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PaRato RE tole HL pad! HORACIO Q Horicio Flaco nasceu a 8 de Dezembro de 65 2.C., em Venisia, cidade situada nos confins entre a Luctnia © a Apilia: ele pré- prio, na primeira sitira do livro Il, fala de si como Lucanus an “Apulus anceps; hoje, Venvsia & considerada cidade lucana. No epodo XiIt fc na ode Ill, 21, 0 poeta insiste em fixar o ano do seu nascimento, mediante a recordagio do cénsul L. Minlio Torquato. Bra filho de um liberto; vozes malignas, surgidas talvez por inveja das grandes amizades contraidas por Hordcio (aquela inveja sobre a qual ele disserta na sexta sética do livro 1), difundiram 2 insinuagfo de que o pai exerceria 0 offcio de vendedor de queijo. Na realidade, foi em Roma cobrador oficial de impostos das hastas piblicas, Numa longa passagem da jé recordada sexta sitira, o poeta, 0 tinico poeta latino que nos falou do préprio pai com tanto afecto, inaugurando cata poesia tio significativa das recordagles familiares, fila, com emogio, sobre of sacrificios feitos em seu favor pelo pai: dono de um campinho na tetra natal, nfo quis expor o filho, na escola da terra, a0 desprezo dos presungosos descendentes dos oficiais, ¢ deu o grande passo de se transfer para Roma onde, aproveitando o seu offcio lucrativo, se esfor- (gou por dar a0 flho a educagio mais ewidads, mas preocupou-se bobre- tudo com vigiar, pessoalmente, 2 sua formacio moral. Professor de gramitica do rapazito foi o plagosus Orbilius, que the impingiu a leitura da vetusta Odyssia de Livio Andronico. Concluidos os estudos de gramitica ¢ de retbrica, aos vinte anos, seguindo a linha de educagio requintada que o pai Ihe tinha prescrito, Horicio dirigiu-se 2 Atenas, como os jovens de boa familia, a fazer of estudos filos6ficos: ta sitira quarta do livro I, onde o poeta também disserta sobre a obra ‘educativa fealizada pelo pai na sua alma de menino, recorda que o bom hhomem se preocupava com instilar-the, com o exemplo, os primeizos prineipios morais firmes, prometendo-lhe que, depois, os filésofos lhe haveriam de explicar as raz6es pelas quis se pode distinguir teoricamente aquilo que se deve evitar ¢ aquilo que se deve desejar. 422 ‘Com base no jf xecordado papiro de Filodemo ¢ no facto de, na Ars poctica, Hordcio retomar as teorias sobre a arte formuladas pelo peripatético Neoptélemo de Pério, mas conhecidas dele através da expo- siglo polémica dela feita por Filodemo, no livro V Meet nompdswy, supés-se que, antes de se deslocar a Atenas, 0 futuro poeta teria feito, como Virgilio, 0 seu noviciade filoséfico no coetus epicurista da Campt- nia, Mas nada nos impede de pensar que cle tenha entrado em contacts com o epicurismo ¢ com Filodemo, depois do seu regresso & Itélia, tanto mais que'o estoicismo combativo de que se mostra animado na Grécia, se conciliava’ mal com uma ‘anterior formasio epicurista. Esta hipétese pode ser reforgada pelo facto de na sétira II, composta pouco depois do regresso & Itilia, ele citar Filodemo. De qualquer modo; © seu epicurisino, qualquer que tenha sido 0 momento em que esta doutrina peneirot no seu expirito, alimentou-se das sugest6es poéticas de Lucrécio, ‘Naquele mundo de jovens romanos de boa familia, que se davam aos estudos em Atenas, e entre os quais o filho de Cicero pensava sobte- tado em dar-se & boa vida, circulava uma ardente repulsa pela ditadura cesariana, amor & liberdade € a0s valores da tradi¢io romana, qué, naguela pitria da filosofia moral, se nutria dum verdadeiro entusiasmo pelo estoicismo. Por isso, apés 0 assassinato de César, foi ficil « Bruto} tommado o fidolo daquela juventude apaixonada, recrutar, entre 8 cstudantes de filosofia, soldados para o seu exército, Horécio atingiu, nile, 0 grau de tribunts militum; 0 epodo XIII é considerado pot alguns como redigido no acampamento de Bruto, de tal forma que seria de considerat a primeira poesia horaciana, das que chegaram até nés (ni décima sétira, Hordcio recorda tet-se exercitady, na juveritude, a compor versos gregos, coisa que certamente deve tet feito em Atenas). Na sétima sétira do livro I, Horécio reevocou um episédio também sucedido no acampamento de Bruto, ¢ significative do fervor republicano que animava os seus colegas; na reevocacio, insinua-te um sortito desencan- tado, mas a trabalhosa aspereza da composigio denuncis um. poets ainda nas primeiras armas, ¢ pot conseguinte muito préximo. dos acontecimentos que narra. Em Hordcio, diferentemente de Virgtio, pode-sc scguit, de perto, o progresso no dominio dos meios técnicos: ele o talento poético nio se revelou imiediatamente, como no Mantuatio; com a admirivel perspicécia das Bucdlicas. Por fim, a ode Il, 7, escrita a grande distincia dos acontecimentos, reevoca a derrota de Filipos; na qual o entusiasmo estdico c republicano do jovem sofreu um golpe decisive: o poeta faz eco a0 motivo tépico, herdado de Arqutloco, 423 Alcen e Anacreonte, da perda do escudo (relica non betie parmula), durante a fuga, mas a este particular, tratado de forma livresca, (se bem que a expressio non bene Ihe junte um julzo moral refinadamente romano) alia uma avaliacio sincera de homem agora afistado e indul- gente com aqueles fervores juvenis cruelmente desvanecidos, ao embater na redlidade. ‘A trigica desilusio de Filipos ¢ as tristes consequéncias que dal derivaram. para ele, marcaram, para Hordcio, a reviravolta decisiva da sua vida, A segunda epistola do livro Il ilumnina-nos, de fugida, sobre a crise espiritual em que mergulhou; quando foi concedida a amuistia aos supérstites do exército republicano, voltow para Roma, ‘onde o pai tinha falecido, ¢ encontrou-se nas mesmas condigOes em que, nna mesma altura, se veio a achar Virgilio, na sua terra natal: também a sua casa e 0 campito do pai foram confiscados, em favor dos veteranos, que tinham combatido em Filipos, sob as insignias de Octaviano e Anténio. Para sobreviver, Horicio dedicou-se a0 officio de scriba praetorius, ; enmreranto, desafugava na poesia o seu Animo exacerbado. B destes iilkimos anos a sua conversio ao epicurismo, conversio sintomitica do ificado e do valor que esta doutrina asumira, na altura, no espirito da nova geraglo, isto de remédio para as desilustes, de reffigio contra a aspereza da vida, gragas a0 ideal do otium contempla- tivo, da ataraxia c do desprezo pelos negotia. Certatnente nesta época Hordcio redigiu a dspera c escabrosa sétira segunda do livro I, -a sétira terceira, em que é evidente o influxo de Lucrécio ¢ da doutrina epicurista, ¢ que ele retocard depois, introdazindo-lhe uma apéstrofe a Mecenas ¢ uma parédia do jlitisconsulto Antistio Labeto (inimigo de Octaviano), ou melhor. de ‘seu pai, a sftira oltava, variacio sobre 0 género dos Priapeia, perten- cente a0 ciclo da poesia contra a feiticeica Cantdia (talvez amada por ele anteriormente), e boa parte dos Epedos, entre os quais sobressaem 0 segundo, amarga sitira dos ruris amatores insinceros, da qual, Virgilio, em breve, haveria de tirat motivos e movimentos para os seus louvores da vida campestre, nas Geérgicas, 0 quinto, quadro possante das bruxarias noctumat de Canidia, o décimo sétimo, palinédia fingida, plena de acrimisnia contra } mesma Canidia, ¢ os dois epodos politicos, 0 sétimo ¢ 0 décimo sexto, escritos por. ocasito da eclosio de novas guerras civis, talver por ocasiio da guerra de Persia: no primeito, expressa-se, com maior decisio que em qualquer outra passagem andloga do escritor latino, a concepgio de que os Romanos sio uma estirpe maldita, agravada pelo peso e pelo contigio do fratticidio de Rémulo, em virtude do qual 424 € condenada ao castigo terrivel das guerras civis: no segimdo, que apresenta singulares coincidéncias com a écloga IV de Virgilio da mesma altura (tanto que os erfticos se esforcaram, em vio, por determinar qual dos dois poetas serviu de exemplo 20 outro), 0 motivo dos aurea saecula transforma-se, com intencional inversio pessimista, no mito das ilhas afortunadas, em que tem pontos de contacto com as Historiae de Salis- tio, se € que nao se inspira mesmo nelas, 0 que nos obrigaria a deslocar mais para baixo a data de composiglo do epodo e a consideré-lo escrito nos anos da luta contra Sexto Pompeu; ali, o poeta convida as poticas pessoas honestas ¢ pacificas a refugiarem-se, abandonando para sempre 2 Roma maldita, sobre a qual ji estio iminentes as nuvens dos destruidores barbaros. Da técnica e da ideologia deste epodo, muito haurin Virgilio para a estrutura ideol6gica das Geérgicas © para a composicio de algumas passagens do poema. £ este o periodo que se poderia definir do Sturm und Drang horaciano, © periodo da rebelifo titt- nica, quase roméntica. A £é epicurista reassume, nele, o cardcter batalha- dor que tivera em Luctécio, mas com uma agressividade, uma actiménia © uma limitagio de alvos e de vistas, que denotam o homem de interesses espirituais mais restritos ¢ o artista de menos vasto poder de fantasia. Basta pensar que cle escolhe formas de expressio artistica, como a sitita € 0 epodo, que revelam a predominneia excessiva de motivos priticos, do moralismo declamatétio, € si mais caracteristicus do con traposto ambicnte estéico-cinico: na sua conversio ao epicurismo, Hord= cio levava a experiéncia literéria do seu credo filos6fico antecedente. Nesta producio rica de fermentos, de cor escura, excitada, escabrosa, muitas vezes convulsa, existem numerosos motivos € pontos que 0 itissima Horacio da maturidade deixarf cair. E no entanto, desde agora, nos argumentos, nas formas de arte preescolhidas, na técnica da casio, pré-anuncia-se 0 Hordcio divulgador do clasicismo: tende cada vez mais, a imprimir as sAtiras a inspiragio diatribica e cinica, reftescada também mediante 0 estudo directo de Bion de Borlstenis, um cardcter de universalidade muitas vezes esquemitica, que est4 muito lonige da quotidianidade minuciosa da Musa luciliana; nos Epodos, & vivo © anclo de ser uir directamente a lauBuch 18x de Arquiloco e Hipénax, distantes dos esbatidos requintados de Calimaco, apesar de no Epodo X, a violencia do primeiro dos assim chamados epodos de Estrasburgo, tam- bbém ser revivida através da imitagio de Calimaco. Quer dizer, iniciam-se © processo de afastamento das tendéncias culturais da escola neotérica c a fundagio da orientagio classicsta da época de Augusto, que encon- trard cm Horacio, o seu mais firme celebrador. E um caso singular o facto 425 de, no epodo X, Horicio atacar aquele meimo Mévio contra quem Vir- gilio tinha arremetido na écloga Ill; talver se trate dum poetastro da Gila Cisilpina que, chegado tarde a Roma, e acabando por enfileirar na tradiglo neotérica, ali fundada pelos seus conterrineos, atrait também © desprezd de Horicio jé hostil 20 neoterismo. ‘Um poeta assim dotado, que softia tio profundamente a.ctise da época, nfo podia tardar a encontrar-se com Virgilio, chegado a Roma precisamente por aquela altura, apés 0 golpe da expropriacio. E Virgilio ¢ Vério, em 38, apresentaram-no a Mecenas: foi o merecido golpe da fortuna, que mudou, radicalmente, 2 vida de Horicio e dissipow 2s muvens negras que Ihe pesavam na alma. ‘Ainda na sexta sitira, Horicio descreve, com frescura, 0 set primeiro encontro com o poderoso e refinado consclheiro de Augusto. Mas, bem depress, a clegante afabilidade de Mecenas, ¢ sobretudo a perfeita correspondéncia espititual que se estabelecen entre ambos, fizeram desapatecer toda a reserva. Enquanto Virgilio, fechado na sua visio, patética e cordialmente pessimista do mundo, se retirava para a Campania, a elaborar as Geérgicas, para as quais se haveria de servir tam= bém de alguns dos motivos mais dolorosos da poesia do amigo recente, Horicio permanecia em Roma ao lado de Mecenas, reconquis- tando, progressivamente, a confianga em si mesmo.enas sortes da Urbe. Ein Virgiliv, 0 conflito entre o bem © 0 mal, entre as diversas componentes da sua espiritualidade, duraré como a sua arte ¢ a sua vida, atingindo as revelagdes patéticas ¢ dolorosas das personagens mais info- lizes da Eneida; exactamente porque dotado duma sensibilidade atenta as contradigBes paradoxais da existéncia humana, como todos os génios tuperioret, nunca te acomodaré numa poricio com a qual se pudette declarat satisfeito, Horécio, temperamento de italicidade mais quadrada, ‘menos capaz de conceber o: panos de fundo vertiginosos do destino e dos porqués supremos, por detrés da contingéncia pritica dos acontecimentos quotidianos, mas, em compensagio, mais apto para colher os sinais duma evolucio politico-espiritual, na amplitude. restrita do hoje, nio cai em nenhuma crise de mal-estar, e preferiu dedicar-se a destilar do seu intimo todos aqueles elementos da sua crise,juvenil que poderiam contribuir para fottar riele ima sélida constituicio moral. Face a0 futuro longinquo, 4s necessidades sempre renascentes da sensibilidade humana, & Ansia religiosa de quem vive na terra, tinham razio a melancolia dramética, insatisfcta, de Virgilio, a sua palpitagio de caridade césmica, que tinha sentidos despertos para todos os aspectos da vida terren: face a futuro prdximo, &tealidade efémera da Roma de Augusto, que se 426 ‘encaminhava para a sua par satisfel 1a razio 0 equilibrio horaciano, gue sacrificava os impulsos passionais, para revelat a inanidade deles-e construir sobre esta sua introspeccio compreensiva, o.edificio da sua sorridente sabedoria pessoal. Assim, os dois poetas, que uma tradicio de virios séculos gosta de representar como os Dioscuros da poesia augustal, integravam-se mutuamente, embora nio estivessem a0 mesmo nivel como valor poético; como nos dois Dioscufos de Weimar — Goethe « Schiller —, 0 maior erguia-se a uma visio universal complexa da vida dohomem ¢ do cosmos, eo menor, com maior adesio ao acontecimento rico contingente, insistia na urgéncia duma regeneragio moral ex interiore homine: com a diferenga de que, nos dois alemies, a sereni- dade horaciana € mais sensfvel no primeiro © maior dos dois, ¢ no no segundo, Em 37, Horécio, com a alegria mal escondida de quem assiste @ aconteciment. de importincia capital ¢ de grande utilidade colectiva, patticipou. na viagem de Mecenas a Brindes para a renovasio do acordo entte os dois arbitros do mundo romano. Apesar de fingir ter nla participado com simples espirito turfstico, com absoluto desinteresse pelas razdes politicas que a haviam provocado, apressou-se a dar dela uma descrigio na quinta sétira do livro I, indo buscar a sugestio:a uma composigio andloga de Lucflio, ‘Tornara-se agora o legislador das orientagdes artisticas do cfrculo que se congregava cm volta de Mecenas, ¢ também entendia perfeitamente o significado moral e politico deste novo florescimento da poesia. Mas vé-lo, a ele, filho de liberto, ex-excrivio, elevado a confidente de Mecenas, fazia clamar toda a Roma, ainda nfo resignada 2 grande revolucio social (a tnica efectiva) gue 0 novo regime ia realizando nas camadas dirigentes, para 2s quais tum poeta de nascimento humilde tinha, nos circulos préximos, do princeps, um ascendente moral superior a0, dos_nobiles descendentes, de fannflias patticias carregadas de hontas, ¢ a caminho do govern do Estado através da gucessio tradicional dos cargos politicos. «Filho da fortuna!» era oepiteto com que se castmava designar Horécio, aquele provinciano, pequeno de estatura, robusto © um pouico atarracado, com olhos reme- lados, que, muitas vezes, se encontra a percorrer Roma ao lado de Maecenas, Por isso, a actividade poética de Horécio orientase por agora, para a prépria apologia, em forma da sitica, que passara a set congenial 20 poeta, meio sensibilissimo para a efusio da sua personali- dade reflexiva. Na sexta sitira, defende-se das calinias, reivindicando a nobreza moral daquele pai liberto que 0s invejosos Ihe langavam em rosto ¢ a7 exagerando: sobre a inocéncia e a simplicidade: das suas: relagSei tom ‘ona, resfirma o desinteresée a. pureza da sua amizadé ‘criando o gostoso episédio do grossciro importuno que 0 mas- sacra pelo ciminho;:com 0 objéctivo de:obter uma-apresentasto ‘20 poderoso ministro; na quarta, voltando a defender-se de quem 0 acusava de espfrito maligno ¢ agrestivo (subentendendo talvez que ele-atacava propositadamente os inimigos:de Octavian ¢ de Mecenas), ong ° seu julzo-acerea da sua propria poesia, e encontra mancira de se distin gir orgulhosamente de-Lucilio, ainda demasiado arcaico ¢ lamacento; nz primeira, eeafirma o seu juizo acerca de Lucflio, embora com um tom ‘mais conciliador, ¢ acha modo de exprimir, pela primeira ver, o programa poético do seu censculo; diferenciandv-o, mordazménte, sobretudo dos epigonos ¢ dos nostélgicos da poesia neotérica. Alguns manuscritos, uma familia dos cédices horacianos, transmitiram ito vers0s iniciais da sétira, quo os outros cédices nio contém ¢ que 05 escoliastas no comentam. Nao faltam, neste pequeno'texto, a dureza © as contors6es, ¢, portanto, ele foi considerado uma falsifcacio tardia: no entanto, apresenta frechadas humoristicas, que parecem do Horécio ais tipico, e,-alémr disso, fornecé-rios noticias de grande peso (Valério Cato editor de Luctlio) e apresenta-nos, atacados em bloco, os dois alvos preferidos de Horicio, o arcalsmo e 0 neoterismo, com 2 veleidade de fazer notar aos neotéricos que os xt fatidia, apeear de tudo, eram mienos refinados que 0s da jovem geracio, que no absolvia Lucio do seu estilo lamacento, s6 porque cle tinha parodiado Enio.' Que no estilo de Hord= cio, ainda jovem, se encontram durezas, € mais que sabido: portant patece mais légico supor que estes versos tenhari sido: compostod por Horécio, mas depois suprimidos por cles quer devido 20 seu infeliz enquadramento estilistco, quer porque neles 0 juizo acerca de Lucio 44 uma nota de.tal crueza que se.coadunava mal com o tom com que Horécio fala do seu predecessor no resto. da sitira, ¢ com, o_que ele haveria de empregar depois, na primeira sitira do livro, seguinte, iaaite tot does morse do homtem apesentando 4 failardade dcle.com Cipito Emiliano ¢ Lélio menor, quase como uma antecipagio da existente entre cle ¢ Mecenas, , woe ‘1 Estes vers0s, talvez publicados numa edicéo anterior, separada, da sitita ot: do livro I, ser30 conservados numa tradigio menos autorizada das obras horacianas. _.. Provayelmente ein .35,,Horicio publicou 0 primeiro livro das ‘Shriras, dedicando-o a Mecenas, a quem se ditige, na primeira sitira, composigio caracterfstica de abertura, com a sua andlise.da:inconten- ; 428 ade humana, redigida no mais éscolar estilo diatefbico. Bum que, como.o seguinte dos Epodes, contendo carmes anteriores é carmes posteriores 20 acontecimento decisivo da vida do poeta (oenicontro com Mecena), apresenta uma espécie de fractura intima, uma duplicidade de tons morais que nio se encontrari mais nas colectineas potticat seguintes de Horécio. Sermones foi 0 titulo que © pocta dew, prosaicamente, as suas composigées, ¢, como tais pensou ou fingin consideré-as, dstinguindo-as da poesia de grande empenho. Indubitavelmente, um tom discursivo, sinuoso, cheio de desdém clegante caracteriza as Sitiras¢ favorece AdBii- ravelmente o andamento saltitante, familiar, voluntarizmente caprichoso, do pensamento ¢ da argumentago. Nisto, Horécio criow um tipo de discurso poético tio feliz e original, que todos aqueles que tentaram imi- t&lo nunca conseguiram recriar este clima expressivo inconfundfvel que fica no meio termo entre o pacato raciocinio, feito na esquina da rua, ibragio duma poesia tanto mais eficaz quanto mais condensada em rpidos esbocos. ‘Mas os versos s80 precisamente — como diz 0 pocta na sitira quarta — tais que, a romper a sucesso métrica, nos fica nas mos a mais pro- saica e quotidiana das expressGes; o que implica, muitas vezes, que o ritmo do heximetro se torne irreconhecivel, especialmente na cadéncia final, devido 3 excolha e 3 justaposiczo das palavess mais comuns, colocadas nat construgGes mais Gbvias ow menos sonoras. auge de toda a poesia horaciana dos Sermones, esté no retrato que Horécio far de si mesmo, no fim da sexta sétira, onde todas 28 intengSes moralistas e apologéticas se concluem em poesia, da mais clara, comovida e humanamente serena que a literatura latina nos oferece: «Vou sozinho aonde me apraz; informo-me do prego dos legumes e da farinha, vagueio muitas vezes pelo Circo’, ou voi até 20 Foro, piro diante dos adivinhos 20 fim da tarde, Dali, regresso. 2 c2s2, 20 meu prato de alhor-porros, de grio de bico ¢-de bolos de farinhs, © jantar &me servido por tr8s excravos: uum tabuleiro de mérmore branco tar dois copos e um clato; 20 lade um vaso sem valor, em forma de ourigo" ¢ 0 vaso das * 0 Citco Misiino, na imediagbes do qual Beavam sitadat at ljas de comércio e onde se ” Talves pats vat on copor mi pequenon 429 + libagBes com a taga sacrificial, alfaia campana!t. Em seguida, voit dormir sem ter que:me inguietar com ter de me levantar' cedo para ir A estétua de. Mérsias!? que-dé a impressio.de hio poder suportar a vista do mais novo dos Névios 8, Fico. na. cama até 34 dez da‘manhi; depois, passcio 20 acaso ou entio, depois de tet lide ou escrito algo a meu gosto, unjo-me com éleo, mas no, como a imundo Mats, com éleo roubado aos candeciros. Mas quando, spét cexercicios fatigantes, o Sol mais ardente me adverte que & hora do banko, fujo do Campo de Marte ¢ do. jogo da péla'*. Almogo frugalmente, 0 que & preciso para nfo passar 0 dia com o estémago vvazio, e fico ocioso em cas. © sucesso do primeito livro encorajou Horicio a coritinuat na via ‘empreenidida, A primeira sétira do livro II une-se, estreitamente, A quarta, ¢ 4 décima do primeiro livo: Horicio finge ir consultar Trebécio Testa, ‘0 antigo recomendado de Cicero a César, que se tornara célebre jurista, para saber se a sua actividade de poeta satirico o pode expor a.uma acgio judicial, ¢ termina, com um mote arguto e mordaz, 0 coléquio imaginési - Mas, no decurzo da sétira, encontra mancira de evocar a vida famii~ liar simples de Cipifo Emiliano e de Lélio menor, companheitos de Luci- lio: 0 idedl do circulo dos Cipiées, tio celebrado por Cicero, reaflora neste pocta da Roma tradicionalista de Augusto. Também o segurido livro tem a sua pedra preciosa na sexta sftira, onde, com infinite frescura ¢ vivacidade,-que tem quase algo de «mimo», 0 poeta ilustra = natureza inocentissima das suas relagBes com Mecenas, que sc entretém com ele nos momentos de distensio ¢ de abandono, e encontra maticira de the agradecer a dédiva duma pequena ville na Sabina, perto de Mandela (por volta de.31-a.C.), que representou para Hoticio a felic- ico 6, de qualidade infin: outron interpreta no sentido de er de cob 3. % Chamivese anim + eres dum Sueno que exnia,2o Foro, perto do buna do tor, ceatre dot nenéeon 1 Uni onal epelente. c 1M Baligl ofereida pelo eblce Blndinanie Vetatninas, agora pedido, mas corde, 0 skculo x, pelo erudito belga van Ceuucke (Cruquis). ft preferide Aout ful abo tempore tig, adoptada pelo cédices horacianos que pomulraoy ot prindapis dow qui slo 0 “Amina do elo te, 0 Berens do seul i, 0 Paras 7900 A do elo x, 0 Argentrtents ‘20 Oneneirdo sale £,¢0 Monaenlscsj primeia pute st pensavaque femontars a0 acl sve a segunda a0 sfclo tx, x0 paso que, actusknente consider qué ambut ws pute remés- tam 40 mesmo petfodo. 430 dade, como, oito anos antes, 2 dédiva dot terrengs campanos {6raipara Virgilio 0 temédio indispensdvel- para a sua expulsio. violenéa da propriedade mantuana. Para compreender 2. felicidade’ do intuito de Mecenas ¢ a verdadeira natureza do caricter de Hotdcio, reflicta-se que a Virgilio, verdadeiro e grande amante e poeta do campo, Mecetlas aipres- sou-se a concedet um refiigio campestre, 20 passo que para Horécio, ia ligado intimamente-As variagSes de humor da metrépole, substan- cialmente muito mais citadino, no julgou excessivo aguardar sete anos, até se pronunciar, realmente, 2 propensio do poeta para um sossegado asilo campestre. Suetdnio, na sua biografia de Horicio, diz que. a. sua- villa era sabina ow tiburtina, © acrescenta que se mostrava uma casa sta, cirea.Tiburai luculum, Sup6s-se, por isso, que, posteriormente, Augusto teria dado a Hordcio uma seguinda.villa em Tivoli. Mas o tertitério de Mandela era indiferentemente, considerado sabino ou tiburtino: Catulo; no c, 44, lamenta-se de or malévolos considerarem sabina a villa que cle teimava em considerar tiburtina, E é provével que, em Tivoli, no texupo de Sueténio,.se mostrasse uma casa imagindria. de: Hordcio, com base numa tradicio mal entendida, formada precisamente a partir da ode Il, 6. ra termina com 0 célebre-apélogo do rato, do: campo ¢ do ade, que reifisma o amor do pocta 4 simplicidade da vida campestre. Mas.esta € apreciada por Hordsio, .ndo.com riqueza admiravel de motivos ideol6gicos com que Virgilio lhe cantava, em verso, toda a superioridide moral, modela.de. vida para 0. homem:<¢ para:o cosmos; mas quase s6 na flan¢io modetta de repouso para 0 corpo e para © espicito. No resto.do.livro, a fantasia de Hordcio apatece-nos tnais cansida: abandona a scbe do.scu eu, aquela imediatez de impresses subjectivis que resgatava a sta poesia satitica do grisalho dos esquemas moralistas fixa- dos pela diatribe estdico-cfnica, pelos antecedentes literdrios de Menipo, de Bion de Boristénis, do mimo, da sétira luciliana, ¢ espteguiga-se nos temias genéiicos, quie parecem hauridos dui prontutrio de pregagSes morais; também desenvolvimento dos temas € 0 tipico da ret6rica diatribica. Assim,.a sétira segunda que celebra a simplicidade da vida campestre, se confrontada com 0 epissdio, tio sébrio ¢ enternecedor, do ienex Corycitis; do livro 1V das Gedrgicas, fica muito a perdet com’> seu Ofelo senténcioso; assini, a sétira quarta, para desenvolyer o téiria ‘da condenacio da cobiga, estraga o motivo feliz do coléquio entre o posta e 6 glutio Cécio, com uma série fastidiosa de reccitas culinérias; assim, 43t} ‘2 quinta, a0 satacar os ‘eacadored de testamentos, explora um ‘motivo batido: da literatura cinica, a: parédia ‘mitolégica, ' imaginandd:. que Ulisses, no reino dos: mortos}:pede: conselho’ a: Tirfsias sobre ‘0 -inodo de rechnitiuir 6 pedtilio, inalbarnado pelo pketendentes: (de Penélope); mal:regresst &ftaca: ¢ 0 adivinho.acoriselhd-the que:se tore Herédipetes ‘Assim, a stira oitava,’ para escatnbcér dot’ vil&ed ticot, -ésbogd uma narragio répida duma cis, oferecida a Mecthas e a alguns seus amigos, pelo, grosseiro Nasidieno, ¢ embora:se possa: apreciary-aqui - ali, algum toque mais feliz, a sftira fica a perder, se se confronta'com 0:epi= s6dio imortal petroniano da Cela de Trimalquido, para nio dizer que 6 motivo. do banguete também era lotis communis da literatura ‘moralists dos citicos. (O préprio Horicio deve ter notado o tédio deste seu-morilizar escolar, pois acabou por fazer a parédia de sir mesmo, nas figuras do regateiro Damasipo, convertido 3 filosofia estdico-cinica (sética terctira) edo escravo Davo que, aproveitando’a licenga concedida aot txcravos nas. Satumnais, vern a dar a liglo de moral a0 patio (cétira sétima). Poderia dar 4 imprestio de que's sua conscitncia de epicurista so rebelava contra esta exibigdo grosstica de estoicismo populariéta. Mas; no fando, também nestas, sftiras; éspecialmente tia terceira,, a mais longa de todas, o relatério dos motivos diatrbicob ataba por prendecslhe a mio © por embarci-lo numa eondenacio inexorfvel de todos 0s apo- tites humanos, em que ino brilha miais itenhunt’raio da-sua bonomia da superioridade indulgente ¢ compreensiva: as suas reacges finals aos dois Fistidioso’ pregadores acabani por soar um:pouco a 060. No fim; nesta sétie de: composigées, nfo fia, para: apreciar, muito. maif: qué aquela urbanidade verdadeitamente 4tica; cdin ite Hordcio-sabe sfazet: explodir' com um golpe felizy:a. chmicidade dima: sitasio: ,coma- na sftira noria do livro:l, 4o importano que The havia asségurado 10 tet patentei.tom qlem dévessé. preocupar-se, ‘pois os havia sepultadb a todos, © poeta -havid respondido mentilmerte: “«Feizes.cles!- Agord resto’ eu, aguentals, assim, neste‘ livro, na-primeira sérira, o: cardcter: cutial de Trebicio € delineado' dé modo feliz, nas ‘sss respostas secas; oraculares, formuladas no estilo’ das’ normas juridicas atcaicas, 0 poeta faz trosa dele, respondendo ao seit coriselho de no etcrever vere sox: «Que eu morta, se.ttio & verdade’ que seria o mellior; mas indo: consigo dormir, e aqucle simplério sussurra-Ihe, tambéri comm estilo das Doze Tébuas, conselhos: contra ‘a insénia; .nq-terceira sftira, Hurkcio interrompe 4 archga inicil de Damatipo, aughtando-lhe que os deuses ¢ as déusas thé fornegam um'birbtiro que Ihe corte 2 barba’ fartd, 432 que deixara créscer, com a ilusio de se parecer com os austeros filésofos morais; na quarta sitira, 0 glutio Cécio nfo queteria prestar atengdo a Hordcio que o deteve no caminho, porque tem medo que lhe saiam da mente os mirabolantes preceitos de citlinéria, acabados: dé aprender; na oitava sdtira, Vibidio, aborrecido com os exibicionistnos grosseiros de Nasidieno, diz a Balatrio: «Se nto bebemos a grande, morreremos por vingar», De modo nio diferente, mais tarde, concluird a primeira carta, que gira A volta do paradoxo estbico de que o sapiens 4 rex, com um mote que reffesca a atmosfera: o sapiens & feliz, € tudo, & rex, scontanto que ndo o moleste 0 catarto gist tem-se quase a impressio de que Hordcio,,ad escrever 0 verso conclu- sivo da composigio, sentiria espasmos no estOmage, ou quereria fazt-lo acteditar ao leitor, por brincadeira, (© Venusino dew o fervoroso contributo da sta pocsia & guerra de cio contribuindo, com {mpeto sincero, para a interpretar como guerra defensiva contra o assalto do Oriente € dos Romanos renegados, pasados para o servigo de Cledpatra; é de notar, no entanta, que, nele, «nota télica esta quase ausente, e predomina o sentimento da romanidade: ‘A amizade intima de Horécio por Mecenas também ajuda a entender como 0 poeta se orientou progressivamente para uma aceitagio total do poder extraordinério de Augusto: Mecenas, nada ligado 4 influéncias estbicas, representava, entre ae personagens préximis de Augusto, © clemento mais revoluciondtio. Cassio Dion imagina que, na ocasiio em que Augusto queria depor 0 poder, enquanto Agripa o impclid-3 remincia, Mecenas té-lo-f convencido a render-se 3s, insisténcias do Senado para que permanecesse 4 frente do Estado, No epodo XV, distanciando-se da lubricidade crua e desbocada com que 0s ottros carmes precedentes da colectinea haviam tratado as formas mais torpes do crotismo, Horicio comecara a fiat 0 tecido impalpdvel ¢ aéreo da sta Ifrica amorosa que, nas Odes, encontraré tio delicado desenvolvimento. ‘Assim, com os Epodos I e IX, ele, o esconjurador. das guerras civis, transformar-se-4 em cantor fervoroso da guerra decisiva para o ordena- mento do Estado romano: no epodo I, que coloca também esta colee= tinea tob o nome de Mecenas, afirma-se, com cflida expansio, também fo sentimento epicurista da giala ; a ponto de voltar a orientar-sey 20 menos parc’“‘mente, para o estoicismo, na sua tejuvenescida confianga nos valores politicos, o poeta parece ter langado neste carme a sua saudagio calorosa aos aspectos mais nobres da dourrina que o tinha alimentado até entio. O epodo IX & a melhor confirmagio. de que Hordcio, como declarara no Epodo I, no se separou do seu Mecenas 433 na hord do perigo-¢ assistiu pessoalmichte:4 batalha de Acid. No atib seguinté, numa das.suis primeiras ‘grandet odes civis,.ar Ode 1, 37, abesat dé repetir motivos idéolégicos que tinhain inspirado sua propa~ ands tecdo {mpeto vavalhdiregco de se inclinar perante a coragein vit G4 tains dettotada, que preferira’p morte’ ‘vergonha:de adomar © tritinfo do’ vencedor.: No and: 30, forand publicados.b lives dos Epodes ¢ 6 segundo'livro das Séitrasi i: « “ \ Conclui-se agora 6 periodo :maié fraiicamenté Uirico: da: actividade pottica, de Horicio, Bvidentemente, jf/inosianos antecedentes cle:devia ter-comegado a compdt cirmes mélicos; os: Epodoij& haviam constituldo 0 sta: noviciado: ma poesia Iirica, .¢' 0 fervoroso”e agressive Aleeu, xe modelo preferido, aio Ihe-teré parecido exemple: demasiads nova ce singular, a ele, acostumado.a-seguit Arquildco.” Eni 23; pbliopu os “tts primdiros livros das Odes; tdinbémi Hedicados a'Mecenis} ¢ éonelil dos com a ofgullioss cettena'de ter conduistadd a imortalidadet.t 7.) “Imediatamente 4 seguit,’-voltou'& poesid-dos: sermones, :concél redigides, parém, na fortna de’ carta poética! por volts‘do-ano'20, publicou o primeito liveo das! Eplstolds, com a dedlicatéria A Mecetis, que info podia faltat, Regrebsata tds'seus hexArhetros modestos, depois db tanto flamejar’ ow sussurran de “estrofes litical, como. a0:porto:seredo da welhice, depois das ousidias da idade madura: e nid/tinha mais que quirentae dois anos! i! st! Satie ath soit cbgmtal + Colhe-e vivissiima niquele livro, inna’ sensagio" de recolhiihento, de rerttincia, de adeut ads sonhos'¢.A propria poesidi No ‘and 23 2.G., durante 4 caimpanka cantébrica, Augusto cohvidara Horécio} pot meio de: Mecenas, a assimit 0 cargo de seu sectetktio para 2-vorrespondéncia particular; &-Sueténio, 1a. sus biografia, refere-nos passagens:de:cartas ‘que: Augusté ‘escreveu a’ Mectnas:t!a Hordciv, naquela dcasiio, Mas ‘Horédio defendeu-se ¢:h4 vestpive Ha sua récisa na Ode:Ilj'6,:umna das ‘suas Uricas this docementé creptisculires}:enderegada ao ainigd Septimio, que se dirigid exactatnente ‘para ‘Bspanha que ‘o proprio’: Augaito ‘esctbverido a'Hordcio, aduz:como testenttinha dow seus) prdpriog'benti- ‘mientos de eitith e de uihizade pot te, Mas SiletGhio refere-n10k rambér ‘uma passagemt duma outra cartaidb Augusto aHordcio; emi que o princeps ‘se lamenita de o potta ter eniviado cartas thi-vétso, 4 todosy-menos's ele, ‘A tesposta de Horstio foi a dedicitéria 20 ithonarca; (do: livto, Ih-das Epistolas, com a célebre primeira carta a Augusto, esctita depois das outras ditas, a segurida a Floro ¢ a terceira 20s Piss, w'velebécsima Ars poetic. O Livro intelto foi.publicado em 13 a.C.-e,'silvo.algum motivo confi- dencialmente autobiogréfico da carta a Floro; é de tom essencialménté = 31 diferente do do primeito livro. Quando se apontam as Eplstolas horacia~ nas como cume da pocsia autubivgtifica, da confiss¥o poética do Venusino, pretende-se fazer referéncia 20 livro 1; as longas epistolas do liveo I versam problemas de disciplina politica ¢ moral, ¢ sobretudo de estética; representam e querem representar 0 canto de cisne da vigiante solicitude horaciana pelas sortes da vida e da cultura de Roma. ‘Mas, entretanto, Augusto obrigara Horécio a abragar, mais uma ver, a cftara de poeta lirico, Em 17, por ocasiio dos Ludi saeculares, cclebrados com pompa particular e com orgulhoso tom de grandeza ¢ de seguranga, considerando que os escritos de Horécio eestavam desti- nados a permanecer eternamentes, como diz Sueténio, confiou 20 Venusino 0 encargo de compar o carme oficial da festa, que devia set cantado no tiltimo dia das ceriménias, por vinte c sete jovens e vinte ¢ sete donzelas; ¢ Hordcio compés 0 Carmen Saeculare, Um fragmento das actas oficiais da festa, descoberto nos finais do século passado, confirina 0 encargo oficial confiado a Hordcio. No ano 15, 0 monarca quis que Ho cio celebrasse a vit6ria alcangada contra 0s Retos € 08 Vindélicos pelos seus enteados Tibério ¢ Druso: ¢ foi a ode quarta do livro IV, a mais voluntariamente pindatica das odes horacianas, mas, cfectivamente, nio privada de passagens inspiradas ¢ eficazes; ¢ foi a ode décima quarta do mesmo livro, friamente oficiosa, Assim, Hordcio, no pleno do clima desencantado e outonal das Epistolas, fora retomado pelo estro Iitico; e no mesmo decénio em que compunha ¢ publicava as trés epistolas do livro U, publicava o quarto livro das Odes, o livro em gue, embora adoptando os predilectos metros eélicos ¢ apesar de afirmar, na segunda ode, a impossibilidade de competir com Pindaro, ter4 principal- mente diante dos olhos, como ideal ¢ como estimulo, © poeta dos epini- ios. Ja desde as Odes romanas, as primeiras seis do livro IMl,.o elemento ‘gnémico da sua litica tinha manifestado a tendéncia a enguadrar-se, ‘como em Pindaro, com exemplos herdicos, tirados, no entanto, nb dos mitos helenisticos, mas sim da histéria ou da lenda de Roma. - -), Persiste ainda, entre os criticos, a questo se se deve dar a palma 20 Hordciv lirivw ou a0 das Eplstolas: questio, no fundo, ilegftima, porque, se ha poeta de inspiragde quase uniforme ¢ constantemente atento aprofundar a propria consisténcia ética, mesmo no referente 4 sua funcio de intérprete pottico da propria época, esse € Hordcio, em todos 0 sectores da sua obra, E preferivel acentuar nfo 0 tom diverso das vérias colect4neas, mat sim 0s pontos em que a poesia se consegue libertar, mais ficil e comple tamonte, das escOrias das. preocupagies extra-artisticas ¢ ressoar mais 435 espontinea ¢ harménica. Ora, & necessério reconhecer que Horécio;'se ld sempre presente aii mesmo, na meditagio. dos séus motivos inspiradores, nfo se consegue mantet pér longo tempo no mesmo nfvel pottico, ¢ cai, muitas vezes, no mero virtuosismo de versdjador oit de ioralista refinado. Até mesmo a éstrutura forinal-das suas liricas; se nos enche de idmiragio onde 6 sustentada pelo calof da fantasia} de forina que daboreamos até mesma a sapienitissima colocacio da palavras, causa de ricas e densas vibragbes ¢ de significativas e stibtis recordagies ideas, pelo contritio, onde a inspiracid afouxa, dé-nos a.impresso de.quie 0 poeta tém dificuldadé em acomodit as suas construgées no esquema méttico;"e coloca os vockbulés a0 acaso, tegulindo-se apenas com base na madida don espncotsilbicol.«eiindo, por ino, petfodos stranha- mente’contorcidos, © eu aticismo tigido levaso a uma exsencialidadé talver instperada em toda a Ivica latina; a forca da sua expressio esté toda no vocibulo singular; perspicazmente justaposto-d outro de igual beso, de maneira que, do seu cortacto, restaltam. centelhas; de tdl forma. quie Manzoni sentencioti justamente que eHordcio no se traduz: onde o fmpeto da poesia coincide com este mibdulo estilistico ¢ nele encontra 4 sua expresio oportuna e adéquada, os chogubs sdbiose entrelagados de vocdbulos dotam a imagem duni potencial: fantéstico’ extraordindtioj ‘enoti-se néstes casos que o desenho é nftid e firine; pelo contrério, onde permanece 0 atificio' retdrico, 0, puro ¢- simples vocSbuloj singular jaz ali como uin peso morto, e agrava, com a fia intristo forgada a op: cidade © 0 peso do conjumto. "81 vr. Lee No: primeiro livro -das Eplstolas elicontram-se;, miditas vézes, passigens © composigges'inteiras em que; estimislado pelo cardcter: de confidéncia pessoal: que:a forms epistolar'imprimé a0 sermo, Horktio tegressa Aquéla inrerioridade lusiiinusa,'aqucla poesia fellz do limits ¢ da modetaglo pt6pria, qie-bilba nas sftiras melhorel, Naepistola a Albio Tibulo, escamecendo senhorilmente da sia prépria serenidade perante as pense as insatisfapSes do amigo muis jovem, gosta de s¢ déscrever como thomerh gordo e luzidio, de pele bem: cuidada...; porquittho da, varude Bpicuroy; so deliciosos o cobvite's Torquato (epistola quints)-e o billiete de recomendagzo de Septimio a Tibésio (ep(stola nona}y cheia de hidma- nfisimo humour, de desericantada ¢ sdbia tristeza, ¢ a despedida a0:livro (cplstola vigésima) ostosos: d apresentagdo: Has :Odeds.a. Vinid (epfstola décima terceiri) ¢ 0 pedido: de informagées ‘acerca das novas férias, quo estavam na moda (eplstola décima quints); e mais encantiddra que todas é a epistola décima quarta, o coléquio, um pouco hipécrita tas também riquissimo de abandono ¢ de sélida filosofia da vida, com 0 436, préprio feitor, tm daqueles agriolae pics. que ignoram os sua-bona E que, For iso, Virgli, nas Geérgicas exclula do verdadeiro contacto fegenerador coi a natureza. Mas, por outro lado; a vontade de fazer prédicas e desenvolver temas habituais de casustice, de ver em quando vrvasta Loricio, também aqui: vetificamo-lo desde a primeira epistola; ‘ela domina a epfstola sexta e deparamos com ela, com mais frequéncia, to final da colectinea (epfstolas XVI, XVI, XVII). Na epistola 11, embora com mio ligeira ¢ leveza de passagens, xetoma-se até a ofien- taco estdica, que tendia a descobrie valores e alegorias morais nas obras tle possia, e partienlarmente em Homiero, Por sorté, esta colectinea, mais que nas sitiras do livro Il, a personalidade do poeta, ora mais, ora tnenos, domina sempre no pano de fundo, introduz sempre algo deseu, diminui, com as stas intervengSes sempre ricas de experiéncia, a impres- ‘io de composicio impestoal ¢ de aprendiz do sermio moral. De modo semelhante, no Horicio Mico, apesa 1 do afastamento fssimo do enquadramento lexical ¢ estlistico to diferente, do tom iar © modesto dos Sermones, nota-se uma oxcilagio continua entre «9 impeto ¢ 0 abandono do verdadeiro poeta ¢ a severidade inexordvel do ctitico que, no mais belo, detém a mio 20 pocta ¢ 0 repreende por Se ter deixado ir para além dos limites. Caracteristico da lirica hora- Giana €0 dobrar-se final sobre si mesmo, 0 convite a nto se deixar arrastat pelo estto ¢ a reentear na propria mediocridade, Nunca um poeta Hirico teve como Horicio 0 respeito religioso pela devosio da potsia ¢ pelo oficio do votes; mas, no vates, ele vislumbrava, segundo be ditames do estoicismo, principalmente o educador, 0 pedagogo do proprio povo, € por isto estava sempre a viginr-sc a si mesmo para vitar assumir atitudes que desdissessem da gravitas da missio escolhida, 'Nio concebia como se pudesse éducat ainda mais eficazmente 0 piblico dos préprios leitores, 4 mancira de Virgilio, isto é, abandonan forse, sem controlos que nio fossem o indispensivel da arte, 20 fascinio do ideal que inspira no intimo, A isto ajuntava-se, nele, a sua segunda e mais poderosa natureza, de entendedor ¢ critica de estilo poético, que lhe gelava o stro num primado de problemas tnicos, no acariciar, com cuidado excessive, todos os nexos sintiticos, todas as palavras. Por isso, permitiasca si proprio os abandonos mais claros nos levia carmi.., mas poesias engracadas de amor: ¢ nisto, reagia nele a doutrina ¢ a pritica do epicurismo mais auténtico, desde Epicuro a Filodemo, Insistitese muito ¢ muito se discutin acerca das numerosas figuras de mulher cantadas por Hordcio, acerca de Glicera, Barine, Licé- tis, Leucdnde, Clog, Astéria, Lice, Cloris, Mirtale, ora caprichosamente 4aa7 enitentes 20 amor do:poeti © deioutrohy ora:cheiie de vontide, de ie cronciliarem; mas ainda recalcitranted-coim delicioss coquétismo} ora, por tia ver, chororas por ‘chust da indiferenja de jovens, eit flor Bejrouse dat a conelusio insulsa da frivolidade incurdvel ¢ da lascfvia de Hordcio em contraste tom a sud osténthda severidade de ‘educidor, até As enormidades referidas por Sueténio, sempre vido de alcovitices tacandalosas e desejoso-de fecblher anedotas que exacerbassei a coexis- fnela dé zonas de laze zonas:de:sombra, no espirito de-umd sua mesma perches, fose'ela impériddr’ou poe.) "| * Na redlidade, muitas vezes.na Iitica horatians, um mesmo nome erapregado para dsignar personagens femitiinas evidentemente diferea tes ¢ muital vezes, para nfo dizer sempre, o jogo de amor desmateria- Jiza-se até uma leveza de tom tio aérea, que todas aquelas mulheres, todos aqucles nomes, acabam por aparecer como puros pretextos para um bulo atabesco poético. Por iso, fecentemente, Hordcio foi alvo duma zewsacio diametralmente oposta & que lhe fora langada pelos moralistas esquinhos: todos of entusastas de Catulo, persuadides de que itlo se podta faze lirica de amar senfo com os tons ardentes © apaixonados do poets verorense, auibuiram-Ihefiieza insincera. Na realidade, Hordcio Fore de forma delicadamente refinada, a lirica de amot mais consent’ ned com 0 estado de tnimo dos seus anos maduros: para ele, 0 amor| de pairto €-um vido do eppirito, de que as pessoas sc devem! Gefender; pel contrério, no amor” como escaramuga, como jogo! desencantado e gentil eté'o sereno reftigério da alma pensativa c o meio | Sddequado para se educat ainda melhor, para competi senboriiente \ Com as paixBes, concedendosthes apenas aquele tanto que niio compro~ meta o indispensivel equilfbrio da alma. ‘Mas net $6 as poesias de amor constituem 0 ofsis mati fresco da Iisica horaciana: aquele mesmo tom de frescura s6bria ¢ sussurrante rea viva os numeroros catmes em qué a moderagio serena duma alma Teahora de si canta éem o peso de prograthas a ostentar, ¢ bebe na sua propela dogura confortitite. © pocta-amotoso ¢ 0 poeta contemplativo pafecem como tm 16, ¢ s40-No: repete-e, embora emt tom metior, © milagre do Virgilio bucélico. Aqui, onde 2 propria moderacio & Substincia de poesia, nfo se nbta qualquer hiato entre o astro do posta ¢ fo seu refreador sentido critica. E daf irrompem pequenas obras-primas, como a tiltima ode do liveo ‘sOdeio, 6 escravo, a pompa persa; detesto as coroas igadas com fio de tia, Deixa de procurar em que lugar tarda a florit a rosa \ | 438 serddia, Gostava que 0 esforco do teu zelo nada acrescente ao sim- ples mirto; 0 mirto nio é indigno nein de ti que me serves, hem de mim que bebo debaixo da videita densa», — E assim a celebérrima Ode décima primeira do livro I: «Nio procures saber —€ sacrilégio sabblo — que fim, 6 Leucénoe'S, os detses marcaram para min ¢ para ti, e no interrogues os cfleulos babilénicos'*, Como é melhor suportar seja 0 que for que acontesa, quer Jipiter te conceda mais de inverno, quer seja o dltimo este que, agora, quebra o mat Tirreno contra 0 obstéculo das rochas corrofdas; #8 prudente, fitra 0 vinho ¢, uma ver que duramos pouco, reduz as: longas esperangas. Enguanto falamos, eis que o tempo ciumento fugiu: goia o dia de hoje, sem te fires nada no amanhis. Nio ‘ uma vontade de gozar Llasfema e irreflevtida, como enten- hm malevolamente todos aqueles que da exprestio cape dem quseram fazer um emblema de hedonismo irrflectido ¢ desmesurado; 6, antes, sorriso melancélico sobre o cardcter ténuc ¢ sobre a incerteza das alegrias hhumanas, &conite seeno e consciente ao exqueciment, sobre aquele felicfsimo pano de fando invemnal, de mere tempestade, que df vulto corpéreo a0 arrepio perante as tempestades da vida, 3 persuaiio de que o amankt € negro © ameagador, E assim esta oraglo, sébria e nitida, que respira grasa, 4 deusa das gragas (Ode I, 30): +O Vénus, rainha de Cnido ¢ de Pafo', despreza a tua Chipre querida e transporta-te 20 lindo santuério de Glicera que te invoca oferecendo incenso. Contigo se apresse 0 teu ardente menino'® e as Gragas das cinturas desapertadas, ¢° as Ninfas & 4 juventude que sem ti no tem encanto, e Mercérion. No piudénimo en o sentido dum alma chad e pris modo como a rapatiga se manifesta, com os seus tereres supercon, Os clleulos de atrlogi, em que ot Caldus, habitants de Babin, tinham aleangado ‘ama de pecs inigualiva, 37 Doiseleérrimos sastuiris de Afcodite.oprimeizo na Asia Menor, no Iitoral da Cis onde se comservava a elec ets de Praxtcles, aud a itha de Chip, "Capit, cm comontncs como 439 « Bj assint, o bino a ima nastenta fedea (Qde IIL, 13); em que © poeta + introduz:tima teininisctncla’ nostdlgica: da terra natals: «| ratte ened att fier 726 fonte de Baiddsia 9) mais:limpida que. cristal, digna do doce vinhio e de flores ®, Feceberds amanha a ofécta dum cabrito, ‘que a testa jf inchada com'¢s cornos que déspontam destina para ‘Vénus ¢ pata of combates; em vio, porque vai ingir com o seu Tubro as tuas 4guas gelaidas, ele, rebento dum rebanho lascivot A fore impiédost dacanfcula note atinge; tu oferéces amfvel freer 208 toutos éansdos pelo, atido © x0, gado crane Receberds tamibémm tu um lugar entre as fontes célebred, pois que cut clnto a azinheira que surge sobre os.rochedos cavernosos donde jorram as tuas'4guas runiorosis. E, assim, finalmente, a ode vigésima. segunda do livro Ill, 2 invo- cagio breve ¢ preciosa 3 deusa triforme, a Diana-Hécate-Lucina:

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