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FICHA CATALOGRAFICA (Preparada pelo Centro de Catalogagdo-na-fonte, Camara Brasileira do Livro, SP) 0473 74-0615 Chociay, Rogério. Teoria do Verso. Sio Paulo, McGraw-Hill do Brasil, 1974. Pe 1. Postica 2. Portugués — Versificagdo 3. Versificagao L. Titulo. CDD-808.1 469.6 | Indice para catdlogo sistemtico: |. Poética ; Retorica : Literatura 808.1 2. Versificagao : Portugués : Lingiistica 469.6 3. Versificagao : Ret6rica : Literatura 808.1 4, Verso : Técnica: Literatura 808.1 Whrversioae FEDERAL oy )E UBER La Bibiiatess ma ‘SAO PAULO RIO DE JANEIRO BELO HORIZONTE| PORTO ALEGRE RECIFE TEORIA DO VERSO ae Rogério Chociay (Professor de Teoria do Verso Faculdade de Filosofia, Cigncias e Letras Universidade Catdlica do Parand) toe 02.0 case OIRBVUFU 04180, CTT 1000147223, NEWYORK «ST. LOUIS “SAN FRANCISCO ‘AUCKLAND « BOGOTA « DUSSELDORF « JOHANNESBURG KUALA LUMPUR + LONDON + MADRID + MEXICO MONTREAL «NEW OELHI + PANAMA + PARIS. SINGAPORE «SYDNEY = TOKYO «TORONTO Copyright © 1974 da Editora McGraw-Hill do Brasil, Ltda Nenhum’ parte desta publicagdo podsré ser teproduzid, guadada plo sistema “re treva” ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, se) este cleton- to, mecinic, de folocopin, de gravayae, outos sem préva sutorzaio por eseilo da Esitors. 1979 Todos os direitos para lingua portuguesa reservados pela EDITORA McGRAW-HILL DO BRASIL, LTDA. Roa Tabaput, 947 Av. Paulo de Fro SAO. PAULO RIO _DE JANEIRO ESTADO DE SAO PAULO —- ESTADO DO RIO DE JANEIRO ‘Av. Bernardo Monteiro, 447. Rua General Lima e Silva, 87 BELO HORIZONTE — PORTO ALEGRE MINAS.GERAIS RIO GRANDE DO SUL ‘Av. Jodo de Barros, 1.750 s/11 RECIFE PERNAMBUCO EY Impresso no Bras Printed in Brazil on PREFACIO . vee . vit NOTAPREVIA 20.0. o eevee cea ee sees ee ees IK I Metroeritmo .. 6.6.06. cece | 2. Nogdes elementares 4 }. Os versos ¢ suas medidas aT |. Processos de acomodaglo . . SEeeeEEe 14 . Receitae realizagdo dos versos 0... ee eee eee eee ee 4 Andamento dos vers0S 0.0... ee eee ee eee eee eee 61 . Tipotogia dos versos.. . A unidade funcional do poema . Aestrofe e suas denominagies . . 10. As cadénciss silébica e acentual ..... eer anaw IL. Dinimica daestrofe .. . 12, O andamento fénico e seus processos . 13. A cadéncia fonica: rima . . 14. 0 indice de reiteragdo fonica na rima . . . 15. Posicionamento das rimas 2.6.0.0 e eee e cece e eee eee 14 NOTAFINAL .. 0.0.0... 0 cece cee ee eee : = 200 INDICE ANALITICO .. SEE eee eee = 202 PREFACIO A caracterfstica principal do Professor Rogério E. Chociay, nesta bela Teoria do Verso, parece-nos ser a dligente, minuciosa, firme consciéncia com que examina a matéria, de modo a expor a sua verdade, que pode coincidir ou nfo com 0 modo de ver de antecessores scus. Argumento de autoridade para ele ndo existe; existe apenas a convicgdo com que chega aos scus resultados, ou, se nfo pode atingi-los, com que reconhece estar diante de um problema a ser solucionado, Sendo pois fruto da reflexio, a Teoria do Verso se distingue da maior parte dos livros que circulam em nosso meio sobre versificagéo, ‘manuais fastidiasos ou festivos que se repetem uns aos outros, sem desconfiat de nada, nem inovar coisa alguma, Rogério Chociay ndo produziu um livro de Tepetigo, mas um livro rico de informagdes sobre 0 nosso verso medido, hébil € Gtil para todo o perfodo que vem dos drcades ¢ atinge os préprics poetas ‘modemos do Brasil, quando metrificam. Um livro, pois, que explica nflo $6 a técnica dos roménticos como a posterior, implantada aquém-mar com a obediéncia aos princfpios adotados por Casiilho ¢, acessoriamente, com o pagamento de razogvel tributo aos manuais franceses. © autor no cuida apenas dos versos canonicamente construtdos, mas também dos que se desviam do cédigo versificatério de seu tempo, sendo 0 seu trabalho, em conjunto, o mais completo que conhecemos nesse campo; ¢ também no campo, mals vasto, da restituigfo de versos ao sou cédigo original, que pode nfo ser 0 cédigo de nossos dias, como se dava com a versificago Toméntica. E leva tudo isso a cabo, e mais a andlise do andamento fonico dos vers0s, com 0 vocabuldrio técnico mais simples possivel, a0 contrdrio de tantos estudiosos atuais, que desvirtuam ou inovam o sentido mais ou menos consagrado dos termos de Poética, ou inventam outros para fenémenos jd denominados, construindo um verdadeiro cipoal onde o intrincamento longe estava de ser necessério, Em suas linhas gerais e nos particulares, o livro do Professor Chociay parece-nos solidamente construfdo ¢ inegavelmente merit6rio, pela amplitude € percucincia de sua andlise, Natural que, num ponto ou noutro, possamos ter opinido diversa da do jovem esticdlogo, cujo livro & de longe, nfo ‘obstante, o mais sugestivo de que temos not(cia sobre 0 assunto, em nossa lingua. Assim, deixando de lado observag6es de pequena monta, e atendendo 4 pedido do préprio autor, no sentido de que expresséssemos possiveis divergéncias remanescentes, queremos fixar-nos apenas num ponto, No nos parece que deva ser desprezada tio de plano a possibilidade de se evidenciar metricamente um acento semiforte na segunda sflaba metaténica dos Proparox{tonas. Em 2.6.2, aponta Chociay que a alterndncia quaterndria pode ser encontrada em seqiéncias que envolvam vocdbulos proparoxitonos, como em “pincaros azuis”, , “seqiéncias que, de resto, nfo se reduzem a dois bindrios, como querem alguns estudiosos”, Nisso mostra Chociay seu desacordo com esticélogos anteriores, entre (08 quais Cavalcanti Proenga, que observa: “Naturais, mesmo, sao as células de duas e trés sflabas, 0 que, alids, Said Ali deixou implicito quando, no seu Tratado de Versificagdo, $6 deu patente aos pés di e trissilébicos”, De nossa parte, perfithamos © parecer de Said Ali, Cavalcanti Proenga e outros, no nos parecendo dificil demonstrar a evidenclabilidade métrica de uma semifforte ‘em vocdbulos proparoxitonos. Certificou-o Manuel Bandei em “A Dama Branca”, quando fez “vulgivaga” e “sarcéstic “Ig” e “m4”. Na “Cango de Muitas Marias”, também de Bandeira, ressalta sem margem de diivida o acento metricamente semiforte em “Cndida” (3.9 verso): “E depois dessa Maria que foi Cindida no nome, / Candida no corago”. Da mesma forma, 0 andamento trocaico parece mostrarse com toda a nitidez em “Flores Murchas”, p. ex.: “Pélidas criangas / Mal desabrochadas / Na manh da vida! / Tristes asiladas / Quo pendois cansadas / Como flores murchas! // Pélidas criangas / Que me recordals / Minhas © andamento exige um acento metricamente semiforte em “pulidas”, bastante n/tido no in(clo da segunda estrofe, Bandeira, diga-se para clareza, 20 contar todas as sflabas em “vulgivaga” e “sarcdstica”, nos eneass(iabos “Era uma estranha vulgivaga” ¢ "Se the furtava sarcéstica”, estava seguindo, esse pormenor, 0 principio médio-atino das “sflabas contadas". Vejase como, na estrofe do “Stabat Mater”, nfo s6 se evidencia o acento secundério numa palavra proparox{tona interna, “animam”, como também as proparoxitonas em posigfo de rima (3.0 € 6.0 versos) ostentam esse acento secundério na dltima sflaba (a que rima): Stabat miter délorésa Tixta eriicem Ifcrimésa, Dim pendébat filiés, Cus énimam geméntem, Contristétam ét doléntem Pertransivit glidids. esquema, tal como apontado por Karl Strecker, ¢ trocaico, apoiado Jargamente em sflabas semifortes; e vé-se em “fiius” e “'gladius” o processo de contagem que Bandeira adotaria séculos mais tarde: apenas em latim “rftmico” era normal, a0 passo que em nossa lingua nfo passa de curiosidade. Dirse-4 que, sendo 0 cédigo métrico uma convengdo, tanto faz adotar tum eritétio como outro, mas afigurase.nos leremente ildgico reconhecer as sflabas semifortes pretdnicas ¢ nfo. as metatOnicas, umas como outras metricamente evidencidveis, Nem se fale em Fonética Experimental, pois em primeiro lugar o poeta, ao escrever, nfo lida diretamente com sons, mas com imagens auditivas, e em segundo lugar jd se metrificava quando nem existia a Fonética, ¢ muito menos a Fonética Experimental. A validade do cédigo versificat6rio repousa em sua propria coeréncia interna, e nfo em dados fouéticas exteriores, desde que nfo sejam bésicos para a formagifo desse mesmo e6digo. Esta a contribuicfo que trazemos, despretensicsamente, 20 exame do cestudloso sério e bem informado que produziu este livro nos vdos entre suas aulas na Universidade Catélica do Parand, a0 mesmo passo que louvamos a feliz tenacidade com que levou a termo um trabalho como este, que se 1€ com agrado € proveito € no qual mesmo os especialistas tém 0 que aprender. Honra-nos, particularmente, prefaciar volume de tio luminosa valia; ¢ comove-nos fazer isso, como se a nossa jé longa experiéncia, servindo de pedra de toque, atestasse com sua imparcialidade mineral, mas receptiva, que o livro 6 de ouro, ¢ ouro do mais puro quilate. ‘S80 Paulo Péricles Eugenio da Silva Ramos NOTA PREVIA Este trabalho, que ndo se pretende original, inovador ou erudito, comegou a surgir da necessidade de apresentarmos, a nossos alunos da Faculdade de Filosofia, Ciéncias e Letras da Universidade Cat6lica do Parand, as nogdes mais importantes da versificagio tradicional, de um modo tanto quanto possivel claro, seguro € didético. Embora o assunto nao nos fosse estranho, acostumados que estvamos ao estudo e ensino do verso, fomos verificando, nessa tarefa de maior folego e responsabilidade, toda uma série de problemas complexos que se escondem sob a aparéncia facil dos manuais sumiirios que até entdo nos tinham servido de base. Chegamos a um ponto critico ao verificarmos a insubsisténcia das ligdes que habitualmente forneciamos, quando as diividas nos obrigaram a pesquisar, mais intensa e profundamente, a obra dos principais pocias brasileiros’ e portugueses Terminada a tarefa, que sofreu a coagio de uma série de fatores, entre os uais 0 tempo de estudo bastante reduzido, nfo podemos dizer que chegamos ‘mesmo a metade do caminho, Temos ai uma série de ligdes e exemplos que, se alguma virtude apresentam, & a de buscar a verdade reta e dificil num caminho cheio de faccis saidas laterais. Evitamos incidir em dogmatisnio, ‘mesmo porque nosso estudo reflete somente o esforgo de pesquisa de um interessado licido, nunca de um especialista. Os especialistas, sim, surgem a ravés de citagSes, nos pontos em que mais necessitamos de fo segura, © a3 SUBS Obras remetemos os interessador no aprofundamento de aspectos cuja superficie mal pudemos percorrer. A estes mesmos especialistas pedimos, sem falsa humildade, as observagdes ¢ conselhos que julgarem oportunos. Em relagGo aos méritos que esta obra possa apresentar, destaquemos a influéncia de alguns colegas que muito nos auxiliaram: do Professor Vicente Ataide, com quem dividimos atualmente os trabalhos de pesquisa e ensino da Teoria da Literatura, sem cujo incentivo e aconselhamento constantes este livro simplesmente nao viria 4 luz. Do Professor Massaud Moisés, a quem devemos um seguro conceito de “ritmo”, que muito nos tem servido e muito nos serviré para ampliarmos as perspectivas de nosso estudo. Do Professor Péricles Eugénio da Silva Ramos, um dos maiores se nfo o maior especialista nna Teoria do Verso em nosso pais, pela paciéncia que teve ao ler e comentar as redagdes de nosso trabalho, que como bom mestre € com uma honestidade intelectual 4 toda a prova nos soube “puxar as orelhas” nos momentos oportunos, tirando-nos de muitos descaminhos e fornecendo-nos informes e material para que aperfeigodssemos nossa visdo dos problemas. Do Professor Geraldo Mattos, eminente tingoista brasileiro, que dispds de seu valioso tempo, colocando-se 4 nossa disposigéo para fomecer-nos seguras descrigdes sobre os aspectos melédicos da Lingua Portuguesa. Do Professor José Luis Mercer, a quem devemos valiosas sugestdes que eperfeigoaram nossos métodos de trabalho. Do Professor Jaime Ferreira Bueno, com quem pudemos discutir * xt comprovar uma série de fatos. Finalmente, do Professor Antonio Manuel dos Santos Silva, profundo conhecedor da versificagdo espanhola, pelos conselhos de amigo e reparos de mestre. Falemos da obra cm si, cuja montagem é bastante simples, formando um corpo de 15 capitulos. Nao € uma solugio ideal, ji que de inicio pensivamos dividir 0 trabalho em trés partes, em que se estudariam, Tespectivamente, 0 verso, a estrofe ¢ as formas poéticas. Mas, desde logo, pressentimos a impossibilidade de realizar perfeitamente tal objetivo num sO livro, preferindo estudar neste, com mais profundidade, o verso, fornecendo também uma boa dose de informagdes sobre a estrofe. Em trabalhos futuros pretendemos ampliar 0 estudo da estrofe e realizat 0 das formas posticas Como se observa, esta € uma primeira tentativa de equacionar a Teoria do Verso, visando colocéta em termos novos, sem contudo trair as boas ligoes antigas. Nao temos receio de pdr em julgamento alguns enfoques pessoais sobre 0 estudo do verso, bem como as modificagdes na terminologia versificatéria que tivemos de fazer, por necessidade de clareza e com a melhor das boas intengdes, Se falharmos, em mais ou menos pontos, nossa mentalidade € aberta a criticas, que estamos ndo somente dispostos a receber como também seguir, desde que as julguemos procedentes; para tanto, indicamos logo abaixo nosso enderego. Por enquanto, dar-nos-emos por satisfeitissimos 8 08 nowos alunos ou os loitores interessados assimilarem os pontos capiti de nosso trabalho, aceltando alguns e, mesmo, contestando ¢ discutindo ‘Outros (nfo somos tdo ingénuos que nos creiamos isentos de erro). Com apesar de suas imperfeigbes, a obra terd atingido suas finalidades. Rogério E. Chociay Faculdade de Filosofia, Ciéncias ¢ Letras Universidade Catélica do Parand Rua XV de Novembro, 1004 Curitiba — 80.000 198 Rogério E. Chociay (fraca) dos dois iltimos. José Jambo da Costa, citado por Mello Nébrega (1), apresenta a tentativa de situar a rima no inicio dos versos: ama_ Chama da vida a iluminar a sina, ina orte Norte do audaz, que, sem temer o incerto, —_erto ama Ama se arroja a gloria peregrina ina orle ~ Morte num mundo, sempre, aro e deserto, erto Esta & a primeira quadra de um soneto em que as demais estrofes obedecem a semelhantes processos, tornando-se, caso se aceite a legitimidade da analogia, polirrimicas. Mas este exemplar, como o anterior, insere-se no rol das ocorréncias esporddicas, ndo permitindo teorizar-se com maior seguranca a tespeito. Além disso, um estudo comparativo dessas rimas internas com a convencional, “externa”, apontard dissemelhancas insuperdveis para que se possa colocé:las a um mesmo nivel. Com efeito, a rima “externa” néo deve seus resultados (cadéncia fonica) apenas A mera teiteragZo total ou parcial de segmentos terminais dos versos, sendo a algumas peculiaridades que s6 nessa posi¢do existem: a intensidade forte, a entoagao caracteristica, a pausa de final de verso € que terminam por conferirlhe distingo e autonomia. J4 os exemplos vistos de rima interna comegam por apresentar-se com menor distingZo intensiva (0 primeiro, baseado na 6. silaba fundamental, é ainda relativamente destacado pela intensidade, mas o segundo, na 1.8 silaba dos versus, resulta enfraquecido © com pouco destaque) e sem serem seguidos, Nuvesintiginente pur uuu venacvel) s6te inplion mpobreaiinente dos afelton pretendidos com o seu emprego. Além do mais, a prépria rima “externa” apresentou sempre violentos detratores, que nela tém visto um fator de aprisionamento expressive “interna”, a esse titulo, acaba criando uma’ prisio ainda pior, 15.4.2 Melhor destino, posto que ainda irrelevante, conseguiram as rimas encadeadas, que consistem no enlace rimico-do segmento terminal de um verso /1/ a um segmento medial do seguinte /2/, como nas estrofes dos rons de Silva Alvarenga 3 7 Ja serena desde a tarde arde Jando arde 0 sol formoso; arde 080 ‘Vem saudoso o brando vento 080 ento Doce alento respirar. ento em que desaparece a rima “externa” no seu entendimento bisico, pelo fato de ‘8 segmentos terminais da sétima sflaba do primeito, segundo e terceiro versos rimarem, respectivamente, com os segmentos baseados na terceira silaba do (1) Op. cit, p. 300, Teonta do Verso 199 segundo, terceiro € quarto versos. A quadra, que externamente comportatia a dirrima, toma-se a custa desta combinat6ria tritrimica, 15.4.3 Outro processo € 0 da fixago de homofonias no interior de Yers0s; as homofonias so diferentes em cada verso, mas a posigio é fixa (vimas coroadas): 204 8 10 Donzela bela que me inspira a lira Um canto santo de fremente amor, ‘Ao bardo 0 cardo da tremenda senda Estanca, arranc Of, (Castro Alves) 18.4.4 Ambos os exemplares indlcados em 15.4.2 e 15.4.3, se a um Primeiro contato podem parecer agradaveis, acabam por revelar grande monotonia na seqiéncia de uma composiglo, o que bem diz de seu pouco emprego. 15.5 Sobre os exemplos vistos de rima interna e muitos outros semelhantes pode-se dizer que néo suportam o énus de um emprego intenso, que x6 faz encher a estrofe de homofonias forgadas ¢ desagradaveis. Com efeito, Aunooroniae intvenas, udeguadue, ¢, ‘edpordicumente, eopulliedas nume composigio, podem sor fator de’ enriquecimento ritmico-expressivo (como bem perceberam no apenas simbolistas como muitos modernios), mas o uso insistente tende a esgotar suas possibilidades expressivas e trazer um fardo de ‘monotonia que a estrofe habitualmente no pode suportar. z 1. Metro e ritmo 1.1 Se quisermos tragar uma distingdo formal (e mesmo assim de cardter apenas relativo) entre a prosa e a poesia, tal como ambas se tém apresentado ttadicionalmente, no poderemos evitar, pelo menos conto solugio didatica, 0 confronto entre a estrofe, genericamente, considerada como unidade do Prema versificade, © © periode, unidade da expressio prostica. Esta aproximagto, se faz reamaltar a sensivel analogia guatdads pela primeira em relago 20 segundo, faz-nos melhormente observar os aspectos em que a estrofe, a custa de uma organizagao peculiar, afasta-se perceptivelmente de algumas linhas de conduta trilhadas pelo perfodo. No todo, uma estrofe nada mais ¢ do que um perfodo a que se imp3e feigdo diversa da habitual: locugdes ¢ sentengas tém de fluir através de um esquema global prévio, do qual os versos — linhas com numero fixo de silabas e medido posicionamento ‘scentual — representam unidades relativamente arbitrérias. 1.2 34 0s antigos preceptistas atinavam com esta diferenciago, ao afirmarem que a estrofe, desprezando a relativa liberdade na sucessio de sflabas, acentos © pausas, ou 0 avango solto, livre, das linhas no perfodo (oratio prosa, soluta), baseiase na imposigao de certas pausas fixas que, travando em pontot {dénticos as linhas do discurso poético, anulam a possbilidade de seu avanco livre. Os versos (1) tomam-se, assim, linhas simétricas limitadas por pausas (1) 0 nome verso tem origem no latim versus (de vertere, = retornar), que (inha 0 significado de volta, retomo. A custa de diversas conotagies que veio a assumir na Mngua latina, tais como sulco (do arado), linka, flleira, renque, ete., a palavia Drestou-se # designar a linha do poema: qual o sulco do arado, ela volta sempre sobre i mesma, 2 Rogério E. Chociay {oratio vincta), obrigadas a um movimento de retorno sobre si mesmas. Essa volta constante precipita, quando menos, 0 surgimento de uma cadéncia sildbica, percebida da repetigfo de um mesmo esquema numérico de sflabas verso a verso. A esta se pode acrescer uma cadéncia acentual, quando, a pat da simetria sildbica, ocorrer em menor ou maior indice a do andamento acentual dos versos na estrofe. 1.3 O andamento, nos versos, ¢ a cadéncia, nas estrofes, constituem a parcela mais rigorosamente mensurdvel da versificagio, podendo ser indicados por meio de esquemas ou metros. Sendo apenas um aspecto dentro da teoria geral do poema, o aprendizado da Métrica nao implica o da poesia, mas tio somente a assimilagdo de um sistema segundo o qual a poesia tem-se realizado tradicionalmente, Assim entendido, o metro nfo surge como finalidade, seno como apoio, base em fungdo da qual a poesia pode ou pode corporificar-se. A organizacdo métrica funciona, portanto, como convengo, como um primeiro (no 0 mais importante, nem o mais necessério) indicio de que o que se tem sob os olhos, na leitura, ow nos penetra os ouvidos, na declamagao, deva ser poesia ¢ ndo outra coisa 1.4 Os metros tém sido chamados muitas vezes de “prisio da poesia”. Se atenuarmos um pouco o significado desta conhecida metéfora, poderemos concordar com ela. © verso metrificado ¢ um corpo sildbico que se organiza em fungao de um conjunto maior — a estrofe — imposto & poesia de fora para dentro. O poeta tem de acomodar o discurso a um esquema pré-estabelecido. Essa acomodagio, nem sempre facil, solicita o desenvolvimento e dominio de uma técnica anterior ao processo de cria¢o. Mas um poema rigorosamente metrificado nunca é, em sua concretizaggo verbal, apenas um poema Figorosamente metrificado. Nele atuam também e principalmente o jogo dos valores vocilicos € consonnticos, as reiteragées fonicas de toda ordem, a durago maior ou menor de certas sflabas, a entonacdo, ete. ete., e nada disso € desvinculado da expressio global veiculada pelo poema. Na seqiiéncia destas idéias, o que entendemos por ritmo ¢ justamente a resultante pergebida da solidariedade desses niveis da linguagem que encorpam 0. poema; profundamente arraigado & expressio, nao surge devido a um aprendizado de preceitos, mas a0 proprio dinamismo criador ¢ verbalizador do artista. E, antes de tudo, percebido, sentido, ¢ nfo como efeitos parciais ou colaterais, ‘mas como uma resultante global, Podem-se indicar pistas, elucidar detalhes, apontar aspectos para melhor aprecis-lo, mas, a0 fim, dele restard sempre um quantum to imensurivel como a propria expresso poética a que se irmana. O metro representa apenas a abstrago de um dos apoios ritmicos do poema, ow, como afirma Pfeiffer, Teptia do Verso 3 0 metro é 0 exterior € 0 ritmo o interior; o metro € a regra abstrata, 0 ritmo a vibragio que confere vida; o metro é o Sempre, 0 ritmo 0 Aqui ¢ o Hoje; 0 metro é a medida transferivel, o ritmo é a imagdo intransferivel e incomensurdvel.”(1) palavras que no devem ser entendidas como mero jogo ret6rico, mas como a simples ¢ fiel constatagio de um fato, e com a humildade de quem se reconhece maravilhado ante sua complexidade. 1.5 Acrescente-se que 0 ritmo, elemento vital de uma linguagem, no é Privilégio do poema versificado, sendo do poemia em versos livres ¢ também da rosa, pois ele sempre resulta de uma tensdo entre um sistema expressivo € a criatividade verbal de um individuo. Cada prosador, cada poeta atingem-no e podem, gragas a seu talento verbalizador, impregné-lo dos mais diversos e sutis, matizes e requintes. Estudé-lo segundo esse equacionamento amplo, cremos que seja tarefa para muitos mais anos de ciéncia lingifstica e literdtia, (1) PFEIFFER, Johannes - Introdugéo 4 Poesia (trad, Manuel Villverde -Cabral), Publicagdes Europa-América Lisbou, 1966, p. 18. " 2. Noc6es elementares 2.1 Elementarmente, todo verso pode ser considerado como um alinhamento harménico de silabas e pausas (1). Nas sflabas ¢ nas pausas estéo as Potencialidades que, atualizadas, d80 a cada verso andamento caracteristico ¢ fazem surgit na estrofe as cadéncias sildbica, acentual e fonica (2). 2.2 0 primeiro verso de um poema reside entre duas balizas; o siléncio, que Ihe ¢ anterior, e a pausa apés suaditima sflaba. O verso final do poema € delimitado pela pausa do verso precedente e pelo siléncio que se the segue. Excetuados, portanto, estes dois, os demals tesidem entra duas Pausas: a do verso imediatamente anterior ¢ a sua propria, Sio as pausas que, travando o final de um verso, permitem o retorno sildbico e acentual do esquema através do verso seguinte, segundo diversos graus de simetria estrOfica. A duracdo destas pausas est4 relacionada diretamente com a maior ou menor extensio dos versos, havendo casos em que, pelo processo do encadeamento, ela deixa praticamente de existit, embora outros fatores Gontinuem sustentando a distingfo ene o final de um eo inicio de outro verso (3). 2.3 Além das pausas delimitadoras, de posicionamento “externo”, os versos comportam outras, internas, que 36 se tornam relevantes em dois casos: 1.0) (DAs silts do no vero harmonitadasseundo seus valores ntnsvo, silos do Imalor grav de forga cm sua emisio.A puta ¢ umn iencio ene veror ou metebon deverss. (2) Sobre ete eadfacis¥, 0 estado da este, 13) ste moto de entender cadeamento tw njembement ao & pacifico ene ox ‘o estudo do probl ‘nats adlante. " " no dies Teoriado Verso S representam um dado prévio da receita do verso; 2.9) mesmo nao previstas, implicam uma alteragdo substancial no andamento do verso em que surgem. As que se enquadram no primeiro caso slo necessérias ¢ fixas, devendo ocorrer no mesmo ponto em todos os versos da estrofe, dividindo-os em membros distintos; dada sua natureza e concepcio, este primeiro tipo pausal, a que melhor cabe 0 nome de cesura (1), interdita sempre a sinalefa (2) entre os membros do verso: As que pertencem ao segundo caso, apesar dle nio previstas necessariamente e de ndo apresentarem posicio fixa de aparecimento, alteram substancialmente o andamento dos versos sobre que incidem: por isso, muitos versos, idénticos pelo nimero de silabas ¢ disposigio dos acentos, tornam-se distintos gracas ao surgimento de uma ou mais pausas sensiveis. O valor e a’ importincia destas pausas pode ser facilmente comprovado pelo fato de elas permitirem ~ como também ocorre a certos esquemas de versos com cesura — a contigiidade de silabas fortes, 0 que normalmente no se verifica na auséncia de pausa entre tais silabas. 24 As sflabas vém marcadas ou ndo por um acento de intensidadle, cuja importancia para a versificagio deve ser focalizada segundo dois aspectos: a) forga relativa; b) distribuigdo funcional no verso e na estrofe. 2.5 Quanto aos valores intensivos das sflabas, ¢ preciso de inicio esclarecer que as usualmente chamadas “t6nicas™ possuem trés valores fundamentais, conforme se trafe (em ordem crescente de forga) da dltima silaba intensa de vocibulo, de locugao e de sentenca (1), No proprio vocabulo, as chamadas ““étonas” apresentam pelo menos dois sgraus intensivos diversos, sendo necessério observar que, em rclagao a forte, () Sio virios ¢ divergentes os conceitos tradicionais de cesura (latim cacdere, = cortar), ue 6 muitas veres entendida come acento principal de intetior de VorKs, ow como Corte tedrico no scu alinhamento. Achamos que o termo tem melhor serventia entendido apenas e sempre como corte pausal necessarioc fixo. (2) Sobre a sinalefa,v. 0 estudo dos “Processos de Avomodaci0", logo adiante. () 05 termos vocdbulo, locugéo ¢ sentenca sio aqui ulilizados na acepga0 de Eurico Back & Geraldo Mattos ~ Gramética Construtural da Lingua Portuguesa, 2 vol, Fuitora F-T.D., Sio Paulo, 1.4 ed., 1972, Num dos indimeros exemplos em que, nd cituda obra, se torna patente esta diferenga de intensidad (p. 298 do vol. 1), cmos a sentenca: “Tenho “dado a ‘muitas “mogas ‘lindas re'vstas nacio™ nais onde (*) representa a intensidade de vocabulo, (") a de locugio e (") ade sentenga ‘Temos ai trés locugées (termos de oragio): tenho dado / a muitas mogas / lindas revistas nacionais ~— as duas primeiras com intensidade (") om sua iltima silaba forte; a terccira, por coincidir com final de sentenca, revebe carga intensiva ("), Observerse que a intensidade (°) nos aponta a silaba forte de vocibulos pertencentes a Tocugics: tenho / muitas / lindas, revistas. Ainda acompanhando as explicagies dus citados mestres, observe-e que se 0 vocibulo lindas, pertencente & terecita, lizesse parte da segunda locugio ~ ¢ assim teriamos muitas mocas lindas ~ sua slab for teceberia carga intensiva ("), ji que passaria a ser conseqiléncia, a silaba mo- (de mogas), deixando de se ter apenas intensidade (') de voeabulo: “Tenho "dado a ‘muitas ‘mogas “lindas revistas nacio" nabs al de locugdo, passaria a 6 Ragéto F. Chocuay “todas as silabas conseqiientes sio fraquissinus” (1), isto &, possuem o menor valor relativo de intensidade. © mesmo nio acontece as antecedentes, que “ocorrem em duas variantes: uma, fraca e a outra, fraqu issima.” (2). Convém ni esquecer, igualmente, que nos vocébulos compostos os. elementos formadores conservam usualmente autonomia fonoldgica; assim, em Porta-retratos, p.e., temos de considerar a silaba forte em por- e em -tra-. Fato similar ocorre em vocabulos como: melancolicamente, Mariazinha, etc. 2.6 A seqiiéncia de silabas com intensidade relevante (e aqui incluimos fracas ¢ fortes) espagadas pelas de intensidade irrelevante (as fraquissimas, por natureza ou posigio) € que traca 0 contomno intensivo do verso (3), Tal contorno — como, de resto, todos os elementos e expedientes versificatorios — nao trai, por principio, a indole do idioma, mas aproveita e canaliza seus recursos e potencialidades, 2.6.1 Quanto 4 sucesso das silabas na cadeia fonica, a Lingua Portuguesa apresenta predom(nio da alterndncia bindria: as sflabas televantesse sucedem sparadss por uma itelevante, com base na contnuidade dos esquemas de alternancia -2 — ou — —Z, esquemas que, por este motivo, sfo denominados bindrios. Néo é demais lembrar que o idioma apresenta predominio macigo de vocdbulos paroxttonos (‘.. .~2 — = bindrio); entre os oxvtonos, hd que destacar v bom ndmero de dissitabos ( — —L= bindrio), Acresea-se que as silabas antecedentes a forte (raquissimas ¢ fracas) ‘manifestam tendéncla dominante para a sucessfo altemnada, de ordem bingria, da direita para a esquerda (cfe.Gramftica Construtural, v.1, pg. 352), 0 que & facilmente verificdvel em séries de palavras como 20 02 canto cantar 020 10 2 encanto encantar 1020 0102 mobilizo mobilizar 01020 10 102 imobilizo imobilizar (1) Gramatica Constratural, val. 1, p. 382. (2) Idem, p. 352, (3) Estamos ¢ esturemos usando 0s termos relevante ¢ irrelevante, em relagfo a0 valor funcional da intensidade sili escapar da ambiglidade que os termos enéricos — e de duvidosa aplicagao ~ “étona™ e “t6nica” sempre trazcm, quando 36 trata de descrever © andamento intensivo do verso. Note-se também que fempregaremos ox termos fraca © fraquissima exatumente nos sentidos scima ‘9pontados, Teoria do Verso 7 em que atribuimos, arbitrariamente,o valor 0 a silaba fraquissima, ! a fraca e 2 4 forte. Observe-se que os compostos, cujos elementos formadores mantém 0 esquema de disposigdo da intensidade, ndo se enquadram, em tese, a0 prinetpio de alterndncia bindria; ai ode surgi ‘© espaco de dugs silabas inrglevantes: contrabuzina, ~ Porta-retratos, -2 — — — € mesmo de trés: médicoegal, 4 — —~ — -L. Mas a propria natured dos voctbulos ou elementos formadores fez com qu o espago dp uma saba irrelevante ainda seja substancial: portaduvas, contrabaxo, + lancha-torpedeira, L -— . Considerando-se estas e outras mintcias de alternincia intensiva que nao nos cabe justificar € anolar, notase que nas combinagdes de vocdbulos (em locugdes), de locugdes (em sentengas) hd predominio do intervalo de uma sflaba irrelevante entre silabas de intensidade relevante; o espaco de duas irrelevantes ainda apresenta bom {ndice, mas o de trés, que 86 se torna formalmente possfvel através dos proparoxitonos, tem incidéncia bem mais rara. 2.6.2 A alternancia quaterndria pode ser encontrada em seqiiéncias que envolvam vocdbulos proparoxitonos, — pincaros azuis: tele — lind{ssimas estrelas: > —-—-—t~ — pélida sondmbul SSeS ~ médico-legal: LoL lk — estrépito do mar: —-te_ ek — ficévamos na praia: —~be—~Le — ligrima-de-moga: a anpenene oe seqiiéncias que, de resto, ndo se reduzem a dois bindrios, como querem alguns estudiosos. Estas possibilidades sio, aliés, magnificamente exploradas por alguns poetas. O verso decassilabo, p.c., pode comportar duat seqiiéncias {quaternérias, como no verso abaixo, de Cesdrio Verde: “A miisica duleissima do vento” —-ti ee bee 2.6.3 As unidades de disposiggo acentual nos versos, surgidas das alterndncias binéria, ternéria e quaterndria, sfo as vezes chamadas células métricas ov células ritmicas (1). Designam-s, também, por analogia a versificagfo greco-latina, como “pés”, termo que deve ser entendido com muito cuidado, dada a mudanga da nogao de quantidade, em que se baseava 0 sistema versificat6rio greco-latino, pela de intensidade, base do nosso. () PROENGA, M. Cavalcanti ~ Ritmo e Poesia, Simdes, Rio, 1985. 8 Rogério E. Chociay 2.6.4 A pura distribuigfo intensiva no alinhamento silébico do verso representa o primeito dado para a aferigfo de seu andamento. O segundo dado, mais importante, consiste no maior ou menor grau de forga das proprias Wlabas rolevantes, cuja variagfo define o contomo intentivo de cada verso. ‘Aqui, as fracas subordinam-se as fortes, cujo nimero e posigfo é que tomam distintos versos idénticos pela extenso e esquema genérico de alternincia. £ © maior grau de forga da 2.8 e 6.2, em relagdo as demais sflabas internas com intensidade relevante (4.2 ¢ 8.8), do verso “Ac solvas sinwosns da snudade” (Vinicius de Moraes) 12345678910 ee eee ae que the toma peculiar © contorno intensivo, distinguindo-o, por exemplo, do verso “O sentimento da candura eterna” (Tobias Barreto) 12345678910 ele ee em quo o msior grau reside justamente na 4.2 6 8.8, sondo menor o da 2 6.8 sflabas. Ambos os verso$, no entanto, inscrevemse em idéntico fundo de alternincia bintria de fracas e fortes entre fraqu(ssimas: 2-4-6.8-10, ° 2.7 Um verso pode nao trazer qualquer surpresa quanto A sucessio de vogais € consoantes no alinhamento —.e quanto a este aspecto nada o diferencia de uma seqiéncia prosaica similar. Ou, 20 contrdrio, pode apresentar mais ov menos efeitos de teiteragHo e contraste de fonemas em seu transcurso. Versos como “‘Babujadas por baixos beigos brutos” (Augusto dos Anjos) Ny OANA tém a0 seu andamento acentual acrescido um andamento fonico, que se realiza com maior ou menor simetria por meio de processos de reiteragao (do 5, do s, ov de tragos comuns) e contraste (do j e do x, homorganicos contrastando pelo trago da sonoridade; das vogais que principiam alternando-se entre abertas e fechadas ~ a/u — e depois se encaminham para as trés finais fechadas; do p, que apesar do contraste de sonoridade Teoria do Vers 9 acomodase perfeitamente na seqiéncia reiterativa; note-se a propésito as duas seqiiéncias: bbj/pbj) de fonemas, cujo resultado, quando menos (1) implica 0 surgimento de uma tessitura de sons realmente enriquecedora do verto em que se realizam, 28 Inferemse, conseqllentemente, duas preocupagdes iniciais a motivar 0 estudo do verso: a) o andamento intensivo, resultante da disposigdo e valores de forga das silabas; b) 0 andamento fénico, surgido dos processos de reiteragdo e contraste dos elementos da matéria fonica no verso. Pelos exemplos apontados e comentérios feitos, vé-se desde logo que ambos podem atingir suma complexidade. 2.9 Vé-se por esta generalizago que estamos a deixar de lado dois fatores — entoagio ¢ duragio — ¢ isto 0 fazemos nfo por consideré-los desprez{veis 20 estudo do verso e da estrofe, mas pela falta de obras especializadas sobre ambos os fatores no portugués, em nossa reduzida bibliografia (*). E por demais evidente que todos os fatores supracitados contribuem de modo decisivo, na realizagio do poema, e isto a ponto de podermos afirmar sem medo que 0 verso possui um andamento também de ordem entoativa: 0 fato de 0 sistema versificatorio basear-se na intensidade nfo implica a desimportancia da entoago, j4 que ambos se imbricam e interpenetram de muitos modos na consecugdo da cadeia fonica. O proprio enfoque em termos de duragdo das silabas ¢ das pausas necessério, dada a importancia que exercem na teallzago coneteta de, cada verto! ao compararmos vertos absolutamente impausados em seu transcurso a versos internamente seccionados por duas ou mais pausas sensiveis, verificamos que a duragio dos primeiros € bem menor que a dos segundos, embora pertengam ambos a esquemas silébicos ¢ intensivos idénticos. Isto estaria a denunciar, em termos de duragdo, uma espécie de pauta temporal, bastante flexivel, dentro da qual muitas possibilidades de realizago existem para um mesmo tipo de verso, Os exemplares abaixo, de Antero de Quental, “Os combates eternos da Justiga!” “Respondeu: Cruz, eu sou a Natureza!” “Aide mim! aide mim! e quem sou eu? ! elaborados segundo um mesmo nimero de silabas ¢ esquema bésico 6-10, apresentam contudo diversa configuragdo, e uma leitura atenta apontard diferengas na duragio dos trés, resultantes da propria diferenga de duracao de algumas sflabas e do surgimento de pausas sensiveis. (1) Evidentemente, no estamos preocupados, no momento, com o enfoque mais importante desses efeitos (ordens de motivacdo o sugestio), mas tentamos destacar seus resultados primrios na mecanica do verso. (*) Gostariamos muito, ais, de receber subsidios a respeito, ja sob forma de indicagao bibliogrifica, ou de remessa de estudos especializados, para aumentarmos ‘nosso campo de visfo. 10 Rogétio E. Chociay 2.10 Estas sio, em suma, as nogdes fundamentais sobre a teoria do verso tradicional, que nos capitulos posteriores procuraremos desenvolver, dentro das nossas possibilidades e conhecimentos, 3. Os versos e suas medidas 3.1 Existem dois modos distintos de computar as silabas dos versos ¢ aferir © primeiro, tomando por base 0 padrdo agudo para finais de versos, nflo leva em consideracfo na contagem a8 sflabas posteriores & ditima forte de cada verso; o segundo basela-se no padrdo grave, computando sempre uma silaba além da iltima forte. O primeiro sistema é conhecido, usualmente; como contagem francesa; 0 outro, como contagem espanhola, embora ambo' ‘fo sejam empregados unicamente por esses dois povos de lingua romantica: “De um modo ou de outro, o fato ¢ que as linguas romanicas se acham divididas no modo de contar as silabas dos versos, alinhando-se de um lado o provengal, francés e portugués, de outro o italiano e o espanol.” a). 3.2 Exemplifiquemos: 2-5-7 Que temas modula o vento 12345 6f7js 2-5-7 Vagando por sobre o mar? 12345 6/7 1-5-7 Vento é simplesmente vento, 12345 6)7/8 1-5-7 Mar é simplesmente mar . .. 12345 6[7! (Tasso da Silveira) s versos da quadra acima possuem a sétima como sua iiltima silaba forte. A contagem francesa vai até ai, desprezando as silabas consequentes: (1) RAMOS, Péricles Eugénio da Silva - Sistemas de Contagem dot Versos, in “O Verso Romintico ¢ Outros Ensios”, Conselho Estadual de Cultura, $0 Paulo, 1959, 5. 12 Rogttio E. Chociay cada verso € computado em sete silabas. A contagem espanhola, servindo-se do padrdo grave, conta sempre uma silaba a mais se o final de verso for agudo ¢ despreza uma sflaba se 0 final for esdrixulo, Os mesmos versos, assim, com as mesmas potsibilidades de realizagS0 sildbice, 123456789 (agudo) (grave) (esdrdxulo) receberio, conforme o padrio de contagem, diferentes denominagée: heptassilabos (contagem francesa), octossilabos (contagem espanhola).. 3.3 Até hd pouco menos de dois séculos, a contagem dos versos nas literaturas portuguesa ¢ brasileira era feita pelo padrdo grave, tendo em seguida surgido a instituigdo da contagem francesa. Um erro de perspectiva e Informagdo histérica fez com que se atribuisse o estabelecimento deste aiitério a Antonio Feliciano de Castilho, que em 1851 publicara o seu Tratado de Metrificacdo Portuguesa, torriando-se comum entre os tratadistas & tle posteriores a expresso “Reforma de Castilho” para caracterizar 0 autor € 4 époee da implantngdd da fistema, Nada obsiante, Mello Nobrega, em fundamentado ensaio (1) provou cabalmente que, apesar da ressondncia do Tratado e do mérito divulgador de Castilho, o privilégio de tal instituigo cabe a Miguel Couto Guerreiro; este, jé em 1784 (77 anos antes de Castilho), publicara 0 Tratado de Versificacdo Portuguesa, no qual adota a contagem bica até a dltima tOnica, Mello Nobrega cita, inclusive, parte da regra IX do ‘manual de Couto Guerreiro: “Contando até o acento dominante (Que basta para o verso ser constante) Dez sflabas 0 herdico inteiro tem...” © que deixa fora de davidas a precedéncia hist6rica. O livro de Couto Guerreiro tomou-se bastante conhecido em Portugal e é de causar espécie a ‘omissdo que dele faz Castilho em sua obra; este, por esta e outras raz6es, veio a ser considerado 0 verdadeiro inovador. Mas a verdade fica: a despeito dos méritos indiscutiveis € do alcance divulgador de sua obra, o terreno estava preparado. 3.4 Outro livrinho bastante divulgado foi o Tratado de Versificagdo, de Olavo Bilac & Guimaraes Passos, que seguiram a risca os ensinamentos de (1) NORREGA, Mello ~ Couto Guerreiro ¢ a “Reforma de Castitho”, in “Arredores da Poesia, Consctho Estadual de Cultura, Sio Paulo, 1970, pp. 120-127. Teotiado Verso 13 Castitho. A custa da divulgagio dessas e de outras obras nelas calcadas, a ccontagem francesa generalizou-se para as versificagdes portuguesa e brasileira, tendo sido bem poucos os que tentaram retornar & contagem de padrio grave. Entre estes, podemos citar apenas of que conhecemos: Manuel da Costa Honorato (1) ¢, mals recentemente, Sald Ali (2). Este dltimo defende e segue convicto 0 padrio grave, estribado no fato de ser esta a terminagio predominante das palavras ¢, conseqiientemente, dos versos de lingua portuguesa. As ligdes de Said Ali foram retomadas, ultimamente, pelo professor Leodegério A. de Azevedo Filho (3). Aliés, pode-se pereeber entre 0s estudiosos de hoje alguma vacilagdo quanto ao emprego dos dois sistemas, ‘embora esteja mais pesado o lado da balanga que pende para a manutengdo da contagem francesa. 3.5 Em vez de tomarmos partido por um sistema ou outro, devemos ter em mente que eles nfo passam disto: sfo apenas sistemas de contagem; posteriores ¢ no diretamente pertinentes & criac3o poética. Uma polémica sobre ambos nfo chegaria a solugdo nenhuma, jé que se podem compulsar argumentos.vélidos para a defesa de um ou de outro sistema. Nossa preocupagao deve sair desse metricismo exagerado ¢ visar a explicagio do desenvolvimento da linha melédica do verso e da estrofe, na qual em certos casos podem-se considerar despreziveis as silabas excrescentes a iltima forte; outros, porém, tais silabas se tornam atuantes (por exempla; nas oposigves entre segmentos terminals esdrdxutos « ayudos, atdranulos ¢ Bravos, graves 6 agudos, rimantes ou nfo: assim também nos versos menotes de cinco silabas, em que as sflabas conseqentes sio muilas vezes imprescind{veis 20 andamento; acrescente-se que 0s efeitos da rima vo além da altima forte). Por tudo isso, vemo-nos forgados a ficar numa média distancia confortével: mantendo embora a contagem de padrdo agudo, por usualissima que 6, no deixaremos de fazer as aproximagdes necessérias & de padrdo grave. Em verdade, certos fatos de nossa versificago ~ o do verso composto é um deles ~ sf ficam satisfatoriamente entendidos ¢ explicados através desse sistema, que informou a técnica versificatéria de alguns de nossos poetas arcadicos rominticos. (1) HONORATO, Manuel da Costa ~ Synopses de Eloquencia ¢ Poetica Nacional, Rio 1870. (2) ALI, Said ~ Versificagdo Portuguesa, LN.L., Rio, 1948. (3) AZEVEDO FILHO, Leodcgitio Amarante de ~ Estruturalismo e Critica de Poesia Ed, Gernasa, Rio, 1970. 4. Processos de acomodacio 4.1 A feitura do verso pressupde 0 conhecimento e dominio téenico de uma série de processos de acomodagio silébica e acentual, para que se atinja 0 esquema desejado, A jungo ou « sepuragiio do vogals om contato, o ucrdscimo ou a supressto de sflabas, o recuo ou o avango do acento forte vocabular sto algumas destas solugdes que, atuantes ou latentes na fala, ganham no versejar valor operatério (1). 4.2 0 poeta assimila 0 acervo mel6dico da lingua para construir 0 verso, 0 que se toma possivel mediante a reutilizagdo do material e dos recursos que aquela the faculta, Estabelecem-se, deste modo, em termos de técnica versificatéria, os meios com que alcangar um fim — a harmonia mel6dica do poema. Nao se adultera; reelabora-se. Nessa passagem de nivel, o natural e espontineo da fala requinta-se ¢ formaliza-se através da técnica versificatoria, Ha em todo processo de acomodagio um quantum de naturalidade, relativo 40 primeiro nivel, e um quantum de funcionalidade, ditado pelo segundo. 4.3 Aqui, as palavras vale como grupos de silabas que se atticulam num Conjunto medido. Nao se trata de mera justaposiggo: a contextura silébico-acentual de cada palavra nem sempre é estivel, o mesmo acontecendo © cin mwlor ewcula - quando amogtadas as paluvras nis saquéncla do verso. Tudo se reduz. a um jogo de silabas, acentuadas ou ndo, estaveis ou nio, que se devem harmonizar segundo uma medida para ganharem a condigio de verso. O conhecimento dessa dinimica é em grande parte, 0 proprio (Segundo o enfoque com que tim sido estudado, exes expe cites expotintes resteram tole eas figures e posse ou de de, Tiga de aoe oe -metaplasmos, licencas ou liberdades poéticas, etc. 40, Few le Teouia do Verso 15 conhecimento das fronteiras sildbicas, que jé na palavra podem apresentar boa margem de oscilagdo nos casos de relagbes de contato a) vogal x vogal; ) consoante x consoante; intensificando-se tal indice no estabelecimento _das_fronteiras intervocabulares, que apenas so estiveis quando a relagio € consoante x vogal € em quase todos os casos de consoante x consoante, porém extremamente instaveis nos casos de vogais em contato. 4.4. Antes de comegarmos o estudo dos processos, falemos sobre um fato do idioma que apresenta bastante importincia para a correta escansio dos versos. Referimo-nos a ligaedo (1), associagio natural da consoante de fim de palavra (L.RSZ) A vogal inicial da palavra seguinte, formando-se deste modo uma silaba interverbal, Assim em: “O teu pé, sutil e breve” (Antero de Quental) Jo}teu/pé/su/tifle/bre/vel ““Empresta-me a voz ingénua” (Antero de Quental) Jem/pres/ta/mea/vo/zin/gé/nua/ “Para trazer a extrola namorada De homens e deuses a cabeca louca” (B. Lopes) [palra/tra/ze/racs/tre/la/na/mo/ra/da/ Idcho/men/seeu/se/sa/ca/be/;a/lou/ca/ 4.4.1 Ocorre também a ligagdo, mas com o desenvolvimento de um “fonema de transigo” (2), sempre que a palavra anterior termine por & ou “Quem as cordas estalou? ” (Antero de Quental) Ique/nhas/cor/da/ses/ta/lou? / “Bem m’importa a mim o mundo” (Antero de Quental) Jbem/m'im/por/taa/mi/nho/mun/do/ “Assim € que vamos ambos” (Antero de Quental) Jalssi/nhé/que/va/mo{sam/bos/ 4.4.2 H4 também 0 caso da relago do -b de sob com vogal seguinte, embora ndo se trate propriamente de ligagio: idioma ¢ avesso a finais de palavra oslusives, mative por que mu situs pulayee, # om voodbulas advindos de outras linguas que apresentem tais terminacdes, desenvolve sempre uma vogal (por paragage: clube, lorde, bonde, etc.), de modo que na relagdo com o fonema seguinte a solugio ocorre-por sinalefa, quando tal fonema é vocdlico; () CAMARA JR., Joaquim Mattoso ~ Estrutura de Lingua Portugues, 3% ed. Voaes, Rio, 1972, pp. $0-51. (2) SILVEIRA, Souza da ~ Fonética Sintética, Simdes, Rio, 1952, pp.30-31. 16 Rogério E. Chociay quando 0 fonema seguinte € consonantico, a oclusiva mais a vogal paragégica se isolam numa sflaba: “Sob as vagas altaneiras!" (Fagundes Varela) ‘sofbins/va/ ga/sal/ta/nei/ras/ “Sob indspito solo e estéril estremece” (Raimundo Correia) /s0fbil/n6s/ pi /to/so/loees/té/ri/les/tre/me/ce] ““A paz sob teu véu!” (Fagundes Varela) Jalpaa/so/bi/teu/véu/ ""Sob nuver lutulenta” (Fagundes Varela) (So/bi/nu/vem/lu/tu/len/ta/ “Sob leivas, onde ninguém poe roseiras” (Guerra Junqueiro) {sofbiftei/va/son/de/nin/guém/poe/ro/sei/ras/ “D'azul réseo crisol sob céus d’oiro” (Alvares de Azevedo) Halzul/r6/se0/ cri/sol/so/bi/oéus/doi/r0/ “Jesus de Nazareth! — logo exclamam" (Fagundes Varela) ‘Ne{sus/de/Na/za/te/ti/1o/goex/cla/mam/ “Um bric-a-brac de estima” (B. Lopes) Jumnfbrifca/bra/qui/dees)ti/ma/ 4.5 Feitas estas ressalvas, podemos observar os processos de acomodapéo (1), que constituem um aproveitamento do potencial de oscilago das fronteiras sldbleas © dos acentos, insttuindo-se como meios de transformar um corpo silébico (instével) num corpo métrico (estdvel). Podemos classficd-los evn, 1) processos de acomodagio silébica: implicam na contragio ou na expansio do corpo sildbico do verso; b) procestos de acomodagdo acentual: visam tegulatizar 0 curso Intensivo do verso em fungdo da cadéncia extr Entre 0s primeiros destacam-se a elisdo, a sinalefa a sinérese (contrasdo); a ampliagdo, a dialefa ea diérese (expansio). Enire os segundos, a sistole ¢ a didstole. 4.6 A listo, a sinalefa © a sinérese efetuam a contrago do corpo silébico. Pode-se ter uma boa idéia do grau de funcionalidade dessa contragdo, 20 examinarmos o verso de Guilherme de Almeida: (1) Os s6tulos ticenpas ou tiberdades potticas, conforme foram conhecidos durante ‘muito tempo, levaram a entender tas processos como exclusivos do labor postice Portanto, artificiosos, 0 que representow grosseiro emo de perspective, Postergamo-los para evitar essa conotagio pejorativa. Teoria do Verso 17 “E 0 fogo em que se abrasa uma alma a outra alma uni em que, separadas as sflabas dos vocdbulos isolados, /4{o]fo/go/ern/que/se/a/bra/sa/u/ma/al/ma/a/ou/tra/al/ma/u/ni/da/ Contamos vinte e duas a0 todo, Com a.contragio causada pelos processos de acomodagio, 123 45678 9 w ui [60] f0/goem| que/sea/bra/sau/maal/maaou/traal/mau/ni/da/ esse corpo de silabas estéticas se recompde num conjunto de freze silabas dinimicas (doze, segundo a contagem francesa: verso alexandrino de esquema intensivo 2-6-8-10-12). 4.7 Consiste a elisfo (latim: elisione) na supressdo de fonema ou fonemas em qualquer ponto do corpo sildbico, visando reduzit 0 nimero de sflabas 20 esquema desejado (1). Assim considerada, distinguimos trés casos de elisdo- 4.7.1 Eliséo da primeira fraca de duas vogais em contato pertencentes a palavras distintas (2), como em: “A restinga d’areia onde rebenta” (Alvares de Azevedo) e “Ap6s um’hora de gozar maldito” (Fagundes Varela) r . “Estrela d’oir0, no purptireo leito” (Alvares de Azevedo) é “Na rufna alheia ergueste o teu futuro” (Fagundes Varela) r “Nao basta ainda esta igndbil farsa” (Fagundes Varela) t “So anéis da cadeia, qu’arrojou-me” (Laurindo Rabelo) t (1) No aff de estabelecermos terminologia mfnima indispensivel, sem fugirmos da exatidlo ¢ sem recairmos na confusfo de termos atuais, achamos que a palavra ellsfo Pode perfeitamente designar, no extudo do verso, qualquer tipo de supressdo em Gualquer parte do corpo silébico. Com isso, evitamos 0 baralho de termos come aferese, sincope, apdcope, haplologa, eclipse, ttels noutra dsciplina, dispenssveis ‘aqui, onde podemos rotular de uma 36 vex um s6 processo generico. fsto porque a Preocupagio do poeta nfo 0 corte na palavra em sl, mas em qualquer ponte do {210 ssilébico. E claro que a supressio ocomerd na palavra e no ponto. desta facuitado por uma tendéncia do idioma. (2) Este caso ¢ freqlentemente considerado como de sinalefa, IX Rogério E. Choviay “Vem um’onda bonzngosa” (Gongalves Dias) 4 7.2 Blisio da ressonaincia nasal da primeira de duas vogais em contato ntes a palavras distintas (1). E importante que nao se confunda este caso de elixio com a sinalefa que se verifica logo apés: a supressio da ressondneia nasal toma possivel a unio das duas vogais numa sé sflaba; caso contrério, manter-se-iam ambas separadas. Em alguns casos ocorre a elisio da ressoniincia e também da vogal. Sirvam de exemplo: 4, perten “Tu cum sorriso as ftias the assossegas” (Garrett) “"Co'a face na mao eu te vejo ao luar” (Alvares de Azevedo) “C’o movimento das cang®es governa” (Laurindo Rabelo) “Rogando co’as franjas o trono de Deus” (Goncalves Dias) “Com perfumes na aurora ¢ & noite co'harmonia” (Raimundo Correia) “Mos que com a chuva de meus prantos roro” (Alberto de Oliveira) ah “Com a incleméncia do céu e a dureza da sorte? ” (Olavo Bilac) h Como se observa, este tipo de eliséo em nosso idioma at reposigao com, sendo menos encontradigo em outros casos: ge comumente a “Que amostra da corage’ a cor e a seiba” (Tobias Barreto) “A virge’ a nao quer deixar” (Gongalves Dias) “Estd finda a romagem: um velho chefe”” (Fagundes Varela) hh “Ail a ndo serem as vividas lembrangas” (Fagundes Varela) A “Langando um olhar obliquo. . . rua esté deserta.” (G, Junqueiro) h “Nem nuve’ alguma tolda essa solene cena” (Raimundo Correia) (1) Eeatipse Teofta do Verso 19 “Que a nuvem azulada que a aurora matizs fh (Aureliano Lessa) Inexistindo a necessidade de contragZo, sera funcional a manutengio da ressonincia e, conseqiientemente, da separagdo das duas vogais em silabas distintas “Uma cruz comos bracos bem abertos” (Laurindo Rabelo) ““Comyo gallio verde duma giesta em flor” (Guerra Junqueiro) “"Comyalaridos de ingénuo riso” (B. Lopes) “*Conduzi comyamor a Suprema Conquista (Félix Pacheco) “Comjos olhos febris furando a escuriddo” (Olavo Bilac) 4.7.3 Elisio de fonema ou sflaba articulatoriamente débil, em qualquer parte do corpo sildbico do verso (1). A despeito de a causa deste tipo de ellsdo ser no verso uma s6 — a redugdo do corpo sildbico ao esquema — as solugdes encontradas pelos poetas no se prendem exclusivamente a um ato mecinico € discriciondrio de elidir fonemas ou silabas de qualquer palavra e em qualquer ponto da palavra. Eles se servem, em primeiro lugar, da tradicfo ¢ convengdo da linguagem poética, que Ihes permitem langar mo de variances = também de arcaismos — com fonemas ou silabas clididos; segundo, essas varlantes podem ser emprestadas do coloquial de sou tempo ¢ lugar; tereeiro, tratz-se de solugdo pessoal do poeta que, aproveitando-se da debilidade articulatéria de certos fonemas ou sflabas (por exemplo, nos proparoxitonos, da vogal imediatamente posterior a forte), despreza-os, se necessdrio, no cOmputo sildbico de determinado verso (2). A rigor, apenas este ultimo caso poderia ser considerado como elisdo realmente praticada pelo poeta, j4 que ‘nos anteriores ocorre de fato uma simples op¢do entre duas formas de extensdo diversa de um mesmo vocdbulo. Dois problemas surgem quanto a estas solugdes de eli ©, a que fonte das trés supra-indicadas se prende determinado exemplo? 2.0, a palavra com fonema ou sflaba em elisio estd no verso por necessidade de redueio do corpo silébico? Quanto 20 primeiro caso, ndo sabemos de um estudo de folego nas literaturas portuguesa € brasileira, a ndo ser informagdes dispersas. Aqui nos interessa particularmente © segundo, em que a funcionalidade do processo pode ser verificada: a) pela escansio do verso, e b) pela constataco do emprego do mesmo vocdbulo, em outros versos do mesmo poeta, sem silaba elidida. Esta verificagdo separaré os casos realmente funcionais de elisio daqueles que representam apenas a submissdo do poeta a um hdbito prosédico, como freqientemente se observa em alguns de nossos poetas romanticos. Passemos ao rol de exemplos: (1) Metaplasmos por supressio: aférese, stncope, apdcope, haplologia, (2) Neste time caso, haveria uma questio a resolver: o fonema ou a silabe seriam realmente elididos, ou teriam a possibilidade de uma emissio com debilidade articulatra tal, que no perturbariam o andamento do verso? 0 Rogério F. Chociay * “Longo tempo assim esteve, mergulhado” (Fagundes Varela) f “Mais trémulo que os juncos ao sopro do norte” (Fagundes Varela) a “Dos discipulos os doze que elegera™ (Fagundes Varela) a “Vou contar tim por tintim” (Fagundes Varela) ‘ tf “Té que por fim caiu na eternidade” (Laurindo Rabelo) Z “Beijada pelos 26firos — c'roada" (Laurindo Rabelo) B “Quando, livre, 0 esp'rito aos céus remonta” (Laurindo Rabelo) T “Com as ondas cérulas, com as auroras palidas” (Tobias Barreto) a “No célice das flores puras” (Tobias Barreto) E No chao dos timulos expresses penosas” (Tobias Barreto) a “De raiva e desespera Tr “Do val de Josal plas gargantas” (Alvares de Azevedo) t “Fora 1é i um sonho — e um s6 desejo” (Alvares de Azevedo) i “Que um poeta nao val meia princesa” (Alvares de Azevedo) E Em consolos da esperanga, em céus abertos” (Alvares de Azevedo) é “Desconhecendo o temor, 0 espago, 0 tempo” (Gongalves Dias) ah io” (Tobias Barreto) Teoria do Verso 2 “Quem sofre ou tem prazer, ou ama, ou ‘spera" (Congalves Dias) f “Faz que cu viva, Senor! di-me de novo” (Casimiro de Abreu) E “Diz“lhe que mais que a ti, mais me queimara” (Almeida Garrett) é “Sec'los de ferro de enrugadas frontes" (Almeida Garrett) h “Nessa imensa soiddo que me circunda” (*) (Almeida Garrett) “Que inda se ignora e, p'ra sor A “Ter nascido em aspérrima soiddo, (*) (Antero de Quental) se esconde” (Antero de Quental) ‘Stepes infindaveis que ninguém descreve" (Guerra Junqueiro) f ‘N'aldeia a Plicidad junqueiro) z “E marmor da Lacénia. O teto caprichoso” (Olavo Bilac) E “Nessa pedra ajoelhou rezando, dés que entrara O sol té que o nascente enchera com a luz clara” (Alberto de Oliveira) r “Seja dos olhos teus a soiddo que interrogas” (*) (Alberto de Oliveira) “Id na tela, em cada ingulo, o esbogo inteligente” (Luis Delfino) i “Oh! terra em convulsdes ep'léticas devias” (Raimundo Correia) T “Nem te desc’roam mais da neve dessas cis!” (Raimundo Correia) & (*) Nos trés versos assinalados, 0 arcaismo soidao (dissflabo) entrou em lugar Ue soliddo (trissilabo), cuja silaba excedente extravazaria 0 esquema. Rogério E. Chociay Para comprovar-se a funcionalidade do emprego de vocdbulos com elisio, Comparemtse os exemplos seguintes com alguns anteriores, dos mesmos poetas: “Levantaram-se trémulos, medrosos” (Fagundes Varela) “Afastam-se os discipulos de Cristo” (Fagundes Varela) ““As horas da existéncia coroadas” (Laurindo Rabelo) “Dai vem que o espirito, voando” (Laurindo Rabelo) “Uma estrela no ailice de um lirio” (Tobias Barreto) “TE o vale da morte” (Alvares de Azevedo) ' esperangas que sonhei contigo” (Alvares de Azevedo) i na tarde, misteriosa ¢ bela” (Alvares de Azevedo) “Vale todo um harém a minha bela” (Alvares de Azevedo) “Que os sécwlos vindouros nos aguardam” (Garrett) "este ar da solido vou recobrando” (Garrett) ara 0 céu a minh'alma sobe e canta” (Antero de Quental) nesta solidddo que me consumo” (Antero de Quental) “Mas se secreto mal a solidéo te arrasta” (Alberto de Oliveira) “Talhar no mérmore divino” (Olavo Bilac) em que, desaparecendo a necessilade de contragdo, as palavras aparecem na sua forma atual e integral. 4.8 Ampliagio, como se depreende pelo proprio nome (1), & processo de aumento do corpo sildbico para satisfazer ao esquema. Ili duas faces distintas do processo de ampliagao: 4.8.1 A simples opgao pela mais extensa de duas formas de um mesmo vocdbulo (levantar x alevantar, limpada x alimpada, baixar x abaixar, bastar x abastar, feliz x felice, ¢ outras que tais), valendo aqui as observagdes, mutatis mutandis, que se fizeram em 4.7.3 sobre a elisio. Eis um bom exemplo de Bocage (soneto “O Colo de Marilia”), em que, no primeiro verso, © poeta faz. uso da forma Mavorte, “Mavorte, porque em péefida cilada” cujas trés silabas sio necessérias para o esquema decassilabico do verso. Porém ‘no décimo-segundo verso do soneto, o poeta emprega a forma Marte, “14 Marte arroja as armas, e aplacado” ‘cujas duas silabas sdo suficientes ao esquema, (1) Conforme nossa arientacén até aqui, achamor de bom alvitre postergar 03 tcemos Protese, epéntese, paragoRe Ou, epltese. Teoriqdo Verso 23 4.8.2 Outro tipo de ampliaedo, bastante caracteristico, é eventualmente ‘empregado por poctas brasileiros, embora seu indice de ocorréncia tenha sido bem maior na fase romintica: 0 desdobramento (1). Tratase do desenvolvimento de uma vogal no meio de certos grupos de consoantes: “.. oclusiva ou constritiva labial surda, seguida de uma oclusiva, uma constritiva ou uma nasal, havendo ento uma discontinuidade fonética, de uma consoante a outra, por uma emissio vocélica minima, como transicio articulatéria, que, na lingua popular do Brasil, se desenvolve numa vogal ¢ dissocia 0 grupo consonéntico; ex.:icto, afti ritmo, absoluto, advogado, fixo (com o grupo /ks/ indicado pela letra x), ou, em posicdo inicial no vocébulo: Ptose, psicologia, tmese, cténio.” (2). O aproveitamento funcional dessa possibilidade €, no verso, evidente, requerendo menos explicagdes que exemplos: “A quem foge da luz obstinado ¢ cego" (Fagundes Varela) Jolbislii/naldo! “Aos dentes vis de perros abjetos” (Fagundes Varela) /albiljeTtos! “Que a multidzo admira” (Fagundes Varela) JaldiTmilral “Submissos se curvam” /sulbilmilssos! “Reflexos de Deus” (Fagundes Varela) Ire/feTkilssos! “Como a lagoa estagnads, impura” (Fagundes Varela) Jes/ta/guilnaldal “Reptis saltam condores” (Castro Alves) IreTpiltis! “Eentio diris: “objeto” " (Gongalves Dias) Jofbifjeltol “Se a dor do pai nio absorve inteiro” (Gongalves Dias) Jalbilssorlvel “Contudo os olhos d'ignobil pranto™ (Gongalves Dias) Filguilnaloit! jgundes Varela) (1) Julganos methor, por mais claro, que suarabéct! ou anaptixe, termos usuais para a ‘esigragio do fendmeno. 5 (2) CAMARA JR., Joaquim Mattoso - Dicionério de Filologia e Gramética, p. 174. 24 Rogftio E. Chociay "“Ninguém mais observa o tratado” (Gongalves Dias) Jolbisserlval “Na mio de Ptolomeu” (Tobias Barreto) {piltolfolmeu! “Como um canto de morte ao ritmo de um sonho” (Fontoura Xavier) ilo! “Que a papalvos perplexos empulha” (Emilio de Meneses) . IpetT pléTkilssos! “Faz os objetos” (Mauro Mota) lofbifjeltos! 4.8.3 Os poetas romanticos serviram-se bastante do desdobramento de Brupos consonantais nessas condigdes, mas depois esse indice dectesceu bastante, embora os exemplos possam ser ainda encontrados em poetas Posterloscs, Multox dester, no entanto, evitaram-no ostensivamente, como Augusto dos Anjos: “Benigna agua, magndnima e magnifica” “Assim também, observa a ciéncia crua” “Cai de incégnites cripras mistoriosas”” “Como as estalactites duma gruta? !" Nestes versos, a divisdo das palavras grifadas €: be/nigina, mag/ni/ni/ma, i/ca, ob/ser/va, in/obg/niftas, crip/tas, es/ta/lac/ti/tes, nao ocorrendo. nento. 4.9 A sinalefa (grego: synaloiphé, = mistura, fusfo; pelo latim synaloepha) ea sinérese (grego: synairesis, = contragdo; pelo lati synaerese) operam a contrag3o de vogais em contato numa s6 silaba dinamica. O indice de Oscilagdo das fronteiras silébicas de vogais em contato é bem maior intervocabularmente, © que faz da sinalefa © processo mais comum na versificagzo, 4.9.1 A sinalefa consiste na acomodagio, numa sb silaba métrica, de duas ou trés vogais em contato de palavras diferentes. Pode implicar na absorgio, por crase, ou na semivocalizagdo de todas menos uma que passa a ser a base de um encontro (ditongagao, tritongago), sendo também comum a simultaneidade (crase-ditongaglo, por exemplo): “E mais se afrouxa.a agreste sinfonia” (Gongalves Crespo) “Huma nuvem no céu queé minha, Desce” (Alberto de Oliveira) “"Sacode-a e diz: acorda, eu vim matar-te!” (Tobias Barreto) Teoria do Verso 25 “Afronta 9 sol, provoca-o frente. frente” (L.G. Junior) “Salve, 6 sublime filha do Senhor!” (L.G. Junior) “Cresce a invernosa noite, um frio intenso” (LG. Junior) “Triste-a escutar, pancada por pancada” (Augusto dos Anjos) 4.9.2 A sinalefa € a ocorréncia normal quando as vogais em contato sio fracas. Sendo nasal a primeira vogal do encontro, a ocorréncia comum é a separagao de ambas em silabas distintas, embora em alguns casos possa ocorrer a sinalefa apés a elisio da ressonincia nasal. O problema torna-se mais complexo se apenas uma das vogais do encontro ¢ forte: aqui, dependendo da natureza da vogal desacentuada, pode haver a sinalefa ou manter-se 0 hiato. Nio nos € possivel, no momento, explorar 0 assunto, que aliés esti satisfatoriamente equacionado por Oiticica (1) na “Teoria dos Encontros Vocilicos”. Tratase de uma tese, se no perfeita, pelo menos bastante honesta ¢ que pode servir de ponto de reféncia para um melhor entendimento do problema. Também se recomenda a leitura de um trabalho de Hamilton Elia (2) feito Justamente a propésito da tese citada. 4.9.3 Sinérese: crase ou ditongagdo de duas vogais em contato no interior de um vocébulo. Na proniincia cuidada essas vogais constituem embora no coloquial apresentem certa margem de oscilagdo. A possibi de reversio ¢ aproveitada funcionalmente no verso: ““Rebentou ~ pelo Séara — de minh“alma” (Fagundes Varela) “Tremeu em ansias — se estorceu, recuou” (Fagundes Varela) “*No leito véem-na estremecida, ansiosa!” (Tobias Barreto) ““Escuma de esséncia ruim. ..” (Tobias Barreto) ““Sobre a estante do piano reluzente” (Gongalves Crespo) ““Feita de louco heraismo ¢ de aventura louca" (Olavo Bilac) “Como 0 lego da Biblia, morto no vergel” (Guerra Junqueiro) “E as vezes, quando o eterno Ideal me abrasa” (Alphonsus de Guimaraens) 'O caso nada tem de extraordindrio” (Alphonsus de Guimaraens) 'Na fronte real de rei dos reis vetustos” (Cruz e Sousa) “Era a elégia pantejsta do Universo” (Augusto dos Anjos) ““Aquele rujdo obscuro de gagueira” (Augusto dos Anjos) 4.9.4 Elisdo ou ditongagdo? Muitos lingiiistas nacionais consideram a ditongagdo como a maior tendéncia na lingua portuguesa do Brasil, a0 (1) ONICICA, José — Roteiros em Fonética FisioWgica, Téenica do Verso ¢ Dicdo, 15es, Rio. 1985, pp. 49-58, LIA, Hamilton ~ Fendmenos Fonéticot Ocorrentes no Verso, in “(Atas do) 2.9 Congresso de Lingua e Literatura”, Gernasa, Rio, 1971, p. 114. a 26 Rogério E. Chociay contrario do que ocorre em Portugal, que tende para a elisdo, Desta, entre 16s, haveria uns poucos casos. O fato de os poetas brasileiros, principalmente foménticos, praticarem muitas elisdes (1), marcando-as inclusive com o apéstrofo, seria uma trai¢do a esse status da lingua? uma espécie de lusismo versificatorio? A verdade é que o parecer supramencionado néo ganhou ainda uunanimidade; alids, sempre houve argumentos em contririo, lembrando que ‘ndo se conhecem, sendo superficialmente, os falares regionais do Brasil, nio sendo possivel, por enquanto, discemnir de modo inequivoco as tendéncias dominantes. 4.9.5 Elisio & sinalefa. H& casos comuns de simultaneidade lisdo-sinalefa, quando © encontro interverbal 6 de trés ou quatro vogais: a Primeira se elide, sobrevindo a sinalefa entre as restantes, O indice de ‘ocorréncia deste fato ¢ relativamente grande: “O teto é de mosaico, ¢ ornado de figuras” (Gongalves Crespo) 6 “O tempo, ¢ 0 sol, que vai passando, olhé:la”* (Luts Delfino) — “A cena o autor! a cer autor! a cena o autor!” (Artur Azevedo) rr r_ ~_ eva s6 velho eunuco, ¢ a escrava adolescente” (Luis Delfino) t— “Revelasthe a presenga 0 ar que estremece” (Alberto de Oliveira) t “Nao canta a cotovia: é a voz do rouxinol! (Olavo Bilac) i “Desvairas-me a razdo, tirasme a calma e o sono” (Olavo Bilac) i ““Acorda,¢ os olhos tem cheios de brilho” (Eugénio de Castro) _ ““E a noiva e ambos d’amores s'embriagavam” (Augusto dos Anjos) - 4.9.6 Verificamos algumas vezes casos de contracfo (sinalefa e/ou elisio) que podemos considerar extremos, ndo somente pela dificuldade de leitura como também de explicagao: (1) Estamos fazendo referéncia ao primeiro caso de elisfo, estudado em 4.7.1. Teoriado Verso 27 “Ao ideal aspira! a estrela aspir faci] ““E chegards ao ideal ea vida, o pomo” (Joao Ribeiro) facil “Qual vence na brancura: 0 corpo ou a nivea espuma? ” (Afonso Celso) fooual “Ao altar o sacerdote mesto e grave” (Afonso Celso) facal “Com a e6lica firia do harmata inquieto” (Augusto dos Anjos) feomaes a vida" (Jodo Ribeiro) E muitos outros poderfamos alinhar. Este problema ser comentado logo adiante. 4.9.7 Em sua funcionalidade, 0 processo da sinalefa vai além de muitas barteiras. Na dinamica do verso, 0 balizamento pausal entre certas construgdes pode desaparecer por virtude de sinalefa, sempre que a natureza das vogais limitrofes 0 permita. Dito de outro modo: a sinalefa, como também a elisio, no respsitam necessariamente a pontusglio, 0 que se pode observar em muitos dos exemplos trés-citados e mais nos seguintes: “Ble foge, ela grita... — Apito! — Ato segundo” (Artur Azevedo) “No leito me ergo. ¢ escuto o desolado Uivo do Invern, atroz, convulso, imenso. ..” (L.G. Junior) “Dormita:a luz do Sol the beija a loura tranca” (Goncalves Crespo) “Aproximei-me. O cho que piso estala” (Alberto de Oliveira) “Diz a palmeica: “Invejo.a! ao vir a luz radiante” (Olavo Bilac) “Hé de ter... Mas onde?_¢ quando? ” (Vicente de Carvalho) “Fumo ¢ cismo. Os castelos do horizonte” (Antero de Quental) “Nao queres que eu te beije! E 0 beijo é a propria vida!” (Guilherme de Almeida) 4.9.8 Os casos extremos arrolados em 4.9.6, bem como muitos casos em que a sinalefa (ou a elisfo) rompe o balizamento pausal de duas construgdes sintéticas, devem ser estudados com minicia e cautela, para que se chegue a resultados conclusivos, Nao se trata de condenar 0 uso antiga, pois o que foi feito ndo se pode mudar, Se a versificagio tradicional std fadida a um total desaparecimento, também nfo seria procedente este comentério. Nada obstante, se se pensa em termos de uma continuidade da versificagdo, 0 que no esté no campo do impossivel, uma observagio se faz necessiria. Na declamagio, pee., de composigbes tas modernos ou antigos, notamos que a sinalefa, embora surja como uma realidade métrica, é 28 Rogério E. Chociay em alguns casos freqiientemente evitada. Tivemos recentemente em mios @ gravasdo de “Carta”, de Carlos Drummond de Andrade, declamada pelo préprio autor; este deixa de fazer boa parte das sinalefas, embora sejam elas fnecensdrias metsicamente para perfuzer 0 ainhamento decassildbico dos versos (vg, “Eu mesmo / envelheci; olha, / em relevo,”). Joio Villaret, ao declamar © “Soneto ditado na agonia™, de Bocage, tem idéntica atitude, p. “Eu me artependo; / a lingua quase fria”), Sdo fatos isolados, que no entanto levam a pensar se nio estatia a teoria do verso necessitada de um contato maiot com a realidade da fala, limitando alguns de seus processos e solugdes, Por extravazarem de muito as possibilidades de uma declamagio aceitavel, 4.10 Pelo processo de dialefa ¢ pelo de diérese so separadas em silabas distintas, por necessidade de expansio do corpo sildbico do verso, as vogais de lum grupo que, se as circunstincias fossem inversas, também poderiam estar unidas numa 36 sflaba, por sinalefa ou sinérese, respectivamente. A dialefa (1) opera uma separacdo intervocabular. A diérese (grego: diairesis, = divisio; pelo latim diaerese), uma separacio intravocabular, 4.10.1. Bis dois exemplos tipicos de diérese: “Que pode dar saudade a saiidade”* (Camoes) “Nos elisios de amor endetisada” (Bocage) O primeiro ¢ excelente para demonstrar.ncs 0 dom{nio téenico do processo: a ‘mesma palavra — saudade ~ aparece duas vezes, na primeira com 0 encontro ‘au em ditongo, na segunda em hiato. A diérese & solicitada pelo esquema ¢ corre no segundo voctbulo scudade necessariamente; se ocorresse no primeiro, o verso perderia a acentuagdo fundamental da 6.8 silaba, deixando de se enquadrar no esquema herdico. 4.10.2 O conhecimento da proniincia do tempo ¢ lugar do poeta seria interessante para a cabal elucidagio de todos os casos de sinérese e diérese. A falta deste, 0 melhor ¢ estudarmos, comparativamente, na propria obra do Poeta, as ocorréncias dos mesmos vocdbulos com seus grupos vocélicos ora Unidos, ora separados. Com isso atingiremos, se nfo todos, pelo menos os exemplos cabalmente demonstrativos da técnica de sinérese ¢ diérese do poeta. Se um vocébulo € empregado por este com um grupo vocdlico sempre (1) Pensamos, a principio, empregar apenas sinérese © ditrese, para designar todos os tipos de contragio ou separacio de vogais, interou-intravocabularmente, Mas 0 termo sinalefa apresenta um uso bastante arraigado, e tememos causa apenas ‘gonfusto, Por isso, mantivemos sinale/e, para as junges intervocabulares, opondo-a A dialefa, para as separsgdes, do mesmo modo como sindrese e diérese se opbem no {mbito intzevocabular. 0 termo dialefa pode ser também encontrado, neste mesmo sentido, em MACRI, Oreste - Ensayo de Métrica Sintagmdtica, Editorial Gredos, Madrid, 1968, p46, Teoria do Verso 29 em hiato — ou, a0 contrério, sempre em ditongo — néo hi manejo Propriamente funcional, e nem se pode falar ai em processo: no jargéo do poeta, pelo menos, tal encontro € estatico e irreversivel. Pelo contritio, se ora corre a junclo, ora a separagdo, af sim poderemos falar de manejo consciente € técnico de sinérese ou de ditrese. Isto porque o hiato ou o ditongo funcionam por necessidade métrica, e 9 posta, por obedecer aos ditames do verso, ndo se atém nesses casos a um ¢ proniincia. Escolhemos para exemplificaggo, pelos motives apontfifos, um. tnico poeta (dos menos estudados): Tobias Barreto. Nele pudenfos rastrear a jun¢ao ou a separacdo de certas vogais nas mesmas palavras, confdime a necessidade do verso: (S) “Vem correndo anelante, ansigsa e ts¢mula”” (decassilabo) alia! (D) “Tao vivo! Batia-lhe o peito ansioso” ‘ (hendecassflabo) (aaToTe (Ss) “Legides que passam, candidas, purpures (decassilabo) el gies ae (D) “Sao legides que sacodem” (heptassilabo) NeTgiTSes! (Ss) “Eleva-me, que amar-te é voar. contigo” (decassilabo) Tar! (D) “Mas o martirio fez voar mink‘alma" (decassflabo) (wala (Ss) (heptassflabo) (D) _“Desgo ao inferno, Beatriz, por ti..." (decassitabo) Talal (S)__“Banhadas no esplendor que sai do piano” (decassilabo) /pilnal (D) “Nao; ndo recebas do piano os bafos” (decassilabo) Ipifalnol (S) “Cadaver santo e glorioso” {heptassilabo) Inlioal (D) “‘Aos combates, as lutas gloriosas” (decassilabo) (aloes! 4.10.3 Eis alguns. exemplos de dialefa, do mesmo poeta: “E atrds... ‘0/anjo palido da morte” (decassflabo) “E pensas que o/6dio finda? ” (heptassilabo) 30 Rogénto E. Choctay “Pela entrada feliz do novo/ano” (decassilabo) “Da luz que guardas como/um tesoiro” (decassitabo) “Da vida na ” (heptassitabo) (heptassilabo) possivel (heptassilabo) 4.10.4 Anotemos que os roménticos nunca hesitavam em manter ou forgar separagdes de vogais entre vocabulos ou no interior de vocdbulos, mas ndo faziam do recurso uma fatalidade, efetuando a jungdo das mesmas Sequiéncias caso o verso disso tivesse necessidade, Essa atitude, alids, estava em perfeito acordo com a tradigéo versificatéria em nosso idioma. Dizse de ‘nossos patnasianos que repugnavam ostensivamente o hiato, manifestando na teoria € na pratica verdadeira obsessao pela sinalefa e sinérese. Em termos de técnica predominante, isso pode ser considerado verdadeiro, mas possivel encontrar, mesmo em Raimundo Correia, Olavo Bilac e Alberto de Oliveira, exemplos como estes: “Da religio cristd, a verdadeira, a tnica, IcTiilgifo! Estupidos fazeis muitas religides!” IeelilgT@es! “Quando os muros Josué, pela terceira vez” WNolsué! “Josué respirando a oblera no olhar”™ [ojsu/é/ “E em tudo a mesma voz misteriosa passa” InnistteTosal “Como ela, num livor de névoas misteriosas” (Olavo Bilac) ImislteTrio/:as! “Posso agora morrer, porque vives!” Eo Poeta” IpoeTtal “Poeta! Deus creou as mulheres ¢ as rosas” (Olavo Bilac) IpoTeltal “De outra ¢ ignota regido, ventos do sul agrestes” Irelgiaol ““E irromperam na paz das regides supernas” (Alberto de Oliveira) IrelgiTes! ‘Num exame apenas parcial verificamos que em Bilac ¢ Raimundo a elisio da ressonancia nasal em com o, com a, etc., nem sempre se realiza, valendo tais (Raimundo Correia) (Raimundo Correia) ‘Tebriado Verso 31 seqiiéncias como duas silabas. Por outro lado, em Alberto de Oliveira, vocabulos como suave, misterioso, oceano, viagem, ideal, luar etc., tem seus encontros vocdlicos ora unidos ora separados por necessidade métrica. Acreditamos, por isso, que um exame de todos os versos destes e de outros poetas paranasianos poder-nos-é esclarcoer definitivamente suas reais atitudes ante a sinalefa ¢ a dialefa, a sinérese e a diérese. Isto pode por fim a opinides buseauas em exames de superficie, que usualmente levam a muitos enganos, 4.11 Os dois processos de acomodagéo acentual que estudaremos agora tepresentam faces distintas de um mesmo expediente — a translagdo da intensidade forte vocabular para a sflaba imediatamente anterior ow para a imediatamente posterior & posigio normal (1), como nestes versos de Augusto dos Anjos, ~Bra a elégia panteista do Universo” “Chupar os ossos das alimarias!” ‘em que: a) a palavra elegia teve 0 acento recuado por imposigio «io vers, pois com sua proniincia normal deixaria o verso de ser decassflabc:; b) a palavra alimdrias teve seu acento deslocado para a silaba -ri-, pelo mesmo motivo e, mais, para fazer rima com dias, como se pode ver pela quadra donde foi extraido o verso: “E por trezentos e sessenta dias Trabalhar e comer! Martirios juntos! Alimentar-se dos irmios defuntos, Chupar os ossos das alimarias!” Como se observa, o recuo ou o avango do acento so motivados pelo esquema do verso e/ou pela necessidade de rima. Quando nfo se trate de inovagto do poeta, que efetua a translaglo do acento em palavras que normalmente nko o permitem, muitas sfo as fontes a que se pode dirigir para obter ejustificar o deslocamento acentual: a) linguagem poética do tempo ou de épocas anteriores; ») oscilagao na pronincia do vocdbul ©) aproveitamento de formas arcaicas com o acento noutra posigo. 4.11.1 0 conhecimento da prontincia padrio de cada época & importante para verificarmos se houve realmente deslocamento intencional e (1) Como metaplasmos, © recuo e 0 avango do acento forte recebem o4 nomes respestivos de sisiole e didstole, espécies de hiperbibarmo, Tals teimos s80 dispenséveis na terminologia versificatria, 32 Rogério E. Chociay funcional do acento pelo poeta (1), ¢ igualmente importante é observar 0 vocdbulo noutros versos do mesmo poeta. Nada impede, por exemplo, que ‘um poeta traia a proniincia de seu tempo e lugar, empregando uma palavra em que & posigio do acento diferente da normal: o problema é verificar na sua obra se ele 0 faz sempre ou algumas vezes apenas; e, em qualquer caso, se a translagdo do acento surge por necessidade do esquema do verso ou & devid: outros fatores. Continua sendo aqui a funcionalidade o melhor critétio Wdentificador: se 0 acento é deslocado porque a conjuntura do verso o exigiv, hd processo de acomodagio; se ela ocorre, mas 0 verso no a necessarigmente, as implicagdes e explicagdes deverdo ser tratadas noutro campo, jé que fatores, outros que nao os estritamente versificatérios, levaram & mudanga da sflaba forte (2) 4.11.2 Exemplificamos nosso critério com a Palavra orgia, que apresenta em alguns romanticos oscitago para drgia. Nem sempre é possivel, or isso, resolver se 0 poeta decidiu por esta ou por aquela proniincia, jé que a palavra apresenta no texto as duas possibilidades de leitura sem altcrar, Substancialmente, © andamento do verso. Mas hé casos em que se percebe, apesar disso, o manejo intencional e funcional de uma ou outta. Tal é 6 emprego de drgia, em Castro Alves (Pedro Ivo), “Dorme, filha da Geérgia, Prostituta em negra érgia S€ hoje Lucrécia Borgia Da desonra no Balcio! . ue surge por necessidade de rima com Geérgia ¢ Bérgia. Sendo outras as ircunstancias,é utilizada a prontincia orgia: “Cantavam!. . . Reinava Festa! Festa! E ninguém (O Fantasma e a Cangao) “Tens 0 seio de fogo e a alma fria, 0 cetro empunhas hibrico da orgia” alia) (1) 0 Prof. Pétices Hugénio da Silva Ramos alertov-nos, recentemente, para 0 perigo que representa o desconhecimento da proniincia do tempo ¢ higar do poeta. mos julgat que este pratica a translagio do acento, quando na realidade ce 36 az seguir a proniincia normal de seu tempo (rem sempre igual ade hoje), Tal, Por exemplo, 0 caso de hipodromo (paroxitono) em B. Lopes (“Eamejando nas taias do hipodromo"). prondincia normal na época lugar do poeta. (2) Fatores de ordem estilstica, por exemplo. Teoria do Verso 33 Em Alberto de Oliveira, nota-se 0 aproveitamento funcional da translagdo do acento de murmuirio para murmurio, em “Desce a corrente do rio O barco sem remadores. Que secreto murmurio Da ritanceira entre as flores!” (Serenata do Rio) neste caso exigida pelo alinhamento heptasslibico do verso e para perfazer ima com rio, Noutro texto, quando a rima é com purplireo, 0 poeta serve-se da forma murmuirio “E juntando a essa voz 0 glorioso murmiirio De minha fronte e abrindo ao largo espago 0s véus, Ir com ela através do horizonte purpiireo E penetrar nos céus; Aspiragao) 5. Receita e realizacdo dos versos 5.1 Antes de tentarmos esclarecer aspectos e colocar problemas que envolvem 0 conhecimento da receita métrica e da realizagao concreta dos versos, necessirio se torna rever algumas nogdes e situar outras: 5.1.1 Jd sabemos que o sistema de contagem atualmente wando entre nds basela-se no padnio agudo, que despreza na contagem e denominacio numérica dos versos todas as silabas posteriores A tltima forte. Assim, as trés terminag®es comuns dos versos 1 (aguda) aS (grave) m- (esdrixula) feduzem-se, em termos de conjagem, 20 padrdo agudo (I). Deste sistema difere 0 usado, por exemplo, na versificaggo espanhola, que toma por base 0 adrao grave (II), considerando uma silaba além da iltima forte; neste caso, ‘conta-se sempre uma a mais para as terminagdes agudas (I), depreza-se uma no caso de terminagdes esdrixulas (III). Nesta exposicd0, como em todo 0 nosso Livro, estaremos seguindo, na denominacte dos vertos, o padrdo agudo di contagem, embora no estudo da estrutura e do andamento tenhamos de aproximar constantemente ambos os padrdes, com o intuito de melhor esclarecer certos fatos. 5.1.2 Indicamos, a seguir, um quadro comparativo das denominagdes dos principais versos segundo os dois sistemas: Teor do Verso 35 ULTIMA — PADRAO AGUDO. PADRAO GRAVE FORTE eco 5 eee oda monossflabo dissilabo 2a. dissilabo trissflabo 3a, trissflabo tetrassflabo 4a. tetrassflabo pentassilabo Sa. pentassflabo hexassilabo 6a. hexassflabo heptassilabo Ta. heptassflabo octossitabo 8a. octossilabo eneassilabo 9a. eneassilabo decassilabo 10a. aecassflabo hendecassflabo Ma, hendecassflabo dodecassilabo 12a, dodecassilabo tridecassflabo 13a, tridecassflabo tetradecassflabo. 5.1.3 Os versos tém obedecido tradicionalmente a um sistema baseado no jogo combinatério das sflabas com ¢ sem intensidade relevante. Devem-se aqui considerar dois nfveis: 1.0) o da pura distribuigdo de silabas marcadas por intensidade relevante (fracas e fortes) entre os intervalos representados pelas sflabas intensivamente lrrelevantes (fraqu(ssimas); 2.0) o da distribulgto das silabas que se destacam pelo maior valor relativo de intensidade (fortes). 0 esquema do primeiro nivel, sendo de ordem puramente distributiva, nos ‘mostra a ocorréncia, em cada verso, de seqincias de ordem binéria, terndria ¢ quateméria (1). O esquema do segundo nivel dé-nos o retrato peculiar do andamento de cada verso. 5.1.4 Outro dado importante a entrar em consideragdo ¢ o da receita métrica. Pode-se afirmar sem receio que todo verso é realizado tendo-se em mente, com maior ou menor clareza, uma receita tebrica, que lhe fixa 0 nndimero de silabas € alguns apoios bésicos. A verdade € que essa receita, usualmente chegada ao poeta através do tom normativista dos manuais de versificago, nunca consegue ser demasiado proibitiva, deixando maior ou menor niimero de fatores implicitos, cuja exploragdo ¢ desenvolvimento fleam « cargo do dinamismo ertador @ verbalizador de cady posta. Para a mals rigida das receitas sempre houve desvios espontneos ou intencionals de parte dos poetas, ¢ o falar-se em erro, ai, nem sempre serd procedente, j4 que a versificagio, como alids qualquer atividade cultural humana, é dindmica ¢ (1) Para entender melhor estas nopGes aqui apenas sumariadas, é ler o Capitulo Segundo #0 Capitulo Sexto. 36 Rogério E. Chocity aberta, ndo se podendo enclausurar em normas excessivamente rigidas e ‘vercitivas (1). 5.1.5 Encerremos estas nodes dizendo que, embora a versificago se fundamente no nimero de silabas e nos fatores de intensidade e pausas, muitas vezes estes dados no serio suficientes Para explicar certos fatos, raz3o Por que temos de recorrer também & entoagdo e & propria duragdo, pois nada que 6 do idioma se perde no verso, 5.2 Tomemos para exemplo o verso decassilabo (padréo agudo), cuja receita Senérica indicada tradicionalmente pelos manuais de versificacZo pode ser assim resumida: a) um alinhamento de dez sflabas, contadas até a tltima forte; b) localizagio obrigatéria de silabas fortes fundamentais (além da Altima): da 6.4, no tipo comumente designado por herdico; da 4, no tipo sifico; ¢) repidio pela acentuagio da 5.2 e 7.8 silabas; d) pausa previsivel, mas no fatal, apds s 6.8 sflaba (no herdico) ¢ apés a 4.2 (no séfico). Estudando essa recelta, que 0 uso dos poetas consagrou, podemos verificar que ela realmente se define, em termos intens ivos, pela neutralidade de trés silabas {mpares, impedidas de receber carga intensiva relevante, ou, pelo menos, de eoeber carga intensiva que desequilibre a acentuagio fundamental de cada tipo (6-10 ¢ 4.10): 123456678 9 10 Eseas trés silabas slo, portanto, a 5.2, 2 7.4, evidentemente, a 9.8, pela posicfo imediatamente anterior a ultim: forte do verso. O comportantento do decassilabo assim elaborado, num primeiro nivel de alternancia intensiva, Insereve-se num esquema fundamentalmente bindrio '@2@5O©7O9@ Cujas realizagdes concretas apresentam o destaque intensivo de duas ou mais silabas fortes no interior do verso, em esquemas como por exemplo, 2610 46-10 4810 2.6810 468-10 246-10 ete, realizagdes que ndo traem o esquema de alternincia fundamental, Este $6, apresenta possiblidade de quebra relevante do binarismo com a imposigdo da intensidade forte na 1.8, 3.2 ou em ambas essas silabas: 13610 1-610 3610 ete, (1) Exemplo disso & a prétiea, entre nbs, do verso slexandrino elfsico, que estudaremos om detalhes mais adiante. Em certos casos, hi uma distancia enorme entre a receite feérica de tal verso, que se queria rigid ea realizes concretas, qu descobeen Possblidades nfo prevstas pela receita. ‘Teoria do Verso 37 5.2.2 Isto entendido, estudemos a relagio de versos seguinte, escolhidos por apresentarem caracteristicas comuns: “0 espago da estreitissima clausura,” (Tasso da Silveira) “Repetiremos passos ancestrais.” (Tasso da Silveira) “Na memoria arqui-hicida de Deus.” (Tasso da Silveira “Refletiste um semblante adolescente” (Tasso da Silv “As imensas auroras do Futuro!” (Antero de Quental) “Para cobrir as trevas da miséria!” (Antero de Quental) “E 0 esquecimento brotard também.” (Tobias Barreto) “Extase do siléncio vertical.” (Dante Milano) ra) A escansdo destes versos apontard que eles se enquadram na receita métrica, ‘nfo apresentando carga intensiva na 5.2, 7.4 ¢ 9.8 silabas. Suas construgdes sintéticas no prevéem o surgimento de qualquer pausa interna, desenvolvendo-se todos numa seqiléncia melédica continua da primeira & ‘altima sflaba, Em seu andamento, estes versos seguem perfeitamente os Principios de alternancia intensiva enunciados no Capitulo Segundo, pois ‘mantém invariavelmente os espagos de uma, duas ou trés sflabas fraquissimas entre fracas ou fortes, Ganham maior dostaque as s¢labas fortes, sendo estas ue, segundo a posigdo que ocupem, criam espécimes distintos: 26:10 46-10 3610 36-10 36-10 46-10 26:10 48-10 1-610 respectivamente. Como vemos, 0 contorno intensivo destes versos apresenta trés dpices intensivos, que noutros exemplares poderdo aumentar de numero (1). As silabas anteriores e as imediatamente posteriores a cada forte a ela se subordinam intensivamente, fato que nos possibilida recortar teoricamente o alinhamento de cada verso em tantos segmenios quantas forem tais sflabas fortes. No caso destes exemplares, podemos constatar a variabilidade de ‘nimero de silabas ¢ relagbes dos segmentos entre si 2 6 10 “O espaco / da estreitissima / clausura,” 4 6 10 “Repetiremos / passos / ancestrais.” 3 6 10 “Na meméria/arqui-licida/de Deus.” 3 6 10 “Refletiste / um semblante / adolescente”” 3 6 10 “As imensas / auroras / do futuro!” () Isto serd desenvotvido no estudo do Andamento Acentual, 38 Rogério E. Chociay 4 6 10 “Para cobrit / as trevas / da miséria !” 2 6 10 “Eu falo / das ruinas / do passado,” 4 8 10 “E 0 esquecimento / brotard / também. 1 6 10 “Extase/do silencio / vertical.” E de se notar que estes segmentos apresentam as trés possibilidades de terminagdo que caracterizam os vocabulos do idioma:... 1... __, ... Ll _.. Entre um segmento outro poderio ocorrer a sinalefa ou a ligaedo (1), desde que haja condicdes para tal. Nos exemplares em foco, a sinalefa transforma numa s6 as sflabas final e inicial dos segmentos 3 6 “Na meméria/arqulicida ...” 3 6 10 “Refletiste / um semblante / adolescente ” € aligagdo firma uma sflaba interyerbal em 6 10 “ passos/ancestas.” 3 6 “As imensas / auroras, , .” “Para cobris/ as trevas, . .” Um estudo mais profundo nos revelaré que estes segmentos impausados podem ter menos ¢ mais sflabas do que os dos exemplares apresentados, mas caracterizamse sempre pela presenga de uma s6 sflaba realmente forte. 5.2.2 Um novo rol de exemplos, também escolhidos pelas caracteristicas comuns que apresentam, aumentard as informag6es anteriores: “Que alegre, que suave, que sonora,” (Cléudio Manuel da Costa) “Do claro, do suavissimo Mondego,” (Cléudio Manuel da Costa) “Com mais énsia, mais dor, mais agonia.” (Cléudio Manuel da Costa) “Comovidos estais, uma inimiga” (Claudio Manuel da Costa) “Lembra-te, caminhante, da ternura” (Céudio Manuel da Costa) “E 0s que se inclinam, mudos e impassiveis,” (Antero de Quental) “Cortado de rekimpagos. . . anseia” (Antero de Quental) (1) V. ligopdo e sinalefa, no Capitulo Quarto ~ Frocessos de Acomodaséo. Teotindo Verto 39 “Consolagdo. ... saudade. .. e inda esperancas. ..” (Antero de Quental) “Os vagalhdes, as érvores, os ventos,” (Dante Milano) “Metamorfoses, conexdes monstruosas” (Dante Milano) Os exemplares agrupados acima trazem acréscimo de caracteristicas 20s anteriores, pois articulam-se em’ membros que resultam distintos melodicamente (isto néo acontecia aos segmentos em que dividimos os versos do primeiro rol, inscritos todos num mesmo esquema global de entoasao). Tais membros sio comumente separados por pausas ou, dito de outro modo, apresentam a possibilidade de serem balizados por pausas solicitadas pelas construgées sintéticas que encorpam os versos. Apesar disso, uma comparago entre 08 segmentos impausados ¢ os membros articulados Patenteia a identidade de ambos quanto & posiglo da silaba forte e, em muitos casos, quanto ao nimero de silabas: 2 6 10 “Bu falo / das nuinas / do passado,” 2 6 10 -""Que alegre,// que suave,// que sonora,” 3 6 10 ““As iinensas / auroras / do Futuro!” 3 6 10 “Com mais ansia,// mais dor,// mais agonia.” 4 6 10 “Repetiremos / passos / ancestrais.” 4 6 10 “Consolagio. . // saudade. ../¢ inda esperangas, ..” 4 6 10 “Os vagalhdes,// as érvores,// of ventos,”” 1 6 10 “Extase / do siléncio / vertical.” 1 6 10 “Lembra-te,// caminhante,// da temura” Por outro lado, membros de maior nimero de silabas apresentam mais de uma sflaba forte, valendo dizer que se subdividem em segmentos, a semelhanga dos versos estudados em 5.2.2 e s.: 2 6 10 “No espaco/da estreit ssima/clausura” 2 6 10 “Do claro,// do suavissimo / Mondego: 2 6 10 “Cortado / de relimpagos. ..// anseia” 40 Rogério E. Chociay 3 6 10 $ imensas / auroras/do futuro!” 3 6 10 “Comovidos/estais, // uma inimiga” 4 6 10 “Repetiremos / passos / ancestrais.”” 4 6 10 “E 0s que se inclinam, // mudos / ¢ impassiveis,” ro 4 6 10 “Metamorfoses, // conexdes / monstruosas” Nada impede que entre os membros ocorra a sinalefa, como em 6 10 “,.. saudade...// e inda esperangas. .." fato esse to comum af como entre segmentos, dado o fato de que a pausa, que s¢ permite entre eles, ndo representa um fator imprescindjvel, podendo desaparecer sem prejuizo para 8 compreensio, 5.2.3 Pelo que se viu, as possibilidades de estruturagiio de tal verso, a partir das normas gerais da receita, sfo numerosissimas (e repare-se que estamos trabalhando com exemplos que apresentam apenas duaé fortes internas). O decassilabo 3-6-10, por exemplo, pode realizar-se através de variadas combinagdes de segmentos ou de membros, como por exemplo: Teotia do Verso 41 inte e sete combinagdes diversas que se tornardo muitas mais se os segmentos forem maiores que of acima, mas a eles equivalentes pela unido por sinalefa; que se tornardo muitas mais se os esquemas acima corresponderem a membros articulados; que se tornarfo muitas mais se houver um membro maior, com duas fortes, ¢ um menor. E isto para um s6 dos muitissimos esquemas possives. .. 5.2.4 Novos exemplares, dos muitos que poderiamos continuar alinhando, mostram-nos que a coisa ndo para necessariamente “Dinheiro, luxo, gléria, amor, poesia,” (Dante Milano) ““Flutuante, fina, aligera, fugace,” (Mauro Mota) ““Deixo-me estar, sombra desacordada,” (Dante Milano) “Meus olhos, igrimas petrificadas” (Dante Milano) “Que o canto glorificard somente” (Mauro Mota) “De descobertas e de profecias” (Joaquim Cardozo) “Flores, murchai. Aguas, apodrecei.” (Dante Milano) “Respondeu: Cruz, eu sou a Natureza!™ (Antero de Quental) “Paz! Paz! Brincai, adormecei, criangas! (Joaquim Cardozo) Neles vislumbramos as, praticamente inesgotaveis, possibilidades de realizagio ritmico-expressiva do alinhamento decassilabico, em articulagbes bimembres, trimembres € multimembres, com maior ou menor dose de submissio 3 receita genética, que podem apresentar maxima proximidade de sflabas fortes ou, a0 contrdrio, méxima distancia: 42 Rogério E. Chociay 2 4 6 8 10 “Dinheiro, // luxo, // gloria, / amor, /] poesia,” 2 4 6 10 “Flutuante, // fina, // aligera, // fugace,” 1 4S 10 Flores, // murchai. // Aguas, // apodrecei.” 12 4 8 10 “Paz! // Paa! // Brincai, // adormecei, // criangas!” 30 4 6 10 “Respondeu: // Cruz, // eu sou / a Natureza !” 1 45 10 “Deixo-me / estar, // sombra / desacordada,” 2 4 10 “Meus olhos, // Iigrimas/petrificadas”” 2 810 “Que o canto / glorificard / somente” 4 10 “De descobertas / e de profecias” 5.2.5 E paremos por aqui, dizendo que todos os versos, de quatro a doze silabas, podem upresentar, na proporgdo direta do ndmero de silabas de seu alinhamento, menos ou mais realizagdes baseadas nos dois tipos de estruturagdo que acabamos de verificar para 0 decassilabo: a) através de segmentos impausados, cada qual caracterizado pela presenga de uma silaba forte, num alinhamento melédico continuo; b)através de membros articulados, relativamente independentes, de niamero varidvel de silabas € que podem comportar mais de uma silaba forte. Estes dois modos de elaborago na realidade nfo se opdem, mas representam duas faces distintas baseadas numa mesma receita teérica, que fixa apenas namero de sflabas num alinhamento Gnico e uma ou duas silabas fortes fundamentais no seu interior. Verdade que um ou outro exemplar que explicamos parcce afastar~: demais de tal receita, mas julgé-los errados seré norar a distincia que vai do Metro ao Ritmo; o artista aceita padrbes, mas ndo se prende necessariamente a eles, quebrando-os sempre que a irregularidade for mais expressiva que a regularidade. Por todos esses motivos, 4 pura indicagao dos esquemas de intensidade deve ser entendida apenas como um primeiro passo para compreendermos a sua realizado integral, devendo seguir-selhe necessariamente a descrigéo dos segmentos e membros, a verificagao dos fatores de entoagdo ¢ duragao, bem como a relagdo dos versos no todo estrofico. Nesse sentido, um estudo minucioso e sem preconceitos & tarefa promissora, principalmente pelo fato de irmos descobrindo que, quanto Tedtiado Verso 43 mais nos afastamos do Metro, mais nos tomamos capazes de aprender 0 Ritmo que fui em cada pocma, indissoluvelmente aliado a expressio. 5.3 Problema também complexo oferecem a receita e as realizagdes dus 80s compostos, claborados segundo uma receita que prevé dois, alinhamentos métricos, formados Por membros de mesma extenso silébica (em termos de contagem). Neste caso, € melhor partirmos de exemplos coneretos, formando estrofes, e irmos aos poucos elucidando os moldes de sua elaboragao, bem como os resultados obtidos: “Tio dolorosa e triste que espera as horas mortas, Para afogar seu brilho no palio tenebroso, ‘Tio surda que ao rolar nas faces desbotadas Talvez nem a pressinta o misero inditoso, Hé um pesar ainda mais bérbaro e cruento! E esse que enregela as lagrimas nos olhi E queima a gota fiilgida que a madre natureza Verteu como um consolo, da vida entre os abrothos!" (Fagundes Varela) 5.3.1 Se fizéssemos a escansio destes versos como alé agora fizemos a dos anteriores, inclusive observando as sinalefas que uma leitura normal pediria, terfamos resultados esquisitos, j4 que alguns deles apresentariam doze, outros teze, outros quatorze sflabas. Contudo, estes versos s80 todos simétricos, 0 que perceberemos claramente se levarmos em conta a receita segundo a qual foram eles elaborados. Os oito versos acima se estruturam: a) como a soma de dois membros simétricos ou melosversos ou hemistiquios, cada qual com a sexta silaha sempre forte; b) podendo ambos os hemistiquios terminar, indistintamente, em palavras oxitonas (Lerminago aguda). 6 6 a a paroxitonas (terminagao grave), 6 6 ee Loy (ou proparoxitonas (terminagdo esdnixula), 4 Rogério E. Chociay ©) tornando-se obrigat6ria uma cesura (1), que separa nitidamente os hemistiquios entre si; 4) ocorrendo a cesura perpendicularmente em todos os versos da estrofe e do poema, situando-se entre palavras e coincidindo geralmente com pausa sintitics €) devendo-se considerar interdita a sinalefa entre os hemistiquios, ‘mesmo que esta seja possibilitada pela auséncia de pausa sintética. Deste modo, a leitura deverd levar em consideragio a concepgao métrica destes versos, Tio dolorose tite I] que espera as horas, mst Para afogar seu batho 1 n0 patio tenebrxo, Tao surda que ao rola / ns faces desbotads Talveznema oe Ifo misero aioe (1) Como vimos no Capitulo Segundo, a cesura & uma pausa obrigatéria entre hhemistiquios. Teoria do Verso 45 Ha um pesar an ida // mais bérbaroe ervetol Besse que eaves Has tgrimas nos ohost E queima a gota figida J] que a madre natureza 6 Verteu como um con, 1] da vida entre os abrolhos! As variagBes de terminagZo do primeiro hemistiquio destes versos so explicadas pelo sistema de contagem a que obedece sua elaboracio: 0 padrao considerado é o grave, pressupondo o edmputo de uma sflaba além da iltima forte (6.8), conforme o esquema bésico 1234567 12345 67 oe Loy he a que se reduzem as outras terminagdes posstveis, contando-se, pois, uma a ‘mais, sea terminaglo for aguda, como no verso n.° 3; ou desprezando-se uma, se a terminaggo for esdrdxula, como no verso 1.0 7. O niimero de silabas total considerado seré sempre o do esquema bésico, ou seja, quatorze. Somente a ignorancia destes principios poderia levar alguém a considerar necesséria a sinalefa entre os hemistfquios, no caso dos versos n.°8 4 ¢ 6, reduzindo ambos a treze silabas (padrio grave). A verdade € que, parega ou nto artificial ¢ forgado em relago a nossos habitos versificatérios, @ estrutura destes versos torna indispensivel a cesura, e esta impede a sinalefa do mesmo modo como a impede a pausa interversal. Esta divida no existe na versificagdo espanhola; donde Fagundes Varela tomou 0 modelo, mas somente na nossa, em que tal receita teve poucas realizagGes (1). Informados ¢€ habituados que estamos pela teoria e leitura do verso alexandrino cléssico ou francés, cuja condigio vital ¢ a sinalefa apés primeiro hemistiquio grave, somos tentados a cret, por pura inexperiéncia, que a mesma deva ser feita para os versos trés-estudados. Mas um pouco de informagao faz-nos ver que ‘nossos poetas arcédicos € roménticos praticaram tal verso com regras proprias ‘a que devemos obedecer na escansio. () Quem primeiro elucidou estes problemas em nossa versificagao, dirimindo as dvidas surgidas pela desinformasio tedrica ¢ histérica de muilos, foi o Prof. Péticles Eugénio da Silva Ramos, principalmente em obras como “O Verso Roméntico ¢ Outros Ensaios" ¢ “Do Barroco a0 Modernismo”, que citamos em mais de um ponto ‘em nosso livro, te Reyne b Chctay 5.4.2 Se entendidas as explicagdes, coneluiusse que 0 verso alexandring antigo ow arcaico ow espanhol (1), que estamos estudando a partir de exemplos de Fagundes Varela, & um verso composto, estruturado,com base ‘unin esquema fundamental de dois hemistiquios graves separados por cesura, teduzindo-se todas as suas realizagdes possiveis a0 cOmputo de quatorze silabas, sempre acentuado obrigatoriamente na 6.4 e 13.4 silabas. Sobre seus problemas particulares, falaremos no estudo da Tipologia dos Versos. Sua receita tetradecassilibica deixou de ser considerada, quase totalmente, apos o Romantismo, substituida que foi pela do alexandrino clissico ou francés, dodecassilibica, cujo grande uso se deve principalmente a doutrina de Castilho, embora jé tivesse sido praticada anteriormente por outros poctas, inclusive por Bocage. 54 0 verso alexandrino. clissico ou fran principios de composigio, porque és apresenta diferentes a) todas as sflabas internas so contadas, sem se permitir a sobra apés 0 primeiro hemistiquio; b) formarido-se cada Verso de dois hemistiquios hexassilabos, segundo o esquena fundamental 12345 67 8 90 22 - Ln ¢)com a cesura fixada imediatamente aps a sexta silaba forte do Primeiro hemistiquio; 4) podendo essa sexta silaba pertencer a palavra aguda, como em 6 12 “Molemente emergir // & flor da face trémula” (Olavo Bilac) ou a palavra grave, “Doirava o sol de outubro // a aeia dos caminhos” (Olavo Bilac) caso em que o primero membro do verso deve terminar em vogal e 0 segundo iniciar por vogal, processando-se, obrigatoriamente, a sinalefa entre (Q) © termo “areaico™ nao ¢ dos metiores para rotular este verso, ji que boa parte dos vversos, ainda hoje usados, também o foram em priscas ctas. Conforme observa o Prof Péricles Lugénio da Silva Ramos, a designagio de “espanhol” também ndo é muito pprocedente, ji que os “alexandrinos arcaicos figuram em nossos cancionciros Imedievais © antes de serem espanhis ji eran franceses” ("Do_Barroco 30 Modernism", Comissio Estadual de Literatura, $0 Paulo, 1968, p. 147). Tebriado Verso 47 ambos: com isso, a tiltima silaba de um e a primeira de outro tornam-se uma 86, resguardando-se a integridade tedrica do esquema fundamental, “Doirava 0 sol de outu // bro_a_areia dos caminhos” 6 12 aby ek €)sendo portanto © verso computado sempre em doze silabus, conforme © padrio agudo de contagem (0 padrio grave, contando além da 12.9 silaba, considerard treze_ silabas). 5.4.1 Continua-se a falar ai em hemistiquio e em cesura, mas em ambos os casos trata-se de conceito diverso do verificado no alexandrino antigo, Com efeito, se & pacifica uma pausa ou pelo menos uma fronteira intervocabular no caso de 0 primeiro hemistiquio ser encerrado pela sflaba forte de palavra aguda (1), como em “De luto e de esplendor, // de crepes ¢ auriflamas” (Bilac) “Para a respiragdo // suavissima Ihe ouvir” (Bilac) (© mesmo nao acontece quando o primeiro membro do verbo apresenta-se terminado por palavra grave, “Cruzam-se numa prece // as suas mos pequenas” pois 0 espaco entre os dois membros do verso & preenchido pela sinalefa. A divisio ““Cruzam-se numa pre //c@ as suas mos pequenas” € meramente te6rica, surgindo pela necessidade de justificar a existéncia de - hemistiquios, numa estrutura simétrica 6+6 de ordem puramente acentual, j4 que a iltima sflaba do verso ndo é contada, e a que sobra apés a 6.8'se ‘embebe na primeira silaba do segundo hemistiquio. O termo cesura, nesig caso, $6 pode ser usado para designar este corte fedrico, nunca uma pausa 2, pois esta, se chega a existir entre a iltima silaba de um membro ¢ a primeira de outro, anula-se no todo vérsico em fungdo da sinalefa. Temos para nés que 2 passagem de um membro do verso a outro é suficientemente destacada pela intensidade forte da sexta silaa. A pritica do alexandrino cléssico entre nés apresenta freqiientemente discrepancias entre a receita tebrica e as realizagdes (2) Observe-se que essa realizagio fi era uma das possiblidades do alexandtino antigo, tambora os prineipios fossem outros. 48 Rogério E. Chociay Conéretss. Sobre isso, deixamos para falar no estudo especial do verso (Capitulo Sétimo), 5.4.2 Se compararmos entre si as receitas dos versos alexandrinos antigo © cléssico, veremos que eles sio estruturados segundo diferentes Principios, mes se encaixam perfeitamente num mesmo fundo comum, formado pelas relugdes possivels de dois membros hexatsilabos num dnice ‘alinhamento: SILABAS 12345678 1234567 8 REAIS 1 12 " 13 ml 14 Vv 13 v 14 VI Is vil 4 VIL 1S 1x 16 O alexandrino antigo toma por base o esqueman.© V, 123456712345 67 To bat A o gve 6 rave Com ambos os hemistiquios graves, cada qual com 7 silabas. Impse a cesura (Como pausa que interdita sinalefa) entre os hemistiquios ¢ aceita todas at nove possibilidades de realizacto sildbica.dos hemistiquios, embora em termos de contagem reduza-as sempre ao padrio tetradecassilibico, com acentee Principals na 6.8 ¢ 13. silabas. O alexandrino cldssico toma como base o esquema I, 12345678 90n 2 eee ee L 6 agudo+6 com ambos os hemistiquics agudos, cada qual com seis slabas. Com essa Primeira atitude te6rica, incorpora apenas as trés primeiras posstilinles at tude enfrente um uso atraig Gur eso uso, por vezes indiscriminado, foi que trouxe a ambighidade de sentido Que © termo penosamente carrega, Teoria do Verso 49 fealizagdo, reduzindo-as sempre em termos de contagem as doze silabas do padrio. Numa segunda atitude, aceita os esquemas IV, V e VI. de Primeiro membro grave, com a condigao de que a ultima silaba do primeiro realize sempre sinalefa com a primeira sflaba do segundo membro: 2 cesura (como corte tebrico) € imposta sempre imediatamente apés a 6.2 sflaba, resguardando-se a simetria 6+6. As realizagdes de VII, VIII € IX ‘nfo poderiam entrar na recelta, pois mesmo com sinalefa ‘o verso viria a ter mais de doze silabas; contudo, um primeiro membro hexassilabo esdrixulo poderia combinar com um segundo pentassilabo (c/sinalefa entre ambos), ou com um segundo membro tetrassilabo (s/sinalefa) 1234567 § swun ~o ete a 12345678 own Estas formulas também nao entraram na receita, a nosso ver por dois motivos: a) deixariam de existir dois’ hemistiquios hexassitabos, sendo o verso formado or dois membros assimétricos; b) a sistematizag#o do alexandrino elassico partiu da Franga, ¢ o idioma francés nfo possui vocdbulos proparoxitonos, Fazio por que os esquemas acima nem poderiam ser cogitados. Mas eses Preocupagio poderia ser nossa: daria certo o verso com tal formag0? Sim, daria, tanto quanto o esquema 6 grave + 5, explorado, intencionalmente, por alguns poetas. 6 n “E 08 velhos, quando passo,// vendo-me tio pélido,” (José Duro) nao cabendo aqui acusagdes como “quebra do ritmo”, “indecisio acentual” tc. jf que 0 verso possui andamento idéntico a muitos outros que seguem a receita, 54.3 Vem muito a propésito anotar que em nossos tempos o alexandrino recebeu de Jamil Almansur Haddad, na tradugio de Verlaine (1), um tratamento livre de preceitos rigidos, conciliando, de certo modo, as receitas antiga € cléssica (aproveitando ambas as possibilidades do mesino fundo em que se inscrevem as duas receitas). Em “Prologo”, sfo empregados intencional ¢ conscientemente (como 0 provam as notas do préprio tradutor). (1 Rerlane = Poemat, Seleio, tradugéo, preficio e notas de Jamil Almansur Haddad, Difusio Européia do Livro, Sio Paulo, 1962, pp. 33-38. 50 Koger F. Chociay a) alexandrinos de primeito hemist iquio agudo: 6 12 “Sera que muito apés// nas batalhas mais loucas” ) alexandrinos de primeiro hemistiquio grave com sinalefa: 6 R ““A Forga que 0 Poeta // outrora segurava” c) alexandrino de primeiro hemistiquio grave sem sinalefa com o segundo (também hexassilabo): 6 13 “O pacto primitivo // que o tempo consumiu” 4d) alexandrino “irregular” ou, se se prefere, dodecassilabo de estrutura 6 grave + 5: 6 12 “Elevaram-se augustos // ao Nada dos Sonhos” ) alexandrino ou dodecassilabo “trimétrico”: 4 8 12 “Posteridade, vossos ecos no cansados”” Os efeitos obtidos, que se nos afiguram excelentes, demonstram de modo inequivoco a legitimidade de um caminho infelizmente nunca trilhado pelos ‘nossos poetas: a busca de relagdes ndo ortodoxas, embora sem descambar para a ametria total 5.5 Entendida a receita destes dois versos, nfo podemos deixar de cait na tentagdo de teorizar no vazio, isto é, sem considerar exemplos concretos, inferindo a possibilidade de o mesmo arranjo poder tornar-se exequivel com hemistiquios de menor nimero de silabas: a)5+5; bara. 5.5.1 As probabilidades 5 grave + 5 grave, ou 5 agudo + 5 agudo, enquadram-se também num fundo comum: Tegtia do Verso $1 SILABAS REAIS 10 ~ " —--~ Dv " 12 —-- 2B n - 13 -- «4 1234567 891011 KARKAKAKA | dar-nosd um verso composto to molde do alexandrino antigo. Possul cada hemistiquio seis silabas, com acento principal na 5.8. A adogio desta base, ¢ da cesura que separa seus hemistiquios, implica a aceitagio de todas as nove possibilidades de realizagdo, embora o verso venha a ser computado sempre, conforme o esquema bdsico, em 12 silabas, cujos acentos principais recairio na 5.4 11.8 silabas de seu alinhamento global. A adogio da base I, 5 agudo + Sagudo, 12345 6789 10 permite-nos estabelecer um verso andlogo a0 alexandrino clissico; cada hemistiquio somando cinco sflabas, com acentos principais na 5.8, Adotada esta base decassilébica, os esquemas IIe Ill a ela se adaptam perfeitamente em termos de contagem; os esquemas IV, Ve VI poderio entrar fazendo sinalefa entre os hemistiquios. J4 os esquemas VII, VIII e IX nao teriam possibilidade, pois mesmo com sinalefa (como no caso do alexandrino clissico) extravazariam © niimero méximo de dez silabas do alinhamento, Se se deixasse de lado a necessidade de resguardar a simetria 5+5 dos hemist{quios (ainda como a simetria 6+6 do alexandrino cléssico), pensando-se apenas no alinhamento decassilébico, a coisa poderia dar certo do seguinte mod8: 52 Rogétlo E. Chociay 123456 #789 10 =a aba + = HL (sem sinatetay Hee bh yi Ls (semsinalefa) Le — L. comsinatetay Voltando a realidade, ¢ 0 caso de perguntar se existe este ultimo verso. Nos poetas simbolistas e nalguns modernos em que encontramos exemplares que tajs, usualmente misturados a decassflabos de base 6+4 ou 4+6, embora sejam telativamente poucos os exemplos, dé para ver que a receita ¢ exequivel. Sobre 0 uso de tal esquema na poesia trovadoresca, falem os especialistas no ‘assunto. Mas 0 esquema baseado em hemistiquios pentassilabos graves (5 grave + 5 grave) serve-nos e muito, pois foi ele que, segundo nos informa 0 Prof. Péricles Eugénio da Silva Ramos, os roménticos tiveram em mente na elaboragto do verso de arte maior (hendecassilabo, na contagem de padrio ‘agudo, dodecassilabo na de padrio grave): “O primeiro hemistiquio, no verso de arte maior romantico, podia oscilar na terminagdo, que era grave ou aguda, segundo 0 ensinamento de Filipe Nunes, repetido por Bluteau, ¢ até esdrixula, Alguns exemplos, na contagem atual: “Gigante de pedra de fero semblante” (5 grave + 5), Gongalves Dias, “No albor da manhd qudo forte que os vi" (5 agudo + 5), Gongalves Dias; “Somente uma légrima da face a descor” (5 esdrixulo + 5), Alvares de Azevedo. Ent conseqiéncia, no tipo $ grave +S, se o primeiro hemistiquio terminava por vogal € 0 segundo comegava por vogal, havia hiato forgado entre as duas vogais: “Ah! ndo lhe bastava a guerra continua” (Porto-Alegre), “Se via revolto 0 seio do mar” (Cardoso de Meneses), “No fogo sagrado, isento de crime” (Francisco Otaviano). Esses encontros vocdlicos entre os hemist(quios eram freqientes no verso de arte maior romintico.” (1) Prof. Péricles segue considerando que tal esquema “foi incidentalmente desobedecido pelo menos por dois grandes poetas, Goncalves Dias e Fagundes Varela”, apresentando os exemplos “A corca ligeira, o trombudo qual (Gongalves Dias) em que “ao pentassilabo inicial se acrescenta um hexassilabo, com sinalefa obrigada na 6.8 silaba”, (1) RAMOS, Péricles Eugénio da Silva ~ Do Berroco ao Modernitmo, Comissio Estadual de Literatura, Sio Paulo, 1967, p. 148. Teoria do Verso 53 s 6 ~ eee te -ak “Conteve-se o birbaro. Misero cio.” (Fagundes Varela) em que se somam um membro pentassflabo esdrixulo ¢ um tetrassilabo agudo, sem sinalefa, perfazendo 0 mimero de silabas necessirio ¢ com as outras duas sflabas fortes mantendo a mesma posigio do esquema bésico (2:5-8-11). A estes podemos acrescentar os exemplares “Do espago — por cipula ~ as conchas azuis!,.." (Castro Alves) “Por ele uma lgrima inunda. . . que faces!” (Tobias Barreto) ““— Bem cedo meu animo ardente vereis” (Junqueira Freire) “86 elas no curvam-se go mando dos homens” (Junqueira Freire) “Sua alma revolve-se em ondas de luz.” (Castro Alves) que obedecem a uma relagio idéntica entre hemistiquios, s s —a-- ete ek com um primeiro esdrixulo fazendo sinalefa com o segundo. A raziio dessas ‘ocorréncias parece-nos estar no andamento 2-5-8-11 envolvente na estrofe, que nfo ¢ perturbado apesar das variagbes de composigio, conforme procuraremos explicar no estudo especifico do verso, no Capitulo Sétimo. De qualquer maneira, um estudo que se quelra honesto do verso de arte-mator, do Romantismo aos nostos dias, nfo poderd isolarse apenas num ponto de vista, mas admitir que todos estes aspectos, de estrutura e de andamento, influ(ram em maior ou menor grau sobre os poetas na realizagdo de tal verso. 5.6 Eis o fundo comum em que se encaixam as probabilidades 4 grave + 4 rave, e 4 agudo + agudo: SILABAS 123456 123 4 5 6 REAIS Poi LZ +o 8 Holle ane 9 mol LZ +oOL lL zl Woll ze toll 9 54 Rogério F. Chociay VoL Lg a 10 Mo Le ee vil ee 10 VND et Le u LS ee 12 A adlogao da base V, 4 grave + 4 grave, 123 45 123 4 5 ~ ae bi ye be ue permite 0 aproveitamento de todas as nove possibilidades de realizagio (sempre computadas segundo a base), dénos um verso composto. semelhanga do alexandrino antigo, nomeado decassilabo pela contagem de adrdo grave, com acentos principais na 4.2 e 9.8 silabas. Foi exatamente essa @ receita que seguiu Junqueira Freire, no poema “A Freira”, de que damos duas estrofes: “O mundo, o mundo. ‘Achar a parte // a quem faltei. Eu devo, eu devo // pagar a0 homem Esse pedago // que lhe arranquei.” “Seu coragdo // — nobre fragmento — Sente um vazio, // que ha de doer, Mesmo sua alma // geme incompleta. Quase roubet-lhe // todo o seu ser.” Sao a0 todo quarenta quadras, onde se patenteiam duas terminagées para amibos os hemistiquios, que podem ser expressas nas quatro {érmulas abaixo: 4 4 —-—-—-+t— +t “A estrela Vésper // ter certos raios” ee ee ee “Seu coragio // — nobre fragmento” ‘Teormdo Verso 55 “Que vos dizeis // cheias de Deus,” nem se cogitando da sinalefa quando o primeiro hemistiquio grave termine em vogal € em vogal inicie 0 segundo, jé que a concepcio do verso, que fica bem delineada nos outros exemplares, elimina a possibilidade da unio dos hhemistiquios por sinalefa, “Boia de prata // em mar de anil,” “Tenta um alivio, // acha uma angisti: “O mundo, o miindo. . .// eu freira aflita,” chaificando-se perfeitamente a receita de verso composto nos padrdes do alexandrino antigo, a base receitual de 5 grave + 5 grave, a que se reduzem em termos de contagem as outras trés realizagdes. Poderemos, ¢ claro, chamé de eneassilabo, se pelo padrtio agudo desprezarmos as sflabas excrescentes & 9.8, mas as relagdes entre o primeiro e 0 segundo hemistiquio obedecem claramente ao padrdo grave. 5.6.2 Bem mais perto de nbs, Jorge de Lima, no poema n.0 X do Canto Il de “Invengdo de Orfeu”, serve-se de idéntica receita. Nesse poema, cujas estrofes sio sempre encerradas por um quebrado de acento na 4. silaba (com uma $6 excesio no ultimo verso do pocma), a terminagio do primeito hemistiquio ora € grave ora aguda; o segundo hemistiquio, bem como o verso quebrado, apresentam terminagBes aguda, grave e esdrixula. Claro fica que a base considerada é a de hemistiquios graves, 4 4 ee ooo es dando-nos também o verso composto, como se poderd notar nos exemplos: “Monte vazio, // través e em torno; serd meu ser? // J4 nao me lembro o onde 0 encontrei” 56 Rogério E. Chociay “Tentei suprir // vagando em brisas, contando os passos. // O jeito é rir com a boca ausente. “Agora e sempre, // continuaremos, pelos de febre, // mortes perfeitas, medos e¢ coetera.” So a0 todo 117 versos, dos quais 40 quebrados, cujas realizagdes podem ser expressas pelas formulas abaixo: 4 a) quebrados: — — —L — “Esquina aguda.” ele “onde o encontrei.” eee “medos et coetera, 4 4 b) compostos: — — — L—+— --_ L _ “Carinho alheio, // mole tangente” eo ees “Desde 0 comego, // n6 sobre nd,” —~-t—+t_i_ tiie 'No mais ¢ em tudo, // sho choros intimos” ere “Conversa vai, // conversa vern, ee ae “Tempo de apés, // danga do inicio,” Dos 40 quebrados apenas um, que ¢ o ultimo versy du poema, apresenta apenas duas sflabas:_/ __, “Seime”. Todos os outros enquadram-se numa das formulas dadas. Como jé acontecia no poema de Junqueira Freire, ocorre no de Jorge de Lima a proximidade de vogais entre um hemist{quio e outro, ‘como nos exemplos Teoria do Verso $7 “goela de lama, // aranhe mole,” “no mar me lango,// engulo em seco,” “Na sua esteira // hd um sem fé,” “Conclusio fra: // um cego canta.” © que nao significa que devam ser feitas as sinalefas. A estrutura da maior parte dos versos € por demais clara: trata-se de um verso composto de dois hemistiquios tetrassflabos, pelo padrdo grave, permitindo-se que o primeiro apresente sem problemas a terminago aguda, sendo interdita a sinalefa entre 0 hemist{quios. 5.6.3 Mas a receita que realmente vingou em nossa versificago, embora baseada na soma de hemistiquios tetrassilabos, levou em considera¢go a contagem de todas as silabas do interior do verso. Ela pode ser resumida pelas palavras do pamasiano Mério de Alencar; diz este que hd versos de nove silabas “formados de dois quadrissilabos, que se devem conservar inteiramente distintos, ¢ de modo que ndo caia entre um e outro a elisio (a nio ser quando © primeiro hemistiquio é esdrixulo)”. Temos, portanto, duas formulas: (sinalefa interdita) (Raimundo Correia) 'do!” (Raimundo Correia) —— — Lb 4 — — L Gsinateta obrigada) ““Vaga, noctambula // aparigéo!” (Raimundo Correia) “Quantos, bebendo-te // a refulgéncia,” (Raimundo Correia) A proibigfo da sinalefa, num caso, ¢ a sua obrigatoriedade, noutro, mostram-nos presente a intergo de manter a simetria tetrassilabica dos hemistiquios, embora vinculada a um miimero fixo de silabas, sem ossibilidade de falta ou sobra na passagem de um hemistiquio a outro, Princ{pio este que diversifica esta receita da estudada em 5.6.2. Pata muitos Poctas simbolistas e modemos, no entanto, o que passa a importar é apenas 0 alinhamento eneassilébico € os acentos principais na 4.2 ¢ 9. sflabas. Com ‘sso, surgem outras estruturagées através de membros assimétricos. Mas a obediéncia receita de hemistiquios simétricos também continua existindo, podendo ser verificada inclusive em modernos. 5.64 Tomando pot base 08 nove esquemas indicados em 5.6, podemos chegar ainds ao verso octosslabo acentuado na 4.2 e 8.4 sflabas. Sua formula fundamental é: 58 Rogério E. Chociay 12345678 ———+t+-— — L aagutor4 “Que vai morrer // ou que estd morta!” (Alphonsus de Guimaraens) “Tudo ilusdo, // tudo quimera;” (Emiliano Perneta) As possibilidades VII, VIII ¢ 1X, € claro, ndo podem ser aproveitadas, pois ‘mesmo com sinalefa iriam além do esquema octossildbico. As de n.0s,1V, Ve VI, a0 contrétio, sio aproveitadas, fazendo-se sinalefa entre os hemistiquios: 1234 5 678 a he te HL gre t 4 cfsinatets ““O tédio amargo, |/ 0 atroz pesar. ..” (Emiliano Perneta) “Era uma deusa // e ndo sabiamos” (Jorge de Lima) Na prética do octossilabo 4-8, contudo, ndo se respeitou, necessariamente, a simetria de hemistiquios, sendo comuns estruturagdes como: 12345 678 a tat be a graves “Caido em gotas / de luar.” (Guerra Junqueiro) “Era uma deusa, // pela duvida” (Jorge de Lima) “Da formosura / triunfal” (Vicente de Carvalho) 6 7 8 —~t— — 1 Aesdrixulo + 3 of sinalefa “Ao teu esquilido / esqueleto” (Cruz e Sousa) “Em doce frémito__amoroso" (Guerra Junquelro) “E acorda placido / a sorrir. ..” (Raimundo: Correia) 123456 78 ——4L— — +— L fesarixuto+2 “Claro ¢ difano, // cercado” (Goulart de Andrade) “Enxame olimpico / de abelhas” (Guerra Junqueiro) “A vor tristissima / do mar... .” (Vicente de Carvalho) 5.6.5 Destaque-se, @ propésito, que simbolistas como Alphonmus de Guimaraens ¢ Eugénio de Castro, percebendo o parentesco entre octossilabos 4-8 e eneassilabos 4-9, empregam-nos as vezes misturados na mesma estrofe, indo se podendo negar, nesse caso, a consecugao de bons efeitos: Teoria do Verso 59 “Sino de incento, grito de alume, Nuvem de eae num eéu bao" (Eugenio de Castro) “Sao salmos tastes, mortises, Profundas pan de penlténcia.” (Alphonsus de Guimaraens) 5.7 Chegados ao fim deste capitulo que, melhor desenvolvido, poderia dar todo um livro, apresentamos um pequeno esbo¢o classificatdrio dos versos, segundo suas possibilidades de estruturagio: 1.9) Versos elementares: colocamos entre eles os monossilabos, dissilabos ¢ trissitabos (contagem de padrio agudo), 1 2 3 4 are ele = =i —— a 2S eto a or considerarmotos apenas segmentos ou membros de verso eventualmente guindados a tal condigao (neste caso, devendo ser estudados como tal), embora usualmente atuem como quebrados. 2.) Versos simples: 0s versos cuja receita métrica prevé apenas um alinhamento global ¢ uma ou mais possibilidades de estruturagio baseadas em silabas fixas fundamentais pela intensidade. Poderdo realizar-se como simples, nna medida de suas possibilidades, os versos de quatro a doze silabas (padrio 3.9) Versos compostos: aqueles cuja receita métrica prevé dois alinhamentos simétricos (poderiam ser mais de dois), considerando-te dois ipios de composig#o, baseados em hemistiquios graves ou em istiquios agudi 44 e 4 grave + 4 grave 5H e S grave +S grave 66 e 6 grave + 6 grave Os que pertencem ao segundo grupo acima, apresentam a possibilidade de variagfo livre do final do primeiro hemistiquio, ¢ tém como ocorréncis tipica a cesura a limitar distintamente ambos 0s hemistiquios de cada verso. Nos segundos, a variagio é limitada a certos casos, ocorrendo néutros a 60 Rogério E. Chociay compehsagto da desigualdade entre os hemistiquios através de sinalefa. A cesura neste caso, ou se torna meramente tedrica ou é 0 nome com que se designa 0 ponto de intersecgo dos hemistiquios. No uso prético deste segundo tipo, verifica-se a tendéncia de incorporar formagées através de ‘membros assimétricos, normalmente sem prejufzo para o andamento e para a cadéncia acentual. 4.) Versos quebrados: 08 versos de extensio menor, correspondentes a segmentos ou membros de versos maiores, a eles combinados em estrofes heterométricas. No estudo da estrofe esclareceremos sobre sua natureza e ‘emprego. ” 6. Andamento dos versos 6.1 Para nfo nos perdermos no estudo do andamento, convém agora repetirmos sucintamente as nogdes indicadas no Capitulo Segundo: 6.1.1 Vimos que o idioma apresenta como ocorréncia mais comum, no alinhamento de vocdbulos, locugdes e sentencas, o esquema de alterndncia bindria; a alterndncia terndria representa uma substancial variagio a bindria. J4 a alternancia quaterndria, de menor ocorréncia, nfo deve deixar de ser considerada, j4 que ndo trai, fundamentalmente a {ndole do idioma (seqiiéncias bindrias © quaternérias casam perfeitamente) e apresenta virtualidade (¢ bem explorada) para efeitos expressivos. 6.1.2 Nao esquegamos igualmente da diversidade de grau de forga das silabas que apresentam carga intensiva: a) silaba fraquissima (funciona como “intervalo” b) sflaba fraca; ©) sflaba forte (de vocabulo, de locugdo, de sentenga). 6.1.3 Como a versificago nfo trai nem tem necessidade de trair 0 ‘idioma, estes principios de alternéncia nfo sto nela rompidos, embora sejam realmente as sflabas fortes (em suas trés ordens de valor) as responsdvcis pelas peculiaridades do andamento intensivo de cada verso. 6.2 Comecemos estudando 0s versos elementares, aqui denominados segundo © padrdo agudo de contagem: 62 Rogério E. Chociay 6.2.1 Os versos monossilabo e dissilabo, cujas_realizagdes, esquematizamos abaixo, 1 2 L at Le a en —-Lo_ apresentam uma 9 silaba acentuada, reduzindo-se a simples segmentos ou ‘membros, no podendo apresentar, como versos, andamento algum. Seu escasso emprego isolado no deixa de ter, por isso, suas razdes, acrescido 0 fato de se tornarem as possibilidades expressivas bastante diminutas em tio reduzido campo. Com efeito, composigdes neles baseados, exclusivamente, ou pedem uma leitura assaz forgada, se obedecermos a pausas ainda que minimas em seus finais; ou sio lidos em seqiéncia, através de sucessivos encadeamentos que 08 equiparam, no conjunto, a versos maiores articulados simetricamente. De qualquer modo, servem eles para constatarmos esquemas intensivos verficdveis em vocébulos ou seqiiéncias no idioma: 1 2 + 6 — -L amor, a voz aL — casa, faze — LL — encanto, eu canto, a vida L — ~ ‘wore, deixa-me — -L — — espirito, a pérola, deixava- -me 6.2.2 O verso trissilabo tem um esbogo de andamento intensivo, de alternincia bindria, podendo realizar-se como abaixo indicamos: 123 Lok 13 tobe 13 LiLo 143 como se poder observar nos exemplos forjados: c — -L cantador, canta a dor, leva-e-traz, este amor, buscapé — 4 — amarelo, porta-luvas, falas muito, corta as folhas; LL —fidelissimo, melancélico, estas pérolas, leva as méquinas; ‘ou nos versos: “Para espanto das mutheres, tu me queres, eeu te canto” (Cecilia Meireles) Teagia do Verso 63 ‘A primeira silaba, nos exemplos ou nos versos, sempre apresenta carga intensiva, embora variivel (fraca ou forte). Na seqléncia dos versos 0 andamento se toma envolvente, percebido como 1-3, segundo uma ordem trocaica de alternincia. 6.3 Passemos agora aos versos simples: 6.3.1 Os dois esquemas bésicos dos tetrassilabos so: Lot x14 —— 14 © primeiro traduz um andamento bindrio (2-4) ¢ 0 segundo quebra a alterndncia bindria pela acentuagao da silaba inicial. Uma pequena nuance pode ser obtida no primeiro esquema com o surgimento da 2.8 sflaba em condig&o de fraca, sendo neste caso melhor indicar o andamento do verso através do nimero 4, apesar de sabermos que o espaco da primeira a quarta silaba nunce é totalmente irrelevante. Esta variagdo forte-fraca da 2.8 silaba teré maior destaque, prestando-se melhormente a efeitos expressivos, no octossilabo 4-8 ou no eneassilabo 4-9, formados a partir de um padrio, a) de tetrassilabos agudos: —~— t+ ee b) de tetrassflabos graves: eapanney /Epuey pune ae ene / bees respectivamente. Eis todas as possibilidades do tetrassilabo aproveitadas por Jorge de Lima, “anjo acolhido 14 em réseo céu 24 abrigo instante, 24 pranto lavado, 14 chorar em ti 24 de arrependido 4 subir teus vales, 24 amar teu pélen, 24 nunca escapar-me 14 de tuas pétalas, 24 . cair com elas.” 24 64 Rogério E. Chociay . _ 8.3.2 O verso pentassilabo apresenta dois esquemas bésicos, um de aiterndncia bindria a partir de uma primeira silaba acentuada, 12345 LoeLeL 35 cujo andamento trocaico implica a funcionalidade da 6.9 sflaba, embora a contagem de padrio agudo nfo a considere; outro combinando uma sequéncia bbindris (acento na 2.8 sflaba) com uma ternéria (acento na 5.8 silaba): —~Loek 25 Oprimeiro esquema se inscreve, perfeitamente,na ordem de alterndncia binéria que 0 idioma apresenta, habitualmente, entre as silabas fraquissimas e fracas antecedentes a forte dos voedbulos, como em 10102 10102 0 101020 0 mobllizagio ou —mobillzaremos ou mobilizarfamos © preenchimento do esquema / __/ {por vocdbulos compostos, locugdes ou sentengas altera o graui de forga das sflabas impares internas, mas essa diferenca, dada a durago reduzida do verso e a sucesso do ‘mesmo esquema na estrofe, s6 se torna sensivel com o aproveitamento de ‘uma primeira silaba forte pertencente a vocdbulo proparoxitono; nos demais 2808, 0 normal € o andamento se tornar envolvente na estrofe, apesar de um que outro matiz: “Ha no olhar etéreo 13-5 Do boizinho bento 135 Sonhos de mistério 135 Num encantamento..." 1.3.5 (Guerra Junqueiro) Duplicado 0 alinhamento ¢ mantendo-se o mesmo esquema de altemancia, teremos o hendecassilabo trocaico, tao ao gosto de Guerra Junqueiro, “Reza pelos mortos..reza a visgem pura 5 tokLiobLiyhotii_ © esquema 2-5 implica um andamento bem distinto, justamente porque Tompe essa altemancia, impondo um acento na 2.8 sflaba, que deve ser, Te indo Verso 65 necessariamente, forte; 0 préximo acento, assim, s6 poderd marcar a quinta silaba, e 0 espacamento resultante entre ambas as silabas fortes dé-thes realce a0 andamento do verso, como se pode apreciar no exemplo de Bocage: “Aqui os sentidos 25 Nas asas de um ai 25 Lhe escapam, the fogem 2-5 Bo misero cai.’ 25 Ocorre também 0 uso dos dois esquemas na mesma estrofe, o que Ihe d4 ‘maior flexibilidade, evitando a monotonia a que, fatalmente, atinge o emprego de um esquema, “Na casa fechada, 25 A vida parece 25 Morta como a estrada.” 135 (Ribeiro Couto) variedade que aumenta pela articulagio do verso em pequenos membros, que podem resultar bastante expressivos: “Lé fora é domingo. 25 Triste? Alegre? Médio? 1.3.5 Chove. Cada pingo inga pena e tédio.” (Ribeiro Couto) Um outro exemplar, de Cecilia Meireles, nos mostra os efeitos expressivos que se podem tirar da variante 1-5: “Respiro teu nome. 25 Que brisa to pura 28 Sabito circula 15 no meu corago!” 28 em que 0 1.0, 0 2.0 ¢ 0 4.0 versos s inscrevem em 2-5, mas o terceiro, aproveitando uma primeira sflaba forte, realiza-se em 1-5, com 0 intervalo de trés fraqufssimas sustentado também expressivamente. Duplicada o alinhamento pentassilabico 2-5, teremos 0 tipico hendecassilabo de arte maior: 2 5 2 5 “Rebramam os ventos. . . // Da negra tormenta 66 Rogétio E. Chociay 2 5 2 5 Nos montes de nuvens // galopa o corcel. (Castro Alves) 63.3 O verso hexassilabo aumenta de muito as possibilidades do tetrassilabo, e nele tornam-se j4 perceptiveis diferentes contornos intensivos, 4 partir de um esquema fundamental de alternancia bind 12345 6 ae teat 24.6 que pode realizar-se integralmente e bem marcado, como em 24 6 “A vaga lambe a areia” (Jorge de Lima) 2 4 6 “Um denso musgo frouxo” (Cecilia Meireles) ‘ou com 0 predominio da 2.8 sobre a 4.8, ou vice-versa, ctcrct 3% 2 o “Também naufragarés” (Cléudio Manuel da Costa) aroma salamendea” (Jorge de Lima) ot um ene (Dante Milano) “Nem divegso nem ee Gorge de Lima) “Dos fitowtis do aoe (Cecilia Meireles) Ocorre a quebra parcial da altemancia bindria com a imposigdo de uma primeira silaba forte, em vez da segunda, 12345 6 L——1L—l 146 Teoyiado Verso 67 1 4 6 “Doce instrumento brando” (Cliudio Manuel da Costa) 1 4° 6 “Tu o meu bem serés” (Claudio Manuel da Costa) 1 4 6 “Agua 0 meu proprio corpo” (Cecilia Meireles) andamento que pode ser matizado com a 4.8 surgindo como fraca, em vez de forte, 1 6 “Lavram 0s pensamentos” (Cecilia Meireles) 1 6 “Vagas felicidades” (Cecilia Meireles) 1 6 “Ramos amarelecem” (Ribeiro Couto) A quebra da alternancia bindria € total com 0 acento forte incidindo na 3.8 silaba, 3 6 “0s canteiros molhados”” (Ribeiro Couto) 3 6 “Num teclado cafdo 3 6 Pelo fundo horizonte” (Cecilia Meireles) que se destaca bastante, a ponto de tornar irrelevante a silaba fraca inicial, 12345 6 —-—-t——L 36 razio por que esta ndo precisa ser indicada no esquema numérico, ou, s6 deve ser indicada quando for realmente forte: 1 3 6 13.6 “Brinca e pde-se a sorrir.” (Fagundes Varela) A duplicagio do alinhamento hexassildbico, conforme as regras de composi¢io estudadas no capitulo anterior, pode nos dar o alexandrino antigo ou 0 clissico, 68 Rogério E. Chociay “6.3.4 O verso heptassilabo incorpora todas as vantagens, mas no as desvantagens dos até aqui estudados, tornando-se extremamente maledvel por comportar variad(ssimas disposigdes acentuais e solugdes de andamento. Sobre ele deixamos para falar com detalhes no estudo da Tipologia dos Versos. 6.4 Esta répida passagem pelo andamento dos versos menores nos mostrou que cles ndo oferecem grandes problemas em seu contorno intensive, Nos vers0s pentassflabo © hexassilabo, contudo, j4 se podem notar algumas peculiaridades, principalmente © destaque intensivo de uma sobre as demais sflabas internas (1-5, 2-5, 1-6, 2-6, 3-6, 4-6) ou a envolvéncia do andamento (1-35), As possibilidades de apresentarem-se formados por membros Aarticulados no sio grandes. mas existe, devendo ser consideradas, rincipalmente, pelos efeitos expressivos que disso podem resultar. O espago de tues silabas fraquissimas, apesar de raro, ocorre e, como vimos, pode apresentar outras justificativas que ndo as puramente formais, 6.5 Para a compreensio do andamento dos versos maiores, em vez de Seguirmos uma scala, partiremos do principal deles, o decassilabo, cujo uso consagrado em nossa literatura baseia-e na alternancia bind 6.5.1 Consideremos os exemplos tipicos: “Seu longo ra de cidades brancas” (Cassiano Ricardo) “A sombra deleitosa dos teus seios. ..” (Raimundo Correia) “E amarratia os bragos ao sertio” (Cassiano Ricardo) “O tempo em febre e sede extingue a fonte” (Joaquim Cardozo) Verificando a disposicéo dos acentos de intensidade (fracas e fortes) nas silabas de todos estes versos, segundo os mesmos principios que vinhamos até aqui adotando, chegaremos a esquemas de alternancia totalmente idénticos: 24-6-8-10 24-68-10 246-810 2-4-6-8-10 6.5.2 A pura representagdo numérica veiculada pelo esquema de alternincia nfo nos dé ainda uma boa idéia do contomo intensivo de cada verso, mas apenas nos aponta um primeiro nivel de distribuicdo intensiva. Na verdade, a simples leitura acusard diferengas sensiveis entre eles: “Seu longo rastro de cidades brancas” (Cassiano Ricardo) 204 8 10 ee eee eee Teoria do Verso 69 “A sombra deleitosa dos teus seios. ..” (Raimundo Correia) 2 6 10 TE “E amarraria os bragos ao serto" (Cassiano Ricardo) 4 6 10 ee ee “O tempo em febre ¢ sede extingue a fonte" (Joaquim Cardozo) 204 6 8 10 -L-L-LeLik em que notamos algumas das silabas destacando-se do conjunto pelo maior srau de forga de que sfo possuidoras (trés primeitos versos) ou, realmente, todas as sflabas pares inscritas em idéntico nivel e grau (ciltimo verso). Este fato énos jé suficlentemente revelador de que 0 andamento intensivo destes versos se processa numa espécie de movimento ondulatrio, que pode atingit méxima regularidade, como no quarto exemplar, semelhante a este outro: “Andando andando andando andando andando” (Dante Milano) 2 4 6 8 10 -L-L-LoL_b cujas sflabas fortes internas vo surgindo sempre com o mesmo valor até a Sltima; ow com menor regularidade, caso em que a disparidade de forga faz com que as mais intensas se destaquem, situando-se nas curvas superiores, ficando as outras em sucessivos planos inferiores. Cada um dos trés primiciros versos escandidos tem, portanto, diversificado seu andamento gracas is Posi¢des em que surgem 0s pontos de maior intensidade: 2-48-10, 2-6-10, 46:10. Por este mesmo motivo, tals versos, que se nao confundem entre si, menos se confundirfo aos abaixo: 3 6 8 10 “Dos espasmos golfados ruivamente” (Mario de S4-Cameiro) 1 6 10 “Fonte de repulsdes e de prazeres”” (Augusto dos Anjos) dada também a quebra parcial da alterndncia bindria que ai se verifica. Se isto ‘nfo basta para provar arelevincia das silabas fortes ¢ o scu papel identificador do andamento intensivo, comparem-se 0s versos: 10 Rogério E. Chociay 2 6 10 “A sombra deleitosa dos teus seios . . .” (Raimundo Correia) 2 6 10 “0 cuspo aftodisiaco das fémeas” (Augusto dos Anjos) ambos com 0 andamento identificado por duas sflabas fortes intemnas (2.2 ¢ 6.4), embora a tltima parte do segundo seja representada por uma seqiéncia quaterndria. A redugdo do quatemnério a bindrio, af, nem precisa ser cogitada, 4J4 que duas seqiiéncias bindrias casam perfeitamente com uma quaternéria na realizagio do esquema do verso, embora o poeta possa tirat proveito expressivo de uma ou de outra (1), como se pode notar comparando os exemplos anteriores a este: 2 6 10 “A musica duleissima do vento” (Cesério Verde) 3 Para fazer nitido esse destaque assumido pelas silabas fortes no curso intensivo dos versos, torna-se necessério omitir os niimeros das fracas no esquema, jé que estas se inferem facilmente a partir dos_pressupostos indicados no Capftulo Segundo e infelo deste, Os versos analisados, portanto, aptesentam como esquemas peculiares: “Seu longo rastro de cidades brancas” 2-48-10 “A sombra deleitosa dos teus seios. . .” 26-10 ““E amarraria os bragos ao sertao’ 46-10 “O tempo em febre e sede extingue a fonte” (*) 246-810 “Andando andando andando andando andando” (*) 246-810 “Dos espasmos golfados ruivamente” 36-8:10 “Fonte de repulsoes e de prazeres” 16-10 ““O cuspo afrodisiaco das fémeas” 26:10 “A misica dulefssima do vento” 26-10 6.6 Estas primeiras observagdes, baseadas no estudo do verso decassilabo, dio-nos uma idéia melhor sobre o andamento intensivo deste e de alguns ‘outros versos maiores: ele nao trai os princfpios de altemancia intensiva habituais no idioma, mas peculiariza diferentes esquemas de realizagio pelo Jogo combinatorio de sflabas que, pela maior forga, se destacam e destacam 0 ‘curso intensivo de cada verso, podendo, porventura ocorrer que todas as silabas acentuadas se coloquem em idéntico nivel de forca. Pelos exemplos (1) Estilstcamente, duas seqUéncias binérias,do tipo 0102, tanto podem funciona como bindrias perfeitas como resolver-se numa quaternéria do tipo 0002. ( Apenas estes dois versos, dada sua construgso, presentamt o esquema ditibutivo ¢ 0 de forga pleramente Mentificados. Teotiado Verso 71 analisados ¢ mais os de alguns versos maiores que acrescentaremos, vé-e que 0 intervalo entre sflabas fortes (representado agora por fracas ¢ fraquissimas) tomas bastante varidvel, podendo ser de uma silaba, “0 Ifrio.e o vale ¢ 0 serro.¢ o mar ¢ eu” (Emiliano Perneta) 204 6 8 10 —-L-L-LedeL 2468.10 “Setembro, outubro, maio, abril, janeiro ou margo" (Alphonsus) 24 6 8@ 0 2 -t-L-L-L-LL paesioar de duas silabas, “Pelo trilho que as 4guas abriraim” (Tobias Barreto) “Aprendi os queixumes da brisa”” (Tobias Barreto) 3 6 9 ee eee 3-69 “Neste canto sem luz da gaveta da mesa” (Ribeiro Couto) “Ilumina o degredo e perguma o deserto” (Olavo Bilac) 3 6 9 2 --t--L--L-_L 369 de trés silabas, “Sentimental como um poeta enamorado” (Ribeiro Couto) “Triunfalmente por seu beijo coroado” (Ribeiro Couto) 4 8 2 —--4---L---L 4sn que poderto aparecer em combinagdes simétricas como as acima, ou mesclados num mesmo verso: “Os cabelos borrifados de estrelas” (Cassiano Ricardo) 7 10 an eel 37-10 72°—_—Rogério E. Chociay “Qs ios pendidos nos olhos to belos” (Casimiro de Abreu) 2 s 8 iT -te-Lo_ Lat 25841 Nio slo raros os exemplares que apresentam maior espagamento entre sflabas fortes: ““As luzes do amanhecimento” (Cecilia Meireles) “Olhavam-se desintegrados” (Cecilia Meireles) 2 8g -Lo---_- L 2. “Meus olhos, Idgrimas petrificadas” (Joaquim Cardozo) 24 10 -Litew L 2410 “Que o canto glorificard somente” (Mauro Mota) 2 8 10 -Lo-- LLL LoL 2810 6.7 Todos os exemplares escandidos em 6.6, que serviram como complementagio de nossas observagSes sobre o papel das sflabas fortes no andamento acentual dos versos, sugerem-nos duas importantes questdes, bastante relacionadas entre si: a) qual o espagamento minimo e 0 méximo entre sflabas fortes? b) no segundo caso, quais as caracteristicas intensivas do grande intervalo? 6.7.1 O problema da maior ou menor distancia entre silabas fortes nos versos estd relacionado diretamente a natureza do alinhamento em que estas surgem. No alinhamento impausado de versos ou de membros de versos, 0 espagamento minimo é de uma sflaba entre fortes. Em versos como, “Que rf mores, on que esd morta!” (Alphonsus de Guimaraens) “O sofrimento produz canto..." (Tasso da Silveira) “6 visto, vito we ¢ piedosa!” (Antero de Quental) “Niommo vale beth d beer" (Antero de Quental) “E 0 corcel negro diz: “Eu sou a Morte.” (Antero de Quental) Teoria do Verso 73, surgem seqiiéncias impausadas que apresentam duas silabas fortes contiguas. Na realidade, estas ocorréncias, longe de serem fatos especificos dos versos, Pré-xistem no idioma, que as resolve pelo enfraquecimento da silaba que Scupa posigfo mais débil; assim, na fala ou no verso, tais problemas si0 apenas aparentes. Nos exemplos dados, hé apenas uma leitura possivel, 8 “.. est morta!” 8 roduz canto. ..” 6 «visio triste, 6 *, << vulgar brilho.. 4 + Corcel negro. ..” resultando fortes apenas a 8.8 silaba, nos dois primeiros exemplos;a 6.2, nos dois segundos; a 4.2 no iltimo. 6.7.2 Se se trata, contudo, da dltima forte de um membro de verso e da Primeira forte do membro seguinte, como se observa nos exemplares absixo, 45 “Blasfema a dor, mora o rugido” (Vicente de Carvalho) 6 7 “E das roupas, enfim, livres 0s corpos saltam" (Olavo Bilac) 6 7 “Quanto pode pungir, mostra-se tudo" (Antero de Quental) 4 5 “Flores murchai. Aguas, apodrecei!” (Dante Milano) 2.3 “Secai, prantos do mar, e reste, vacuo” (Dante Milano) fem que uma sflaba forte termina um membro de verso © uma silaba forte ‘nicia © seguinte, 2 pausa que as separa legitima a ocorréncia, permitindo que ambas mantenham as respectivas cargas intensivas. Na maior parte dos casos, a primeira delas, por apresentar-se como final de membro melédico, apresenta maior destaque. Construgdes especiais, porém, podem dar-lhes idéntica condigic 1 45 10 “Flores, // murchai. // Aguas, // apodrecei!” 14 Rogério. Chociay 6.7.3 Silabas fracas, em condigées especiais, podem transformar-se em. fortes: “Espelham-se os esplendores Do céu, em reflexos, nas Aguas, fingindo cristais Das mais deslumbrantes cores.” (Augusto dos Anjos) Observe-se que do final do segundo verso para 0 inicio do terceiro verifica-se © encadeamento: © monossilabo mas, incidindo na sétima posiggo forte do verso heptassilabo, recebe carga intensiva que habitualmente nio ostenta, encerrando 0 verso e inclusive vindo a perfazer rima com -ais, final do vocdbulo que encerra o terceiro verso (cristais). 6.7.4 Pensando em termos de maior espagamento, partimos observando ue as ocorréncias mais comuns podem ser situadas em uma, duas ou trés silabas entre fortes; a incidéncia do intervalo de quatro sflabas & ainda relevante (no decassflabo 1-6-10, s6 para citar um exemplo). Mas em todas as épocas se podem compulsar exemplares que extrapolam 0 espago de quatro silubas entre fortes. A dificuldade do tebrico do verso, no caso, tem como ‘uma das causas principais 0 fato de ndo haver sido elucidada ainda, de modo inequivoco, a exata pauta intensiva do idioma: a malor parte das graméticas de hoje continuam falando em uma silaba “tonica” para cada voedbulo, que no méximo se pode tornar possuidor de uma “subtonica”, isso em casos especiais de formagdo (8s vezes, essa “subtonica” s6 tem existéncia tebrica, como em felizmente, cuja silaba -liz- nao é portadora de intensidade forte de mancira nenhuma); vocdbulos com seis, sete, oito sflabas nfo tém, deste modo, esclarecido’ 0 seu cxato contorno intensivo, assim como muitas construgdes de que se diz resultarem “indecisas” quanto aos acentos de intensidade... E evidente que o estudioso da versificago, no podendo contar com tal auxilio, facilmente cairé no erro de querer solucionar qualquer caso estranho com a célebre chave do “desenvolvimento de acentos ritmicos secundétios que operam milagre de regularizar 0 andamento dos versos dificeis.” Nossa atitude, no entanto, é ainda de expectativa quanto a0 aparecimento de informagées precisas, fundamentadas em experiéncias de laboratério, sobre 0 fator da intensidade nos vocéculos e construgbes do idioma. Enquanto tal no ocorre, colocamo-nos no campo da mera opiniio pessoal, que nés mesmos consideramos discutivel. 6.7.5 Se versos como 3 6 10 “Profundissimamente hipocondrfaco”” 3 6 8 10 “Fisiologicamente muito calmo” Teotia do Verso 78 de Augusto dos Anjos, no oferecem qualquer problema quanto a alterniancia intensiva € & presenga de silabas fortes (3-6-10, 3-6-8-10), como jé foi explicado no Capitulo Segundo, jé os seguintes “A sucessividade dos segundos” ““A mottificadora coalescéncia” “Misericordiosissimo carneiro” ““Antagonismos irreconcilidveis” “Os esqueletos desarticulados” tém-nos levado a refletir bastante ¢ duvidar de _explicagdes superficiais. Cremos que neles as “‘irregularidades” sio apenas aparentes. As construgGes que os encorpam tanto poderiam figurar em versos, como em prosa, sendo © mais importante no caso verificat qual a soluglo que Ihes dé 0 idioma na emissio normal, para depois estudar 0 problema na versificagao. Baseados nos pressupostos indicados no Capitulo Segundo, podemos inferir, inicialmente, que os grandes vocébulos existentes em tais versos apresentam alternancia bindria de fraquissimas e fracas, da dircita para a esquerda, a partir da silaba forte, 10 1020 sucessividade 1010 20 mottificadora 0101 0200 misericordiosissimo 101 020 inreconcilidveis 101020 desarticulados € © alinhamento global dos versos em que se situam também se inscreve perfeitamente num esquema de alternancia bindria, 1@:OsO'@@ © primeiro, 0 segundo e © terceiro versos apresentam como fortes a 6.8 ¢ a 10.8 sflabas; 0 quarto © 0 quinto, a 4.2 e a 10.8, Todos, como se vé, perfeitamente regulares quante alterancia, O problema, agora, esté em descobrit_se, na dinamica de cada verso, existe algo mais que a pura distribuigéo entre fraquissimas e fracas até a 6.2 silaba, num caso, ¢ da 44 4 10.2, noutro. A envolvéncia da cadéncia acentual da estrofe em versos decassilabos € argumento de que aqui ndo podemos langar mao, Pois 0s decassilabos de Augusto dos Anjos, embura conformados as duas 76 Rogério E. Chociny receitas de distribuigéo predominantemente binéria, apresentam-se em variadas contexturas na estrofe e de estrofe a estrofe. Poder-se-ia dizer, em funglo da receita ¢ de suas realizagSes habituais, que hé uma expectativa para a tetceira sflaba forte surgir na 1.8, 2.8, 3.8 ou 4.4 posicfo, no caso de 6-10; na 8.8, em 4-10, Mas seria preciso explicar também a razio concreta do surgimento “‘necessério” numa destas s{labas. M. Cavalcanti Proenca, a propésito, diz-nos que “é inevitdvel a acentuagfo suplementar, embora possa variar de posigdo” (1), em versos como “A sucessividade dos segundos” dizendo-nos que tanto podem ser lidos deste modo “A si-ce-ssi-vicdé-de dos se-gin-dos” —2-6-10 ou destes “A suct-ssi-vi-dé-de dos se-gindos" 3.6.10 “A sice-ssi-vi-dé-de dos se-gin-dos" 24.610 Que tais leituras sfo possiveis, nfo resta a menor duivida, embora das trés nflo aceitemos, por motivos dbvios, a que inscreve o verso em 3-6-10 (quebra forgada ¢ desnecesséria da alternncis bindria). O que nfo nos parece certo é considerar num mesmo grau de forga os acentos de versos como “A sucessividade dos segundos” “O espago da estreitissima clausura” “‘Antagonismos irreconcilidveis” “E o esquecimento brotar4 também” Se aceitarmos, no primeiro caso, a leitura 2-6-10, que & pactfica para 0 segundo verso, também para o primeiro, nfo poderemos deixar de observar que neste a 2. silaba apresenta grau inferior & do outro, de modo que a leitura forcada 2 6 10 “A su/ cessividade / dos segundos” resultaria bastante artificial, como artificial resultaria (D Op. cit. pp. 20-21 Teoria do Verso 77 4 8 10 “Antagonismos / irrecon / cilidveis”” De qualquer maneira, enquanto informagées mais seguras nfo surgem, preferimos considerar 0 esquema destes e de versos de distribuigto aniloga aponss nos pontos em que surgem sflabas fortes indiscutivels, nfo esquecendo, é claro, do primeiro nfvel de alternincia intensiva, que mesmo neles é perfeitamente regular pela distribuicfo de fracas ¢ fraquissimas, Se, na dindmica do verso, uma sflaba fraca pode ser reforgada e atingit o mesmo grau Aas demais fortes do verso, isto € problema sinda nfo definitivamente Ivido. 6.7.6 As consideragdes acima justificam 0 porqué da escanso de alguns Yersos apresentados em 6.6, que, embora com grande espagamento entre sflabas fortes, néo apresentam problema algum de alterndncia intensiva. Eilos novamente, ¢ mais alguns, com a indicagfo _) para as sflabas fracas altemadas entre fraquissimas: ““As luzes do amanhecimento” 2 8 ee reetel cese eee 28 “Olhavarnse desintegrados” (Cecilia Meieles) 2 8 aL dik 28 “Meus olhos, ldgrimas petrificadas” (Joaquim Cardozo) 2 4 10 -t-1--_1_4 24-10 “Que o canto glorificaré somente” (Mauro Mota) -L-1_-1_L_L 28:10 “Fonte de repulsdes ¢ de prazeres” (Augusto dos Anjos) “Extase do siléncio vertical” (Dante Milano) 1 6 10 Le-LeL-A_L 619 18 Rogério E. Chociay, “Viveremos a cultivar na estufa” (Alphonsus de Guimaraens) 3 8 10 DeLee) eee eee 3-810 ““Muitos outros se aproximaram destes” (Alphonsus de Guimaraens) 1-41-44 138-10 “De descobertas ¢ de profecias” (Joaquim Cardozo) —2-4-1-1-4 4-10 “Entre relampagos ¢ lividezes" (Dante Milano) J eee 410 © problema aqui continua sendo o mesmo hd pouco apontado: descobrir se em todos os pontos indicados com _) a carga intensiva, em cada verso, apresenta_ um mesmo valor relative ou hi diferencas. Embora sem informagoes apoiadas em exame de laboratério, continuamos achando que nenhuma dessas silabas pode receber carga intensiva equivalente & de sflaba forte. Alids, 0s poetas de cujas obras se extrafram os exemplares acima sempre foram ustiros ¢ vezeiras nessas desarticulagdes do andamento dos versos e da cadéncia estrdfica, obtendo, aliés, excelentes efeitos expressivos em fungo is0, como atestam muitos dos versos supracitados. 6.8 Temse, portanto, que duas atitudes. tedricas sfo possiveis ante as ocorréncias estudadas em 6.7.4. s.: a) deve desenvolver-se uma silaba forte para “normalizar” o curso intensivo do verso; b) o curso intensivo do verso deve ser considerado tal qual se apresenta, ‘sem redugGes a qualquer cadéncia. 69 De tudo que se disse, deve-se ter concluido que 0 problema, seja qual for @ atitude que se tome, nfo pode ser resolvido sem fundamentagio, Em primeiro lugar, porque a interpretagio de cada caso particular dependerd das doutrinas métricas da época, das solugdes praticadas pelo poeta, como do proprio poema em que se localiza o verso “irregular” (a imregularkdade pode ser mais expressiva que a regularidade, e 0 poeta sabe disso). Trazido o Teowla do Verso 79 problema para os tempos atuais, seré preciso, em segundo lugar, carrear informagdes lingiifsticas especializadas sobre a pauta intensiva do idioma; esta, segundo nos parece, esconde ainda alguns segredos. Tudo isso faz 0 problema pendente de solugao nos atuais estudos da teoria do verso. 6.10 Encerremos este capitulo observando que o papel fundamental no andamento do verso ¢ representado pela intensidade, num primeiro nivel de ura distribuigo ¢ num segundo de sflabas fortes. Mas quando o alinhamento do verso se conforma através da articulagio de membros distintos, a entonago € as pausas passim a trazer contributo indiscutivel para a caracterizagao desse andamento, e somente o estudo desses fatores poderd explicar muitos fatos usualmente nao esclarecidos nos manuais. A esse titulo, so patentes as diferengas de andamento (entoagdo e duragao) em pares de versos idénticos pelo esquema intensivo: 2 6 10 “A miisica duleissima do vento” (Cesério Verde) 2 6 10 ““Sondmbulo. ..Sonimbulo.... Sonimbulo. ..” (Augusto dos Anjos) 2 6 10 “Eu falo das ruinas do pasado,” (Antero de Quental) 2 6 10 “Que alegre, que suave, que sonora,” (Cléudio Manuel da Costa) 3 6 10 “As imensas auroras do Futura!” (Antero de Quental) 3 6 10 “Com mais énsta, mais dor, mais agonia.” (Cliudio Manuel da Costa) 2 6 10 “Na muda solidio deste arvoredo,” (Claudio Manuel da Costa) 2 6 10 “Prometem-vos (quem sabe? ) entre os ciprestes,” (Augusto dos Anjos) * exemplos que poderiam ser aumentados a saciedade, mostrando-nos articulagdes bimembres, trimembres, multimembres, com maior ou menor proximidade de sflabas fortes, maior ou menor numero de pausase efeitos de ‘entoagdo, embora todos eles identificados pela obediéncia a um mesmo cOmputo de sflabas no alinhamento e & incidincia de sflabas fortes fundamentals. Por estes © por multos outros que apresentamos neste livro, comera-se a verificar a infinidade de matizes a que pode atingir a melodia verbal, apesar de inscrita em certas “medidas”, Por af se vé, também, 0 erro 80 Rogério E. Chociay ‘em Que incidiram ¢ incidem muitos detratores da versificagdo (1), que a viram ¢ véem através das informagdes estereotipadas (e mesmo assim mal digeridas) de um que outro manual, sem nunca terem ido conferi-las com a realidade viva e miltipla dos textos. (1) Maitas “propos dia forma poética sio bem mais complicadas “fechadas” que a propria versificagéo tradicional. 7. Tipologia dos versos 7.1 Neste capitulo estudaremos, com farta exemplificagdo, os varios tipos de versos praticados em muitas épocas pelos nossos poetas, indicando as detignagdes de ordem numérica e as especiais, os esquemas gendricos ¢ as realizagBee concretas. Eslaremos adotando 0 padrio agudo de contagem, mas nao deixaremos de langar mfo do padrdo grave, sempre que este for necessério para a elucidacdo de certos fatos. 17.2. VERSO DE UMA SILABA 7.2.1 Bis 0s seus dados: 8) denominagdo: monossilabo (p. grave: dssilabo), b)esquema intensivo: 1; 1 ©) realizagio silébica: = -L. 1 a 1 2 Lt——|i} 2 3 O cixo mostra a tinica sflaba (forte) que é considerada na contagem. 7.2.2 Pouquissimo empregado isoladamente, neste cato recebendo a pecha de mera demonstragio de virtuosismo, como no exemplo B, 0 verso ‘monossilabo aparece com alguma frequéncia em estrofes heterométricas, as vezes em rima cont{gua com o verso maior anterior, motivo por que alguns tratadistas afirmam néo se tratar, af, de verso, mas de um fragmento ecdico 2 Rogério E, Choctay do vel 9 maior, como no exemplo A. Nada obstante, alguns poetas souberam utilizar-se muito bem de suas possibilidades /C), sem apelo necessério a0 eco. 7.23 Exemplos: (A) Sob nuvem lutulenta, ' — Lenta, — Se esconde a pélida lua; Na sombra os génios combatem; — Batem — Os ventos.a rocha nua (Fagundes Varela) (B) Vo bar Re tar (©) Natarde, morta, 0 que sino a chora? 4 it Nio chora, canta, na repica, flor tine. . hé (Eduardo Guimaraens) por A mor. (Martins Fontes) 1.3 VERSO DE DUAS SILABAS 7.3.1 Eis 0s seus dados: a) denominagdo: dissflabo (p. grave: trissilabo); ) esquema intensivo: ©) realizacao silébica: | — 1 [2] —-4t— 1 [2] 3 —~L—— 1 ja3aa6 7.3.2 Menos raro que o precedente, apresenta também melhor indice de ‘ocorréncia combinado a versos de maior extensdo, Observe-se especialmente quanto ao exemplo-A a funcionalidade da terceira sflaba, que nio pode ser desconsiderada para a caracterizagdo do andamento. ‘Teagin do Verso 83, 73.3 Exemplos: (A) Calado, (B) Nunca, jamais Sozinho, para sempre Mesquinho perdido Em zelos Ardendo 0 eco do corpo Eu vite ‘no préprio vento Correndo pregado. Tio falsa (Cecilia Meireles) Na valsa Veloz! (Casimiro de Abreu) (©) Numleito (D) Ele despiv-se Feito de qué? De cheirosas De tudo Rosas que amara. Risonhos Surdo-mudo Sonhos cegara. Sonharemos n Agora vé. (Castro Alves) (lorge de Lima) 14 VERSO DE TRES SILABAS 74.1 Eis 08 seus dados: a) denominagio: trissilabo (p. grave: tetrassilabo) b) esquema intensivo: 6) realizagio silébica 3 3] 4 3] 4 7.4.2 Seu emprego isolado ¢ jé bem maior que o dos anteriores, embora © {ndice de ocorréncia aumente se combinado a versos de medida maior, principalmente como quebrado de redondilho. Observe-se no exemplo B que a harmonia do conjunto surge do fato de os tetrassflabos serem agudos € graves 0s trissflabos. 714.3 Exemplos (A) Densa bruma (B) Mégoas de além Pelo espaco De olhos de quem Jase esfuma... Pede esmoli Ea garoa Gemidos ais 84 Rogério E. Chociay Se povoa ‘Das autunais De mil génios Barcarolas: ‘Vagarosos, (Alphonsus de Guimaraens) Pelo vento (©) Dos campos do relativo Reunidos escapei. E impelidos Se perguntem como vivo Centoe cento. que direi?’ (Castro Alves) (Cecflia Meireles) ©) Eisarose (©) Noite triste: silentiosa zimbra o vento Suas péta- que de riste Jas vermethas sangra ¢ lasca tém consciéncia velha casca da secreta e avelhentado tronco confidéncia rudo, das abethas (Guilherme de Almeida). (Atflio Milano) 1.8 VERSO DE QUATRO SILABAS 7.5.1 Bis os seus dados: 4) denominaeto: terrassilabo (p. grave: pentassilabo) ») esquemas intensivos: 24 eee arene L——~L 4 75.2 Sua freqiéncia nas literaturas portuguese © brasileira & sensivelmente maior que a dos anteriores, quer isoladamente, quer combinado 4 outros, maiores ou menores, especialmente como quebrado de séfico, de octossilabo, de eneass{labo e, mesmo, de heptassflabo. Pode-se encontré-lo regularmente entre 08 arcédicos e, também, entre muitos poetas modernos, alguns dos quais souberam utilizar-se magnificament: da potencialidade expressiva de suas quatro silabas, 73.3 Exemplos: (A) Alvejam cémoros (8B) Quero trabalho Dos nevoeiros! Firme nas ancas Como os coqueiros Sede na boca slo espetrais! Forga no brago Fantasma ldgubre Brinca esperanca Uivava triste No peito cheio Teoria do Verso 85 Quando safste Quero 0 trabatho. Dos coqueirais! (Mario de Andrade) (Raimundo Correia) (C) Que quer o vento? (D) No fim do mundo A cada instante Hi uma gruta, Este lamento Casa de pedra, Passa na porta Cama no chao Dizendo: abre De terra fresca, (Ribeiro Couto) Dormir na terra, (Dante Milano) (E)Desordem na alma (F) Do peito as ondas que se atropela Sao tempestades Sobvsta care Onde as vontades que transparece. Vio naufragar. (J. Cabral de Melo Neto) (Alvarenga Peixoto) 6 VERSO DE CINCO SILABAS 7.6.1 Eis os seus dados: a) denominagdes: pentassilabo (p.grave: hexassilaho); redonditho menor; de redonditha menor (1); redondilho pentassilabico, 'b) Esquemas intensivos: 12345 — trocaico: L—L—L— 135 1 2345 — idmbico-anapésticoe: — L ——L 25 — variantes: 1-5 ¢ 3-5 G) Notese “a propisito que redondilha &, propriamente, uma quadra de versos Pentassilabos (ou heptassilabos), com esquema rimico ABBA, emprcgada por exemplo na cantiga (a cancién trovadoresca dos espanhéis), poema em que a quadra final faz. um retomo rimico ¢ temético a primeira (mote), razio por que esta forma fol entendida como redonda, donde a palavra redonditha. Aplica-se 0 vocibulo feminino ao tipo estrdfico, ¢ o masculino aos versos usuais nas redondilhas. Diz, portanto, verso redondilho ou vervo de redondilhe. 486 Rogério E. Chociay . Teotiedo Verso 87 7.6.2 Nativo na poesia galego-portuguesa ¢, alids, 0 metro de menor sobre a outra, fato que se tomard mais relevante nos versos maiores. Com base extensdo empregado como tal pelos trovadores, seu uso tem-se prolongado até destaque ba int maiores. Com ‘05 nossos dias. Aparece frequentemente combinado a versos de maior e menor nese destaque de silaba interna, podemos inert as Seguntesrealzagbes: extensio, principalmente como quebrado de hendecassilabo, Tipoa: 24.6 (a2.8¢84 se equivalem): 24 6 7.6.3 Exemplos: . “A vaga lambe a areia” (Jorge de Lima) 2 6 (A) Caland’ ¢ sofrendo (B) Cordeirinha santa, 26 -* a i ee epee: Também naufiagars” (Clio Manuel da Cort) sil mortes na vida vvossa santa vinda 46 — “Dos iltoal . ‘ sinto, nam vos vendo. o diabo espanta Dos litrais do mundo" (Ceefia Metees) (Conde do Vimioso) (José de Anchieta) Tipob: 1-46 1aeada : (©) Burives, Euives, (D) Blaera nascida " Tl porque choras tanto, na Figrida. A vida “Tuo meu bem serés” — (Claidio Manuel da Costa) porque que é que assim vives Na Florida, olé 1 6 com as faces em pranto? como é que serd? 16 — “R ren (Martins Fontes) (Onestaldo de Pennafort) moramarclecem” (Ribeiro Couto) (E) Cavalos ligeiros (F) Tio tarde seria Tipoe: 1-3-6 a i 7 De erigadas crinas se apenas chegasses oe @ 1 . 8 * aera Ppr que sobre as ondas vestida de verbos “Brin - Passais sem parar? gue as lendas conjugam. ea Prose a sori” (Fagundes Varela) (oaquim Cardozo) (Paulo Bonfim) 3-6 — “Os canteiros molhados” (Ribeiro Couto) Na estrofe este alt i izand 4.7 VERSO DE SEIS SILABAS Na esto estes equematusalmente x misturm, earctezandose apenas a 7.7.1 Denominagées: “Um raio de luar Entrando de improviso, a) hexassilabo (p. grave: heptassilabo); No meu quarto sombrio b) herdico quebrado; ‘Onde medito, a s6s, c) herdico menor. Deixa a tremer no at Um pilido sorriso, 7.7.2 Este verso teve emprego bastante intenso nas estrofes ‘Um murmiirio de luz heterométricas do tipo 10/6 (odes e cangdes classicas, p.c.). Desse uso junto Que lembra a tua vo.” (Teixeira de Pascoaes) ao herdico adveiothe o nome de herdico quebrado, como também herdico menor. Os poetas logo perceberam suas possibilidades expressivas, vindo a mas nfo € dificil encontrarmos hexassilabos empregados com cadéncia empregé-lo também como verso auténomo, o que acontece inclusive entre acentual na estrofe, como em modemnos. oo “Beijar-te a fronte linda: 7.1.3 Podemos consideré-lo em trés tipos distintos, conforme a Beijar-te 0 aspecto altivo: distribuigdo intensiva: a) 2-4-6, b) 1-4-6, ) 1-3-6. Nas realizagSes de cada tipo Beijr-te a tes morena " jd se torna perceptivel © predominio intensivo de uma das silabas internas Beijar-te o rir lascivo:” (Junqueira Freire) 88 Rogério E. Chociay Teotiado Verso 89 Como jf dissemos, seu uso como quebrado de decassilabo ¢ relevante: Tipoa: 1-35-7— “Lutae gira sonhae volta” JL) , | “Movel terra, céu incerto” (JL) “Esprema a vil caltinia muito embora “Noites de alma, céus a tona” (CM) Entre mos denegridas,¢ insolentes, “Rosa clara em rubro espelho” (CM) Os venenos das plantas “Mar e cet morreram juntos” (CM) E das bravas serpentes.’ (Toms Antonio Gonzaga) 1-27 “Cumpre apenas o seu fado” IL) “Dia e noite a navegar” JL.) “Enquanto alerta, circulando os ares, “Quieto reino mineral” (JL) * O fatal cabo montas, “Dorme em dguas de mistério” (PESR) tu, que os raios, os tufbes, os mares, “Tua misica univalve” (CM) ‘Audaz ¢ insano afrontas!” (Bocage) 15-7 “Ela o pensard também? "(CM “Chamas de um secreto inferno” (CM) “Mudam-se em dogura rara.”” (CM) “Eco de invisiveis festas” (CM) “Niimeros de grande urgéncia” (CM) “Crespo vagalhiio do oceano” (DM) 7.8 VERSO DE SETE SILABAS 7.8.1 Denominagoes: “Mar que na maré vazante” (RC) a) heptassilabo (p. grave: octossilabo); ») septissilabo; ¢) setissilabo; 3-5-7 — “De manhd estrelas verdes" (IL) @) -edonditho maior; “A paises de outros vinhos” JT.) ©) verso de redondilha maior (1); “Em redor dos bancos frios” (CM) f) redondilho heptassilébico. “Desenhiados par a par” (CM) 7.8.2 Com presenga considerdvel na poesia galego-portuguesa, como 3-7 ~ — “Aleprias descobertas” (JL) uum de seus versos nativos, 0 heptassilabo atravessou todas a8 épocas com uso “Disciplina de chorar (CM) regular que se mantém até hoje. Veros no alinhamento heptasslébico quatro “Da letdrgica bacia (CDA) esquemas fundamentais de alternancia intensiva: a) 1-3-5-7, b) 2-4-7, ¢) 2-5-7, ““O mais puro dos mortais” (PESR) 4) 14-7. As diversas realizagbes que pode apresentar cada tipo surgirdo do destaque de uma ou mais sflabas internas no seu curso intensivo, Et-las, com nae exemplos de $7 ~ ito" (CM) “Na definitiva pressa” (CM) “Possibilidades clara: Jorge de Lima (JL) Cectfia Meireles (CM) Péricles Eugénio da Silva Ramos (PESR) Dante Milano (DM) Le Ribeiro Couto (RC) ‘Rapido o levantaria” (CM) Carlos Drummond de Andrade (CDA) “Ecos de misericdrdia” (CM) “Juntas na separaco” (RC) “Itha de metancotia” (RC) () Sobre este nome, v. nota referente 20 pentasefabo em 7.6.1. “Vai-se metamorfoseando” (DM) 0 Rogério E, Chociay Tipo b: 2-4-7-- “Que bico r6i o teu mal? ” (JL) “0 amor se banha na morte” (CDA) “0 fino dardo da chuva” (CDA) ““Aragem presa em si mesma” (PESR) “Orfeu deitado nas trevas” (PESR) “Mirei soldados deitados” (CM) 47 - espiragdo ventaniada” (JL) “Equilibrado na lama” (CM) “Desconhecido de mim” (PESR) “Definitivas eternas” (CDA) “Histérias que so porfias” (JL) “Cabegas de estranhas musas” (JL) ‘ampélica voz perdida” (CDA) “A carne que exige as cinzas” (PESR) \dicios de canibais” (JL) 'stévamos esquivados” (JL) “No plano do aceltamento" (JL) “E a misica dos meus dedos” (CM) “Lembrava-se do passado” (CM) “E espalha-se murmurando” (DM) "O olhar experimentado” (CDA) “Perdido no nevoeiro” (RC) Tipod: 1-4-7— “Mastros que apontam caminhos” (JL) "Asas das hastes pendidas” (JL) jizio do sonho secreto” (CM) ‘Poupa ‘a amargura insolivel” (CM) “Bi-las sumindo-se no ar” (CDA) “Itha de um s6 habitante” (RC) 7.8.3 Os esquemas ¢ realizagdes apontadas no chegam, contudo, a demonstrar toda a riqueza de andamento que possui o verso heptassilabo, pois pode apresentar-se também articulado por dois ou mais membros, comportando, inclusive, a contighidade de sflabas fortes (separadas por pausa) em seu alinhamento. Tradicionalmente, seu uso na estrofe basela-se apenas na cadéncia sildbica, com —muitfssimas possibilidades de variagZo ritmico-expressiva verso a verso. Nada obstante, alguns poetas usaram-no Tedriado Verso 91 também com cadéncia acentual na estrote, como por exemplo Silva Alvarenga, nos seus rondas, que damos um exemplo: “Para frutos nao concorte Este vale ingrato e seco; Um se enruga murcho e peco, Outro morte ainda em flor. cujos versos se inscrevem como realizagdes do tipoa (1-3-5-7), 0 heptassilabo surge ainda em composigdes heterométricas, com os seus quebrados, o trissilabo © 0 tetrassilabo. 7.9 VERSO DE OITO SILABAS 79.1 De jominagdo: octossilabo (p. grave: encassilabo), 7.9.2 verso de oito silabas, introduzide por influéneia francesa na poesia trovadoresca, foi, praticamente, abandonado durante o Classivismo Ganhou impulso novo em Portugal, apis Casilho, que dele afin “O metro de oito syllabas pode-se dizer que ainda ndo & usado em portuguez. Nada, talvez, escrito n’elle, afora uma ou duas tentativas de José Anastacio da Cunha, que Porventura 0 estreou, ¢ uma ou duas minhas, sem continuago nem imitador; razdo porque, a sua harmonia se ndo acha ainda devidamente fixada, nem ouvido nacional Por ora se Ihe ageita. | Todavia, quando mais e melhor cultivado este metro (a julgarmo-o pelos seus elementos, ¢ pelo que os Franceses delle teem chegado a fazer), pode vit 4 ser muito apreciado.” (1) Mais adiante, o mestre faz, a seu modo, a relagio das possibilidades do verso, enunciando os esquemas 48, 246-8, 2-8, 3.68 © 2.5.8, Conclui, porém, fazendo uma selegao: “Diestas cinco variedades as mais apraziveis sio: a de dois, tres, € tres; a de dois, dois, dois e dois; ¢ a de quatro ¢ quatro. O rythmo das outras ¢ apenas perceptivel." (2) GY CASTILHO, Anionio Feliciano de ~ Tratado de Metrificaséo Portugueza, Empreza 4a Historia de Portugal, Lisboa, 1908, 58 ed., pp. 57-38. (2) Idem, p. 59. 92 Rogério E. Chociay Entre nés, Olavo Bitac demonstra, na teoria e na pratica, preferéncia pelos ‘esquemas fundados em 4-8. Diz-nos que 0 verso “octissyllabo” possui duas varledades: “No horrendo pantano medonho, assim se decompée: 12 No horren 12 Do pan 1234 Tano medonho O octissyllabo também se pode dividir em um verso de quatro syllabas, e dois de duas; em que vivertos és o cysne: 1 2 34 Em que vive 12 Mos és 12 Ocysne Ou ainda em quatro versos de duas syllabas: Que o cruza sem que a alyura tisne: I 2 Que o cru 12 Zasem 1 2 Que aalvu 12 Ratisne.” (1) Pelo visto, foram os rominticos que, timidamente, comesaram a tomar consciéncia das possibilidades deste verso, ¢ a previsfo de Castilho veio a se realizar, pois 0S poetas portugueses ¢ brasilciros, mais tarde, acabaram explorando o verso em todas as suas possibilidades combinatérias, J4 em Garrett (O Emprazado) encontramos: “Da guerra d'el-tei Almangor 25.8 Vira co’essas armas sangrand 258 Ou foi que na estrada algum bando 258 O quis, por mé-traga, matar!” 288 (1) BILAC, Obvo & PAS ‘Alves, 1905, pp. 61-62. OS, Guimaries, ~ Tratado de Versificagdo, Rio, Francisco Teoriado Vero 93 E Gongalves Dias, embora circunstancialmente (A Tempestade), serve-se de idéntico esquema: ‘Bem como serpentes que o frio 258 Em nés emaranha, — salgadas 258 As ondas s'estanham, pesadas 258 Batendo no frouxo areal.” 25.8 Em Machado de Assis é de se notar 0 predominio dos esquemas baseados em 13-68 € 4-8, de mistura a todos os outros tipos, como se pode ver pelos exemplares abaixo: “Tem do céu a serena cor” 13468 “Soliddes em que se ouve o grito” 368 ‘“Meditando, conjeturandc” 38 “Via limpos 0s coragdes” 138 “De batalhas ¢ descobertas” 38 “De folha e flor, de sol e neve”” 24.68 “Os hipopétamos tranqiiilos 48 Riso de eterno mogo amigo” 1-468 ‘Gosta do estrépito infinito” “Era no glacial dezembro” “Das cortinas ia acordando” 35-8 ““Regressa ao temporal, regressa 268 “Ea gloria coroava a gloria.” 268 Foi Guerra Junqueiro, famoso pelos hendecassilabos trocaicas, um dos que notabilizaram o uso do octossilabo com cadéncia acentual 4-8 na estrofe: “Todo esse vomito de honores 1.4.8 E de catéstrofes sombrias, 48 Profundo atlantico de dores, 248 ‘Negro Himalaia de agonias,” 14.8 E Bilac, coerentemente a0 que afirmara no Tratado, scrve-se de idéntico esquema acentual (Baladas Roménticas, p.e.): “Revivo a mégoa jd vivida 246-8 Eas velhas Ligrimas. . a fim 248 De que chorando, arrependida, 24.8 Possas lembrar-te inda de mim!” 148 Boa parte dos pamnasianos manteve-se fiel a esse uso, que cresceu de intensidade entre 0s simbolistas, Cumpre destacar 0 relevo que 0 actos 94 Ropstio k. Chociay: apresenta na obra de Alphonsus de Guimaraens, que consegue excelentes efeitos de contraste entre 0 esquema 4-8, em maior indice, e todas as ou tras possibilidades: “Se nds olhamos para tris, 248 Quantos mortos vamos revendo! 13.5.8 Este € 0 sepulero em que ela jaz. 1468 Foi ontem que év a vi morrendo.”" 26-8 A inifluéncia da literatura francesa durante o Parnasianisino ¢ 0 Simbolismo é uma das razdes aventadas para a explicagdo do subito gosto pelo octossilabo entre nds, Nao esquegamos, aliés, de que as fontes de Castillo foram os ‘manuais franceses. De um modo ou de outro, se 0 uso na poesia trovadoresca nao fora suficiente para impo-lo, a verdade é que 0 verso de oito sitabas realmente se consagrou apés as lig@es do mestre, vindo a ter uso intenso entre os simbolistas ¢, inclusive, entre alguns modernos, como Ribeiro Couto, Cecilia Meireles, Jorge de Lima, Cecilia Meircles, por exemplo, serviu-se dele mais que 0 proprio Alphonsus, com a peculiaridade de nao dar primazia a ‘qualquer esquema particular, variando intensamente as suas realizages: “No desequilibrio dos mares, as proas giraram sozinhas. ‘Numa das naves que afundaram € que tu certamente vinhas.” “Sombras. A cémara apagada, . Sombras. . . Meu vulto é longe. . . ausente Silencio. .. Calma. . . Sonho. . . Nada Vago, leve, indecisamente, 7.9.3 Podemos melhormente explicar a réceita do octossilaho com hase na sua realizagéo estréfica, em que vetificamos duas possibilidades de emprego: 1.8) com cadéncia silébico-acentu: também 2-5-8 ¢ 3-6-8): 2.2) com cadéncia silébica na estrofe: contam todas as suas possibilidades de realizagdo, a partir dos tipos bdsicos de alternincia: a) 1-3-5-8, b) 1-3-6-8, ¢) 1-4-6-8, d) 2-468, e) 2.58, 1) 2.6.8, : esquema 4-8 (esporadicamente, 7.9.4 O uso do verso com cadéncia sildbico-acentual na estrofe toma or base a simetria obtida pela fixagdo de uma 4.8 silaba forte, variando as demais silabas de cada membro quanto a intensidade, podendo também ser fortes: a 1.4 ou a 2.8, a 5.8 ou a 6.4, O esquema fundamental €, portanto: Teoflado Vero 95 1203 4 S$ 67 8 » - hae tans aie Cobo 4 que se adaptam quanto a andamento ¢ cadéncia: 123 4 5 67 8 ym Li La grave +4 sinaleta wel web 1203 4 5 67 8 g batt age Le a 123 4 5 6 78 Q —~—~~L— us, — 1 desdrixuto+ 3 L ¢/sinalefa wt 1203 4 5 6 7 8 2) ——~—~La— +L gesdrixuto+2 Note-se que nos esquemas a) e b) fica resgvardada a integridade dos hemistiquios tetrassilabos, o que nfo acontece nos restantes. Mas a verdade & que, na pritica, isto nfo veio a ter grande importincia, pois os esquemas c), d) € e) desde logo surgiram misturados aos outros. O que passa a caracterizar tal verso, assim, € tio somente a fixagdo de uma 4.2 silaba forte, que Ihe traz andamento peculiar, ¢ nJo a diviso em membros sildbicos simétricos. Apesar disto, Duque-Estrada ainda dizia do octossilabo 4-8: “Pode ser decomposto em um verso de quatro syllabase- dous de duas, ou vice-versa; ou ainda em quatro de duas; 96 — Rogério E. Chociay “nas a divisio mais curial é a que se faz muito naturalmente ‘em dous versos de quatro syllabas, por serem esses os seus verdadeiros elementos estructuraes: 123 4 567 8 Hoje -nem-sek- / de-tan-tos -s0-/nhos, Te-nhode -sér- / t'o-co-ra-¢50” (1) ‘Ou, ainda, 20 comentar a cesura, “No octossyllabo ¢ no alexandrino a collocacao da cesura é exatamente no meio;” (2) Mas tanto a cesura como a fixacdo de hemistiquios para 0 octossitabo tormaram-se apenas dados tedricos, jé que este veio a assumir todas as Possibilidades de articulagzo de membros que a fixagdo do acento forte na quarts sflaba Ihe permitiu, sem que isto trouxesse qualquer prejufzo a0 seu andamento ¢ A cadéncia acentual estréfica. Nada obstante, grande nimero destes versos guarda exatamente essas proporgdes simétricas (444 ou 4 grave + 4 com sinalefa), apresentando inclusive a contigiidade de silabas fortes entre (08 membros tetrass{labos. Eis os nimeros de todas essas realizagBes: 24-68, 4-6-8, 24-8, 48, 1-4-6-8, 1-4-8, 2.4/5.8, 1-4/5.8, 4/5-8, E alguns exemplos: ““Aos borbotées/o sangue cai. ..” (Olavo Bilac) “O amor € uma drvore ampla e rica”” (Olavo Bilac) “Terriveis pdginas/da vida" (Olavo Bilac) “Ail coragio!/peno e definho” (Olavo Bilac) “Na escuridio/vaga perdida” (Olavo Bilac) “A vor piedosa/do gigante” (Vicente de Carvalho) “Atrés de cOmoros/de areia” (Vicente de Carvalho) “Da formosura/triunfal” (Vicente de Carvalho) ““Sonha a nudez:/brutal e impuro” (Vicente de Carvalho) “Passa, ¢ ndo vés:/branca, marmérea” (Vicente de Carvalho) “Branco de espuma, ébrio de amor” (Vicente de Carvalho) “A telva fresca a iluminar” (Guerra Junqueiro) “Em doce frémito amoroso” (Guerra Junqueito) (1) DUQUEESTRADA, Ossrio ~ A Arte de Fazer Versos, Francisco Alves, Rio, 1914, 28ed,, p.91 Teotiado Verso 97 “Monstruosidade apocalfptical” (Guerra Junqueiro) “Vala comum — / tasca nojenta” (Guerra Junqueiro) “Nao, marinheiro! / Olha-o assim” (Guerra Junqueiro) “O astro palido / que ascendes” (Alberto de Oliveira) “Ouves dos orbes / 0 profundo” (Alberto de Oliveir “Rola, talvez, / sem lei nem rumo” (Alberto de Oliveira) 7.9.5 O emprego do octossilabo com cadéncia apenas silébica na estrofe (de indice também relevante) aproveita todas as possibilidades surgidas de 4-8 mais as que surgem dos tipos 1-3-5-8, 1-3-8, 2-58 e 2-6-8. Assim 0 encontramos, por exemplo, na obra de Alphonsus de Guimaraens, Ribeiro Couto, Cecflia Mcireles, Jorge de Lima, e outros. Eis alguns exemplos destes Ultimos esquemas ¢ poetas: 4) 1-3.5-8: — “Cisnes brancos! Sede felizes ““Tomam formas de aves noturnas” (CM) 35-8 — “Em lagadas feitas de flores" (AG) “Ficaria também perdida” (CM) 1-5-8 — “Perde a intensidade sonora” (RC) “Livre de qualquer sepultura” (CM) b) 1-3-6-8: “Sete damas por mim passaram”” (AG) “Duros, fortes, blindados como” (JL) “Foste feita de chamas de oiro” (CM) “Cai na varzea que a névoa encobre” (RC) 3-6-8 — “Agitaram as verdes vestes” (AG) “Oferecem barcos estranhos” (RC) 13-8 ~ “Vozes quentes de lavadeiras” (RC) “Cantos vagos de passarinhos” (RC) 38 — “Com figuras alucinadas por desejos e covardias? ” (CM) ©) 2-4.6-8 (4 exemplificado). 4) 1-4-68 (4 exemplificado). #) 25-8: “BE aquele que os mortos reine” (AG) ““Colore as areias desertas.” (CM) “Em misica, em mérmore, em versos? ” (CM) “O dura legenda incendiada” (JL) 98 Rogério E. Checiay f) 2.64 “Vencendo sucessivos planos” (CM) “E nada ficard impune” (AG) “E fiz uma figura triste” (RC) “Decide-se a fazer os cactos” (JL) 28 “De novo se debrugardo” (CM) ““Nasceram das encruzilhadas” (CM) “As luzes de amanhecimento” (CM) “Olhavam-se desintegrados” (CM) 7.10 VERSO DE NOVE SILABAS 7.10.1 Denominagao: eneassilabo (padrio grave: decassilabo) 7.10.2. Encontramo-lo j4 em Bocage, que em uma de suas odes (1) ‘© emprega com a soma de dois tetrassilabos (0 primeiro grave ¢ o segundo esdrixulo), “Canora musa // do culto Pindaro, 24/179 Que remontavas // sou estro férvido” 4/179 “Eis aparecem // no mundo, ¢ sibito 14//79 Murcham-se as flores, // secam-se as drvores;”” 1-4//69 “Desce a meus gritos, // inspira, inspira-me 14//79 Queixosas nénias, // fiinebres canticos;” 2-4//6-9 Entre 08 roménticos predomina 0 esquema 3.6.9, com cadéncia sildbico-acentual na estrofe. Ao lado deste'ndo deixa de ser empregado, pe. por Junqueira Freire ¢ Fagundes Varela, o eneassilabo 4-9, com primeiro hemistfquio invariavelmente grave. Junqueira Freire, como 4 explicamos no Capitulo Quarto, chega 2 utilizé-1o como verso composto segundo os mesmos padrdes do alexandrino antigo (possibilidade de variar a terminago do primeiro hemistiquio). Os parnasianos empregaram, predominantemente, 0 verso de nove sflabas como a soma de dois tetrassilabos, dos quais 0 primeiro Brave, © nesse caso interdita a sinalefa, que se toma porém obrigat6ria quando © primeiro hemistiquio é esdréxulo. Esta receita passou aos simbolistas, () Ode A tmprovisa morte do Exma, Principal Mescarenhas (D. Domingos de Assi). Esta compodgio consta de vinte © sete quadras, das quais o primeiro e o segundo versos ‘so eneassflabos 4.9 ¢ os dois restantes hexassilabos. Os eneassilabos posmem terminagio esdrixula; o primeiro hexassflabo sempre grave, assim como o segundo hhexassflabo sempre exdrtixulo, Teoria do Verso 99 muitos dos quais, mantendo embora a acentuagio fundamental 4.9, ampliaram a combinatoria de membros do verso, usando ndo somente 4 grave + 4e 4 esdninulo + 4 com sinalefa, como também 4 agudo + 5, 4 grave + 5. com sinalefa e4 esdrixulo + 3. Cumpre destacar o fato de alguns simbolistas (pe. Alphonsus de Guimaraens e Eugénio de Castro) terem usado o encassilabo de mistura a octossilabos ou vice-versa (4-8 € 4.9), 0 que é verificével modernamente também em Cecilia Meireles. Indo mais além, Alphonsus chega a langar mio de possibilidades nfo ortodoxas, misturando 369, 49, 25:9, 2-6-9, 1-3-5-7-9, num emprego do verso com cadéncia apenas sildbica na estrofe. Reencontramos 0 eneassilabo na obra de alguns poetas modernos como Cecilia Meireles, Manuel Bandeira, Ribeiro Couto, Murillo Araijo, Guilherme de Almeida, Paulo Bonfim e outros, sendo importante destacar que Jorge de Lima chega a uséo nos mesmos moldes em que o fez Junqueira Freire (1). 7.10.3 Conforme a época e 0 poeta, como vimos, poderemos encontrar © eneassilabo empregado de diferentes modos: 1.0) Esquema 3-6-9, com cadéncia sildbico-acentual na estrofe: ““interpelo as estrelas que choram, E asestrelas nfo querem dizer, Falo aos ventos ¢ 0s ventos respondem: Também nés procuramos saber. . .” (Tobias Barreto) Este tipo eneasildbico, de andamento temnério, as vezes chamado de “verso de Gregorio de Matos", foi muito do gosto dos roménticos, Enquadrs realmente em 1-36.9 pela altemincia, com a sflaba inicial podendo surgit ‘como fraca, “Cavalguemos dois lindos corcéis” (Tobias Barreto) ou como forte, “Diga 0 anjo que sempre comigo” (Tobias Barreto) De outro modo, 0 andamento monétono e envolvente, gerado pelo uso sistemttico da acentuagdo na 3.8, 6.4 ¢ 9.8 sflabas, pode ser atenuado pela articulagfo do verso em dois ou mais membros, surgindo daf diferentes matizes de tom, pausas e, mesmo, a contighidade de sflabas fortes (da 3.8 com 248, da68coma7): (G) Fato jd explicado © exemplificado no Capitulo Quarto, 100 Roplrio E. Chociay “"Mas tu foges de mim!. ..ouve, espera” “Pobte, louco, misérrimo e triste! “Proibir-me que sof “E de mais, bem 0 sei, a loucura” “O que tenho? que posso eu ter dar? “Guardo ldgrimas; queres? nfo queiras; “Vem, a hora é bel{ssima; os péssaros”” “Que perfume!. . . Tew hilito faz" (Tobias Barreto) 2.9) Esquema fundamental 4-9, de verso composto segundo os mesmos principios do alexandrino antigo (possibilidade de vatiagfo terminal do primeiro hemistiquio, embora o padrfo considerado sejam os hemist{quios Graves); trataze do exato modelo do decassilabo composto dos espanhois: eee 2nero ners eee 1203 4 5 yo LL to lds a y-- pean Ut agl Lb aL Zot 0 a = L Loe “E quando o sino // tocou mati 244/24 Ela tremeu // de seu fragor. 1.4//2-4 Ea pobre moga // — da vez primeira — 24/124 Das rezas quase // sentia horror.” (1) 241/24 Gunqueira Freie) 3.0) Esquema fundamental 4-9, embora de principios de composigdo modificados em relaglo ao anterior, pois todas as silabas do alinhamento do verso so contadas até a iiltima forte, nfo se permitindo excesso ou falta: (1) Um primeizo hemistfquio esdrixulo nfo & enconiravel nos poemas de Junqueira Freire ¢ de Jorge de Lima feitos segundo tal receita. Mas bastam para sustenté-la: a) a variacfo grave-aguds dos hemistiquios iniias; b) a separagio entre os hemistfquios ‘raves, mesmo quando hé possbilidade de sinalefe, Teoria do Verso 101 12345 6789 y———L— +———L Ginaleta interditay by — — — L— 4 — — L Ginalefa obrigada) “Ou ser como érvore: // aos lavradores 249 dé lenhae fruto, // da sombrae 24.7.9 44 ninho as aves; // 20 inseto, flores. 24.19 ‘Mas nada sabe // do bem que faz.” 247-9 (Guilherme de Almeida) © andamento intensivo do verso assim equacionado apresenta quatro possibilidades com o intervalo de fraqufssimas entre fortes: “Olhos pisados, fundas olheiras,” (Raimundo Correia) “Banhos de lua que fazem mal!” (Raimundo Correia) “Do céu remonte-se a ave mais forte” (Alberto de Oliveira) ““Abrindo um voo de asas gigantes” (Guilherme de Almeida) 24-79; “Dos sete ventos da noite imensa.” (Paulo Bonfim) Outros esquemas de realizagdo, tais como 4-69, 4-79, 249, 14.9, 4.9, apresentam, apenas aparentemente, intervalo superior a duas_ silabas Fraquissimas. Nos esquemas apontados, a 2.2, ou 2 6.4, ou ambas, surgem ‘sempre como fracas, 0 que 6 suficiente para sustentar o tndamento intensivo dos versos onde surgem, trazendo-Ihes embora diverso matiz: ““Evaporavam letal perfume. ..” (Raimundo Correia) “Desponta ratila, a madrugada” (Carvalho Aranha) “‘Vaga, noctimbula apari¢ao!” (Raimundo Correia) “Se amortalhavam na lividea. . .” (Raimundo Corre “De desalento. .. de desencanto. . .” (Manuel Bandeira) “Ingenuidades encantadoras!” (Antonio Nobre) “Felicidade! Felicidade!” (Antonio Nobre) 4.9) Esquema fundamental 4-9, que incorpora as duas possibilidades anteriores, articuladas em membros. simétricos, as és seguintes, que articulam membros assimétricos: 1234 $6789 g——— b+ Lagi 1234 $ 6789 a) — — — Las — — — L agave +5 ojsinateta 123456 789 y———L—— + © L Aesirixuto +3 102 Rogério E. Chociay “Depois da chuva // desabalada Que tarde limpida // de verdo! A verde sombra // de uma latada Venho beber // esta exalacao De folha fresca // e terra molhada.” (Ribeiro Couto) “De ti s6 resta// 0 que se consome. Vais para a morte? // Vais para a vida? Tua presenga // nalguma parte ¢ j sinal // da tua partida.” (Cecilia Meireles) As possibilidades de realizagfo acentual sio aqui as, mesmas da receita anterior, valendo destacar: a) os efeitos peculiares obtidos com o esquema 4 esdrixulo + 3: “Cheios de ldgrimas emotivas” (Ribeiro Couto) “Oh! mar das placidas perspectivas” (Ribeiro Couto) “Dos olhos languidos da menina” (Ribeiro Couto) “Por estas liricas redondezas” (Ribeiro Couto) ) a possibilidade de silabas fortes contiguas, quando 0 verso se realiza em 4 agude + 5; “Vé praia e mar,// ondas a bater” (Ribeiro Couto) “Passam pelo ar // sombras de esqueletos” (Alphonsus de Guimaraens) ““Virgens de luz, // fadas erradias!” (Alphonsus de Guimaraens) 7.10.4 Como jé afirmamos em 7.10.2, podemos ver em muitos poemas de Alphonsus de Guimaraens ¢ alguns de Ribeiro Couto o emprego do verso eneassilabo com cadéncia apenas na estrofe. Em Alphonsus encontramos variadissimas possibilidades de realizagdo acentual desse verso (1): 14-69, 14-79, 2-469, 24-79, 369, 1-3-5-79, 25-9, 2-69. Eis uma relagdo de exemplos: : 1:3-5-7.9: “Horas € horas, cose, cose, cose, Prega, prega, triste sapateiro!”” “Rosas brancas, rosas cor-de-rosa.” “Pobre lua-nova, quem te pos” a {ato apresenta precedentes em muitos simbolistas que, apesar de empregarem busicamente 4-9, uma que outra vez quebravam a cadéncia acentual da esttofe com versos sem acentuagio na 4.9 sflaba, Mas em Alphonsus 0 niimero dessas quebras & ‘bem maior. Teorla do Vero 103, : “Nas remotas soliddes agreste: “Dolorosas, pelo cho da igreja’ “Eurritmia celestial das cores” 3-5-9: “Sapateiro, faze os sapatinhos”” “Em trend, entao, pelos caminhos” : “Serds a senhora lua-cheia.” “Mais leve que brancos véus de espuma” 25-9: “Espectros de miimias imortais.” 2-6-9: “E logo te ajoelhaste a rezar. “Ungidos pela cor da alvor 136.9: “Rosa mistica, imécula rosa” “Passa, acaso, por mim rogagante” ~> 3469: “Os vestidos de luar que perdeste. ..” 7.10.5 Podemos encerrar esta visio do eneassilabo lembtando 0 seu ‘emprego junto @ octossfiabos (4-8 & 4-9) verificdvel em Alphonsus de Guimaraens ¢ Eugénio de Castro e, mais proximo de nés, em Cecilia Meiteles, Os esquemas 4-8 ¢ 4-9 facilmente se confundem, pois “o ouvido quase no pereebe a diferenga de uma silaba”, enganado pelo acento da 4.8 (1); “Olhos sublimes, sombras chinesas, 1469 Sob a arcaria das sobrancelhas. . . 146-9 Solar magnéfico, onde princesas 2469 Passam de tiinicas vermelhas. ..” 148 (Alphonsus de Guimaraens) 7.11 VERSO DE DEZ SILABAS 7.11.1 Denominagdes: decass{labo (p. grave: hendecassilabo). Existem ‘multes outras denomingebes surgidas conforme o esquema fundamental, § época ¢ os tratados de versificagio, Ax que julgarmos importantes’ ¢ necessérias serfo Indicadas através deste estudo, (D “Ritmo e Poesia”, p. $2. 106 Rogério E. Chociay 7.11.2 0 verso decassflabo, cujo emprego na poesia trovadoresca, em variados esquemas, é matéria controversa, teve, desde o Classicismo, seu uso caracterizado pelo predoménio de realizagdes fundadas em 6+4, esquema fundamental 6-10, tipo denominado, genericamente, de herdico; © 4+6, esquema fundamental 48-10, tipo denominado de sifico. Mas afirmar-se que apenas estes tipos foram realizados ¢ arriscar-se um pouco. Manuel Bandeira, Pe., aponta em Camdes “muitos exemplos harmoniosos de outros ritmos (G#7, 44343, 248, 446)" (1); € 0 Prof. Péricles Eugenio da Silva Ramos embra, a propésito, que nao devemos considerar a introdug0 dos modelos italianos do decassflabo na versificagio portuguesa apenas com “o duplo rosto que atualmente the concedem os manuals”, ou seja, 6-10 ¢ 4-8-10, mas também esquemas com acento na 7. sflaba,verificaveis, p.., em Dante (“Se wol campar desto loco selvaggio”) (2), Castilho, em seu Tratado, embora defends os esquemas de alternincia bindria predominante ou total, nfo deixa de citar como realizdveis os decassflabos 2-7-10 (“A férrea e precipitada bigorna”) © 47-10 (“A triunfante vermelha bandelra"), aconselhando, inclusive, que tais solugdes sejam tentadas pelos poetas (3). Na verdade, of ‘versot bratieiros e portugueses de todas as épocas ndo esto ainda esmlugados em tus totalidede, ¢ quando lato for feito mults cofsa nova poderd vir A tone, De nossa parte, acompanhando a trilha aberta por Manuel Bandeira e Péricles Eugtnio da Silva Ramos, encontramos em poetas por eles citados e noutros que nés mesmos, por acaso de pesquisa, folheamos, muitas realizagdes nfo Ortodoxas do decass{labo, que incluiremos em nossa exposicdo seguinte sobre overso. 7.11.3 M. Cavalcanti Proenga,’ tomando por base a tistribuigfo de silabas fortes no alinhamento decassilébico (intervalos de uma, duas e trés sflabas), fala-nos de vinte € oito possibilidades de realizagfo para 0 verso (4). Cinco delas apresentam 5 sflabas fortes; dezessete, 4 sflabas fortes; seis, 3 sflabas fortes: 2-610 3-610 3-710 46-10 GD BANDEIRA, Manet - Pocsia do Fare Pamesiena, Edighes de Ouro, 1967, pp. 285-289, (2) “0 Verve Romintico. 3) Op. ch. pp. 62-63. 4) Op. cit. pp. 54-64. pp. S158, Teoria do Verso 105 246-8-10 47-10 48:10 Embora vinte ¢ oito powsibilidades jf parecam bastantes, essas combinat6rias fepresentam apenas um pélido exemplo da riqueza a que pode atingit a linha melodica do decassdabo. Se considerarmos também as pausas internas, a3 folugden de entougfo. w hierarqula entre as afabas forte ettabalectde poles construgdes sintéticas que conformam seu alinkamento, veremos pura indlcagdo das sflabas intensas nem sempre nos retrata a real tesitura deo cxemplares analisados. Acresca-se que alguns tipos de decass{labo realizamse fom intervalo superior a trés sflabas entre fortes. Destes, parecem nos bastante caracteristicos e exequiveis, 1-6-10, 2-7-10, 3-8:10¢ 4.16, 7.11.4 Na verdade, no existe ainda uma classificagio Perfeta do verso decstlabo em lingua portuguesa, Bueande nos on nei de um bom ntimero de exemplares encontrados em varios. ‘poetas de diferentes épocas, parece-nos que possivel, de inicio, situar duas possibilidadee Peculiares de emprego: a primeira, numa relacSo pentassildbica simétrica 5+5, oe ceo Se somporefo pode Ser stabelecila a partir de hemistiquios s inda englobamos toc il is Mbdhiencs Seyi gees touts a outs potbilidades, qu depois 7.11.5 © emprego do decassflebo em hemistiquios pentassldbicos ter mua receita de compotigfo elaborade a pastit de vee 1234@678 9@ (1) Nio estamon 106 Rogério E. Chociay ou seja, 123 4 5 67 8 9 10 aa tt HH HL Saguao ts —----—-4+tiy ~LLk 5 grave + 5 cfsi- nalefa ou em outras realizagdes em que desaparece a articulagZo de hemist{quios, embora possa ser mantida a mesma linha intensiva de base 5-10: 12345 6 789 10 cone ht PK OL Spravess —-———t st ak Sendes ci nalefa —~———-L-——+ ~~ L Sesdrixuto+3 Em “Cangio da Partida”, Camilo Pessanha usou-o mais ou menos assim (1), ‘como se pode ver pelos exemplos: 5 10 “Ao meu coragdo // um peso de ferro” 5 10 “E hei-de mercar // um fecho de prata.” 5 10 “A iiltima, de antes // do teu noivado.” 5 10 “E um lengo bordado. .. // Esse hei-de o levat”” $ 10 “No dia em que enfim // deixar de chorar.” A combinatéria dos acentos internos aos fundamentais nos dé os seguintes esquemas possiveis: 1:3-5-7-1 1-3-5-8-10: 25-710 258-10 GVO poems € formado por quatro quadsas; ax duas primeiras terminam por um auebrado; is dust segunda possirs ox quatro veo" ntepes. Dos deca tnbon, dos quatorze, escampam i relaglo 5+5: 0 11.9 (“A sete chaves; tem dentro uma carta...")e 0 13,9 ("A sete chaves, ‘ambos de esquema Toots do Verso 107 devendo-se também considerar que a divisio em hemistiquios permite 4 6.2 silaba surgir como forte, embora com menos realce que a 5.2, e sem perturbar ‘aestrutura do verso: 1.3-5//6-8-10 1-5//6-8-10 3-5//6-8-10 25//6-8-10 ete. Nao nos foi preciso muito esforgo para extrair exemplares 5-10 da obra dos oetas abaixo: Joaquim Cardozo: “Com redes de vento pesquei satinas “De luz se alimenta. Fala cristal” “Se de mim pretendes, se a mim preferes, Nao hé mais razdes, nem hd mais confronto. . .” fo seu ar sereno que inda hoje absorvo” “86, de terra 86, soja @ minha casa” “Antes de morrer jé sou lama ¢ vasa” “Dos que aqui viveram vida esquecida” Cassiano Ricardo: “Nao obstante ao pio preferir a ros “No século XX. Ainda africano” “Surpreendeme ver-te agora transviado” Tasso da Silveira: “Auséncia, presenga multiplicada” Geir Campos: “Guindando a aten¢a dos homens da estiva” “Quase um desperdicio de estrelas claras”” Carlos Drummond de Andrade: “Eu quero compor um soneto duro” “Eu quero pintar um soneto escuro”” “Como poeta algum ousar4 fazer” Manuel Bandeira: ‘“Magoada a cabeca exposta a umidade.”* “O seu desencanto no tem um fim : "Que sio teus amores’ Ingenuidade” 108 Rogério E. Chociay 7.116 Exclu(das as realizagdes de 5+5, restam-nos ainda 20 outras (das, arroladas por M. Cavalcanti Proenga) em que a 5.8 silaba tornase neutra (mesmo que esta quinta sflaba aqui aparega como forte, a estruturagio dos ‘vernos fundamenta-se em outra(s), 0 que ndo permite identificagfo a $45): 13-6810 2-4.6-8-10 3-6-8-10 13610 2-46-10 — 3-6-10 13-710 2-47-10 3-7-10 146810 2-4.8.10 14610 — 2-6-8-10 147-10 26-10 14810 Se estudarmos com atengao essas realizagdes, veremos que é possivel reunilas em dois grandes grupos, identificados entre si pela neutralidade da 5.8 sflaba ¢ pela igual possibilidade de acentuar qualquer das primeiras quatro silabas: 1XDOOO ©1@» OOOO s «Os ° @ com os efrculos marcando as provaveis localizagdes de silahas fortes. A distingZo entre versos que pertengam a um e a outro grupo se faz, evidentemente, da metade em diante do esquema realizado: no 1.9 grupo a alternncia é bindria da 6.4 sflaba em diant 10 2.° grupo, com a acentuagiio da 7.8 (em vez da 6.8 e da 8,2), a alterndncia torna-se terndria. Em ambos os casos, da 1.94 4.8 silaba pode-se realizar a alterna bindria ou a terndria, combinando ou contrastando com a restante seqiiéncia do alinhamento sildbico. 7.11.7 Estudando 0s versos que se enquadram no primeiro modelo, O@BOsO7Os que se diferenciam entre si conforme o nmero, a combinat6ria € as vatiagdes de grau de forga das silabas marcadas, podemos encontrar as 15 seguintes, que indicamos e exemplificamos: ““E eu que busco a moderna e fina arte” (Cesario Verde) ““Fundem circulos méximos de espanto” (Geir Campos) “Pode habitar talvez um Deus distante” (Antero de Quental) “Vi um jardim com érvores escuras” (Cesério Verde) :_ “*Vivas fafscas me mostrou um dia” (Cam@es) : “O amor florindo em nés abril e outubro” (Geir Campos) Heona de Vero 100 ““Sulgava ouvir monétonas corujas” (Augusto dos Anjos) “Do bruto embate férreo das tenazes (Augusto dos Anjos) “Num tempo diplice de abril e outubro” (Geir Campos) “Do bébado feliz que fala 86!” (Cesirio Verde) “A migoa de moneer expatriado.” (Bocage) “E o sublime Cambes de fome expira” (Guerra Junquciro) “Com o amarrilho vermelho das estradas” (Cassiano Ricardo) “A religiosa luz de um claustro exprime” (Alphonsus) “A realidade esquilida estrangula” (Dante Milano) “Desaparece sem deixar saudade” (Dante Milano) “Sonoridade potencial dos seres” (Augusto dos Anjos) A receita tradicional dos decassilabos heréico e sdfico se inscreve nesse undo genérico, e ambas se distinguem estruturalmente pelo fato de set fundamental 2.62 silaba, no primeiro, a 4.3, no segundo, ou, em linguagem de manual, “um verso de seis mais um verso de quatro, ou um verso de quatro mais um verso de seis”: 12 3 4 5 @f 7 8 9 (1OyI// _herdico 1203 @ 5 6 7 8 9% (OVI séfico ambas consideradas a base da estruturagdo de cada tipo, conforme as relagdes 644 © 446, respectivamente. Se observarmos, alids, atentamente os esquemas fundamentais dos dois tipos, veremos que um é exatamente o inverso do ‘outro: 6 10: 4. 10 esquemas que continuardo exatamente inversos com o complemento acentual na 8.8 silaba, para 446, e na 2.8, para 6+4. As realizagdes que resultem em 4-6-10 poderdo se inscrever estruturalmente em 6+4 ou 446, dependendo de ser a 6. ow a 4.2 a silaba fundamental, 0 que se descobre pela escansio e anilise de cada exemplar: 4 10 “Quebra-se 0 torso, a pema se descola” (Dante Milano) 6 10 “A realidade esqudlida estrangula” (Dante Milano) Em termos de estruturagio, alids, 0 decassilabo vai muito além, podendo apresentar-se bimembre, trimembre e multimembre, inclusive com a contigtiidade de sflabas fortes facultada pela articulaggo em membros pausados entre si (casos, p.e.,em que a 5.4, em 4-10, € a 7.8, em 6-10, podem aparecer também fortes, sem que se traia A receita do verso). Ei 110 Rogétio E. Chociay incompleta destasestruturagdes, em que indicamos, numericamente, apenas os acentos finais de cada membro: Dante Milano (DM) Mauro Mota (MM) Joaquim Cardozo (JC) ‘Augusto dos Anjos (AA) Emiliano Perneta (EP) Bocage (B) Camées (C) I 10 “O ar, // cheio de fantasticas agdes !” (DM) 1 10 “LongzL/auele monslogo malhado” (HM) “Meus aos, I] Migrirmas peuiten " (DM) “Ser cachort! 11 Ganie incompreendton” (AA) “Expres, [I que parece soridente” (pM) “Som de ony HI gemer de atures” (DM) “Clardes da tarde, I luzes de agonia, Noite soln, JLestrelas lancinntes” (DM) “Nas maduras manhis de sol. // Carinho” (JC) 8 10 “Desesperada solidio. // Sozinho” (MM) “Navens, I omg vos, // falsas gloria doar" (DM) “Steg. J tropego, // sestcalando” (DM) “Pe, I coisa do sl, I face parade” (DM) 7 Astros, IL por ue enna? J aque: otha? ”(DM) “No ci, II n0 a 1] nas tépidas arcs” (Mm) Teotia do Vero 111 2 10 “Eu wi II de olhos sexperts, JI fabulosas” (DM) 6 10 “Seu os 11 seu perfume, // sua voz” (EP) 2 6 10 “Sonambulo . .. // Sonimbulo ... // Sonibuto 2 (AA) 3 6 “Me roubou, // terna mae, a teu doce. agi” @) 3 10 "Soft os aio... mas ‘i! 1 Que sem Pledade” (8) “Has de cri 11 igual a um pre” (AA) “Pego de um on 11 Esforgos fig, I chego" (Aa) “Todo despid, 11 1, 1) da use” (EP) 1 4 6 10 ° 7 II sob $ vento, tls a duna, // onde a luxdria” (DM) re, i sérue, I infin! raguitca" (AA) 4 8 10 “Sombra, I perfume, // ressonincia, // imagem” (MM) 2 46 10 “Cruzadas, // frias, | ¥anguidas, // desertas” (MM) 2 4 6 10 “Flutuante, // fina, / aligera, // fugace” (MM) 2 6 8 10 “Sem sombra,// sem luat, / sem sonhos, // vem. ..” (JC) 2 6 8 10 "Secl [!prantos do mar, frst, vcuo” (DM) 6 8 10 “De mim en i bem perto, // junto, // unida” (MM) 2 4 6 8 10 “Florestas, vale / seas, faba, thos” (AA) 8 10 “Daas, H wis, ti aust, Ute dineo, I seis /] © sete” (AA) 7 10 o4eo)P “De ou, // so, (abs) neve //¢ luz pura.” (C) 7.11.8 Os decassflabos que se enquadram no fundo OOOO: «O19 @

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