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Não. Falo da subestimação de que a literatura foi alvo, nos vários ciclos, na
implementação da reforma em 2003, e do esvaziamento dos programas dos
autores clássicos. E da rivalidade que se criou entre o “novo” e o “velho”. O
“novo” foi introduzir em avalancha textos informativos e subgéneros [nos
programas]. Os autores clássicos foram banidos porque foram considerados
“chatos” e porque não correspondiam aos interesses dos alunos. A minha
experiência e a de muitos colegas contraria os mentores da nova reforma,
porque chatos são os professores que certamente não leram bem os clássicos
e nem os sabem interpretar. Nesta dicotomia entre o novo e o velho, despreza-
se o legado patrimonial do passado e privilegia-se o “real”, como os reality
shows, porque supostamente correspondem aos interesses dos alunos. Como
podemos ajudar o aluno a ter espírito crítico a discutir o Big Brother?
Sim, mas sinto que se um aluno consegue interpretar um texto literário tem
todas as ferramentas para quando sair da escola elaborar um regulamento, um
currículo ou uma carta. Se escreve bem é porque sabe pensar, ora se sei
pensar sei ler um regulamento. A aula de Português não é uma aula de
secretariado, sem desprimor para o secretariado.
Desde 2007. Ainda que não esteja reformada, continuo em contacto com
muitos alunos, por causa de um exame, de um teste ou de um trabalho, e
também com colegas. É por isso que também vou conhecendo o que se passa
na escola. E o que sinto é o acentuar da menorização da competência
científica dos professores e a valorização de supostas competências
pedagógicas. A escola tem de acrescentar algo aos alunos, essa é a sua
função. Não é fazê-los regredir, fechando-os nos seus interesses.
Creio que não são os alunos que devem definir os objectivos da educação. O
que se tem é de prepará-los para a vida e isso requer qualidade e exigência. A
sua ausência do ensino prejudicará todos, sobretudo os mais desfavorecidos.
Por exemplo, lia a Enid Blyton dos Cinco, mas não na sala de aula. Agora os
livros da ministra da Educação [Uma Aventura] vão para a aula. As minhas
filhas leram-nos em casa, mas ficaria abismada se um professor lhes dissesse
que iriam analisar esses livros.