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HOMICIDIO QUALIFICADO HOMICiDIO TENTADO HOMICIDIO PRIVILEGIADO. ESPECIAL CENSURABILIDADE DO AGENTE ESPECIAL PERVERSIDADE DO AGENTE ATENUAGAO ESPECIAL DA PENA MEDIDA DA PENA RECURSO PENAL NEGADO PROVIMENTO AO RECURSO I- Age com "especial censurabilidade ou perversidade” exigida pelo n° 1 do artigo 132°, filho que tenta matar o pai empunhando uma faca ¢ visando com o seu golpe uma zona particularmente sensfvel do corpo daquele, com o propésito de Ihe tirar a vida. TI- A “especial censurabilidade” advém da consciéneia que o arguido possui da relag&o de parentesco que © une @ vitima, ultrapassando o mal do crime ¢ violando os deveres de respeito, amizade, subordinagao ¢ disciplina que Ihe sto exigiveis perante a vitima Acordam, em audiéneia, os Juizes que compdem Secedo Criminal do Tribunal da Relago de Evora: No processo comum n® ... a correr termos no 2° Juizo Criminal do Tribunal Judicial da Comarea de ..., foi julgado A, pela pratica de um crime de homicfdio qualificado, sob a forma tentada, previsto ¢ punido pelos artigos 131°, 132°, n? 1 e n° 2, alinea a) e d), 22°, 23°, 72° ¢ 73° do Cédigo Penal, Proferido acérdio, veio o mesmo a ser condenado pela pratica do referido crime ( homicidio qualificado, previsto ¢ punido pelos artigos 131°, 132°, n° 1 e n® 2, alinea a), 22°, 23°, 72° ¢ 73° do Cédigo Penal ) na pena de quatio anos de pristio. Desta acérdio interp6s o arguido recurso, coneluindo: 1* 0 tribunal "a quo", na apreciagao final da prova, nomeadamente no ponto d), pagina 10 do Acérdéo, defende que "As palavras, porém, atribuidas a0 arguido, dizendo que ia dcitar-se 20 mar, denotam profunda mortificagéio, explicativa do seu desesperado acto, praticado na pessoa do sew pai." 2a Mais adiante, no ponto 5.a. dos “factores a ponderar", o douto acérdao, refere que “"Relativamente, pois, aos sentimentos manifestados na prétiea do ilfeito, pode concluir-se com seguranga que o arguido foi movido pelo desespero," 3a E no ponto 6. que "Numa palavra, no houve mot'vo fiitil ou prazer em matar, Houve lum acto tresloucado, seguido, minutos depois, daquilo que o artigo 72°, n°2, al. ¢) do Cédigo Penal designa por "actos demonstrativos de arrependimento sincero do agente."- Sic. 4a Tal como referido supra, na apreciagéio da prova o douto acérdiio recorrido, entendeu que As, palavras, porém, atribuidas ao arguido, dizendo que ia deitar-se ao mar, denotam profunda mortificagdo, explicativa do seu desesperado acto, praticado na pessoa do seu pai." 5* Ou seja, o tribunal ficou convencido que se tratou de um “acto desesperado” que denota "profunda mortificagio", 6a Dispoe o artigo 133° do Cédigo Penal que "Quem matar outra pessoa dominado por .) desespero ou (...), que diminuam sensivelmente a sua culpa, é punido com pena de * priso de 1 a5 anos. " 7a “Desespero ¢ 0 estado de alma em que se encontra quem jé perdeu a esperanga na obtenggo de um bem desejado, de quem enfenta uma grande contrariedade ou uma situagéio insuportdvel, enfim quem esté sob a influéncia de um estado de affigiio, desfinimo, desalento, angistia ou ansia, Ora, é evidente que quem se mantém sob tal influéneia e pratica um homicidio age sob 0 dominio do circunstancialismo angustiante em que se acha envolvido." - anotagto 20 artigo 133°, in Cédigo Penal Anotado da autoria de Manuel Leal- Henriques ¢ Manuel Simas Santos, 3a Edigo, 2° Volume, Parte Especial. 8 Se atentarmos na anélise da prova levada a cabo pelo tribunal "a quo", mostra-se patente que 0s factos praticados pelo arguido, foram determinados pelo desespero, ¢ por um estado de profunda mortificagao. Pelo que, . 9 Com todo o respeito por melhor opinifo, entendemos que a sua conduta se enquadra no tipo p. e p. pelo supra citado artigo 133° do Cédigo Penal- homicidio privilegiado - e no no tipo p. ¢ p. pelos artigos 131 ° e 132° deste mesmo compéndio legal. A CAUTELA, CASO ASSIM SE NAO DECIDA 10a, - O tribunal "a quo" condenow o arguido como autor de um crime doloso tentado de homic{dio qualificado, p. e p. pelos artigos 131°, 132°, n® 1 € 2, al. a) do Cédigo Penal. 11" O tribunal "a quo" qualificou © homicidio tentado, pelo facto de a vitima ser pai do agente - eff. al. a) do n® 2 do artigo 132° do CP .. 12a Nas referéncias doutrinérias ao artigo 132°, os Senhores Doutores Manuel Leal- Henriques e Manuel Simas Santos, defendem que "(... ) a definigto do tipo se concentre no n° 1, nfo sendo o n° 2 mais do que uma mera lista de exemplos ou indfcios que poderdo eventualmente realizar esse mesmo tipo} sem excluir, portanto, a possibilidade de vir a ser completada por outras mais situagdes que revelem especial censurabilidade ou perversidade caracterizada no tipo.” - idem ob. Cit. 13a Donde se diga, com Margarida da Silva Ferreira, que "quem preenche uma das alineas do artigo 132°, ndo entra automaticamente no émbito da norma", sé o entrando quando, sujeito ao “crivo normative" do n° 1, se ajuize que "h4 mesmo uma culpa especial" (Direito penal I - Os homicidios, 40 e 41." - Idem ob. Cit. 14a Os exemplos constantes do n? 2 do artigo 132°, "so sintomaticamente susceptiveis de preencher esse mesmo tipo (exemplos possfveis) ¢ que constituem meros indicadores ou referenciais, nfo levando, s6 por si, & qualificagao do facto, obrigando, pois, ao apuramento, no caso concreto, sobre se o indice em causa tem virtualidade de revelar forga que justifique a tal qualificagao (repare-se que a lei fala em "é susceptivel"). Idem ob. cit; 15a "E as (palavras) de FERNANDA PALMA’ (0 homicfdio no Novo Cédigo Penal Portugués, Ver, Min, Piblico, 4°, n° 15,54): « a verificagio por si das circunsténcias nfo preenche necessariamente 0 tipo, porque nem sempre elas transportam aquele valor negativo que o legislador considerou susceptivel de revelar especial censurabilidade ou perversidade, Assim, & sempre conceptivel um parricfdio praticado por motivos de relevante valor social ou moral ou por quem esteja dominado por compreensivel emogao violenta (art? 133°) (.. ), isto é, em circunsténcias que justifiquem a atenuagiio ¢ nfo a agravagao da responsabilidade. - idem ob, Cit.; Ora, 16a Da matéria dada como provada pelo tribunal "a quo" ndo resultaram provados ‘quaisquer factos indiciadores ou susceptiveis de revelar a "especial censurabilidade ou perversidade" exigida pelo n° 1 do artigo 132°, ¢ que constitui condigao "sine quo non” para a qualificagdo do tipo. Pelo que, 17a E patente que a conduta do arguido nao se integra no disposto no arligo 132° do Cédigo Penal, por no se encontrarem provados quaisquer factos "susceptiveis de revelar especial censurabilidade ou perversidade", andando mal, a nosso ver, o tribunal recorrido, 0 qualificar o tipo com base na al. a) do n° 2 do mesmo preceito legal, quando no se mostra preenchido o n° 1 do mesmo artigo. Logo, 18 Entende 0 Recorrente que ha insuficiéneia para decistio da matéria de facto provada, A cautela, Caso assim se nao entenda, 19a Ao arguido foi aplicada a pena de 4 (quatro) anos de pristo, pela prética em autoria, de um crime tentado de homicidio qualificado, numa moldura penal abstracta que varia entre os 2 anos, 4 meses e 24 dias até aos 16 anos e 8 meses, 20a Ou seja, o tribunal "a quo” entendeu no dever aproximar a pena do seu minimo legal, que seriam os 2 anos, 4 meses ¢ 24 dias, justificando que "O intuito é advertir 0 arguido de modo veemente, levé-lo a reflectir ¢ impor-Ihe um modo de expiag&o que Ihe perita alcangar a plena medida da censurabilidade do seu acto - e isto levando em conta. que nem se ponderou o seu grau de perigosidade, por parecer em seu abono, ocioso." - pag. 14 do Acérdao, 21* Entende o Recorrente que, face 4 matéria dada como provada, sobretudo no que respeita & sua conduta anterior - sempre foi um bom filho - ¢ apés os factos em aprego nestes autos - 0 seu estado de afligfo que o levou a pedir ajuda para o seu pai - & sua personalidade, que revela tratar-se de um jovem de natureza senstvel, com formagio musical de nivel superior, 22a bem como face ao facto de na apteciagdo da prova o tribunal recorrido ter ficado convencido de que o recorrente foi movido pelo desespero, 23a deveria este tribunal ter aplicado a pena minima (2 anos, 4 meses © 24 dias), suspendendo-a na sua execugao ao abrigo do disposto no artigo 50° do C.Penal, por se revelar a mais adequada ¢ ajustada atendendo as circunsténcias supra descritas; Assim, 24a Pela crrada interpretag&o ¢ aplicagio que deles fez, 0 dou to acérdio recorrido, violou, entre outras as disposigdes legais contidas nos artigos 14°, 22°, 24°, 40°, 50° 70°, 71°, 72°, 131°, 132° e 133° todos do Cédigo Penal e artigo 369° do C.P.P, Nestes termos, ¢ sempre com o douto suprimento de V. Exas., deverd o douto acérddio ser revogado, ¢ substituido por outro que altere o enquadramento jurfdico-penal para o tipo p. € p. pelo artigo 1330 do Cédigo Penal, com as legais consequéncias dai advindas, ou, caso assim se néo entenda, que altere esse enquadramento aplicando-se in casu o tipo p. ¢ p. pelo artigo 131 ° do mesmo diploma legal, ou’ainda, caso assim se no decida, 0 que 80 se admite por dever de patrocinio, que aplique ao arguido a pena coincidente com o minimo legal. © Digno Procurador-Adjunto respondeu & motivagto de recurso, concluindo: 1- Nao houve qualquer erro no enquadramento jurfdico-penal dos factos dados como provados. 2- Tendo 0 arguido cometido de modo inequivoco um crime de homicidio qualificado, na forma tentada, p. ¢ p. no art. 131°, 132°, n° € 2, al, a), 22° © 23°, todos do Cédigo Penal. 3- Provou-se que 0 recorrente tentou tirar a vida ao seu progenitor, s6 nfo o conseguindo devido a intervengao de terceiros. 4- A mortificagio ¢ o desespero que 0 arguido revelou foi posterior 4 comisstio do ilicito criminal acima referido. 5- Nao ocorreu nos autos presentes qualquer circunstncia que justifique 0 enquadramento no tipo previsto no art.133°, do Cédigo Penal. 6- A pena de pristio de quatro (4) anos, revela-se adequada e proporcional culpa © A gravidade dos fuctos. 7- A douta decisto recorrida manifesta uma grande dose de humanidade vontade de reintegrar 0 arguido. 8- Nao padece 0 douto acérdio recorrido de qualquer vicio, nem nos merece qualquer reparo, devendo manter-se na integra, Negando provimento ao recurso com a excepgdo referida, Nesta Relagiio, o digno Procurador Geral Adjunto emitiu parecer no sentido das conclusées do Ministério Pablico da 1* Instncia mas entendendo que a deciséo recorrida “peca” por benevoléncia, Termina no sentido de ser negado provimento ao recurso, Cumprido 0 disposto no art, 417 n° 2 do Codigo de Processo Penal, o arguido respondeu, maniendo a tese da atenuagio do crime praticado e concluindo nos termos da sua motivagiio de recurso. Colhidos os vistos legais e realizada a audiéneia de julgamento, cumpre decidir. O acérdio recorrido fixou os seguintes factos: Ip. No dia ... de ... de ..., cerca das .., horas, o arguido encontrava-se no interior da sua residéncia, na Rua ..., n°... em ... quando foi visitado por seu pai B, que ali se deslocou para falar com o arguido a propésito da sua falta ao trabalho no dia anterior, ¢ de ter tido necessidade de justific4-lo junto da entidade patronal, 2p. Nessa ocasifio, encontrava-se também no interior da residéncia C, que ali se tinha deslocado para falar com o arguido e seu pai, que so seus familiares. 3p. Apés terem conversado, o arguido, que se encontrava deitado na cama com seu pai junto a esta, ergueu 0 tronco ¢ baixou-se para atar as sapatilhas que trazia calgadas, ao ‘mesmo tempo que dizia que se ia atirar ao mar. 4p. De forma sibita o arguido empunhou, entéo, uma faca de cozinha com cabo de madeira, de cor castanha, que se encontrava em local nfo concretamente apurado, Tevantou-se da cama e com ela desferiu um golpe na zona lombar, lado esquerdo, de B, seu pai. Sp. Nesse momento, B sentiu-se desfalecer € chamou por C, 20 mesmo tempo que Ihe dizia “tira-Ihe a faca”. 6p. C, que entretanto se dirigia para a safda da residéncia, voltou junto do arguido e de B, que s¢ encontravam de pé junto a cama, retirou entio a faca cheia de sangue das mfos do arguido ¢ levou-a para o exterior, depositando-a na rua préximo de um estabelecimento comercial, ¢ chamou a GNR. 7p. Por efeito necessério e directo do golpe desferido pelo arguido, B softeu ferida tordcica perfurada, com hemitérax A esquerda com cerca de dois centimetros e derrame pleural hemético esquerdo, demandando um periodo de 30 dias de doenga, dos quais os primeiros 20 dias afectaram gravemente a capacidade para o trabalho, 8p. Pouco depois, entraram na residéncia elementos da GNR de..., ¢ bem assim os bombeiros ¢ também médicos do INEM, que prontamente socorreram Be providenciaram pelo seu transporte ao Hospital Distrital de..., onde foi assistido nos servigos de urgéncia. 9p. Ao agir como descrito, designadamente fazendo uso de uma faca e visando com o seu golpe uma zona particularmente senstvel do corpo de B, o arguido {8-10 com o propésito de Ihe tirar a vida, 0 que nto aconteceu devido ao provado em 6p ¢ em 8p. 10p. O arguido € filho de B, relagtio de parentesco que nao desconhecia, 1p. O arguido agiu de modo livre, deliberado e consciente, querendo cravar a faca no corpo de seu pai, com conhecimento de que tal facto constitui crime punido pela lei. 12p. O arguido sabe nadar, 13p. O arguido é um filho carinhoso, que estima e respeita sou pai e sua méfe. 14p. © arguido jamais cometera contra seu pai ou sua me qualquer acto semelhante ao que provado em 4p. 15p. O relacionamento do arguido com seu pai pautou-se sempre pelo respeito e afecto miituo, 16p. O arguido, apés o provado em 4p, Sp e 6p, entrou em estado de afligiio e chamou outras pessoas que se encontravam na mesma residéncia, pedindo ajuda. 17p. O arguido 6 isento de antecedentes criminais ¢, tendo atingido o nivel universitério na Roménia, I se dedicou a miisica em moldes profissionais, aps 0 que veio para Portugal, onde ao tempo dos factos trabalhava como padciro. 18p. C apareceu junto do arguido ¢ da vitima s6 algum tempo depois de estes siltimos estarem a conversar, - FACTOS NAO PROVADOS — INP. Que 0 arguido agisse motivado pelo facto de a vitima B Ihe ter chamado a atengiio para a falta ao trabalho provada em Ip. 2NP. Que o arguido a vitima discutissem sobre a vontade do arguido de regressar & Roménia, 3NP. Que fosse habitual C passar por casa do arguido ao fim do dia, com o pretexto de af escutar miisica romena, ¢ que tentasse C por diversas ocasiées assediar a companheira do arguido, convidando-a para ir jantar com ele ou tomar um copo na sua companhia, 4NP. Que C ingerisse habitualmente grandes quantidades de bebidas alcodlicas. SNP. Que C estivesse embriagado quando do provado em 1p, 2p, 3p, 4p, Sp e 6p. GNP. Que a lesto softida pela vitima se deva a méro acidente. 7NP. Que antes de vir para Portugal o arguido tenha vivido na Roménia, durante trés anos, apenas com sua mée, coincidindo com a altura em que seu pai veio para Portugal. BNP. Que a faca provada em 4p estivesse em cima de uma mesa encostada a parede do quarto a direita de quem entra, ov seja, do lado contrario aquele onde se encontrava a cama que estavacolocada esquerda de quem entra no quarto. © Ambito dos recursos afere-se e delimita-se através das conclusGes formuladas na respectiva motivagdo conforme jurisprudéncia constente ¢ pacifica sem prejufzo das questdes de conhecimento oficioso. Desta sorte, analigando a matéria factual descrita, ela é perfeitamente clara e, por si s6, ou conjugada com as regras da experiéneia comum, nfo padece de qualquer erro, falha contradig&io ou obscuridade~ arts. 428, n° 1, e 410 do Cédigo de Processo Penal, Apreciando pela ordem descrita nas doutas conclusGes de recurso as matérias que no entender do recorrente devem ser objecto do mesmo, so: 1. sea conduta do arguido se enquadra no tipo p. ¢ p. pelo artigo 133° do Cédigo Penal- homicfdio privilegiado - e nfo no tipo p. ¢ p. pelos artigos 131° ¢ 132° do mesmo diploma legal. 2. a conduta do arguido nao se integra no disposto no artigo 132° do Cédigo Penal, por no se encontrarem provados quaisquer factos "susceptiveis de revelar especial censurabilidade ou perversidade", com base na al. a) do n® 2. do mesmo preceito legal, quando néio se mostra preenchido 0 n® 1 do mesmo artigo, 3. face & matéria dada como provada, deveria o tribunal ter aplicado a pena minima (2 anos, 4 meses e 24 dias), suspendendo-a na sua execugao ao abrigo do disposto no artigo 50° do C.Penal, por se revelar a mais adequada e ajustada. Apreciemos: 1* Questiio: se a conduta do arguido se enquadra no tipo p. € p. pelo artigo 133° do Codigo Penal- homicidio privilegiado - e no no tipo p. e p. pelos artigos 131 ° e 132° do mesmo diploma Ingal “(conclusGes de 1 a 9). Efectivamente o tribunal conclui na sua apreciago final das provas que “As palavres, atribuidas ao arguido, dizendo que ia deitar-se ao mar, denotam profunda mortificagao, explicativa do sou desesperado acto, praticado na pessoa de seu pai” ¢ ainda na fundamentagao de direito referente a “Escolha da Pena - ... outros factores a ponderat”” afitma: “... Relativamente, pois, aos sentimentos manifestados na pratica do ilicito, pode concluit-se com s2guranga que o arguido foi movido por desespero”. Mas o enquadramento juridico dos factos é feito do seguinte modo: “A conduta do arguido A, tal como se provou nos autos, consistiu em que este, de modo livre, deliberado consciente, golpeou seu pai com uma faca na regido dorsal, pracurando assim causar-lhe a morte, a qual foi evitada porque ao arguido foi retirada a ‘faca e porque a vitima foi imediatamente socorrida. Tal conduta constitui autoria material de crime doloso tentado de homicidio qualificado, previsto e punido pelos artigos 131°, 132° n° 1 @ n° 2, alinea a), 22°, 23° 72° ¢ 73° do Cédigo Penal ... O facto provado em 6p consiste em que a faca foi retirada ao arguido e levada para o exterior. Este facto é relevante, porque ndo hé nos autos quaisquer elementos que pirmitam concluir que 0 arguido, ao.ser-Ihe retirada a faca, tinha jé desistido do seu iittuito de matar. Segue-se, porém, 0 eee em que é prestado auxtlio £ 4 vitima, que alids, conduzida ao hospital, sofre 30 dias de doenca, sendo os 20 primeiros dias fortemente incapacitantes. O golpe desferido mostrou-se, em todo 0 caso, idéneo para causar a morte, que nifo se seguiu por forga das provadas circunstdncias.” E néo poderia ter sido feito outro enquadramento juridico. ‘A matéria de facto provada ¢ clara e inequivoca em transmitir 0 dolo que movimentou o arguido e a consciéncia da ilicitude com que actuou., A anflise que o tribunal faz do comportamento do arguido, ao agir como agiu, flo tio 86 sob 0 ponto de vista da personalidade que evidencion e dos sentimentos que manifestou antes e depois do crime que levou a efeito, Tanto assim é que o acérdfo recorrido, também na fundamentagio de direito na parte epigrafada “Eseolha da Pena - ... outros factores a ponderar” afirma: “...Tentar matar 0 pai - eis algo que ndo pode, numa primeira impressio, considerar-se "moderado”, Jé se explicou, no entanto, que 0 arguido ndo levou a acgéio de matar mais longe do que 0 primeiro golpe, o qual foi submetido a tratamento imediato, assim se logrando salvar a vida - que esteve em perigo - da vitima. Isto num contexto que agora terd desenvolvimento”. Se bem se atentar, na previstio do artigo 71°, n° 2, al. e)do Cédigo Penal, deparamos com um factor aqui de particular velia, constituido pelos «sentiments manifestados no cometimento do crime e os fins ou motivos que o determinaram”. Portanto as referidas consideragdes tém um enquadramento especifico, que é claramente a apreciagso do tribunal do comportamento do arguido para efeitos do disposto no art, 71 n°2 do Cédigo Penal — determinagao da medida da pena, Nao podemos ¢ confundir elementos do tipo com circunstfincias que, néio fazendo parte dele, deponham a favor ou contra o agente do crime. O art. 133 do Cédigo Penal ao estatuir que “Quem. matar outra pessoa dominado por compreensivel cmogéo violenta, compaixo, desespero ou motivo de relevante valor social ou moral, que diminuam sensivelmente a sua culpa, 6 punido com pena de pristio de 1 a5 anos” contém uma cldusula de exigibilidade diminufda legalmente coneretizada ~ cf, Comentario Conimbricense do Cédigo Penal, I vol. pag. 47. Mas esta diminuigio ndo pode ficar a dever-se nem a ama imputabili a uma diminuida consciéneia da ilieitude, mas unicamente a uma exi de comportamento diferente. A compreens{vel emogiio violenta, a compaixiio e « desespero, s6 privilegiam quando diminuem de forma sensivel a exigibilidade de outro comportanento ¢ sio por conseguinte elementos exclusivamente atinentes enlpa, O efeito diminuidor da culpa ficar-se-4 a dever ao reconhecimento de que, naquela situagio, (endégena ¢ exdgena), também o agente “fiel ao direito” (conformado com a ordem juridico-penal) teria sido sensivel ao conflito espiritual que the foi criado e por ele afectado na sua decisto — cf Figueiredo Dias, in “O Problema da Consciéncia da llicitude em Direito Penal”. Ora no caso dos autos 0 “desespero” com que o fribunal apelidon o estado de espirito do arguido no tem de forma alguma o alcance que acabémos de referir, mas pode, e 0 tribunal considerou-a, contribuir para uma ponderagao da medida da pena nos termos do disposto no art, 71 n°2, al. c), do Cédigo Penal. le diminufda, nem lidade diminulda Pelo exposto, ¢ sem necessidade de mais consideragdes, improcede a questiio em aprego. Passemos a 2 Questo suscitada pelo recorrente. “a conduta do arguido nao se integra no disposto no artigo 132° do Cédigo Penal, por nfo se encontrarem provados quaisquer factos "susceptiveis de revelar especial censurabilidade ou perversidade”, com base na al. a) do n® 2 do mesmo preceito legal, quando nfo se mostra preenchido 0 n° 1 do mesmo artigo”( conclusdes de 10 a 18). ‘Alega 0 recorrente que “Da matéria dada como provada pelo tribunal "a quo" niio resultaram provados quaisquer factos indiciadores ou susceptiveis de revelar a "especial censurabilidade ou perversidade” exigida pelo n° 1 do artigo 132°, ¢ que constitui condig&o "sine quo non" para a qualificagao do tipo. Pelo que, é patente que a conduta do arguido nfo se integra no disposio no artigo 132° do Cédigo Penal, por néo se encontrarem provados quaisquer factos "susceptiveis de revelar especial censurabilidade ou perversidade", andando mal, a nosso ver, o tribunal recorrido, ao qualificar 0 tipo com base na al, a) do n° 2 do mesmo preceito legal, quando ndo se mostra preenchido o n° 1 do mesmo artigo, Entende o Recorrente que ha insuficiéncia para decisdio da matéria de facto provada”. Retira-se da matéria de facto provada que: Apés terem conversado, 0 arguido, que se encontrava deitado na cama com seu pai junto a esta, ergueu o tronco e baixou-se para atar as sapatithas que trazia calgadas,.ao ‘mesmo tempo que dizia que se ia atirar ao mar. De forma sibita o arguido empunhou, entdo, uma faca de cozinha com cabo de madeira, de cor castanha, que se encontrava em local ndo concretamente apurado, levantou-se da cama e com ela desferiu um golpe na zona lombar, lado esquerdo, de B, seu pai. Nesse momento, B sentiu-se desfalecer ¢ chamou por C, ao mesmo tempo que Ihe dizia “tira-the a faca”. C. que entretanto se dirigia para a saida da residéncia, voltou junto do arguido e de B, que se encontravam de pé junto & cama, retirou entdo a faca cheia de sangue das mios do arguido, Ao agir como descrito, designadamente facendo uso de uma faca e visando com 0 seu golpe uma zona particularmente senstvel do corpo de B, 0 arguido fe-lo com o propésito de Ihe tirar a vida, 0 que nao aconteceu devido ao provado. O arguido é filho de B, relacdo de parentesco que ndo desconhecta. O arguido agiu de modo livre, deliberado e conselente, querendo cravar a faca no corpo de seu pai, com conhecimento de que tal facto constitui crime punido pela lei.” Dispée o art, 132 do Cédigo Penal : 1 - Se a morte for produzida em circunstancias que revelem especial censurabilidade ou perversidade, o agente € punido com pena de prisio de 12 a 25 anos, 2.-B susceptivel de revelar a especial censurabilidade ou perversidade a que se refere 0 néimero anterior, entre outras, a circunstineia de o agente: a) Ser descendente ou ascendente, adoptado ou adoptante, da vitima; homicidio qualificado nfo é mais que uma forma agravada do homicidio simples previsto no art. 131 do Cédigo Penal. Ele ¢ apenas um homicidio qualificado por certos elementos contenderem com 0 nticleo do tipo objectivo de ilfeito, sem que no entanto a sua verificagao implique, sem mais, a qualificagtio. ‘Tem sido amplamente debatida a questiio de se os exemplos-padrdio constantes do art. 132 n°2 do Cédigo Penal constituem em definitivo elementos do tipo de culpa, elementos do tipo de ilfcito e outros do tipo de culpa, ou simples cireunstancias determinantes da medida da pena. Mas a verdade € que a Comisstio Revisora do Cédigo Penal /82 aceitow a tese de Eduardo Correia e considerou que o tipo de ilicito preenchido pelo homicida qualificado 6 a norma do art. 131. Quando se verifiquem no comportamento as cireunstfincias das alfneas qualificadoras, o intérprete/aplicador tem de verificar se o agente agiu com especial censurabilidade ou perversidade, Caso contrério, a moldura penal que se Ihe aplica é a do art. 131 do Cédigo Penal. Pode ler-se nas Actas das Sessies da Comissio Revisora do Cédigo Penal — Parte Especial- pags. 21 ¢ 25 —a defesa daquele entendimento feito pelo autor do Anteprojecto: “O n°l do art. 132 do Cédigo Penal representa a maxima amplitude, Se a enumeragiio do n°2 passasse a ser taxativa, entio inutilizar-se-ia 0 n°1. A incluso do n°2 na referida norma corresponde a intengdo de colocar nas mios do juiz. alguns critérios com base nos quais possa dar aplicagao ao estatuldo no n°l, Referem-se nela apenas alguns indfcios ou elementos que permitem revelar a censurabilidade ou a perversidade do agente. Daqui se retiram dois efeitos. Por um lado as circunstancias enunciadas no n°2 nflo sfio elementos do tipo antes elementos da culpa. Porque nfo so de funcionamento automético: pode verificar-se qualquer das circunstancias referidas nas varias alineas e nem por isso se poder concluir pela especial censurabilidade ou perversidade do agente”, Alega o recorrente que “Da matéria dada como provada pelo tribunal "a quo" néio resultaram provados quaisquer factos indiciadores ou susceptiveis de revelar a "especial censurabilidade ou perversidade" Pelo que, J! patente que a conduta do arguido néo se integra no disposto no artigo 132° do Cédigo Penal, por nfo se encontrarem provados quaisquer factos”. Provou-se que, “O arguido ¢ filho de B, relago de parentesco que no desconhecia, O arguido agiu de modo livre, deliberado e consciente, querendo eravar a faca no corpo de seu pai, com conhecimento de que tal facto constitui crime punido pela lei.” Entendemos que o arguido ao actuar da referida forma na pessoa de seu pai, agiu com especial censurabilidade e perversidade, Com efeito o arguido agiu consciente da relagiio de parentesco que o unia a vitima B, seu pai ¢, ao fazé-lo, para alem do mal do crime, violou os deveres de respeito, amizade, subordinagao ou disciplina, revelando uma maior capacidade criminosa, pelo nao respeito dos motivos inibitérios do crime que a tais relagdes devem andar ligadas neste sentido os Acérdiios do Supremo Tribunal de Justiga de 6-6-90, Boletim do Ministério da Justiga n° 398 pag. 264 de 30-4-91, Boletim do Ministério da Justiga n° 410, pag. 367. Com efeito 0 arguido encontrava-se no interior da sua residéncia, quando foi visiiado por seu pai B, que ali se deslocou para falar com ele devido a sua falta ao trabatho no dia anterior. Apés terem conversado, 0 arguido, que se encontrava deitado na cama com seu pai junto a esta, ergueu o tronco e baixou-se para atar as sapatithas que trazia calgadas, ao mesmo tempo que dizia que se ia atirar ao mar. Porém, De forma siibita 0 arguido empunhou, entéo, uma faca de cozinha com cabo de madeira, de cor castanha, que se encontrava em local néo concretamente apurado, levantou-se da cama e com ela desferiu um golpe na zona lombar, lado esquerdo, de B, seu pai. £ notéria a falta de controlo do arguido em manter o respeito e suportar a presenga do pai e, da “velada ameaga do seu desaparecimento” de que ia atirar-se ao mar, decide de forma sibita agredir o pai com intuito de the tirar a vida. ‘Hi sem ditvida perversidade na mudanga de atitude do arguido ¢ a censurabilidade da sua conduta decorrente dessa perversidade. Como defende Fernanda Palma, in, “Direito Penal Especial. Crimes Contra as Pessoas”, 1983, pag, 53, ao referir-se A al. a) do n°2 do art. 132 do Cédigo Penal, “ndo é necesséria nenhuma motivagiio especial do agente para que 0 homicfdio seja qualificado. Basta que © agente tenha consciéneia da sua relagio de parentesco com a vitima... ¢ tenha veneido as contra-motivagoes éticas relacionadas com os lagos basicos de parentesco”, Pelo que acabamos de expor, nfo hé insuficiéncia para decisto da matéria de facto provada ¢ o enquadramento juridico-penal dos factos mostra-se acertado, respeitando a interpretago que o legislador imprimiu as normas dos n°s 1 ¢ 2 do art, 132 do Cédigo Penal. ae Improcede pois a segunda questo suscitada pelo recorrente, Finalmente, alega 0 recorrente que “face a matéria dada como provada, deveria o tribunal ter aplicado a pena minima (2 anos, 4 meses e 24 dias), suspendendo-a na sua execugio 0 abrigo do disposto no artigo 50° do C.Penal, por se revelar a mais adequada © ajustada” ( conclusdes de 19 a 23). Quanto a determinagao da pena concreta escreve-se no acérdao recorrid I-A pena a aplicar levard em conta, antes de mais, a moderada intensidade do dolo e da ilicitude, dentro do circunstancialismo provado, 2-A considerar sero também as demais circunstancias, muito em especial a auséncia de antecedentes ¢ 0 arrependimento sincero. 3- Pesaro, finalmente, e de modo muito significativo as exigéncias de prevengdo geral ¢ de prevencéio especial que se explanaram. 4- Néo beneficia o arguido da atenuante da confissdo, embora néo 0 prejudique o facto de ter-se mantido em siléncio, mas ponderando isso ¢ tudo 0 mais, néio pode a pena a impor ser a pena minima ou dela préxima, 5- Por outro lado, nito subsistem fundamentos capazes de apoiar a aplicagito duma pena superior, ou sequer igual, ao meio da pena abstracta a considerar. 6-4-0 intuito é advertir 0 arguido de modo veemente, levd-lo a reflectir e impor-the um modo de expiagdo que Ihe permita aleangar a plena medida da censurabilidade do seu acto ~ ¢ isto levando em conta que nem se ponderou o seu grau de perigosidade, por parecer, em seu abono, ocioso. b - Por todo 0 exposto, ird 0 arguido A condenado na pena de quatro anos de prisdo. Escreve o Prof, Figueiredo Dias, in, “Direito Penal” ~ Parte Geral, pag. 81, que “Toda a pena serve finalidades exclusives de prevengao, geral ¢ especial. A pena concreta Jimitada, no seu méximo inultrapass4vel, pela medida da culpa. Dentro deste limite méximo ela é determinada no interior de uma moldura de prevengao geral de integragfio, cujo limite superior é oferecido pelo ponto éptimo de tutela dos bens juridicos ¢ cujo limite inferior ¢ constituido pelas exigéncias minimas de defesa do ordenamento juridico, Dentro desta moldura de prevengio geral de integragdo a medida da pena é encontrada em fungao de exigéncias de prevengdo especial, em regra positiva ou de socializagio, excepeionalmente negativa, de intimidaggo ou de seguranga individuais”, Ora analisando o douto acérdao recortido, verificamos que ele fez. correcta aplicagio dos normativos aplicdveis, tendo em consideragtio de forma adequada os elementos a que podia ¢ devia atender ¢ os fins das penas ~ arts. 71 n°2 e 40 do Cédigo Penal -, situando- se a pena aplicada dentro da submoldura que o minimo exigido pela prevengo geral de integragio © 0 méximo consentido pela culpa concreta do agente desenham. Houve de facto uma sobrevaloragao dos antecedentes do arguido e do arrependimento que manifestou a seguir ao crime. Alids, sé 0 respeito anterior aos factos por que 0 arguido pautou o seu comportamento em relagdo a0 pai e o arrependimento que, com evidéneia, manifestou, justificam uma pena to benevolente como a que o tribunal recorrido aplicou. Com efeito 0 arguido, foi pouco colaborante ¢ nfio prestou um esclarecimento cabal sobre os factos e, desse modo, evidencion uma personalidade que nfo revela de forma inequfvoca que futuramente se pautard por condutas licitas. E, entendendo este tribunal nfo alterar a pena aplicada ao arguido, prejudicada fica a anélise de suspenséo da execugiio da pena face ao limite fixado no art, Art, 50 n°l do Cédigo Penal. Pelo exposto, acordam os juizes que compdem a Secgdo Criminal do Tribunal da Relagéio de Evora em negar provimento ao recurso e confirmar integralmente 0 acérdio recorrido, Custas pelo recorrente, fixando-se a taxa de justiga em 10 Ues, (Texto processado e integralmente revisto pela relatora) Evora, 10-5-2005

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