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Ilíada – Livro 11

v.1 Qea\ V. 1 μῆνιν

Canta, ó Musa2, a ira3 de Aquiles, filho de Peleu, que incontáveis males trouxe às
v.3 i0fqi&mouj
hostes dos aqueus. Muitas almas de valentes desceram à casa de Hades e seus corpos foram

presa dos cães e das aves de rapina enquanto se fazia a vontade de Zeus, a partir do dia em

que se desavieram o filho de Atreu, rei dos homens, e o divino Aquiles.


v. 8 ἔριδι

. Que deus provocou a desavença entre eles? O filho de Latona e de Zeus,

que fora ofendido pelo Rei. Assim, ele mandou sobre o acampamento a peste cruel, e muita
v. 12 Ἀτρεΐδης v. 11 Χρύσην

gente morreu. O Rei ofendera seu sacerdote, Crises, quando este chegara até os navios dos
v.12 Ἀχαιῶν

aqueus, levando consigo ricos presentes para resgatar sua filha. Empunhava
v. 15 σκh&πτρωι

um bastão4 de ouro, enfeitado com as guirlandas de Apolo, o arqueiro infalível, e dirigiu

sua súplica a todos os aqueus, mas especialmente aos dois príncipes filhos de Atreu:

“Filhos de Atreu e vós, aqueus seus súditos, possam os deuses que moram no
v. 19 Πριάμοιο

Olimpo permitir que tomeis a cidade de Príamo e que regresseis sem percalços à vossa

1
Tradução em forma de narrativa por Fernando C. de Araújo Gomes (Ediouro).
2
Deusa. Eram 9 musas, filhas de Zeus e Mnemósina: Clio, Euterpe, Talia, Melpômene, Terpsícore, Erato,
Polímnia, Urânia e Calíope. A Musa reclamada aqui é Calíope, que preside aos poemas destinados a celebrar
os heróis. Cada Musa presidia uma área, a saber: Calíope era a musa da poesia épica, Clio, da história,
Euterpe, da poesia lírica, Melpômene, da tragédia, Terpsícore, da dança e do canto, Erato, da poesia erótica,
Polínia, da poesia sacra, Urânia, da astronomia e Talia, da comédia.
3
22 ocorrências em Homero: Il. I,1,75,422,487; V,34,178,444; IX,517; XII,10; XIII,624; XV,122; XVI,711;
XVIII,257; XIX,35,75,374; XXI,523; XXIII,455; Od. II,66; III,135; V,146; XIV,284.
4
Σκῆπτρον = 36 vezes encontrado em Homero: Ilíada 1.15,28,234,245,374;
2.46,101,186,199,206,265,268,279; 3.218; 6.159; 7.277,412; 9.38,99,156,298; 10.321,328; 18.416,505,557;
23.568; Odisseia 2.37,80; 3.412; 11.91,569; 13.437; 14.31; 17.199; 18.103.
pátria! Libertai, porém, minha amada filha, eu vos imploro, e respeitai
v. 21 Ἀπόλλωνα v. 21 Διὸς

Apolo, o arqueiro infalível, filho de Zeus!”.

Todos os aqueus gritaram, dando o seu consentimento, para que se respeitasse o


v. 24
'Agame&mnoni
sacerdote e se aceitasse o valioso resgate, mas isso não agradou ao coração de Agamenon,
v. 24 Ἀτρεΐδηι
filho de Atreu, que despediu rudemente o sacerdote com palavras ásperas:

“Não quero ver-te mais aqui. Não fiques aqui e nem voltes, pois, do contrário, teu
v. 28 σκῆπτρον

bastão e tuas guirlandas sagradas não te protegerão. Não a libertarei! Ela há de viver até a

velhice, em nossa casa, em Argos, trabalhando na roça e compartilhando meu leito. Retira-

te, não me irrites, pois, do contrário, te arrependerás!”.

Assim falou, e o velho amedrontou-se. Em silêncio, caminhou ao longo da praia do

ressonante mar, e, chegando ao seu destino, ergueu muitas preces a Apolo, o louro filho de

Latona:

“Ouvi-me, dono do arco de prata, que proteges Crises e és dono de Cila, Senhor de

Tenedos, simitiano! Se jamais ergui em tua honra um belo templo, se jamais queimei para ti

gordas postas de touros e de bodes, concede-me esta graça: faze com que os gregos me

paguem por minhas lágrimas sob as tuas setas!”.


v. 43 Φοῖβος Ἀπόλλων v. 44 χωόμενος v.44 κh~ρ

Febo Apolo ouviu sua prece. Desceu do Olimpo, com a ira no coração, carregando
v. 46 o0i+stoi\

o arco e a aljava. As setas retiniam em seus ombros, enquanto o irado deus movia-se, negro
v.48 νεw~ν

como a noite. Firmou os pés a pequena distância dos navios5 e disparou uma seta. Terrível
v. 50 ou)rh=aj v.50 ku/naj

foi o zunido de seu arco de prata. Primeiro, ele atacou as mulas6 e os velozes cães, depois

disparou suas penetrantes setas contra os homens, e nenhuma errou o alvo. As piras dos
v. 52 neku/wn

mortos começaram a arder, incessantemente.


v.53 e)nnh=mar v. 53 kh~la

Durante nove dias7, as setas8 do deus caíram sobre o acampamento. No décimo dia,
v. 54 lao\n v.55 $Hrh v.55 leukw&lenoj

Aquiles convocou as hostes para uma reunião9. A deusa Hera10, dos alvos braços11, pusera
v.55 fresi v.56 Danaw~n

essa idéia em seu coração12, pois se apiedava de ver os gregos13 morrerem.


v.58 po&daj w0ku\j v. 58 a)nista/menoj v.58 mete/fh

Quando se reuniram, Aquiles, o de pés ligeiros,14 levantou-se15 e falou16:

5
new~n = genitivo, plural, jônico, indeclinável. A forma nominativa é nau=j.
6
Masculino, acusativo, plural de o)reu/j.
7
e)nnh=mar = forma indeclinável. Para e)nnh=mar, Walter Leaf na obra Commentary on the Iliad
(1900) diz que é “the regular formula for a vague number of days”. Ocorre 14 vezes em Homero, 12 das quais
nas suas duas principais obras: Ilíada 1.53; 6.174; 12.25; 24.107,610,664,784; Odisseia 7.253; 9.82; 10.28;
12.447; 14.314. O número nove [ e)nne/a ] aparece 16 vezes em Homero: Iliada 2.96,134,654; 6.174;
7.161; 16.785; 18.578; 23.173; 24.252; Odisseia 3.7,8; 8.258; 9.160; 11.577; 14.248; 24.60.
8
kh&laj = pássaro. O prof. Erick France Meira de Souza traduz “acúleos” (ponta aguçada, espinho), uma
referência à flecha, conforme a tradução corrente. Palavra usada em conjunção com be&lov do v. 51.
9
“Aquiles chamou para a agora sua liga” (trad. Erick France Meira de Souza).
10
(/Hra. O nome desta deusa ocorre 128 vezes em Homero.
11
leukw&lenoj = alvos braços. Essa palavra ocorre 39 vezes nas 2 principais obras de Homero, a maior
parte delas usada como epíteto da deusa Hera: Ilíada 1.55,195,208,572,595; 3.121; 5.711,755,767,775,784;
6.371,377; 8.350,381,484; 14.277; 15.78,92,130; 19.407; 20.112; 21.377,418,434,512; 24.55,723; Odisseia
6.101,186,239,251; 7.12,233,335; 11.335; 18.198; 19.60; 22.227. Encontramos 2 vezes em Hesíodo:
Teogonia 314,913.
12
frh/n. Diafragma; razão, juízo, ânimo, mente. Erick France Meira de Souza traduz essa palavra por
“íntimo”.
13
Danao/j. Dânaos é um dos nomes dados ao povo grego. Ocorre 160 vezes em Homero.
14
“Aquiles de prontos pés” (Erick France). “O de pés ligeiros” (Fernando C. de Araújo Gomes).
15
“Pôs-se em pé” (Erick France). Particípio passado de a)ni/sthmi.
16
“Afirmou em meio a eles” (Erick France). Imperfeito do indicativo ativo, 3ª pessoa do singular do verbo
meta/fhmi, que significa “falar entre”.
“Filho de Atreu, creio que seremos rechaçados e fugiremos para a Pátria, se
v.60 qa/naton

conseguirmos escapar da morte17, já que a peste se alia à guerra contra nós. Indaguemos de

algum profeta, sacerdote ou decifrador de sonhos (pois os sonhos também vêm de Zeus)

que possa nos dizer por que Febo Apolo tão irado se encontra, se acha que faltamos a

algum voto ou sacrifício, ou se estará querendo receber a gordura de carneiros ou de bodes

sem mancha para que afaste de nós esta praga”.

Disse estas palavras e sentou-se. Levantou-se, então, Calchas, filho de Testor, o

melhor de todos os intérpretes de sonhos, que sabia as coisas do presente, do passado e do

futuro e que guiara os navios dos aqueus até Ílion, graças ao poder de previsão que Febo

Apolo lhe dera. De pensamento puro e sensato, assim falou:

“Aquiles, caro de Zeus, queres que eu explique a ira de Apolo, o arqueiro infalível.

Falarei, portanto. Atenta para o que eu disser e jura-me lealmente proteger-me com o braço

e com a palavra, pois penso que irei provocar a ira do homem poderoso que governa todos

os argivos e a quem os aqueus obedecem, pois um rei, em sua ira, é mais perigoso que um

homem comum. Mesmo quando ele guarda a ira durante um dia em seu coração, poderá

satisfazê-la. Dize-me se me protegerás”.

17
Qa/natoj, a morte. Aqui a referência é à morte mesma, não ao deus. Thânatos, em latim chamado de
Orcus ou Mors, era conhecido por ter o coração de ferro e as entranhas de bronze. Era filho da Noite (Nix) e
irmão de Hipnos (Sono).
v.84 po&daj w0ku\j

Aquiles, o de pés ligeiros, respondeu-lhe:

“Nada receies e dize as profecias que sabes. Por Apolo, caro Zeus, a quem diriges

tuas preces, ó Calchas, quando revelares aos gregos os oráculos dos deuses, nenhum deles

levantará a mão contra ti nesta frota, enquanto eu viver e olhar sobre a terra, nem mesmo se

nomeares Agamenon, que se proclama o primeiro de nós todos”.

O impoluto adivinho encorajou-se, então, e disse:

“Ele não encontra falta em nós por voto ou sacrifício, mas por causa de seu

sacerdote, a quem Agamenon ultrajou, ao deixar de aceitar o resgate e libertar sua filha. Por

sua causa, o arqueiro infalível nos mandou e nos mandará tribulações. E não afastará a
v.98 e(likw_/pida

terrível peste de nosso povo enquanto não devolvermos a seu pai a donzela de olhos

atentos18, sem preço ou resgate, e fizermos a Crises uma oferenda sagrada. Então,

poderemos apaziguá-lo e convencê-lo”.

Ditas estas palavras sentou-se. Então, ergueu-se, furioso, diante deles, o heróico

filho de Atreu, o poderoso Agamenon; tinha o negro coração repleto de ira e seus olhos

flamejavam como o fogo. Dirigiu-se, primeiro, a Calchas, com um olhar sombrio:

18
Acusativo feminino singular de e(li/kwy, olhos vivos, atentos. A Afrodite diz-se, na Teogonia de
Hesíodo, v. 16, que ela é a Afrodite de olhos ágeis (e(likoble/faro/n t' )Afrodi/thn ). Acerca de
Medeia, Hesíodo chama de e(likw/pidi kou/rh|, “virgem de olhos vivos” (Teog. 307). Nas Odes Pítias
do livro Odes, de Píndaro, em P.6.1 temos e(likw/pidoj )Afrodi/taj., “Afrodite dos olhos vivos” ou
“dos olhos brilhantes”.
“Profeta do mal, jamais tiveste uma boa palavra para mim. Sempre te deleitaste em

profetizar o mal, nada de bom disseste ou fizeste. Agora, profetizando entre os gregos,

afirmas que é por aquele motivo que o arqueiro infalível lança a maldição sobre eles:
v.111 kou&rhj v.111 Χρυσηΐδοj

porque me recuso a receber um magnífico resgate pela donzela19 filha de Crises20, pois é
v.113 Klutaimnh&strhj

meu desejo conservá-la em minha casa. Prefiro-a, na verdade, a Clitemnestra, minha esposa

legítima, pois não é inferior a ela, nem pela forma, nem pela estatura, nem pelo espírito e

pela habilidade para trabalhar. No entanto, mesmo assim estou disposto a devolvê-la, se for

necessário. Prefiro que os homens se salvem a que morram. Preparai, contudo, sem demora
v.119 0Argei&wn

uma presa para mim, ou, do contrário, serei no exército o único homem entre os argivos

sem uma presa de guerra. Olhai, vós todos, a minha vai para longe”.

Aquiles, o de pés velozes, semelhante a um deus, retrucou:


v.122 'Atrei%dh

“Mui nobre filho de Atreu, mais ambicioso dos homens, como podem os corajosos

aqueus te darem uma presa? Não sabemos de grande acúmulo de bens comuns: o que

tomamos no saque das cidades foi dividido e não é lícito que os homens o ajuntem de novo.

Entrega-a agora ao deus: então nós, os aqueus, te pagaremos três e quatro vezes mais, se

Zeus jamais nos permitir o saque de Tróia das altas muralhas”.

19
ko&rh, hj = uma jovem virgem. Nome de Perséfone (Kore), ou Sphinx (Esfinge). No plural, as Fúrias, as
Parcas, as Fórcidas. Kou&rhj é usado aqui no genitivo, feminino, singular.
20
Genitivo feminino de Xrushi/j, filha de Xru/sh.
v.130 'Agame&mnwn

O poderoso Agamenon respondeu-lhe:

“Não busques em teu coração enganar-me, por mais bravo que sejas, Aquiles,

semelhante a um deus, pois não terás artimanhas que me persuadam. É teu desejo o de

conservares tua presa de guerra, e que eu, ao mesmo tempo, entregue a minha, e queres que

eu a devolva? Contudo, se os corajosos aqueus derem-me uma presa de guerra que satisfaça

meu coração, uma presa que me sirva... mas não darão, então eu próprio tomarei uma presa
v.138
0Odush~oj
de ti, ou de Ájax, ou de Ulisses, e a levarei comigo. E irado ficará, então, aquele a quem eu

me dirigir. Pensaremos nisso mais tarde, porém. Lancemos, agora, um negro navio sobre o

mar brilhante, e tripulemo-lo, sem demora, com remadores e nele coloquemos uma

oferenda, e levemos para bordo a bela Criseis em pessoa. Que um guerreiro participante do

conselho seu seja comandante, Ájax, ou Idomeneu, ou Ulisses semelhantes a um deus, ou

tu, filho de Peleu, mais terrível dos homens, para que possas oferecer sacrifícios e
v.147 e(ka/ergon

apaziguar por nós o Guardião” 21.


v.148 po&daj w0ku\j

Aquiles, o de pés ligeiros, olhou-o com desdém e replicou:

“Homem voraz, vestido de vergonha, como irá qualquer um dos aqueus obedecer de

boa-vontade tuas ordens, quer partindo para uma viagem, quer lutando valentemente contra

outros homens? Não vim para aqui lutar contra os lanceiros troianos, que, aos meus olhos,

21
“O que peleja à distância” (Erick France).
não eram, de modo algum, culpados. Jamais tinham eles roubado meus bois ou meus

cavalos, jamais haviam devastado as plantações na fértil Ftia, a nutriz dos homens, eis que

se estendem entre nós muitas montanhas sombrias e o ressonante mar. Não, foi a ti, homem

desavergonhado, foi a ti que seguimos até aqui, para nos vingarmos dos troianos, por causa

de Menelau e por tua causa, cara de cão! Jamais, porém, levas em consideração tais coisas.

Chegas, mesmo, a ameaçar tomar-me tu mesmo minha presa de guerra, a presa pela qual

tanto labutei e que os filhos dos aqueus me deram. Jamais ganho uma presa igual à tua,

quando os aqueus saqueiam alguma bela cidade dos troianos. Minhas mãos sustentam os

pesados encargos da furiosa guerra, no entanto, quando se faz a divisão dos despojos, tua

presa é sempre a maior e eu regresso ao navio com pouca coisa, mas que bem mereço, para

retemperar-me das fadigas. Agora, irei para Ftia, pois é muito preferível voltar à Pátria nos
v. 171 a)/ti_moj

recurvados navios, e não tenciono aqui ficar, sem honras22, acumulando riquezas para ti”.

Então Agamenon, rei dos homens, replicou:

“Foge, se teu coração a isso te impele: não te implorarei para ficar comigo. Tenho

outros para me honrar: acima de todos, Zeus, o conselheiro. És para mim o mais odioso dos

homens nutridos por Zeus, pois só cuidas de lutas, guerras e batalhas. Se és muito forte,

22
Sem timh& (honra – 39 vezes em Homero). a)/ti_moj = sem honra. Palavra encontrada 5 vezes em
Homero: Il. I, 171; 516 ( a)ti_mota/th – superlativo singular); XVI,90 (a)ti_mo/teron – composição
adverbial); Od. XVI,431 (a)/ti_mon ); XXIII,28 (a_)ti_/mwn ).
certamente foi um deus que assim te fez. Volta para a Pátria, com os teus navios e os teus

companheiros, e reina sobre os mirmidões: não me preocupo contigo nem receio tua ira.

Uma advertência te faço: como Febo Apolo me arrebata Criseis eu a enviarei em meu

navio, com meus companheiros, mas levarei eu mesmo para minha tenda a tua presa de
v.184 kallipa/rh|on

guerra, a linda23 Briseida, a fim de que fiques sabendo quanto sou melhor do que tu e que

nenhum homem pode falar-me como igual e encarar-me face a face!”

Assim falou ele, e o filho de Peleu irou-se. O coração dentro de seu peito possante

imaginou duas coisas: se deveria sacar a espada, dispersar os outros e matar o filho de

Atreu, ou se deveria dominar sua ira e curvar o espírito. Enquanto assim hesitava e
v.194 'Aqh&nh v.195 #Hrh

desembainhava a forte espada, Ateneia desceu do céu. Hera, a dos alvos braços, a enviara,

ela que amava e queria no coração ambos os homens. Ficou de pé atrás do filho de Peleu,

agarrou-o pelos louros cabelos, aparecendo somente a ele, sem que nenhum dos outros a

visse. Aquiles, atônito, voltou-se e logo reconheceu Palas Ateneia, pois seus olhos

brilhavam terrivelmente. Dirigindo-se a ela, disse ele estas palavras:


v.202 ai0gio&xoio

“Por aqui estás, filha de Zeus o portador da égide? Tu, poderosa, vieste ouvir os

insultos de Agamenon, filho de Atreu? Vou dizer-te algo que estou certo há de acontecer:

ele em breve há de destruir-se a si próprio, pelo seu insuportável orgulho”.

23
Acusativo de kallipa/rhoj (bela de rosto).
Então, a deusa Ateneia dos olhos brilhantes assim lhe falou:

“Vim do céu para dominar tua ira, se podes obedecer; Hera, a deusa dos alvos

braços, enviou-me, ela que vos ama e vos quer no coração, vós ambos. Vamos, domina tua

ira, não empunhes a espada; censura-o com palavras, dize-lhe mesmo o que acontecerá,

pois assim profetizo e assim há de acontecer: algum dia, terás três vezes mais esplêndidos

bens por causa dessa insolência. Domina-te e obedece-nos”.


v.215 po&daj w0ku\j

Aquiles, o dos pés ligeiros, respondeu-lhe nestas palavras:

“Devo obedecer tua ordem, ó deusa, embora irado no coração; é melhor assim. Os

deuses ouvem acima de tudo aqueles que lhes obedecem”.

Assim falou e segurou com forte mão o punho de prata da grande espada e pô-la na

bainha: não desobedeceu à ordem de Ateneia. E ela voltou para o Olimpo, a fim de juntar-
v.222 δαi&μοναj v.222
ai0gio&xoio
se aos outros deuses, na casa de Zeus, o portador da égide.

O filho de Peleu, todavia, de novo dirigiu-se ao filho de Atreu com palavras ásperas

e sua ira ainda não se abatera:


v.225 οἰνοβαρέj
“Bêbedo, de olhos de cão e coração de gamo, jamais teu espírito ousou armar-se

para a batalha com as nossas hostes ou sair para uma emboscada com os melhores dos

aqueus. Achas que isso seria a tua morte. Sem dúvida, é muito preferível, no vasto

acampamento dos aqueus, arrebatar a presa de guerra daquele que se atreve a contrariar-te.
v.231 basileu_j v.231 dhmobo&roj
Um rei devorador de homens tu és, pois reinas sobre homens sem valor: de outro modo,

filho de Atreu, esta seria tua última insolência. Dir-te-ei, porém, e farei um juramento

solene: Por este cetro, que jamais terá de novo folhas ou vergônteas, já que deixou outrora

seu cepo na montanha, nem há de florecer de novo, e o bronze o despojou das folhas e do

casco, e agora os filhos dos aqueus o empunham, os juízes, guardiães das leis que vêm de

Zeus... e este será para ti um juramento solene: em verdade chegará um dia em que

será lamentada a falta de Aquiles por todos os filhos dos aqueus e então, embora

ansioso, não poderás, de modo algum, ser útil, quando muitos caírem mortos diante de
v.242 a0ndrofo&noio
Heitor, o matador de homens24, e tua alma há de irar-se dentro de ti, porque não honraste

devidamente o melhor dos aqueus”.

Assim falou o filho de Peleu e atirou ao chão o cetro dourado e sentou-se. O filho de
v.248 a)gorhth/j

Atreu enfrentou-o, furioso. Então levantou-se Nestor, orador dos homens, de Pilos, de voz
v.248 h(dueph/j v.250 a)nqrw/pwn
suave, de cujos lábios as palavras saíam mais doces que o mel. Já duas gerações de homens

mortais haviam passado por ele, nascidas e envelhecidas com ele na sagrada Pilos, e agora

ele reinava sobre a terceira. Tendo para eles pensamentos claros e nobres, assim falou:
v.254 pe/nqoj
“Ah! Grande pesar caiu sobre a terra de Acaia! Sem dúvida, Príamo e os filhos de

Príamo e os outros troianos grandemente se regozijariam em seu coração se soubessem toda

a história da luta entre vós dois, que sois os chefes dos gregos, no conselho e na guerra.

24
a0ndrofo&noj = homicida, assassino, matador de homens. Epíteto comumente aplicado a Heitor.
Licurgo Dríada (Il. VI, 134) é chamado por Diomedes de “matador de homens”. Ares é chamado por Homero
de “matador de homens” (Il. IV,441). De Aquiles é dito que ele era o “matador de homens” (Il. XVIII,317;
XIV,479). Esta palavra grega aparece 17 vezes em Homero: Il. IV,441; VI,134,498; IX,351; XVI,77,840;
XVII,428,616,638; XVIII,149,317; XXIII,18; XXIV,479,509,724; Od. I,262.
Vinde, ouvi-me, sois ambos mais moços do que eu. Há muito tempo fui camarada de

homens muito melhores que vós e jamais eles zombaram de mim. Ainda não vi, nem verei,

guerreiros como Peirito e Drias, pastor do povo, e Ceneu e Exádio e Polifemo, semelhante

aos deuses, e Teseu, filho de Egeu, semelhante aos imortais. Estes eram os mais poderosos

homens criados sobre a terra e com os mais poderosos lutavam, com os monstros das

montanhas e bravamente os destruíram. Desses homens fui companheiro quando vim de

Pilos, de uma terra distante, pois eles próprios me convocaram. Lutei em combate singular:

com aquele inimigo nenhum dos mortais que ora se encontra sobre a terra poderia lutar25.

Eles ouviam os meus conselhos e atendiam à minha palavra. Atendei-a, pois, vós ambos.
v.275 kou&rhn

Por mais bravo que sejas, não o prives de sua donzela, deixa-a com ele, pois ele a recebeu

dos aqueus como presa de guerra.

25
A tradução do professor Erick France traz: “Ninguém dos que são mortais sobre chão, agora, quereria
combater contra aqueles!”, sem menção ao “combate singular” lutado por Nestor, segundo a tradução de
Fernando C. de Araújo Gomes.

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