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HOMICIDIO VOLUNTARIO INTENGAO DE MATAR AUTORIA MORAL ACTOS DE EXECUGAO 31-10-98 UNANIMIDADE, REC PENAL. NEGADO PROVIMENTO. DIR CRIM - TEORIA GERAL / CRIM CIPESSOAS. DIR PROC PENAL - RECURSOS DIR CIV - DIR RESP CIV Para ser punivel a autoria moral, é, antes de mais, necessario que 0 suposto autor ‘material represente © queira o correspondente crime (no caso, um homicidio voluntario) que 0 comece a executar. Acordam no Supremo Tribunal de Justiga: A, casado, maquinista, nascido a 6 de Dezembro de 1964 e B, casada, doméstica, nascida a 2 de Agosto de 1963 ambos com os demais sinais nos autos, foram acusados pelo Ministério Puiblico da pratica em co-autoria material e na forma tentada, de um crime de homicidio qualificado previsto © punido pelas disposigées conjugadas dos artigos 131, 132 ns. 1 © 2, alineas‘c) e h), 22, 23 e 74 todos do Codigo Penal. A acusagao do Ministério Publico aderiu o assistente C, que também deduziu pedido de indemnizagao civil no montante de 3200000 escudos. Néo houve contestago. Efectuado 0 julgamento, 0 Colective do Tribunal de Circulo de Coimbra absolveu os arguidos, Recorreram o Ministério Publico o assistente. Conelusées do recurso do Ministério Pablico; 1 - Nao discordamos da incluso da actividade dos arguidos no dominio da instigagao, mas temos duvidas sobre se ndo foram efectivamente praticados actos de execugao ou, ‘ao menos de comego de execucao por parte do agente imediato. 2 - & que os apurados actos de coniratag4o @ combinagSo do crime, recebimento do sinal @ ponderagéo da forma de levar a tarefa a bom termo so de natureza a fazer esperar, segundo a experiéncia comum e tendo em conta, além do mais, uma razoavel pratica de marginalidade social do agente contratado, que se Ihes seguiriam os idéneos produgo do resultado pretendido pelos instigados. 3 - Afigura-se-nos, pois que foram praticados pelo agente imediato actos de comeco de execugao do crime, integradores da figura da tentativa inacabada, subsumiveis a precisao da alinea c) do artigo 22 do Cédigo Penal. 4 ~ 0 acérdao recorrido conclui pela ndo imputago ao agente imediato de actos de execugao, em flagrante contradi¢ao com a matétia dada como provada, que integra seguramente a previséo da alinea o), do n. 2, do artigo 22 do Cédigo Penal. 5 - Erra de forma notoria na apreciagao da prova produzida, ao considerar que o agente imediato nunca teve intengao de levar a cabo o crime para cuja execugdo foi contratado, pois, nao se tratando de um agente provocadar ou infitrado, & dbvio que, numa primeira fase e até a desisténcia houve, da sua parte, resolugao e comego de execugdo do facto tipico. 6 = Interpreta incorrectamente a citada disposicao legal, néo_ abrangendo na sua previsdo, como devia a contratacgo e combinagdo de um crime, que se resolve Cometer, ainda que, posteriormente se desista da execugao dos actos subsequentes Conducentes ao resultado, sendo certo que a experiencia comum induziria a acreditar que Aqueles actos se seguiriam os restantes idéneos a consumagao do facto criminoso tipico. 7 - Viola o disposto no referido artigo 22 n. 2 alinea c) e, consequentemente no artigo 26, ultima parte; do Cédigo Penal. 8 - O acérdao recorrido contém todos os elementos necessarios @ imputagao aos arguidos do crime que thes ¢ assacado na acusacao pelo que, devem os mesmos ser fondenados em penas compativeis com as respectivas responsabilidades © determinadas de acordo com os critérios estabelecides nos artigos 72 a 74 do Cédigo Penal. Conclusbes do recurso do assistente: 4 = Os arguidos combinaram entre sie formularam em conjunto a firme deciséo propésito de tirar a vida ao assistente C como forma de remover 0 obstaculo que este eonstitula a subsisténcia dos encontros amorosos (em) que 0s arguidos vinham mantendo e queriam continuar a manter. 2 ~ Associando-se entre si @ obrigando-se reciprocamente a contribuir com os seus préstimos melos para o exercicio em comum daquela acgéo | criminosa, 3 - Os arguldos partiram para a execugdo do seu pacto e projecto criminosos de forma também conjunta, dando cada um deles uma contribuigao objectiva conjunta para a realizago do crime. 4 Pondo em acto e em execucdo essa sua resolugao criminosa, passaram a praticar os actos exteros indispensaveis & malerializagao e consumagao daquele crime de morte. 5 - Seleccionaram cuidadosamente o local, determinaram a melhor hora da noite para que a acgdo pudesse decorrer sem ser abortada pela presenca imprevista de passoas 8 _ Contrataram, para o efeito, um executor, 0 D, que refutavam de pessoa suficlentemente capaz de dar finalizagao e exécugdo tiltima ao crime. 7 Viram os arguidos reforgada a confianga que depositaram no seu "mandatario, quando este Ines manifestou logo que aceltava matar o assistente mediante 0 pagamento de 700000 escudos. 8 - Confianga teforgada ainda mais com 0 estabelecimento do contrato ¢ com a vinculag&o reciproca que Ihe estava subjacente. 9 ~ Reforgada ainda quando o D recebeu na véspera da data aprazada os 100000 escudos por conta do prego convencionado. 10 - Prosseguindo com os actos indispensdveis 4 execucao do projecto de tirar a vida ao assistente, a arguida B, no préprio dia da consumago, levantou do Banco mais os 600000 escudos para pagamento do prego, assegurando, assim, pela sua parte que nada faltasse que pusesse em risco 0 éxito da operagso. 14 - Ambos os arguidos se convenceram que o D ficara perfeitamente vinculado a "sua obrigagdo” de matar o assistente. 12 - O contrato estabelecido com o D continha o indispensdvel "comando" ou “ordem para matar", que era o tilfimo acto de execugdo que competia aos arguides praticar. 13 - Perante toda esta cadeia ininterrupta de actos, quer para os arguidos quer segundo a experiencia comum, esperar-se-ia que se the seguissem os actos do executor necessérios a tirar a vida ao assistente. 14 - Os arguidos, ao longo de toda a sua conduta, mantiveram permanentemente o controlo dos acontecimentos determinando sempre que esses acontecimentos conduzissem necesséria ¢ inevitavelmente & morte do assistente C. 15 - Os arguidos foram sempre os verdadeiros “senhores do facto" que dominaram em todos os momentos, em todos os pormenores e detalhes. 16 - Como detentores do dominio do facto criminoso, os arguidos podiam ter interrompido o fluxo normal dos acontecimentos que eles préprios haviam determinado ® que conduziriam como consequéncia normal e tipica a morte do assistente. 17 - Como controleiros directos do "mandante" ou "pau mandado” que contrataram, os arguidos tiveram miitiplas ocasiées de sustar os passos que a este tinham mandado dar. 18 - Os arguidos omitiram dolosamente as acces adequadas a evitar a morte que previam certa do assistente C - artigo 10 do Cédigo Penal. 19- 0 D jamais pessoalizou o crime que fa cometer, jamais fez seu o projecto criminoso em execugéo, jamais se sentiu persuadido psicologicamente as eventuais "razSes" que estavam na base da deciséo dos arguidos de matar o assistente. 20- 0 D era um mero "contratado, um “capanga” e um “instrumento vivo" da resolugo @ da execucdo criminosa dos arguidos. 21 - Apesar de o executor D gozar de alguma autonomia (mitigado pelo espartilho contratual a que se vinculara) eram os arguidos quem dominavam efectiva e finalisticamente todo 0 proceso, os acontecimentos e 0 modo titimo da execugao. 22 - O acérd&o recorrido ao configurar os factos provados como se de um caso de insligagao se tratasse, em que 0 instigado e sé ele tivesse 0 dominio do facio, fez uma menos boa interpretagao do artigo 26 do C.P. 28 - E a0 pesquisar os actos de execugao s6 na pessoa do autor material imediato, 0 acérdao néo levou em consideragao os actos de execugao praticados pelos autores morais mediatos, com 0 que fez também uma menos boa interpretagdo do disposto nos artigos 22 e 23 do Cédigo Penal. 24 - Os arguidos formularam o propésito de tirar a vida ao assistente e praticaram os factos de modo livre, voluntario e consciente. 25 - Representaram perfeitamente o facto ¢ actuaram com a firme intengao de matar assistente C - artigo 14 n. 1, do Cédigo Penal 26 - Agiram impulsionados por motivo muito torpe e para terem liberdade de satisfagao dos seus instintos sexuais, 27 - Agiram ainda com premeditagdo frieza de animo, com especial cuidado e reflexéo sobre todos os meios que empregaram, alimentando ¢ acalentando a sua inteng3o de matar desde pelo menos 0 dia 17 ao dia 20 de Abril de 1995. 28 - Nao s6 desencadearam todas as acgdes adequadas a que se produzisse a morte do assistente, como depois de terem desencadeado a acco, nada fizeram que fosse adequado a evité-la - artigo 10, n. 1, do Cédigo Penal. 29 - Os arguidos incorreram no crime de homicidio qualificado previsto @ punido pelos artigos 131 ¢ 192 n. 1 en. 2, alineas c) © J), do Cédigo Penal. 30 - Executaram o facto por intermédio de outrém, conservando o dominio e o control desse facto, agindo assim como autores mediatos nos termos da primeira parte do artigo 26 do Cédigo Penal. 31 - O crime n&o chegou a consumar-se por raz6es que foram estranhas @ vontade conduta dos arguidos, o que os surpreendeu totalmente. 32 - A A tentaliva 6 punivel neste caso - artigo 23 do Cédigo Penal 33 - Verifica-se a tentativa uma vez que 0s arguidos praticaram actos que, segundo a fexperiéncia comum e salvo circunstancias imprevisiveis, eram de natureza a fazer esperar que se Ihes seguissem os actos finais da consumagao do crime de homicidio que haviam decidido cometer por intermédio de outrém - artigo 22, ns. 1 © 2, alinea c), do Cédigo Penal 34 - Mais reforgada saindo a figura da tentativa uma vez que n&o houve por parte dos arguidos qualquer esbogo de acto que revelasse a sua vontade de desistir da acco criminosa. 35 - Sendo certo que, nos crimes em que © agente comete o crime por intermédio de ‘outrém, constitui o titimo acto de execugéo do autor mediato a “contratagao", a ‘*passagem do testemunho", o "endosso” ou’a "ordem de matar" dada ao executor imediato. 36 - A pena adequada a aplicar aos arguidos ndo devera ser em medica inferior a 8 anos de pris4o - artigos 131, 132, 23, n. 2 e 74, do Cédigo Penal. 37 - Das disposices conjugadas dos artigos 483 € 498 do Cédigo Civil e 71 do Codigo de Processo Penal, o assistente tem direito a ser indemnizado pelos arguidos por danos no patrimoniais que estes the causaram, em quantia nao inferior a 2500000 escudos. 38 - O acérdao, ao absolver 08 arguidos, violou o disposto nos artigos 10, 22, 23, 131 132 do Cédigo Penal de 1982. Houve respostas dos recortidos pedindo a confirmagao do acérdao. A arguida, para a hipétese de se concluir pela existéncia de um crime de homicidio na forma tentada, invoca a seu favor o facto de ter desistido nos termos do artigo 25 do Cédigo Penal o que levaria a no punibilidade da tentativa. Nesta instancia, 0 assistente e 0 Excelentissimo Procurador-Geral Adjunto apresentaram doutas alegagées. O primeiro reforcando a argumenta¢éo no sentido de se estar perante uma hipétese de autoria mediata e néo de instigacéo @ 0 segundo, divergindo do Excelentissimo Procurador da Republica recorrente pedindo a confirmagao do acérd&o por, no caso “sub judice", nao se configurar nem uma nem outra figura. Pelo seu interesse, vamos transcrever as suas conclusées: "1. - No caso "sub judicibus" néo pode configurar-se autoria mediata, na medida em que © presumivel autor imediato néo serviu de instrumento na pratica de qualquer crime. 2. A actuagao dos arguidos integra, isso sim a figura de tentativa de instigagao, que ‘nao é punivel no nosso ordenamento juridico-penal. 3, - Mas, mesmo que se hipotizasse a figura da instigagdo, é evidente que Ihe faltava o elemento previsto na parte final do artigo 26 do Codigo Penal ou seja a execugao ou comego de execugdo do crime por parte do instigador. 4, ~ Destarte e por inexisténcia de qualquer facto punivel, deve manter-se a absolvicéo dos arguidos, assim se negando provimento aos recursos do assistente e do Ministerio Publico." Corridos os vistos, cumpre apreciar e decidir: Provam-se os factos que se passam a descrever, imodificéveis por ndo ser suscitado nem se verificar qualquer vicio do artigo 410 n. 2'do Gédigo de Processo Penal, nem qualquer nulidade que tenha como consequéncia a anulagéo do julgamento ou da sentenga. A arguida B esteve emigrada na Alemanha com 0 seu marido, o assistente C. Em Julho de 1994 regressou a Portugal, fixando residéncia em Travanca de Lagos com os filhos do casal, mantendo-se o assistente naquele pais, mas passando alguns perlodos de tempo com a mulher e os filhos. Em Fevereiro de 1995, os arguidos iniciaram entre si uma relagdo amorosa, que subsistiu com encontros regulares na regido de Oliveira do Hospital e Travanca de Lagos. No dia 6 de Abril de 1995 chegou a Travanca de Lagos o marido da arguida, a fim de passar um periodo de férias. A presenga do marido da arguida tornou-se um obstaculo & subsisténcia dos encontros que a mesma mantinha com o arguido pelo que, para remover esse obstéculo, combinaram entre si em tirar a vida ao assistente. Para a materializagao desse projecto acordaram em pagar a alguém que se dispusesse ‘a matar 0 C, disponibilizando-se a arguida a fomecer o dinheiro que se revelasse necessatio. De acordo com o plano combinado entre ambos os arguidos, 0 A, no dia 17 de Abril de 1995, contactou um individuo de nome D, mais conhecido pelo "..." em casa deste, sita em Oliveira do Hospital, propondo-Ihe que tirasse a vida ao C. No entender do arguido A, 0 D seria a pessoa indicada para aquele efeito por ser teferenciado na zona como ligado ao mundo da droga e se achar desempregado. © D disse ent&o ao arguido que aceitava mater o assistente inediante o pagamento da quantia de 700000 escudos, sendo 100000 escudos a entregar antes ¢ os restantes 600000 escudos depois da morte do C. Logo 0 arguide combinou com o D que a morte do C deveria ter lugar no dia 20 de Abril de 1995, entre as 22 @ as 23 horas. Posteriormente deu 0 arguido conhecimento & arguida das condi¢Ses que combinouw com 0 D, com as quais ela concordou. Em 19 de Abril do mesmo ano, a arguida levantou do Banco a quantia de 100000 escudos que entregou ao arguido, o qual, por sua vez, a deu ao D. Juntamente com tal quantia entregou 0 arguido ao D o papel que consta a folha 8, que este deveria dar 4 arguida B apés matar o C, e no qual a arguida era instrulda acerca do seu modo de proceder depois da morte do marido. No dia 20 de Abril a arguida levantou do Banco a importancia de 600000 escudos que combinara deixar escondida junto de um castanheiro onde o arguido iria buscé-la, Em lugar do dinhelro deixou junto do castanheiro um bilhete que consta de folha 9 dos autos, onde, entre outras coisas se escreveu: "N&o consigo. N4o posso. Nao quero. Nao tenho coragem, estd tudo anulado. Vé lé se consegues algum dinheiro de volta". Ambos 0s arguidos se convenceram de que o D ficara firmemente determinado a matar o assistente. OD, porém, ao contrario do que era vontade dos arguidos jamais tivera inteng&o de tirar a vida ao C'dirigindo-se ao Posto da G.N.R. de Oliveira do Hospital onde comunicou ao respective comandante o que sucedeu entre si e 0 arguido e the entregou os 100000 escudos que havia recebido bem como o papel com as instrugées dirigidas a arguida. Face a tal comunicagdo, a G.N.R., antes da data aprazada entre o arguido e o D para ser tirada a vida ao C, procedeu a detengao de ambos os arguidos e transmitiu aquele © que estes haviam projectado. Os arguidos praticaram os descritos actos de modo livre, voluntario @ consciente, com o propésito de que o assistente viesse a morrer. Confessaram os factos, com relevancia para a descoberta da verdade e mostraram-se arrependidos. E bom 0 anterior comportamento de ambos. A arguida é de condigao social modesta e economicamente remediada. Tem dois filhos do seu casamento com o assistente um de 12 e outro de 5 anos, actualmente entregues ao pal. arguido é de condigdo social humilde © economicamente débil. E casado havendo dois filhos do casamento um com 6 anos e outro com escassos meses de vida E considerado um bom trabalhador, quer pela entidade patronal quer pelas pessoas que © conhecem. Durante algum tempo, pelo menos arguida e assistente constitulram um casal feliz. Gozavam de situag4o econémica prospera fruto da actividade profissional do assistente na Alemanha. © assistente ficou magoado com a conduta dos arguidos e sentiu-se ¢ sente-se ainda vexado perante a comunidade, esté desgostoso por os filhos nao terem a presenga da mae; 0 conhecimento de que a arguida Ihe era infiel e sé preparava para tirar-Ihe a vida, de acordo com 0 arguido abalou-o moral e psicologicamente, situago de que ainda se no recompés. a) Segundo o artigo 26 do Cédigo Penal é punivel como autor quem executar 0 facto por si mesmo ou por intermédio de outros ou tomar parte directa na sua execugao por acordo ou fundamento com outro ou outros @ ainda quem dolosamente, determinar outra pessoa a pratica do facto, desde que haja execugo ou comeco de execugao. No recurso do Ministério Publico a actividade dos arguidos inclui-se no campo da instigagao - tilima parte do citado artigo 26 - alias de harmonia com o expendido no acérdao recorrido. Sé que este, baseado no principio de que a prética de actos de execugdo tem de reportar-se a pessoa do agente material, conclu "Resumindo a conduta dos arguidos caberé dentro do conceito de instigagao, cuja relevancia criminal depende da posterior conduta do instigado, em termos de concretizar 0 ctime para que foi procurado. © instigado n&o praticou qualquer acto tendente a eliminagdo fisica do assistente. Dai que se ndo configure o crime imputado 208 arguidos, nem qualquer outro, pelo que se impde 0 naufrégio da acusagao”. Parece que esta é uma visdo correcta sob 0 aspecto juridico dos factos dados como provados. De facto o pretenso instigado "ab initio" se mostrou “indispontvel" para a prética do acto de que foi incumbido-". Jamais teve inteng&o de tirar a vida ao C" dirigindo-se apés 0 primeiro contacto a G.N.R., comunicando tudo 0 que sucedeu e entregando-ihe os 100000 escudos recebidos e o papel com as instrupbes. Parece-nos evidente que néo iniciou, pois, qualquer acto do “iter criminis" que se possa considerar acto executivo, conforme Faria Costa, in Jomadas de Direito Criminal, pagina 173 ao interrogar-se quando se pode dizer que se determina outrém a pratica de um crime responde: "Dir-se-a que tal acontece quando alguém consegue criar em outra pessoa a firme decisao de esta querer praticar uma infracgao, Tal decisdo terd de abranger todos ‘0s elementos subjectivos inerentes aos factos. E também patente que enquanto o agente imediato nfo praticou nenhum acto de execugao, ndo ha verdadeiramente instigago. Aliés nem de outra forma podia ser j que entéo estar-se-iam a punir as "meras cogitationes". Vale neste particular a regra da acessoriedade". Assim, quer pela auséncia do comeco de execugo, quer porque o agente imediato nunca teve inteng&o de eliminar o assistente (faltando assim 0 elemento subjectivo inerente ao facto, ou seja, 0 dolo) ndo pode a acusacdo ser procedente sobre este ponto de vista.-b) No recurso do Ministério Publico suscita-se a hipétese de o D ter a principio aceitado cometer o crime, alterando posteriormente a sua posigao. & dizemos hipétese porque na realidade, nenhum dado de facto apurado aponta nesse sentido, pelo que nao interessa alongar esta questéo. Parece, de facto, que estamos perante a figura da tentativa de instigagao que nao é punivel pelo Cédigo Penal. c) Por sua vez defende o assistente estarmos perante um caso de autoria mediata, que & uma forma de autoria que se caracteriza pelo "dominio do facto do autor mediato que realiza o tipo penal servindo-se para a execucio da acco tipica de outra pessoa como instrumento” - a douta alegagao do Excelentissimo Procurador-Geral Adjunto a folha 212. ‘S40 exemplos de escola aqueles em que o crime 6 cometido através de um incapaz ou de um menor, ou ainda aqueles ao agente imediato falta o dominio da accao por coacgao absoluta ou por actuar - erro sobre a factualidade tipica. "A autoria mediata nao se pode afirmar se o instrumento é, em si mesmo, um autor plenamente responsavel, uma vez que a lei penal considera que o autor imediato, neste caso, deve responder pelo facto como autor, de tal forma que um outro interveniente sé pode caber nas figuras da co-autoria, instigagao ou cumplicidade" - Leal Henriques ¢ Simas Santos, Cédigo Penal |, 1995, pagina 258. No caso dos autos como bem se afirma naquela douta alegagao - 0 presumivel autor imediato ndo se enquadra em qualquer destas hipéteses - nao fol instrumento, sempre conservou 0 dominio do facto, digo, dominio sobre si mesmo, a capacidade de agir, o livre arbitrio, tanto mais que apés haver recebido os 100000 escudos ¢ uma carta com instrugdes, os entregou as autoridades, sendo certo que nunca teve intengéo de tirar a vida ao assistente, Sendo assim, bem se pode concluir pela improcedéncia da acusagao também sob este ponto de vista. d) Nao podem pois os arguidos serem punidos nem instigadores por falta do requisito expresso no artigo 26 do Cédigo Penal, parte final, ou seja, execucao ‘ou comego de execugao do crime por parte do instigado. Nao pode por sua vez configurar-se a autoria mediata uma vez que 0 autor imediato no serviu de instru mento na pratica do crime. Configurar-se-ia apenas a figura da tentativa de instigagao, nao punivel pela nossa Jegistagao penal. e) Quanto ao pedido civel, e ndo obstante a sentenga absolutoria nao ser impedimento sua concessao - artigo 377 n. 1 do Cédigo de Proceso Penal « ndo pode ter melhor sorte. De harmonia com os factos provados, néo se verificam os pressupostos da responsabilidade civil constantes do artigo 483 do Cédigo Civil. Os atguidos nao violaram o direito a vida do assistente; a vida e a integridade fisica deste nunca estiveram em perigo. O agente imediato nunca teve inten¢éo de mata-lo © o assistente 86 veio a tomar conhecimento da trama urdida, pela G.NR., tendo a partir dal a certeza que a situapao estava controlada até porque os arguidos foram detides. Danos no patrimoniais, possiveimente apenas os resultantes do adultério da mulher, mas aqui a causa de pedir é estranha a que fundamentou 0 pedido nos autos. f) Termos em que improcede totalmente o recurso quer na parte crime quer na parte civel, pelo se confirma inteiramente 0 douto acérdao impugnado. O assistente pagara 4 UCs de taxa de justiga e a procuradoria minimo bem como as custas inerentes ao decaimento do pedido civel = Tribunal de Circulo de Coimbra - Processo N. 97/95 ~ 23 de Outubro de 1995.

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