementos
de relações pontuadas por identidades que alguns estudiosos remetiam à “Visualidade
estruturadas a partir da flexibilidade e da Amazônica”. Tratava-se de uma atitude
diversidade. O campo histórico é analisado cultural que por meio de um mapeamento
observando-se a necessidade de reflexões simbólico-visual da região procurava os
sobre o que hoje se apresenta sem perder de pontos de encontro entre a cultura “popular”
vista uma trajetória permeada por lacunas e e a “erudita”2.
descontinuidades. São ramificações que nos O surgimento do Arte Pará acontece neste
conduzem a um sistema de arte com múltiplas cenário em que se configura uma intenção
conexões que abriga extremidades, interligando de demarcação de identidade visual que
pontos distantes e próximos. pertencia a determinados intelectuais e artistas
Em 1982, quando teve início o Arte e encontrava-se afinada com a política cultural
Pará, começava a delinear-se em Belém um da Fundação Nacional de Artes (Funarte).
pensamento afinado com uma arte que, ao Esta conjugação de pensamentos e ações vai
mesmo tempo em que se atualizava, procurava gerar discussões, seminários e o livro “As Artes
encontrar uma identidade. Se entendermos que Visuais na Amazônia: reflexões sobre uma
não há uma definição simples para identidade Visualidade Regional”, que se inseriu no projeto
e que esta resulta de um processo complexo de “Visualidade Brasileira”, editado pela Funarte e
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Jair Junior
Sorte (2009)
Intervenção Urbana/Performance
Belém-PA
Lise Lobato
S/título (2009)
Instalação
200 x 80cm
Belém – PA
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S/Título (1995)
Pintura
130 x 130 cm
Coleção Museu Histórico
do Estado do Pará
Belém - PA
Ayrson Heráclito
Bori Ogum e Bori Xangô (2009)
Fotografia s/papel algodão
100 x 100cm
Salvador – BA
Heraldo Silva
Fractais (2009)
Pintura – Intervenção Urbana
180cm vertical; 420cm horizontal,
21 x 14 cm cada
Belém – PA
Bruno Faria
Panorama II
Instalação e Colagem
Rótulos, papel milimetrado e acrílico
7 metros lineares
Recife-PE
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Hoximu (1994)
Instalação
Tamanho Variado
Colombia - Bogotá
Camila Soato
(RE) Tratos
S/Título (2009)
Pintura
8 x 13 cm
Brasília – DF
Roberta Tassinari
S/título (2009)
Amoeba sobre parede
180 X 200 cm
Florianópolis – SC
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XY e XX da Série ‘BIOSHOT’ da
pesquisa Pretérito Imperfeito de
Territórios Móveis (2009)
Fotografia digital
50 x 75 cm
Porto Alegre - RS
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O Marco Amador
Sessão Las Outras (2004)
Instalação,vídeo, fotografia e texto
Recife - PE
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O Marco Amador
Sessão Cursos (2006/2007)
Instalação
Recife-PE
Geraldo Zamproni
Sustentabilidade V (2009)
da série Sustentabilidade
Mista: Poliuretano e Zíper
20 x 220 x 20 cm
Curitiba – PR
Hugo Houayek
Falange, infláveis (2009)
Instalação
180 por 280 cm
Niterói-RJ
Loise D.D.
Dormonid 15mg [Sleeping Pills];
Rohypnol 1mg [Sleeping Pills]; (2009)
Objeto: Almofada de pelúcia
7,5 x 40 x 15 cm; 5 x 25 x 25 cm
Tarja Preta
Tatuagem/Fotografia
17 x 6 cm; 30 x 40 cm
Rio de Janeiro-RJ
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Os Grandes (1981-2001)
Série Dilatáveis
Imagem Digital, dimensões variáveis
Corte em vinil
Porto Alegre-RS
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Nau frágil
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Espelho diário
Vídeo instalação com duas
telas e CD de áudio
São Paulo-SP
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Alberto Bitar
S/título da Série Efêmera Paisagem
(2009)
Fotografia
40 x 60 cm
Belém – PA
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Lembranças de Dolores
Instalação e Performance
Belém - PA
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O Museu de Arte de Belém (MABE) integra o Arte Pará dos excluídos, daqueles que se encontram à margem da
com uma única obra, o site-specific (obra orientada para história oficial.
lugar específico) Tempo Cabano, de Armando Queiroz que Queiroz sempre optou pela delicadeza à violência.
recebeu o 2º Prêmio. O artista criou a obra especialmente Entretanto, não dispensa o vigor, não silencia diante
para ocupar esse prédio antigo, sede da Prefeitura de Belém. daquilo que o incomoda, daí sua obra constituir-se
Elegeu como eixo do trabalho um momento histórico do atualmente uma das mais potentes no Norte do país.
Pará, a Cabanagem, revolta que aconteceu no século XIX e Desse olhar atento para a história e para a vida partem
aliava a camada pobre da população à elite local, formada suas ações artísticas, como em Tempo Cabano. A obra,
por fazendeiros e comerciantes. Os cabanos uniram- fruto de um extenso processo de negociação, detém
se contra o governo regencial para expulsar aqueles que complexidade de articulação, não apenas nas relações
desejavam que a região se mantivesse como colônia de propostas entre imagens e objetos, mas em uma negociação
Portugal. O embate gerou muitas mortes e durou cinco invisível, anterior à sua realização, entre o artista e seus
anos até que a revolta fosse reprimida. Armando estabelece colaboradores – Luiz Braga e a direção do Mabe – , que
uma relação entre passado e presente, contrapõe, em cada viabilizaram a instauração da obra e sua permanência ao
extremo da escada interna do Palácio Antonio Lemos, duas longo do Arte Pará.
significativas imagens, que se interligam por meio de uma Por instigar a reflexão sobre a realidade de um povo que
montra contendo um amendoim sobre uma moeda cabana. vive à margem ao longo do tempo, a obra provoca e traz,
Uma imagem é a pintura Cabano Paraense, de autoria para a sede da Prefeitura, questionamentos que fazem com
de Alfredo Norfini, realizada em 1940, e que pertence ao que as articulações para sua permanência sejam freqüentes
acervo do referido Museu; e a outra é a fotografia de Luiz ao longo do evento. Tal empenho do artista, da Fundação
Braga, Vendedor de Amendoim, de 1990. Romulo Maiorana (FRM) e da direção do MABE foi tão
Os tempos se entrecruzam na imagem, independente bem sucedido que a obra foi reapresentada no aniversário
das diferentes épocas em que se realizaram a Cabanagem, de Belém do ano seguinte, provocando novamente, num
a pintura e a fotografia – todos os tempos são passados e momento de festa, um pensar sobre os diversos “porquês”
se fazem tão presentes ainda hoje. As imagens não estão que rondam nossa história.
apenas interligadas pelo amendoim e pela moeda, nem Armando vem constituindo com sua obra uma “história
somente por um dado histórico, mas pela estética, pela da violência na Amazônia”, como sabiamente aponta o
postura formal assumida pelo pintor, pelo fotógrafo. A curador Paulo Herkenhoff, revelando, por meio da arte,
altivez do herói com a arma e a dignidade do menino com processos de exclusão que se sobrepõem, em artifícios de
o balde de amendoim encontram-se no desenho do corpo, aniquilamento. Queiroz, ao ativar relações entre imagens
no tronco exposto, no braço esquerdo pendente sobre a e objetos de outros, rompe com um atrator de forças
perna que se inclina pra trás. O fio da história se entrelaça tão corrente nas artes, que é o ego do artista, dissolve-o,
às memórias: lacunas e embaçamentos do que foi. O que propondo um revelar que é coletivo, das inúmeras, pequenas
se coloca nas e entre escadas, é uma obra, não um fato. e grandes violências, ocultas em nossas entranhas, naquilo
Se relacionam os tempos, a estética, a condição pendente que muitas vezes atribuímos menor importância.
Como se deu a escolha do tema “Cabanagem” com as duas encaramos de frente, cientes que retro-alimentamos nosso
linguagens, pintura e fotografia? Fale um pouco do projeto presente através dele e, com isso, podemos redirecionar
e da relação com os artistas nesse contraponto. nosso futuro. A arte entra aí como uma força catalisadora
Sempre chamou minha atenção a semelhança formal da e propagadora de sentidos. Como mais uma forma de
aquarela “O Cabano Paraense” (1940), de Alfredo Norfini, indagação, de reflexão sobre a realidade.
e a fotografia “Vendedor de Amendoim” (1990), de Luiz A ação educativa do Arte Pará desde 2008 faz a proposição
Braga. Por muitos anos, tentei trazer para uma discussão do artista diante de sua obra dialogando com o público.
mais ampla estas duas obras repletas de significados Qual a importância dessa ação para o artista?
contrastantes. Somente agora foi possível, curiosamente Para mim é de fundamental importância. Tanto na ação-
após uma tarde agradabilíssima que passei acompanhando educação, através dos mediadores, como também na
o Luiz Braga, que estava fotografando a Catedral da Sé. presença do artista propositor recebendo os visitantes. O
Acordei com a proposição do projeto pronta, o projeto sentido deste trabalho, a meu ver, completa-se somente
ampliado. Tudo se encaixava, as escadarias, as obras, o quando discutimos sobre ele. É sempre surpreendente
amendoim, a moeda cabana, os contrapontos. contar com o olhar do outro. De ver como as conversas
Tua obra foi realizada para ficar especificamente no Museu permitem que novos significados venham à tona. Até
de Arte de Belém (Mabe). Por quê? mesmo a sensação de indiferença que pode provocar
Não gostaria de tratar da Cabanagem como algo que ficou nas pessoas faz parte da obra. Vejo o trabalho como
exclusivamente no passado. Se concebesse o trabalho para um espelho que não reflete simplesmente a imagem de
o Palácio Lauro Sodré, imagino que poderia correr este quem o observa, mas também sendo capaz de refletir sua
risco, pois aquele foi um dos locais mais representativos sensibilidade e visão de mundo.
dos eventos relacionados com a Cabanagem. Além do Existiu alguma situação especial ou inusitada nestas
que, hoje, o poder constituído da cidade encontra-se experiências? Você poderia contar?
no Palácio Lauro Sodré. Meu interesse envolve questões Foi marcante acompanhar todo o processo de negociação
desta natureza, de como este poder e aqueles que o com a instituição que abriga o trabalho e as etapas de
antecederam trataram e tratam a memória do movimento montagem da obra. De perceber como as pessoas iam,
cabano. De como, ao longo dos anos, esta memória foi quase sem querer, sendo envolvidas nesse processo
sendo assimilada ou intencionalmente esquecida. revelador de quereres, saberes e poderes. Como cada
Como se dá a proposição do nosso passado e relacioná-lo pequeno gesto, da autorização ou não da permanência
com o nosso presente através da arte? do trabalho nas escadarias do Palácio, até a fixação dos
Nada melhor do que compreender o presente através do pregos que sustentam as obras na parede, tudo enriqueceu
conhecimento do passado. Contudo, não devemos cometer o sentido da obra. Uma obra que é aparentemente de
o grave engano de suscitar anacronismos. Cada momento resolução simples. Contudo, fruto coletivo da construção e
histórico proporciona suas soluções e estratégias de ação sensibilidade humana.
específicas. Mesmo assim, podemos e devemos aprender
com os erros e acertos do passado. Principalmente quando o
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Em um universo tão amplo da arte, o Museu registrou em Florianópolis (SC) sua ação e a
de Arte Sacra (MAS) recebeu um conjunto enviou a Laércio Redondo. Assim, iniciaram
de obras reunidas pela pluralidade de uma uma troca de imagens e mensagens, gerando o
abordagem questionadora da identidade. Sabe- trabalho apresentado no Arte Pará, que mantém
se que no mundo contemporâneo à identidade, a idéia de fluxo ao ser realizado em duas
que se constitui em um fluxo de migrações frentes: a primeira, com um impresso contendo
geográficas e culturais no qual não é mais imagens de Redondo e Barreto feitas para a
possível identificar uma única identidade, circulação, para a dispersão, e a segunda, com
mas um processo de construção em que as a publicação no jornal O Liberal da orientação
indagações permeiam os elementos que podem para a performance, com o desenho inicial de
identificar o lugar, assim como as pessoas Redondo, convidando novos participantes a
que ali habitam. Discute-se a diversidade tomarem parte do jogo da criação.
identitária, questionando como essa identidade Da mesma maneira que a proposta de
se constitui em um mundo globalizado, no qual Laércio Redondo e Adriana Barreto disponibiliza
obras podem ser criadas a partir de relações e identidades imagéticas de um fruto paradisíaco
decisões estabelecidas virtualmente. como uma maçã, para que se estabeleçam
Neste espaço geográfico em que distância e relações de afetividades entre países e pessoas,
tempo foram alterados, artistas residentes em pode-se perceber um processo que traz outras
diferentes países podem propor uma obra que, questões, como as do artista peruano Giuseppe
ao ser mostrada em Belém do Pará, continua Campuzano. Este artista discute, por meio
em processo, fazendo com que o público do corpo e da performance, a construção
interaja e divida com os artistas a autoria de subjetividade e processos de elaboração
de uma proposição móvel, materialmente cultural. Ao travestir-se para a câmera,
efêmera, mas que é capaz de permanecer no aciona os tópicos espirituais e psíquicos de
campo das idéias e afetar aqueles que com unicidade em contraste com a multiplicidade
ela convivem. Isto ocorre com a obra Paraísos de idolatrias indígenas e marianas, levando
Instáveis, de Laércio Redondo e Adriana Barreto, o público a perceber que constitui um
que teve início em 2006, quando Regina Melim dispositivo para práticas artísticas, culturais e
convidou Laércio para participar da publicação sociais, como no Museu do Travesti, no qual
Por fazer (PF). Com um desenho, Redondo discute o importante papel que a androgenia
conclamava o público a ser participante ativo teve na cultura pré-colombiana e na posição
de uma performance. dos travesti no mundo contemporâneo.
O projeto desdobrou-se por meio da O museu criado por Campuzano não existe
interação com o público e de registros materialmente, mas discute a ambigüidade de
fotográficos. Diferentes tipos de interação uma situação de gênero, dos papéis não fixos,
aconteceram, a experiência Paraíso Aqui mutáveis de acordo com um novo personagem
de Adriana Barreto, foi uma delas. A artista e a personalidade que assume. Um exemplo é
a própria imagem de Nossa Senhora, na qual algo simbólico de uma identidade que nunca
se traveste e a invoca sem naturalismo, mas se completa, que, em aberto, se constrói
cenograficamente, e dispara uma reflexão na fluência dos rios, nos volumes das águas
sobre o travestismo enquanto conceito que escoam no oceano. O artista, com suas
cultural, revelando nas aparições marianas, costuras e tecidos cobertos de personagens
índices performativos. O artista utiliza-se da amazônicos ou semelhantes aos encontrados
arte como meio para refletir sobre os papéis em outras cidades brasileiras, latinas ou quem
culturais e sobre subjetividade. O teatro sabe africanas, compõe este estandarte que
medieval, o personagem La imilla da dança fica estendido no meio da exposição propondo
Qhapaq Qulla, que é realizada em Cusco, os uma confluência, sem convergir para um ponto
ex-votos depositados em mausoléu de Sarita comum, mas para direções distintas que se
Colonia são processos étnicos e de classes entrecruzam e seguem rumos desconhecidos
que são ativados por Campuzano em uma para sumirem logo depois.
“ritualidade cósmica e cosmética”. Várias de Já nas obras de Ana Luiza Kalaydjian os
suas obras e ações são realizadas por meio de rituais de uma ancestralidade parecem emergir
parcerias, como as exibidas aqui e que tiveram da subjetividade e transparecer no corpo, que se
a participação dos fotógrafos Alejandro Gomez apresenta diante da câmera. Esta obra dialoga
de Tuddo e Carlos Pereyra figurando junto com com os animais empalhados no políptico
Campuzano como convidados dessa edição. fotográfico (Re) tratados, de Karina Zen, que
Na obra de Nino Cais, o que se sobressai por meio das imagens desses bichos em formato
são as imagens por ele criadas que surgem das de retrato, nos lembra de nossa presente
revistas de moda, repletas de moldes com seus animalidade. Questões da natureza humana
padrões e texturas, gêneros e estilos sujeitos são registradas nos bordados que se sobrepõem
a constantes mudanças. Manipulados pela nas narrativas entre cortantes de Rodrigo Mogiz,
colagem, os padrões de rendas, estamparias e onde delicadeza e violência coexistem num jogo
crochês não permitem que o indivíduo alcance entre o sagrado e o profano.
uma identidade. O recorte e o encobrimento Desta forma, no Museu de Arte Sacra pensa-
do rosto retiram das tessituras de fios o se a identidade em processo que se deixa
que há de mais tradicional das técnicas de atravessar por subjetividades, individualidades
tecer pulôveres, gorros de frio ou biquínis de e coletividades, sempre em conexão com um
verão. As identidades, no entanto, perdem-se mundo em que prevalecem as interrogações,
nesse entremear e vão muito além do visível, evidenciando-se os extremos que não deixam
deixando-se permear por subjetividades que de estar interligados por nuances. Acredita-se na
fornecem a maleabilidade das diferenças, o possibilidade de se alterar a ordem vigente.
rebatimento dos espelhos nos quais o indivíduo
se reconhece ou se vê como estranho.
Nato tece outro foco, faz de seu estandarte
Karina Zen
(RE) tratado ( Políptico) (2009)
Fotografia
68 x 265 cm
Florianópolis-SC
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S/Título (2009)
Fotografia
110 x 70 cm
São Paulo - SP
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Dolorosa (2007)
Fotografia/Performance
60 x 40 cm
Peru
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Rodrigo Mogiz
Mapa Imaginário II III IV (2009)
Bordados e Pinturas sobre entretela
80 x 120 cm
Belo Horizonte-MG
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S/Título (2009)
Colagem
20 x 30 cm
São Paulo - SP
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O vínculo entre Imagens e Pensamento serviu de eixo Delírio (1989-1993) de Val Sampaio, artista convidada, irá,
conceitual ao núcleo de obras que a curadoria destinou ao numa narrativa quase fílmica, abordar a subjetividade
Museu da Universidade Federal do Pará – MUFPA. Partiu- feminina, frente às dificuldade de consolidação de uma
se do princípio que vivemos desde os primórdios relações identidade nos conturbados e libertários anos 1980.
com o mundo em que a Imagem se estabelece como Operando também a partir do feminino e do corpo da
potente vetor de mediação. Por meio dela nos relacionamos mulher, a obra em video Panóplia do corpo, de Elieni
com o transcendental e com os fatos mais importantes e Tenório, acionando questões da performance, do objeto
corriqueiros da história. escultórico e do próprio fazer artístico mereceu Menção
Na arte, a Imagem viabiliza novos e surpreendentes Especial do Júri.
modos de olhar para o que nos rodeia, propondo São múltiplas as questões que as obras presentes nessa
significados distintos, possibilitando-nos re-significar mostra respondem em relação à representação e a imagem;
nossas relações mais íntimas com a vida e até mesmo com das figuras diminutas nos óleos de Elton Lúcio dos Santos,
o próprio universo das imagens. Por meio da arte temos a que buscam espaço dentro da tela ou nas pinturas de
possibilidade de constituir relações mais fluidas e criativas Marcelo Amorim, com personagens em Preto e Branco,
com o que nos cerca e com o que nos é estranho. Olhar, em que este se reporta a imagens que circulam na mídia
olhar novamente e descobrir conexões, sentidos, modos de para articular sobre comportamentos, nas telas da série
ver e de pensar. O universo imagético está ao nosso redor e Educação para o Amor.
uma das saídas é tentar entendê-lo. Nesta mostra as obras Fábio Baroni, por sua vez com seus trípticos da série
dos artistas propiciam variadas maneiras de lidar com a Narrativas Privadas, faz alusão às fotografias seqüenciais
Imagem. Fixas ou em movimentos, nos fazem lembrar de momentos de intimidade, que dialogam com as
das infinitas formas que podemos encontrar para ver o cenas de interiores presentes em Agendamentos de visita
mundo. para estudos de composição - Cenas de gêneros 1 e 2.
A mostra começa com o vídeo Cenesthesia, de Jorane Na interseção com a pintura, as fotografias de Fernanda
Castro, Dênio Maués e Toni Soares, produção do final Gassen, nos reporta de forma direta às cenas de interiores
da década 1980, convidada por ser uma referência da pintadas por Vermeer. Nessas proposições as linguagens
experimentação visual de uma época e marco da videoarte desdobram-se, entrando no que supostamente seria outro
em Belém. Com forte carga dramática, dialogando com campo de conhecimento, reafirmando a dissolução de
o cinema, Cenesthesia (1989) discute estética em um limites presente no contemporâneo.
período importante de busca de compreensão do vídeo Em Imagens e Pensamento as obras estabelecem entre si
como linguagem. Indo além da mera experimentação, a um forte embate que ora figura no jogo entre linguagens,
obra permanece e nos convida a pensar nos percursos da ora nas citações empreendidas, subvertendo e tornando
linguagem visual no Pará, bem como Anjos sobre Berlim informe nossas certezas. Isso acontece no vídeo de Melissa
(1992), de Nando Lima, que traz o vídeo para o espaço cênico Barbery, Quince dulces y quince cuadros, em que nada
teatral, construindo experimentações em que referências parece eminentemente fazer sentido. Vê-se a imagem
do cinema somam a construção estética, subvertendo e de uma paisagem que passa pelo vidro embaçado pela
mesclando as linguagens. Também do mesmo período, chuva de uma cidade qualquer da América Latina. Do
áudio, surge o som de um rádio, escuta-se uma entrevista viagem comprimida em um curto espaço de tempo
com uma mulher que garante comer quinze doces como registrado por um meio simples, gerando imagens de rara
sobremesa e que se apresenta como pintora. Barbery delicadeza, o que motivou o júri a contemplá-lo com um
evidencia o inesperado e surpreendente que ronda a Prêmio Aquisição. Também delicada é a instalação de
banalidade da vida. Danielle Fonseca, Mar Absoluto/Retrato Natural, ocupando
Também se detendo nas pequenas coisas da vida, uma pequena sala do museu com plotagens de símbolos
Luciana Magno, 3° Prêmio do Arte Pará, irá habitar, por náuticos e fotografias de um marinheiro (seu avô), ora
uma semana, uma loja de móveis modulados. Em Vit(r) menino, ora adulto com uma gravação de áudio com um
al, a artista desenvolve uma proposição de intervenção breve comentário de um samba enredo proveniente de
urbana que se encontra no campo da performance. Nos uma escolha afetiva que remete a uma preferência musical
procedimentos que antecedem à intervenção, a artista cujo tema era o mar. Repleta de melancolia e da memória
busca um estabelecimento que aceite recebê-la e negocia de um antepassado, a sala dialoga com a tela do acervo do
sua permanência para que, ao longo do período, utilize- MUFPA, de Riginni, em que se vê a antiga orla de Belém.
se dos ambientes artificialmente montados para compor Um dos convidados especiais que incendiou a discussão
uma casa, com o intuito de levar vida a estes lugares acerca da imagem, do corpo e sua inscrição na paisagem
de venda. Dorme, come, cozinha, faz as atividades do é Paulo Meira, que aqui apresenta uma nova instalação
seu cotidiano, interagindo e modificando o ritmo dos da obra Marco Amador - Sessão A Perda de Vista, com
funcionários e clientes. fotografias e video, em que gira com uma mulher nua em
Através de câmeras de segurança e de seu computador, seus ombros, com uma de suas esculturas hélices na mão.
o ato performático de Luciana Magno a manteve exposta Por meio de contato intenso ocorre uma transmutação.
em plena vitrine e vigiada 24 horas pela câmera que Nas fotografias dispostas no lado oposto ao vídeo, os
transmitiu para a internet, imagens que eram exibidas, personagens viajam rapidamente pelo mundo, por pontos
ainda, no MUFPA, para depois do período de habitação turísticos, históricos e da natureza. Na fotografia principal,
na casa comercial, ser substituído por um vídeo com uma citação à performance fotográfica de Duchamp
tempo acelerado. nos leva a pensar sobre as ironias da arte, da vida e da
Carlos Daddorian dispõe em uma parede, suas subjetividade, encenada em um corpo modificado.
fotografias com imã intituladas Derek me jarman, para Instigante, a obra de Meira nos põe em estado de alerta
que o público possa reescrever a narrativa. O artista dialoga para nossa percepção e nossas escolhas de ser no mundo.
com a obra do cineasta Derek Jarman de forma instigante Imagens e Pensamento se constituiu, em mostra de caráter
e bem humorada, propiciando outra experiência para o especial, por nos lembrar da importância da representação
fluxo narrativo. para a história da própria humanidade e de como a imagem
Dentro de uma dilatação temporal, o vídeo Em um vem se tornando cada vez mais complexa e surpreendente
Lugar Qualquer, de Dirceu Maués, é captado em fotografia em suas possibilidades.
pinhole, na qual o artista constrói suas câmeras artesanais
e depois as anima em vídeo. A obra registra o vôo de
mudança de Maués de Belém para Brasília, numa delicada
A intervenção “Vit(r)AL” é uma proposta de habitar (ocu- comunicação entre a casa vitrine e a galeria via inter-
par) uma loja de decoração/modulados já montada com net? Explique como se deu este processo e se gerou
quarto, sala e cozinha. Explique o porquê da escolha do algum registro.
lugar e por quanto você ficou morando por lá. Algumas pessoas me perguntavam se o que eu estava fa-
A intervenção, o desejo da ação de habitar a loja de de- zendo era um Big Brother solitário. Não, era o oposto. Eu
coração, nasceu da observação de um isolamento intenso podia sair e também receber amigos, fazer o que fazia nor-
96 na cidade. Estava estudando para minha produção de gra- malmente só que em uma casa de vidro, abrindo as portas.
duação, pesquisava o movimento fotográfico em Belém na O Big Brother isola as pessoas em um coletivo, eu queria
década de 80 e nas fotos de jornais e nos depoimentos que era justamente o oposto, queria abrir esse isolamento.
recebi podia se ver que eram todos naturalmente engaja- Uma webcam grande angular levava as imagens que pu-
dos no coletivo, amavam estar juntos pelas ruas e bares, deram ser vistas em tempo real, durante a semana da in-
faziam a sua história. Isso era um contraste com a minha tervenção, tanto na galeria quanto no acesso de qualquer
geração, cada vez mais voltada para suas casas, seus com- ponto de internet pelo site http://www.blogtv.com/People/
putadores, seus mundos particulares compartilhados às vitral. Quem pôde visitou pessoalmente na própria loja
vezes de maneira virtual. Perto da minha casa há inúmeras Dellano, que fica na travessa Rui Barbosa. Além da we-
lojas de modulados e eu já tinha tido alguns devaneios, bcam, quatro câmeras de segurança registram tudo que
vontade de usar aquele espaço, levar algumas pessoas e aconteceu dentro da loja, e com essas imagens, um vídeo-
passar uma tarde, fazer um lanche, ocupar aquele espaço diário foi editado e ficou rodando no Museu da Universida-
vazio de vida e ao mesmo tempo fugir da reclusão das de Federal do PA (Mufpa) até o final do Arte Pará.
casas. Então tive o desejo de morar naquele lugar por um Como foi o processo de negociação com o dono da loja
tempo, fazer um laboratório vivo e pra ação ser completa de decoração? E como se dá a negociação no processo
precisaria da estrutura mínima de uma casa de verdade, da arte?
um quarto, sala, cozinha e banheiro. A ação aconteceu na Isso foi uma coisa bem bacana e uma procura difícil. En-
Dellano durante oito dias, por razões de segurança e pelo contrar parceiros que poderíamos pensar como co-autores
que havia sido acordado com os gentis donos da loja. era fundamental pra realização da ação. Ir até às lojas foi
Qual o objetivo durante a intervenção de promover a trabalhoso, procurar os espaços com a estrutura mínima
e explicar aos responsáveis que gostaria de morar na loja assustavam comigo andando de pijama ou deitada lendo
deles por alguns dias causava surpresa e, às vezes, descon- na cama, explicavam o projeto e muitos até iam conversar
fiança. Era necessário passar alguma segurança, pedir para comigo. A negociação fez parte durante o processo inteiro,
habitar uma loja é como pedir pra abrigar um estranho a disposição, o diálogo é sempre muito importante quan-
em sua casa. Preparei então uma espécie de portfólio onde do falamos de arte ou de qualquer outra coisa. Acho que
explicava por escrito a idéia e como isso podia também tudo pode ser um objeto de transformação.
ser incorporado pela loja de uma forma legal, construti- Existiu alguma situação especial ou inusitada nesta expe- 97
va. Foram inúmeras lojas que visitei, levei projetos, mas riência? Você poderia contar?
esbarrava sempre na resposta dos donos por geralmente Foi tudo muito especial. Além da convivência que se es-
tratar com as pessoas responsáveis, seja pela gerencia ou tabeleceu com as pessoas da loja teve um fato que me
marketing do espaço. Fiz a inscrição no Arte Pará mesmo chamou a atenção. Em um que dia que eu fui ao Museu
sem ter conseguido o lugar, com o projeto aprovado fica- ver se estava tudo certo com o equipamento onde estava
ria mais fácil de conseguir parceria. Peguei a lista telefô- sendo transmitidas em tempo real as imagens que eram
nica e liguei pra quase todas as lojas que tivessem mais capturadas na loja/casa, fiquei um tempo ali vendo as pes-
ou menos a configuração que procurava. Em uma ligação soas andarem no meu quarto do showroom. Foi quando vi
senti que a proposta, mesmo ousada, havia agradado o uma menininha brincando com os senhores Cabeça-de-
Neuro, proprietário da Dellano, onde a ação foi realizada. Batata em cima da cama. Eu havia conseguido alguma coi-
Levei-lhe o projeto pessoalmente e tive sorte porque tanto sa, tornar aquele espaço menos impessoal, as pessoas eram
a Tânia, sua esposa, quanto a gerente da loja e os funcio- atraídas seja pela curiosidade dos que sabiam do projeto,
nários simpatizaram comigo e adoraram o projeto. O ‘sim’ ou seja por algum rastro de vida que ficou demarcado ali,
foi o primeiro passo, veio em seguida uma seqüência de entre aqueles outros quartos que eram habitados pelo va-
acordos, desde pequenos detalhes até o esquema de se- zio e por livros de papelão. Nossa, vivenciar isso foi ótimo
gurança necessário. Cumpri com todas as responsabilida- porque, além da minha própria vida, do meu corpo, das
des e ganhei a chave de casa, tive uma excelente acolhida minhas ações, existem os objetos que ficavam ali quando
por toda a equipe que trabalhava lá, e, muitas vezes, as eu saía. Foi tudo muito especial.
arquitetas quando recebiam os clientes que às vezes se
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Cenesthesia (1989)
Vídeo
Belém - PA
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Marcelo Amorim
S/Título da Série Educação
para o Amor (2009)
Pintura – Tríptico
30 x 40 cm
São Paulo-SP
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O Marco Amador -
Sessão A Perda de Vista
Instalação Vídeo (12’),
fotografias e textos
Recife-PE
Righinni
“Belém do Pará” (1868)
Coleção Museu da Universidade
Federal do Pará
Oleo s/tela
105 x 210 cm
Danielle Fonseca
Mar Absoluto/Retrato Natural (2009)
Instalação
Belém – PA
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Melissa Barbery
Quince dulces y quince cuadros
Série Lugares espontâneos (2009)
Vídeo loop . cor . 4min20seg.
Belém-PA
Carlos Daddorian
Derek me jarman (2009)
Fotografia/Instalação
São Paulo-SP
Museu da UFPa
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trabalho de Julia Amaral sintoniza-se com a poética das Goeldi, a obra de Vicente do Rêgo Monteiro relaciona-se
representações arqueológicas, mas refere-se ao campo com a cerâmica arqueológica que se encontra próximo
específico da arte. A artista catarinense, que integrou o à tela. Pode-se reconhecer no quadro do artista os
Rumos Visuais 2008-2009 do Itaú Cultural, apresenta- fragmentos das cabeças que servem de adorno à cerâmica
se no 28º Arte Pará com uma série formada por insetos retratada. A obra “Violon D’Ingres”, de Rêgo Monteiro, foi
que recolhe depois de mortos e os molda para fundi-los criada em 1969. O título da obra que ficou exposta no
em latão, bronze, prata ou cobre. São delicadas peças, Museu Goeldi é uma citação ao artista neoclássico Ingres.
tratadas como jóias e guardadas em vitrines projetadas Também é o título de uma famosa fotografia do norte-
especialmente para abrigarem estes objetos que americano Man Ray, “Le violon d’Ingres”, de 1924. Trata-se
anteriormente habitavam a natureza. A artista assume de uma inspiração na cerâmica indígena da Amazônia.
papéis diferenciados, ora entomóloga, ora joalheira, discute O motivo amazônico é recorrente na obra do artista, que
a idéia de morte e transcendência, oferece aos nossos olhos ilustrou o livro de P. L. Duchartre, “Légendes, Croyances et
pequenas relíquias, metáforas da nossa própria fragilidade, Talismãs dês Indiens de l’Amazonie”. Em 2003, o Arte Pará
do tênue espaço entre vida e morte. expôs outra obra do artista, “Mulher Sentada”, pertencente
Por outro lado, determinados trabalhos do paraense ao acervo do Banco Central.
Marinaldo Santos pertencem a um processo também de Estabelecendo uma rede de significados provenientes
natureza artística, mas não se conjugam com as peças de uma cadeia de pensamento que se abre a diferentes
líticas, e sim com os artefatos indígenas, confeccionados interpretações do mundo, o Arte Pará não ocupou apenas
com penas. O artista utiliza restos de materiais, articula os espaços expositivos consagrados, foi para as ruas em
fragmentos e cria dentro de um universo que tangencia uma ação que se sobrepôs às pichações e grafites, assim
referências da arte indígena, ao mesmo tempo em que como manteve interligados uma sala expositiva, uma loja
mantém especificidades de uma contemporaneidade de decoração e a internet. O público e privado se diluíram
marcada pelo convívio entre diferentes culturas. neste ato que ironiza uma sociedade que perdeu seus
Marinaldo foi contemplado três vezes com o Grande limites e expõe tão facilmente sua intimidade.
Prêmio e a obra que integra a exposição, “Varas”, de O caráter crítico e poético do Arte Pará 2009 teceu
2002, ganhou o Grande Prêmio do 21º Arte Pará. Junto interpretações distintas do mundo contemporâneo,
com as varas encontram-se as caixas com colagens que ocupou extremos, mantendo-se em uma teia de relações
guardam semelhança com os artefatos que fazem parte que se transforma a todo instante, modificando o que está
do acervo do Goeldi. A arte de Marinaldo Santos dialoga em volta e as delicadas instâncias de ordem subjetiva. Faz-
com a riqueza da arte plumária, integra-se à variedade se presente às interrogações, às incertas trajetórias.
cromática da cultura material indígena, entrando as Política, subjetividade, alteridade são conclamadas
afinidades que ocorrem justamente com as texturas e a dialogar com parâmetros presentes na arte, como a
cores dos ornamentos, e não com as propriedades mágico- estética, de forma relacional. O artista, hoje, mais do que
religiosas ou com a intenção de puro adorno que as peças nunca, está em contato íntimo com o mundo e com o que
do acervo do Goeldi possam trazer. lhe afeta, ampliando suas experiências que o levam àquilo
Nesta mesma exposição realizada no Museu Emílio que percebemos como arte.
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Varas (2002)
Mista
Grande prêmio do 21º Arte Pará
Coleção Fundação Romulo Maiorana
Belém - PA
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S/Título (2002)
Mista
24 x 32,5cm
Da Mata
24 x 32,5cm
Jactuarybe
24 x 32,5cm
Belém - PA
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Estatueta lítica
antropomorfa (Réplica)
Museum of World Culture,
Goleborg - Suécia (original)
Laço Grande de Sollé
Rio Amazonas-PA
1ª Estatueta Lítica
Oriximiná-PA
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Maribondos “Exército”
Fundição em prata
cobre e bronze
2 x 3 x 1,5 cm
Louvadeus (2008)
Fundição em bronze
10 x 5 x 8 cm
Besouro (2005)
Fundição em prata e cobre
2 x 2,5 x 3 cm
Roberta Maiorana
136 Diretora Executiva
Daniela Oliveira
Assessora Geral
Aureliano Lins
Estrutura da FRM
Lembranças
de Walda Marques
Projeto Especial
O projeto Lembranças se compõe de um livro e de uma
performance que aconteceu no dia da apresentação do projeto
na Capela do Museu do Estado em Belém do Pará.
Livro
Projeto Gráfico
Walda Marques e Andrea Kellermann
Editoração
Andrea Kellermann
Textos
Cartas Anônimas, Maria Christina, Marisa Mokarzel, Roberta
Maiorana, Orlando Maneschy e Jaime Bibas
Vídeo
Edição e montagem
Priscila Brasil e Brunno
Câmara e Iluminação
Brunno
Texto do Vídeo
Adriano Barroso e Walda Marques
Música
Hamleto Stamato
Performance
Coreográfia
Mariana Marques
Atores
Adriano Barroso e Mariana Marques
Apoio
Heldilene Reale
Mediadores
Aline Sueli Lobato Queiroz, Cecília Mara Alves Silva, Ediane
Chagas Frota, Giordanna Carvalho, Juliana Silva Marques, 139
Stefany Alvarenga de Lima, Amanda Layse Melo Valois,
Sílvia Cristina de Abreu Lucena, Bruna Cristina Miranda
Borges, Karol Khaled Conceição, Mariana Jares Alves, Alan
Rosa Reis, Larissa Mayara Santos Costa, Carla Gisele de F.
Gomes, Mayra Portal Silva, Miguel Carlos Souza, Mônica
da Silva Serrão, Andrey Raphael Loureiro Cardoso, Aída da
Silva Duarte, Ana Caroline da Silva Leal, Camila do Socorro
Aranha dos Reis, Daniel Sanches Frazão, Keilane Batista
Santos , Mayara Caroline Santos Nunes, Romulo Gabriel
Tork Rosalino, Valeria Cristina Cézar da Silva, Arlete Soed
Paredes Santos.
Coordenação Geral
Roberta Maiorana
Daniela Oliveira
Curadoria
Marisa Mokarzel
Orlando Maneschy
Coordenação Editorial
141
Vânia Leal Machado
Fotografias
Everton Ballardin
Assistente de Fotografia
Shirley Penaforte
Tratamento de imagens
Retrato Falado
Revisão de textos
Carolina Menezes
Impressão
Halley S.A. Gráfica e Editora
ISBN 978-85-62494-02-4
CDD-700